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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

JULIA ROBERG CRISPIM

OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA:
UMA ANÁLISE DA (IN)APLICABILIDADE E (IN)EFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA NOS CASOS DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL NOS DANOS
CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE

Tubarão
2020
JULIA ROBERG CRISPIM

OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA:
UMA ANÁLISE DA (IN)APLICABILIDADE E (IN)EFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA NOS CASOS DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL NOS DANOS
CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da


Universidade do Sul de Santa Catarina como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador: Prof.ª Marília de Fátima Bueno Záquera, Me.

Tubarão
2020
Para meu pais, Araildo e Marli, e minha irmã,
Amanda, que são minhas verdadeiras
inspirações, meus maiores e melhores
orientadores na vida, e as pessoas que possuem
todo meu amor e admiração.
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, gostaria de agradecer aos meus pais, pelo apoio incondicional em todos
os momentos difíceis da minha trajetória acadêmica. Agradeço por serem pais excepcionais,
pilares da minha formação como ser humano, e por sempre me proporcionarem as melhores
oportunidades da vida. Sem eles nada seria possível, pois esta monografia é a prova de que todo
seu investimento e dedicação valeram a pena.
A minha irmã e ao meu cunhado, por sempre depositarem toda confiança em mim e, em
momento algum, duvidarem da minha capacidade. Minha irmã, Amanda, é a pessoa que mais
acredita em mim, e eu a agradeço por isso. Sem você, eu não chegaria tão longe.
Aos meus amigos que me acompanharam em toda a caminhada acadêmica, pelo apoio
e suporte que me deram em todo o curso e pelas incontáveis horas de ajuda dedicadas a esta
monografia.
Agradeço aos integrantes dos meus estágios, primeiramente à Defensoria Pública de
Tubarão, onde tive meu primeiro contato com o Direito e onde tanto me ensinaram sobre ser
humano, bem como ao Ministério Público de Capivari de Baixo, por me ensinar a matéria
jurídica de modo ímpar.
Por fim, à minha orientadora e professora, Marília de Fátima Bueno Záquera, pela
paciência e dedicação, pois colaborou muito para a realização deste trabalho.
“Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha
aprendido a dominar a si mesmo”. (Albert Schweitzer)
RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo analisar a (in)existência e a (in)eficácia


da responsabilização civil ambiental nos casos de obsolescência programada, considerando-a
como sendo uma das estratégias mercadológicas mais impactantes na esfera ambiental.
Analisar-se-á também o estímulo da obsolescência programada frente ao consumismo, a
diferenciação de seus tipos existentes, bem como os princípios ambientais que a técnica fere.
Não obstante, o trabalho abrangerá os tipos de responsabilidade civil no ordenamento jurídico,
verificando os impactos ambientais decorrentes desse fenômeno e demonstrando, ao fim, a
aplicabilidade da responsabilidade civil ambiental nos casos concretos de obsolescência
programada. A metodologia utilizada nesta monografia, quanto à abordagem, é o método
qualitativo; quanto ao nível de pesquisa, caracteriza-se como exploratória e, quanto ao
procedimento, utilizam-se os métodos bibliográfico e documental, embasando-se
principalmente pelos fundamentos doutrinários e jurisprudenciais. Com efeito, o resultado
obtido com o estudo foi a descoberta de que, embora a ampla legislação sobre o assunto, não
há julgados responsabilizando a prática da obsolescência programada no âmbito do Direito
Ambiental, tão somente na esfera do direito do consumidor. Portanto, restou comprovada a
inaplicabilidade e ineficácia dos dispositivos legais na responsabilização ambiental dessa
técnica. À vista disso, foi possível concluir que a obsolescência programada é um fenômeno
que fere os princípios do Direito Ambiental e, mesmo havendo legislação contrária a suas
diretrizes, a qual, inclusive, traz a possibilidade de responsabilização ambiental, sua aplicação
na esfera jurídica brasileira é escassa. Desse modo, é necessário rever as formas de consumo e
produção atuais, além de considerar as consequências socioambientais como um alerta para
mudança de paradigmas a bem do ser humano e do meio ambiente, aplicando, portanto, as
normas consubstanciadas e os princípios apontados não como forma de orientação, mas, sim,
com uma aplicação efetiva em casos concretos.

Palavras-chave: Direito Ambiental. Obsolescência Programada. Responsabilidade Ambiental.


ABSTRACT

This monographic work aims to analyze the (in) presence and the (in) liability of environmental
liability in cases of programmed obsolescence, considering it as one of the most impacting
marketing strategies in the environmental area. The stimulation of programmed obsolescence
in relation to consumption will also be analyzed, with a difference from its existing types, as
well as the environmental principles that the technique affects. Nevertheless, the work will
cover the types of civil liability in the legal system, verifying the environmental impacts caused
by this phenomenon and demonstrating, at the end, an application of environmental civil
liability in the specific cases of programmed obsolescence. The methodology used in this
monograph, regarding the approach, is the qualitative method; as for the level of research,
characterizes as exploratory and as for the procedure, uses the bibliographic and documentary
methods, based mainly on doctrinal and jurisprudential foundations. In effect, the result
obtained in the study was a discovery that, although broad comprehensive legislation on the
subject, is not considered responsible for the practice of obsolescence programmed under
Environmental Law, only in the sphere of consumer law. Therefore, restore the inapplicability
and ineffectiveness of the legal provisions of environmental liability of this technique. In view
of this, it was possible to conclude that programmed obsolescence is a phenomenon that affects
environmental rights and even though there is legislation contrary to its guidelines, which even
brings the possibility of environmental responsibility, its application in the Brazilian legal
sphere is scarce. In this way, it is necessary to review the current forms of consumption and
production, in addition to considering the socioenvironmental consequences, as a warning for
paradigm changes, as well as the human being and the environment, applying, therefore, as
substantiated norms and the indicated principles not as a form of guidance, but with an effective
application in specific cases.

Keywords: Environmental Law. Scheduled obsolescence. Environmental responsibility.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial


ART. – Artigo
CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica
CC – Código Civil
CDC – Código de Defesa do Consumidor
CF – Constituição Federal
CPC – Código de Processo Civil
IBDI – Instituto Brasileiro de Política e Direito da Informática
JPOI – Johannesburg Plan Of Implemenation (Plano de implementação de Joanesburgo)
N. – Número
OS – Sistema Operacional
PACE – Plataforma para Aceleração da Economia Circular
PIB – Produto Interno Bruto
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
PPP – Princípio do Poluidor-Pagador
REE – Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos
RIUNI – Repositório Institucional
STF – Supremo Tribunal Federal
STJ – Superior Tribunal de Justiça
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA ............................................................. 12
1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................................. 14
1.3 HIPÓTESE .................................................................................................................. 14
1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ................................................... 15
1.5 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 15
1.6 OBJETIVOS................................................................................................................ 16
1.6.1 Geral ........................................................................................................................ 16
1.6.2 Específicos ............................................................................................................... 16
1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA ............................................................................ 17
1.8 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS .......... 18
2 OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA ........................................................................ 19
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA: ASPECTOS DA RELAÇÃO DO HOMEM COM O MEIO
AMBIENTE ........................................................................................................................ 20
2.1.1 Transformação da sociedade de produtores para sociedade consumerista .......... 23
2.2 CONCEITO DOUTRINÁRIO E CLASSIFICAÇÃO DA OBSOLESCÊNCIA
PROGRAMADA ................................................................................................................. 25
2.3 A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E A DEGRADAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE......................................................................................................................... 28
3 RESPONSABILIDADE CIVIL APLICADA .............................................................. 32
3.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL ................. 32
3.1.1 Princípios do Direito Ambiental ............................................................................. 35
3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL OBJETIVA E A TEORIA DO RISCO
INTEGRAL ......................................................................................................................... 40
3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL COMPARTILHADA ......................... 43
4 IMPACTOS DECORRENTES DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E
ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL ACERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL
AMBIENTAL..................................................................................................................... 48
4.1 IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OBSOLESCÊNCIA
PROGRAMADA ................................................................................................................. 49
4.1.1 Da Rio92 à Rio+20: Debate acerca do meio ambiente ........................................... 52
4.2 LEI DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ..................................... 54
4.3 ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL ACERCA DA IMPRESCINDIBILIDADE DA
REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL ........................................................................... 57
4.3.1 Recurso Especial n. 984.106 – SC: A responsabilização civil diante da obsolescência
programada ........................................................................................................................ 60
4.3.2 Ação coletiva contra a empresa Apple no Direito brasileiro e no Direito francês 64
5 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 70
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 72
11

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema a análise da (in)aplicabilidade e (in)eficácia da


legislação brasileira nos casos de responsabilização civil nos danos causados ao meio ambiente
decorrentes do fenômeno da obsolescência programada.
Esta pesquisa foi realizada com o interesse de apresentar o entendimento da legislação
brasileira e do tratamento jurídico aplicado nos casos de responsabilização ambiental na prática
da obsolescência programada. Considerando que a prática fere inúmeros princípios ambientais
e vem causando impactos significantes aos recursos naturais do planeta, mostrou-se necessário
o aprofundamento sobre o assunto.
A metodologia utilizada nesta monografia, quanto à abordagem, foi qualitativa, quanto
ao nível de pesquisa, exploratória e, quanto ao procedimento, utilizaram-se os métodos
bibliográfico e documental. Desse modo, a pesquisa embasou-se, principalmente, em
jurisprudências e doutrinas que norteiam o Direito Ambiental, a responsabilidade civil e a
obsolescência programada.
Além do objetivo principal de analisar a (in)existência e (in)eficácia da
responsabilização civil ambiental nos casos de obsolescência programada, o trabalho tem como
objetivo específico verificar a construção histórica do fenômeno, o conceito e os tipos de
obsolescência programada, bem como de responsabilidade civil no ordenamento jurídico, e uma
análise da aplicação e eficácia da legislação brasileira em casos concretos de responsabilização
civil ambiental sobre o tema.
Esta pesquisa abordará, no primeiro capítulo, aspectos da evolução história da
obsolescência programada, a transformação da sociedade de produtores para a sociedade
consumerista, o conceito doutrinário e a classificação do objeto de estudo, bem como as
estratégias utilizadas para a prática do fenômeno. No segundo capítulo, serão tratados os tipos
de responsabilidade civil aplicada no ordenamento jurídico brasileiro, demonstrando os
princípios mais importantes do Direito Ambiental e conceituando cada tipo de responsabilidade
civil. Por último, o trabalho irá demonstrar os impactos ambientais gerados ao planeta
decorrentes da obsolescência programada e o entendimento jurisprudencial quanto à
(in)aplicabilidade e (in)eficácia da responsabilização civil ambiental sobre o fenômeno.
12

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

A obsolescência programada é uma grande ameaça nos dias de hoje para o meio
ambiente, no entanto, para melhor compreender seus impactos no presente e no futuro, é
necessário analisar seu passado.
Segundo Miragem (2013, p. 325), a obsolescência programada é uma redução artificial
da durabilidade de produtos para que seja forçada a recompra prematura. Essa redução não
significa apenas uma menor duração do produto, mas sim a perda de sua utilidade em um
período já determinado por essas empresas, objetivando, assim, o descarte dessas mercadorias
“velhas” e o consumo de novas.
Embora o conceito de obsolescência planejada conhecido atualmente tenha surgido
apenas no século XX, historiadores relatam o surgimento da sua prática já no século XIX,
quando o primeiro cartel mundial de que se tem notícia, conhecido como Phoebus, formado por
fabricantes de lâmpadas de todo o mundo, decidiu que a vida útil de seus produtos deveria ser
deliberadamente reduzida por meio de novas tecnologias, obrigando os consumidores a
adquirirem novas lâmpadas, aumentando, assim, o índice de vendas (MORAES, 2015, p. 52).
Já na segunda metade do século XX, consolidou-se a Sociedade do Consumo,
caracterizada pelo acesso aos bens e produtos necessários, mas também ao excesso de desejo e
consumismo. Neste momento, a obsolescência programada ganhou força e se inseriu de vez no
mercado econômico (MORAES, 2015).
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já decidiu pela abusividade da prática da
obsolescência programada no julgamento do Recurso Especial n. 984106/SC, em 04 de outubro
de 2012 (BRASIL, 2012).
Na oportunidade, o Tribunal trouxe os seguintes exemplos de ocorrência do fenômeno:

São exemplos desse fenômeno: a reduzida vida útil de componentes eletrônicos (como
baterias de telefones celulares), com o posterior e estratégico inflacionamento do
preço do mencionado componente, para que seja mais vantajoso a recompra do
conjunto; a incompatibilidade entre componentes antigos e novos, de modo a obrigar
o consumidor a atualizar por completo o produto (por exemplo, softwares); o produtor
que lança uma linha nova de produtos, fazendo cessar açodadamente a fabricação de
insumos ou peças necessárias à antiga. (BRASIL, 2012)

Para melhor entendimento do tema, insta salientar que um dos marcos da obsolescência
programada ou também, como é conhecida, obsolescência planejada, é a Lei de Moore. Esse
fenômeno surgiu em 1965 e foi criado por Gordon Earl Moore. Segundo o cientista, em quase
todos os casos, a eletrônica integrada demonstra alta confiabilidade. Mesmo no atual nível de
13

produção baixa - em comparação com a dos componentes discretos - reduz o custo dos sistemas
e, em muitos casos, melhora o desempenho do produto (MOORE, 1965, p. 2).
Trata basicamente do aumento de densidade dos dispositivos semicondutores nos chips,
influenciando diretamente na estratégia de ação dos fabricantes. (BRAGA, 2013). Assim, por
exemplo, um celular que possui uma determinada quantidade de gigabytes, logo seria
ultrapassado por uma nova geração de aparelhos com um sistema de armazenamento mais
avançado que o anterior.
Dessa forma, mesmo que um aparelho estivesse em perfeitas condições de
funcionamento, teria que ser trocado por outro, uma vez que não seria mais capaz de suportar
o armazenamento do antigo aparelho. Tal fato evidencia, assim, uma violação do direito
fundamental do meio ambiente ecologicamente equilibrado garantido pelo artigo 225, caput, da
Constituição Federal de 1998: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações” (BRASIL, 1988).
Por outro lado, há quem defenda essa técnica sob o fundamento de que a obsolescência
originada pela melhora na função não é objeto de violação, pois é um resultado de avanço no
mundo tecnológico, e o que deve ser, inclusive, apoiado e incentivado pelo poder público.
Sabe-se que essa técnica atinge inúmeros consumidores, no entanto, o objetivo deste
trabalho é demonstrar os danos ambientais causados pela prática da obsolescência programada
e analisar a eficácia ou a falta dela na responsabilização civil ambiental de acordo com a norma
brasileira e julgados. Ainda, verificar se a obsolescência programada é uma técnica ilegal ou
legítima para o meio ambiente, e se a legislação brasileira prevê o tratamento jurídico adequado
nesse âmbito.
Para isso, o Princípio 8 da Declaração das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Rio-
92, dispõe que “para atingir o desenvolvimento sustentável e mais alta qualidade de vida para
todos, os Estados devem reduzir e eliminar padrões insustentáveis de produção e consumo e
promover políticas demográficas adequadas” (ONU, 1992).
Porquanto, ainda que proteja o direito dos consumidores, não resguarda totalmente o
direito fundamental ao meio ambiente ecológico. Conforme Moraes (2015), quando a utilização
de recursos ou geração de dejetos é maior do que a capacidade do ecossistema de reciclá-los,
depara-se com a poluição do meio ambiente e uma crise ambiental, exatamente o que os padrões
de produção e consumo da sociedade estão ocasionando.
14

A compatibilização entre Direito e Sustentabilidade é de extrema importância, visto que


as regras são necessárias para se concretizar a proteção socioambiental. Nessa inter-relação, a
função do Direito é sistematizar e regular as questões que envolvem consumo e meio ambiente,
utilizando-se de instrumentos jurídicos de prevenção, reparação, informação, monitoramento e
participação (MACHADO, 2007, p. 127).
Diante de tantos efeitos dessa técnica, como, por exemplo, o descarte exagerado de
eletrônicos, insta rever se a produção e descarte desses resíduos é uma decisão pessoal ou uma
obrigação legal. Dentre os instrumentos legais do Direito Ambiental, cabe destacar a Política
Nacional de Resíduos Sólidos – Lei n. 12.305, de 2010 – a qual busca harmonizar a relação de
consumo com a redução de resíduos e adequação no momento de descartá-los (BRASIL, 2010).
Para muitos, essa é uma decisão posterior à compra do produto e sem consequência
legal, pois ninguém é punido pelo descarte sob o fundamento de que seu produto ficou obsoleto.
Nas palavras de Machado (2011, p. 599), é uma obrigação legal: “Com o
posicionamento da Lei 12.305, não se pode admitir que qualquer um seja livre para produzir o
resíduo sólido que quiser, quando quiser e onde quiser.”
Para isso, o poder público, juntamente com a sociedade (empresas e consumidor), deve
reavaliar os padrões de uso de recursos e as finalidades de crescimento das técnicas de consumo,
visto que é de suma importância para o planeta que seja extraída a máxima durabilidade dos
produtos para dar efetividade aos princípios do desenvolvimento sustentável e a proteção ao
meio ambiente.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Existe, na legislação brasileira, norma fundamentadora para a aplicação e prática da


responsabilização ambiental em casos de obsolescência programada? Qual é sua eficácia?

1.3 HIPÓTESE

Pelo fato de todos serem responsáveis pela destinação correta dos produtos, por terem
sido proprietários deles pelo menos uma vez, seja ao adquiri-los como insumos, matérias-
primas ou bens de consumo, a Lei n. 12.305/10 instituiu a responsabilidade compartilhada para
todos aqueles que participaram do “ciclo de vida do produto”. No entanto, diante dessa
responsabilização, é necessária uma maior fiscalização do poder público para a aplicação da
lei.
15

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

A responsabilidade civil ambiental que se caracteriza na pesquisa como “[...] um sistema


jurídico baseado no reconhecimento da reparabilidade do dano causado à qualidade ambiental
em si mesma considerada e do denominado dano moral ambiental” (ÁLVARO, 2019). Dentro
da responsabilidade civil ambiental será abordada também a classificação: a) responsabilidade
civil objetiva e teoria do risco integral; e b) responsabilidade civil compartilhada.
A obsolescência programada caracteriza-se como a expressão comum utilizada para
descrever as mais diversas técnicas adotadas com o objetivo de estimular o consumo repetitivo
(SLADE, 2007, p. 5). Dentro da obsolescência programada será estudada sua classificação, qual
seja: a) de qualidade; b) adiada; e c) de função.

1.5 JUSTIFICATIVA

Este trabalho se justifica pela preocupação com o meio ambiente e o crescimento da


técnica chamada de obsolescência programada. Segundo o artigo 225, caput, da Constituição
Federal, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo esse de uso
comum do povo e necessário para uma benéfica qualidade de vida, cabendo ao poder público e
à sociedade o dever de protegê-lo para essa e futuras gerações (BRASIL, 1988).
Dessa forma, percebe-se que a qualidade de vida está interligada com o meio ambiente,
ou seja, um depende do outro. A importância do meio ambiente é tanta que seu equilíbrio é
essencial para o ecossistema e, inclusive, para a existência de vida no planeta. No entanto,
embora haja essa preocupação, ainda há muitas pessoas descomprometidas com essa questão.
Não há a atenção necessária que deveria ter, e o atual cenário político demonstra isso.
No mês de agosto de 2019, por exemplo, foi possível ver queimadas acontecendo por
todo o Brasil, especialmente na Amazônia, sem a devida fiscalização e responsabilização. Esses
acontecimentos afetam não apenas a proximidade e as pessoas que ali habitam, mas o mundo
inteiro, ou seja, é um interesse mundial. Portanto, esse assunto é de tamanha importância no
cenário atual, e caso não haja consciência do povo e ação do poder público, o meio ambiente
será destruído.
Ademais, até o presente ano, em todas as monografias e artigos publicados sobre o
assunto “obsolescência programada”, o direito do consumidor veio à frente do Direito
Ambiental, fazendo com que a jurisprudência brasileira desse prioridade para o primeiro e
deixasse de lado a responsabilidade ambiental.
16

Ainda, após uma pesquisa no Repositório Institucional (RIUNI), percebe-se que o único
trabalho que abrange o Direito Ambiental e a obsolescência programada é a “Obsolescência
planejada e suas implicações no âmbito do Direito Ambiental e do Consumidor” (CARNEIRO,
2018), tendo todas as outras como objeto principal o Direito do Consumidor. No entanto,
nenhum dos trabalhos encontrados teve apenas como objeto de estudo o Direito Ambiental,
sendo o foco desta monografia, portanto, mais aprofundado neste tema. Além disso, o
diferencial desta pesquisa é verificar se há possibilidade de aplicar a responsabilidade e de que
forma aconteceria.
Nesse sentido, é de extrema importância pesquisar e analisar o impacto que isso está
causando para o planeta, analisando a classificação e tipos de obsolescência programada, o
tempo de vida útil dos produtos em que essa técnica é aplicada, os efeitos e impactos no meio
ambiente, e outras questões que decorrem desse fenômeno.

1.6 OBJETIVOS

1.6.1 Geral

Analisar a existência e eficácia da responsabilização civil ambiental nos casos de


obsolescência programada.

1.6.2 Específicos

Verificar a construção histórica da obsolescência programada.


Analisar o estímulo da obsolescência programada frente a uma sociedade de consumo.
Conceituar e caracterizar a obsolescência programada diante dos tipos existentes.
Examinar se a técnica da obsolescência programada fere os princípios ambientais.
Analisar os tipos de responsabilidade civil no ordenamento jurídico e verificar se podem
ser aplicadas na obsolescência programada.
Analisar a ampla legislação sobre o tema e os impactos ambientais decorrentes da
obsolescência programada.
Analisar, ao final, a aplicação da responsabilidade civil ambiental em casos concretos
de obsolescência programada, principalmente no que se refere ao Direito Ambiental.
17

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Quanto à natureza da pesquisa, caracteriza-se como exploratória, visto que pretende


analisar como o tema em questão é visto no ordenamento jurídico e no entendimento
doutrinário, bem como se verifica que este tipo de pesquisa “[...] volta-se à busca de maior
familiaridade com o que se queira pesquisar (problema de pesquisa)” (MARCOMIN;
LEONEL, 2015, p. 12). Além disso, objetiva aproximar o autor do tema “Obsolescência
Programada” e levantar variáveis relacionadas com a técnica, conceitos dogmáticos, correntes
doutrinárias, jurisprudências e princípios ambientais que são ligados ao tema.
Quanto aos instrumentos utilizados para coleta de dados, esta pesquisa se caracteriza
como documental e bibliográfica. O critério para seleção do material a ser utilizado na pesquisa
basear-se-á na consulta de literatura e jurisprudência dominante na área, reunindo todos os
dados encontrados a fim de abordar a existência e eficácia da responsabilidade civil ambiental
no âmbito da obsolescência programada. Além de livros e jurisprudências, a presente pesquisa
terá, como instrumento para coleta de dados, artigos, revistas, lei seca e demais documentos.
No que tange à pesquisa bibliográfica, Boccato (2006, p. 266) elucida que:

A pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de


referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições
científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi
pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto
apresentado na literatura científica. Para tanto, é de suma importância que o
pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa,
compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do
trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação.

Tocante à abordagem, ela é qualitativa, uma vez que o objetivo não é contabilizar
quantidades e resultados, mas sim compreender as causas e consequências da técnica
apresentada e analisar sua aplicabilidade no âmbito jurídico, de acordo com doutrinas e
jurisprudências.
Quanto ao procedimento utilizado para análise de dados, a problemática da pesquisa irá
se embasar pelos fundamentos doutrinários e jurisprudenciais, a fim de analisar a existência e
eficácia da responsabilização civil ambiental nos casos da técnica apresentada.
Ainda, tomará como referência os seguintes elementos: a construção histórica da
obsolescência programada; a caracterização diante dos tipos existentes; a análise da ilegalidade
da técnica frente aos princípios ambientais; o estímulo da técnica frente ao consumismo e a
análise da aplicação da responsabilidade civil em casos concretos.
18

1.8 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

Além da Introdução e Conclusão, os capítulos deste trabalho serão divididos da seguinte


forma, no primeiro capítulo serão analisados aspectos da evolução histórica da obsolescência
programada, a transformação da sociedade de produtores para a sociedade consumerista, o
conceito doutrinário e a classificação do objeto de estudo, bem como as técnicas utilizadas na
prática da obsolescência programada.
No segundo capítulo, serão demonstrados os tipos de responsabilidade civil aplicada no
ordenamento jurídico brasileiro. Inicialmente, trazendo as noções introdutórias da
responsabilidade civil e os princípios mais importantes do Direito Ambiental e, em seguida,
conceituando a responsabilidade civil objetiva e a teoria do risco integral, e a responsabilidade
civil compartilhada.
No terceiro e último capítulo, serão analisados os impactos da obsolescência
programada e a orientação jurisprudencial acerca da responsabilidade civil ambiental.
Primeiramente, serão demonstrados os impactos decorrentes da técnica, o debate acerca do
meio ambiente na conferência Rio92 a Rio+20 e as diretrizes da Lei da Política Nacional de
Resíduos Sólidos. Por último, uma pesquisa acerca da existência ou inexistência de orientação
jurisprudencial quanto à imprescindibilidade da reparação do dano ambiental e quanto à
(in)aplicabilidade e (in)eficácia da responsabilização civil ambiental nos casos de obsolescência
programada.
19

2 OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

O presente capítulo apresenta aspectos gerais acerca da evolução da técnica conhecida


como obsolescência programada, analisando a relação do homem com a natureza e verificando
o processo de criação desse método, bem como as estratégias utilizadas nos dias de hoje.
Segundo Vieira e Rezende (2015, p. 68), “a obsolescência programada é uma estratégia
utilizada pelos fabricantes, que programam para que a vida útil dos produtos de consumo tenha
tempo determinado, com o objetivo de estimular a aquisição de novos objetos dentro de um
curto período de tempo”.
Esse fenômeno, que estimula diretamente o consumismo, vem causando inúmeros
impactos tanto para o meio social quanto para o meio ambiente, haja vista que, cada vez mais,
se mostra um modelo completamente insustentável (MORAES, 2015).
Os avanços tecnológicos e a redução do ciclo de vida dos aparelhos eletrônicos geram
um crescimento exponencial de resíduos, que ao não obterem a destinação adequada, podem
causar problemas sérios à saúde e ao meio ambiente:
Nesse sentido, escreve Bauman (2008, p. 45):

Novas necessidades exigem novas mercadorias, que por sua vez exigem novas
necessidades e desejo; o advento do consumismo inaugura uma era de ‘obsolescência
embutida’ dos bens oferecidos no mercado e assinala um aumento espetacular na
indústria da remoção do lixo.

Após a utilização constante desse modelo de consumo, a sociedade passou a deparar-se


com um contratempo: os limites da natureza. Isso porque, com a superexploração dos recursos
naturais e a superprodução de resíduos sólidos, tornou-se evidente a aproximação de uma crise,
na qual os efeitos sociais e ambientais são cada vez mais importantes, atentando para a
necessidade de uma alteração no modo de vida das sociedades atuais (MORAES, 2015).
Assim, nota-se que a obsolescência programada é um dos fenômenos causadores dos
lixos eletrônicos, e embora seja benéfica para os produtores e donos de empresas, é
indiscutivelmente prejudicial ao meio ambiente.
Nesse sentido, importa ressaltar que, ainda que o paradigma da obsolescência
programada possa surtir efeito em muitas áreas do Direito, elegeu-se neste trabalho a esfera
ambiental para tratar, visto que a técnica vem destruindo um que é direito fundamental de todos,
e que sem ele causaria extinção humana.
20

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA: ASPECTOS DA RELAÇÃO DO HOMEM COM O MEIO


AMBIENTE

Para entender melhor os rumos tomados pela humanidade na escolha do modelo de


desenvolvimento atual e os impactos que esse modelo trouxe para o meio ambiente, é necessário
fazer uma análise da relação do homem com a natureza e como essa relação foi construída.
A história do homem com a natureza não teve um desenvolvimento linear, lógico e
homogêneo, de forma que passou por diversas mudanças, acompanhando as inerentes
pluralidades e diversidades humanas (MORAES, 2015).
Outrossim, além dos acontecimentos naturais, o pensamento humano passou por
diversas alterações, existindo fases em que o homem se submetia à natureza, e outras em que o
homem era o centro do universo e a natureza existia apenas para servi-lo (MORAES, 2015).
Desde o aparecimento da humanidade, sabe-se que o ser humano atua e interfere na
natureza pelo simples fato de existir. O homem necessita utilizar dos recursos naturais para
sobreviver.
Nesse sentido, o ser humano sempre esteve em constante luta pela sobrevivência e,
como necessitava de ajuda para buscar alimentos, procurou formar grupos a fim de realizar a
caça aos animais (MORAES, 2015).
Assim, iniciou a formação de uma das primeiras populações primitivas, os conhecidos
caçadores-coletores. Com um estilo de vida nômade, foi possível identificar algumas
características desse grupo, uma delas de contrair casamento como forma de estabelecer
vínculos sociais com outros grupos distintos, facilitando a busca de alimento para ambos os
grupos (KELLY, 1995).
Dessa forma, tendo em vista a utilidade e benefícios que os grupos obtiveram no
momento em que se relacionaram, principalmente na área da caça, o homem se viu obrigado a
aprender a conviver em grupo. Nessa linha, os grupos foram desenvolvendo técnicas de
sobrevivência, até o momento em que descobriram a agricultura. No entanto, embora tenham
transitado por muito tempo entre esses dois modelos de sobrevivência, a atividade agropastoril
prevaleceu em razão do crescimento populacional e da necessidade de armazenamento dos
recursos obtidos (MORAN, 2008).
A partir desse momento, a agricultura começou a crescer significativamente, de modo
que a irrigação passou a utilizar a água e os insumos agrícolas de maneira intensiva, como
exemplo deste último os agrotóxicos e adubos. Além disso, a tecnologia teve um grande avanço
sobre a utilização do solo e dos recursos hídricos. Assim, como consequência, houve o aumento
21

das áreas utilizadas pela agricultura e valorização dos recursos hídricos do planeta (PHILIPPI
JR; ALVES, 2005).
Não obstante, juntamente com os fatores positivos vieram os negativos, isto é, a
agricultura passou a sujeitar o meio ambiente a grandes pressões, trazendo desgastes ao solo e
a ocorrência de desmatamento nas florestas (MORAES, 2015).
Além disso, outro fator significativo para a relação do homem com a natureza foram as
interferências religiosas ao longo da história, marcadas pelas religiões judaica, cristã e islâmica.
Segundo Ost (1995, p. 35), as religiões trouxeram uma visão relativa da natureza, deixando
claro que o Criador era omnipotente e havia entregado ao homem um bem maior para usufruto.
Assim, o ser humano entendia que a natureza era submissa a seus interesses e que havia sido
criada para satisfazer suas vontades.
De acordo com Corbisier (1988, p. 188), Deus é onipresente, não porque ocupa um
corpo ou lugar, mas sim porque é ele quem dá ao ser todas as coisas. Desse modo, assim como
a alma está em todas as partes do corpo, Deus está em todos os seres e em cada um em particular.
Nota-se a importância da religião na história do homem, visto que este passou a ter outra
visão sobre o mundo após sua influência.
Seguindo a linha histórica, foi uma questão de tempo até que os grupos, que antes eram
agrícolas, evoluíssem e criassem algo maior e mais complexo: as cidades. Nesse momento, o
homem migra do meio rural para o meio urbano, transformando o modelo de sobrevivência da
agricultura para o comércio (MORAES, 2015, p. 27).
No entanto, com o crescimento populacional acelerado, o mercado de trabalho não
conseguiu absorver todos os trabalhadores, principalmente pela falta de qualificação
profissional dos homens que haviam saído do campo e migrado para a cidade.
Segundo Moraes (2002, p. 10), a questão ambiental deve ser trabalhada não como
resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações
entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural.
Nesse contexto, após a saída do campo para a cidade, a relação do homem com a
natureza passou a ser uma consequência das ações do ser humano. Isso porque o crescimento
populacional trouxe diversos impactos para a natureza, como o aumento de lixo, a criação de
favelas em áreas ilegais, a poluição e outros fenômenos.
No entanto, foi no século XV que houve a mudança mais significativa da visão do
homem sobre a natureza, com o início do movimento que se chamou de Modernidade. Dentro
desse processo nasceu o movimento Renascentista, no qual o homem estava liberto dos vínculos
naturais que o faziam pensar ser um lugar fixo e imutável no Universo, e a partir desse momento
22

deveria iniciar o incansável processo de compreensão e dominação desse movimento planetário


(MORAES, 2015, p. 28).
Para Corbisier, nesse momento o homem atuava da seguinte forma:

Obcecado por Deus, o homem não se via porque só tinha olhos para Deus no qual não
podia ver refletida a sua imagem. Como poderia o finito refletir o infinito?
Reconciliado com ele mesmo, o homem precisava ver-se, conhecer-se, inclusive em
sua dimensão física, material, em seu corpo, em seu rosto, de frente, de perfil e na
expressão de seu olhar. E é o espelho que traz essa possibilidade, de ver-se a si mesmo,
como só os outros, até então, podiam vê-lo. (1988, p. 278)

Portanto, tendo em vista que a partir desse pensamento o homem começou a valorizar-
se e priorizar seus interesses em relação ao uso da natureza, esse movimento teve grande
influência nos impactos atuais.
Posteriormente, no século XVIII, o mundo se deparou com uma nova fase: o movimento
iluminista. Também conhecido como século das luzes, esse movimento trouxe características
que eram inexistentes até então, como: liberdade, progresso, fraternidade, governo
constitucional e separação da Igreja-Estado.
Nesse momento, o homem já havia conquistado a liberdade de pensamento, no entanto,
com o movimento, conseguiu buscar uma capacidade nunca vista na história: fazer uso da
própria razão independentemente da direção de outrem, e principalmente da direção de Deus.
A liberdade individual se torna o centro da discussão sobre política à medida que a
filosofia política iluminista promovia a centralidade dos direitos individuais, diferenciando os
compromissos dos antigos e medievais da ordem e hierarquia. Nesse sentido, pode-se afirmar
que o Iluminismo teve sua primeira expressão teórica, mais concentrada, em fins do século
XVII, com o inglês John Locke – considerado o pai do liberalismo –, preocupado em
“modificar” a concepção de súditos da coroa britânica para cidadãos. Defenderia a liberdade e
a tolerância religiosa (MELLO; DONATO, 2011, p. 253).
De acordo com Crescenzo (2012, p. 5), a primeira fase da filosofia moderna ainda sofria
a influência dos séculos obscuros, uma vez que quem comandava as ideias era a Igreja, sendo
dirigida pelos padres. Com a chegada da segunda fase, o mundo dividiu-se em dois hemisférios
distintos: de um lado estavam aqueles que gostavam de raciocinar e de outro, aqueles que
preferiam crer na Igreja.
Assim, iniciou-se o movimento que abriu portas para o pensamento e trouxe liberdade
para o homem agir pelas próprias razões. Com todo esse crescimento, a relação do homem com
23

a natureza mudou drasticamente, fazendo com que este tomasse propriedade e liberdade para
usufruir da natureza sem algum problema.

2.1.1 Transformação da sociedade de produtores para sociedade consumerista

Como visto anteriormente, a relação do homem com a natureza iniciou-se logo com o
aparecimento da humanidade. Desde então, o ser humano passou por diversas mudanças, tanto
decorrentes da forma de pensar como das necessidades naturais que a sobrevivência impôs.
Contudo, da mesma maneira que a relação do homem com a natureza se transformou ao longo
do tempo, houve também uma mudança significativa na forma em que o consumo se faz.
O fenômeno chamado de consumo e denominado como ato de “adquirir e utilizar bens
e serviços para atender às necessidades” (LEONARD, 2011, p. 158) fez com que a sociedade
deixasse de ser uma sociedade de produtores, para se tornar uma sociedade consumerista.
De acordo com Bustamante (2007, p. 9, apud MORAES, 2015, p. 31), é necessário
classificar as necessidades que são embasadas pelo consumo como: básicas, culturais e do
sistema produtivo.
As primeiras, chamadas de necessidades básicas, a autora denomina “[...] como as
necessidades de alimentação e segurança, por exemplo, são insubstituíveis e imprescindíveis
para a manutenção da vida humana” (p. 31). Assim, percebe-se que essa é uma forma de
consumo necessária a sobrevivência do homem, ao qual sem ela seria impossível viver.
Quanto às necessidades culturais, “[...] são aquelas necessidades vinculadas ao sentido
de pertença à determinada classe/comunidade ou relacionadas a hábitos, podendo ser reais ou
induzidas” (p. 31). Aqui, tem-se a distinção entre a alta cultura, baseada nos padrões clássicos,
e a baixa cultura, baseada nas tradições populares. No entanto, ambas se relacionam por serem
necessidades decorrentes da cultura de cada sociedade.
Por fim, denomina as necessidades de consumo advindas do sistema produtivo como as
que “[...] se referem tanto aos insumos por eles utilizados quanto ao consumo do que foi
produzido, o que, como se verá a diante, acarreta na criação artificial de necessidades nos
consumidores” (p. 31). Assim, nota-se que essa é uma necessidade criada diretamente pelo
consumo, de modo que tornou mercadorias - que antes não eram necessárias - agora
indispensáveis para a vida humana.
Acerca do tema, importante ressaltar que:
24

O crescimento expressivo e singular do consumo nas últimas décadas decorre do fato


de que o ser humano não mais consome apenas para suprir suas necessidades básicas,
como alimentação, saúde e moradia, mas também para atender aos seus desejos por
produtos e bens supérfluos. E, como consequência, na sociedade é ofertada
diariamente uma grande quantidade de produtos, bens e prestações de serviços.
(VIEIRA; REZENDE; 2015, p. 67)

Destarte, levando em conta o crescimento significativo desse fenômeno, pode-se separar


a evolução das formas de consumo em duas fases, a fase sólida da modernidade, a qual se
caracteriza pela sociedade de produtores. E a fase líquida da modernidade, para a qual a
sociedade deixa de ser produtora para ser consumista.
Na fase sólida da modernidade, tem-se como marco histórico a Revolução Industrial,
cuja posse e consumo de bens era unicamente para o conforto e segurança do homem, pois sua
intenção não era quantidade e sim qualidade dos bens.
Para os autores Vieira e Rezende (2015, p. 66), a Revolução Industrial teve grande
importância nessa transformação:

A Revolução Industrial transformou os meios de produção quando proporcionou um


grande crescimento comercial e viabilizou à classe burguesa o acúmulo de capital em
decorrência da lucratividade oriunda do desenvolvimento econômico. Com o novo
modelo de produção consolidou-se o Capitalismo, caracterizado por muitas evoluções
tecnológicas e pelo surgimento do consumo de massa, e o consequente estímulo ao
desenvolvimento industrial e ao progresso da ciência.

Tendo em vista que com o desenvolvimento industrial a classe burguesa começou a


acumular capital/dinheiro, as empresas se viram obrigadas a criar novas técnicas de consumo,
pois a produção era alta (aumento da oferta) e o capital também, assim, bastava implementar
uma nova ideia de consumo no mercado (MORAES, 2015).
Nessa linha, com o intuito de transformar o modo de consumo, as empresas começaram
a implementar estratégias – como a obsolescência programada, por exemplo – a fim de tornar
seus consumidores mais “selvagens” no momento de consumir (MORAES, 2015).
Nesse sentido, destaca Bauman (2008, p. 38):

A passagem do consumo ao ‘consumismo’, quando aquele [...] tornou-se


especialmente importante, se não central, para a vida da maioria das pessoas, o
verdadeiro propósito da existência. E quando nossa capacidade de ‘querer’, ‘desejar’,
‘ansiar por’ e particularmente de experimentar tais emoções repetidas vezes de fato
passou a sustentar a economia do convívio humano.

As técnicas foram sendo implementadas pouco a pouco, até o momento em que a


sociedade necessitava do consumo excessivo para satisfazer suas vontades.
25

Na sequência, a modernidade entra na fase líquida, a qual teve como marco histórico o
fim da Segunda Guerra Mundial. No entanto, tendo em vista a alta capacidade de produção e a
escassez de capital, causadas pela fase anterior, foi nesse momento que o ideal consumerista
despencou.
Silva caracteriza a sociedade consumista da seguinte forma:

Na sociedade consumista, o modo ser de existir é desestimulado de todas as maneiras,


pois ser não demanda consumo nem a obtenção de lucro. Uma pessoa satisfeita com
sua aparência, com seu ofício, com seus afetos e seus valores éticos não necessita
consumir (de forma abusiva e/ou compulsiva) cosméticos, cirurgias plásticas,
namorados e/ou namoradas ‘da hora’ ou títulos de bons cidadãos em instituições de
visibilidade social (2014, p. 13).

Nesse período, tem-se como referência o empresário Henry Ford, segundo Leonard
(2011, p. 96), o homem desenvolveu uma técnica cuja finalidade era dobrar o salário de seus
funcionários e reduzir suas jornadas de trabalho. Desse modo, os empregados teriam mais
tempo e dinheiro para poder consumir.
Neste preâmbulo, os homens eram a chave do mercado, isto é, era necessário mantê-los
trabalhando e consumindo. O trabalho já não era mais o foco principal, servia apenas para que
ganhassem dinheiro e após pudessem gastá-lo no mercado afora.
Conforme explica Silva (2014, p. 12), “a cultura consumista e individualista está tão
profundamente enraizada em nosso comportamento diário que, na maioria das vezes, não
percebemos o quanto vivemos sob a ditadura do ter”.
Dessa forma, percebe-se o quanto a transformação da sociedade se fez pela influência
do consumismo e de suas técnicas implementadas, não só na época, como até o momento.

2.2 CONCEITO DOUTRINÁRIO E CLASSIFICAÇÃO DA OBSOLESCÊNCIA


PROGRAMADA

Como visto, o consumismo ganhou força com o marco histórico da Revolução


Industrial, assim, foi possível acompanhar sua evolução por meio das obras bibliográficas
citadas. No entanto, ao contrário disso, o tema obsolescência programada, ainda que praticado
nesta época – como uma técnica para impulsionar o consumo exagerado –, só apareceu por
escrito no final da década de 1920.
Obsolescência, segundo o Dicionário Online de Português (2019), significa “estado do
que está prestes a se tornar inútil, ultrapassado ou obsoleto; processo pelo qual algo passa até
se tornar antigo ou ultrapassado”.
26

De acordo com Slade (2007, p. 58), Justus George Frederick foi o homem que
reconheceu a técnica pela primeira vez em um artigo publicado na revista Advertising and
Selling. Para ele, esse fenômeno era chamado de “obsolescência progressiva” e significava
comprar para se atualizar, para estar moderno, dentro das regras de estilo, e não para utilizar o
produto até seu total desgaste.
O autor explica que a ideia era estimular a compra de novos produtos, mais eficientes,
atualizados e de novo estilo, em substituição ao antigo pensamento de usar os produtos até seu
desgaste. Além disso, os produtores tentaram mascarar o conceito de obsolescência, reduzindo
seus aspectos negativos e destacando o conceito de uma técnica “progressista” para o mercado
(SLADE, 2007, p. 58).
Com efeito, apesar de poucas obras bibliográficas nessa época, a técnica estava em
constante crescimento, de forma mascarada. E foi a partir desse artigo publicado que
começaram a nomeá-la como “obsoletismo” e “obsolescência programada” (MORAES, 2015,
p. 59).
Após esse período, os autores trouxeram um novo conceito para essa estratégia
consumerista. No entender de Vieira e Rezende (2015, p. 67):

Tal desejo constante por objetos com tecnologias mais avançadas faz com o que as
produções anteriores se tornem ultrapassadas num curto prazo, o que implica em
desperdício, com consequentes e drásticos impactos ao meio ambiente. Isso porque a
busca pelos recursos naturais é cada vez maior em função da estratégia empresarial
denominada obsolescência programada.

Ainda, de acordo com Silva (2012, p. 182):

A obsolescência programada, para os que ainda não estão familiarizados com o


conceito, é uma estratégia da indústria para ‘encurtar’ o ciclo de vida dos produtos,
visando a sua substituição por novos e, assim, fazendo girar a roda da sociedade de
consumo, poderíamos dizer que há uma lógica da ‘descartabilidade’ programada
desde a concepção dos produtos. Em outras palavras, as coisas já são feitas para
durarem pouco.

Nesse sentido, a obsolescência programada foi dividida em três tipos de técnicas: de


função, qualidade e de desejabilidade.
Para Packard (1965), a primeira delas, chamada obsolescência de função e também
conhecida como obsolescência técnica, denomina-se quando um novo produto que executa
melhor determinada função é incluído no mercado, tornando sua versão anterior obsoleta.
27

Segundo o autor, essa técnica é “louvável”, pois “todos aplaudimos quando podemos
discar um número a centenas de milhas de distância ao invés de fazer a ligação por intermédio
de telefonistas” (PACKARD, 1965, p. 51).
De fato, essa técnica pode ser benéfica se os produtos lançados forem mais tecnológicos,
fáceis de serem decompostos, menos poluentes e possíveis de reciclagem. No entanto, outras
questões devem ser analisadas, uma vez que o lançamento de novos produtos com tanta
frequência acaba intensificando a exploração dos recursos naturais e consequentemente a crise
socioambiental.
O segundo método é a obsolescência de qualidade, a qual, conforme Packard (1965, p.
51) acontece quando um produto é projetado para quebrar ou ser gasto em um tempo menor do
que levaria normalmente.
Para o desenvolvimento dessa estratégia, inicialmente, a indústria teria que praticar três
ações: o aumento das vendas, a elevação dos preços e a utilização de estratégias que pudessem
assegurar que os consumidores voltassem ao mercado para adquirir novos produtos antes do
que seria normalmente necessário (PAKARD, 1965, p. 88). Contudo, para garantir o êxito da
técnica, a indústria de mercado impôs o alto custo para a conservação e conserto dos bens de
consumo (PACKARD, 1965, p. 122).
As lâmpadas foram as primeiras vítimas desse fenômeno. Estudiosos relatam o
surgimento da sua prática já no século XIX, quando o cartel conhecido como Phoebus decidiu
que a vida útil de seus produtos (lâmpadas) deveria ser reduzida por meio de novas tecnologias,
a fim de obrigar os consumidores a adquirirem novas lâmpadas, aumentando assim as vendas
(MORAES, 2015, p. 52).
Foi a partir desse fato que os produtores começaram a perceber o quão benéfico para o
mercado seria implementar tecnologias que reduzissem o tempo de vida útil de seus produtos.
Por fim, tem-se a obsolescência de desejabilidade, a qual tem como objetivo tornar o
produto ultrapassado em razão do estilo. Nos dizeres de Packard (1965, p. 51), “[...] o produto
torna-se gasto em nossa mente porque um aprimoramento de estilo ou outra modificação faz
com que fique menos desejável”.
Com efeito, a invenção de marcas e a publicidade têm desempenhado um papel
fundamental no desenvolvimento da atual sociedade de consumo, tendo em vista que essa tática
visa a influenciar a compra de novos produtos em virtude de seu design “desejável” e moderno,
deixando de lado a análise de sua qualidade.
28

Para Latouche (2009, p. 18), “[...] a publicidade nos faz desejar o que não temos e
desprezar aquilo de que já desfrutamos. Ela cria e recria a insatisfação e a tensão do desejo
frustrado”.
Além disso, Moraes (2015, p. 53) explica que “[...] em 1932, a obsolescência planejada
pela desejabilidade era a regra para os produtores de carros americanos, e essa estratégia foi tão
bem-sucedida neste ramo que se espalhou rapidamente para várias outras indústrias, tais como
de relógios e rádios”.
A propósito, a respeito das técnicas apresentadas, insta salientar que, de acordo com o
que escreve Magera (2013, p. 97-98), os países comunistas não chegaram a aplicá-las:

[...] no bloco comunista na Europa do Leste, a obsolescência programada não poderia


ser aplicada. Pelo contrário, as indústrias criaram máquinas que chegavam a durar 25
anos. O sistema socialista da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas) tinha uma outra concepção de produção. Não havia a figura do capitalista
e o Estado era o dono do modo de produção. Com a falta de recursos, a obsolescência
não era desejada, visto que causaria prejuízo para o Estado.

Dessa forma, percebe-se que a história da obsolescência é recente e se desenvolveu


principalmente nos países da América. Inicialmente surgindo como uma estratégia benéfica
para a sociedade e donos de empresas, e posteriormente descoberta como um fenômeno
consumista e altamente lesivo para o meio ambiente.

2.3 A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E A DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Compreendidos os tipos de obsolescência planejada, neste trabalho será dado enfoque à


obsolescência programada de desejabilidade e de qualidade, tendo em vista a
imperceptibilidade de suas práticas pela sociedade e pelos impactos ambientais que vem
causando.
Utilizando-se da evolução tecnológica, novas mídias apareceram para conectar o
consumidor em todas as formas possíveis. Como exemplo, têm-se os aparelhos celulares, cuja
evolução se deu mais rápido do que se podia imaginar. Hoje é possível acessar e-mail, rádio,
TV digital, mídias sociais e fazer ligações, tudo por meio do celular.
O problema da rápida evolução é que essas tecnologias podem ser usadas tanto de forma
positiva quanto de forma negativa, e muitas vezes se tornam aliadas da técnica de obsolescência
programada. Por exemplo, por meio das mídias sociais, filmes, propagandas e novelas, todos
os dias o consumidor é convidado para “satisfazer” o desejo de consumir e substituir seus
produtos por novos.
29

Nesse sentido, Bauman (2003, p. 99) descreve essa relação como um ciclo vicioso:

Numa sociedade de consumo, compartilhar a dependência do consumidor – a


dependência universal das compras – é a condição sine qua non de toda liberdade
individual [...] Num arroubo de sinceridade, um comercial de TV monstra uma
multidão de mulheres com uma variedade de penteados e cores de cabelos, enquanto
o narrador: ‘Todas únicas; todas individuais, todas escolhem X’ (X sendo a marca
anunciada de condicionador). O utensílio produzido em massa é a ferramenta de
variedade individual [...] Sua dependência não se limita ao ato da compra. Lembre-se,
por exemplo, o formidável poder que os meios de comunicação de massa exercem
sobre a imaginação popular, coletiva e individual.

Aqui têm-se exemplos clássicos de métodos e estratégias utilizadas na obsolescência


programada de desejabilidade. A partir do momento em que as empresas começaram a perceber
o quanto as mídias sociais, filmes e novelas influenciam na escolha do consumidor, esses meios
foram utilizados para tornar produtos menos “desejáveis” e ultrapassados.
Além disso, outro fator importante para essa técnica foram os chamados
“influenciadores digitais”. Ao consultar o Dicionário Online de Português (2019), a descrição
de influenciador aparece como “que ou quem influencia ou tem alguma espécie de influência
sobre algo ou alguém”.
Assim, o influenciador digital ocupa papel decisivo no momento do consumo de bens
supérfluos. Isso porque, muitas vezes, o consumidor não necessita do produto em questão, ou
até já possui um de mesma qualidade, no entanto, o fato de “pessoas da moda” estarem
utilizando, faz com que o consumidor deseje e compre o item lançado.
Sobre o tema, explicam Pedrosa e Pereira (2013, p. 7):

A obsolescência de desejabilidade ou obsolescência psicológica consiste em gastar


produto na mente do proprietário. Assim, o proprietário/consumidor é induzido a
desejar um produto novo, mesmo que o produto que já possua esteja em perfeitas
condições de uso ou atenda perfeitamente bem os fins a que se destina. Desse modo,
o estilo passou a ser cultuado como um importante elemento na desejabilidade de
produto.

Ora, atualmente não é difícil o consumidor considerar o produto que tem em casa, velho
e ultrapassado, haja vista que novos modelos são lançados a toda hora. Percebe-se que, na
maioria dos casos, o modelo sucessor do produto já é implementado no mercado no ano
seguinte, ou antes, o que acaba desvalorizando os modelos anteriores e estimulando a troca,
mesmo que o produto a ser substituído não possua defeitos.
Como exemplo dessa situação, tem-se o caso do lançamento do iPad 4, da empresa
Apple, que lançou a versão poucos meses depois de ter colocado em circulação o iPad 3. Os
30

usuários, embora a nova versão não apresentasse mudanças técnicas, viram o seu produto como
ultrapassado e procuraram comprar a nova versão (PENA, 2020).
De acordo com Andrade e Lima (2018, p. 1246):

O exemplo da Apple demonstra o grau de lesividade do fenômeno da obsolescência


para a sociedade de consumo contemporânea, intensificando a promoção do descarte
prematuro de bens obsoletos, o aumento do lixo tecnológico, o esgotamento dos
recursos naturais e perda dos valores humanos com o vigor do hiperindividualismo
pós-moderno. Deste modo, o fenômeno da obsolescência e a prática do consumismo,
originam à sociedade impactos diversos que ferem direitos de todos, arriscando a
posteridade da vida humana, discussão que será adiante levantada.

Desse modo, a obsolescência planejada de desejabilidade induz o consumidor a se


preocupar mais com o estilo, aparência, forma e cores dos produtos do que com a própria
qualidade. Essa valoração está diretamente relacionada às necessidades de reconhecimento
social e valores sociais distorcidos na evolução do homem.
Por outro lado, como demonstrado, a obsolescência planejada de qualidade visa a
programar um produto para quebrar ou ser gasto em um tempo menor do que o previsto.
Conforme Packard (1965), com essa técnica os fabricantes ganham mais nas vendas,
disponibilizando produtos com uma vida útil controlada e ganhando na assistência técnica,
vendendo serviços e peças de substituição. Assim, quanto mais acessórios são adicionados aos
produtos, mais acessórios podem apresentar defeitos. Dessa forma, há maiores lucros de vendas
e de manutenção.
Assim, nota-se que um dos métodos aplicados nessa técnica é a implementação de peças
que apresentem defeitos após um curto período de uso, a fim de que a manutenção ou
substituição dessas peças também seja uma fonte de renda para os produtores.
Segundo Packard (1965, p. 122-126), outras técnicas implementadas são: a) o aumento
do preço das peças do produto; b) a complexificação das peças para dificultar o concerto pelo
próprio consumidor; c) o aumento da inacessibilidade das peças necessárias para o conserto; d)
a diminuição de informações sobre o produto e seu conserto; e) o encorajamento dos
consumidores a jogarem fora as peças quebradas.
Dessa forma, as estratégias usadas na obsolescência planejada de qualidade ajudam a
aumentar o volume de negócios das empresas de conserto e dos fabricantes de peças,
ocasionando um superfaturamento por parte deles. Por outro lado, os consumidores,
influenciados pela técnica e indispostos a encarar o alto custo do conserto e da manutenção,
optam por aceitar a substituição do produto por um novo lançado no mercado (PACKARD,
1965, p. 123).
31

Portanto, com a inserção de novas tecnologias no mercado, a sociedade pós-moderna,


objetivando alcançar um desenvolvimento econômico cada vez melhor, viu-se envolvida em
um processo mercadológico sedutor. O setor produtivo possui condições para lançar bens de
consumo atrativos e, para manter o lucro, consegue reduzir a vida útil dos bens, praticando o
fenômeno da obsolescência programada e atingindo uma gama de efeitos negativos e
impactantes ao meio ambiente, principalmente no descarte do lixo econômico (ANDRADE;
LIMA, 2018, p. 1246).
32

3 RESPONSABILIDADE CIVIL APLICADA

O objetivo do presente capítulo é abordar o instituto da responsabilidade civil, as


diferentes teorias existentes e apresentar a teoria adotada no Brasil.
No primeiro momento, serão abordadas as noções introdutórias acerca do instituto da
responsabilidade civil, cujo objetivo é apresentar os requisitos necessários para a configuração
da obrigação de reparar. Na sequência, a apresentação dos princípios fundamentais do Direito
Ambiental, bem como seus conceitos doutrinários, suas especificidades e sua importância para
a responsabilização civil no Direito brasileiro.
Por último, serão apresentadas a “Responsabilidade Civil Ambiental Objetiva e a Teoria
do Risco integral” e a “Responsabilidade Civil Ambiental Compartilhada”, cujo objetivo é
demonstrar o entendimento doutrinário e jurisprudencial relativo à responsabilidade civil por
danos ambientais no Brasil.

3.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL

Segundo Gagliano e Pamplona Filho (2013, p. 51), a responsabilidade deriva da


transgressão de uma norma jurídica civil preexistente, impondo ao infrator a consequente
obrigação de indenizar o dano. Nas palavras de Rui Stoco:

A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem
do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de
responsabilizar alguém pelos seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo
meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o
dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo
social estratificado. Revela-se, pois, como algo inarredável da natureza humana
(STOCO, 2007, p. 114).

No mesmo preâmbulo, Maria Helena Diniz define a responsabilidade civil como:

A aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial


causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele
responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva),
ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva). (DINIZ, 1998, p.
34)

Portanto, no estudo da Responsabilidade Civil, fundamental de início mencionar os três


elementos que a compõem: conduta, dano, também denominado resultado ou prejuízo, e nexo
causal (MONTENEGRO, 1992).
33

De acordo com o artigo 927, caput, do Código Civil, “aquele que, por ato ilícito (arts.
186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. O artigo 186 do Código Civil
define como ato ilícito “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral” (BRASIL,
2002).
Além disso, o artigo 187 do Código Civil dispõe que “também comete ato ilícito o titular
de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes” (BRASIL, 2002).
Portanto, verifica-se que o primeiro elemento essencial para responsabilização civil é a
conduta humana, comissiva ou omissiva, e causadora de um dano ou prejuízo. No entendimento
de Maria Helena Diniz a conduta é:

A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo


ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável do próprio agente
ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem,
gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado (DINIZ, 2005, p. 43).

Nesse norte, no Direito atual, a tendência é não deixar a vítima da conduta sem
ressarcimento, de forma a reparar seus danos, tanto morais quanto patrimoniais. Assim elucida
Carlos Alberto Bittar:

O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica alheia acarreta ao agente a


necessidade de reparação dos danos provocados. É a responsabilidade civil, ou
obrigação de indenizar, que compele o causador a arcar com as consequências
advindas da ação violadora, ressarcindo os prejuízos de ordem moral ou patrimonial,
decorrente de fato ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado. (BITTAR, 1994, p.
561)

O segundo elemento caracterizador da responsabilidade civil é o dano. Sua existência é


requisito essencial para a responsabilidade civil. De mesmo modo entende o doutrinador Sérgio
Cavalieri:

O ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera conduta;
será sempre um delito material, com resultado de dano. Sem dano pode haver
responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil. Indenização sem dano
importaria enriquecimento ilícito; enriquecimento sem causa para quem a recebesse e
pena para quem a pagasse, porquanto o objetivo da indenização, sabemos todos, é
reparar o prejuízo sofrido pela vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava
antes da prática do ato ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda
evidência, não haverá o que ressarcir. Daí a afirmação, comum a praticamente todos
os autores, de que o dano é não somente o fato constitutivo mas, também,
determinante do dever de indenizar (CAVALIERI FILHO, 2008, p. 71).
34

Ainda, na explicação de Rui Stoco: “O dano é, pois, elemento essencial e indispensável


à responsabilização do agente, seja essa obrigação originada de ato ilícito ou de inadimplemento
contratual, independente, ainda, de se tratar de responsabilidade objetiva ou subjetiva.”
(STOCO, 2007, p. 128).
Segundo Réche (2009), para que o dano seja indenizável é necessária a existência de
alguns requisitos. Primeiramente é preciso que haja a violação de um interesse jurídico
patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou jurídica. Após, é necessário ter a
certeza do dano e a subsistência do dano, isto é, ele deve ser exigível no momento do
ajuizamento da ação, não cabendo aqui a indenização se o dano já foi reparado.
Caracterizado o dano, importante salientar que este se divide em duas espécies. Com
base em Ferreira (1986, p. 519), o termo “dano” provêm do latim damnum, e pode significar
mal ou ofensa pessoal, prejuízo moral. Por outro lado, também pode ser entendido como
prejuízo material causado a alguém pela deterioração ou inutilização de seus bens.
Conforme explica Nader (2016, p. 88):

O dano se diz patrimonial quando provoca a diminuição do acervo de bens materiais


da vítima ou, então, impede o seu aumento. Materializa-se por danos emergentes, com
a diminuição do patrimônio, ou por lucros cessantes, quando a vítima se vê impedida
da atividade que lhe traria proveito econômico.

Outrossim, Moraes (2003, p. 143-145) explica que dano patrimonial é a diferença entre
o que se tem e o que se teria, não fosse o evento danoso. O próprio significado da palavra
indenizar provém do latim in dene, que significa devolver o patrimônio ao estado anterior, isto
é, eliminar o prejuízo e suas consequências.
Desse modo, nota-se que o dano patrimonial pode ser dividido entre danos emergentes,
com a diminuição de seu patrimônio ou por lucros cessantes, quando a vítima é prejudicada em
uma atividade que lhe traria vantagem econômica.
Por outro lado, segundo Guedes (2019), o dano moral é uma lesão de interesse não
patrimonial, uma violação a um estado psíquico do indivíduo. Ainda que seja normalmente
vinculado à dor, ao sofrimento, à tristeza, o dano moral não está restrito a estes elementos.
Carlos Roberto Gonçalves, ao tratar sobre o tema, assevera que:

Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade,
intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X,
da Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e
humilhação (GONÇALVES, 2008, p. 359).
35

Da mesma maneira, para Cupis (1996), o dano moral não se esgota na dor, pois, como
lesão de um interesse não patrimonial, está intimamente ligado à violação do direito de
personalidade em forma e maneira tal que a prova de sua violação contém a prova de sua
existência.
Dessa forma, é certo afirmar que a dignidade da pessoa humana está diretamente ligada
ao dano, uma vez que é na sua extensão que a ordem encontra seu próprio sentido,
estabelecendo a origem e os limites da interpretação e da aplicação normativa (PIOVESAN,
2000, p. 90).
O terceiro elemento constitutivo da responsabilidade civil é o nexo causal. No Direito
brasileiro, Tepedino (2001, p. 3) entende que em todas as espécies de responsabilidade civil “o
dever de reparar depende da presença do nexo causal entre o ato culposo ou a atividade
objetivamente considerada, e o dano, a ser demonstrado”, especialmente, “por quem o alega
(onus probandi incubit ei qui dicit, non qui negat), salvo nas hipóteses de inversão do ônus da
prova previstas expressamente na lei, para situações específicas”.
Estabelecer o nexo causal é fundamental para qualquer tipo de responsabilização,
sobretudo na seara ambiental, visto que o nexo causal possui dupla função: é tanto elemento de
imputação de responsabilidade quanto delimitador do valor reparatório (CRUZ, 2005).
Ainda, destaca Alsina (1995, p. 217), que o nexo de causalidade “é um elemento
objetivo, pois relaciona, por meio de um vínculo externo entre o dano e o fato da pessoa ou
coisa”.
Nessa perspectiva, percebe-se que o nexo causal consiste no liame lógico entre os fatos
em uma relação de causa e de consequência. Na responsabilidade civil, a causa é sempre uma
conduta humana, uma vez que os eventos gerados pela natureza não ocasionam
responsabilização. A consequência, por outro lado, é sempre o dano sofrido por uma pessoa,
seja na área patrimonial ou moral (AYRÃO, 2010).

3.1.1 Princípios do Direito Ambiental

A partir da atual Constituição Federal, o direito civil foi constitucionalizado, passando


a ter a Constituição brasileira um papel preponderante quando da interpretação dos dispositivos
do Código Civil. Com efeito, os princípios constitucionais passaram a ser fortes instrumentos
e, consequentemente, refletiram no instituto da responsabilidade civil como fundamento legal.
A palavra princípio significa proposição elementar e fundamental que embasa um
determinado ramo de conhecimento ou proposição lógica em que se funda um pensamento
36

(DELGADO, 2005, p. 184). Além disso, consoante o ensinamento de Di Pietro (2010, p. 66),
“princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas que condicionam
todas as estruturações subsequentes”.
Na opinião de Canotilho (1999, p. 122), os princípios servem como critério de
interpretação e de integração do sistema jurídico, e desempenham um papel imediato ao serem
aplicados diretamente a uma relação jurídica. Para o autor, as três funções principais dos
princípios são impedir o surgimento de regras que lhes sejam contrárias, compatibilizar a
interpretação das regras e dirimir diretamente o caso concreto frente à ausência de outras regras.
Inicialmente, vale ressaltar que o presente trabalho visa a apresentar alguns dos
princípios que regem o Direito Ambiental brasileiro, pois exauri-los é tarefa árdua que não pode
ser realizada em tão poucas páginas, portanto, abordados aqui somente os principais para o
entendimento do objeto da obra: a obsolescência programada.
O meio ambiente é a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais
que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. A integração
busca assumir uma concepção unitária do ambiente compreensiva dos recursos naturais e
culturais (SILVA, 2002, p. 2).
De acordo com o artigo 225, da Carta Magna, o meio ambiente ecologicamente em
equilíbrio é um direito de todos, um direito fundamental, do qual irradiam todas as demais
interpretações que devem ter as normas ambientais. Observe-se o disposto no referido artigo:
“Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL,
1988).
Assim, ao dispor sobre o meio ambiente em seu artigo 225, a Constituição Federal
elenca dois princípios como fundamentais para o meio ambiente: o desenvolvimento
sustentável e a prevenção. Fiorillo (2009, p. 28) conceitua o princípio do desenvolvimento
sustentável da seguinte forma:

O princípio do desenvolvimento sustentável tem por conteúdo a manutenção das bases


vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo
igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente,
para que as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos
recursos que temos hoje à nossa disposição.

Outrossim, Sirvinskas (2009, p. 58) dispõe que esse princípio:


37

Procura conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento sócio-


econômico para a melhoria da qualidade de vida do homem. É a utilização racional
dos recursos naturais não renováveis. Também conhecido como meio ambiente
ecologicamente equilibrado ou ecodesenvolvimento.

Além disso, o artigo 170, inciso VI, da Magna Carta contempla o princípio do
desenvolvimento de forma sustentável dentre aqueles da ordem econômica. Veja-se: “VI -
defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto
ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.” (BRASIL,
1988)
Dessa forma, percebe-se que o princípio do desenvolvimento sustentável tem previsão
constitucional e ressalta a função interventiva do Estado na economia tanto no aspecto da
exploração direta da atividade econômica pelo Estado quanto pelo aspecto indireto por meio da
normatização e regulação da atividade econômica.
Outro princípio previsto na Constituição Federal, também mencionado no artigo 225, é
o princípio da prevenção. “É aquele que determina a adoção de políticas públicas de defesa dos
recursos ambientais como uma forma de cautela em relação à degradação ambiental” (ROCHA,
2003, p. 56-57).
Prevenir significa agir antecipadamente e, para que essa atuação seja possível, é
necessário que se tenha pesquisa e informação organizada, que se alteram de acordo com o
desenvolvimento tecnológico de cada país. (MACHADO, 2009, p. 92).
O princípio da prevenção consiste no dever jurídico, genérico e abstrato, de evitar o
impacto negativo sobre o meio ambiente. Neste sentido, caso haja conhecimento da
superveniência de um dano ambiental, deve, ele, ser evitado na perspectiva do princípio da
prevenção. Por outro lado, se existir apenas uma possibilidade, um perigo incerto de um dano,
a atividade também necessita ser prevenida, contudo, através da noção do princípio da
precaução, posteriormente analisado (TESSLER, 2004, p. 115-116).
O professor Paulo Affonso Machado divide em cinco itens a aplicação do princípio em
exame:

1°) identificação e inventário das espécies animais e vegetais de um território, quanto


à conservação da natureza e identificação das fontes contaminantes das águas e do
mar, quanto ao controle de poluição; 2°) identificação e inventário dos ecossistemas,
com a elaboração de um mapa ecológico; 3°) planejamentos ambiental e econômico
integrados; 4°) ordenamento territorial ambiental para a valorização das áreas de
acordo com a sua aptidão; 5°) Estudo de Impacto Ambiental (MACHADO, 2009, p.
84).
38

Assim, tendo em vista que o princípio da prevenção determina a adoção de políticas


públicas de defesa dos recursos ambientais como uma forma de combate a futuros problemas,
tal princípio possui papel significativo para a preservação do meio ambiente.
Ademais, a Declaração Universal sobre o Meio Ambiente já consagrou desde 1972 o
princípio da prevenção ao estabelecer no princípio 6, que:

Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais e, ainda, à


liberação de calor em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não
tenha condições para neutralizá-las, a fim de não se causar danos graves ou
irreparáveis ao ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países
contra a contaminação. (ONU, 1972)

Mais um princípio fundamental ao meio ambiente é o princípio da precaução, o qual


tem ligação direta com o princípio explicado anteriormente. O princípio da precaução tem como
fundamento, igualmente, a dificuldade ou impossibilidade de reparação da maioria dos danos
ao meio ambiente, distinguindo-se do princípio da prevenção por aplicar-se especificamente às
situações de incerteza científica (NOGUEIRA, 2004, p. 199).
Antunes (2005, p. 28) explica que o impedimento de uma determinada atividade com
base no princípio da precaução somente deve ocorrer se houver uma justificativa técnica
fundada em critérios científicos aceitos pela comunidade internacional, já que por vezes
opiniões isoladas e sem embasamento têm sido utilizadas como pretexto para a interrupção de
experiências e projetos socialmente relevantes.
Dessa forma, verifica-se que o princípio da precaução estabelece a vedação de
intervenções no meio ambiente, a não ser que haja uma certeza de que essas alterações não
causam reações adversas.
Importa destacar a Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, que instituiu o princípio do poluidor-pagador, a qual dispõe em seu princípio
16 que:

Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da
poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização
dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta
o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.
(ONU, 1992)

Da mesma forma, encontra previsão legal na Lei n. 6.938/81:

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


39

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar


os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais
com fins econômicos.

Nesse sentido, destaca Antunes (2005, p. 37):

O PPP [princípio do poluidor-pagador] parte da constatação de que os recursos


ambientais são escassos e o seu uso na produção e no consumo acarretam a sua
redução e degradação. Ora, se o custo da redução dos recursos naturais não for
considerado no sistema de preços, o mercado não será capaz de refletir a escassez. Em
assim sendo, são necessárias políticas públicas capazes de eliminar a falha de
mercado, de forma a assegurar que os preços dos produtos reflitam os custos
ambientais.

Benjamin (1993, p. 227) afirma que o princípio do poluidor-pagador visa a fazer com
que o empreendedor inclua nos custos de sua atividade todos as despesas relativas à proteção
ambiental. Assim, mesmo que indiretamente, todos os produtores irão arcar com o custo
decorrente da poluição.
Por outro lado, a Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento também dispõe sobre outro princípio, o princípio da responsabilidade, ao
estabelecer em seu princípio 13 que:

Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e


indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais. Os Estados devem
ainda cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de normas
de direito ambiental internacional relativas à responsabilidade e indenização por
efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por
atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle. (ONU, 1992)

Dessa forma, o princípio da responsabilidade prevê que o degradador assuma os riscos


de sua atividade, arcando com os prejuízos em matéria ambiental, tanto perante as pessoas com
quem se relacionou quanto perante a terceiros.
Além disso, esse princípio também está previsto no § 3º, do artigo 225 da Constituição
Federal, o qual dispõe que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (BRASIL, 1988).
Outro princípio estabelecido pela Constituição Federal é o princípio do limite, o qual
está previsto no inciso V, do § 1º, do artigo 225 da Constituição Federal e determina que é dever
do poder público “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (BRASIL,
1988).
40

De acordo com Milaré (2001, p. 114), esse princípio “resulta das intervenções
necessárias à manutenção, preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente”.
Desse modo, o advento em questão é de suma importância para o Direito Ambiental e
consiste na atuação do poder público, por meio de seu poder de polícia administrativa, para
limitar a atuação individual de utilização do meio ambiente, e, assim, assegurar o equilíbrio da
natureza.
Portanto, os princípios exercem uma função especialmente importante frente às outras
fontes do Direito Ambiental, visto que além de incidir como regra de aplicação, também
influenciam na produção das demais fontes do Direito.

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL OBJETIVA E A TEORIA DO RISCO


INTEGRAL

O instituto da Responsabilidade Civil Objetiva à reparação dos danos impõe ao


responsável pelo ato danoso a obrigação de fazer e a obrigação de não fazer (deixar de lançar
produtos obsoletos, por exemplo), bem como a indenização pelos prejuízos sofridos pelas
vítimas em vista do fato gerador do dano (BUHRING, 2018).
Originalmente, a responsabilidade objetiva exige a reparação do dano
independentemente de culpa, responsabilizando o agente por todo ato do qual fosse a causa
material. Não indaga o porquê do evento danoso, a indenização é devida somente ao fato de
existir a atividade da qual adveio o prejuízo, não admitindo excludentes de responsabilidade,
como caso fortuito ou força-maior, a ação de terceiros ou da própria vítima, baseado na teoria
de que essas são condições do evento (STEIGLEDER, 2004, p.198).
No caso da responsabilidade ambiental, Vieira e Rezende (2015, p. 71-72) explicam:

[...] o sujeito passivo, ou seja a vítima, é a coletividade, e o objeto do prejuízo é o


próprio meio ambiente. Por se tratar de um direito difuso, a proteção ao meio ambiente
é ampla. Isto porque os bens protegidos vão além dos naturais, pois a tutela contempla
o meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho.

Segundo o artigo 14, §1º, da Lei n. 6.938/1981, em matéria ambiental, e adotando a


teoria da responsabilidade civil objetiva, não há o que se falar em culpa: “Art. 14 – [...] § 1º
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.” (BRASIL, 1981).
41

Como demonstrado, além da Lei n. 6.938/1981, a Constituição Federal de 1988 e o


Código Civil de 2002 também completaram a temática ambiental iniciada, bem como
respeitaram o compromisso assumido na Convenção de Estocolmo de 1972, de buscar o meio
ambiente equilibrado e a harmonização da qualidade de vida com o meio ambiente.
Nesta mesma linha de pensamento, há de se ressaltar que atualmente o Código Civil
brasileiro, em seu artigo 927, parágrafo único, prevê que: “Art. 927. [..] Parágrafo único. Haverá
obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem.” (BRASIL, 2002)
Portanto, a legislação brasileira exige em diversas normas a proteção do meio ambiente
e a responsabilização dos agentes por seus atos danosos e degradadores à natureza. Na teoria
objetiva, Machado (2000, p. 273) assevera que:

Não se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor, mas a ocorrência do resultado


é prejudicial ao homem e seu ambiente. A atividade poluente acaba sendo uma
apropriação pelo poluidor dos direitos de outrem, pois na realidade a emissão poluente
representa um confisco do direito de alguém respirar ar puro, beber água saudável e
viver com tranquilidade [...].

Além disso, no que tange à Lei n. 6.938/1981, não há restrição do regime de


responsabilidade objetiva às atividades perigosas, portanto, a responsabilidade pelo risco
aplica-se tanto aos danos gerados por atividade perigosa como àqueles desencadeados por uma
atividade profissional qualquer, partindo-se da premissa de que quem exerce uma atividade
econômica deve arcar com todos os custos atinentes à prevenção e à reparação dos danos
ambientais (STEIGLEDER, 2004, p. 201).
No âmbito jurídico, o STJ tem adotado um entendimento de reconhecimento da inversão
do ônus da prova processual contra o suposto poluidor, para que ele demonstre que sua atividade
não causa danos ao meio ambiente, devendo o empreendedor comprovar que o meio ambiente
e a coletividade não estão sujeitos a riscos ou a ameaças de dano (WEDY, 2017).
Restando comprovado que a atividade empresarial é lesiva e causadora de danos ao meio
ambiente, o STJ adotou a teoria do risco integral na verificação do dano ambiental. Basta a
prova do dano e do nexo causal para que esteja presente o dever de indenizar (WEDY, 2017).
Neste preâmbulo, destacam Vieira e Rezende (2015, p. 72):

Cumpre destacar que a responsabilidade oriunda do dano ambiental é objetiva em


função do respeito ao meio ambiente se for baseada em princípios sociais, com caráter
difuso, e não individual. Sendo assim, como a culpa é pressuposto para a proteção do
42

indivíduo, não pode ser inserida no contexto de proteção social do meio ambiente,
direito e responsabilidade de todos, governo e sociedade.

Na mesma linha de entendimento da responsabilidade civil objetiva, a teoria do risco


integral consolida de forma jurisprudencial a forma de responsabilidade. Compreende que o
empreendedor responde por todos os riscos de danos decorrentes de suas atividades, incluindo
riscos originados de quaisquer fatos que, sem sua existência, não ocorreriam (MONTENEGRO,
2005, p. 112).
Cunha Júnior (2008, p. 325) afirma:

É a teoria do risco que serve de fundamento para a idéia de responsabilidade objetiva


ou sem culpa do Estado. Ela toma por base os seguintes aspectos: (1) o risco que a
atividade administrativa potencialmente gera para os administrados e (2) a
necessidade de repartir-se, igualmente, tanto os benefícios gerados pela atuação
estatal à comunidade como os encargos suportados por alguns, por danos decorrentes
dessa atuação. Assim, em suma, e como próprio nome sugere, essa teoria leva em
conta o risco que a atividade estatal gera para os administrados e na possibilidade de
causar danos a determinados membros da comunidade, impingindo-lhes um ônus não
suportado pelos demais. Para compensar essa desigualdade, todos os demais membros
da comunidade devem concorrer, através dos recursos públicos, para a reparação dos
danos.

A teoria do risco integral preconiza o pagamento pelos danos causados, mesmo tratando-
se de atos regulares, intencionais ou não, praticados por agentes no exercício regular de suas
funções (CRETELLA, 1972, p. 69).
Em outra vertente, sobre a aplicação da teoria do risco integral na responsabilidade civil
por dano ambiental, colhe-se da doutrina de Milaré (2001, p. 428):

A vinculação da responsabilidade objetiva à Teoria do Risco Integral expressa a


preocupação da doutrina em estabelecer um sistema de Responsabilidade o mais
rigoroso possível, ante o alarmante quadro de degradação que se assiste não só no
Brasil, mas em todo o mundo. Segundo essa doutrina do Risco Integral, qualquer fato
culposo ou não culposo, impõe ao agente a reparação, desde que cause um dano.

Por outro lado, há doutrinadores, como Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, que rogam
severas críticas à admissão da Teoria do Risco Integral no Direito brasileiro, as quais merecem
transcrição como se segue:

[…] não se pode considerar correta a afirmação simplista e precipitada de que a teoria
do risco administrativo suscita obrigação indenizatória só do ato lesivo e injusto
causado à vítima. Bem diversos são os fundamentos dessa teoria. A responsabilidade
objetiva pela teoria do risco administrativo exige a ocorrência do nexo de causalidade
entre a atividade do Estado e o dano causado como conseqüência. Se não houver esse
nexo, exigir-se-á o Estado de qualquer responsabilidade. Porém, na concepção
43

doutrinária da teoria do risco, jamais se preconizou a responsabilidade do Estado em


todo e qualquer caso de dano suportado pelo particular ou se cogitou da
impossibilidade de se investigar a causa do evento danoso. Assim, nas situações em
que há o fato (ou culpa, como querem alguns doutrinadores) da vítima ou a força
maior, reconhecidas pacificamente pela doutrina como causas excludentes da
responsabilidade ou situações perturbadoras do liame de causalidade, sob rigor lógico,
não foi o Estado quem deu causa ao resultado lesivo, inexistindo liame de causalidade
entre a atividade estatal e o dano verificado, portanto, exonerando o Estado do dever
indenizatório, sendo estes os fundamentos científicos da moderna responsabilidade
objetiva do Estado apoiada na teoria publicista do risco administrativo. (DIAS, 2004,
p. 165)

No entanto, apesar das divergências doutrinárias, Vieira e Rezende (2015) esclarecem


que está pacificado que aquele que provoca o dano, ou até mesmo contribui para sua existência,
deve ser responsabilizado, independentemente de não ter a intenção ou a consciência de que o
fato possa ocorrer.
A produção de resíduos sólidos e seu descarte ambientalmente incorreto é um problema
atual e relevante. Vive-se em uma sociedade de risco na qual é criada a ficção de um Estado de
Direito Ambiental para gerir essa complexidade. Sendo assim, é imprescindível a utilização de
mecanismos para responsabilizar os causadores.
Portanto, os danos causados pela obsolescência programada são passíveis de
responsabilização ambiental, uma vez que a técnica de programar a diminuição da vida útil do
produto gera imensuráveis impactos ao meio ambiente, em função da exploração dos recursos
naturais e de toneladas de resíduos produzidas em decorrência do pós-consumo (VIEIRA;
REZENDE, 2015).

3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL COMPARTILHADA

A responsabilidade ambiental abrange não apenas o dano causado ao bem ou recurso


ambiental imediatamente atingido, como também toda a extensão dos danos produzidos em
consequência do fato danoso à qualidade ambiental (CUSTÓDIO, 1990).
Nesse sentido, o combate à obsolescência programada pode ser baseado nos princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana, direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem como nos princípios ambientais e na responsabilidade ambiental objetiva. No
entanto, um novo instituto foi criado para combater essa estratégia: a responsabilidade
ambiental compartilhada.
A responsabilidade ambiental compartilhada está fundamentada na Constituição Federal
da República, em seu artigo 225, o qual estabelece que cabe ao poder público e à coletividade
44

defender e preservar o meio ambiente, tanto para a presente quanto para as futuras gerações
(BRASIL, 1988).
Posteriormente, a responsabilidade compartilhada foi elencada pela Lei n. 12.305/2010,
também conhecida como “Política Nacional de Resíduos Sólidos” (PNPS), em seu inciso XVII,
do artigo 3º, e inciso VII, do artigo 6º. Veja-se:

Art. 3 o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de
atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de
resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à
saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos
termos desta Lei; (BRASIL, 2010).

Art. 6 o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; (BRASIL,
2010)

Portanto, tendo em vista que todos os indivíduos que passaram pelo ciclo de vida do
produto são responsáveis pela destinação correta destes, o gerador de resíduos só terá sua
responsabilidade suspensa a partir do momento em que lhes der a destinação final
ambientalmente adequada.
A autora Maria Carolina de Melo Santos explica o instrumento da seguinte forma:

A responsabilidade compartilhada, definida pela lei como uma sucessão de obrigações


encadeadas e individualizadas, impõe tanto ao setor empresário quanto ao consumidor
e também ao Poder Público uma série de atribuições necessárias para que possam
proceder à destinação ambientalmente adequada do lixo. (SANTOS, 2015, p. 250)

Analisando a Lei n. 12.305/2010, verifica-se que estão presentes na cadeia da


responsabilidade compartilhada, instituída pelo artigo 30, os fabricantes, os importadores, os
distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos (BRASIL, 2010).
Acerca do assunto, dispõe Santos (2015, p. 260):

[...] observa-se que, se para que haja relação de consumo é necessária a presença de
ambos (fornecedor e consumidor), para que se evite ou repare os danos ambientais
oriundos de tal prática deve-se exigir, na mesma medida, a participação de ambas as
partes. Com efeito, a PNRS considera como geradores de resíduos todas as pessoas,
físicas ou jurídicas, particulares ou públicas, que, por meio de suas atividades,
produzem resíduos, advertindo, a lei, que aqui se encontra incluído o consumo.
45

A responsabilidade civil solidária caracteriza-se pelo “[...] concurso de agentes na


prática de um ato ilícito. Tal concurso se dá quando duas ou mais pessoas praticam o ato
ilicitado. Surge, então, a solidariedade dos diversos agentes assim definida no artigo 942,
segunda parte do Código Civil [...]” (GONÇALVES, 2002, p. 131).
Extrai-se do artigo 942, caput, do Código Civil, que: “Art. 942. Os bens do responsável
pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se
a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.” (BRASIL,
2002)
Assim, importante salientar que diferentemente da responsabilidade solidária presente
nos casos de danos ambientais, a responsabilidade compartilhada distribui deveres de modo
individual, sem esquecer que o exercício perfeito da destinação final necessita das ações de
todos os agentes (SANTOS, 2017, p. 95).
No entanto, no caso de dano ambiental pós-consumo, “ficam corresponsáveis por
reparar o ocorrido, solidária e objetivamente, todos os presentes no ciclo de vida do produto,
uma vez que a todos incumbe o dever de zelar pelo meio ambiente, contribuindo com a
destinação ambientalmente adequada dos resíduos” (SANTOS, 2015, p. 266).
O parágrafo único do artigo 30 da referida lei estabelece como objetivo da
responsabilidade compartilhada os seguintes pontos:

Art. 30 [...]
Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos
tem por objetivo:
I - compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de
gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo
estratégias sustentáveis;
II - promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia
produtiva ou para outras cadeias produtivas;
III - reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os
danos ambientais;
IV - incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de
maior sustentabilidade;
V - estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos
derivados de materiais reciclados e recicláveis;
VI - propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade;
VII - incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental. (BRASIL, 2010)

Esses objetivos envolvem a sociedade em uma discussão de temas como reavaliação


dos padrões de consumo, reciclagem de materiais, oportunidades de novos negócios com viés
socioambiental, ecodesign, diminuição dos impactos ambientais inerentes ao modo de vida
atual e inclusão social.
46

Além disso, o artigo 31 da lei em questão estabelece que os sujeitos indicados terão
responsabilidade nos seguintes casos:

Art. 31. Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de


resíduos sólidos e com vistas a fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus
objetivos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm
responsabilidade que abrange:
I - investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de
produtos:
a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra
forma de destinação ambientalmente adequada;
b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;
II - divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os
resíduos sólidos associados a seus respectivos produtos;
III - recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como
sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos
objeto de sistema de logística reversa na forma do art. 33;
IV - compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o
Município, participar das ações previstas no plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos, no caso de produtos ainda não inclusos no sistema de logística
reversa. (BRASIL, 2010)

De acordo com o inciso I, do artigo 31, os sujeitos destacados têm total responsabilidade
no investimento, no desenvolvimento, na fabricação e na colocação do produto no mercado.
Extrai-se, pois, deste artigo, a possibilidade de responsabilização da obsolescência programada,
uma vez que a técnica tem sido desenvolvida para estimular o consumo em razão da diminuição
da durabilidade dos produtos.
Ademais, as alíneas “a” e “b” do inciso I determinam que a responsabilidade abrange a
reutilização, reciclagem e que o uso do produto gere a menor quantidade de resíduos sólidos
possíveis. Contudo, ao contrário disso, a obsolescência programada aumenta significativamente
a quantidade de resíduos sólidos e se torna impossível de reutilização, visto que o produto é
criado com o objetivo de ficar obsoleto antes do tempo e ser descartado sem possibilidade de
conserto.
Outrossim, o artigo 33, do dispositivo que instituiu a PNRS, determina que os
responsáveis são obrigados a estruturar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos
produtos após o uso pelo consumidor. Nesse viés, o inciso VI destaca que os produtos
eletroeletrônicos e seus componentes devem contar com essas medidas:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa,


mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente
do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes de:
[...]
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes. (BRASIL, 2010)
47

Portanto, sabendo que a técnica da obsolescência programada é uma das grandes


causadoras de lixo eletrônico, tais medidas deveriam estar sendo aplicadas para combatê-la e,
em especial, extingui-la.
Do mesmo modo entende Santos (2015, p. 253-254):

Nesse contexto, considerando ser o Brasil um país no qual se faz presente tanto o
incentivo aos desenvolvimentos industrial e tecnológico quanto as desigualdades
(econômica, social e educacional), a preocupação com normas e procedimentos que
tracem balizas à exploração dos recursos naturais, e do meio ambiente de forma geral,
é ainda mais urgente. A PNRS é um dos instrumentos voltados a tais fins. Responsável
por regulamentar o manejo e gerenciamento de diversos tipos de resíduos produzidos
pelas atividades humanas, o referido diploma legal desempenha um papel
fundamental na proteção e recuperação do meio natural.

Eco (1993 apud AMORIM, 2008, p. 67) afirma que “encontramos o meio de eliminar a
sujeira, mas não de eliminar os resíduos. Porque a sujeira nascia da indigência, que podia ser
reduzida, ao passo que os resíduos [...] nascem do bem-estar que ninguém quer mais perder”.
Dessa forma, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos exige
atitudes individualizadas e encadeadas de cada um dos agentes envolvidos, é um importante
instrumento na solução de um dos maiores desafios que a sociedade encara atualmente em
relação à geração excessiva de resíduos, e sua criação trouxe a possibilidade de punir os sujeitos
responsáveis por essa técnica que já se mostrou prejudicial ao meio ambiente.
Cada um tem seu papel a cumprir, mas para isso é necessário que cada indivíduo saiba
o que deve ou não fazer. Para que a responsabilidade compartilhada seja possível, é
imprescindível que haja informação e orientação. Desse modo, fornecer o máximo de
informação possível ajuda a entender os impactos decorrentes desse fenômeno e, assim,
diminuir a prática da obsolescência programada.
48

4 IMPACTOS DECORRENTES DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E


ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL ACERCA DA RESPONSABILIDADE
CIVIL AMBIENTAL

A responsabilidade ambiental, estabelecida nos já citados dispositivos constitucionais e


infraconstitucionais, “imputa a reparabilidade integral do dano ambiental, isto porque o agente
assume o risco de sua atividade, bem como todos os ônus dela decorrentes” (VIEIRA;
REZENDE, 2015, p. 72).
No capítulo anterior, restaram demonstrados os instrumentos legais utilizados para
responsabilizar os causadores de danos ambientais, tais como: princípios ambientais,
responsabilidade civil objetiva e responsabilidade civil compartilhada.
No presente capítulo, serão analisados os impactos causados pela obsolescência
programada ao meio ambiente, o debate da pauta na Conferência das Nações Unidas sobre o
meio ambiente e desenvolvimento e as diretrizes da Lei da PNRS. Por fim, será demonstrada a
orientação jurisprudencial acerca da responsabilidade civil ambiental e seu posicionamento
atual diante da técnica da obsolescência.
Bauman (2008, p. 45) reflete sobre a situação:

Novas necessidades exigem novas mercadorias, que por sua vez exigem novas
necessidades e desejos; o advento do consumismo augura uma era de ‘obsolescência
embutida’ dos bens oferecidos no mercado e assinala um aumento espetacular na
indústria da remoção do lixo.

Vieira e Rezende (2015, p. 74) explicam que “não restam dúvidas de que a estratégia
empresarial de programar a diminuição da vida útil do produto é danosa ao meio ambiente, e
portanto, deve sofrer retaliação, imputando a responsabilidade civil ambiental decorrente do
dano ambiental”.
Assim, sabendo que o meio ambiente é um direito fundamental garantido a todos, e que
deve ser preservado e sustentado de forma a resguardá-lo, importante entender quais os
impactos que a técnica vem causando ao planeta e como os tribunais responsabilizam os autores
desse fenômeno.
49

4.1 IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA OBSOLESCÊNCIA


PROGRAMADA

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) define que os


equipamentos eletroeletrônicos são “todos aqueles produtos cujo funcionamento depende do
uso de corrente elétrica ou de campos eletromagnéticos” (ABDI, 2013, p. 17).
Esses produtos se dividem em quatro grandes categorias: linha branca (refrigeradores e
congeladores, fogões, lavadoras de roupa e louça), linha marrom (monitores e televisores de
tubo e aparelhos de DVD), linha azul (batedeiras, liquidificadores e ferros elétricos) e linha
verde (computadores, tablets e telefones celulares) (ROSSINI; SANCHES, 2017, p. 61).
Rossini e Sanches (2017, p. 61) ressaltam que:

Ao final da vida útil, esses produtos tornam-se resíduos de equipamentos


eletroeletrônicos (REE) que são compostos de plásticos, vidros, componentes
eletrônicos, mais de vinte tipos de metais pesados e outros, cujas concentrações podem
ser microscópicas ou de grande escala, sendo que cada um deles exige um
procedimento de extração diferenciado.

De acordo com o relatório da Plataforma para Aceleração da Economia Circular (PACE)


e da Coalizão das Nações Unidas sobre Lixo Eletrônico, divulgado em Davos, Suíça, no ano de
2019, “o nível de produção de lixo eletrônico global deverá alcançar 120 milhões de toneladas
ao ano de 2050 se as tendências atuais permanecerem” (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2019).
De acordo com o site Nações Unidas Brasil (2019):

O relatório revela o valor anual de lixo eletrônico global como superior a 62,5 bilhões
de dólares, mais que o PIB [Produto Interno Bruto] de muitos países. Mais de 44
milhões de toneladas de lixo eletrônico e elétrico foram produzidas globalmente em
2017 – equivalente a mais de 6 quilos para cada habitante do planeta. Isto é o
equivalente ao peso de todos os aviões comerciais já produzidos. Menos de 20% do
lixo eletrônico é formalmente reciclado, com os 80% restantes indo para aterros ou
sendo informalmente reciclados – em grande parte manualmente em países em
desenvolvimento, expondo trabalhadores a substâncias perigosas e cancerígenas como
mercúrio, chumbo e cádmio. A presença de lixo eletrônico em aterros contamina o
solo e os lençóis freáticos, colocando em risco sistemas de fornecimento de alimentos
e recursos hídricos.

Ademais, importante frisar que “além de impactos à saúde e poluição, gestão imprópria
de lixo eletrônico está resultando em uma perda significativa de materiais brutos escassos e
valiosos, como ouro, platina, cobalto e elementos terrestres raros” e ainda que “até 7% do ouro
do mundo podem estar atualmente em lixo eletrônico, com 100 vezes mais ouro em uma
50

tonelada de lixo eletrônico do que em uma tonelada de minério de ouro” (NAÇÕES UNIDAS
BRASIL, 2019).
Pois bem, nota-se que inúmeros são os impactos dos lixos eletrônicos, desde a
contaminação de solo e lenções freáticos, colocando em risco o sistema de fornecimento de
alimentos e água, até a perda de materiais valiosos e escassos, como, por exemplo, o ouro.
Ao longo do trabalho, verifica-se que o consumo exagerado, estimulado pelo fenômeno
da obsolescência programada, é um dos causadores de lixos eletrônicos. No entanto, o ato de
consumir em si não é o problema. O consumo é necessário para a sobrevivência de toda e
qualquer espécie. O problema é quando o consumo de bens e serviços sucede de forma
exagerada, levando à exploração excessiva de recursos naturais, interferindo no equilíbrio do
planeta.
A publicidade tem grande importância neste dilema, pois sua função é persuadir visando
a um consumo dirigido e direcionado. Contudo, ela acabou sendo utilizada por grandes
empresas como um instrumento de estímulo ao descarte de produtos que, tecnicamente estavam
em condições perfeitas de uso, mas visualmente se tornavam obsoletos para a sociedade. Essa
técnica é chamada de obsolescência programada de desejabilidade.
Outrossim, a obsolescência programada de qualidade também é um dos fenômenos
causadores do lixo eletrônico. No presente trabalho restou demonstrada a utilização dessa
técnica para diminuir a vida útil dos produtos e acelerar a compra de novas mercadorias. Dessa
forma, grandes empresas descobriram uma forma de fazer com que as pessoas busquem novos
itens em um curto tempo de uso, acarretando descarte de lixos eletrônicos sem necessidade,
pois poderiam ser utilizados por mais tempo.
Ao relacionar o fenômeno da obsolescência programada ao meio ambiente, Bergstein
(2014, p. 3) alerta:

[...] uma das contra-partidas para atenuar os efeitos socioambientais maléficos


decorrentes do consumo desmedido e irresponsável da era pós-moderna é,
paradoxalmente, a disseminação do consumo, posto que inerente à existência humana
em sociedade, mas um consumo que seja consciente das suas consequências e
impactos. E isso implica obstar as tentativas de conduzir o consumidor a uma compra
artificialmente prematura.

Do mesmo modo, acerca dos impactos ambientais decorrentes desse fenômeno, elucida
Santos (2017, p. 8-9):

As ameaças ambientais presentes na sociedade de risco entrelaçam-se de modo mais


contundente com o fenômeno do consumismo diante da presença de práticas de
51

mercado que corroboram com a exploração do ambiente e de seus recursos de modo


desbalanceado e irresponsável. Aqui, salta aos olhos a chamada obsolescência
programada, prática em que se tem por único escopo o incentivo à aquisição de novos
bens, cuja engrenagem movimenta-se por meio da promoção do perecimento
propositadamente antecipado dos produtos outrora adquiridos. A obsolescência
programada ganha impulso principalmente no contexto atual, diante dos constantes
avanços tecnológicos e científicos. Vale-se, de tal modo, do uso abusivo de um
conhecimento que, em tese, deveria contribuir para a promoção da qualidade de vida
de modo expansivo e benéfico. Nada obstante, acaba por alimentar uma sociedade de
consumo em que as necessidades mercadológicas exigem artifícios que usufruem
indistintamente dos recursos naturais, contribuindo para o aumento da vulnerabilidade
do ambiente.

Sob o aspecto ambiental, a obsolescência programada se mostra como catalisador da


degradação da natureza, destacando a extração descontrolada de seus recursos e o estímulo ao
descarte contínuo de produtos, aumentando exponencialmente o montante de resíduos sólidos
(SANTOS, 2017).
A Agenda 21 propõe uma mudança comportamental no consumo e na produção de
produtos, a partir do estímulo dos governos aos grupos de consumidores, indivíduos e famílias
através da “[...] oferta de informações sobre as consequências das opções e comportamentos de
consumo, de modo a estimular a demanda e o uso de produtos ambientalmente saudáveis”
(ONU, 1992).
Como alternativa, o consumo sustentável, portanto, diz respeito à compreensão por parte
dos indivíduos, na posição de cidadãos consumidores, dos impactos e das consequências de seu
consumo sobre o meio ambiente e o desenvolvimento justo da sociedade.
Para tanto, deve-se fomentar e desenvolver a educação ambiental, conforme salienta
Ortigoza (2007, p. 61-62):

Despertar um consumo ecologicamente consciente é a grande meta para se atingir o


consumo sustentável; para tanto, é necessário desenvolver hábitos de consumo mais
responsáveis e que apresentem um menor volume de desperdício. Esse processo, que
é extremamente assentado em uma educação ambiental, almeja primeiramente a
redução, afinal nem tudo o que consumimos é realmente necessidade. Posteriormente,
mas não menos importante, é educar para a reutilização, pois muitos dos produtos que
consumimos podem servir para novos usos. A introdução dessa prática em nossas
vidas também minimiza o impacto dos descartáveis. E atrelada a esses objetivos está
a necessidade de reciclar os produtos já utilizados, ou seja, introduzi-los novamente
no sistema produtivo de forma que se transformem em novos produtos.

Dessa forma, mitigar os efeitos da obsolescência programada é proteger o consumidor


não só de seu direito fundamental ao consumo, mas também ao direito fundamental a um meio
ambiente saudável. A compatibilização entre direito, sustentabilidade e educação é de extrema
52

importância para vivenciar o consumo sustentável. Tal expressão significa a necessidade de


aproximar dois conceitos que nasceram separados: consumo e meio ambiente.

4.1.1 Da Rio92 à Rio+20: debate acerca do meio ambiente

Conforme visto no tópico anterior, o ideal de tornar o atual paradigma de


desenvolvimento hegemônico sustentável foi instituído e legitimado na Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio92 – notadamente por meio da Agenda
21, um programa global elaborado e aprovado por todos os países membros (MORAES, 2015).
Apesar de não ter força vinculante, este documento possui relevante valor político e
social, caracterizando uma verdadeira declaração de intenções de amplitude mundial em relação
ao meio ambiente. Por meio da Agenda 21, foram desenvolvidos diversos programas e
estratégias nos diversos países participantes, objetivando a solução dos problemas ambientais.
Ante a problemática da produção e consumo destrutivos característicos da economia
crescimentista da sociedade de consumo, a Agenda 21 logrou êxito em tratar de diversos pontos
ao longo do documento, como o combate à pobreza, dinâmica demográfica e sustentabilidade,
entre outros. No entanto, reservou o capítulo 4, da seção I, exclusivamente para análise dos
padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente em países industrializados.
Assim, o capítulo 4 foi dividido em duas fases, a primeira destinada à compreensão dos
padrões insustentáveis de produção e consumo, e a segunda ao desenvolvimento de políticas e
estratégias nacionais de estímulo a mudanças desses padrões (ONU, 1992, p. 24). Melhor
dizendo, o documento propõe inicialmente uma análise dos métodos de consumo atuais, para
assim indicar políticas e estratégias que possam ser desenvolvidas para o combate a esses
padrões insustentáveis.
O programa, de plano, destaca que embora enquanto nos países mais ricos do mundo há
uma demanda excessiva e estilo de vida insustentáveis, que exercem diversas ações destrutivas
ao meio ambiente, nos mais pobres não estão sendo atendidas as necessidades básicas de
qualidade de vida, como alimentação, saúde e moradia (item 4.5) (ONU, 1992, p. 24). Frisa,
ainda, que “a mudança dos padrões de consumo exigirá uma estratégia multifacetada centrada
na demanda, no atendimento das necessidades básicas dos pobres e na redução do desperdício
e do uso de recursos finitos no processo de produção”. (ONU, 1992, p. 24)
Assim, com o intuito de reverter esse quadro, propõe algumas medidas como: promover
padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam às necessidades
básicas, desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumo, atividades relacionadas
53

ao gerenciamento e promoção de padrões de consumo sustentáveis por parte de todos os países.


(ONU, 1992, p. 24)
Já quanto às atividades atinentes à obtenção de dados e informações, destaca-se a
sugestão que o documento faz:

4.11. Convém ainda considerar os atuais conceitos de crescimento econômico e a


necessidade de que se criem novos conceitos de riqueza e prosperidade, capazes de
permitir melhoria nos níveis de vida por meio de modificações nos estilos de vida que
sejam menos dependentes dos recursos finitos da Terra e mais harmônicos com sua
capacidade produtiva. Isso deve refletir-se na elaboração de novos sistemas de
contabilidade nacional e em outros indicadores do desenvolvimento sustentável.
(ONU, 1992, p. 24)

Além disso, acerca do papel do Governo neste combate, o documento (ONU, 1992, p.
24) elucida que:

4.22. Além disso, os Governos também devem estimular o surgimento de um público


consumidor informado e auxiliar indivíduos e famílias a fazer opções ambientalmente
informadas das seguintes maneiras:
(a) Com a oferta de informações sobre as conseqüências das opções e comportamentos
de consumo, de modo a estimular a demanda e o uso de produtos ambientalmente
saudáveis;
(b) Com a conscientização dos consumidores acerca do impacto dos produtos sobre a
saúde e o meio ambiente por meio de uma legislação que proteja o consumidor e de
uma rotulagem com indicações ecológicas;
(c) Com o estímulo a determinados programas expressamente voltados para os
interesses do consumidor, como a reciclagem e sistemas de depósito/restituição.
[...]

Após a Agenda 21, 10 (dez) anos depois foi realizada em Joanesburgo, no ano de 2002,
a Rio+10, a qual resultou em dois documentos, a “Declaração Política” e o “Plano de
Implementação”, o primeiro para admitir que os objetivos traçados pela Rio92 não haviam sido
cumpridos e o segundo com metas para se alcançar o desenvolvimento sustentável. (LEFT,
2006, p. 138).
Assim, no capítulo III, o Plano de Implementação de Joanesburgo propôs o incentivo e
a promoção de um programa de 10 (dez) anos para apoiar as iniciativas regionais e nacionais
de aceleração do processo de alteração dos padrões de produção e consumo (ONU, 2002, p. 6).
Seguindo nessa evolução da discussão acerca dos padrões de produção e consumo, 10
(dez) anos depois da Conferência da Rio92, a cidade do Rio de Janeiro, em 2012, sediou a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), cujos resultados
não foram nada positivos.
54

O documento final da Conferência, denominado “O futuro que queremos”, reafirmou a


necessidade de alteração dos padrões de produção e consumo, adotando, novamente, o plano
de ação de 10 (dez) anos do Plano de implementação de Joanesburgo (JPOI), ressaltando,
contudo, que as metas ali incluídas possuíam caráter facultativo (ONU, 2012, p. 45).
Dessa forma, percebe-se que a Conferência da Rio+20 não logrou êxito em inovar nada,
tão somente reafirmou o que já havia sido dito na Conferência de 2002, deixando, ainda, de
forma facultativa o cumprimento do plano e as mudanças dos padrões de produção e consumo.
No contexto internacional, apesar de não terem caráter vinculativo, as normas ditadas
pelas Conferências foram criadas com o intuito de serem superados os atuais padrões, em
especial, nas questões de durabilidade dos produtos, qualidade dos bens e serviços, e dos
processos produtivos (MORAES, 2015, p. 138).
Portanto, embora não tenham caráter vinculativo, tais documentos ofereceram aos
aplicadores do Direito amplo apoio teórico e técnico na aplicação da legislação brasileira. Além
disso, neste tópico foi possível perceber a ausência de evolução na mudança padrões de
produção e consumo, pois mesmo após 10 (dez) anos de imposição do plano, os países
precisaram reforçar novamente essa ideia, ainda que sem sucesso nos anos anteriores.

4.2 LEI DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Após 21 (vinte e um) anos de tramitação no Congresso Nacional, a PNRS foi instituída
pela Lei n. 12.305/10 e denominou os princípios, objetivos, instrumentos e as diretrizes relativas
à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, bem com as responsabilidades dos
geradores e do poder público (BRASIL, 2010).
Importante ressaltar que, embora a lei trate de uma política voltada para a gestão dos
resíduos sólidos de forma coerente, mostra uma visão sistemática ao tratar de questões
englobando todo o ciclo de vida dos produtos e deixa clara, em seus objetivos, a necessidade
de priorizar a não geração e a redução da produção de resíduos sólidos (MORAES, 2015, p.
146-147).
De plano, insta salientar que o artigo 6º da referida lei consigna expressamente como
princípios da PNRS, por exemplo, o princípio da prevenção e precaução, do poluidor-pagador,
do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos (BRASIL, 2010).
Em decorrência desses princípios, a lei define como alguns dos seus objetivos:
55

Art. 7º São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;
II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos,
bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e
serviços;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de
minimizar impactos ambientais;
V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
[...] (BRASIL, 2010)

Nesse sentido, percebe-se como o fenômeno da obsolescência programada vai


totalmente contrário aos objetivos da PNRS, uma vez que fere a qualidade ambiental, gera
inúmeros resíduos sólidos, não se comporta como padrão sustentável de produção e consumo
dos bens, bem como possui alto volume de periculosidade em seus resíduos, tratando-se de
produtos eletrônicos.
No presente trabalho não será feita uma análise mais aprofundada dos objetivos da
referida lei, uma vez que não é o objeto do estudo aqui realizado. Apenas necessário alertar para
a importância desta lei que levou vinte anos sendo “gestada” e, se for aplicada de forma eficaz,
deve levar menos tempo para responsabilizar todos os atores da cadeia de consumo desde a
concepção até a destinação final dos produtos.
Entre os instrumentos de desenvolvimento econômico aplicáveis, a lei traz a
denominada logística reversa que, segundo o artigo 3°, inciso XII:

[...] é instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um


conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu
ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente
adequada. (BRASIL, 2010)

Segundo Silva (2012, p. 193), o instituto da logística reversa:

[...] trata-se da responsabilidade pós-consumo dos produtores de resíduos sólidos,


instrumento que, acreditamos, se bem aplicado e futuramente ampliado a outros
produtos ainda não constantes na lei, possa minimizar a obsolescência programada,
levando a concepção de produtos com um ciclo de vida mais longo do que o atual.

Nessa perspectiva, a logística reversa é um conjunto de estratégias, ações e


procedimentos destinado a recolher os produtos colocados no mercado e devolver ao setor
empresarial para o descarte apropriado dos materiais. Assim, para que a logística reversa
aconteça é necessário que todos os agentes façam sua parte. É nesse sentido que a Lei n.
12.305/10 criou o instituto da responsabilidade civil compartilhada.
56

Além de instituí-la em seu artigo 6º, inciso VII, como um princípio da PNRS, a lei
reservou a seção II, especialmente o artigo 30, para essa responsabilidade, dispondo como
objetivos:

Art. 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos,
a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos
serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, consoante as
atribuições e procedimentos previstos nesta Seção.
Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos
tem por objetivo:
I - compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de
gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo
estratégias sustentáveis;
II - promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia
produtiva ou para outras cadeias produtivas;
III - reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os
danos ambientais;
IV - incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de
maior sustentabilidade;
V - estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos
derivados de materiais reciclados e recicláveis;
VI - propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade;
VII - incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental. (BRASIL, 2010)

Ademais, quanto ao compartilhamento da responsabilidade sobre o ciclo de vida dos


produtos, salienta-se que se trata de uma decorrência lógica do imposto pela Carta Magna, que
em seu artigo 225 impele ao poder público e à coletividade o dever de proteção ao meio
ambiente em favor das presentes e futuras gerações (MORAES, 2015, p. 149).
Assim, a lei dispõe que cabe ao poder público fiscalizar e coibir a ação dos produtores,
por meio: a) dos planos nacional, estadual e municipal de gestão integrada de resíduos, que
devem, necessariamente, conter metas de redução da geração de resíduos sólidos (art. 8º, I; 15,
III; 17, III; 19, XIV); b) do licenciamento ambiental, no qual deverá ser apresentado pelo
empreendedor o plano de gerenciamento de resíduos sólidos (art. 8º, I; art. 24); e c) metas e
procedimentos relacionados à minimização da geração de resíduos sólidos e ações relativas à
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (art. 21, VI e VII).
Com efeito, acerca do direito à informação, a lei estabeleceu em seu artigo 6º, X, como
princípio estruturante “o direito da sociedade à informação e ao controle social” (BRASIL,
2010). É evidente que o direito dos cidadãos (consumidores) de terem acesso a todas as
informações relativas ao produto que pretendem adquirir já esteja fundamentado em diversas
legislações, tanto na Carta Magna (BRASIL, 1988) quanto no próprio Código de Defesa do
Consumidor (CDC) (BRASIL, 1990). No entanto, a Lei da PNRS veio para reforçar mais uma
vez a importância desse direito.
57

Sobre o assunto, Moraes (2015, p. 153) explica que:

[...] a informação clara sobre a previsão de durabilidade do produto seria uma forma
de auxiliar os consumidores a escolherem produtos que durem mais, por exemplo. O
alerta sobre as consequências ambientais do produto em todas as etapas de seu ciclo
de vida, bem como do consumismo em propagandas de bens de consumo seria,
também, outra forma de conscientizar os consumidores a primarem por uma
valorização de manutenção dos bens que já possuem, substituindo a lógica da
efemeridade e do desperdício, pela desmaterialização da felicidade e o elogio à
suficiência.

Portanto, o acesso ao direito à informação, principalmente na área de propagandas,


mostra-se um grande instrumento no combate à obsolescência programada. Isso porque, além
de ferir princípios básicos do Direito Ambiental previstos na Carta Magna, a técnica vai
totalmente contra aos objetivos e instrumentos oferecidos pela Lei da PNRS.
Entretanto, embora tenha sido demonstrado o quanto a obsolescência programada é
lesiva ao meio ambiente e, ainda, comprovada a existência de institutos responsabilizadores na
legislação brasileira, na prática, a responsabilidade civil ambiental é desconsiderada quando se
trata desse fenômeno.

4.3 ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL ACERCA DA IMPRESCINDIBILIDADE DA


REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

A interpretação da legislação aplicada à responsabilidade civil por dano ambiental tem


merecido estudos frequentes dos doutrinadores, tendo em vista os seus reflexos no patrimônio
do poluidor e a necessidade da criação de mecanismos que contribuam para diminuir a sua
prática.
Como toda responsabilidade corresponde à “obrigação de dar conta de seus próprios
atos” (ALSINA, 1997), Maria Carolina de Melo Santos ressalta a importância da
responsabilidade civil por danos ambientais:

A responsabilidade civil por danos ambientais mostra-se como modo de recuperar a


higidez do meio, ainda que esta não seja possível em sua totalidade, fazendo recair
tais deveres sobre aqueles que assumiram os riscos do empreendimento. É, por
excelência, a manifestação do princípio do poluidor-pagador, e de necessidade
inestimável para a tutela do ambiente sadio e dos interesses sociais, mormente nos
tempos contemporâneos, nos quais os riscos são tão incisivos e iminentes. (SANTOS,
2017, p. 112)

O dever de reparação dos danos ambientais é extraído do próprio texto constitucional.


Conforme estabelece o artigo 225, parágrafo 2º da Constituição, aquele que “explorar recursos
58

minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma da lei” (BRASIL, 1988).
Para tanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, no dia 20 de abril de 2020,
como matéria de repercussão geral, a imprescindibilidade da pretensão de reparação civil de
dano ambiental. O tema é objeto do Recurso Extraordinário n. 654.833, que trata de dano
ambiental causado por madeireiros na exploração de terras indígenas no Acre nos anos 1980, e
no qual se busca afastar a tese da imprescindibilidade.
Na decisão, o tribunal, por maioria, apreciando o tema 999 da repercussão geral,
extinguiu o processo com julgamento de mérito com base no artigo 487, inciso III, alínea “b”,
do Código de Processo Civil (CPC), ficando prejudicado o recurso extraordinário nos termos
do voto do Relator Alexandre de Moraes, vencidos os Ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio
e Dias Toffoli, que davam provimento ao recurso.
No julgamento, o STF proferiu a seguinte ementa:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


DANO AO MEIO AMBIENTE. REPARAÇÃO CIVIL. IMPRESCRITIBILIDADE.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. 1. Revela especial relevância, na forma
do art. 102, § 3º, da Constituição, a questão acerca da imprescritibilidade da pretensão
de reparação civil do dano ambiental. 2. Repercussão geral da matéria reconhecida,
nos termos do art. 1.035 do CPC (BRASIL, 2020).

Dessa forma, verifica-se que reparação do dano ambiental deve sempre conduzir o meio
ambiente a uma situação, na medida do possível, equivalente àquela de que seria beneficiado
se o dano não tivesse sido causado. E, nessa matéria, o princípio da reparação integral do dano
tem inteira aplicação, devendo-se levar em consideração não só o dano causado imediatamente
como também toda a extensão dos danos produzidos em consequência do fato à qualidade
ambiental, incluindo o dano moral ambiental verificado.
Segundo Albergaria (2009, p. 136), “só o fato de exercer uma atividade que cause um
dano já é condição para se acionar a justiça. O risco é integral e absoluto, segundo boa parte da
doutrina, e sequer admite qualquer tipo de exclusão da responsabilidade civil”.
Analisado por Silva (2007, p. 299):

Dano ecológico é qualquer lesão ao meio ambiente causada por condutas ou atividades
de pessoa física ou jurídica de Direito Público ou de Direito Privado. Esse conceito
harmoniza-se com o disposto no art. 225, §3°, da Constituição da República, segundo
o qual as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
interdependentes da obrigação de reparar os danos causados.
59

Neste sentido, importante destacar a decisão do STJ (BRASIL, 2014) sobre um acidente
ambiental ocorrido no estado de Minas Gerais:

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS
DECORRENTES DO ROMPIMENTO DE BARRAGEM. ACIDENTE
AMBIENTAL OCORRIDO, EM JANEIRO DE 2007, NOS MUNICÍPIOS DE
MIRAÍ E MURIAÉ, ESTADO DE MINAS GERAIS. TEORIA DO RISCO
INTEGRAL. NEXO DE CAUSALIDADE.
1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) a responsabilidade por dano
ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de
causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato,
sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de
excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar; b) em
decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais
causados e c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o
arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de
culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se
o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às
peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem
causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos
morais experimentados por aquele que fora lesado.
2. No caso concreto, recurso especial a que se nega provimento. (REsp: 1374284, Rel.
Luis Fe- lipe Salomão, 05/09/2014).

Além da obrigação de reparar o dano integralmente, o agente deve-se atentar para a


aplicabilidade do princípio da precaução, o qual “[...] exige uma atuação racional para os bens
ambientais com a mais cuidadosa apreensão dos recursos naturais, que vai além de simples
medidas para afastar o perigo” (LEITE; AYALA, 2011, p. 205).
Tal princípio estruturante do Direito Ambiental se justifica pelo fato de que nem sempre
é possível prever todos os riscos oriundos da atividade, uma vez que com a evolução da
tecnologia nem todas as ações são identificadas. No entanto, é necessário uma postura de
precaução por parte dos envolvidos em busca de um meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
Para tanto, o julgado exposto demonstra mais uma vez a necessidade de reparação do
dano ambiental que, no caso acima, contou com a reparação dos danos materiais e morais
causados. Nesse sentido, a decisão destaca que a indenização pelo dano moral será arbitrada
pelo grau de culpa, pelo nível socioeconômico do autor e, ainda, pelo porte da empresa,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência.
Vale ressaltar que o STJ (BRASIL, 2013) adotou a concepção ampla de dano moral
ambiental. Com efeito, em um julgado que teve voto condutor da ministra Eliana Calmon, ficou
decidido que:
60

O dano extrapatrimonial atinge direitos de personalidade do grupo ou coletividade


enquanto realidade massificada, que a cada dia reclama mais soluções jurídicas para
sua proteção. É evidente que uma coletividade pode sofrer ofensa à sua honra, à sua
dignidade, à sua boa reputação, à sua história, costumes e tradições e ao seu direito a
um meio ambiente salutar para si e seus descendentes. Isso não importa exigir que a
coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado.
Essas decorrem do sentimento de participar de determinado grupo ou coletividade,
relacionando a própria individualidade à ideia do coletivo.

Sobre o assunto, Delgado (2008, p. 103) afirma que “falar em dano moral ambiental
ainda pode deixar muitos leitores surpresos, sendo um assunto desconhecido pela maioria da
sociedade. Afinal, coerente pensar onde estaria o sentimento de dor, angústia, desgosto e aflição
no âmbito do meio ambiente”.
No entanto, nota-se a consignação a partir desse julgado de que não há necessidade da
coletividade sentir dor, indignação ou qualquer sentimento do tipo para configurar o dano
moral. Tão somente é necessário que a coletividade sofra ofensa à honra, à dignidade, à história
e à seu direito ao meio ambiente equilibrado, para configurar o dano.

4.3.1 Recurso Especial n. 984.106 – SC: a responsabilização civil diante da obsolescência


programada

A explosão do consumo surge da relação pessoal da sociedade com objetos, com a


coletividade e com o mundo. Destarte, o consumo excessivo associado ao descarte, muitas
vezes inconsciente, trouxe e vem trazendo sérios danos ao planeta.
Assim, antes de adentrar ao tema da responsabilidade civil oriunda da obsolescência
programada, vale ressaltar o pensamento de Bauman (2003, p. 99):

Numa sociedade de consumo, compartilhar a dependência do consumidor – a


dependência universal das compras – é a condição sine qua non de toda liberdade
individual [...] Num arroubo de sinceridade, um comercial de TV mostra uma
multidão de mulheres com uma variedade de penteados e cores de cabelos, enquanto
o narrador: ‘Todas únicas; todas individuais, todas escolhem X’ (X sendo a marca
anunciada de condicionador). O utensílio produzido em massa é a ferramenta de
variedade individual [...] Sua dependência não se limita ao ato da compra. Lembre-se,
por exemplo, o formidável poder que os meios de comunicação de massa exercem
sobre a imaginação popular, coletiva e individual.

O consumo exagerado de produtos que acabam sendo inutilizados e lançados


incorretamente no meio ambiente causa impactos e direciona para a necessidade de que se
desenvolva o consumo sustentável.
61

O STJ já decidiu pela abusividade da prática de obsolescência programada, por ocasião


do julgamento do Recurso Especial no 984106/SC, em 04 de outubro de 2012. Colhe-se da
jurisprudência:

EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO E RECONVENÇÃO. JULGAMENTO REALIZADO POR
UMA ÚNICA SENTENÇA. RECURSO DE APELAÇÃO NÃO CONHECIDO EM
PARTE. EXIGÊNCIA DE DUPLO PREPARO [...].
O fornecedor responde por vício oculto de produto durável decorrente da própria
fabricação e não do desgaste natural gerado pela fruição ordinária, desde que haja
reclamação dentro do prazo decadencial de noventa dias após evidenciado o defeito,
ainda que o vício se manifeste somente após o término do prazo de garantia contratual,
devendo ser observado como limite temporal para o surgimento do defeito o critério
de vida útil do bem. O fornecedor não é, ad aeternum, responsável pelos produtos
colocados em circulação, mas sua responsabilidade não se limita, pura e
simplesmente, ao prazo contratual de garantia, o qual é estipulado unilateralmente por
ele próprio. Cumpre ressaltar que, mesmo na hipótese de existência de prazo legal de
garantia, causaria estranheza afirmar que o fornecedor estaria sempre isento de
responsabilidade em relação aos vícios que se tornaram evidentes depois desse
interregno. Basta dizer, por exemplo, que, embora o construtor responda pela solidez
e segurança da obra pelo prazo legal de cinco anos nos termos do art. 618 do CC
[Código Civil], não seria admissível que o empreendimento pudesse desabar no sexto
ano e por nada respondesse o construtor. Com mais razão, o mesmo raciocínio pode
ser utilizado para a hipótese de garantia contratual. Deve ser considerada, para a
aferição da responsabilidade do fornecedor, a natureza do vício que inquinou o
produto, mesmo que tenha ele se manifestado somente ao término da garantia. Os
prazos de garantia, sejam eles legais ou contratuais, visam a acautelar o adquirente de
produtos contra defeitos relacionados ao desgaste natural da coisa, são um intervalo
mínimo de tempo no qual não se espera que haja deterioração do objeto. Depois desse
prazo, tolera-se que, em virtude do uso ordinário do produto, algum desgaste possa
mesmo surgir. Coisa diversa é o vício intrínseco do produto, existente desde sempre,
mas que somente vem a se manifestar depois de expirada a garantia. Nessa categoria
de vício intrínseco, certamente se inserem os defeitos de fabricação relativos a projeto,
cálculo estrutural, resistência de materiais, entre outros, os quais, em não raras vezes,
somente se tornam conhecidos depois de algum tempo de uso, todavia não decorrem
diretamente da fruição do bem, e sim de uma característica oculta que esteve latente
até então. Cuidando-se de vício aparente, é certo que o consumidor deve exigir a
reparação no prazo de noventa dias, em se tratando de produtos duráveis, iniciando a
contagem a partir da entrega efetiva do bem e não fluindo o citado prazo durante a
garantia contratual. Porém, em se tratando de vício oculto não decorrente do desgaste
natural gerado pela fruição ordinária do produto, mas da própria fabricação, o prazo
para reclamar a reparação se inicia no momento em que ficar evidenciado o defeito,
mesmo depois de expirado o prazo contratual de garantia, devendo ter-se sempre em
vista o critério da vida útil do bem, que se pretende ‘durável’. A doutrina consumerista
– sem desconsiderar a existência de entendimento contrário – tem entendido que o
CDC, no § 3º do art. 26, no que concerne à disciplina do vício oculto, adotou o critério
da vida útil do bem, e não o critério da garantia, podendo o fornecedor se
responsabilizar pelo vício em um espaço largo de tempo, mesmo depois de expirada
a garantia contratual. Assim, independentemente do prazo contratual de garantia, a
venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que legitimamente se
esperava, além de configurar um defeito de adequação (art. 18 do CDC), evidencia
uma quebra da boa-fé objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam elas de
consumo, sejam elas regidas pelo direito comum. Constitui, em outras palavras,
descumprimento do dever de informação e a não realização do próprio objeto do
contrato, que era a compra de um bem cujo ciclo vital se esperava, de forma legítima
e razoável, fosse mais longo. Os deveres anexos, como o de informação, revelam-se
como uma das faces de atuação ou ‘operatividade’ do princípio da boa-fé objetiva,
62

sendo quebrados com o perecimento ou a danificação de bem durável de forma


prematura e causada por vício de fabricação. Precedente citado: REsp 1.123.004-DF,
DJe 9/12/2011. REsp 984.106-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
4/10/2012. (BRASIL, 2012)

Na oportunidade, o Tribunal consignou os seguintes exemplos de ocorrência do


fenômeno:

São exemplos desse fenômeno: a reduzida vida útil de componentes eletrônicos (como
baterias de telefones celulares), com o posterior e estratégico inflacionamento do
preço do mencionado componente, para que seja mais vantajoso a recompra do
conjunto; a incompatibilidade entre componentes antigos e novos, de modo a obrigar
o consumidor a atualizar por completo o produto (por exemplo, softwares); o produtor
que lança uma linha nova de produtos, fazendo cessar açodadamente a fabricação de
insumos ou peças necessárias à antiga. (BRASIL, 2012)

No julgamento do Recurso Especial em questão, a quarta turma entendeu unanimemente


que:

Consumidor tem direito à reparação de falha oculta até o fim da vida útil do produto
e não só durante garantia. O prazo para o consumidor reclamar de defeito ou vício
oculto de fabricação, não decorrentes do uso regular do produto, começa a contar a
partir da descoberta do problema, desde que o bem ainda esteja em sua vida útil,
independentemente da garantia. (BRASIL, 2012)

O processo acima envolvia uma fornecedora de tratores agrícolas movendo uma ação
de cobrança contra um consumidor que, após três anos e quatro meses da aquisição, realizou
serviços necessários para o reparo do bem vendido, contudo, a garantia contratual era de oito
meses ou 10.000 (dez mil) horas de uso, requeria, portanto, o ressarcimento pelos serviços
prestados, que totalizavam R$ 6.811, 97 (seis mil, oitocentos e onze reais e noventa e sete
centavos).
Segundo o acórdão, o fornecedor do produto alegava que o defeito havia surgido após a
expiração do prazo de garantia do produto e o problema apresentado decorria da natureza do
bem, que deveria ser considerado como desgaste natural. Entretanto, ficou demonstrado no
início do processo que a durabilidade do produto, de acordo com as normas técnicas, era três
vezes maior que aquela definida pelo fabricante.
Nesse caso, o Tribunal reconheceu se tratar de um típico caso de obsolescência
programada, a obsolescência de qualidade:

Ressalte-se, também, que desde a década de 20 - e hoje, mais do que nunca, em razão
de uma sociedade massificada e consumista -, tem-se falado em obsolescência
programada, consistente na redução artificial da durabilidade de produtos ou do ciclo
63

de vida de seus componentes, para que seja forçada a recompra prematura. (BRASIL,
2012)

Nesse sentido, o Tribunal reconheceu que a responsabilidade de reparo era do


fornecedor, tendo este se utilizado da técnica de obsolescência programada para diminuir a vida
útil do produto. Ocorre que, embora a jurisprudência logre êxito em reconhecer a obsolescência
programada e responsabilize os causadores no âmbito do direito do consumidor, nota-se a
ausência de responsabilização no Direito Ambiental.
Portanto, vale ressaltar que caso o trator tivesse apresentado defeito e o consumidor não
realizasse os serviços necessários, esse produto seria descartado e provavelmente se tornaria
um problema para o meio ambiente. Ainda assim, o presente trabalho demonstrou totalmente
possível a responsabilização ambiental em casos que envolvem a técnica da obsolescência
programada.
Conforme Sarlet e Fensterseifer (2011, p. 179):

Não apenas o direito fundamental ao ambiente, mas também os deveres fundamentais


de proteção do ambiente possuem – em certo sentido – aplicação imediata, visto que
deles é possível (e necessário) extrair efeitos jurídicos diretos e passíveis de
exigibilidade. Sob uma perspectiva material, houve uma decisão tomada pelo
constituinte brasileiro ao consolidar o direito (e o correlato dever fundamental) dos
indivíduos e da coletividade a viverem em um (e não qualquer um!) ambiente
ecologicamente equilibrado, considerando ser o mesmo ‘essencial à sadia qualidade
de vida’ (art. 225, caput, da CF88).

Sendo assim, nota-se que o Tribunal chegou a reconhecer a presença da obsolescência


programada no caso, trazendo, inclusive, outros exemplos desse fenômeno. No entanto, decidiu
por responsabilizar apenas civilmente a empresa, condenando-a à indenização por danos morais
e materiais em razão do descumprimento de direitos do consumidor.
A propósito do entendimento do STJ, importante esclarecer que, apesar de serem
diversas as fundamentações jurídicas nos casos práticos, os juízes brasileiros têm firmado seus
entendimentos com base no que foi decidido pela Egrégia Corte, no Recurso Especial aqui
referido, que considerou os vícios de qualidade ocultos, destacados no artigo 18 do CDC,
situações características de obsolescência programada de qualidade.
Desse modo, como se percebe, a jurisprudência brasileira já pacificou o entendimento
pela abusividade da obsolescência programada frente à vulnerabilidade do consumidor.
Entretanto, será que existe uma análise do fenômeno da obsolescência programada sob a
perspectiva exclusiva do dano ambiental? Já foi explicado que a obsolescência é um dos grandes
64

fatores do acúmulo de lixo eletrônico, trazendo dano ao meio ambiental, no entanto, será que
já há julgados sobre isso?

4.3.2 Ação coletiva contra a empresa Apple no Direito brasileiro e no Direito francês

Para responder a tais perguntas, é necessário fazer uma análise e comparação do


entendimento no Direito brasileiro e no Direito francês. Nesse sentido, o presente tópico
demonstra a diferença de tratamento jurídico no caso da empresa Apple, que no Brasil não foi
reconhecida como praticante da técnica de obsolescência programada, contudo, em outros
países, como a França, foi responsabilizada, inclusive, na esfera criminal. Veja-se.
O desenvolvimento sustentável não é compatível com o capitalismo selvagem que
impera atualmente. Se antes o consumo em excesso já era questionado por gerar uma
desigualdade entre classes, agora ele também é contestado por produzir uma desigualdade
intergeracional, pois o atual estilo de vida excessivo e desigual dificulta a garantia de acesso a
um meio ambiente equivalente para as gerações futuras (PORTILHO, 2010, p. 255).
Segundo Sachs (2002, p. 95):

No percurso até o desenvolvimento sustentável, às ciências naturais compete


especificar o que é necessário para um mundo sustentável e às ciências sociais cabe
estruturar as estratégias para que seja possível chegar a esse objetivo. A conciliação
entre a economia e a ecologia é fundamental, devendo se somar a elas a equidade
social.

O consumo sempre foi uma atividade praticada pelo homem, ocorre que ao longo do
tempo, juntamente com as mudanças sofridas na sociedade, também passou por uma
transformação. Antes o consumo era destinado a atingir as necessidades simples e de
subsistência, mas chega ao contexto atual como significado de vida do indivíduo (MORAES,
2015).
Um grande exemplo é a empresa Apple, a qual está envolvida em uma das primeiras
demandas judiciais abrangendo a problemática da obsolescência programada. Distribuída em
06 de fevereiro de 2013, na 12ª Vara Cível de Brasília, sob o n. 2013.01.1.016885-2, cuida-se
de uma Ação Civil Coletiva, proposta pelo Instituto Brasileiro de Política e Direito da
Informática (IBDI), em desfavor da fornecedora Apple, cujo objeto da ação é a acusação de
prática comercial abusiva, através da obsolescência planejada, configurada a partir do momento
que a empresa, após 05 (cinco) meses de ter lançado o seu produto iPad 3 em território nacional,
lançou o iPad 4, que sem ter apresentado muitas inovações tecnológicas, fez do produto
65

antecessor algo obsoleto, afirmando que a Fornecedora poderia ter lançado o iPad 3 com os
recursos tecnológicos do modelo 4, mas, propositalmente, não o fez (BRASIL, 2017).
Por estas razões de direito, o IBDI pede a condenação da Apple para que, sem qualquer
custo adicional, troque todos os iPads 3 adquiridos pelos brasileiros. Requerendo ainda
indenização pela prática da técnica da obsolescência planejada em dois parâmetros, um
individual, no que se refere ao dano causado a cada consumidor vitimado pela prática da
obsolescência, no valor de 50% (cinquenta por cento) do valor do produto; e outra pelo dano
coletivo, correspondente ao valor médio de 30% (trinta por cento) calculado sobre cada unidade
do iPad 3 vendida no país. Atualmente o processo está suspenso por depender do julgamento
de outra ação (BRASIL, 2017).
Colhe-se da jurisprudência:

CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO RETIDO. PROVA


PERICIAL. INDEFERIMENTO. CERCEAMENTO DO DIREITO DE PRODUÇÃO
DE PROVAS. INOCORRÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA COLETIVA. ILEGITIMIDADE ATIVA. DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. RE 573.232/SC. REPERCUSSÃO GERAL. NECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS ASSOCIADOS. AUSÊNCIA. DIREITOS
DIFUSOS. LEGITIMIDADE COLETIVA ORDINÁRIA DECORRENTE DE LEI.
TABLET DE TERCEIRA GERAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO PELO TABLET DE
QUARTA GERAÇÃO EM ALGUNS MESES. OBSOLESCÊNCIA
PROGRAMADA. MODALIDADE PERCEPTIVA. PRÁTICA COMERCIAL
ABUSIVA. PUBLICIDADE ENGANOSA. NÃO CONFIGURAÇÃO. SENTENÇA
MANTIDA.
1 - O Magistrado é o destinatário das provas, restando-lhe assegurado que rejeite
pedido de produção de provas que repute inúteis ao deslinde da controvérsia, quando
entender suficiente o acervo fático-probatório constante nos autos para decidir, na
forma dos artigos 130 e 131 do CPC/73, diploma processual vigente à época. Agravo
Retido desprovido.
2 - Nos termos da compreensão exposta pelo STF no RE 573.232/SC, submetido ao
regime da repercussão geral, no qual se examinou o alcance da expressão ‘quando
expressamente autorizadas’, constante do art. 5º, XXI, da Constituição Federal, a
defesa em Juízo dos direitos individuais homogêneos pelas associações exige
autorização expressa dos associados, individualmente ou mediante assembleia, não
sendo bastante, para tanto, a previsão autorizativa genérica no Estatuto da Associação,
como ocorre no caso concreto. Nessa esteira, escorreito o reconhecimento da
ilegitimidade ativa ad causam da Associação Autora quanto aos pedidos relativos a
direitos individuais homogêneos, ante a ausência de autorização expressa dos filiados,
seja individualmente ou mediante assembleia específica para tanto.
3 - No que tange à legitimidade da associação para a propositura de ação civil coletiva
voltada à defesa de interesses difusos e coletivos, ‘os interessados ligam-se entre si
pela necessidade da proteção de direitos que interessam à coletividade como um todo,
independentemente da identificação dos indivíduos’, razão pela qual a tutela desses
direitos há de se dar, ante a sua transindividualidade e indivisibilidade, de forma
coletiva, tratando-se, a previsão constante do art. 5º, a e b, da Lei da Ação Civil
Pública e do artigo 82, IV, do Código de Defesa do Consumidor, de hipótese de
legitimação ordinária coletiva estabelecida em lei e não de legitimação extraordinária,
em que o legitimado coletivo atua em nome próprio, mas em defesa de direitos
pertencentes a uma coletividade humana, no caso, de seus associados, prevista no art.
5º, XXI, da Constituição Federal e que, segundo a Corte Constitucional, exige a
66

autorização específica e expressa dos associados, individualmente ou mediante


assembleia.
4 - Obsolescência Programada ou Planejada ocorre quando um produto é lançado no
mercado pela empresa e, de forma propositada, se torna inutilizável ou obsoleto em
um período de tempo curto, a fim de que seja descartado rapidamente, estimulando o
consumidor a comprar novamente o produto ou outro mais moderno que tenha sido
lançado em substituição àquele. A mencionada obsolescência pode ser técnica,
quando as condições do produto exigem a sua troca por outro, ou
perceptiva/psicológica, quando o consumidor, apesar de o produto que adquiriu
manter sua utilidade e condições de uso, é induzido ao sentimento de obsolescência
do produto adquirido, em razão de novo lançamento em curto espaço de tempo,
descartando o antigo para comprar o novo.
5 - Nos termos do art. 12, § 2º, do CDC, ‘O produto não é considerado defeituoso pelo
fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado’.
6 - As inovações tecnológicas dos produtos comercializados pela Ré, notadamente no
ramo que atua, marcado pela forte concorrência entre as empresas, que
incessantemente buscam inovações e atualizações de seus produtos a fim de atrair os
consumidores, são previsíveis e até mesmo esperadas, sendo certo que os
consumidores, ao adquirirem um tablet, ou um smartphone, sabem que, naquele
momento, estarão adquirindo o que há de mais moderno nos lançamentos comerciais
da empresa, mas têm a ciência de que, em um espaço de tempo não longo, tais
produtos serão objeto de atualização e inovações, com o lançamento de novos
produtos, mais modernos, melhores e mais avançados. O fato de a Ré ter, como prática
habitual, lançamentos anuais de produtos não pode vinculá-la a ponto de engessar sua
atividade e estratégias comerciais na busca de inovações e de melhores produtos para
os consumidores, impedindo-a que lance um produto melhor que o anterior em breve
espaço de tempo.
7 - O simples fato de o tablet de terceira geração ter sido substituído pelo de quarta
geração também não conduz à configuração da prática de obsolescência programada,
em qualquer das suas modalidades, porquanto o Código de Defesa do Consumidor,
no ponto, estabelece em seu art. 32, que, cessada a fabricação ou importação do
produto, o fabricante/importador deve manter a oferta de componentes e peças de
reposição por período razoável de tempo, ou seja, disponibilizar a devida assistência
técnica e atualizações do software do produto, inferindo-se dos autos que a Ré adotou
essa postura.
8 - Não há de se falar em publicidade enganosa ou ausência de fornecimento de
informações adequadas sobre o produto (tablet de terceira geração) pelo fornecedor,
induzindo o consumidor a erro, haja vista que, consoante previsão do art. 37, § 1º, do
CDC, não se exige que a empresa informe, por ocasião da compra do produto, que
outro produto melhor e mais moderno será lançado em alguns meses, mas que forneça
informações adequadas ‘a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados’ sobre o produto que está sendo
adquirido pelo consumidor.
9 - Permanecendo o tablet de terceira geração com sua utilidade e qualidade intactas,
preservando-se, outrossim, a assistência técnica, reposição de peças e atualizações de
software por período de tempo razoável, e sendo até mesmo intuitivo, para os
consumidores dos produtos da empresa Ré e de todas as outras empresas que atuam
no ramo, a possibilidade de breve lançamento de produtos melhores e mais avançados
tecnologicamente, não há de se falar em obsolescência programada, seja na
modalidade técnica ou perceptiva, e em prática comercial abusiva e publicidade
enganosa, em razão do lançamento do tablet de quarta geração em curto período de
tempo, revelando-se acertado o julgamento de improcedência dos pedidos difusos
formulados pelo Autor. Agravo Retido desprovido. Apelação Cível desprovida.
(BRASIL, 2017)

Apesar das alegações, no Brasil, o lançamento do tablet de quarta geração em curto


período de tempo não foi reconhecido como prática de obsolescência programada, seja na
modalidade técnica ou perceptiva, em razão do tablet de terceira geração ter permanecido com
67

sua utilidade e qualidade intactas, preservando-se a assistência técnica, reposição de peças e


atualizações por período de tempo razoável (BRASIL, 2013).
Todavia, Derani (1997, p. 64) ressalta:

Não se pode exigir que o mercado tenha uma visão social, pois a sua visão é
preponderantemente de vantagem individual própria (lucro). Sem este ânimo não há
mercado. Porém, não é a soma das vontades individuais que forma a vontade coletiva.
São necessários instrumentos que resguardem e promovam uma atitude social. E o
direito econômico deve, como uma norma social, que é a norma jurídica, garantir tais
interesses. A natureza pública das suas normas e os poderes privados a que se dirigem
formam os dois polos do direito econômico.

Ao portal online de notícias The Verge (2017), a Apple explica que:

Nosso objetivo é oferecer a melhor experiência para os consumidores, o que inclui o


desempenho geral e o prolongamento da vida útil de seus dispositivos. As baterias
de íons de lítio tornam-se menos capazes de atender às demandas de pico de
corrente em ambientes frios, com carga baixa ou à medida que envelhecem ao
longo do tempo, o que pode resultar no desligamento inesperado do dispositivo
para proteger seus componentes eletrônicos. No ano passado, lançamos um
recurso para o iPhone 6, iPhone 6s e iPhone SE para suavizar os picos
instantâneos [de consumo] somente quando necessário para evitar que o
dispositivo se desligue inesperadamente nessas condições. Agora estendemos a
funcionalidade para o iPhone 7 com o iOS 11.2 e planejamos adicionar suporte para
outros produtos no futuro. (Grifo nosso).

Ainda, o portal The Verge (2017) afirma que:

A empresa não está fazendo muitos favores por ser um pouco opaca. É claro que
controvérsias como essa - sustentadas por teorias da conspiração em torno da
obsolescência planejada - surgem porque existe uma falta de comunicação entre
fabricantes de dispositivos como Apple e consumidores. Também está claro que a
Apple, que dificulta sua abertura e reparo, pode fazer um trabalho melhor ajudando
os consumidores a entender os benefícios da substituição da bateria. Isso é algo que a
empresa parece menos inclinada a fazer quando pode significar renunciar à venda de
um novo iPhone a cada 12 a 24 meses.

No lançamento do iOS 12 em 2018, a empresa Apple, representada pelo executivo


Joswiak, informou que “as pessoas se esqueceram de tantos pontos positivos das atualizações
de software. Para começar, temos um índice de 95% de satisfação do consumidor com o iOS
11, é incrível. Nós entregamos ao longo dos anos ferramentas incríveis, como a própria App
Store e o iMessage” e que “se a gente quisesse que vocês comprassem novos aparelhos, nós só
lançaríamos atualizações para seis por cento dos nossos usuários” (THE TALK... 2018).
Dessa forma, nota-se que pela declaração da fornecedora, o recurso implantado faz
algum sentido, pois é melhor um iPhone com a bateria mais lenta que um iPhone desligado, no
68

entanto, fica a dúvida se a Apple não poderia ter sido mais transparente, divulgando claramente
que o problema existia. A lentidão faz os usuários perguntarem se eles deveriam comprar um
iPhone novo e não uma bateria nova, quando o aparelho estiver mais lento, o que acaba gerando
o consumo excessivo.
Por outro lado, importante destacar que a técnica realizada pela Apple foi devidamente
reconhecida e responsabilizada em outros países. Na França, por exemplo, no ano de 2018, a
DGCCRF (agência francesa de vigilância contra fraudes de consumidores) entrou na justiça
contra a empresa. Porém, na França, a situação é ainda mais grave, uma vez que reduzir
deliberadamente o tempo de vida de um produto para aumentar a taxa de substituição é ilegal
(MOBILE TIME, 2020).
O site jornalístico Mobile Time (2020) explica que a decisão saiu no presente ano,
condenando a Apple ao pagamento de uma multa de 25 (vinte e cinco) milhões de euros para o
governo francês por obsolescência programada nos iPhones. A principal falha da Apple foi em
não alertar os usuários que o Sistema Operacional (OS) deixaria seus celulares mais lentos.
Como resultado, vários usuários foram obrigados a trocar a bateria ou até os smartphones, o
que gerou diversos impactos ambientais por conta dos lixos eletrônicos.
A este propósito: “Na decisão publicada no dia 7 de fevereiro de 2020, a DGCCRF –
órgão similar ao brasileiro Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] – confirmou
que a Apple deixou os iphones 6,7 e SE mais lentos depois de atualizar o sistema operacional
para versões 10.2.1 e 11.2” (MOBILE TIME, 2020).
Além disso, segundo o site Mobile Time (2020): “Vale lembrar que esta não é a primeira
multa recebida pela Apple por obsolescência programada. Em outubro de 2018, a empresa
recebeu uma punição de 10 milhões de euros do governo italiano pelo mesmo problema:
lentidão em handsets após atualização do iOS”.
Dessa forma, verifica-se a diferença de tratamento jurídico da obsolescência
programada no Brasil para os países afora, pois nesses últimos a técnica é penalizada não
somente na esfera cível como também na esfera criminal, com o objetivo de combater os efeitos
negativos causados ao meio ambiente. Assim, embora a legislação disponha sobre a
sustentabilidade e o direito a um meio ambiente equilibrado a todos, o presente estudo se fez
necessário em razão da ausência de responsabilização ambiental no Brasil nos casos de
obsolescência programada.
Além disso, a comparação feita neste último tópico demonstrou a flexibilização das
normas jurídicas brasileiras quando comparadas às estrangeiras, pois de nada adianta ter leis
firmes se elas não forem cumpridas e aplicadas no caso concreto. Destarte, além da informação
69

e orientação para combater a técnica, é importante repensar o caminho que a sociedade de


consumo está desenhando, uma vez que a conservação dos recursos naturais é um problema
fundamental e de todos.
70

5 CONCLUSÃO

A presente pesquisa tem como inspiração dois condutores: o medo e a inquietação. O


primeiro é reflexo de inúmeros impactos atuais no planeta, pois, mesmo que indiretamente, a
obsolescência programada encaminha o meio ambiente para uma crise mundial. Ficou claro
que este modelo crescimentista, ao excluir os recursos naturais dos seus cálculos produtivos,
acabou por alcançar muitos dos limites biofísicos do planeta. Portanto, evidenciada essa crise,
o segundo condutor da pesquisa é a inquietação, visto que a sociedade atual se mostra
despreocupada e desconectada com tais problemas.
Embora a preocupação socioambiental seja debate em diversas conferências pelo mundo
afora, as pessoas não têm a consciência de praticar a sustentabilidade dentro de suas próprias
casas e em suas próprias atitudes, deixando os problemas ambientais de lado e partindo de uma
produção e consumo insustentáveis. A partir daí, surgiu o interesse em realizar uma pesquisa
com o objeto de estudo tão pouco falado, no entanto, muito presente no dia a dia dos brasileiros.
De plano, no presente estudo verificou-se que a responsabilidade civil decorrente da
obsolescência programada se dá de duas formas, a responsabilidade civil objetiva, embasada na
teoria do risco integral, e a responsabilidade civil compartilhada, fundamentada na Lei da
PNRS. Ocorre que essas duas teorias têm como ponto principal comum a convergência da
noção de sustentabilidade na produção e consumo atual da sociedade e, ainda que estejam em
construção, ambas têm como pressuposto básico uma responsabilidade de longa duração para
com as presentes e futuras gerações.
Diante do estudo, restou demonstrada a insustentabilidade das técnicas da obsolescência
programada perante o meio ambiente, bem como a ilegalidade de suas estratégias frente aos
princípios ambientais. Isso porque, além dos princípios ambientais, foram verificados
documentos internacionais que versam sobre a questão dos padrões de produção e consumo,
especificamente, quanto à durabilidade dos produtos, presente no documento da Agenda 21.
Além disso, observou-se que, embora não tenham força vinculativa, esses documentos servem
como fundamentos técnicos e jurídicos de importância internacional no enfrentamento do
fenômeno da obsolescência programada.
Quanto aos documentos nacionais, destacaram-se a Lei da PNRS e a Constituição
Federal, as quais se mostraram úteis como armas jurídicas, que, se utilizadas eficazmente,
podem acabar com essa técnica insustentável da sociedade de consumo.
Por fim, tem-se que a hipótese sugerida para responder ao problema proposto, qual seja,
a de que, diante da criação do instrumento de responsabilidade compartilhada para todos
71

aqueles que participaram do ciclo de vida do produto, esta seria a mais eficaz no combate à
obsolescência programada, e que para isso seria necessária uma maior fiscalização do poder
público para aplicação da lei, foi confirmada. Verificou-se, também, no presente estudo, a
necessidade de compatibilização entre direito, sustentabilidade e educação, visto que combater
a obsolescência programada é, além de proteger o consumidor, proteger o direito fundamental
a um meio ambiente saudável a todos.
72

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