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EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que

CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal


cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa
EEMTI PROFESSOR CLODOALDO PINTO – e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que
CLUBE DE TEATRO – 21/10/22 os europeus consideravam como civilizatórios. Tal
cenário serviu para que eles se apropriassem do território
O que é racismo? americano e tentassem aculturar os seus nativos,
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e- empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O
sociologia/o-que-e-racismo.htm continente americano virou uma verdadeira empresa
europeia.
Racismo é um mal que, infelizmente, ainda afeta as Como se não bastasse, os europeus iniciaram um
nossas relações sociais. O racismo é o preconceito e a processo de captura de africanos para que trabalhassem
exclusão social de pessoas com base na cor de sua como escravos em sua nova empresa. O processo de
pele. escravização estava embasado em uma ideologia de
O racismo estrutural reforça uma ideia social e hierarquia das raças, ainda no nível de consciência
inconsciente de que a negritude é algo ruim. coletiva, que fez com que milhões de africanos fossem
O racismo é uma forma de preconceito e capturados e submetidos ao trabalho escravo.
discriminação baseada num termo controverso, que Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente
sociologicamente é revisto e do qual a genética também de que os nativos das Américas e, mais tarde, os da
inicia uma revisão: a raça. No século XIX, compreendia- Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao
se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos enxergar outros povos como inferiores, os europeus
promoviam uma diferenciação de raças. viam-lhes como animais ou até como objetos.
Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre
antropólogos estabeleceram uma hierarquia das raças, outras terras ficou conhecido como colonialismo. Para
o que, por vezes, reforçava a dominação de povos justificar a dominação, os europeus utilizavam a
brancos europeus sobre populações de outras etnias não concepção de que os povos pagãos viviam no pecado e
europeias. precisavam da religião europeia para desenvolverem-se
O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas espiritualmente.
e, como uma relação de entendimento ultrapassada e
errada, deve ser superado. No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento
Racismo e preconceito de investida sobre outros continentes chamado de
Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza
preconceito. O preconceito, na raiz da palavra, é a e as ciências sociais desenvolviam-se a todo vapor.
formulação de um conceito sobre algo sem antes o A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já
conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser julgar não era suficiente para justificar uma empreitada tão
que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo grande como a partilha de terras africanas e asiáticas
para as relações sociais, o preconceito consiste no entre os europeus. Com isso, a antropologia surge como
prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo. uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que
Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por justificasse a dominação cultural e territorial dos povos
conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo
inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero); da filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert Spencer e
condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor,
baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e da raça coadunavam com o domínio europeu sobre novos povos.
(cor da pele). Os antropólogos mencionados criaram uma teoria
Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de inspirada na biologia de Charles Darwin e aplicada sobre
uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo é, os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como
portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda evolucionismo social ou darwinismo social. Eles
atinge uma grande parcela da população mundial. É acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre
importante frisar que não existem grandes diferenças os povos, e esse desenvolvimento poderia ser observado
genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e, pela cultura.
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e
motivo suficiente para justificar o preconceito racial. culturas inferiores. Com isso, eles constataram que havia
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir também uma hierarquia das raças, que poderia ser
de pretexto para motivar agressões físicas ou verbais, observada pela cultura de cada raça. Dessa maneira,
além de causar dano moral e até perseguições e prisões com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles
injustas de pessoas, principalmente de negros. consideraram a cultura e a raça europeia como
Origem e causas do racismo superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a
Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo cultura e a raça dos orientais; em terceiro lugar, estariam
na história da humanidade e na antropologia. A Europa os indígenas americanos; e, por último, os negros
teve um desenvolvimento cultural bem diferente do de africanos.
outros continentes. Os povos europeus dominaram a Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas,
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um para justificar o domínio de brancos sobre outros
movimento de expansão marítima que os levou a outros territórios e populações. Além disso, ela deixou como
continentes. O contato de europeus com asiáticos e resquício o racismo que perdura em nossa sociedade até
africanos já existia, e o modo de enxergar outros povos os dias de hoje.
não brancos e de cultura não europeia como inferiores, Racismo no Brasil
também. Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888
A chegada dos europeus ao continente americano (período relativamente tardio se considerarmos que o
resultou num modo de enxergar aqueles diferentes deles
mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes sociedade que passa desapercebido pela maioria das
de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e na Inglaterra, pessoas.
em 1834), o racismo perdura como martírio para a Para além dos dados, que evidenciam a diferença social
população negra até hoje. A abolição aqui e em outros entre negros e brancos (e isso faz parte do racismo
lugares não foi planejada. Não houve um plano de estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos
orientação, acolhida e instrução dos escravos recém- para que esse fenômeno seja compreendido. A nossa
libertos. sociedade como um todo considera a negritude como
A falta de uma atenção à população negra, que, de algo inferior. O padrão de beleza pregado pela mídia é um
repente, via-se, em sua grande maioria, sem moradia e padrão branco.
alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar Há uma normatividade de traços brancos que definem
que a Lei Áurea, que entrou em vigor em 13 de maio de o homem branco e a mulher branca como bonitos e exclui
1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na as características físicas de pessoas negras do padrão de
prática, libertos. Muitos escravos, sem opções ou até beleza: os olhos azuis, o nariz fino e o cabelo liso. Aliás,
mesmo sem informações sobre a sua condição de o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas
libertos, ficaram submetidos à escravidão no Brasil negras, é considerado “ruim”.
mesmo após a abolição. Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua
O estigma da escravidão unido à marginalização presença. Marca mais simbólica e menos perceptível
daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, pessoas negras, da pele preta. Ao invés de referir-se a
muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou na elas como negras ou pretas, há um impulso popular por
situação de exclusão que leva ao racismo nos dias utilizar outras palavras, como “moreno” ou “pessoa de
atuais. cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de
Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan eufemismo.
Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo
na sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
a população negra encontrava-se, ainda na década de socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos
1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
capitalismo brasileiro não havia inserido a população negritude é considerada algo inferior, ruim ou
negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.
espaços subalternos. Isso pode ser verificado pelos
dados que perduram em nosso país até os dias atuais. Por Francisco Porfírio
Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional Professor de Sociologia
por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o abismo
social existente entre negros e brancos em nosso país: =-=-=-=----=-=--==
 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814
mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros ganham R$ 1 – Qual a sua opinião sobre o racismo?
1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de 2 – Por que algumas pessoas são racistas? Reflita sobre
desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%, essa questão.
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego
geral (11,9%). 3 – Você já presenciou algum ato de racismo ou de
 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e discriminação racial? Caso positivo, fale sobre.
pardos representam 54% da população brasileira. No
entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da 4 – Quais os impactos do racismo na vida de suas
população mais pobre e 17,8% do grupo de 1% da vítimas?
população mais rica.
 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo 5 – Fale sobre algum caso de racismo ou discriminação
gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo entre racial que você tenha visto na TV ou na internet.
brancos gira em torno de 4,2%.
 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm 6 – Fale um pouco sobre o que você compreendeu a
diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos, respeito do racismo estrutural.
esse dado está em 9,3%.
Racismo estrutural 7 - Como combater ou desconstruir o racismo? (imagine
Todos os dados apresentados no tópico anterior ações possíveis).
evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em 8 – Quais situações seriam mais importantes serem
espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira retratadas em uma peça de teatro que visasse combater
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe o racismo? Escreva ideias para esta peça.
de ser aquele racismo explícito, evidenciado em falas
preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo
estrutural é aquele que está sutilmente inserido em
nosso cotidiano.
O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas
vezes, de difícil percepção entre negros e brancos. Ele
exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo
estrutural está tão preso às estruturas de nossa

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