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“A 'Saúde do Idoso' no ensino superior de universidades públicas do


Rio de Janeiro: o caso dos cursos de Educação Física, Enfermagem e
Nutrição”

por

Claudia Reinoso Araujo de Carvalho

Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências


na área de Saúde Pública.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Élida Azevedo Hennington

Rio de Janeiro, agosto de 2015.


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Esta tese, intitulada

“A 'Saúde do Idoso' no ensino superior de universidades públicas do


Rio de Janeiro: o caso dos cursos de Educação Física, Enfermagem e
Nutrição”

apresentada por

Claudia Reinoso Araujo de Carvalho

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Dr. Miguel Ângelo Montagner


Prof. Dr. Francisco Nilton Gomes de Oliveira
Prof. Dr. Daniel Groisman
Prof. Dr. Carlos Otávio Fiúza Moreira
Prof.ª Dr.ª Élida Azevedo Hennington – Orientadora

Tese defendida e aprovada em 14 de agosto de 2015.


v
vi

Ao meu marido, Francisco Carlos, e aos


meus filhos, Clara e Carlos, pelo amor e pela
compreensão.
Aos meus pais, Moacir (in memoriam) e
Cléa, pelo amor, pelo apoio incondicional e
incentivo constante.
vii

AGRADECIMENTOS

À minha querida orientadora Élida Hennington, pela paciência e parceria em todo esse
processo. Agradeço muito por todos os ensinamentos, pela confiança no meu projeto
desde o início, pelo acolhimento às minhas mudanças de ideia. Minha gratidão é
imensurável!
Ao professor Paulo Amarante, pela importância que teve na minha formação e por ter
me apresentado à Élida.
Ao querido professor Carlos Otávio Fiúza, eterno mestre, a quem expresso a minha
gratidão por todos os ensinamentos.
Aos professores Francisco Nilton de Oliveira, Miguel Montagner e Daniel Groisman.
À professora Lilian Koifman, pela valiosa contribuição na banca de qualificação.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional
de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz.
Aos coordenadores e professores participantes da pesquisa.
Às colegas da turma de doutorado de 2012, Mariana, Joseane, Louise, Danielle e
Karem, pelo agradável convívio e pela amizade.
À minha querida irmã Cleide e ao meu cunhado Aurélio pelos dias produtivos em Rio
das Ostras e Macaé.
Aos colegas professores do curso de graduação em Terapia Ocupacional da UFRJ.
A todos os meus alunos.
Aos queridos idosos da Central de Recepção de Idosos Pastor Carlos Portela, com os
quais tenho o prazer de conviver através do projeto de extensão que coordeno.
Não posso deixar de agradecer institucionalmente à ENSP/ FIOCRUZ, minha escola
desde a especialização. Não tenho palavras para descrever sua importância na minha
formação.
A todos, obrigada!
viii

RESUMO

Os idosos representam, hoje, um contingente de importância no conjunto da


população brasileira e a ausência de uma formação adequada compromete a conduta
resolutiva dos profissionais de saúde no cuidado ao idoso. A Política Nacional de Saúde
da Pessoa Idosa prevê a necessidade de adequar currículos e inserir, nos diversos níveis
de ensino formal, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento. É necessário
que o tema do envelhecimento seja incluído nos currículos das diversas graduações da
área da saúde e que o conteúdo abordado na formação dos profissionais enfoque mais
do que as doenças comuns ao envelhecimento e contemple, entre outros, os aspectos
sociais e as políticas públicas direcionadas aos idosos.
Considerando que as instituições de ensino superior têm a responsabilidade de
formar profissionais qualificados para atender às necessidades de saúde da sociedade,
esta pesquisa teve por objetivo analisar a inserção da temática “Saúde do Idoso” em
cursos de graduação da área de saúde, a partir da posição ocupada pelos docentes no
campo universitário. Buscou-se identificar conteúdos e práticas voltados para a saúde do
idoso em cursos de graduação; analisar a posição dos docentes envolvidos com a saúde
do idoso em tais cursos; e conhecer as concepções desses docentes acerca da formação
voltada para a temática e a importância dada à mesma na formação em saúde.
O principal referencial teórico-metodológico deste estudo foi o sociólogo francês
Pierre Bourdieu, cuja sociologia forma um conjunto de noções e conceitos que,
articulados, são empregados em diversos campos do conhecimento. Este estudo
considerou a posição dos agentes envolvidos com a saúde do idoso no campo
universitário que pôde ser entendida em razão de suas estratégias de adesão ou
enfrentamento adotadas em relação à ordem social estabelecida no interior do campo.
O estudo, de abordagem qualitativa, incluiu entrevistas semiestruturadas com
docentes de universidades públicas do Rio de Janeiro, de cursos de graduação da área
de saúde, cujas diretrizes curriculares se referem diretamente ao envelhecimento ou ao
idoso. Foram estudados os cursos de Educação Física, Enfermagem e Nutrição. Os
docentes desenvolviam atividades relacionadas à temática “Saúde do Idoso”, seja
através de disciplinas obrigatórias ou eletivas, preceptoria de estágio e orientação de
alunos em projetos sob sua coordenação.
O tema é secundário na carreira dos docentes que atuam na área, cuja maioria é
recém-doutor e poucos são os credenciados em programas de pós-graduação stricto
ix

sensu. Observou-se a busca de aproximação com as esferas de poder e o investimento


no acúmulo de capital simbólico de notoriedade por parte desses agentes, especialmente
no curso de enfermagem. Assim, concluiu-se que a posição dos docentes da área, no
campo universitário, é um dos fatores determinantes para a pouca expressão da temática
nos currículos e que esta é pouco abordada na formação universitária nos cursos
estudados. Os docentes envolvidos com a temática mantêm pesquisas e atividades
isoladas e pouco articuladas, havendo a necessidade de se estabelecerem parcerias e
redes de cooperação mais consistentes para o maior desenvolvimento e visibilidade da
área de atuação.

Palavras chave: Educação Superior, Gerontologia, Envelhecimento, Formação


Profissional, Idoso.
x

ABSTRACT

Elderly are now an important number of habitants in the overall population. The
National Health Policy for Elderly People provides the need to adapt the curriculum,
and insert, in various levels of formal education, contents focused on aging process. The
lack of a proper training compromises the solving conduct of health professionals in
elderly care. Therefore, it is necessary that the aging theme be included in the
curriculum of several undergraduate courses in health so that the analyzed content in the
training of professionals focuses not only on common diseases of aging but also
contemplates, among others, the social aspects and public policies directed to elderly
people.
Given that higher education institutions have the responsibility to train skilled
professionals to meet health needs of society, this study aimed to analyze the theme of
inclusion "Elderly Health" in undergraduate courses in heath from the position occupied
by teachers at the university field. The purpose was to identify contents and practices
that focused on elderly health in undergraduate courses; to analyze the position of the
teachers involved with elderly health in these courses and to know the conceptions of
these teachers about the oriented training directed toward this theme and the importance
given to it in health education.
The theoretical and methodological framework of this study was the French
sociologist Pierre Bourdieu. Bourdieu's sociology forms a set of notions and concepts
which, usually articulated, are employed in various fields of knowledge. This study
considered the position of involved agents with elderly health at the university field
could be understood because of their membership or coping strategies adopted in
relation to the social order established within the field.
The qualitative approach study included semi-structured interviews with public
university teachers in Rio de Janeiro for all undergraduate courses in the health field
whose curriculum guidelines referred directly to the aging or to elderly, with the
exception of medicine. Physical Education, Nursing and Nutrition courses were studied.
Teachers developed activities related to the "Elderly Health" theme, either through
mandatory or elective subjects, preceptorship of internship and mentoring students in
projects under their direction.
The theme is secondary in the career of teachers that work in the field, which are
mostly newly doctors and few are accredited in post-graduate studies programs. It was
xi

concluded that the position of the field teachers at the university campus is one of the
determining factors for the low expression of the theme in the curriculum. The purpose
was to observe the search of rapprochement with power and investment spheres in the
accumulation of notoriety symbolic capital by these agents. The theme is rarely
addressed in university education in the studied courses. The teachers involved with the
theme keep isolated and poorly articulated researches and activities and with the need to
establish partnerships and cooperation networks more consistent for the development
and visibility of the operating area.

Key words: Higher education, Gerontology, Aging, Training, Elderly.


xii
xiii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAAE- Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEP- Comitê de Ética em Pesquisa

CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONEP- Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

DATAPREV - Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social

DCN- Diretrizes Curriculares Nacionais

EUA- Estados Unidos da América

IBECS - Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LILACS- Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

INPS- Instituto Nacional de Previdência Social

LBA- Legião Brasileira de Assistência

MEC- Ministério da Educação

MEDLINE- Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

MPAS- Ministério da Previdência e Assistência Social

OMS- Organização Mundial da Saúde

ONU- Organização das Nações Unidas

PAI - Programa de Assistência ao Idoso

PAPI - Projeto de Apoio à Pessoa Idosa

PNI- Política Nacional do Idoso

PNSPI- Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa

PPP- Projeto Político Pedagógico

PUBMED- National Library of Medicine

SCIELO- Scientific Electronic Library Online

SUS- Sistema Único de Saúde


xiv

UERJ- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFF- Universidade Federal Fluminense

UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRRJ- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UNIRIO- Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

USP- Universidade de São Paulo

WAC- Writing Across the Curriculum


xv

APRESENTAÇÃO

A motivação para esta pesquisa se deu pela minha própria inserção profissional
como professora no Curso de Terapia Ocupacional de uma universidade pública, e o
ponto de partida foi compreender o campo no qual estou inserida. Sendo professora de
uma disciplina que tem o envelhecimento humano como temática principal, e aos
poucos constatando que a temática não contava com o mesmo peso no currículo quando
comparada a outras, surgiu o interesse de conhecer a realidade de outros cursos de
graduação da saúde, além daquele em que eu estava inserida, e procurar compreender as
razões para essa situação.
Esta tese de doutorado buscou identificar e analisar como se dá a inserção da
temática saúde do idoso nos cursos superiores da área de saúde que fazem referência ao
idoso ou ao envelhecimento em suas Diretrizes Curriculares Nacionais. A pesquisa foi
realizada em cinco universidades públicas do Rio de Janeiro que possuem cursos de
graduação em Educação Física, Enfermagem e Nutrição. Buscou-se estudar a relação
entre a inserção curricular da temática e a posição dos docentes a ela relacionados no
campo universitário, sob a perspectiva do sociólogo francês Pierre Bourdieu.
Partiu-se do pressuposto de que o tema não vem sendo abordado de forma
suficiente em cursos de graduação, limitando-se a associar o envelhecimento a doenças
e dependência, negligenciando outros aspectos importantes na atenção aos idosos, tais
como as políticas públicas a eles direcionadas e as relações socioculturais do
envelhecimento.
Os resultados deste trabalho estão apresentados sob o formato de três artigos,
antecedidos pela contextualização do problema de pesquisa, objetivos, perguntas de
investigação e percurso metodológico, encerrando-se com as considerações finais.
O primeiro artigo, publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, é
de revisão integrativa e teve o objetivo de identificar, com base na literatura existente,
como a saúde do idoso e o envelhecimento têm sido abordados na formação
universitária dos profissionais de saúde e o que vem sendo considerado relevante nessa
temática.
O segundo artigo teve por objetivo analisar, a partir das informações coletadas
no currículo lattes, a posição de vinte e dois docentes cuja área de atuação está
relacionada à temática “Saúde do Idoso”. Foram estudados três dos quatro cursos de
xvi

graduação da área da saúde de universidades públicas do estado do Rio de Janeiro que


fazem referência a atenção aos idosos em suas Diretrizes Curriculares Nacionais.
O terceiro artigo desta tese teve por objetivo analisar a inserção da temática
“Saúde do Idoso” nos cursos superiores em questão, a partir das entrevistas com os
docentes, analisando seu perfil; a estrutura e o conteúdo curricular das atividades
acadêmicas; além de suas concepções sobre a inserção do tema na formação profissional
em saúde.
A síntese e a articulação dos resultados apresentados nos artigos estão
contempladas nas considerações finais.
INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde adotou como orientador das políticas públicas


no âmbito mundial o “envelhecimento ativo”, definido como “processo de otimização
das oportunidades de saúde, participação e segurança com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas, visando a superação da
visão tradicional de associar o envelhecimento a doenças e dependência 1 (p.13)”.
O “envelhecimento ativo” é uma estratégia de fortalecimento de um novo
paradigma que reconhece os idosos como participantes ativos da sociedade e deve
orientar a atenção à saúde desta parcela da população. Na perspectiva do
envelhecimento ativo, manter a autonomia e independência durante o processo de
envelhecimento é meta fundamental para indivíduos e governantes. Autonomia é a
habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve viver
diariamente, de acordo com suas próprias regras e preferências. Independência é, em
geral, entendida como a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária, isto
é, a capacidade de viver independentemente na comunidade, com alguma ou nenhuma
ajuda de outros1 (p.14).
Dessa forma, os princípios da independência e autonomia estão bastante
presentes nas políticas mundiais direcionadas à saúde dos idosos. No que se referem às
instituições de ensino superior, esses princípios são recomendados e deveriam ser
incorporados em disciplinas e outras atividades acadêmicas das diversas formações
profissionais em saúde. No entanto, nem sempre esses conteúdos fazem parte dos
currículos das graduações da área de saúde, apesar de sua importância para a atuação
dos futuros profissionais.
No Brasil, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa 2 reforça a necessidade
de adequar currículos e inserir, nos diversos níveis de ensino formal, conteúdos voltados
para o processo de envelhecimento, incluindo a Geriatria e a Gerontologia como
disciplinas curriculares nos cursos superiores. A Gerontologia é compreendida como
campo de conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento humano
em sua perspectiva mais ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos,
psicológicos, sociais, econômicos e históricos, enquanto a geriatria é direcionada à
promoção da saúde e ao tratamento de doenças e incapacidades entre os idosos. Nesta
pesquisa adotou-se o termo “Saúde do Idoso” por ser um termo mais abrangente que
inclui tanto a Gerontologia como a Geriatria.

1
Historicamente, o termo gerontologia foi empregado pela primeira vez em 1903
pelo embriologista russo Elie Metchnikoff em sua obra “A natureza do homem” onde
estudou o envelhecimento de todas as coisas vivas, incluindo seus aspectos
sociológicos, psicológicos e outros. O termo geriatria foi criado, em 1909 por Ignas L.
Nascher, médico norte-americano e está relacionado estritamente aos problemas médicos
dos idosos. Em 1914 Nascher publicou ”Geriatria: as doenças da velhice e seu
tratamento” abordando o envelhecimento fisiológico, o cuidado domiciliar e
institucional e as relações médico-legais acerca do envelhecimento3.

Na atualidade o maior tempo de vida da população e o aumento das doenças


crônicas desafiam o sistema de saúde brasileiro. Os idosos constituem parcela
significativa de usuários dos serviços de saúde, resultando no aumento do consumo dos
serviços por parte desse grupo populacional nos últimos anos4,5. De acordo com
Calíope et al6, fatores como variações geográficas, socioeconômicas, qualidade de vida
e nível de conhecimento sobre saúde, além de suas necessidades individuais específicas,
são apontados como determinantes na frequência e tipo de utilização de serviços de
saúde por idosos. A ausência de uma formação adequada compromete a conduta
resolutiva dos profissionais no cuidado ao idoso. É necessário que o envelhecimento
seja abordado na formação dos profissionais de maneira mais ampla, contemplando não
somente as doenças comuns ao envelhecimento, mas também os aspectos sociais e as
políticas públicas direcionadas aos idosos.
Considerando a mudança do perfil demográfico e epidemiológico no Brasil e o
crescente número de usuários idosos do sistema de saúde, entende-se que a formação
dos profissionais de saúde precisa contemplar o desenvolvimento de habilidades e
competências para o atendimento de qualidade aos idosos e estar em consonância com
as atuais políticas públicas de saúde, entre elas a Política Nacional de Saúde da Pessoa
Idosa e o Estatuto do Idoso. Sendo assim, a questão que norteou a pesquisa foi a
seguinte: por que, apesar da mudança na estrutura etária da população brasileira, do
aumento das doenças crônicas e do consequente aumento da quantidade de idosos
frequentando os serviços de saúde, além da legislação específica favorável, os
conteúdos e práticas relacionados à saúde do idoso ainda são pouco expressivos na
formação dos profissionais da área de saúde?

As pesquisas relacionadas à formação dos profissionais de saúde para o cuidado


e atenção à saúde do idoso ainda são escassas no Brasil 7,8. O presente estudo, voltado
2
para a formação em nível de graduação na área de saúde, com foco na saúde do idoso,
pretende contribuir no sentido de dar mais visibilidade à questão. Trata-se de analisar a
inserção no ensino superior da temática Saúde do Idoso, apontando suas características,
limites e perspectivas. Os resultados da pesquisa deverão contribuir na formulação de
recomendações para uma melhor formação dos profissionais de saúde acerca do
processo de envelhecimento. Este estudo na área do ensino e formação em saúde poderá
ser útil para futuros ajustes em aspectos curriculares dos cursos das universidades
diretamente envolvidas na pesquisa e também de outras instituições de nível superior da
área de saúde.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

- Analisar a inserção da temática Saúde do Idoso em graduações da área de


saúde nas universidades públicas do estado do Rio de Janeiro, a partir da posição
ocupada pelos docentes no campo universitário.

Objetivos Específicos

- Identificar conteúdos e práticas voltados para a Saúde do Idoso em cursos de


graduação.
- Investigar a posição dos docentes envolvidos com a temática Saúde do Idoso
no campo universitário.
- Conhecer as concepções de docentes de cursos de graduação acerca da
formação voltada para a Saúde do Idoso e a importância dada à temática na formação
em saúde.

O ENVELHECIMENTO NA AGENDA DE PROGRAMAS E POLÍTICAS


PÚBLICAS

Os programas sociais direcionados ao enfrentamento do processo de


envelhecimento das populações dos países desenvolvidos começaram a ganhar
expressão na década de 1970. Duas assembleias das Nações Unidas, uma realizada em

3
Viena, em 1982, e outra em Madri, em 2002, influenciaram significativamente essa
agenda.
A primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento ocorreu em Viena, em
1982, constituindo-se no primeiro fórum global intergovernamental centrado na questão
do envelhecimento populacional e que resultou na aprovação de um plano global de
ação com 66 recomendações para os Estados membros, referentes a sete áreas: saúde e
nutrição; proteção ao consumidor idoso; moradia e meio ambiente; família; bem-estar
social; previdência social e trabalho; e educação. Um dos principais resultados do Plano
de Viena foi o de colocar na agenda internacional as questões relacionadas ao
envelhecimento individual e da população. A concepção de idoso, traçada no plano, era
a de indivíduos independentes financeiramente e, portanto, com poder de compra.
Embora o foco da atenção tenha sido os países desenvolvidos, desde a assembleia a
agenda política de países em desenvolvimento passou a incorporar progressivamente a
questão do envelhecimento9.
O período de vinte anos, compreendido entre as assembleias de Viena e Madri,
foi marcado por mudanças profundas nos planos econômico, social e político dos
países. Na década de 1990, a questão do envelhecimento entrou de forma mais
expressiva na agenda dos países em desenvolvimento. A visão predominante foi a de
associar envelhecimento à dependência e a problemas sociais. Outro ponto de vista
considerava que as pessoas idosas podem contribuir significativamente para o
desenvolvimento econômico e social: “Muitas pessoas idosas são uma fonte viva de
recursos e contribuem para o bem-estar das suas famílias e comunidades” 9. Essas duas
visões geram políticas diferentes. As políticas resultantes desta ultima perspectiva são
as que buscam reforçar a capacidade das pessoas idosas e aumentar a sua oportunidade
de contribuir com a sociedade.
A Assembleia Geral da ONU, de 1991, adotou dezoito princípios em favor da
população idosa, que podem ser agrupados em cinco grandes temas: independência
(requer políticas públicas que garantam a autonomia física e financeira, ou seja, o
acesso aos direitos básicos de todo ser humano: alimentação, habitação, saúde, trabalho
e educação); participação (busca-se a manutenção da integração dos idosos na
sociedade, o que requer a criação de um ambiente propício para que possam
compartilhar seus conhecimentos e habilidades com gerações mais jovens e se
socializar); cuidados (referem-se à necessidade do desfrute pelos idosos de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais, através do cuidado familiar ou
4
institucional); autorrealização (significa a possibilidade de os idosos fazerem uso de
oportunidades para o desenvolvimento do seu potencial, por meio do acesso a recursos
educacionais, culturais, espirituais e recreativos); e dignidade (requer que se assegure
aos idosos a possibilidade de vida digna e segura, livre de toda e qualquer forma de
exploração e maus-tratos).
Em 1999, foi comemorado o Ano Internacional do Idoso. Os países membros
das Nações Unidas foram incentivados a aplicar os cinco princípios básicos em favor
dos idosos, já anteriormente adotados na Assembleia Geral de 1991.
No ano de 2000, apesar de não ter feito menção explícita à questão do
envelhecimento, a Declaração do Milênio10 convocou toda a humanidade a participar de
um esforço para a redução da pobreza e consagração dos direitos humanos.
A segunda Conferência Mundial sobre Envelhecimento, que aconteceu em
Madri, no ano de 2002, dedicou atenção especial aos problemas derivados do processo
de envelhecimento dos países em desenvolvimento. Um dos grandes avanços do Plano
de Madri diz respeito à contribuição dos idosos para a sociedade. Contendo 35 objetivos
e 239 recomendações para a adoção de medidas dirigidas aos governos nacionais, esse
amplo documento insiste na necessidade de parcerias com membros da sociedade civil e
do setor privado para a sua execução. O plano de ação 11 fundamenta-se em torno de três
orientações prioritárias expostas resumidamente a seguir:
1- Participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento e na luta contra a
pobreza - considera que o envelhecimento populacional não é um processo que,
necessariamente, esgota os recursos da sociedade. Em termos de políticas, pode-se
pensar na adequação das instituições para que o crescimento da população idosa seja um
elemento propulsor do bem-estar da sociedade. Nesse caso, políticas de trabalho,
integração social e seguridade social são importantes.
2- Fomento da saúde e bem-estar na velhice: promoção do envelhecimento saudável -
são necessárias políticas que promovam melhorias na saúde desde a infância e que se
prolonguem ao longo da vida. Dentre elas, citam-se a promoção à saúde, o acesso
universal aos serviços de saúde pública ao longo da vida e, em decorrência, a
consideração da importância de fatores ambientais, econômicos, sociais e educacionais,
dentre outros, no aparecimento de enfermidades e incapacidades. São necessários,

5
também, programas de capacitação de profissionais nas áreas de geriatria a, gerontologia
e de serviços sociais.
3- Criação de um entorno propício e favorável ao envelhecimento - promover políticas
voltadas para a família e a comunidade que assegurem um envelhecimento seguro e
promovam a solidariedade intergeracional. Para tanto, é necessário que as políticas
públicas sejam concebidas com base na colaboração entre o Estado e a sociedade civil,
de forma a construir um maior acesso ao entorno físico, aos serviços e recursos.
Para Camarano e Pasinato9, o Plano de Madri11 consiste em um plano único,
geral, para uma realidade social bastante diversificada. Algumas das recomendações
parecem fundamentadas em um modelo pouco real, que seria o daqueles países
desenvolvidos que contam com um programa de bem-estar social avançado. As autoras
consideram que em alguns países os objetivos do Plano de Madri já estão sendo
atingidos, e, em outros, a sua implementação ainda irá demorar muito, isto é, no caso de
serem implementados.
Ainda acerca das políticas mundiais dirigidas aos idosos, um estudo recente,
realizado por Plath12,comparando os princípios das políticas dirigidas aos idosos na
Austrália, Dinamarca, Índia e Reino Unido, concluiu que a independência e autonomia,
apesar de nortearem as políticas de três deles, nem sempre foi o princípio adotado. A
independência foi a orientação no caso da Austrália e do Reino Unido. Já na Dinamarca
as políticas enfocam o grau de autonomia. O alto nível na prestação de serviços oferece
liberdade de escolha para as pessoas mais velhas no que diz respeito a opções de
moradia, cuidado e assistência. Na Índia as políticas buscam reforçar a capacidade das
famílias para cuidar de seus parentes idosos, cabendo apenas aos idosos sem família os
serviços governamentais de cuidados, alojamento e outras garantias de segurançab.

a
Acerca das definições de Geriatria e Gerontologia. A Gerontologia é aqui compreendida como campo
de conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento humano em sua perspectiva mais
ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos, psicológicos, sociais, culturais, econômicos e
históricos, e a Geriatria, ramo da medicina direcionado à promoção da saúde e ao tratamento de
doenças e incapacidades entre os idosos (Brasil, 1999).

b
De acordo com o referido estudo, mesmo entre os países que adotam o princípio da independência
como norteador das políticas, há diferenças entre a interpretação dada ao termo. A autora, para quem
há sempre uma tensão entre independência e inclusão social, alerta para o fato de que independência,
vista unicamente em relação à capacidade funcional, é uma interpretação individualista, pois não
incorpora as funções sociais e emocionais (Phat, 2013).

6
O envelhecimento populacional e as políticas públicas brasileiras

A implantação de uma política pública nacional direcionada aos idosos é recente


no Brasil, pois data de 1994. No entanto, houve iniciativas mais antigas em termos de
proteção a esse segmento populacional.
As origens do sistema de proteção social no Brasil remontam ao período
colonial, com a criação de instituições de caráter assistencial, como a Santa Casa de
Misericórdia, em Santos, e com a regulamentação, em 1888, do direito à aposentadoria
dos empregados dos Correios (Decreto 9.912-A, de 26 de março de 1888), após trinta
anos de serviço e com idade mínima de sessenta anos13.
As primeiras políticas previdenciárias de iniciativa estatal para trabalhadores do
setor privado surgiram no início do século XX, como a primeira caixa de aposentadorias
e pensões, em 1923, a Lei Eloy Chaves.
Embora houvesse inúmeros decretos, leis e portarias mencionando os idosos e
garantindo-lhes alguns direitos, até a década de 70 do século XX todo o trabalho com
idosos era de cunho caritativo, desenvolvido por ordens religiosas ou entidades
filantrópicas.
Segundo Rodrigues13, o primeiro documento do governo federal contendo
diretrizes para uma política social voltada à população idosa foi editado pelo MPAS, em
1976, e se baseou nas conclusões de três seminários regionais realizados no mesmo ano
em São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza e um nacional, em Brasília. Os seminários
objetivaram a identificação das condições de vida do idoso brasileiro e a apresentação
das linhas básicas de uma política de assistência e promoção social do idoso. Desses
seminários se originou um documento importante intitulado “Políticas para a 3ª idade -
Diretrizes Básicas”, cujas principais propostas diziam respeito à implantação de sistema
de mobilização comunitária, visando, dentre outros objetivos, à manutenção do idoso na
família; à revisão de critérios para concessão de subvenções a entidades que abrigam
idosos; à criação de serviços médicos especializados para o idoso, incluindo
atendimento domiciliar; à revisão do sistema previdenciário e preparação para a
aposentadoria; à formação de recursos humanos para o atendimento de idosos; e à coleta
de produção de informações e análises sobre a situação do idoso pelo Serviço de
Processamento de Dados da Previdência e Assistência Social (Dataprev) em parceria
com o IBGE9,13.

7
Rodrigues13 considera o ano de 1976 um marco de uma nova era na atenção
pública em relação ao idoso no Brasil, mas refere que no ano anterior já havia surgido o
primeiro Programa, em nível nacional, por iniciativa do então INPS. Foi o chamado PAI
- Programa de Assistência ao Idoso - que consistia na implementação de grupos de
convivência para idosos previdenciários nos postos de atendimento do INPS. Esses
grupos de convivência continuaram se desenvolvendo durante dois anos por todo o
Brasil. Com a reforma da Previdência, em 1977, o programa passou para a Fundação
Legião Brasileira de Assistência, que se tornou responsável pelo atendimento ao idoso
em todo o território nacional. A LBA prestava atendimento direto, em instalações
próprias, pelo seu pessoal técnico ou por meio de convênio com asilos, e o atendimento
aos idosos era individual ou em grupo.
Em 1987, com a reestruturação da LBA, o PAI foi transformado em PAPI -
Projeto de Apoio à Pessoa Idosa - e passou a integrar o programa de ações
complementares de apoio ao cidadão e à família.
O PAPI tinha ações voltadas para as pessoas idosas, visando dar-lhes
oportunidades de maior participação em seu meio social e, também,
desenvolver a discussão ampla de sua situação como cidadãos, suas
reivindicações e direitos, além de valorizar todo o potencial de vivência
dentro das comunidades13 (p.151).

Embora as ações em saúde do idoso em nível nacional ficassem, até então, a


cargo da LBA, de acordo com Rodrigues13 (p. 152), “na década de 80, surgiu no
Ministério da Saúde, o Programa da Saúde do Idoso, que concentrava ações na área da
promoção da saúde e estímulos ao autocuidado”.
O grande avanço em políticas de proteção social aos idosos brasileiros foi dado
pela Constituição de 198814, que levou em consideração algumas orientações da
Assembleia de Viena e introduziu o conceito de seguridade social, fazendo com que a
rede de proteção social deixasse de estar vinculada apenas ao contexto estritamente
social-trabalhista e assistencialista e passasse a adquirir uma conotação de direito de
cidadania. A Constituição de 198814 contempla as pessoas idosas em seus artigos 14,
40, 201, 203, 229 e 230.
Diante da crescente demanda de uma população que envelhece e de acordo com
os direitos previstos na Constituição de 198814, em 1994 foi promulgada a Política
Nacional do Idoso15, através da Lei 8.842/94, regulamentada em 1996 pelo Decreto
1.948/96, incorporando os princípios da Conferência de Viena. As principais diretrizes
norteadoras da PNI consistem em incentivar e viabilizar formas alternativas de

8
cooperação intergeracional; atuar junto às organizações da sociedade civil
representativas dos interesses dos idosos com vistas à formulação, implementação e
avaliação das políticas, planos e projetos; priorizar o atendimento dos idosos em
condição de vulnerabilidade por suas próprias famílias em detrimento ao atendimento
asilar; priorizar o atendimento do idoso em órgãos públicos e privados prestadores de
serviços; fomentar a discussão e o desenvolvimento de estudos referentes à questão do
envelhecimento; e promover a capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas
de Geriatria e Gerontologia.
Em 1999, a Portaria Ministerial nº 1.395/99 estabeleceu a Política Nacional de
Saúde do Idoso16, uma reformulação da política anterior. De acordo com Camarano e
Pasinato9, esta foi consequência do entendimento de que os altos custos envolvidos no
tratamento médico dos pacientes idosos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não
estavam resultando no real atendimento das suas necessidades específicas. A política
apresenta dois eixos norteadores: medidas preventivas, com especial destaque para a
promoção da saúde, e atendimento multidisciplinar específico para esse contingente.
Em 2003, foi sancionado o Estatuto do Idoso17, aglomerando, em única peça
legal, muitas das leis e políticas já aprovadas, bem como incorporando novos elementos
e enfoques e dando um tratamento integral, e com uma visão de longo prazo, ao
estabelecimento de medidas que visassem proporcionar o bem-estar dos idosos. Com
118 artigos versando sobre diversas áreas dos direitos fundamentais e das necessidades
de proteção dos idosos, o documento apresenta a questão do envelhecimento articulada
com ações referentes ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável e à defesa do
consumidor. A aprovação do Estatuto do Idoso representa um passo importante da
legislação brasileira no contexto de sua adequação às orientações do Plano de Madri 11.
O Capítulo IV do Estatuto do Idoso17 dedica um capítulo especialmente à saúde,
onde inclui as diretrizes acerca da prevenção e manutenção da saúde do idoso e de como
serão efetivadas. O capítulo versa, entre outros assuntos, sobre as unidades geriátricas
de referência, preconizando pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia
social; assegura ao idoso o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for
reputado mais favorável; e obriga aos profissionais de saúde a notificação de casos de
suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso aos órgãos competentes16.
O compromisso brasileiro com a Assembleia Mundial para o Envelhecimento
(Plano de Madri), ocorrida em 2002, a vigência do Estatuto do Idoso e seu uso como
instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia Saúde da
9
Família que revela a presença de idosos e famílias frágeis e em situação de grande
vulnerabilidade social, inserção ainda incipiente das Redes Estaduais de Assistência à
Saúde do Idoso, além da necessidade do setor de saúde dispor de uma política
atualizada relacionada à saúde do idoso, tornaram necessária a readequação da até então
política vigente.
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa - PNSPI (Portaria Nº 2.528, de 19
de outubro de 2006)18 resultou da conclusão do processo de revisão e atualização da
Política Nacional de Saúde do Idoso, de 199916 e apresentou como diretrizes:
a) promoção do envelhecimento ativo e saudável;
b) atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa;
c) estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção;
d) provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção
à saúde da pessoa idosa;
e) estímulo à participação e fortalecimento do controle social;
f) formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS
na área de saúde da pessoa idosa;
g) divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS;
h) promoção de cooperação nacional e internacional das experiências
na atenção à saúde da pessoa idosa;
17
i) apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas .

A PNSPI estabelece dois grandes eixos norteadores para a integralidade de ações


voltadas para o idoso: o enfrentamento de fragilidades da pessoa idosa, da família e do
sistema de saúde; e a promoção da saúde e da integração social em todos os níveis de
atenção18.
Especificamente acerca da intersetorialidade, referindo-se à interface Saúde-
Educação, a PNSPI preconiza:
a) inclusão nos currículos escolares de disciplinas que abordem o
processo do envelhecimento, a desmistificação da senescência, como
sendo diferente de doença ou de incapacidade, valorizando a pessoa
idosa e divulgando as medidas de promoção e prevenção de saúde em
todas as faixas etárias;
b) adequação de currículos, metodologias e material didático de
formação de profissionais na área da saúde, visando o atendimento das
diretrizes fixadas nesta Política;
c) incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e
Gerontologia nas instituições de ensino superior, que possam atuar de
forma integrada com o SUS, mediante o estabelecimento de referência
e contra referência de ações e serviços para o atendimento integral dos
indivíduos idosos e a capacitação de equipes multiprofissionais e
interdisciplinares, visando à qualificação contínua do pessoal de saúde
nas áreas de gerência, planejamento, pesquisa e assistência à pessoa
idosa;

10
d) discussão e readequação de currículos e programas de ensino nas
instituições de ensino superiores abertas para a terceira idade,
18
consoante às diretrizes fixadas nesta Política .

A PNSPI considera que o modelo de atenção à saúde, baseado na assistência


médica individual, não se mostra eficaz na prevenção, educação e intervenção em
questões sociais, que ficam muitas vezes restritas às complicações advindas de afecções
crônicas. Assim sendo, em todo o seu texto enfatiza a promoção do envelhecimento
ativo, isto é, envelhecer mantendo a capacidade funcional e a autonomia é
reconhecidamente a meta de toda ação de saúde. Ela permeia todas as ações desde o
pré-natal até a fase da velhice. A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no
reconhecimento dos direitos das pessoas idosas e nos princípios de independência,
participação, dignidade, assistência e autorrealização determinados pela Organização
das Nações Unidas1.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos da área da saúde

Os Ministérios da Educação e da Saúde têm investido em manter na agenda as


políticas públicas de formação direcionadas aos serviços, buscando aproximar as
escolas de formação em saúde dos cenários de práticas que visam melhorar a qualidade
da assistência prestada19.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)20 para os cursos da área da saúde
foram elaboradas em meados da década de 1990 e homologadas entre os anos de 2001 e
2004, para orientar a elaboração dos currículos de quatorze profissões visando,
sobretudo, à consolidação do SUS. A grande área da saúde compreende atualmente os
seguintes cursos: Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia,
Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia,
Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional 21. c
As DCN propõem um perfil profissional com formação geral, humanista, crítico
e reflexivo, por meio de Projetos Político-Pedagógicos (PPP) construídos coletivamente
pelos atores do curso nas IES e que utilizem metodologias de ensino-aprendizagem
centradas no estudante, em diferentes cenários 22. A formação de recursos humanos para
as profissões da área da saúde deve pautar-se no entendimento de que saúde é um
processo de trabalho coletivo do qual resulta, como produto, a prestação de cuidados de

c
Atualmente há uma discussão no Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre o pleito dos cursos de
graduação em Saúde Coletiva, para seu reconhecimento como profissão da área da saúde, tendo como
implicação a mudança da Resolução CNS nº 287/98.

11
saúde. De acordo com as DCN, as competências gerais desejadas para o graduado nos
cursos da saúde constituem elementos comuns da formação, que são complementadas
pelas competências específicas necessárias para cada curso/profissão.
O objetivo das diretrizes curriculares nacionais para os cursos da área da saúde é
formar profissionais com competências e habilidades para a atuação com qualidade e
resolutividade no SUS. Para isso, o aluno deve ser estimulado a pensar criticamente, a
analisar os problemas da sociedade e procurar soluções para os mesmos.
Procurando estabelecer uma relação entre as diretrizes e a atenção à saúde do
idoso, em seu estudo sobre a inclusão de diretrizes da PNSPI nos cursos da área de
saúde da Universidade Federal Fluminense, Xavier e Koifman 21 avaliaram as DCNs de
cada um dos cursos considerados pelo Conselho Nacional de Saúde como profissões de
saúde e constataram que, em relação aos conhecimentos exigidos para se alcançarem as
competências e habilidades específicas por curso (conteúdos essenciais à formação de
cada um desses profissionais), apenas os cursos de Educação Física, Enfermagem,
Medicina e Nutrição se referem diretamente ao envelhecimento ou ao idoso em suas
respectivas DCN.
Cabe ressaltar que nas DCN de outros cursos da área de saúde, além dos já
mencionados, observam-se termos inespecíficos como “em todas as etapas do
desenvolvimento humano” e “nas diferentes populações”.
Embora aprovadas, não há garantias de que as DCN estejam implementadas
adequadamente em todas as instituições de ensino superior. Nos fóruns de discussão
sobre formação dos profissionais de saúde são apontados alguns fatores que contribuem
para esta incerteza: o desconhecimento de sua importância, a dificuldade de
compreensão de sua dinâmica e a interpretação equivocada dos objetivos propostos, o
que resulta em demora na revisão dos currículos e no desenvolvimento dos cursos para
a formação de um profissional compatível com a realidade e as demandas sociais do
país.
Segundo Mota e Aguiar7, para a efetiva implementação das diretrizes, é
necessário incluir conteúdos sobre envelhecimento, saúde do idoso, trabalho em equipe
e a noção de saúde ampliada em quase todas as disciplinas ao longo do curso, dado que
a Geriatria e a Gerontologia alicerçam-se nas áreas básicas (fisiologia, bioquímica,
farmacologia), na área Clínica e Cirúrgica, nas Ciências Humanas e na Saúde Pública.
De fato, o envelhecimento se coloca como temática que potencializa a integração do
currículo.
12
REFERENCIAL TEÓRICO: A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU
O principal referencial teórico-metodológico deste estudo foi o sociólogo francês
Pierre Bourdieu, cuja sociologia forma um conjunto de noções e conceitos, tais como
habitus, campo, capital simbólico, poder simbólico e violência simbólica, os quais,
geralmente articulados, são empregados em diversos campos do conhecimento, sendo
os dois primeiros considerados os conceitos centrais de sua teoria 23.
Não há estudos publicados por Bourdieu especificamente sobre sociologia da
saúde, mas isso não impediu que sua teoria tivesse aportado importantes contribuições
para estudos nessa área24. Na Saúde Coletiva, o autor vem sendo utilizado em pesquisas
sobre diferentes temas, tais como aspectos históricos da constituição dos campos
profissionais25,26, apoio e resistências às políticas públicas27, prática dos trabalhadores
em saúde28 e mudanças na formação profissional29,30,31.
Para Bourdieu32, campo é um microcosmo que obedece a leis sociais mais ou
menos específicas, sendo dotado de autonomia relativa em relação ao mundo social
como um todo.
A respeito de campo, Bourdieu afirma:
Se, como macrocosmo, ele é submetido a leis sociais, essas não são as
mesmas. Se jamais escapa s imposições do macrocosmo, ele dispõe,
com relação a este, de uma autonomia parcial mais ou menos
acentuada32(p.20).

Bourdieu diz que é preciso escapar à alternativa da "ciência pura", totalmente


livre de qualquer necessidade social, e da "ciência escrava", sujeita a todas as
determinações político-econômicas32(p.20). O autor relaciona o grau de autonomia de
cada campo com a sua capacidade de refração às interferências externas. Quanto maior
é seu poder de refração, de retradução das interferências exteriores, maior é sua
autonomia. Por outro lado, quanto mais suscetível um campo se apresenta em relação às
interferências exteriores, especialmente às questões políticas, menor é a sua autonomia.
A configuração teórica do conceito de campo remete à dinâmica da regularidade
do social. Um campo traz em si mesmo as condições de sua própria reprodução 33.
Campo é também um espaço de luta entre os agentes que o compõem. São as
relações entre os agentes de um campo que o estruturam. A posição ocupada por seus
agentes se dá em função do capital desigualmente distribuído entre eles. Esse capital
não se restringe ao capital econômico (bens econômicos e de produção), mas também se
refere ao capital social (rede de relações, interconhecimento, vinculação a grupos), ao
13
capital cultural (qualificação produzida pela família e pela educação escolar) e ao
capital simbólico (ligado às diversas formas de reconhecimento) 33.
Fazem parte do campo universitário: as faculdades, os institutos, os
departamentos, os professores das diversas áreas e suas produções teóricas e empíricas:
O que dá suporte ao campo são as relações de força entre os agentes
(indivíduos e grupos) e as instituições que lutam pela hegemonia, isto
é, o monopólio da autoridade que concede o poder de ditar as regras e
de repartir o capital específico de cada campo33 ( p.114).

As relações de interdependência estabelecidas entre aqueles que fazem parte de


um campo podem ser de aliados ou adversários, de continuidade ou de ruptura. De
acordo com Bourdieu34, os agentes que monopolizam a autoridade específica ao campo
tendem a organizar estratégias de conservação, em oposição aos novatos, que,
detentores de menos capital, procuram subverter a dominação, articulando estratégias de
subversão.
O objetivo da pesquisa foi analisar a inserção da temática Saúde do Idoso em
cursos de graduação a partir dos conteúdos curriculares, das concepções docentes sobre
a formação na área de saúde e da posição dos docentes envolvidos com a saúde do idoso
no campo universitário.
A Saúde do Idoso pode ser entendida dentro do espaço social em que se
produzem bens materiais e simbólicos por intermédio de práticas próprias dos agentes.
Refere-se a um conjunto de traços que caracterizam e diferenciam essa área e seus
agentes e que, ao definir-se, afirma um espaço próprio no campo e estabelece suas
fronteiras. O conhecimento produzido, selecionado e legitimado reflete a força de
organização dos grupos, suas divergências e define suas terminologias próprias.
O campo universitário é constituído por diferentes áreas do conhecimento,
algumas mais valorizadas e reconhecidas socialmente e outras menos. A posição
ocupada por determinada área no campo universitário pode, assim, ser entendida em
razão das estratégias de adesão ou enfrentamento adotadas pelos seus profissionais em
relação à ordem social estabelecida no interior do campo.
Em Homo Acadêmicos35, Bourdieu toma como objeto de estudo o meio
acadêmico, definido na obra como
o lugar de uma luta para determinar as condições e critérios de
pertencimento e de hierarquia legítimos, isto é, as propriedades
pertinentes, eficientes, próprias a produzir – funcionando como capital
– os benefícios específicos assegurados pelo campo. Os diferentes
conjuntos de indivíduos definidos por esses diferentes critérios ligam-
se a eles e ao reivindicá-los esforçam-se para fazê-los reconhecidos e
14
afirmando sua pretensão em constituí-los como propriedades
legítimas, como capital específico, trabalham para modificar as leis de
formação dos preços característicos do mercado universitário e para
aumentar assim suas chances de lucro35 (p. 32).

Nessa obra, Bourdieu fala sobre as diversas formas de poder dentro do campo
universitário, relacionando-as com os diferentes níveis de capital cultural e social. Para
o autor, esses níveis são dados pelo prestígio intelectual e científico, como um poder
mais durável, e pelo poder universitário, reconhecido exclusivamente nos limites da
universidade e fundado, principalmente, no controle dos instrumentos de reprodução do
corpo professoral, assim como uma das formas de materialização do poder são as
atividades e funções exercidas.
O campo universitário reproduz na sua estrutura o campo do poder
cuja ação própria da seleção e de inculcação contribui para reproduzir
a estrutura. É na verdade no e por seu funcionamento como espaço de
diferenças entre posições (e da mesma maneira entre as disposições de
seus ocupantes) que se realiza, fora de toda intervenção das
consciências e das vontades individuais ou coletivas, a reprodução do
espaço das posições diferentes que são construtivas do campo do
poder35(p.70).

Para Bourdieu35, o poder propriamente universitário é fundado principalmente no


controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral, banca de agregação e nos
comitês que designam professores titulares, isto é, na posse de um capital que só se
adquire na universidade.
O capital universitário se obtém por meio da ocupação de posições que
permitem dominar outras posições e seus ocupantes. Tal poder sobre as instâncias de
reprodução do corpo universitário é o que, segundo o autor, assegura a seus detentores
uma autoridade que está muito mais ligada à posição hierárquica do que a propriedade
extraordinária da obra ou da pessoa.
O acúmulo de capital no meio universitário leva tempo e, dessa forma, o volume
de capital detido está estreitamente ligado à idade. As distâncias nesse espaço são
medidas em tempo, em distâncias temporais, em diferenças de idade. A estrutura do
campo se manifesta aos agentes sob a forma de uma carreira. Sendo as posições de
poder hierarquizadas e separadas pelo tempo, a reprodução da hierarquia supõe a
manutenção das distâncias.

15
Ainda sobre a hierarquia dos campos, segundo Bourdieu35, o número de teses
orientadas é suficiente para distinguir em diferentes disciplinas aqueles que detêm maior
poder.
A estrutura do campo universitário é o estado, num dado momento do tempo, da
relação de forças entre os agentes ou, mais exatamente, entre os poderes que eles detêm
a título pessoal e, sobretudo, por meio das instituições de que fazem parte. A posição
ocupada nessa estrutura está no princípio das estratégias que visam transformá-la ou
conservá-la, modificando ou mantendo a força relativa dos diferentes poderes ou as
equivalências estabelecidas entre as diferentes espécies de capital 35.
Para Bourdieu35, as transformações globais do campo social afetam o campo
universitário por intermédio das mudanças morfológicas, das quais a mais importante é
o afluxo da clientela de estudantes que, em parte, determina o crescimento desigual do
volume das diferentes partes do corpo docente e, assim, a transformação da relação de
forças entre as faculdades e disciplinas e, sobretudo no interior de cada uma delas, entre
os diferentes graus.

16
PERCURSO METODOLÓGICO

O ensino em saúde e a formação profissional foram abordados como objeto


essencialmente qualitativo, considerando-o historicamente construído, complexo,
contraditório, inacabado e em permanente transformação. O método qualitativo é capaz
de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às
relações e às estruturas sociais, além de ser o mais adequado à compreensão de
fenômenos específicos e delimitáveis, mais pelo seu grau de complexidade interna do
que por sua expressão quantitativa36 (p.10).

Cenário da pesquisa

A pesquisa foi realizada em universidades públicas do estado do Rio de Janeiro,


segundo no ranking brasileiro em relação à proporção de idosos e índice de
envelhecimento, atrás apenas do Rio Grande do Sul. Sua capital é o município que
possui a maior proporção de idosos no país: dos doze bairros brasileiros com o maior
percentual de idosos, seis ficam na cidade do Rio de Janeiro (Copacabana, Campo
Grande, Tijuca, Bangu, Barra da Tijuca, Realengo) 37.
Como critério de inclusão das instituições de ensino no estudo, foram
selecionadas as universidades públicas do estado do Rio de Janeiro que oferecem os
cursos na área de saúde que fazem referência direta aos idosos em suas DCN: Educação
Física, Enfermagem, Medicina e Nutrição. São elas: Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade
Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Embora o curso
de Medicina também faça menção aos idosos em suas diretrizes, o mesmo não foi
incluído na pesquisa, pois não foi possível operacionalizar as entrevistas com seus
docentes.

Sujeitos da pesquisa e fontes de informação

Os sujeitos da pesquisa foram os professores das instituições que desenvolviam


atividades docentes relacionadas à temática Saúde do Idoso, através de disciplinas
obrigatórias ou eletivas, preceptoria de estágio e orientação de alunos em projetos sob
sua coordenação e com qualquer vínculo empregatício. Foram excluídos docentes com

17
menos de um ano no serviço público, aqueles incapazes ou impedidos de fornecer
informações, os que estavam afastados de suas atividades docentes por problemas de
saúde, licenças ou afastamentos e os que estavam de férias no período da realização das
atividades de campo.
Inicialmente foram realizados contatos com os coordenadores de cada curso
dessas universidades, identificados através dos sites institucionais, para agendamento de
entrevistas, conforme o quadro abaixo. A partir desses primeiros contatos, foram
identificados quem eram os docentes envolvidos com a temática em cada um dos
cursos. Nesse sentido, os coordenadores dos cursos foram considerados informantes-
chaves.
Em relação à dificuldade de inclusão do curso de Medicina no estudo, dos quatro
cursos houve resposta somente de dois dos quatro coordenadores inicialmente
contatados via email, que autorizaram a pesquisa. Apesar de ter sido solicitado um
encontro pessoal para informar sobre a pesquisa e obter indicação dos professores
envolvidos com a temática Saúde do Idoso, um deles solicitou que a autorização fosse
deixada com a secretária e esta foi posteriormente entregue assinada sem que houvesse
a possibilidade de contato pessoal direto. O outro coordenador agendou horário em que
a autorização foi entregue e o primeiro nome e o endereço eletrônico dos professores
relacionados à temática foi informado, mas não houve resposta desses professores às
tentativas de contato. Os outros dois coordenadores de curso não responderam às várias
tentativas de contato.
Dos 22 docentes indicados pelos coordenadores, dois recusaram-se a participar
do estudo alegando falta de tempo para a entrevista. Ao final, foram realizadas 20
entrevistas com os docentes, conforme o quadro a seguir:
Entrevistas- Cursos / número de docentes

CURSO N° DE DOCENTES UNIVERSIDADE DE


ENTREVISTADOS INSERÇÃO DOS DOCENTES

EDUCAÇÃO FÍSICA 5 UFRJ (1)

UFRRJ (2)

UERJ (1)

UFF (1)

ENFERMAGEM 10 UFRJ (3)

18
UNIRIO (2)

UFF (5)

NUTRIÇÃO 5 UFRJ (3)

UNIRIO (2)

Outra fonte de produção de dados para a pesquisa foram os próprios sites


institucionais e os documentos neles disponíveis. Através da consulta à página
eletrônica das universidades e dos cursos foi possível conseguir o contato dos
coordenadores e também conhecer os currículos, o Projeto Político Pedagógico, as
disciplinas e outros documentos e informações referentes ao tema em foco.

Instrumentos, técnicas de pesquisa e perspectiva analítica

As técnicas de pesquisa utilizadas nesta pesquisa foram a entrevista, e a consulta


ao currículo lattes dos docentes e outros documentos que se constituíram em fontes ricas
e estáveis de dados além da elaboração de diário de campo.
O diário de campo, forma de registro de observações, comentários e reflexões
para uso individual do pesquisador, foi utilizado para registros de atividades de
pesquisas facilitando a observação, a descrição e reflexão acerca dos acontecimentos
mais significativos. A ferramenta propiciou uma constante revisão dos dados e permitiu
ainda perceber as dificuldades e limitações da pesquisa, contribuindo para a qualificação
de suas ações.
A análise dos currículos lattes, fonte importante de informação para a pesquisa,
foi utilizada amplamente para o conhecimento das informações referentes aos sujeitos
da pesquisa, tais como: formação profissional, produção acadêmica, participação em
bancas e outras atividades e projetos.
A entrevista é uma técnica que permite o desenvolvimento de interação entre as
pessoas, ao colocá-las face a face. Na pesquisa social, a entrevista recobre uma série de
modalidades técnicas e pode ser dividida em dois grandes grupos: entrevista estruturada
através de questionários (dirigidas) e entrevistas semiestruturadas ou não estruturadas
(não dirigidas)36. Nesta pesquisa foi realizada a entrevista semiestruturada, a partir da
elaboração do roteiro de temas que foram tratados. Tal roteiro serviu de orientação, de
baliza para o pesquisador, e abordou os seguintes temas:

19
Roteiro de entrevistas
Temas
Perfil docente Dados socioeconômicos e demográficos
Formação básica
Titulação
Tipo e tempo de vínculo institucional
Cargos ocupados
Participação em programas de pós-
graduação, bancas, pertencimento a
comissões

Linha de pesquisa
Orientação e Formação de RH
Estrutura e conteúdo curricular das Políticas públicas de atenção aos idosos
atividades acadêmicas Doenças e agravos prevalentes
relacionados ao envelhecimento
Questões socioculturais relacionadas ao
envelhecimento
Concepções sobre inserção da temática Relevância da temática para a formação
Saúde do Idoso na formação profissional profissional
em saúde Conhecimentos, habilidades e
competências necessárias à formação em
saúde
Motivos da presença ou ausência de
conteúdos e práticas referentes à saúde do
idoso

O tratamento dos dados produzidos com as entrevistas foi realizado a partir da


análise temática proposta por Bardin por Minayo 36, que consiste em descobrir os
núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência
signifique alguma coisa para o objeto analítico visado.
Buscou-se aqui abordar em linhas gerais os aspectos metodológicos do presente
estudo. No entanto, nos três artigos que compõem a tese serão apresentados os métodos
distintos, descritos com mais detalhamento.

20
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O projeto desta tese foi qualificado em 28/03/2014 e inserido na Plataforma


Brasil em 06/04/2014, recebendo o CAAE número: 30359414.5.0000.5240, tendo sido
avaliado e aprovado pelo CEP da Ensp/Fiocruz através do parecer Nº 699.936 de
25/06/2014, cumprindo todas as exigências estabelecidas pela legislação específica
envolvendo seres humanos.
Por meio da Plataforma Brasil, base nacional e unificada de registros de
pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema CEP/Conep, foram inseridas
as autorizações para a realização da pesquisa nas seguintes instituições: Escola de
Enfermagem Ana Nery, da UFRJ; Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, da
UFF; Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da UNIRIO; Faculdade de Enfermagem da
UERJ; Escola de Educação Física e Desporto da UFRJ; Instituto de Educação Física da
UERJ; Departamento de Educação Física da UFF; Escola de Educação Física da
UFRRJ; Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ; Escola de Nutrição da
UNIRIO; Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro, da UFF; Instituto de Nutrição
da UERJ; Faculdade de Medicina da UFRJ e Faculdade de Ciências Médicas da UERJ.
Apesar das autorizações, não foi possível operacionalizar as entrevistas em todas
as instituições.
A divulgação dos resultados deste estudo para a comunidade científica, bem
como para os sujeitos de pesquisa, será realizada por meio da publicação de artigos
científicos e de apresentação de trabalhos em congressos, seminários, encontros sobre a
temática de pesquisa e outros eventos tecnocientíficos.

21
REFERÊNCIAS

1- Organização Mundial da Saúde- Organizaçãp Panamericana de Saúde.


Envelhecimento ativo: uma política de saúde / World Health Organization; tradução
Suzana Gontijo. Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.

2- Portaria nº 2.528, de 19 de out de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da


Pessoa Idosa. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro do Estado da Saúde.
Diário Oficial da União, 19 out de 2006

3- Caldas, C. O desenvolvimento histórico e teórico da Gerontologia. Veras, R;


Lourenço, R. Formação humana em Geriatria e Gerontologia:uma perspectiva
interdisciplinar. Rio de Janeiro, UNATI, 2006

4- Mendonza,SR, Béria J. Utilización del serviços de salud: una revisión sistematica


sobre los fatores associados. Cad Saude Publica 2001; 17(4):819-832

5- Veras, R, Parahyba, MI. O anacronismo dos modelos assistenciais para os idosos na


área da saúde: desafios para o setor privado. Cad Saude Publica 2007; 23(10):2479-
2489.

6- Calíope, P, Menon, MU, Mathias, TAF .Utilização de serviços de saúde por idosos
vivendo na comunidade. Rev Esc Enferm USP 2013; 47(1):213-20.

7- Motta, LBD, Aguiar, ACD. Novas competências profissionais em saúde e o


envelhecimento populacional brasileiro: integralidade, interdisciplinaridade e
intersetorialidade. Cinc. saúde coletiva. 2007; 12( 2): 363-372.

8- Tavares, DMS, Ribeiro, KB, Silva, CC, Montanholi, LL. Ensino de gerontologia e
geriatria: uma necessidade para os acadêmicos da área de saúde da universidade federal
do triângulo mineiro? Ciênc. cuid. Saúde 2008; 7(4):537-545.

9- Camarano, A A, Pasinato, T. Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60?. Rio de
Janeiro: IPEA, 2004.

10- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução A/RES/55/2 8 de Setembro


de 2000.

11- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Plano de ação internacional contra o


envelhecimento, 2002/Organização das Nações Unidas; tradução de Arlene Santos. ––
Brasília : Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2003. — 49 p. : 21 cm. – (Série
Institucional em Direitos Humanos; v. 1)

12-Plath, D.International Policy Perspectives on Independence in Old


Age, Journal of Aging & Social Policy 2009; 21(2): 209-223

13- Rodrigues, NC. Política Nacional do Idoso - Retrospectiva Histórica. Estud.


interdiscip. Envelhec 2001; .3:149-158

22
14- BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.

15-BRASIL, Ministério da Saúde. Lei nº 8.842, de janeiro de 1994

16- BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 1.395, de 10 de dezembro de 1999

17- BRASIL, Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso / Ministério da Saúde. –1. ed., 2ª
reimpr. –Brasília:Ministério da Saúde, 2003

18-BRASIL, Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro do Estado da Saúde. Portaria


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24
ARTIGO 1
A abordagem do envelhecimento na formação universitária dos profissionais de
saúde: uma revisão integrativa

The approach of aging in higher education of health professionals: an integrative


review

Título curto: A abordagem do envelhecimento na formação universitária

Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2015; 18(2):417-431

RESUMO

O objetivo deste artigo foi identificar, com base na literatura, como a saúde do idoso e o
envelhecimento têm sido abordados na formação universitária dos profissionais de
saúde e o que vem sendo considerado relevante nesta temática. Trata-se de um estudo
de revisão integrativa em que foi realizada busca por artigos nas bases de dados
PUBMED/ MEDLINE, LILACS, IBECS E SCIELO. Os aspectos discutidos na
literatura foram: os requisitos e as competências necessárias para a atenção de qualidade
aos idosos; as atitudes didáticas e as práticas formativas relacionadas ao tema “saúde do
Idoso”; a forma e disposição dos conteúdos ofertados acerca do envelhecimento na
formação profissional; a avaliação do ensino por parte de docentes, discentes e egressos
e os processos de implementação dos cursos de Gerontologia. Considerando os estudos
nacionais e internacionais, as discussões acerca do tema, de forma geral, foram
similares. Os conteúdos e práticas considerados relevantes à formação foram os
assuntos mais investigados e os enfermeiros e médicos os profissionais que mais
pesquisaram o tema.
Descritores: Educação Superior, envelhecimento, saúde do idoso, idoso.

ABSTRACT

This article aimed to identify, from the literature, how the health of the elderly and
aging have been addressed in the education of health professionals and what has been
considered relevant to this theme. This is an integrative literature review carried out
searching for items from PUBMED/MEDLINE, LILACS, IBECS and SCIELO
databases. The issues discussed were the requirements and skills needed for quality care
for the elderly, didactic training practices and attitudes related to the theme, the form
and arrangement of the content offered on aging in vocational training, assessment of
teaching and students and implementation processes of Gerontology courses.
Considering the national and international studies, we have noticed that discussions
about the subject were similar. The contents and practices considered relevant on
training were the most investigated aspects. Nurses and physicians were most likely
researching the topic.
Key words: Higher education, Aging, Healt of the Elderly, Elderly

25
INTRODUÇÃO
A transição demográfica e epidemiológica são fenômenos mundiais que
precisam ser considerados na formação do profissional da saúde. É necessário que o
envelhecimento em sua complexidade seja incluído nos currículos das diversas
graduações da área e que o conteúdo abordado na formação dos profissionais enfoque
mais do que as doenças comuns ao envelhecimento e contemple, entre outros, aspectos
sociais e políticas públicas direcionadas aos idosos. No Brasil a adequação curricular é
mencionada na atual Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), vigente no
país desde 2006.1 A PNSPI é resultado da reformulação de políticas anteriores
direcionadas aos idosos implementadas no país principalmente a partir da década de
1990.
Especificamente acerca da interface saúde-educação, a PNSPI preconiza entre
outros aspectos, a adequação de currículos, metodologias e material didático de
formação de profissionais na área da saúde visando ao atendimento a suas diretrizes e o
incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia nas
instituições de ensino superior que possam atuar de forma integrada com o Sistema
Único de Saúde (SUS). Busca-se, desta forma, valorizar a formação dos profissionais
de saúde, preconizando a abordagem de conteúdos e práticas referentes ao
envelhecimento em todos os níveis da formação e, especificamente no que se refere à
graduação, a PNSPI reafirma esta necessidade.
Nesse contexto, questiona-se como tem se dado o ensino da saúde do idoso e do
envelhecimento em cursos superiores da área de saúde e em que medida se tem
reconhecida a importância de tais temas na formação.
O objetivo deste artigo foi identificar, a partir da literatura existente, como a
saúde do idoso e o envelhecimento têm sido abordados na formação universitária dos
profissionais de saúde e o que vem sendo considerado relevante em relação a essa
temática.

MÉTODO
Trata-se de estudo de revisão de literatura em que foi realizada busca por artigos
em português, inglês, francês e espanhol nas bases de dados PUBMED/MEDLINE,
LILACS, IBECS e no SCIELO.

26
Na base PUBMED/MEDLINE as palavras Gerontology e aging foram inseridas
no campo MeSH terms usando-se entre elas o operador booleano or e em seguida a
palavra curriculum precedida pelo operador booleano and foi inserida no campo MeSH
terms. Considerando-se os resultados referentes a humanos, publicados entre os anos de
2003 a 2013 sob a forma de artigos científicos nos idiomas inglês, português, espanhol
ou francês, chegou-se ao resultado inicial de 333 artigos. Estes foram submetidos
inicialmente ao critério de inclusão de estar disponível online em texto integral com
acesso livre e gratuito. Dessa forma, chegou-se ao total de 44 artigos que, por meio da
leitura dos títulos e resumos, foram submetidos ao critério de inclusão de enfocar a
formação profissional no nível universitário. Com base nesses critérios foram então
selecionados nesta busca 16 artigos, todos em inglês.
Na base LILACS as palavras “Gerontologia” e “envelhecimento” foram
inseridas no campo “descritor de assunto” usando-se entre elas o operador booleano or e
a palavra currículo foi inserida no campo “palavras” precedida pelo operador booleano
and. Foram encontradas 81 referências, que foram submetidas aos mesmos
procedimentos e critérios utilizados na base Pubmed/ Medline. Dessa forma foram
selecionados na busca, 26 artigos, todos em português.
A busca na base IBECS foi realizada com os mesmos critérios da base LILACS,
obtendo-se como resultado inicial oito artigos em espanhol. Destes apenas dois
atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos e foram selecionados.
No SCIELO utilizando-se o formulário avançado as palavras “Gerontologia” e
“envelhecimento” foram inseridas no campo “palavra chave” usando-se entre elas o
operador booleano or e a palavra “currículo” foi inserida no campo “todos os índices”
precedida pelo operador booleano and. Foram encontradas somente três referências que
já constavam na base Lilacs.
Com base nesses resultados chegou-se ao total de 44 artigos que fizeram parte
do presente estudo. As teses, dissertações, monografias e documentos de projetos e
artigos em outros idiomas que não os já mencionados foram descartados.
De acordo com os conteúdos, os artigos selecionados foram assim categorizados:
1) requisitos e competências necessárias para a atenção de qualidade aos idosos- artigos
que enfocam os atributos necessários que deveriam estar incluídos na formação
universitária de profissionais da saúde visando a atenção de qualidade aos idosos; 2)
forma e disposição dos conhecimentos acerca do envelhecimento na grade curricular-
artigos que têm por objetivo principal abordar as diversas formas em que o tema
27
“envelhecimento” está incluído na formação universitária de profissionais da saúde, seja
por meio de de projetos, disciplinas obrigatórias e outras ações; 3) avaliação do ensino
por parte de docentes, discentes e egressos- artigos que divulgam resultados de
pesquisas de avaliação do ensino de conteúdos referentes ao envelhecimento na
formação universitária de profissionais da saúde; 4) atitudes didáticas e práticas
formativas- artigos que abordam diversas práticas didáticas e experiências inovadoras
referentes à formação universitária de profissionais da saúde; 5) implementação dos
cursos de graduação em Gerontologia- artigos que versam sobre os cursos de graduação
em Gerontologia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os artigos encontrados eram referentes a diferentes profissões da área da saúde:
Enfermagem, Medicina, Terapia Ocupacional, Odontologia, Educação Física, Farmácia,
Serviço Social e Gerontologia. As duas primeiras e a última foram as áreas relacionadas
à maioria dos artigos aqui analisados. Foram encontrados dez estudos que afirmam a
relevância de formação específica dos profissionais da saúde em geral para a atenção ao
idoso, sem ênfase numa categoria profissional específica, sendo, portanto, estudos que
envolvem mais de uma profissão. Foram analisados 24 artigos nacionais e 20
internacionais (15 dos EUA, dois da Espanha, um de Portugal, um de Cuba e um do
Paquistão). O ano com maior número de publicações foi 2009.
No que se refere às publicações nacionais, verifica-se que ao longo dos anos o
quantitativo de artigos foi crescente, principalmente a partir de 2006, o que está
relacionado a reformulações nas políticas públicas direcionadas ao idoso. Essas
passaram a focar a promoção da saúde e a atenção básica, o que exige reflexão acerca
da formação. Por outro lado, a implementação das diretrizes curriculares teve um papel
importante na avaliação dos diversos cursos superiores da área por parte do Ministério
da Educação, sendo este um fator que contribui para a maior atenção da academia em
relação ao tema. Observa-se aumento no volume das publicações em período mais
recente, principalmente a partir do ano de 2009.
Os artigos eram resultado de pesquisas originais, relatos de experiências, análise
documental, estudos teóricos e descrição de projetos pedagógicos de cursos de
graduação em Gerontologia (Tabela 1).

28
29
30
Tabela 1: Distribuição de artigos de acordo com o tema principal, método, categoria
profissional, periódico e país de origem PUBMED, LILACS E SCIELO 2004-2013

Requisitos e competências necessárias à formação para a adequada atenção aos


idosos
Os requisitos e competências necessárias à formação profissional para a atenção
de qualidade aos idosos foram enfocados por 14 dos estudos analisados, 11 nacionais e
três internacionais.
Morgan2 em seu estudo acerca do que é relevante para ser estudado em sala de
aula, tendo em vista as questões-chave em Gerontologia, indica dois paradigmas

31
emergentes, o biopsicossocial e do ciclo de vida, este mais relacionado às ciências
sociais e do comportamento. O primeiro capta um elemento essencial da Gerontologia
que é o cruzamento de fronteiras disciplinares para ampliar a compreensão do
envelhecimento e da vida adulta. O segundo foca as transições e trajetórias ao longo da
vida como um desenvolvimento temporalmente dinâmico e essencial com influências
sobre o envelhecimento humano. Para o autor a questão primordial é fazer o aluno
extrair dos paradigmas, a partir de seus limites e pressupostos, ferramentas capazes de
construir novos conhecimentos na direção de uma abordagem interdisciplinar.
Biz e Maia3 conseguem sintetizar o que, segundo os estudos analisados, seria o
perfil do profissional desejado para o cuidado ao idoso. Este deve ser pautado no
desenvolvimento de competências em múltiplas dimensões que envolvem: o
conhecimento da fisiologia e da fisiopatologia do envelhecimento humano; a conduta
resolutiva diante das principais doenças que afetam os idosos; a concepção de saúde na
sua dimensão biopsicossocial e não apenas como um distúrbio biológico; os aspectos
éticos e o relacionamento com a equipe multiprofissional, numa perspectiva de
integralidade.
A relevância do conhecimento da fisiologia e da fisiopatologia do
envelhecimento humano tal como indicado por Biz e Maia 3 foi aspecto abordado
inclusive por outros autores. Segundo Câmara et al4 a formação médica não tem
contemplado adequadamente aspectos básicos sobre a fisiologia e prescrição de
exercícios físicos em geral, já que a formação generalista não têm abrangido aspectos
atuais relacionados à fisiologia do exercício e prescrição de atividades físicas
direcionadas para a população idosa. Os autores consideram de grande importância os
conhecimentos sobre o tema, possibilitando que mais indivíduos possam se beneficiar
com segurança da prática regular de atividade física, julgada essencial para
independência e qualidade de vida da população idosa.
Motta e Aguiar5 alertam para o fato de que conceitos específicos da
Gerontologia como síndromes geriátricas, reabilitação, fragilidade, independência
(capacidade de executar tarefas sem ajuda) e autonomia (capacidade de
autodeterminação) não constam habitualmente nos conteúdos da graduação, mas são
operacionais para a proposição de condutas adequadas. Para as autoras, os profissionais
recém-egressos das faculdades não dispõem de competências mínimas para
operacionalização da concepção ampliada de saúde na atenção aos idosos, o que
implicaria, entre outros fatores, identificação precoce das situações de risco para a
32
fragilização, isto é, risco de perda de autonomia e independência, na utilização de
medidas preventivas e de suporte, e na prática do trabalho em equipe.
Sobre a fragilidade no envelhecimento, os estudos indicam que os profissionais
mencionam critérios diferentes para definir fragilidade, incluindo: vulnerabilidade,
incontinência urinária, sarcopenia, dependência nas atividades de vida diária,
problemas familiares, demência, perda do sentido da vida, redução do bem-estar
subjetivo, perda de pessoas queridas, institucionalização, déficit cognitivo, doenças,
sintomas depressivos, condição socioeconômica desfavorável e solidão. Os resultados
indicaram que não houve consenso sobre os critérios para identificar os idosos frágeis.6,7
De acordo com Huber et al8 para cuidar do envelhecimento da população que
sofre de várias doenças crônicas e incapacidades, é necessário um bom conhecimento da
avaliação funcional, e este tema deve ser abordado no currículo. O autor relata a sua
experiência em um seminário de avaliação funcional que envolveu estudantes de
diversas categorias profissionais. A conduta resolutiva diante das principais doenças que
afetam os idosos, apontado como uma das competências necessárias aos profissionais é
destacada por dois dos estudos analisados.9,10
Pioltini et al9 entrevistaram médicos de diferentes especialidades, Neurologia,
Psiquiatria e Geriatria e Medicina Geral, com objetivo de analisar as atitudes desses
profissionais de diferentes áreas de formação frente à incapacidade de pacientes com
doença de Alzheimer e sua competência para interferir com autonomia para tomada de
decisões. O estudo considerou evidente a falta de informações sobre aspectos legais e
éticos relacionados aos tutores e cuidadores dos idosos. O autor sugere que “aspectos
jurídicos” é um tema que deveria ser incorporado na formação profissional, a fim de
melhorar as atitudes em relação à gestão em longo prazo de pacientes com demência.
Conhecer sobre as características de transtornos cognitivos e demências na
clínica privada de especialistas e o preparo dos médicos nessa área foram objetivo do
estudo de Vale,10 que aplicou questionário de autoavaliação a 196 neurologistas
brasileiros do Estado de São Paulo e, apesar de as demências representam uma
proporção significativa na clínica privada desses especialistas (principalmente
Alzheimer e do tipo vascular), eles responderam não ter recebido boa formação em
transtornos cognitivos e demências. O autor considera necessária a incorporação de
medidas visando à melhoria do preparo do médico especialista para o atendimento
daqueles quadros clínicos.

33
Segundo Viana et al,11 o acolhimento ao idoso em sua dimensão biopsicossocial
é visto como fundamental. Nesse sentido a relação médico-paciente assume papel de
destaque. Há uma pluralidade de contextos de encontros e uma diversidade de formas de
relação médico-paciente idoso. Assim, deve-se buscar a articulação do conhecimento
biomédico ao sistema de representações populares referentes à saúde-doença. Os
autores ressaltam a importância de uma formação que possibilite o nascimento de uma
nova imagem desse profissional, no caso o médico, responsável pela efetiva promoção
da saúde, ao considerar o paciente idoso em sua integridade física, psíquica e social, e
não somente do ponto de vista biológico.
Cuidados paliativos, finitude e morte são em geral temas relacionados ao
envelhecimento e não deixaram de ser indicados como importantes conteúdos a serem
trabalhados na formação. Destaca-se que os acadêmicos, neste caso de Enfermagem,
sentem-se despreparados para lidar com a morte, demonstrando certa angústia,
insegurança ao falar sobre o assunto. Atribuiu-se isto ao fato da discussão desta temática
não ser frequente durante a graduação. Os autores entendem que a criação de espaços
para autoconhecimento, sensibilização e reflexão sobre o tema nas universidades
possibilitaria a formação de profissionais não só capacitados para assistir a vida visando
à reabilitação ou a cura, mas também preparados para lidar com a morte.12,13
Em relação aos aspectos éticos, referidos como importantes na formação dos
profissionais, alerta-se que o impressionante crescimento da tecnologia na Medicina foi
sendo assimilado de maneira inadequada na prática profissional, pois originalmente
complementares, os métodos de semiologia armada transformaram-se em
14
procedimentos essenciais para a realização de qualquer diagnóstico. Faz-se necessário,
portanto, dentre outras medidas, introduzir com maior ênfase temas de bioética na grade
curricular dos cursos médicos.14
No sentido de assegurar que compentências necessárias ao cuidado adequado ao
idosos fossem abordados nos cursos de graduação, Thornlow et al 15 relatam em seu
estudo o processo de desenvolvimento de protocolos realizado pela Associação
Americana de Faculdades de Enfermagem visando assegurar que os formandos das
universidades americanas estejam preparados para prestar cuidados eficientes para os
mais velhos. Estudos relacionados às áreas da Medicina e Enfermagem foram os mais
frequentes sob este aspecto.

34
Forma e disposição dos conhecimentos acerca do envelhecimento na formação
Os conteúdos e práticas relacionados ao envelhecimento podem estar disponíveis
de diversas formas na formação dos profissionais de saúde, seja por meio de disciplinas
específicas de Geriatria ou Gerontologia, outras disciplinas ao longo do curso e ainda
por meio de projetos de pesquisa ou de extensão.
Xavier e Koifman,16 em seu estudo sobre a inclusão de diretrizes da Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa nos cursos da área de saúde da Universidade Federal
Fluminense identificaram que dos 11 cursos da área de saúde que a universidade possui,
apenas os de Enfermagem e Medicina possuem disciplinas relacionadas ao
envelhecimento na modalidade obrigatória e os cursos de Educação Física, Odontologia
e Serviço Social apresentavam tais disciplinas na modalidade optativa.
O estudo de Leite et al17 destaca que 10% dos 74 profissionais entrevistados em
sua pesquisa mencionaram que receberam conteúdos relativos à Geriatria, Gerontologia
ou envelhecimento em disciplinas que não possuíam o objetivo único de tratar desses
temas, tais como Saúde Coletiva, Saúde do Adulto, Saúde da Comunidade e
Enfermagem Clínica-Cirúrgica. No entanto, segundo o estudo, 60% dos entrevistados
de nível superior contaram com esse componente curricular na forma de disciplinas
específicas.
Jiménez Díaz et al18 realizaram um estudo descritivo dos currículos dos cursos
de graduação em Enfermagem, Medicina, Fisioterapia, Serviço Social, Terapia
Ocupacional e Educação Física nas universidades espanholas e concluíram que apenas
os cursos de Enfermagem e Terapia Ocupacional possuíam disciplinas com tema central
relacionado ao envelhecimento.
A importância de se ter uma disciplina específica no tema pode ser constatada
no estudo de Guarniere et al,19 destacando que a existência da disciplina intitulada
“Enfermagem em Saúde do Idosos” obrigatória aos alunos do terceiro ano da graduação
em Enfermagem da Faculdade de Medicina do ABC foi o que despertou nos alunos o
interesse no tema e possibilitou a criação e implantação de um projeto de extensão
universitária com foco na promoção da saúde. Segundo os autores o envolvimento no
projeto de extensão facilita o interesse dos alunos para a especialização na área.
Sobre o mesmo assunto, Garuffi et al 20 apresentam a experiência bem sucedida
de um projeto de extensão universitária envolvendo estudantes de graduação que, por
meio da prática de atividade física com doentes de Alzheimer, mostrou resultados
favoráveis no que se refere aos sintomas progressivos da doença.
35
Falcão et al21 destacam a contribuição da Psicologia nas ações de ensino,
pesquisa e extensão do curso de graduação em Gerontologia da Universidade de São
Paulo (USP). Segundo os autores, o eixo psicológico é um dos três eixos estruturantes
do curso de graduação em Gerontologia da instituição. As contribuições da Psicologia
no curso de graduação em Gerontologia iniciam-se no ciclo básico, já no primeiro
período do curso e em todos os semestres da graduação há disciplinas de Psicologia. As
autoras mencionam, no estudo, as ações do grupo de pesquisadoras da área em projetos
de iniciação científica, atrelando-os, muitas vezes, às atividades de extensão realizadas.
As linhas de pesquisas desenvolvidas e mencionadas no estudo são as seguintes:
Envelhecimento Cognitivo e Plasticidade; Envelhecimento, Família, Relações Sociais e
Promoção da Saúde; Envelhecimento Bem-Sucedido e Educação.

Avaliação do ensino por parte de docentes, discentes e egressos


A avaliação dos discentes, docentes e profissionais acerca da formação adequada
para o cuidado ao idoso a qual foram submetidos na graduação foi tema de dois estudos
nacionais e quatro internacionais analisados.
Em pesquisa sobre a visão de 55 discentes de sete cursos de Enfermagem nas
universidades públicas de Minas Gerais acerca do ensino de Gerontologia e sua
contribuição do para a vida profissional, os discentes relataram acréscimo de
conhecimento e suporte para o desenvolvimento da assistência de enfermagem ao idoso.
Desse modo, constata-se que os discentes valorizam o conhecimento científico e o
considera base para um bom planejamento da assistência. Além disso, os alunos
relataram aumento do interesse pela área do envelhecimento e maior visualização da
perspectiva profissional na atenção aos idosos.22
A formação profissional em Gerontologia foi objeto de reflexão dos terapeutas
ocupacionais. Almeida et al23 realizaram uma pesquisa exploratória e descritiva com
egressos do Curso de Terapia Ocupacional da USP, para identificação de possíveis
contribuições da graduação para a atuação com pessoas idosas. Segundo o estudo, os
principais desafios relatados pelos participantes são o desconhecimento da Terapia
Ocupacional por outros profissionais, a diluição do discurso desse profissional no
discurso gerontológico e a superação da escassez de recursos para intervenções. Para
enfrentar os desafios, os egressos referiram recorrer à formação complementar, ao
contato com profissionais de outras áreas e à reflexão sobre a própria prática
profissional. Parte das estratégias adotadas pelo curso de Terapia Ocupacional da USP
36
na área de Gerontologia- adequação de carga horária para formação, disciplinas
específicas e articulação teórica-prática é abordada em mais um estudo dos autores.24
O interesse dos odontólogos por uma formação mais adequada ao atendimento
de qualidade ao idoso pode ser constatado no estudo de Saintrain et al 25 que
pesquisaram a Odontogeriatria no currículo de 17 cursos de Odontologia situados na
Região Norte e Nordeste do Brasil. Os autores constataram que a Odontogeriatria como
disciplina ou conteúdo, está ausente do currículo em dois terços dos cursos de
Odontologia pesquisados e os conhecimentos são geralmente transmitidos pela
disciplina Prótese Dentária. Segundo o referido estudo, para uma parcela expressiva de
alunos, nenhuma formação teórico-prática na área foi oferecida pelo curso, apesar de ser
expressiva a perspectiva do concluinte em trabalhar com idosos.
Sabzwari et al26 discutem o desenvolvimento do primeiro currículo com
conteúdos específicos de Geriatria em uma escola médica do Paquistão e seu efeito
sobre o conhecimento e as atitudes dos estudantes de Medicina do terceiro ano. O
currículo foi concebido seguindo o modelo interdisciplinar e com abordagem baseada
na resolução de problemas. Segundo os autores todos os alunos estavam satisfeitos com
a qualidade do ensino no tema, com 90% da avaliação como bom ou superior. Estus et
al27 descreveram a elaboração, implementação e avaliação de um curso eletivo de
Farmacoterapia geriátrica enfatizando uma abordagem centrada no paciente e em
estratégias ativas de aprendizagem. A avaliação dos alunos a respeito do curso foi
positiva e eles concordaram que as habilidades aprendidas foram importantes para o seu
sucesso nas experiências práticas de Farmácia.
As atitudes de 93 estudantes de Medicina do quinto período da Universidade de
Salamanca no que se refere à abordagem de pessoas idosas foi estudada por Bernardini
et al28 por meio da aplicação de questionário no início e no final da disciplina de
Geriatria. Os autores concluíram que a exposição aos conhecimentos e práticas baseadas
na atenção e cuidado de pessoas idosas modificaram positivamente as atitudes dos
estudantes de Medicina.
Observou-se na revisão de literatura que os três estudos internacionais 26,27,28
apresentam resultados mais favoráveis, mas se referem a casos específicos e
experiências cincunscritas, enquanto que os três estudos nacionais, 22,23,24 apesar de
apresentarem resultados menos favoráveis, apresentam enfoque parecem mais
abrangentes.

37
Atitudes didáticas e práticas formativas
De acordo com Karasik29 apesar das tendências demográficas favoráveis a uma
ampla gama de oportunidades de emprego relacionadas ao cuidado e assistência ao
idoso e maior segurança no mercado de trabalho, o envelhecimento é raramente a
primeira escolha dos estudantes quando se trata de escolhas de carreira. O autor destaca
o papel das estratégias de ensino como importante para motivar os alunos em relação à
atuação com idosos.
Algumas diferentes estratégias podem ser consideradas como formas potentes no
sentido de melhor aproveitar as experiências didáticas relacionadas ao envelhecimento e
foram abordadas por estudos internacionais. Schafer 30 relata o uso de Tai Chi chuan
como estratégia de ensino na qual os estudantes relataram insights sobre o processo de
envelhecimento, comparando e contrastando os seus movimentos com os dos adultos
mais velhos.
Alguns estudos destacaram as narrativas como estratégia de atenção aos idosos,
e os autores relatam que os fragmentos narrativos fornecem ampla informação sobre as
experiências, valores e aspectos da vida dos idosos que podem ser usados para ajudar os
alunos a compreender os conceitos-chave sobre o envelhecimento e da aborgagem do
curso de vida.31,32
Shapiro Cho33e Sutin et al34 abordaram o papel do teatro no ensino de disciplinas
relacionadas a questões do envelhecimento. O primeiro destaca que o teatro é uma
forma inovadora e simples de ajudar os estudantes de Medicina na reflexão e discussão
de temas difíceis, como os estereótipos de envelhecimento, invalidez e perda de
independência, sexualidade, vida assistida, os relacionamentos com adultos e crianças e
as questões de fim de vida. O segundo usa o teatro para ajudar os alunos no uso de
testes padronizados visando identificar os principais problemas funcionais dos idosos.
As atitudes didáticas, no que se refere à disciplina relacionada ao
envelhecimento em graduação de Medicina, foi tema da pesquisa de Reye Mediaceja
at al,35 a fim de implementar uma estratégia para a melhoria da processo de formação de
futuros médicos em Santiago de Cuba. A estratégia foi realizada em três etapas: a
primeira, sensibilização e diagnóstico, a segunda de planejamento e treinamento, e a
terceira de implementação e avaliação (cada etapa inclui objetivos, ações, formas e
resultados esperados). Para os autores, a estratégia de organização da disciplina é um
processo dialético que permite diferentes ações na formação do profissional para o
desenvolvimento de competências na área de Gerontologia e Geriatria.
38
Práticas de cuidado em Enfermagem desenvolvidas nas unidades de saúde são
entendidas e descritas como experiências formadoras por Moniz.36 Os enfermeiros
mobilizam diversos recursos formativos ao longo das suas experiências práticas com
pessoas idosas. Para o autor, trata-se de compreender os processos de formação dos
enfermeiros por meio do significado e expressões que eles conferem às suas
experiências de prestadores de cuidados a pessoas idosas. O mesmo destaca as
experiências práticas com idosos como meio no qual cada um vai adquirindo,
descobrindo e desenvolvendo novas competências.
A importância da interdisciplinaridade na formação e sua inclusão no currículo
foram relatadas nos estudos de Demiris37 e Lam.38 O primeiro descreve uma abordagem
educacional interdisciplinar, a chamada “Gerontechnology” descrita pelos autores como
um novo campo interdisciplinar que se concentra no uso de tecnologia para suportar o
envelhecimento. O autor destaca como o currículo promove a colaboração de disciplinas
dos cursos de Enfermagem, Engenharia, Ciências da Computação e Administração. O
segundo estudo relata a experiência do curso de Farmácia em programas que oferecem
atividades para que os alunos alcancem competências interprofissionais. Os programas,
com a supervisão de preceptor, estabelecem planos curriculares que são implementados
mediante resolução de desafios.
Kolb39 descreve o uso da Writing Across the Curriculum- WAC - metodologia
de ensino-aprendizagem que enfatiza a importância da escrita como ferramenta de
ensino nas diversas disciplinas- em uma disciplina sobre envelhecimento no curso de
Serviço Social. Segundo o autor, quando os alunos começam a escrever suas reações à
informação, sua compreensão e retenção da informação melhoram e a escrita pode
facilitar a aplicação do novo conteúdo a própria vida e interesses dos aluno. Segundo o
autor o uso da técnica em questão resultou na melhoria das habilidades de escrita e
facilitou o desenvolvimento do conhecimento sobre a prática gerontológica e teorias
sociológicas.
Implementação dos cursos de gradução em Gerontologia
Os cursos de graduação e bacharelado em Gerontologia tem como foco a com-
preensão dos fenômenos que acompanham o envelhecimento humano, formando
profissionais específicos, os gerontólogos. O processo de implementação desses cursos
em diferentes universidades é descrito em distintas publicações, que incluem as
disciplinas que compõem o referido currículo, o perfil do egresso desejado, a
organização dos estágios, entre outros. De forma geral a ênfase está na promoção do
39
envelhecimento ativo e saudável e no monitoramento das condições sociais e de saúde
dos idosos.40,41,42,43
As quatro publicações nacionais40,41,42,43,44 encontradas relacionadas à área de
Gerontologia limitaram-se a apresentar os projetos dos cursos. A graduação em
Gerontologia foi implantada no país em 2005 e apesar do fato de gerontólogos terem
sido formados no período considerado pelo presente estudo, observou-se ausência de
artigos publicados em revistas indexadas versando sobre a formação profissional. A
exceção foi o estudo de Falcão21 et al que como já referido, aborda a contribuição da
Psicologia na formação do gerontólogo.
Dois estudos internacionais44,45 abordam a accreditation dos cursos de
Gerontologia, as habilidades profissionais e a empregabilidade dos gerontologos
diplomados. Segundo Haley et al44, de acordo com os critérios norte americanos, a
Gerontologia ainda carece de muitos elementos necessários para a creditação
profissional, incluindo escopo definido de práticas, currículo corpo docente com
profissionais adequados. Para Pelham et al45 a accreditation de programas de
Gerontologia, dos diplomados em Gerontologia, e o emprego de gerontólogos
profissionais deve ser realizado pela Associação Americana de Gerontologia no Ensino
Superior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem do envelhecimento na formação universitária dos profissionais de
saúde vem sendo mais investigada sobretudo no que se refere aos conteúdos e práticas
considerados relevantes a formação. Esse aspecto foi enfocado pela maioria dos artigos
analisados, especialmente se considerarmos as publicações nacionais.
As discussões acerca do tema de uma forma geral são similares nos estudos
nacionais e internacionais, mas não acerca das atitudes didáticas e práticas formativas
que foram aspectos discutidos apenas nos estudos internacionais, indicando que no
Brasil os docentes da área não costumam ou têm dificuldade de publicar o resultado de
suas experiências didáticas. Há distinções também no que se refere aos cursos de
Gerontologia pois as publicações nacionais restringem-se a descrever os processos de
implementação dos cursos, enquanto as internacionais tratam da accreditation e
avaliação dos mesmos e analisam a profissão do gerontólogo, o que demosntra, de certa
forma, um estágio mais adiantado do curso e da profissão nos Estados Unidos em
relação ao Brasil.
40
Apesar de esse estudo ter enfocado a formação universitária, considera que a
formação para o enfrentamento das questões referentes ao envelhecimento populacional
não se restringe à graduação. A formação compreende níveis educacionais anteriores à
graduação e avança para a educação permanente e continuada.

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44
ARTIGO 2

A posição de docentes envolvidos com a temática “Saúde do Idoso” nas


graduações da Saúde

The position of teachers involved with the “Elderly Health” theme in health
undergraduate courses

RESUMO

O objetivo deste artigo foi discutir a inserção da temática “Saúde do Idoso” na formação
em saúde, a partir da análise da posição de 22 docentes de três cursos de graduação que
contêm a atenção aos idosos em suas Diretrizes Curriculares Nacionais. A fonte
principal de informação foi o Currículo Lattes. Baseadas em Bourdieu, foram analisadas
as seguintes categorias: a titulação e posição dos professores no campo universitário; o
monopólio da autoridade e controle dos instrumentos de reprodução do corpo
professoral; o prestígio científico dos professores; homenagens e prêmios. Concluiu-se
que a temática é secundária na carreira dos docentes que atuam na área, de maioria
recém-doutora e com poucos credenciados em programas de pós-graduação stricto
sensu. Observou-se a busca de aproximação com as esferas de poder e investimento no
acúmulo de capital simbólico de notoriedade por parte desses agentes.

Palavras chave: Saúde do Idoso, Envelhecimento, Currículo, Profissões de Saúde,


Educação Superior

ABSTRACT

The purpose of this article was to discuss the inclusion of "Elderly Health" theme in the
education of health professionals from the analysis of the position of twenty-two
teachers of three graduation courses referring to the attention to the elderly in their
National Curriculum Guidelines. The main source of information was the Lattes
curriculum. Based on Bourdieu, the following categories were analyzed: the titration
and position of teachers at university field; the monopoly of authority and control of the
reproductive apparatus of teachers body; the scientific prestige of teachers; honors and
awards. It was concluded that the theme is secondary in the career of teachers working
in the area, most recently doctors and few people are accredited in post-graduation
studies programs. It was observed a search for rapprochement with power and
investment spheres in the accumulation of symbolic capital of notoriety by these agents.

Key words: Elderly Health, Aging, Curriculum, Health professions, Higher Education

45
INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é uma tendência no século XXI e apresenta


implicações importantes para todos os domínios da sociedade. Em 2012, o número de
pessoas com sessenta anos ou mais era de 810 milhões, constituindo 11,5% da
população global, e a cada ano quase 58 milhões de pessoas atingem os sessenta anos 1.
Na sociedade contemporânea o envelhecimento está comumente relacionado à
invalidez, aposentadoria, doença e dependência. A fim de contribuir com a superação
dessa visão, desde final dos anos 1990 a Organização Mundial da Saúde adotou como
orientador das políticas públicas no âmbito mundial o “envelhecimento ativo”, definido
como “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança
com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais
velhas”2.
A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se nos princípios de
independência, participação, dignidade, assistência e autorrealização. Ela reconhece os
direitos das pessoas mais velhas e a importância da participação política dessa parcela
da população e em outros aspectos da vida comunitária de acordo com seus desejos,
necessidades e capacidades, fortalecendo um novo paradigma que considera os idosos
como participantes ativos da sociedade 2.
No que se refere às instituições de ensino superior, esse novo paradigma deveria
ser incorporado em disciplinas das diversas formações profissionais em saúde.
Contudo, nem sempre conteúdos referentes à “saúde do idoso” fazem parte dos
currículos das graduações da área de saúde, apesar de sua importância para a atuação
dos futuros profissionais.
Neste estudo se fez a opção pelo uso do termo “saúde do idoso” que inclui tanto
conteúdos referentes à Gerontologia quanto à Geriatria. A Gerontologia é compreendida
como campo de conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento
humano em sua perspectiva mais ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos,
psicológicos, sociais, culturais, econômicos e históricos. Já a Geriatria é direcionada à
promoção da saúde e ao tratamento de doenças e incapacidades entre os idosos 3.
A necessidade de adequar currículos, inserir conteúdos voltados para o processo
de envelhecimento dos indivíduos e populações e atenção à saúde nos diversos níveis de

46
ensino formal e incluir a Gerontologia como disciplina curricular nos cursos superiores
da área da saúde é prevista no Brasil pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa4.
Nos últimos anos, os Ministérios da Educação e da Saúde têm investido em
aproximar as escolas de formação em saúde dos cenários de práticas, visando melhorar
a qualidade da assistência prestada 5. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para
os cursos de graduação foram elaboradas, no Brasil, em meados da década de 1990 e
homologadas entre os anos de 2001 e 2004, a fim de orientar a elaboração dos
currículos das quatorze profissões de saúde visando, sobretudo, à consolidação do SUS.
A grande área da saúde compreende os seguintes cursos: Biologia, Biomedicina,
Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina,
Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia
Ocupacional3.
As Diretrizes Curriculares Nacionais propõem um perfil profissional com
formação geral, humanista, crítico e reflexivo, por meio de projetos pedagógicos
construídos coletivamente pelos diversos seguimentos envolvidos nas instituições de
ensino superior. De acordo com as diretrizes, as competências gerais desejadas para o
graduado nos cursos da saúde constituem elementos comuns da formação, que são
complementadas pelas competências específicas necessárias para cada curso/profissão 6.
Entre os quatorze cursos da área de saúde, apenas os cursos de Educação Física,
Enfermagem, Medicina e Nutrição se referem diretamente ao envelhecimento ou ao
idoso em suas respectivas DCN.
Apesar das diretrizes curriculares, nem sempre esses cursos de graduação
ofereciam disciplinas específicas sobre o envelhecimento. Pesquisando-se as matrizes
curriculares dos cursos de graduação em Educação Física, Enfermagem, Medicina e
Nutrição nas cinco mais importantes universidades públicas do Rio de Janeiro,
constatou-se que apenas o curso de Educação Física de uma delas possui disciplina
obrigatória específica. Disciplinas intituladas “Enfermagem na Saúde do Adulto e do
Idoso” que, portanto, não abordam exclusivamente o tema, já que incluem os adultos,
foram encontradas na modalidade obrigatória em três das quatro universidades
pesquisadas que oferecem curso de Enfermagem. Não foram identificadas disciplinas
com tema central relacionado ao envelhecimento e saúde do idoso nos cursos de
Medicina e Nutrição em nenhuma das universidades pesquisadas.
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa 4 e as diretrizes curriculares dos
cursos pesquisados são favoráveis à inserção de professores com interesse no assunto,
47
para que ampliem o espaço dessa temática nos currículos. No entanto, isso ainda não
parece acontecer.
Segundo a literatura, alguns aspectos dos conteúdos de saúde do idoso são
abordados, ainda que de maneira insuficiente, nos currículos dos cursos de
graduação7,8,9,10,11,12. São exemplos desses conteúdos: fisiologia e prescrição de
exercícios físicos em geral7; síndromes geriátricas8; critérios para se estabelecer a
fragilidade no envelhecimento8,9,10; cuidados paliativos, finitude e morte11,12.
A introdução limitada de conteúdos relacionados à saúde do isoso nos currículos
pode ser, em parte, explicada em razão da inserção dos agentes à ela relacionados no
campo universitário.
Considerando que fazem parte do campo universitário as faculdades, os
institutos, os departamentos, os professores das diversas áreas e suas produções teóricas
e empíricas, a proposta deste estudo é analisar, a partir das informações coletadas no
Currículo Lattes, a posição de 22 docentes relacionados à temática em três dos quatro
cursos de nível superior que fazem referências ao idoso em suas DCN.

A teoria de Bourdieu e o campo científico


Pierre Bourdieu nasceu na França, em 1930, e faleceu em 2002, no mesmo país.
Sua produção intelectual caracterizou-se por uma variedade de objetos e temas de
estudo, fazendo com que o autor se tornasse referência na Sociologia e na Antropologia,
através da publicação de trabalhos sobre educação, cultura, literatura, arte, mídia,
linguística e política. Bourdieu13 estudou a sociedade sob a lógica da distinção, aplicada
aos espaços sociais, e argumentava que há estruturas objetivas no mundo social que
podem coagir a ação dos indivíduos. Uma das questões mais importantes apresentadas
no seu pensamento é a análise de como os indivíduos incorporam a estrutura social,
legitimando-a e reproduzindo-a14.
O modo como Bourdieu forma seus conceitos é característico. Os conceitos que
utiliza são sistêmicos, pressupõem uma referência permanente ao sistema completo de
suas inter-relações, ou seja, inferem uma teoria. Em vez de tomar conceitos consagrados
ou de depurar conceitos de uso comum, ele elabora novos conceitos a partir de termos
conhecidos. Com isso, não só ilumina segmentos obscuros do fenômeno social, como
renova conteúdos e traz luz nova ao que se pretendia conhecido e sabido 15.
Ao se colocar entre o subjetivismo, que desconsidera a gênese social das
condutas individuais, e o estruturalismo, que despreza a história e as determinações dos
48
indivíduos, Bourdieu trabalha com agentes e não com sujeitos: em sua concepção,
agente é o ser que age e luta dentro do campo de interesses. Para ele, a ideia de interesse
é central à compreensão da realidade, assim como a noção de estratégia como
instrumento de ruptura com o ponto de vista objetivista e com a ação sem agente,
suposta pelo estruturalismo (que recorre, por exemplo, à noção de inconsciente).
Estratégia, para o autor, é produto do senso prático, que é a origem das práticas rituais
que estabelecem a coerência parcial em um determinado campo 15.
A Sociologia de Bourdieu forma um conjunto de noções e conceitos, entre eles,
habitus, campo, capital simbólico, poder simbólico e violência simbólica, os quais,
geralmente articulados, são empregados em diversos campos do conhecimento, sendo
os dois primeiros considerados os conceitos centrais de sua teoria.
Na saúde coletiva, o autor vem sendo utilizados em pesquisas sobre diferentes
temas, tais como aspectos históricos da constituição dos campos profissionais 16,17, apoio
e resistências às políticas públicas,18 prática dos trabalhadores em saúde 19 e mudanças
na formação profissional20,21,22. Montagner23 menciona o fato de que a rigor não há
estudos publicados por Bourdieu especificamente sobre a saúde ou sociologia médica e
que isso não impediu que sua teoria tenha aportado contribuições reais e também
potenciais para estudos nessas áreas.
Segundo Bourdieu, campo é um espaço de luta entre os agentes e instituições
que o compõem. A posição ocupada por seus agentes se dá em função do capital
desigualmente distribuído entre eles. Esse capital não se restringe ao capital econômico
(bens econômicos e de produção), mas também se refere ao capital social (rede de
relações, interconhecimento, vinculação a grupos), ao capital cultural (qualificação
produzida pela família e pela educação escolar) e ao capital simbólico (ligado às
diversas formas de reconhecimento).
O que dá suporte ao campo são as relações de força entre os agentes (indivíduos
e grupos) e as instituições que lutam pela hegemonia, isto é, o monopólio da autoridade
que concede o poder de ditar as regras e de repartir o capital específico de cada
campo13.
No que diz respeito a essas relações de força inerentes ao campo, Bourdieu usa o
termo “violência simbólica” para explicar a adesão dos dominados em um campo: trata-
se da dominação consentida, pela aceitação das regras e crenças partilhadas como se
fossem “naturais” e da incapacidade crítica de reconhecer o caráter arbitrário de tais
regras impostas pelas autoridades dominantes de um campo.
49
Em Homo Acadêmicos,25 Bourdieu toma como objeto de estudo o campo
universitário, definido na obra como
o lugar de uma luta para determinar as condições e critérios de
pertencimento e de hierarquia legítimos, isto é, as propriedades
pertinentes, eficientes, próprias a produzir – funcionando como capital
– os benefícios específicos assegurados pelo campo. Os diferentes
conjuntos de indivíduos definidos por esses diferentes critérios ligam-
se a eles e ao reivindicá-los esforçam-se para fazê-los reconhecidos e
afirmando sua pretensão em constituí-los como propriedades
legítimas, como capital específico, trabalham para modificar as leis de
formação dos preços característicos do mercado universitário e para
aumentar assim suas chances de lucro25 (p. 32).

Bourdieu25 aborda as diversas formas de poder dentro do campo universitário


relacionando-as com os diferentes níveis de capital cultural e social. Para o autor, estes
são dados pelo prestígio intelectual e científico como um poder mais durável, e pelo
poder universitário, reconhecido exclusivamente nos limites da universidade e fundado,
principalmente, no controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral.
Ainda segundo o autor, uma das formas de materialização do poder são as atividades e
funções exercidas.
O campo universitário reproduz na sua estrutura o campo do poder
cuja ação própria da seleção e de inculcação contribui para reproduzir
a estrutura. É na verdade no e por seu funcionamento como espaço de
diferenças entre posições (e da mesma maneira entre as disposições de
seus ocupantes) que se realiza, fora de toda intervenção das
consciências e das vontades individuais ou coletivas, a reprodução do
espaço das posições diferentes que são construtivas do campo do
poder25 (p.70).

A estrutura do campo universitário é o estado, num dado momento do tempo, da


relação de forças entre os agentes ou, mais exatamente, entre os poderes que eles detêm
a título pessoal e, sobretudo, por meio das instituições de que fazem parte. A posição
ocupada nessa estrutura está no princípio das estratégias que visam transformá-la ou
conservá-la, modificando ou mantendo a força relativa dos diferentes poderes ou as
equivalências estabelecidas entre as diferentes espécies de capital 25.

50
MÉTODO
O critério de inclusão dos cursos da área de saúde no estudo foi o de mencionar
claramente a atenção à saúde do idoso em suas diretrizes curriculares nacionais, e o das
universidades foi ser pública e possuir pelo menos um dos cursos em questão. Foi
realizado contato pessoal por meio de agendamento de horário com doze coordenadores
dos cursos de graduação de Educação Física, Enfermagem e Nutrição das cinco
universidades públicas do Rio de Janeiro, visando obter a indicação de nomes de
professores ligados a cada curso que tivessem relação com a Saúde do Idoso, através
das disciplinas ministradas, dos interesses de pesquisa, dos projetos de extensão ou
qualquer outra forma de relação com a temática “saúde e envelhecimento”.
A partir de relação nominal fornecida pelos coordenadores dos três cursos das
cinco universidades pesquisadas, foi possível realizar a consulta ao Currículo Lattes de
cada um dos docentes.
Entre os quatro cursos superiores que mencionam diretamente a atenção à saúde
do idoso em suas diretrizes, encontra-se o de Medicina, que, no entanto, não foi objeto
do presente estudo por falta de adesão dos profissionais da área. Somente dois dos
quatro coordenadores inicialmente contatados via email, responderam e autorizaram a
pesquisa. Apesar de ter sido solicitado um encontro pessoal para informar sobre a
pesquisa e obter indicação dos professores envolvidos com a temática Saúde do Idoso,
um deles solicitou que a autorização fosse deixada com a secretária e esta foi
posteriormente entregue assinada sem que houvesse a possibilidade de contato pessoal
direto. O outro coordenador agendou horário em que a autorização foi entregue mas
somente o primeiro nome e o endereço eletrônico dos professores relacionados à
temática foi informado. Esses professores também não responderam as diversas
tentativas de contato.
Analisaram-se 22 currículos de professores dos cursos e universidades
selecionados que, inicialmente, foram classificados segundo os cursos nos quais
estavam inseridos,

51
Quadro 1: Distribuição dos currículos analisados de acordo o curso e
universidade, 2014

CURSOS/ EDUCAÇÃO ENFERMAGEM NUTRIÇÃO


FÍSICA
UNIVERSIDADE

UFRJ 1 3 3

UERJ 1 0 0

UNIRIO 0 2 4

UFF 1 5 0

UFRRJ 2 0 0

TOTAL 5 10 7

O Currículo Lattes, fonte principal de informação para a pesquisa, integra a


Plataforma Lattes desenvolvida pelo CNPq. Esse modelo de currículo é o adotado pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia, pela CAPES e pelo MEC, além de ser usado
amplamente pela comunidade científica, como um sistema fidedigno de informação
curricular.
O Currículo Lattes se tornou um padrão nacional no registro da vida
pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país, e é hoje
adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e
institutos de pesquisa do País. Por sua riqueza de informações e sua
crescente confiabilidade e abrangência, se tornou elemento
indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos
pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia26.

Os Currículos Lattes contêm, entre outras, as seguintes informações: formação


profissional, atividades e projetos, produção acadêmica, participação em bancas, além
de pequena autobiografia.
Um documento englobando as categorias analisadas, titulação e posição dos
professores no campo universitário; monopólio da autoridade e controle dos
instrumentos de reprodução do corpo professoral; prestígio científico dos professores;
homenagens e prêmios, que serão descritas a seguir, foi elaborado visando facilitar a

52
análise dos dados. A produção científica foi computada referindo-se ao período todo de
atividade do professor e, no que se refere ao número de orientações na graduação, foi
considerada a quantidade de orientações referentes aos últimos cinco anos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados foram apresentados e discutidos tendo por base os temas já


mencionados.
1- Titulação: O acúmulo de capital no meio universitário leva tempo e, dessa
forma, o volume de capital detido está estreitamente ligado à idade. As distâncias nesse
espaço são medidas em tempo, em distâncias temporais, em diferenças de idade. A
estrutura do campo se manifesta aos agentes sob a forma de uma carreira, sendo as
posições de poder hierarquizadas e separadas pelo tempo.
Através do Currículo Lattes não foi possível ter acesso à idade dos
pesquisadores, mas pôde-se inferir a faixa etária por meio do tempo de formatura na
graduação e titulação. Assim, os professores que fizeram parte do presente estudo têm, a
maioria, mais de vinte anos de formados, com exceção de sete que contam entre dez e
vinte anos após a graduação - três ligados ao curso de Enfermagem e quatro ao curso de
Nutrição- e de um ligado ao curso de Enfermagem que tinha menos de dez anos após a
graduação.
Dos 22 professores, dezoito possuíam a titulação de doutor, incluindo dois pós-
doutores e quatro eram mestres. A quantidade de pós-doutores e doutores foi maior na
Enfermagem.
Em relação ao tempo de titulação, a maioria possui o título de doutorado em
período de tempo compreendido entre cinco e dez anos. Houve clara distinção, neste
caso, entre os três cursos analisados. Na Enfermagem, a metade dos professores teve o
título de doutorado há mais de dez anos, enquanto nos cursos de Educação Física e
Nutrição somente um docente de cada área teve a titulação há mais de dez anos.
A titulação e o tempo de titulação estão relacionados diretamente ao cargo, pois
o título pode ser considerado um capital simbólico que legitima o cargo ocupado.
Em todos os currículos analisados neste estudo, a formação profissional dos
docentes correspondeu ao curso em que estavam inseridos. Ou seja, os docentes
relacionados ao curso de Enfermagem eram enfermeiros, ao de Nutrição eram

53
nutricionistas e ao de Educação Física eram professores ou bacharéis em Educação
Física.
Na Enfermagem, quase a metade ocupava o cargo de professor associado. Nos
cursos de Educação Física e Nutrição a maioria dos professores relacionados à temática
em questão ocupava o cargo de professor adjunto, sendo o numero de associados apenas
de um em cada curso.
A titulação, o tempo de titulação e os cargos ocupados refletiram uma posição
diferenciada do curso de Enfermagem em relação aos outros dois cursos. Como
consequência, na Enfermagem se observou maior destaque e prestígio da temática na
universidade, na medida em que existem cursos de pós-graduação lato sensu em Saúde
do Idoso/Envelhecimento, nos quais esses professores estavam envolvidos. Tal
realidade ainda não se apresentou aos outros dois cursos, embora alguns de seus
docentes tenham registrado em seus currículos que colaboram de forma coadjuvante em
pós-graduações ligadas à Enfermagem.
Os cursos de Enfermagem como nível superior, surgiram no contexto do
movimento sanitarista brasileiro do início do século XX, sendo os cursos da UNIRIO e
da UFRJ os pioneiros no Brasil27, datando respectivamente dos anos de 1923 e 1926.
Segundo as informações que constam nos sites institucionais, os cursos de Enfermagem
da UERJ e da UFF foram criados na década de 40 do mesmo século. Já se tinha
programa de pós-graduação na área desde os anos 4027 e o primeiro curso de Mestrado
surgiu em 1972, na Escola de Enfermagem Anna Nery, da UFRJ. Após dez anos, em
1982, criou-se o primeiro programa de Doutorado em Enfermagem por meio do
Programa Interunidades de Doutoramento, parceria entre a UFRJ e a USP 27. Os outros
dois cursos estudados, Educação Física e Nutrição, foram implantados decorridos no
mínimo vinte anos em relação aos de Enfermagem. Os primeiros cursos de Nutrição
datam dos anos de 1940, o da UNIRIO em 1940, o da UERJ em 1944 e, o da UFRJ em
1948. O curso de graduação em Nutrição da UFF foi criado em 196828. Os cursos de
Educação Física estudados foram ainda mais recentes, com exceção do curso da UFRJ
que foi criado no Rio de Janeiro em 1939, na Universidade do Brasil, atual UFRJ 29, os
outros foram criados na década de 1970, o da UERJ em 1970 e o da UFRRJ em 1976.
Portanto essa maior tradição e história dos cursos de Enfermagem certamente contribuiu
para os resultados encontrados.
2- Monopólio da autoridade/controle dos instrumentos de reprodução do corpo
professoral - A ocupação de posições que permitem dominar outras posições e seus
54
ocupantes é estratégica25. Esse poder sobre as instâncias de reprodução do corpo
universitário é o que, segundo Bourdieu, assegura a seus detentores uma autoridade que
está muito mais ligada à posição hierárquica do que às propriedades de suas obras.
A maioria dos professores relacionados aos três cursos já participou de uma a
cinco bancas de concursos para professores, ou seja, teve, de certa forma, controle dos
meios de reprodução do corpo professoral. Houve uma tendência de aumento na
participação desses docentes nas bancas, que pôde ser constatada ao longo dos últimos
anos em maior número de bancas, seja para professores efetivos ou para substitutos.
Outra forma de controle dos instrumentos de reprodução são os cargos
ocupados. Nesse sentido, observou-se certa fragilidade dos docentes relacionados à
temática, posto que não ocupavam cargos chave no momento em que foi realizada a
pesquisa. Nenhum era coordenador de curso ou chefe de departamento, cargos que
alguns docentes mais antigos já ocuparam. Observou-se, inclusive, certo decréscimo dos
cargos ocupados nos últimos anos.
3- Prestígio científico - Essa forma de capital pode ser entendida como a
capacidade técnica e o poder social de falar legitimamente em nome da ciência.
Legitimidade esta socialmente outorgada, geralmente pelos pares concorrentes, a um
agente ou grupo de agentes no interior do próprio campo25.
No caso deste estudo, consideramos que o prestígio científico estava relacionado
aos produtos acadêmicos valorizados no campo universitário que podem ser
materializados sob a forma de publicações, orientações, coordenação ou participação em
projetos e pesquisas. No entanto, importa falar que Bourdieu 30 não reduz a autoridade
científica a um conjunto de capacidades técnicas ou teóricas determinadas e sim enfatiza
que é impossível dizer até onde vai a competência científica e onde começa a
competência política.
A maioria dos professores considerados neste estudo já publicou pelo menos um
livro, de forma que a quantidade dos que não publicaram livros foi maior entre os
educadores físicos e nutricionistas. No que se refere a capítulos de livro, com exceção
de um dos professores ligados ao curso de Nutrição, todos os outros publicaram de um a
cinco capítulos de livros.
Quando considerada a produção sob a forma de artigos científicos, a maioria dos
professores publicou mais de dez artigos ao longo da carreira. O tempo médio de
carreira dos professores na universidade onde estão vinculados foi de dezessete anos.

55
Observou-se, no entanto, que a maioria das publicações não abordou o
envelhecimento, o que demonstrou que o tema pode não ser a única nem a principal área
de interesse desses professores, embora os docentes tenham sido indicados pelos
respectivos coordenadores de curso como tendo relação com a temática em questão.
Para se compreender o funcionamento e a estrutura do campo científico, dentre
outros aspectos, é preciso considerar a posição de cada disciplina na hierarquia das
disciplinas que constituem o campo quanto à posição dos diferentes produtores e
agentes na hierarquia própria de cada uma das disciplinas científicas 30.
Segundo Bourdieu25, há, no campo científico, um sistema de classificação em
vigor, nem sempre explícito, que trata determinados domínios, objetos, métodos e
teorias como “dignos” ou “indignos” de receber o interesse e o investimento dos agentes
do campo. Os pesquisadores participam sempre da importância e do valor simbólico que
a representação dominante atribui a seus objetos de trabalho e de pesquisa, aos seus
problemas e métodos de investigação.
A hierarquia de disciplinas de um campo científico sofre a mediação de fatores
como a sua aproximação com o campo do poder e o capital cultural de que os diversos
agentes são portadores. Assim, os temas e questões não apresentam a mesma
rentabilidade simbólica25. Os agentes que costumam ter mais visibilidade no campo, os
mais prestigiados e reconhecidos por seus pares, são os que, além de autoridade
científica, detêm certa proximidade com o campo político. Essa distribuição desigual de
legitimidade no campo científico pode explicar a tendência dos pesquisadores a se
concentrarem em torno de temas de pesquisa mais prestigiosos e, portanto, passíveis de
conferir mais visibilidade e autoridade científica aos que a eles se dedicam. Ou ainda
pode mesmo explicar os fluxos de migração de pesquisadores em direção a objetos que,
mesmo sendo menos prestigiosos, têm a vantagem de atrair um menor número de
agentes, o que implica um nível de competição relativamente menor e, por isso, maiores
possibilidades de distinções e reconhecimento31.
Nos currículos dos docentes analisados neste estudo, verificou-se que somente
metade dos professores da Enfermagem referiu o envelhecimento como área principal
de pesquisa na apresentação de seu Currículo Lattes, embora todos tivessem sido
citados por seus coordenadores como pesquisadores associados ao tema. Igualmente, a
metade teve, como tema de doutorado, questões relacionadas ao envelhecimento.
Em relação aos sete professores dos cursos de Nutrição que foram considerados
no presente estudo, somente um deles declarou o envelhecimento como principal área
56
de pesquisa no texto inicial de seu Currículo Lattes, e três realizaram doutorado
abordando o tema.
Na área da Educação Física, dois professores indicados pelos coordenadores dos
cursos como associados à temática realizaram, de fato, suas pesquisas de doutorado
relacionadas ao tema e declararam, em seu Currículo Lattes, o envelhecimento como
sua principal área de atuação.
A maioria dos professores ligados à temática não orientou doutorado, pois não
estava vinculada a programas de pós-graduação stricto sensu. Segundo Bourdieu25, a
quantidade de teses orientadas é suficiente para distinguir, em diferentes disciplinas,
aqueles que detêm maior poder. Houve distinções entre os docentes relacionados aos
três cursos nesse aspecto. Na Enfermagem, três dos professores já realizaram pelo
menos uma orientação de doutorado, na Educação Física um e na Nutrição nenhum.
As orientações de mestrado, embora bem mais frequentes do que as de
doutorado, ainda não fazem parte da realidade dos professores que participaram do
presente estudo, com exceção para seis dos dez ligados ao curso de Enfermagem e dois
dos cinco de Educação Física. Nenhum dos professores pertencentes ao curso de
Nutrição orientou, ainda, uma dissertação de mestrado.
Observou-se que os professores dos cursos de Enfermagem já se envolveram em
programas de pós-graduação stricto sensu, ou seja, já possuem capital cultural e já
acumularam em suas carreiras os títulos necessários para tal, o que não acontece com
professores dos outros dois cursos considerados.
As orientações de trabalhos finais de especialização foram comuns entre os
professores das três diferentes áreas. Quase todos já orientaram pelo menos um trabalho
final de especialização em Saúde do Idoso, com a exceção de quatro: dois do curso de
Nutrição e dois do curso de Educação Física. Algo que contribui para esse fato é que as
especializações em Saúde do Idoso ou em temas afins aconteceram em três das cinco
universidades alvos da análise.
Especialmente relevante para o presente estudo foram as orientações dos
trabalhos finais de cursos de graduação, pois, de certa forma, foram indicativas do
interesse das novas gerações para com a temática. Para este estudo consideramos o
número total de orientações realizadas nos últimos cinco anos por cada um dos docentes
e a partir desses dados consideramos as orientações na temática. Dessa forma,
constatou-se nos cursos de Enfermagem que seis dos dez professores participantes da

57
pesquisa orientaram, em sua maioria, trabalhos finais com temas relacionados ao
envelhecimento, contra dois nos cursos de Nutrição e um nos de Educação Física.
Os dados acima, acerca das orientações na graduação, reafirmaram a inserção
secundária da temática na carreira acadêmica dos professores, apesar de terem sido
citados por seus coordenadores como fortemente envolvidos com ela. Talvez essa
inserção secundária, aliada à abordagem insuficiente do tema ao longo do curso de
graduação, contribua para o pouco prestígio da Saúde do Idoso entre as novas gerações,
o que limitou o desenvolvimento dessa área de pesquisa nos cursos cujas próprias
diretrizes curriculares enfatizam sua importância.
Os projetos de extensão são citados na literatura como experiências bem
sucedidas, pois propiciam envolvimento com a área de atuação e funcionam também
como incentivo à especialização na área 32,33. Analisados os currículos dos professores
que fizeram parte do presente estudo, constatou-se que a extensão na temática foi pouco
implementada. A maioria se dedicou a projetos de pesquisas em detrimento dos de
extensão, pois a pesquisa é, em geral, mais prestigiada no campo universitário,
rendendo mais financiamento e pontos na carreira docente, além de gerarem produtos
acadêmicos mais valorosos como, por exemplo, os artigos científicos.
4- homenagens, prêmios e entrevistas em meios de comunicação - Estes são
formas de capital simbólico de notoriedade que muitas vezes separam os professores
eruditos dos professores ordinários, funcionando como uma extensão do poder
institucionalizado.
A oblação de tempo que implica a participação em ritos, cerimônias,
representações, é também a condição mais rigorosamente necessária
da acumulação desta forma particular de capital simbólico que é a
reputação de honorabilidade universitária25 (p. 133).

Parte dos professores cujo currículo foi analisado pelo presente estudo pareceu
investir em certa aproximação com situações que os levaram à notoriedade. Dez dos 22
já deram, pelo menos, uma entrevista em programas de TV ou rádio, e destes, oito
tornaram a fazê-lo pelo menos mais uma vez.
Receberam homenagens e prêmios dezessete dos 22 professores. As mais
comuns foram menções honrosas por melhores trabalhos apresentados em eventos.
Homenagens no âmbito da própria universidade também foram comuns, tais como a
escolha para paraninfo, patrono e professor homenageado por turmas de formandos.

58
CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que se referiu aos cursos estudados, a inserção secundária da Saúde do Idoso


na carreira acadêmica dos professores foi um fator que não favoreceu a notoriedade e
consequentemente a ocupação de maior espaço de tais temas nos currículos. Mereceu
atenção o fato de que, apesar de serem indicados e reconhecidos pelos coordenadores de
cursos dos quais fazem parte como pertencentes a essa área de atuação, os próprios
professores não se afirmaram no Currículo Lattes como pesquisadores prioritariamente
dessa área, identificando-se com outras áreas temáticas e de atuação.
A titulação e os cargos ocupados refletiram um corpo docente em busca de
maiores espaços na universidade. De todos os professores referidos, nenhum foi titular,
e o número de associados é menor em relação ao de adjuntos e assistentes. Como
consequência desses aspectos, ainda é pequena a quantidade de professores envolvidos
em programas de pós-graduação stricto sensu, apenas oito do total pesquisado.
Percebeu-se clara distinção do curso de Enfermagem em relação aos outros dois cursos,
principalmente com relação ao tempo de titulação de doutorado e quantidade de pós-
doutores, o que pode ser justificado pela tradição e história. De uma forma geral, os
docentes dos três cursos ainda eram recém-doutores. Como reflexo da inserção
secundária na temática em todos os cursos pesquisados estava o fato de esses
professores não estarem sendo efetivos no que se refere a despertar o interesse das
novas gerações, o que pôde ser constatado ao se verificar que a maioria não orientou
trabalhos finais de cursos de graduação com temas afins.
Alguns resultados que podem vir a favorecer a maior inserção da temática nesses
cursos foram o investimento dos professores em formas de aproximação com os
mecanismos de controle, o que foi verificado no aumento de participação em bancas de
concurso e suas produções acadêmicas que foram ampliadas ao longo dos anos,
principalmente sob a forma de artigos científicos, altamente valorizados pelas
instituições acadêmicas e de pesquisa. Houve certo investimento no que se referiu ao
acúmulo de capital simbólico de notoriedade, refletido pela busca de aproximação com
as esferas de poder dentro e fora das universidades.
As políticas e programas relacionados à saúde do idoso ainda são relativamente
recentes no Brasil, e as mudanças na academia possivelmente são dificultadas pelas
próprias propriedades do campo científico, onde as estratégias de reprodução e
manutenção das realidades são mais fortes do que as de subversão, tornando mais lenta

59
a emergência de áreas de atuação menos tradicionais e não diretamente relacionadas aos
setores mais valorizados pelo próprio campo científico e pela sociedade.
Os resultados da pesquisa realizada apontaram determinadas características e
direcionamentos em relação à inserção da temática Saúde do Idoso em cursos da área de
saúde e devem ser considerados no contexto das universidades públicas do estado do
Rio de Janeiro, não podendo ser generalizados. Novos estudos, mais abrangentes,
devem ser implementados para aprofundar o entendimento desta realidade.

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62
ARTIGO 3
A inserção da temática “Saúde do Idoso” nos cursos de graduação em
Enfermagem, Educação Física e Nutrição das universidades públicas do Rio de
Janeiro

The inclusion of the “Elderly Health” theme in Nursing, Physical Education and
Nutrition undergraduate courses of Rio de Janeiro public universities

RESUMO
O presente estudo teve por objetivo analisar a inserção da Saúde do Idoso em três cursos
superiores da área da saúde das universidades públicas do Rio de Janeiro que fazem
referência direta aos idosos em suas Diretrizes Curriculares Nacionais. São eles:
Educação Física, Enfermagem e Nutrição. O principal referencial teórico utilizado na
pesquisa foi a sociologia de Bourdieu, especialmente o conceito de campo. Foram
realizadas entrevistas com docentes que mantêm relação direta com a temática em suas
atividades acadêmicas, tendo sido discutidos os seguintes aspectos: perfil docente,
estrutura e conteúdo curricular das atividades acadêmicas e concepções sobre a inserção
da temática na formação profissional em saúde. Concluiu-se que a temática ainda é
pouco abordada na formação universitária nos cursos estudados. Segundo os docentes,
as principais causas para a pouca expressão da saúde do idoso nos currículos foram o
número reduzido de docentes na área, a própria formação a que foram submetidos que
também não foi suficiente em relação à temática e o fato do envelhecimento
populacional ser algo relativamente recente no país. Os docentes envolvidos mantêm
pesquisas e atividades isoladas, havendo a necessidade do estabelecimento de parcerias
e redes de cooperação mais consistentes para o maior desenvolvimento e visibilidade da
área de atuação.
Descritores: Educação Superior, Envelhecimento, Saúde do Idoso, Idoso

ABSTRACT
This study aimed to analyze the insertion of Elderly Health in three graduation courses
of public universities of Rio de Janeiro that make direct reference to elderly in their
National Curriculum Guidelines, they are: Physical Education, Nursing and Nutrition,
from interviews with teachers who are involved with the theme in their academic
activities. The following aspects were discussed: teachers profile, structure and
curriculum contents of academic activities, views on the inclusion of the theme in the
professional education in health. According to teachers, the main causes for the low
expression of elderly health in the curricula were reduced number of teachers in the
area, the proper training they have undergone it was also insufficient in relation to the
theme and the fact that population aging is something relatively new in the country. We
conclude that the theme is still rarely addressed in higher education in the studied
courses. Involved teachers keep isolated research and activities, with the need to
establish partnerships and cooperation networks more consistent for the development
and visibility of the operating area.

Key words: Higher Education, Aging, Elderly Health, Elderly

63
INTRODUÇÃO
Na docência do ensino superior na área da saúde, além da relação
professor/aluno, quase sempre se estabelece ligação com mais um sujeito: aquele que é
alvo de cuidados, assim como com sua família, sua história e sua particular visão de
mundo1. No que se refere à Saúde do Idoso, os conteúdos abordados na formação dos
profissionais precisam enfocar mais do que as doenças comuns ao envelhecimento, e
contemplar, entre outros, os aspectos sociais e as próprias políticas públicas
direcionadas aos idosos, que preveem a adequação de currículos, metodologias e
material didático específico para a formação de profissionais da saúde, visando ao
atendimento às suas diretrizes2.
No presente estudo, o foco da discussão foi a formação de profissionais de saúde
no que se refere à Saúde do Idoso, o que inclui tanto conteúdos referentes à
Gerontologia quanto à Geriatria. A Gerontologia é compreendida como campo de
conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento humano em sua
perspectiva mais ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos, psicológicos,
sociais, culturais, econômicos e históricos. Já a Geriatria é direcionada à promoção da
saúde e ao tratamento de doenças e incapacidades entre os idosos 3.
Estudos internacionais recentes sobre a formação dos profissionais de saúde no
que diz respeito à Saúde do Idoso4,5,6,7 apontaram as fragilidades no ensino ou até a
ausência desses conteúdos nos currículos e as consequências negativas na assistência
aos idosos.
Pesquisa desenvolvida por Alsenany e Alsaif4 com o objetivo de conhecer a
atitude dos docentes de Enfermagem em relação às pessoas mais velhas e suas reflexões
sobre a Geriatria e a Gerontologia nos currículos de graduação na Arábia Saudita,
destacou que os currículos sauditas da Enfermagem deveriam incluir conteúdo mais
extenso em Geriatria e Gerontologia e a experiência clínica com as pessoas mais velhas.
De acordo com Oeseburg et al5, os profissionais de saúde da Holanda,
especialmente os que atuam na atenção primária, são desafiados a uma mudança de
paradigma na ênfase do tratamento da doença para a promoção da saúde. Os autores
enfatizaram a interdisciplinaridade como aspecto necessário para realizar essa mudança
de atitude profissional, a fim de prestar cuidados aos idosos de forma eficaz, integrada e
bem coordenada.

64
Mateos-Nozal et al6 realizaram pesquisa onde comparavam a regulamentação
espanhola com as recomendações europeias para o ensino da Geriatria e da
Gerontologia em nível de graduação. A conclusão a que chegaram é que a Espanha
adota apenas de um terço à metade de tais recomendações. Os autores consideraram que
seria conveniente que as exigências oficiais do país convergissem com as
recomendações europeias, sendo essa uma tarefa a ser realizada pelas escolas de saúde
espanholas.
Na Austrália, o estudo de Flicker7 apontou que, embora tenha havido grandes
progressos na educação dos profissionais de saúde em aspectos inerentes à Geriatria e à
Gerontologia no país, são necessários ainda mais esforços concentrados na formação em
saúde para lidar com o envelhecimento da população.
A ausência de formação específica na área traz consequências negativas para os
profissionais de saúde no Brasil. Para Montanholi et al 9, os profissionais da saúde
geralmente não enxergam o idoso como um indivíduo que apresenta necessidades
diferentes dos demais adultos e, consequentemente, os estudantes não são estimulados a
aplicar conhecimento e conceitos específicos relacionados à Saúde do Idoso em sua
dinâmica assistencial. Os autores alertaram para a necessidade de desenvolvimento de
atividades acadêmicas que não apenas informem a respeito do envelhecimento, mas que
formem profissionais que respeitem os limites e as peculiaridades decorrentes do
envelhecimento, tornando-os capazes de reconhecer as modificações físicas, emocionais
e sociais do idoso para melhor assisti-lo.
No Brasil, Willig et al8 constataram, em seu estudo, que a capacitação e
formação específica em Saúde do Idoso no país são deficitárias e a legislação
direcionada aos idosos, apesar de bem estruturada e avançada, mostra-se incipiente em
sua prática. Os autores ressaltaram ainda que o conhecimento a respeito do processo de
envelhecimento não está presente na maioria dos currículos dos cursos de graduação na
área da saúde e que este fato, aliado à falta de sintonia entre as instituições de ensino
superior com a nova realidade demográfica e epidemiológica brasileira, gera escassez de
recursos humanos e materiais direcionados para a atenção aos idosos, o que dificulta a
abordagem interdisciplinar e multidimensional preconizadas pela Política Nacional de
Saúde da Pessoa Idosa2.
Tendo em vista a necessidade de se pensar a formação dos profissionais de
saúde acerca do processo de envelhecimento, o presente estudo teve por objetivo
analisar a inserção da Saúde do Idoso em três cursos superiores que fazem referência
65
direta a este grupo populacional em suas diretrizes curriculares são eles: Educação
Física, Enfermagem e Nutrição, apontando suas características e singularidades na
perspectiva dos docentes envolvidos com a área. A pesquisa foi realizada nas cinco
universidades públicas do estado do Rio de Janeiro
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética em pesquisa da Ensp/Fiocruz
através do parecer Nº 699.936 de 25/06/2014, cumprindo as exigências estabelecidas
pela legislação específica envolvendo seres humanos.

MÉTODO

Foram realizadas entrevistas com docentes dos cursos de Enfermagem,


Educação Física e Nutrição em cinco universidades públicas do Rio de Janeiro que
possuíam pelo menos um desses cursos.
Após a seleção das universidades e dos cursos, buscou-se contato pessoal com
todos os seus respectivos coordenadores, que autorizaram a pesquisa e informaram
quais docentes tinham relação com a temática “Saúde do Idoso”, através de disciplinas,
projetos, estágio ou qualquer outra ação que envolvesse idosos. Em seguida, os docentes
indicados foram contatados para agendamento das entrevistas, que aconteceram durante
o período compreendido entre junho de 2014 e abril de 2015 e a partir de um roteiro
pré-definido, sendo precedidas pela assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido. Ao final, foram realizadas 20 entrevistas com os docentes, conforme o
quadro a seguir:

Quadro 1: Distribuição dos docentes entrevistados de acordo com o curso de


graduação no qual estavam inseridos e universidades.

CURSO N° DE DOCENTES UNIVERSIDADE DE INSERÇÃO


ENTREVISTADOS DOS DOCENTES

EDUCAÇÃO FÍSICA 5 UFRJ (1)

UFRRJ (2)

UERJ (1)

UFF (1)

ENFERMAGEM 10 UFRJ (3)

66
UNIRIO (2)

UFF (5)

NUTRIÇÃO 5 UFRJ (3)

UNIRIO (2)

O sociólogo francês Pierre Bourdieu foi o referencial teórico que sustentou a


análise, especialmente as noções de campo, agente e posição. Campo entendido como
espaço social de concorrência e disputa interna no qual são determinadas a posição
social dos agentes e onde se revelam, por exemplo, as figuras de “autoridade”,
detentoras de maior volume de capital. A análise do campo foi o que permitiu
identificar a posição dos agentes, nesse caso, dos professores sujeitos da pesquisa.
A análise temática proposta por Minayo10, que consiste em descobrir os núcleos
de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem
alguma coisa para o objeto analítico visado, foi o referencial analítico utilizado no
estudo. Os resultados foram discutidos a partir dos seguintes temas: perfil docente e
suas linhas de pesquisa; conteúdo e natureza das atividades acadêmicas relacionadas à
temática em questão; e concepções dos docentes acerca da inserção da temática na
formação universitária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A posição dos docentes no campo universitário

Todos os docentes entrevistados possuem formação profissional correspondente


ao curso ao qual estavam vinculados, ou seja, ou seja, eram enfermeiros, nutricionistas
e professores de Educação Física.
Dentre eles, dezesseis têm a titulação de doutor, incluindo dois pós-doutores, e
quatro são mestres. Da Enfermagem, participaram cinco doutores, dois pós-doutores e
três mestres. Da Educação Física, foram quatro doutores e um pós-doutor; e da
Nutrição, quatro doutores e um mestre.
O Quadro 2 mostra a distribuição dos docentes segundo os cargos ocupados.

Quadro 2- distribuição dos docentes entrevistados segundo o cargo ocupado na


universidade.

67
Curso Professor Associado Professor Adjunto Professor Assistente

Educação Física 1 3 1

Enfermagem 3 4 3

Nutrição 1 3 1

O gráfico 1 apresenta o tempo de vinculação dos docentes com as universidades.


Gráfico 1- Docentes entrevistados segundo o tempo de serviço

Docentes vinculação
n=20

33% mais de 10 anos


48%
de 5 a 10 anos
19%
menos de 5 anos

Entre os entrevistados da Enfermagem, a maioria possuía mais de dez anos de


vínculo com suas universidades, enquanto na Educação Física a maior parte estava
vinculada entre cinco e dez anos; e na Nutrição, por menos de cinco anos. Cabe ressaltar
que neste último, parte dos docentes entrevistados pertence a um campus recém-
inaugurado, localizado no interior do estado.
O grupo entrevistado constituiu maioria feminina (76,2%) e resultou em média
de idade de 46 anos, sendo que o mais jovem estava com 26 anos e a mais velha, 69.
As principais linhas de pesquisa referidas pelos docentes do curso de
Enfermagem foram: “Cuidado aos grupos humanos”; “Segurança ao paciente
hospitalizado”; “Resiliência”; e “Oncologia”. Apesar de serem indicados pelos
coordenadores dos cursos como sendo professores relacionados à temática, somente
duas das docentes citaram o envelhecimento como sendo sua linha principal de
pesquisa. No caso do curso de Educação Física, as principais linhas de pesquisas
apontadas por seus professores foram: “Atividade física e envelhecimento”; “Educação
física adaptada”; “Estudos do lazer e ludicidade”; e “Prevenção de quedas”. Já para o

68
curso de Nutrição, encontrou-se: “Avaliação nutricional”; “Diagnóstico e intervenção
nutricional de coletividades”; e “Nutrição e envelhecimento”.
Considerando o perfil geral dos docentes entrevistados dos três cursos,
observou-se que sua posição no campo universitário é mediana, pois são professores
adjuntos com a titulação de doutor. Nenhum deles ocupava o cargo de professor titular,
ou seja, o topo da carreira universitária, e nenhum dos entrevistados ocupava cargo de
chefia ou coordenação. De acordo com Bourdieu11 e tendo em vista que a hierarquia de
disciplinas de um campo científico sofre a mediação de fatores como a sua aproximação
com o campo do poder e o capital cultural de que os diversos agentes são portadores, os
agentes que costumam ter mais visibilidade no campo, os mais prestigiados e
reconhecidos por seus pares são os que, além de autoridade científica, detêm certa
proximidade com o campo político. Para o autor, referindo-se ao capital universitário,
reconhecido exclusivamente nos limites da universidade e fundado, principalmente, no
controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral, “o capital universitário
se obtém e se mantém por meio da ocupação de posições que permitem dominar outras
posições e seus ocupantes"11.
As distintas linhas de pesquisas apontadas pelos docentes entrevistados
indicavam que eles, possivelmente não estavam articulados entre si, ainda que
vinculados ao mesmo curso e universidade. Trabalhando desarticulados entre si, os
docentes relacionados à saúde do idoso nem sempre conseguem estabelecer uma rede
passível de conferir-lhes mais visibilidade e autoridade científica. Para Bourdieu11, o
campo universitário é, como todo campo, o lugar de uma luta para determinar as
condições e os critérios de pertencimento e de hierarquia legítimos. Os diferentes
conjuntos de indivíduos, constituídos em grupos, precisam se esforçar para fazer de seus
interesses propriedades legítimas e para aumentar suas chances de lucro no mercado
universitário.
Quando trabalham de forma mais articulada, fazendo parte de um mesmo grupo
de pesquisa, os docentes conseguem se fortalecer e se estabelecer no campo, situação
identificada no caso dos docentes relacionados à Enfermagem que, em uma das
universidades estudadas, mantêm um curso de especialização lato sensu abordando a
Saúde do Idoso. A existência da especialização na temática tem impacto na graduação e
pode atrair os alunos para a área de atuação, na medida em que desperta neles a
expectativa de seguir seus estudos em nível de pós-graduação. A quantidade de alunos

69
com interesse na temática é algo que favorece o desenvolvimento do campo de
conhecimento.

Estrutura e conteúdo curricular das atividades acadêmicas

A natureza das atividades acadêmicas na temática em questão foi variável de


acordo com cada curso.
Nos cursos de Enfermagem não havia disciplinas obrigatórias que enfocassem
exclusivamente o tema envelhecimento. Segundo os docentes, tal conteúdo fazia parte
de disciplinas intituladas “Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso”; “Modelos
Assistenciais de Enfermagem”; e em outras disciplinas práticas realizadas em hospitais
e outros serviços de saúde, onde os idosos acabavam sendo parte considerável da
clientela atendida. Entre os conteúdos referentes à temática foram mais citadas as
grandes síndromes geriátricas, as principais doenças presentes na população idosa e as
orientações aos cuidadores dos idosos. Foram menos mencionadas as políticas públicas,
o estatuto do idoso e a questão da violência. As ações de extensão na temática incluíram
raros projetos e cursos envolvendo a população idosa e seus cuidadores. Muito dos
docentes entrevistados ligados à Enfermagem estavam vinculados à pós-graduação lato
sensu e suas ações referentes à saúde do idoso eram prioritariamente realizadas nesse
nível, em detrimento da graduação. Poucos docentes fazem parte de programas de pós-
graduação stricto sensu e, quando fazem, estão vinculados a linhas de pesquisa
desvinculadas do tema.
O depoimento de um docente relacionado ao curso de Enfermagem atenta para
o momento curricular da oferta da disciplina “Enfermagem na Saúde do Adulto e do
Idoso” que favorece de certa forma a continuidade do interesse dos alunos na temática:
Eu percebi que antes da disciplina o interesse era zero e depois da
disciplina parece que eles atentam o tempo todo, daí no final da
disciplina eles começam a se atentar para o TCC. No final do 5º
período eles fazem o TCC 2 que é a construção de um projeto de
pesquisa, uma coisa se junta a outra. Se mostram mais interessados.

Nos cursos de Educação Física foram encontradas disciplinas específicas, com


o envelhecimento sendo tema principal, em duas das universidades: a disciplina
obrigatória intitulada “Educação Física e Gerontologia” e a disciplina optativa intitulada
“A Escola Preparando para o Envelhecimento Saudável”. De acordo com os
entrevistados, os conteúdos na temática estavam presentes em outras disciplinas, tais
como “Treinamento Físico Individualizado”; “Educação Física Adaptada”; e "Nutrição
70
e Fisiologia”. Os entrevistados chamaram a atenção para o fato de que os idosos são
sempre exemplos quando se fala em educação física para grupos especiais (ex.
diabéticos, hipertensos). Metade dos docentes entrevistados afirmou incluir a Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa em suas disciplinas, sejam específicas ou não.
Foram referidos projetos de pesquisas no tema, assim como de extensão.
A importância da disciplina optativa pôde ser constatada no depoimento a seguir
onde o docente do curso de Educação Física faz referência ao momento curricular de
oferta da disciplina optativa, considerando inclusive a faixa etária dos alunos:
Aos 17 anos que vão talvez pela primeira vez perceber que eles vão
ficar grandes, então na primeira aula eu já falo pra eles falarem sobre a
vida deles no momento em que eles tiverem mais de 60 anos. Coisas
que nunca passaram pela cabeça deles né, então eu vou procurar fazer
com que eles reflitam sobre o envelhecimento do outro, então a partir
do envelhecimento do outro, pensar no seu próprio envelhecimento. E
aí causa um estranhamento... segundo período, alunos de 17 anos... e o
que a gente percebe depois mais tarde é que a gente tem alguns desses
alunos apresentando trabalhos de conclusão de curso, com relação à
discussão dessa tal intergeracionalidade na escola, como a educação
de jovens e adultos pode estar acontecendo. Quer dizer então, muitos
dos elementos que nós trabalhamos numa disciplina passam a ser foco
central de trabalho de conclusão de curso que vai acontecer seis
períodos depois.

Nos cursos de Nutrição não há disciplinas obrigatórias nem eletivas específicas


para a temática. Segundo os entrevistados, o conteúdo associado ao tema é ministrado
em disciplinas como “Avaliação Nutricional”; “Alimentação e Saúde”; e “Terapia
Nutricional I e II”. Todas as docentes entrevistadas realizavam pesquisas ou projetos de
extensão na área, algumas, inclusive, com financiamentos de agências de fomento.
Tanto as pesquisas como os projetos de extensão afins ao tema tiveram aproximação
com a promoção da saúde, a qualidade de vida e o lazer.
O depoimento da docente do curso de Nutrição relata a importância de uma
abordagem interdisciplinar no currículo, o que segundo ela não é comum:

Eu acho que a gente pode melhorar mais, tá faltando ainda, precisa


primeiro preparar mais o profissional, e incluir a disciplina nos cursos.
Ter mais a questão interdisciplinar que abranja o universo do idoso,
que está faltando. Eu acho que... não sei te dizer de outros cursos, né,
mas a Nutrição tá ligada a outras profissões, à outros cursos como
“Odonto” que diretamente interfere na ingestão do alimento. A parte
emocional também, quando a gente vê um idoso que para de comer ou
que diminui a ingestão de alimentos e você percebe que ali tem um
problema de depressão, então muitas vezes a Psicologia entrando para
poder solucionar, a própria Fonoaudiologia em casos de disfagia.

71
No que se refere aos conteúdos curriculares acerca do envelhecimento nos
cursos estudados, foi possível inferir que a inserção da temática aconteceu mais por
meio da abordagem das doenças comuns ao envelhecimento do que pelo aspecto da
promoção da saúde ou das políticas públicas. Isso pode ser constatado no depoimento a
seguir.
Eu falo sobre o adulto e o idoso. No momento que a gente fala sobre
idoso, é das alterações fisiológicas e das alterações patológicas que a
gente pode esperar no público idoso
(Depoimento de docente do curso de Enfermagem)

A Enfermagem é uma profissão com foco no cuidado e em procedimentos


muitas vezes padronizados, e a inserção do tema em questão aconteceu principalmente
nos cenários de prática, onde quase sempre os idosos são exemplos do quê e como se
deve proceder em situações de saúde adversas.
Ainda que a Educação Física e a Nutrição sejam profissões cujas características
possam favorecer a abordagem por meio da Promoção da Saúde - que se refere às ações
sobre os condicionantes e determinantes sociais da saúde, dirigidas a impactar
favoravelmente a qualidade de vida 12-, ainda é por meio da abordagem das doenças
comuns aos idosos e de suas limitações que, na maioria das vezes, tais conteúdos são
inseridos nos currículos.
Embora as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de saúde 13 preconizem
que a formação dos profissionais deve atender às necessidades sociais da saúde, com
ênfase no SUS, e assegurar a integralidade da atenção, a universidade ainda não parece
muito permeável a essa ideia. Sabe-se que, historicamente, a formação profissional em
saúde se deu a partir de uma visão tecnicista do cuidado, centrada na cura e no
tratamento de doenças.
Em relação à admissão de novos quadros nos cursos e universidades que
permitiria a renovação dos conteúdos e práticas de ensino, Bourdieu 12 considera que
para proteger “as invariâncias sociais do corpo professoral” nos processos de admissão,
os responsáveis por essa seleção recorrem a “um sistema de critérios implícitos” e
hierarquizados, contudo fora de toda a premeditação, mas que tendem a “assegurar sua
própria reprodução, produzindo mestres dotados de características sociais e escolares
quase constantes e homogêneas”.12 Isto dificulta mudanças na dinâmica acadêmica,
repercutindo na conformação de currículos e na constante valorização de determinados

72
conteúdos na formação profissional em detrimento de mudanças e da inclusão de temas
emergentes.
.
Concepção docente sobre a inserção da temática Saúde do Idoso na
formação profissional em saúde
Foi consenso entre os entrevistados a relevância da temática para a formação dos
profissionais de saúde e, por outro lado, sua pouca valorização nos currículos. Quando
questionados sobre as possíveis razões para essa desvalorização, foi possível verificar
aproximações, mas também distinções nas explicações dos docentes, de acordo com os
cursos aos quais estavam vinculados.
Os docentes dos cursos de Educação Física consideraram que o espaço da
temática no currículo ainda é pequeno, mas vem crescendo. Em geral, explicam que a
carreira, historicamente, sempre foi pensada para os jovens e crianças, e que o grande
mercado de trabalho, até então, era formado pelas escolas e academias, o que afastava o
foco da profissão para o envelhecimento. Segundo os docentes, esta é uma discussão
mais recente na Educação Física, no entanto, há uma oportunidade econômica,
representada pelo treinamento individualizado de idosos, já vislumbrada pelos alunos, o
que está fortalecendo a abordagem do tema na formação. De acordo com os
entrevistados, a área não está mais desenvolvida porque as mudanças na universidade
são lentas.
Para os docentes enfermeiros, o pouco espaço da temática na formação
universitária pode ser explicado através dos seguintes aspectos: "rede de atenção ao
idoso precária, o que dificulta os cenários específicos de prática”; “número reduzido de
docentes na área quando comparado a outras áreas de atuação”; “docentes voltados para
à temática pouco envolvidos politicamente e cientificamente”; “trajetória da temática
ainda fraca na enfermagem, pois a maioria dos docentes é do tempo em que o
envelhecimento não era valorizado”; e “poucos congressos e eventos científicos na
temática”. Outras razões menos referidas foram: “excessivo foco da profissão na Saúde
da Criança e da Mulher”; “existência na cidade de grupo fechado de pesquisadores na
temática que dificulta novas inserções” e “dificuldade em se pensar o papel social do
curso”.
Em geral, os docentes nutricionistas mencionaram a falta de profissionais com
interesse na temática como o principal fator para o pouco espaço dela nos currículos.
Como consequência, apontaram que não há na profissão muita novidade e nem
73
pesquisas no tema, fazendo com que os jovens pesquisadores se interessem por outras
áreas da Nutrição.
Os docentes dos três cursos tiveram dificuldades em manifestar suas opiniões
acerca da razão pela qual o tema vem sendo pouco explorado nos currículos de
formação dos profissionais de saúde. Em comum, apontaram como questão central a
própria formação a que foram submetidos, que também não foi suficiente em relação à
temática, e o fato de o envelhecimento populacional ser algo relativamente recente no
país e que só agora o tema vem despertando mais atenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das entrevistas, foi possível identificar aspectos que interferem no pouco
desenvolvimento da temática na formação dos profissionais das três áreas: Enfermagem,
Nutrição e Educação Física. O primeiro é o fato de os docentes relacionados à temática
ocuparem posições ordinárias no campo universitário, isto é, no momento sem tanta
aproximação com as esferas de poder e controle.
Apesar de serem indicados e reconhecidos pelos coordenadores de cursos dos
quais faziam parte como envolvidos com a temática Saúde do Idoso, ao se referirem
como pesquisadores de outras áreas temáticas e estarem inseridos em diferentes linhas
de pesquisa, mesmo estando na mesma instituição, os docentes evidenciaram que
trabalham de forma desarticulada, tendo o tema em questão como secundário em suas
carreiras. Como consequência, deixaram de fomentar movimentos e articulações
necessárias ao seu desenvolvimento e fortalecimento no campo universitário.
Essa pouca articulação implica aspectos que os próprios docentes referiram
como possíveis causas da inserção limitada da temática na formação universitária dos
profissionais, como, por exemplo, poucos congressos e eventos científicos que abordem
o tema e pouco envolvimento científico e político dos docentes.
Na própria universidade são produzidos os critérios de ascensão e o prestígio de
determinada temática. É no interior do campo que os pares definem diferentes critérios e
se esforçam para fazê-los legítimos. Dessa forma, para o desenvolvimento da temática
Saúde do Idoso na formação, é necessária uma rede capaz de garantir o crescimento da
população dos estudantes e de professores interessados, a criação de pesquisas e de
disciplinas relacionadas, além do aumento da influência em instâncias de consagração
externa, tais como a mídia.

74
Foi possível perceber com esta pesquisa que ainda há necessidade de se
estabelecer redes de cooperação e grupos de pesquisas mais consistentes entre os
docentes alinhados à Saúde do Idoso dos três cursos de graduação pesquisados como
forma de valorizar e fortalecer esta abordagem na formação em saúde.
.
REFERÊNCIAS

1- Cavalcante, L I P, et al. "A Docência no ensino superior na área da saúde:


formação continuada/desenvolvimento profissional em foco."Revista Eletrônica
Pesquiseduca 2012; 3.6: 162-182.

2- Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro do Estado da Saúde. Portaria


nº2.528, de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa. Diário Oficial da União, Brasília, 2006a. Seção 1, p.142.

3- Brasil, Ministério da Saúde. Portaria nº 1.395, de 10 de dezembro de 1999

4- AlSenany, S; AlSaif A A. Gerontology course in the nursing undergraduate


curricula. Revista da Escola de Enfermagem da USP 2014; 48(6): 1077-1084.

5- Oeseburg, B, et al. "Interprofessional education in primary care for the elderly: a


pilot study." BMC medical education 2013; 13(1): 161.

6- Mateos-Nozal, J A.J; Cruz-Jentoft, and JM Ribera Casado. "A systematic review


of surveys on undergraduate teaching of Geriatrics in medical schools in the XXI
century." European Geriatric Medicine 2014; 5(2): 119-124.

7- Flicker, L. "Advances in research, education and practice in geriatric medicine,


1982–2012." Australasian journal on ageing 2013; 32(S2): 35-39.

8- Willig, MH., Lenardt, M H., & Méier, M J. A trajetória das políticas públicas do
idoso no Brasil: breve análise. Cogitare enferm 2012; 17(3): 574-577.

9- Montanholi, L L., Tavares, DD S., Oliveira, G. D., Simões, A D A.. Ensino sobre
idoso e gerontologia: visão do discente de enfermagem no Estado de Minas
Gerais. Texto Contexto Enferm, 2006; 15(4): 663-71.

10- Minayo, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa


em Saúde. São Paulo, Rio de Janeiro: HUCITEC, ABRASCO, 2007.

11- Bourdieu, P. Homo Academicus. Florianópolis, Ed. UFSC, 2011.

75
12- Buss, P M, Carvalho, A I. Desenvolvimento da promoção da saúde no Brasil nos
últimos vinte anos (1988-2008). Ciênc. saúde coletiva [online]. 2009;.14(6):
2305-2316.

13- Diretrizes curriculares nacionais para os cursos universitários da área da saúde.


Rede Unida, 2003.

76
CONSIDERAÇÕES FINAIS

No primeiro artigo desta tese, de revisão integrativa, pude constatar que as


discussões acerca do tema, de uma forma geral, foram similares nos estudos nacionais e
internacionais e que a pouca inserção da temática nos currículos da área de saúde,
segundo a literatura, é uma realidade mundial.
O segundo artigo apresentado, que teve por objetivo discutir a inserção da
temática “Saúde do Idoso” na formação em saúde a partir da análise da posição de 22
docentes de três cursos de graduação que referem a atenção aos idosos em suas
Diretrizes Curriculares Nacionais, tendo como fonte principal de informação o
Currículo Lattes, teve como principal conclusão a característica secundária do tema na
carreira dos docentes.
A investigação em campo relatada no terceiro artigo desta tese constatou
principalmente que os docentes envolvidos com a temática mantêm pesquisas e
atividades isoladas e sem muita articulação, havendo a necessidade de estabelecimento
de parcerias e redes de cooperação mais consistentes para o maior desenvolvimento e
visibilidade da área de atuação.
Os três artigos produzidos possibilitaram o entendimento da inserção da temática
Saúde do Idoso nos cursos de graduação que fizeram parte da pesquisa, a partir da
identificação de conteúdos e práticas voltados para a matéria nesses cursos, da análise
da posição dos docentes envolvidos com o tema e de suas concepções acerca da
formação voltada para a Saúde do Idoso. Cabe registrar na trajetória da pesquisa a
dificuldade de acesso aos professores dos cursos de Medicina, o que acabou
inviabilizando a inclusão deste curso no estudo.
Em síntese, foi possível concluir, com base nos investimentos teóricos e a partir
dos dados e informações produzidos no campo, que a inserção da temática nos
currículos se dá mais por meio da abordagem das doenças comuns ao envelhecimento
do que pelo aspecto da promoção da saúde e das políticas públicas. Ainda é pelo viés
das doenças comuns aos idosos e de suas limitações que, na maioria das vezes, tais
conteúdos são inseridos.
A titulação e os cargos ocupados pelos professores relacionados à temática
refletem um corpo docente em busca de maiores espaços na universidade. A inserção
secundária da Saúde do Idoso na carreira acadêmica docente, nos próprios cursos de

77
graduação que mencionam a atenção aos idosos como relevante em suas diretrizes
curriculares, é um fator que não favorece a notoriedade e consequentemente a ocupação
de maior espaço de tais temas nos currículos. Merece atenção o fato de que apesar de
serem indicados e reconhecidos pelos coordenadores de cursos dos quais fazem parte
como pertencentes à determinada área de atuação, no caso da temática saúde do
idoso/envelhecimento, os próprios professores não se afirmam como pesquisadores
prioritariamente dessa área, identificando-se com outras áreas temáticas e de atuação,
como, por exemplo: “cuidado aos grupos humanos”, “segurança ao paciente
hospitalizado”, “resiliência”, “oncologia’, “diagnóstico e intervenção nutricional de
coletividades”, “Educação Física adaptada”, “prevenção de quedas”, “estudos do lazer e
ludicidade”. Ao se referirem como pesquisadores de diferentes linhas de pesquisa,
mesmo aqueles que estavam na mesma instituição, os docentes evidenciaram que
trabalham de forma desarticulada, tendo a temática em questão como secundária em
suas carreiras. Como consequência, deixam de fomentar as articulações necessárias ao
seu desenvolvimento e fortalecimento.
Essa pouca articulação implica aspectos que os próprios docentes citaram como
possíveis causas da inserção limitada da temática na formação universitária dos
profissionais, como, por exemplo, poucos congressos e eventos científicos na temática e
pouco envolvimento científico e político dos docentes.
Na própria universidade são produzidos os critérios de ascensão e o prestígio de
determinada temática. É no interior do campo que os pares definem diferentes critérios,
esforçam-se para fazê-los legítimos. Desta forma para o desenvolvimento da temática
Saúde do Idoso na formação, é necessária uma rede capaz de garantir o aumento da
influência em instâncias de consagração externa, tais como a mídia, a criação de centro
de pesquisa e a emancipação de algumas disciplinas relacionadas à temática.
Um resultado favorável a maior inserção da temática nos cursos estudados foi o
investimento dos professores em formas de aproximação com os mecanismos de
controle, o que foi verificado no aumento de participação em bancas de concurso e suas
produções acadêmicas que foram ampliadas ao longo dos anos, principalmente sob a
forma de artigos científicos, altamente valorizados pelas instituições acadêmicas e de
pesquisa.
Os resultados da pesquisa realizada apontaram características e direcionamentos
em relação à abordagem do envelhecimento em três cursos da área de saúde –
Enfermagem, Nutrição e Educação Física – e devem ser considerados no contexto das
78
universidades públicas do estado do Rio de Janeiro. Estudos mais abrangentes devem
ser realizados para uma maior compreensão e aproximação da realidade a respeito da
inserção da temática Saúde do Idoso nos cursos de graduação de modo a contribuir para
sua valorização e o aprimoramento da formação dos futuros profissionais.

79
APÊNDICE

80
Ministério da Saúde

FIOCRUZ

Fundação Oswaldo Cruz


Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DOCENTES

Perfil docente
NOME:
Idade:
Instituição:
Formação básica:
Titulação: ( ) pós doutorado ( ) doutorado ( ) mestrado ( ) especialização ( )
graduação
Tipo e tempo de vínculo institucional: ( ) 5 anos ou menos ( ) 5 a 10 anos ( )
mais de 10 anos
Cargos ocupados:

Participação em programas de pós-graduação, bancas, pertencimento a comissões:

Principal linha de pesquisa:


Número aproximado de orientações em andamento e concluídas (teses, dissertações,
trabalhos de conclusão de curso)

Bolsista de agência de fomento: ( ) sim ( ) não

Estrutura e conteúdo curricular das atividades acadêmicas


1) Os conteúdos acerca do envelhecimento estão presentes nas disciplinas que o
senhor(a) ministra? Se sim, em quais disciplinas?
2) Quais os conteúdos relacionados ao envelhecimento que estão presentes nas
disciplinas que o senhor(a) ministra? (Políticas públicas de atenção ao idoso,
agravos e doenças prevalentes nos idosos, questões socio-antropológicas
relacionadas ao envelhecimento)
3) Além de aulas em disciplinas, o envelhecimento é tema de outro tipo de
atividade docente/acadêmica que desenvolve? (projetos de pesquisa, extensão,
preceptoria, organização de seminários). Se sim, quais?

Concepções sobre inserção da temática Saúde do Idoso na formação profissional


em saúde
1) Para senhor(a) qual a relevância desta temática para a formação dos futuros
profissionais da saúde?
2) Qual a sua percepção sobre a abordagem do envelhecimento nos cursos da área

81
de saúde em geral? E na instituição em que está vinculado?
3) Caso julgue insuficiente, responda por que acha que isso acontece?

82
Ministério da Saúde

FIOCRUZ

Fundação Oswaldo Cruz


Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Prezado participante,
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “A inserção da temática saúde
do idoso nas graduações da área de saúde a partir da posição ocupada pelos
docentes no campo universitário”, desenvolvida por Claudia Reinoso Araujo de
Carvalho, discente de Doutorado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), sob orientação
da Professora Dra. Élida Azevedo Hennington.

O objetivo central do estudo é analisar a inserção da temática Saúde do Idoso nos cursos
de graduação da área de saúde a partir da posição ocupada pelos docentes no campo
universitário.
O convite a sua participação se deve ao fato de você ser docente de cursos de graduação
da área de saúde em disciplinas que de alguma forma abordam questões referentes ao
envelhecimento, ou por ser preceptor ou coordenador de projetos acerca do tema, ou por
ser coordenador de curso superior na área de saúde.
Sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória, e você tem plena autonomia para
decidir se quer ou não participar, bem como retirar sua participação a qualquer momento. Você
não será penalizado de nenhuma maneira caso decida não consentir sua participação, ou desistir
da mesma. Contudo, ela é muito importante para a execução da pesquisa.

Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das informações por você prestadas.


Qualquer dado que possa identificá-lo será omitido na divulgação dos resultados da pesquisa, e
o material será armazenado em local seguro.

A qualquer momento, durante a pesquisa, ou posteriormente, você poderá solicitar do


pesquisador informações sobre sua participação e/ou sobre a pesquisa, o que poderá ser feito
através dos meios de contato explicitados neste Termo.
A sua participação consistirá em responder perguntas de um roteiro de entrevista à
pesquisadora do projeto. A entrevista será gravada. O tempo de duração da entrevista é
de aproximadamente uma hora.
As entrevistas serão transcritas e armazenadas, em arquivos digitais, mas somente terão
acesso às mesmas a pesquisadora e sua orientadora.

Ao final da pesquisa, todo material será mantido em arquivo, por pelo menos 5 anos,
conforme Resolução 466/12 e orientações do CEP/ENSP.

O benefício relacionado com a sua colaboração nesta pesquisa é o de contribuir no


sentido de dar mais visibilidade à Saúde do Idoso, apontando as características, limites e
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perspectivas da formação na área, a partir dos quais sugestões para uma melhor
formação dos profissionais de saúde acerca do processo de envelhecimento e suas
consequências possam ser pensadas.
Existe a possibilidade de você sentir-se constrangido ao conceder a entrevista e com
receio de comprometer a sua instituição, no entanto, todos os cuidados serão tomados
no sentido de diminuir este risco. Não haverá referência direta a sua instituição e esta
não será nomeada e citada no texto final da tese. Os resultados a serem divulgados serão
referentes ao conjunto de instituições públicas de ensino superior do Rio de Janeiro.
Não é de interesse da pesquisa evidenciar ou identificar instiuições específicas.

Os resultados serão divulgados em palestras dirigidas ao público participante, relatórios


individuais para os entrevistados, artigos científicos e na tese.

Se você sofrer qualquer tipo de dano previsto ou não neste termo de consentimento e
resultante de sua participação no estudo, além do direito à assistência integral, você tem
direito à indenização, conforme itens III. 2.0,IV.4.c, V.3, V.5 e V.6 da Resolução CNS
466/12.

Este termo é redigido em duas vias, sendo uma para o participante e outra para o
pesquisador.
Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê
de Ética em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo
defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e
para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa forma o
comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a
pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade,
da autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade.

Tel. e Fax - (0XX) 21- 25982863


E-mail: cep@ensp.fiocruz.br
http://www.ensp.fiocruz.br/etica
Endereço: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/ FIOCRUZ, Rua
Leopoldo Bulhões, 1480 –Térreo - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 21041-210

___________________________________________

Claudia Reinoso Araujo de Carvalho


e-mail: claudiareinoso73@gmail.com
local e data:
Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e
concordo em participar.

_________________________________________

(Assinatura do participante da pesquisa)

Nome do participante:

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