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A P ESSO A CO M DEF ICIÊNCIA E O MEIO AMB IENTE A RTIF ICIAL:

IMP LICAÇÕ ES Q UANTO À F ALTA DE A CESSIB ILIDAD E

P edro Al ves da Cruz 1

Rodol f o Anderson Bueno de Aqui no 2

Resum o: O pr esent e t r abal ho, pr obl emat i zando a quest ão da acessi bil i dade da
pessoa com def i ci ênci a, com base na pesqui sa bi bl i ogr áf i ca e document al ,
pr et ende anal i sar as di f i cul dades enf r entadas pel a pessoa com def i ci ênci a na
soci edade ur bana e no mei o ambi ent e ar t i fi ci al pel a ur be p r opor ci onado,
baseando -se no de ver de gar ant i r i gual dade, l i vr e f r ui ção do mei o ambi ent e e m
qual quer espéci e e condi ções para que isso ocor r a, bem como en t ender a at uaçã o
do Poder Públ i co no q ue t ange ao pl anej ame nt o e à acessi bi l i dade ur bana, e m u ma
abor d age m i ndi cat i va de i nt er di sci pl i nari dade ent r e o Di r ei t o Const i t uci onal , o
Ur baní st i co e o Ambi ent al .

P al avras- chave: Pessoa com Def i ci ênci a. Mei o Ambi ent e ar ti f i ci al .


Acessi bi li dade. Igual dade.

LA P ERSO NA CO N DEF ICIENCIA Y EL MEDIO AMB IENT E AR TIF ICIAL:


IMP LICACIO NES E N LA F ALT A D E AC CESIB ILIDAD

Resum en: El pr esent e t r abaj o, pr obl emat i za ndo l a cuest i ón de l a accesi bil i dad de
l a per sona con di scapaci dad, con base en l a i nvest i gaci ón bi bl i ogr áf i ca y
document al , pr et ende anal i zar l as di f icul tades enf r entad as por l a per sona con
di scapaci dad en la soci edad ur bana y en el medi o a mbi ent e ar t ifi ci al por l a ur be
pr opor ci onado, basándose en el deber de gar ant i zar l a i gual dad, l i br e di sf r ute del
medi o a mbi ent e en cu al qui er especi e y condi ci ones para que est o ocur r a , así como
ent ender l a act uaci ón del Poder Públ i co en lo que se r ef ier e a l a pl ani fi caci ón y l a
accesi bil i dad ur bana, en un abor daj e i ndicat i vo de i nt er disci pli nar i dad ent r e el
Der echo Const i t uci onal , el Ur baní st i co y el a mbi ent al .

P al abras- cl ave: Persona con discapaci dad. Medi o ambi ent e art i fi ci al .
Accesi bi li dad. La i gual dad.

1
Graduando em Direito – aluno do 9° semestre do curso de Direito pelo Centro Universitário Salesiano de
Lorena / UNISAL – E-mail: cruz_pedro97@yahoo.com.br
2
Mestre em Direito pelo Centro UNISAL. Professor no Curso de Direito do UNISAL/Lorena. Professor na
Faculdade Canção Nova Cachoeira Paulista. Advogado – E-mail: rodolfoabueno@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

O present e trabalho, levando em cont a os limites impostos em relação


ao espaço de que di spõe, tem foco nas dificuldades enfrent adas pela pess oa
com defici ênci a no espaço urbano encontrado, na m aior parte das vezes , em
as devidas precauções e os devidos cui dados no que tange a acessibilidade e
o aces so comum, levando em conta as questões de di reitos transindividuais –
aquel es que est ão entre o direito público e o direito privado, assim como de
interesse públi co e i nteresse privado – que são result ado de uma sociedade
em m assa que sofre com seus conflitos políticos e soci ais e a problem ática
interação com o m ei o ambi ente arti fici al .

Para t rat amento, escolhemos a terminologi a pessoa com defi ciência,


para não deixar que a condi ção carregada pela pessoa a m acule ainda m ais,
uma vez que não deixa de ser pessoa, cidadão e hum ano, como qualquer
outra, na m edida de sua i gualdade ou desi gualdade, assi m real çando a
palavra pessoa e não defi ciente ou defici ênci a.

Abordamos as espécies de meio ambi ent e trazidas por José Afonso da


Silva, a fim de analisarmos a rel ação entre a urbe, como meio ambiente
artifi cial que a compõe, e a pessoa com defici ência que a cada di a enfrent a
as difi culdades e os obstáculos presentes, dificultando ainda m ais sua
inserção no cont exto social .

Finalm ent e, trataremos de explanar quanto às di ficuldades em


planej ar por parte do Poder Público, bem como as idei as j á surgidas para que
se des envolva um bom planej amento, juntament e à idei a de generalidade que
não pode ser deixada de lado, um a vez que adaptações devem ser tom adas
em relação à urbe, m as sem que prejudiquem out ras pessoas com defi ciência.
Dess e modo, as adaptações relativas a tornar acessí ve l e proporcionar a
devida acessibilidade serão pl anej adas de modo que atinjam em m elhori a
todas as pessoas com defici ência, independendo de qual seja m as
dificuldades sofridas por elas.
2 DIREITO URBANÍSTICO E DIREITO AMBIENTAL

Antes de tudo, mister sali entar que há na doutrina divergênci a quanto


à caract erização do que se tem ent endido como Direito Urbanístico.

Desse modo, t endo o sustento da divisão do ramo ora entre o Direito


Público, ora entre o Direit o Privado, parte da dout rina aponta haver re lação
do Direito Urbanísti co com o Di reito P úblico, fazendo -se i ntegrar est e, em
especial , com o ram o do Di reito Administrativo, uma vez que tai s normas
têm regul ament ado as diretrizes e rel ações jurídi cas corrent es ent re
parti culares e a Administração, em relação aos imóveis e ao ambiente
urbano.

Tal divisão, assim como o próprio ramo do Direito Urbanístico, é


produto de transformação soci al, t endo sua formação ainda em processo e,
em razão de ser m atéria rel ativament e nova do Direito, com atuação no
domínio privado e no meio soci al, respei tando o princípio da legalidade para
ordenar os int eresses coleti vos em suas realidades.

José Afonso da Silva salienta que, de início, surgem normas


disciplinadoras de uma realidade que ai nda se desenvolve e, ao passo que t al
atividade norm ativa se expande, há busca pel a sist ematização do m aterial
existente e, com isso – só ent ão – passam a oferecer as possíveis sol uções
aos problem as encontrados 3.

Dest a forma, posto em que se trata de disciplina de síntese, o ramo


do Di reito Urbanísti co passa a fazer conexão com diversos outros ram os do
Direito. Nest e prumo, destacaremos a rel ação form ada ent re o Direito
Urbanístico e o Di reito Ambient al, pois, uma vez que o Di reito Urbanísti co
se encarrega de disciplinar as ações hum ana rel acionadas ao uso do solo e da
urbe na medida em que se preze zelar por um ambi ente saudável à
coletividade. Assim, o acervo normativo cri ado por muni cípi os em razão do
zoneam ento e do parcel amento t erritori al trazem, normalm ent e (ou deveriam
trazer, quando não o fazem ), dispositivos controladores das atividades de

3
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 6ª ed. São Paulo. Malheiros Editores, 2010.
potencial poluidor, bem como a densi dade de ocupação permitida em t ais
loteam entos 4, esses que, também, por si só, são consi derados fontes de
poluição. Com isso, mister se faz considerar corret a a utilização de
institutos e norm atização que guarde rel ação com o Direito Ambiental.

Por conseguinte, se vê certa uniformidade entre os ramos do Direito


Urbanístico e do Direito Ambiental, pois cônsono haver preocupações
conjunt as. Um a uni ão ent re os dois ramos é necessári a para que haj a
equilíbri o e preservação da saúde pública e do bem -est ar soci al.

3 MEIO AMBIENT E ARTIFICIAL

Ao mencionar o t ermo “meio ambiente” é comum que sejamos


rem etidos a uma i magem de natureza, assimil ando fauna e flora, solo e
águas, clim a e vida. Assim, natural que nos pareça insólito o termo “m eio
ambient e artifi cial ”, uma vez que sempre li gamos o t erm o a al go natural, da
natureza.

Contudo, Meio Am biente Artifici al é uma das espéci es do meio


ambient e ecologicamente equilibrado previsto no art. 225 da Constitui ção
Federal:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo -se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
g e r a ç õ e s 5.

O conceito jurídico de meio am bient e não se faz limitar àquele


natural, posto, incluindo nele as modali dades: mei o am bient e cultural, m ei o
ambient e do t rabalho e m eio ambiente artifici al. Aquele que diz respeito ao

4
MUKAI, Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil. São Paulo: Saraiva, p. 57.
5
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>
patrimôni o histórico, arqueológico, artís tico e turí stico -ci entífico é o meio
ambient e cultural; aquel e que diz respeito às condi ções de hi gidez,
salubri dade e segurança do am bient e no qual se desenvolve o labor e as
atividades que se englobem nele é o m eio ambi ent e do t rabalho, e; aquel e
que engloba os espaços urbanos e const ruídos pelo homem, que é foco deste
estudo, é o meio am biente artifici al.

Complement arm ent e, quant o ao conceito e definição de mei o


ambient e artifi cial , n a visão de Édis Mil aré:

Opondo-se ou contrapondo -se ao elemento natur al aparece o


e l e m e n t o a r t i fi c i a l , a q u e l e q u e n ã o s u r g i u e m d e c o r r ê n c i a d e l e i s e
f a t o r e s n a t u r a i s , m a s , p o r p r o c e s s o s e mo l d e s d i fe r e n t e s , p r o v e i o
d a a ç ã o t r a n s fo r m a d o r a d o h o me m . D e fa t o , a s o c i e d a d e h u m a n a
c o n t a , h o j e , c o m o s ma i s v a r i a d o s e l e m e n t o s , fa t o r e s e
d i s p o s i t i v o s p a r a ‘c r i a r ’, p o r a r t i fí c i o s , i n ú m e r o s p r o d u t o s e
a mb i e n t e s , v a l e n d o - s e i n e v i t a v e l m e n t e d e e l e m e n t o s e r e c u r s o s
n a t u r a i s , c u j a c o n t a p e s a s o b r e o m e i o a m b i e n t e 6.

A partir disso, t endo em vist a a cri ação do artifi ci al por part e do


homem e sua necessidade em expandi r -se, em todos os senti dos, surgem as
necessidades da criada urbe para que subsista, com o saneam ento, transporte,
iluminação et c., raz ão pela qual faz -se necessári a a impl ant ação e o estudo
de eventuais políticas públicas volt adas ao desenvolvim ento urbano e soci al,
de funções soci ais, almejando a garanti a do bem -est ar soci al.

De m esmo modo, compreendido o dinam ismo do meio ambi ente, não


sendo oposto ao trat armos do meio ambi ente arti fici al, um a vez const ruída a
interação dos seres vivos para com o meio em que habitam – outrora natural ,
posto, agora arti fi cial, cri ado pel o homem – surgem rel ações que se
traduzem em funções que devem ser est endidas ao habitant e pel a urbe em
que habita. Por funções, dest aca -se: habitar, t rabalha r, circular e recrear.
Com tudo isso, o que se espera é que tais funções gerem conforto e bem -
estar social, de maneira que haj a equi líbrio no meio ambi ente (artifi ci al),
que é al cançado por meio de um adequado desenvolvim ento.

6
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 6ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
Claro est á a relação entre as funções da urbe e o m eio ambiente, um a
vez que a harm onia entre el as resultará em um ambi ente urbano sadio e que
contribui para um a vida em ní vel adequado, remontando a direitos soci ais e
metaindivi duais que baseiam a Constit uição Federal, sendo objeti vo das
políticas públicas da urbe – enquadrando -se no ramo do Direito Urbanístico
– seu at endimento e garantia enquanto instrum ento l egal de ordenação do
meio ambi ent e artifi cial.

É dest a forma que se tem por necessári o arranj ar no território físi co


do meio ambient e artifici al urbano al ém do prism a est ético. Necessário se
faz o estudo funcional do que constitui o meio ambi ente artificial na tela d e
cada urbe, buscando a prim ari a da qualidade de vida e, com isso, não
podendo deixar de lado as adapt ações n ecessárias para que se at enda a
necessidade de cada grupo, em t erm os gerais, para que se at enda e alcance o
equilíbri o ambi ent al urbano.

Assim, t emos, dent re as adapt ações e grupos que delas necessitam, as


cri anças, os idosos e, as pessoas com defi ciência , est as, foco do pres ente
estudo.

4 A PESSOA COM DE FICIÊNCIA

No que t ange às pessoas com defi ciência e à defici ênci a do ser


humano, não é cat ecúmeno o seu estudo, assim como não é a preocupação
com o preveni r e o proteger entorno dest a tem ática.

Em 2008, o Brasil ratifi cou a Convenção sobre os Direitos das


Pessoas com Defi ciênci a, adot ada pel a ONU, bem como seu Protocolo
Facult ativo e el a nos ensina:

P e s s o a s c o m d e fi c i ê n c i a s ã o a q u e l a s q u e t ê m i mp e d i m e n t o s d e
l o n g o p r a z o d e n a t u r e z a fí s i c a , m e n t a l , i n t e l e c t u a l o u s e n s o r i a l , o s
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
p a r t i c i p a ç ã o p l e n a e e fe t i v a n a s o c i e d a d e em igualdades de
condições com as demais pessoas. 7

Segundo a OMS, com dados de 2011, estima -se que 1 bilhão de


pessoas no mundo sofram com al gum a defi ciência – o que si gni fica t er uma
em cada sete pessoas ao redor do globo com defici ência – ao passo que, a
falta de estatísti cas sobre as pessoas com defici ênci a auxilia na falta de
visibilidade dessas pessoas, obstaculizando o planej amento e a impl antação
de políti cas públi cas voltadas a desenvol ver m elhorias na qualidade de vida
das pessoas com deficiência. 8

Diversos foram os t rat amentos dados às pessoas com defici ênci a ao


longo da história, sendo eliminados por serem considerados i mpediment os ao
bom desenvol viment o da genética do grupo; sendo protegi dos como m aneira
de reverenci ar divi ndades ou honrar mut ilados de guerra; sendo isolados em
locais que se assem elhavam a jardins zoológi cos para serem ridicul arizados,
por ordem de Moctezuma (Astecas); sendo considerados cast igados por Deus
e proibidos, por l ei, de ocupar cargo de direção em serviços reli gi osos
(Hebreus); sendo abandonados, pois a tribo não poderi a carrega -los
(Siriones); sendo m ortos por seus patri arcas por autorização da Lei das X II
Tábuas (Rom a Anti ga) .

Até m esmo Plat ão defendia que:

Os ‘melhores’ homens deveriam unir -se às ‘melhores’ mulheres, o


m a i s f r e q u e n t e p o s s í v e l ; e o s ‘d e fe i t u o s o s ’ c o m a s ‘d e f e i t u o s a s ’, o
m a i s r a r o p o s s í v e l . O s fi l h o s d o s p r i m e i r o s d e v e r i a m s e r c r i a d o s ,
o s d o s s e g u n d o s , n ã o , p a r a o r e b a n h o c o n s e r v a r - s e d a ma i s a l t a
q u a l i d a d e . A s c r i a n ç a s d e fe i t u o s a s d e v e r i a m s e r e x p o s t a s p a r a
p e r e c e r e m. 9

7
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Protocolo Facultativo à Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência: Decreto Legislativo nº 186, de 09 de julho de 2008: Decreto nº 6.949, de
25 de agosto de 2009. 4ª Ed., rev. e atual. Brasília : Secretaria de Direitos Humanos, 2010.
8
Dados disponíveis em: <https://nacoesunidas.org/acao/pessoas-com-deficiencia/>
9
PLATÃO, A República (Da Justiça). Edipro. São Paulo. 2006.
Apesar disso tudo, a soci edade se desenvolve e o Di reito tende a
acompanhar tal desenvolvim ento e é dessa form a que as pessoas com
defi ciência chegaram à obtenção de Direitos hoj e consagrados. Não sabemos
ao cert o se em virt ude da indust rial ização e do Estado Moderno, cuj as novas
estratégi as e a busca pel a produção e riqueza acel eradas levavam à
exposição do laborioso e a um a consequente mutilação em di versos casos, ou
em vi rtude das duas Guerras Mundi ais pelas quais o mundo passou, fazendo
aument ar si gni ficat ivament e o número de pessoas com defici ência de
locomoção, vi são e audição, em razão principal das explosões no campo de
guerra. Sem esquecer, por último, da atual dem anda de veículos em trânsito
e todos os acident es que têm havido, sendo essa a m aior causa geradora de
defi ciências no Brasil (campeã absolut a de causa de cegueira infantil),
seguida pela carênci a alim entar e a falta de condições bási cas de hi gi ene. 10

4.1 O arcabou ço legal à pessoa com def iciência

Em que pese a acessibilidade e garanti a de at enção às pessoas com


defi ciência, a Lei n° 7.405/ 85 foi uma das prim eiras a reconhecer a
importância de garantir o direito à acessibilidade, tornando obri gatóri a a
colocação do Símbolo Int ernacional de Acesso em todos os ser vi ços
prest ados e locais que est ejam adequados à utilização da pessoa com
defi ciência. Com razão, a supracit ada Lei esti pulou padrões para que se
possa considerar como adequado a receber e ser utilizado por pessoas com
defi ciência, como l argura mínima para portas de entrada, corredores e
passei os, el evadores, bem como sanitários adaptados para utilização de
pessoas com defici ência.

Vejam os:

Ar t . 1 º É o b r i g a t ó r i a a c o l o c a ç ã o , d e f o r ma v i s í v e l , d o " S í mb o l o
Internacional de Acesso", em todos os locais que possibilitem

10
RIBAS, João Baptista Cintra. As Pessoas Portadoras de Deficiência na Sociedade Brasileira. Brasília, DF:
CORDE, 1997
acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de
deficiência, e em todos os serviços que forem postos à sua
disposição ou que po ssibilitem o seu uso.
Ar t . 2 º S ó é p e r mi t i d a a c o l o c a ç ã o d o s í m b o l o e m e d i f i c a ç õ e s :
I - q u e o fe r e ç a m c o n d i ç õ e s d e a c e s s o n a t u r a l o u p o r me i o d e
r a mp a s c o n s t r u í d a s c o m a s e s p e c i fi c a ç õ e s c o n t i d a s n e s t a L e i ;
I I - c u j a s f o r ma s d e a c e s s o e c i r c u l a ç ã o n ã o e s t e j a m
i mp e d i d a s a o s d e f i c i e n t e s e m c a d e i r a d e r o d a s o u a p a r e l h o s
ortopédicos e m virtude da existência de degraus, soleiras e
d e ma i s o b s t á c u l o s q u e d i f i c u l t e m s u a l o c o mo ç ã o ;
I I I - q u e t e n h a m p o r t a d e e n t r a d a c o m l a r g u r a mí n i ma d e
90cm (noventa centímetros);
IV - que tenham corredores ou passagens co m largura
mí n i ma d e 1 2 0 c m ( c e n t o e v i n t e c e n t í m e t r o s ) ;
V - que tenha m elevador cuja largura da porta seja, no
mí n i mo , d e 1 0 0 c m ( c e m c e n t í m e t r o s ) ; e
VI - que tenham sanitários apropriados ao uso do deficiente .
( G r i f o n o s s o ) 11

Dessa form a, adequa -se o ambi ent e cri ado às necessidades da pessoa
com defi ciênci a, possibilitando seu l ivre acesso sem que haja maior
problem ática ou constrangim ento, desde que cumpri das as exigênci as d a Lei.

Outro m arco de adequações em benefí ci o da pessoa com deficiênci a


foi o surgim ento da Lei nº 8.889/94, responsável por conceder livre acesso
ao sist ema de t ransporte público int erest adual – passe livre – às pessoas com
defi ciência que, comprovadam en te, est ejam em situação de carênci a e o
Decreto nº 3.691/2000, que regul amentou a Lei anteriorment e cit ada,
estabelecendo que dentre os assentos de cada veí culo de transport e col etivo
deveriam haver 2 (dois) reservados à pessoa com defici ência, sendo isso um a
obri gat ori edade para as em presas perm issionári as de transportes coleti vos
interestadual.

Não obst ant e, lembramos que há disposições visando m elhorias no


acesso e na qualidade de vi da das pessoas com defici ência em outros acervos

11
BRASIL. Lei 7.405/85. Brasília, 1985. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-
1987/lei-7405-12-novembro-1985-367964-publicacaooriginal-1-pl.html>
normativos, como no Códi go de Trânsit o Brasil eiro , concedendo habilitação
especial:

Ar t . 1 4 . C o mp e t e a o s C o n s e l h o s E s t a d u a i s d e T r â n s i t o ( C e t r a n ) e
a o C o n s e l h o d e T r â n s i t o d o D i s t r i t o F e d e r a l ( C o n t r a d i fe ) :
[...]
VI – Indicar um representante para compor a comissão
e x a m i n a d o r a d e c a n d i d a t o s p o r t a d o r e s d e d e fi c i ê n c i a fí s i c a à
h a b i l i t a ç ã o p a r a c o n d u z i r v e í c u l o s a u t o mo t o r e s . 12

Graças a esse ti po de at enção, foi deixada de l ado a im agem de que


apenas as pessoas com defi ci ênci a deveri am enfrentar as difi culdades e
necessidades t razidas pela condição de pessoa com defici ências das quais
sofre. Ent ão, a sociedade e os representantes desta não se eximiram do papel
que tinham, criando métodos e norm as que obri gassem a acessibilidade,
possibilitando que a pessoa com defici ência tenha livre e direto acesso em
todos os níveis e possibilitando um a vida mais di gna.

Entret anto, a probl emática surge exatamente pel a vasta t entativa de


trans form ar todos os locais e servi ços em locai s que sej am acessíveis e
dotados de acessibi lidade às pessoa s com defi ciênci a. Uma vez que há
divers as condi ções e diversas adaptações à cada defi ciência e um mau
planej amento urbano por part e do poder público. Por exemplo: quando
rampas de acesso em calçadas são col ocadas em frent e a postes e arvores,
pisos táteis para deficient es visuais são colocados apenas em al guns pont os
do cal çam ento, m as cessam de repente ou passam por rampas e obst áculos
que dificultam o t rajeto e podem causar acident es, sem falar na altura e
largura desproporcional de al gumas cal çadas e ru as que se vê por aí.

12
BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro. 23 de setembro de 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9503Compilado.htm>
5 O MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL, O URB ANISMO E O
PL ANEJAMENTO À PESSOA CO M DEFICIÊNCIA

Na orbita nacional, do mesmo modo em que ocorre com outros


problem as sociais, o que se t em desenvolvido no que tange à acessibilidade
do ambi ent e artifi ci al – const ruído – é muito inici ado e pouco acabado. O
que se tem como costume e cult ura centrada no elem ent o hum ano é de
postura exclusiva daquel es que estão em camadas sociais proveitosas e de
fácil imposi ção de meios favoráveis voltados ao at endi mento do seu grupo.
Não se tem marcos constitucionais recentes que busquem melhori as, sendo
exemplo a edi ção da Emenda Constituci onal nº 12/78, que t rouxe seguro às
pessoas com defi ciência de forma genérica, apontando m elhorias à condição
social e econômic a com a possibili dade de acesso aos edi fícios e
logradouros públi cos. O que na práti ca, como sempre, não é totalm ent e
cumprido, sendo comumente vistos l ocais onde o acesso deveri a s er
garantido, mas não é.

Entret anto, no que tange à orbita municipal é que encontraremos


maior defesa e apli cabilidade de t ais normatizações.

É visível que, em geral, os problem as enfrent ados em relação à


acessibilidade est ão grot escam ente vinculados ao planejamento urbano ,
sendo est e um papel sem i gual a ser desenvolvido pelo Poder Público por
meio de políticas públicas e ações conjuntas em sua defini ção, o qu e
depende, exclusivam ente, da vont ade pol ítica.

Uma urbe sem acessibilidade e sem prot eção à pessoa com


defi ciência não garante o bem -est ar soci al e, menos ainda, a saúde pública
de s eus cidadãos. A incl usão social, juntam ente com a solidari edade,
demonst rando a apli cação de modelos que garant am aos cit adinos o devido
acesso e acessi bilidade no ambient e urbano é a m elhor de m onstração de um a
saúde dem ocráti ca ao povo.

Projetar é propor no presente para que no futuro se tenha garantido o


bem comum de um a coleti vidade. Os edifí cios, as zonas verdes, as ruas ,
quando planejados, sempre alm ejam o modelo humano fictíci o em su a
plenitude, como homem model o, o que é prumar al ém da realidade, sendo
uma das principais razões pelas qu ais nos vemos no estági o atual – onde há
falta de um am bient e urbano acessí vel à coletividade.

Nessa crença, visando a urbe acessível à todos, um planeja mento


municipal de acessibilidade deve prumar, inici alment e, pelo básico, para que
se atenda à parte mais necessitada da população. Disso, ti ramos três grandes
áreas: os edi fícios, garantindo realm ente o acesso aos prédios públicos –
sendo uso público algo que si gni fique possibilidade de que todos cheguem
até ele, percorram e utilizem del e de m anei ra compl eta, sem prejuízos – o
meio urbano – assim como com os edifí cios, a preocupação é com o acesso e
o uso por complet o, necessit ando haver rebaixamentos e rampas de acesso,
devendo ocorrer não só no ato do parcel amento, mas na renovação da urbe,
bem como a utilização de pisos tát eis e isso deve ser apli cado com
prioridade e prestez a nas áreas de concent ração de com ércios e serviços ,
áreas onde haja escola s e hospit ais, bem como às est ações rodovi ári as ,
ferrovi ári as, met roviárias, de t ransport es fluvi ais e m arít imos – e, por
cons eguint e e levando em cont a a área anterior, os t ransportes – visando o
transport e unipessoal, pensando no si stema de deslocam ento do próprio
indivíduo e em seu constitucional di reit o de i r e vi r, e, post eriorment e, mas
sem ressalvas, o t ransport e coleti vo e indi vidual , que deve t er acess o
irrestrito à todos.

Por todo o exposto é que, di ante do quadro atual em que nos


encontramos e vivenciamos, é das mai s árduas tarefas tornar um a cidade
acessível em todas as áreas. Principalm ente quando da indi vidualização de
cada pessoa com deficiência.

Projetando -se a eliminação de barrei ras para que os deficientes


físicos tenham o devido acesso e a devida acessibilidade, podemos est ar mal
condi cionando os defi cient es visuais, t ornando difí cil a eles o acesso e
gerando novos obst áculos. Dest a form a, indispensável se faz a elaboração de
estudos soci ais e arquitetôni cos para que proj etos dessa nat ur eza possam ser
frutíferos e ter sucesso, buscando sempre dar voz às pessoas com
defi ciência, sej a diretam ente com o indi víduo ou por m eio de movimentos e
instituições associat ivas, levant ando experi ênci as já existent es e que poss am
form ar um histórico de a daptações e projetos de m esm a monta, veri ficando
não só as soluções corret as, mas, também, os problem as que possam vir à
tona quando da sua real aplicação.

José Antônio Juncá Ubierna, renomado engenhei ro espanhol , que s e


preocupa e trabal ha pela concreti zação de planos volt ados à acessibilidade e
às pessoas com deficiência, apont a t rês premissas m edulares para que um
plano de melhori as relacionadas à acessi bilidade tenha fi rmeza: ser realista,
ser flexível e ser int egral 13.

Realista no sentido de ser exeq uível economicam ent e e, li gado a iss o,


que estej a de acordo com as necessidades e atendendo a elas.

Flexível no que tange às mudanças e aos avanços t ecnológicos que


podem surgi r no decorrer dos planej amentos e as modi ficações urbanas e na
sociedade que p odem correr, permitindo, ainda, uma ret roaliment ação do
processo.

E, int egral, rel ativo ao al cance que se deve ter, abordando todos os
aspectos de m obilidade e dando campo de visão ao pl anejamento, sopesando
todas as possibilidades e adaptações necessári a s para proporcionar a devida
acessibilidade aos ci dadãos, pessoas com defi ciênci a.

Nesse pont o, José Antônio Juncá Ubi erna apont a a import ânci a da
cons cientização social e urbana:

Garantir que futuros projetos sejam sem barreiras passa,


necessariamente, por um processo de conscientização em massa,
tanto dos profissionais da área como a população em seu todo.
Uma vez sedimentada a base da consciência da necessidade de
r e s p e i t o a o s d i r e i t o s d a s p e s s o a s c o m d e fi c i ê n c i a , p o d e r á s e r
e r g u i d o o e n o r m e e d i fí c i o s o c i a l fr u í v e l p o r t o d o s . 14

13
UBIERNA, José Antônio Junca. Anais do curso básico sobre acessibilidade ao meio físico. Brasília:
CORDE, 1995.
14
UBIERNA, José Antônio Junca. Anais do VI SIAMF – Seminário sobre acessibilidade ao meio físico. Rio
de Janeiro, 1994.
Isso m ostra, m ais uma vez, a importância do trabalho com a
sociedade da urbe em função de consci entização, trabalho que nem sempre
tem a atenção devida, quando t al t rabalho existe.

6 CONCL USÃO

É cediço o ent endim ento que fruir do m eio ambi ente, seja ele natural,
cultural, do trabalho ou artifi cial, é di reito constitucional, sendo disponí vel
e res ervado a todos para que se atinja a t ão visada i gualdade , dando
tratam ento i gualit ário aos i guais e, aos desi gua is, na medida de s ua
desi gualdade ou na medida em que se desi gual am, um t rat amento desi gual.
Essa i gualdade, por quando alcançada, será o meio pelo qual determinaremos
o efeito da defici ência, assim com o os obstáculos que são por el a gerados,
ou at é mesmo da incapacidade proporcionada na vida e no dia a di a da
pessoa com defi ci ênci a. O que não podem os permitir ocorrer é o
impediment o do qual as pessoas com deficiência se tornam vítimas, caus ado
pela negativa de oportunidades que são ofert adas a sociedade vi a de regra.

Prumando o mesm o sentido e levando em contem plação o fundamento


que s ustent a a m agna carta do Estado brasil eiro, em um paí s que se estei a
em cidadania e di gnidade da pessoa humana, obj etivando o bem -est ar da
nação, o bem comum, exaurindo as fo rmas infinit as de preconceito que hoj e
enfrent amos, ainda é juvenil o cami nho que se t rilha para findar as barreiras
– visíveis e invisí veis – quando se trata de pessoas com defi ciência.
Entret anto, a tem áti ca não deve ser trat ada como utopia, m uito menos como
plano futuro, um a vez que as di ficuldades existem há m uito tempo e as
pessoas com defici ência clam am por m el horias e acessibilidade.

Na esfera do Poder Público, latu sensu, responsável por regul ar e


tornar efetiva a atividade urbana, i nclui ndo o que engl oba as pessoas com
defi ciência – indivi dual e col etivament e – assim como aos legitimados para
defesa dos interesses difusos e col etivos, cabendo -lhes alcançar no
J udiciário o que legitim e uma obri gat oriedade de cumpri r para com tais
efetivações, inclus i ve arcando com event uais ônus administrativos e
reparações – morais e/ou m ateriais – decorrentes dest e mist er.

Além, também é necessária a consci entiz ação da soci edade da urbe de


modo que isto pode ser feito não t ão soment e pelo Poder Público, mas,
também, por organiz ações associativas que busquem a defesa e a m elhoria da
qualidade de vida e afins em prol da pessoa com defici ênci a. Ao passo que,
cons cientizando um a col etividade, essa, há de se convir, passará a outra e,
brevemente, estarem os diante de uma sociedade urbana que compreende s er
um direito de todos o acesso a um meio ambient e arti fici al acessível, sejam
eles i guais ou desi guais – na medida da sua desi gualdade ou na m edida em
que s e desi guale.

Por todo o pouco present e, lembremo -nos que ser ci dadão é ser
aquel e i ndivíduo conscient e, de seus deveres e de seus direitos ,
parti cipativo, ativo em todas as pont as da sua sociedade. É ter a consci ência
de que se est á ci ent e de que não há mundo onde o que acontece no mundo
não afet a o seu m undo. Pois tu do o que acontece no mundo, acont ece
conos co, e todas as decisões e posi ções nele tomadas interferem na noss a
vida e, por esta raz ão, devemos sempre parti cipar. Um indivíduo cidadão
tem espírito e senti mento ético, ambos com força e consciência do exercí ci o
da cidadani a e dela não abrindo m ão. A ideia de cidadania at iva é ser al guém
que parti cipa em ação, que parti cipa cobrando, que parti cipa propondo, que
parti cipa exercendo pressão e que, a todo moment o, PART IC IPA,
simplesment e, por ser CONSC IENTE.

7 RE FERÊNCIAS

BRASIL. Lei 7.405/85. Brasília, 1985. Disponível em:


<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7405-12-novembro-1985-367964-
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em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm> Acesso em:
19/03/2018

______. Código de Trânsito Brasileiro. 23 de setembro de 1997. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9503Compilado.htm> Acesso em: 17/03/2018

______. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Protocolo Facultativo
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