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UNIVERSIDADE PAULISTA

TIFFANI DE BRITO MOREIRA

APLICAÇÃO DO DIREITO PENAL EM FACE AOS CRIMES COMETIDOS POR


INDIVÍDUOS PORTADORES DE PSICOPATIA

SÃO PAULO/SP
2023
TIFFANI DE BRITO MOREIRA

APLICAÇÃO DO DIREITO PENAL EM FACE AOS CRIMES COMETIDOS POR


INDIVÍDUOS PORTADORES DE PSICOPATIA

Trabalho de conclusão de curso para


obtenção do título de graduação em
Direito apresentado à Universidade
Paulista – UNIP.

Orientador:

SÃO PAULO/SP
2023
Dedico este trabalho a Deus, pela sua
infinita misericórdia e por me mostrar
sempre o melhor caminho a seguir;
Aos meus avós, Maria Valdete Oliveira de
Brito e Maurilio Andrade de Brito, por não
medirem esforços, para me ajudar na
concretização deste tão sonhado e
batalhado objetivo.
AGRADECIMENTOS

 Primeiramente a Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo da minha
vida, e não somente neste período como estudante, mas que em todos os
momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer e ter.
 À Instituição pelo ambiente criativo e amigável que proporciona.
 À toda a minha família que sempre estiveram ao meu lado.
“Mas, assim como o homem civilizado
é o melhor de todos os animais, aquele
que não conhece nem justiça a justiça
nem leis é o pior de todos”.

Aristóteles
RESUMO

Atualmente os indivíduos portadores de psicopatia estão gradativamente mais


presentes no meio social, e o perigo pelos quais os mesmos possam ocasionar, seja
por ações violentas ou não, ocasiona incessantes perguntas acerca do referido
tema. Sendo assim, a título de exemplo, tem-se a dúvida acerca de que se esses
indivíduos estão recebendo o devido tratamento e atenção por parte do sistema
jurídico brasileiro e também pelo Estado. Ressalta-se que nem todos os atos ilícitos
acometidos por estas pessoas serão caracterizados como violentos, como são os
casos de furtos e estelionatos praticados pelos mesmos, tornando assim, de suma
importância, uma maior observância acerca dos atos ilícitos praticados por
indivíduos portadores de psicopatia. Além do mais, nos dias atuais a maior parte das
doutrinas e jurisprudências existentes caracterizam esses indivíduos como sendo
semi-imputáveis e, consequentemente, acabam sendo julgados, o que não é
compossível com a vivência dos mesmos, pois os indivíduos portadores de
psicopatia não apresentam qualquer doença mental, mas sim um distúrbio de
personalidade. Sendo assim, o presente trabalho de conclusão de curso faz uma
abordagem acerca da participação da justiça frente aos crimes cometidos por
indivíduos portadores de psicopatia. Objetivando assim observar os pensamentos e
ensinamentos de doutrinadores e juristas acerca do tema. No que se refere a
metodologia empregada foram utilizados os métodos bibliográficos com o intuito de
analisar os pensamentos dos mais renomados autores. Foram utilizados também o
método qualitativo e descritivo na abordagem do tema em si.

Palavras-Chave: Psicopatia. Estado. Crime.


ABSTRACT

Currently, individuals with psychopathy are gradually more present in the social
environment, and the danger that they may cause, whether by violent actions or not,
raises incessant questions about this topic. Thus, by way of example, there is a
question as to whether these individuals are receiving due treatment and attention by
the Brazilian legal system and also by the State. It is noteworthy that not all illegal
acts committed by these people will be characterized as violent, as are the cases of
theft and embezzlement committed by them, thus making, of paramount importance,
greater observance of the illegal acts committed by individuals with psychopathy .
Furthermore, nowadays most of the existing doctrines and jurisprudence characterize
these individuals as being semi-imputable and, consequently, end up being judged,
which is not possible with their experience, as individuals with psychopathy do not
present any mental illness, but rather a personality disorder. Thus, the present
course conclusion work approaches the participation of justice in the face of crimes
committed by individuals with psychopathy. Aiming thus to observe the thoughts and
teachings of indoctrinators and jurists on the subject. Regarding the methodology
used, bibliographic methods were used in order to analyze the thoughts of the most
renowned authors. The qualitative and descriptive method was also used to
approach the theme itself.

Keywords: Psychopathy. State. Crime.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................
09
2 A PSICOPATIA ......................................................................................................
11
2.1 Conceituando a psicopatia ...............................................................................
11
2.2 Características da psicopatia ...........................................................................
13
3 O DIREITO PENAL E O SEU SISTEMA PROTETIVO ..........................................
17
3.1 Do ius puniendi ..................................................................................................
18
3.2 Das sanções penais compatíveis a psicopatia ...............................................
19
3.3 Diferenciação dos crimes praticados por indivíduos portadores de
psicopatia ................................................................................................................ 25
3.3.1 Diferença dos crimes praticados por indivíduos comuns para com os indivíduos
psicopatas .................................................................................................................
25
3.4 Crimes praticados por psicopatas que marcaram uma sociedade ...............
27
3.4.1 O bandido da luz vermelha ...............................................................................
27
3.4.2 Maníaco do parque ...........................................................................................
28
3.4.3 Jack, o estripador .............................................................................................
29
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................
30
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 32
10

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o meio social vem sofrendo intensas mudanças, sendo que os


indivíduos pertencentes a este grupo, chamado de sociedade, transmite estas
modificações. Consequentemente, o crime torna-se uma verdadeira confirmação
acerca de tais mudanças, pois tudo ao seu redor sofrerá também tais alterações.
Não há de se negar que fatores externos acabem provocando a pratica de
atos ilícitos, podendo ser estes financeiros, psicológicos como também
acontecimentos que marcaram a sua infância. Todos estes fatores acabam refletindo
no seu comportamento sendo que, na maioria das vezes, estes elementos são
considerados de suma importância pois possibilitam uma maior compreensão acerca
da pratica de tais atos.
No âmbito psicológico, de uma forma crescente, os distúrbios estão se
sobressaindo e cada vez mais sendo divulgados. Assim sendo, a psicopatia será o
tema de estudo deste artigo devido a sua magnitude e pela grande evidenciação
dada pelos sistemas de informação de todo o mundo.
Os indivíduos portadores de psicopatia apresentam características próprias,
representadas na sua forma de se comportar, no jeito de lidar com outras pessoas e
até mesmos nas práticas de crimes acometidos pelos mesmos. Sendo que, apesar
de anos de estudos e pesquisas realizadas em diferentes estágios com diferentes
resultados, ainda são impactantes, no meio social, político e no ordenamento jurídico
os atos ilícitos praticados pelos mesmos.
Sendo assim, o presente estudo vem tratar da justiça frente aos crimes
cometidos por indivíduos portadores de psicopatia, demonstrando o papel do Estado
em face a sociedade, como forma de se evitar conflitos e solucionar crimes de forma
rápida e eficaz.
A problemática a ser abordada neste trabalho de conclusão de curso está
relacionada com a diferenciação existente entre a pratica de um ato ilícito acometido
por um indivíduo portador de psicopatia para um indivíduo tido como comum. Os
indivíduos portadores de psicopatia que acometem algum ato ilícito são
diferenciados dos indivíduos comuns que também praticam algum crime?
Sendo assim, tem-se como objetivo principal analisar a responsabilidade
penal e do Estado, de maneira geral, afim de buscar uma resposta acerca de como
11

o Estado se comporta frente a indivíduos portadoras de psicopatia, bem como


analisar as
12

normas aplicadas a estes indivíduos praticantes de atos ilícitos, examinando a sua


eficácia.
O presente trabalho justifica-se pela importância em demonstrar o papel do
Estado frente aos crimes acometidos pelos psicopatas, bem como apresentando as
formas de proteção asseguradas a sociedade contra estes indivíduos.
Partindo-se deste pressuposto, a metodologia empregada como forma de
proporcionar o atingimento do objetivo principal deste trabalho de conclusão de
curso está baseada na revisão bibliográfica pela qual tem a capacidade de
proporcionar, de uma forma mais qualificada, a compreensão das pesquisas
existentes e, bem como, de obter conclusões mais nítidas a partir do tema proposto,
conforme preceitua Lakatos & Marconi (2013)1:

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia


já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,
material cartográfico, etc., até meios de comunicação orais: rádio,
gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua
finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi
escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências
seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, querem
publicadas, quer gravadas (LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 183).

Foram utilizados também os métodos qualitativos e descritivos na abordagem


do tema em si.

____________________________
1
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho científico. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2003.
13

2 A PSICOPATIA

O desenvolvimento da sociedade em todos os ramos de atividades, traz


consigo profundas mudanças, também, no modo de agir das pessoas, ocasionando
o surgimento de diversos distúrbios de personalidade. Sendo que, o distúrbio que
mais vem sendo evidenciado atualmente é a psicopatia em consequência dos
aterrorizantes atos praticados por indivíduos portadores deste distúrbio.
Entretanto, vale ressaltar que, a psicopatia não consiste em um tema novo.
Há décadas atrás já se tem notícia de transgressões praticadas por psicopatas.
Sendo assim, Silva (2008)2, explana que:

Uma breve revisão da história da humanidade é capaz de revelar duas


questões importantes no que tange à origem da psicopatia. A primeira delas
se refere ao fato de a psicopatia sempre ter existido entre nós. [...] A
segunda questão aponta para a presença da psicopatia em todos os tipos
de sociedades, desde as mais primitivas até as mais modernas. Esses fatos
reforçam a participação de um importante substrato biológico na origem
desse transtorno. No entanto, não invalidam a participação significativa que
os fatores culturais podem ter na modulação desse quadro, ora
favorecendo, ora inibindo o seu desenvolvimento. (SILVA, 2008, p. 22)

Sendo assim, os demais tópicos deste trabalho têm como intuito analisar e
informar acerca da psicopatia, apresentando a sua conceituação e demais
desdobramentos.

2.1 Conceituando a psicopatia

Alguns especialistas da área da medicina caracterizam a psicopatia como


sendo mais uma dentre várias categorias existentes acerca do distúrbio de
personalidade, entretanto, essa caracterização não é aceita pela totalidade dos
estudiosos, pois ocorrem, em grande parte, o surgimento de pequenas
particularidades que acabam diferenciando os portadores de psicopatia com o
restante dos casos de distúrbios existentes.
Nesse sentido Douglas & Osahaker (2017)3 lecionam que os psicopatas que:

____________________________
2
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008.
3
DOUGLAS, John; OSAHAKER, Mark. Mindhunter- O primeiro caçador de seria killers
americano. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2017.
14

[...] vivem entre nós, parecem fisicamente conosco, mas são desprovidos
deste sentido tão especial: a consciência. Muitos seres humanos são
destituídos desse senso de responsabilidade ética, que deveria ser a base
essencial de nossas relações emocionais com os outros. Sei que é difícil de
acredita, mas algumas pessoas nunca experimentaram ou jamais
experimentarão a inquietude mental, ou o menor sentimento de culpa, ou
remorso por desapontar, magoar, enganar ou até mesmo tirar a vida de
alguém [...] (DOUGLAS; OSAHAKER, 2017, p. 27).

Assim este distúrbio, em especial, é marcado pela falta de sensibilidade em


relação as emoções das pessoas que o circundam, possuindo um índice de
indiferenciação afetivo muito elevado, conduzindo a pessoa a um estado clinico de
transtorno de personalidade voltado para a psicopatia.
Para a maior parte da sociedade o grande dilema está na verdadeira essência
da psicopatia. Muitos acreditam que este distúrbio não esteja relacionado como uma
doença e sim proveniente de traumas oriundos de sua infância, que são realizadas
por pessoas frias e calculistas.
Partindo-se deste preceito Silva (2008)4 relata que:

O termo psicopata pode dar a falsa impressão de que se trata de indivíduos


loucos ou doentes mentais. A palavra psicopata literalmente significa
doença da mente, no entanto, em termos médicos-psiquiátricos, a
psicopatia não se encaixa nessa visão tradicional de doenças mentais. Os
Psicopatas em geral, são indivíduos frios, calculistas, dissimulados,
mentirosos, que visam apenas o benefício próprio. São desprovidos de
culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos.
(SILVA, 2008, p. 10)

Assim sendo Silva (2008)5 vem a explanar que a maior parte dos estudiosos e
profissionais da medicina evitam utilizar o termo ‘psicopata’ no pé da letra, por
saberem que este transtorno não poder ser entendido simplesmente como uma
doença mental.
Diante o assunto, Silva (2008)6 expõe ainda que:

A corrente considerada mais conservadora entende a psicopatia como uma


doença mental, sendo que, etimologicamente, psicopatia significa doença
da mente. Entretanto, parte expressiva dos profissionais da área da
psiquiatria forense critica esse entendimento, pois consideram que a parte
cognitiva dos indivíduos psicopatas se encontra preservada, íntegra, tendo
pela consciência dos atos que praticam (possuem, inclusive, inteligência
acima da média da população), sendo que seu principal problema reside
nos sentimentos (afetos) deficitários (SILVA, 2008, p. 18).

____________________________
4
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008.
5
Idem 4.
6
Idem 4.
15

Desta forma, torna-se de fundamental importância que toda a sociedade tome


conhecimento acerca do tema, em sua totalidade, objetivando assim eliminar as
dúvidas recorrentes acerca da psicopatia, possibilitando um posicionamento mais
centrado em face ao mesmo.

2.2 Características da psicopatia

Os distúrbios psicopáticos podem atingir tantos os indivíduos do sexo


feminino como também os do sexo masculino, contudo, a sua maior ocorrência se
dá nos homens, devido ao fato destes apresentarem maiores sintomas de
agressividade em relação as mulheres.
Assim Trindade (2010)7 expõe que:

No eixo do relacionamento interpessoal, costumam ser arrogantes,


presunçosos, egoístas, dominantes, insensíveis, superficiais e
manipuladores; no âmbito da efetividade, são incapazes de estabelecer
vínculos afetivos profundos e duradouros com os outros. Não possuem
empatia, remorso ou sentimento de culpa; na parte relacionada com o
comportamento, são agressivos, impulsivos, irresponsáveis e violadores das
convenções e das leis, agindo com desrespeito pelos direitos dos outros
(TRINDADE, 2010, p. 167).

Vale ressaltar que, de acordo com Trindade (2010)8, nem todos os indivíduos
são dotados de alto nível de psicopatia, sendo que, muitos apresentam somente
uma pequena alteração de sua personalidade. Entretanto, vale explanar que,
existem elementos que podem ocasionar a elevação destes níveis, tal como, abusos
durante a infância, traumas, agressões familiares, dentre outras.
Nesse sentido, os níveis psicopáticos apresentados nos indivíduos poderão
ser, de acordo com Silva (2008)9, classificados como leves, sendo aqueles que
procuram aplicar golpes e pequenos furtos, mas raramente estarão metidos em atos
ilícitos mais graves, e em um segundo plano têm-se os moderados, compreendendo
os indivíduos que praticam crimes graves, como assassinatos, realizando tal ato de
forma fria e com extrema crueldade, sendo considerados como verdadeiros
psicopatas.

____________________________
7
TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. 4. Ed. Rev., atual.
E ampl. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2010.
8
Idem 7.
9
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008.
16

Diante o exposto, Silva (2008, p. 12)10, explana ainda que: “qualquer que seja
o grau de gravidade, todos, invariavelmente, deixam marcas de destruição por onde
passam, sem piedade”.
Vale ressaltar que estes indivíduos não são caracterizados como insanos. As
suas condutas não provêm de uma cabeça perturbada, mas sim de um raciocínio
frio e totalmente calculado. Não sendo capazes de levar em consideração os
sentimentos das suas vítimas.
Sendo assim, Galvão (2013)11 relata que:
O psicopata tem plena consciência sobre o caráter ilícito do comportamento
que realiza e também possui a plena capacidade para determinar-se em
conformidade com esta consciência. A psicopatia é um transtorno de
personalidade que produz efeito direto no comportamento, mas não interfere
na consciência de seu caráter ilícito ou na autodeterminação do sujeito que
livremente escolhe realizá-lo. Os psicopatas têm plena consciência do
caráter ilícito do que estão fazendo e de suas consequências, pois sua
capacidade cognitiva ou racional é perfeita (GALVÃO, 2013, p. 456).

Hare (1993,p.18)12 relata que: “Esse comportamento moralmente


incompreensível exibido por uma pessoa aparentemente normal nos deixa
desnorteados e impotentes”.
Já Silva (2008, p.58)13 explana que: “os psicopatas não apenas transgridem
as normas sociais como também as ignoram e as consideram meros obstáculos,
que devem ser superados na conquista de suas ambições e seus prazeres”.
Seguindo os pensamentos dos demais autores, Couto, Pires & Nunes (2012) 14
explicam que:

O comportamento dos psicopatas é caracterizado pelo gosto de correr


riscos. Eles possuem a capacidade de se entediarem com facilidade, são
impulsivos, promíscuos, irritáveis e apresentam dificuldades em estabelecer
metas realistas de vida e ao longo prazo (COUTO; PIRES; NUNES, 2012, p.
169).

____________________________
10
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008.
11
GALVÃO, Fernando. Direito penal: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
12
HARE, Robert D. Sem Consciência: O Mundo Perturbador dos Psicopatas Que Vivem Entre
Nós. Ed. Artmed Editora Ltda, São Paulo, 1993.
13
Idem 10.
14
COUTO, Gleiber, PIRES, Sanyo Drummond, NUNES, Carlos Henrique Sancineto da Silva. Os
contornos da psicologia contemporânea: temas em avaliação psicológica. São Paulo: Casa do
psicólogo, 2012.
15
Idem 11.
17

Galvão (2013)15 vem a complementar que estes indivíduos são seres


extremamente arrogantes e vaidosos. Importam-se em ter autoridade e, sobretudo,
em controlar tudo que esteja ao seu redor, não se importando com o ‘achar’ das

____________________________
10
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008.
11
GALVÃO, Fernando. Direito penal: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
12
HARE, Robert D. Sem Consciência: O Mundo Perturbador dos Psicopatas Que Vivem Entre
Nós. Ed. Artmed Editora Ltda, São Paulo, 1993.
13
Idem 10.
14
COUTO, Gleiber, PIRES, Sanyo Drummond, NUNES, Carlos Henrique Sancineto da Silva. Os
contornos da psicologia contemporânea: temas em avaliação psicológica. São Paulo: Casa do
psicólogo, 2012.
15
Idem 11.
18

demais pessoas. Não se abalam com qualquer tipo de situação em que se deparem,
sejam elas econômicas, pessoais e até mesmo jurídicas. Consideram que tais
situações são momentâneas e são frutos de um azar, nunca considerando que são
provenientes de suas condutas.
Os autores supracitados acima mencionam ainda que os mesmos podem até
a chegar a formar um laço familiar, entretanto, não possuíram nenhum tipo de
sentimento por estas pessoas, apenas posse. No que diz respeito ao trabalho,
chegam a apresentar altas qualificações em seus currículos, mas todas são
inverídicas. Com o passar do tempo, estando já presente como funcionário,
começam a espalhar mentiras entre os seus chefes, provocando uma verdadeira
confusão. Sentem prazer em ver o “circo pegando fogo”.
Entende-se assim que os psicopatas são autênticos sanguessugas, sugando
tudo que há de aprazível da localidade de trabalho, para posteriormente ir à caça de
novas presas no qual terá início novamente o seu novo ciclo.
De acordo com Huffmann (2003)16, em relação as áreas cerebrais mais
tocadas pelos portadores de psicopatia, a ilustríssimo autor relata que:

As áreas do sistema límbico mais envolvidas com a agressão são a


amígdala e o septo. Pesquisas com gatos e ratos mostram que a
estimulação da amígdala aumenta o comportamento agressivo (Egger e
Flynn, 1967). A amígdala também está associada com a habilidade em
humanos de expressar medo e de reconhecer o medo no rosto dos outros
(Adophs, Tranel e Damiso, 1998; Morris, Frith, Perrett, Rowland, et al.,
1996; Oaks e Coover, 1997). Na vida, é claro, agressão e medo estão, com
frequência, intimamente relacionados. O septo, por outro lado, parece ter
um efeito moderador sobre a agressão. Animais que tiveram o septo
removido tendem a atacar qualquer coisa que se aproxime deles. O
hipotálamo afeta o comportamento agressivo por meio da regulação da
glândula pituitária, a qual libera o hormônio masculino testosterona, que
está relacionado à agressividade em várias espécies. Quanto mais
testosterona na corrente sanguínea, maior a probabilidade de que o animal
seja agressivo. Lembre-se de que, ainda que as estruturas do sistema
límbico, tais como o hipotálamo e as amígdalas, sejam instrumentais no
comportamento emocional, as emoções em humanos são controladas pelo
córtex cerebral, especialmente pelo lobo frontal. O caso de Phineas Gage
deixa claro que lesões no lobo frontal, o qual possui conexões neuronais
com a amígdala e o hipotálamo, podem afetar permanentemente o
comportamento social e emocional, tornando a pessoa mais ou menos
emocional, medrosa ou agressiva (HUFFMANN, 2003, p. 87).

Ou seja, o comportamento cerebral dos psicopatas revela que os mesmos


possuem, em relação as atividades de seu cérebro, profundas diferenças acerca dos
demais indivíduos. Sendo que o sistema límbico, encarregado pelo perfeito
____________________________
16
HUFFMANN, Karen; VERNOY, Mark; VERNOY, Judith. Psicologia. Tradução Maria Emília
Yamamoto. São Paulo: Atlas, 2003.
19

funcionamento da área do sentimento das pessoas, apresenta pouca utilização. Em


contrapartida, à área frontal da cabeça, compreendendo a testa, área está
encarregada pelo raciocínio, apresenta uma elevada atividade cerebral.
20

3 O DIREITO PENAL E O SEU SISTEMA PROTETIVO

Realizada as devidas considerações acerca da psicopatia torna-se


necessário, neste segundo momento, realizar uma análise do Direito Penal
Brasileiro, demonstrando os seus principais dispositivos punitivos como forma de
proporcionar um melhor entendimento deste estudo.
Assim, de acordo com Bitencourt (2014, p. 34) 17 o Direito Penal pode ser
entendido como “um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a
determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes”.
Bitencourt (2014, p.40)18 explana ainda que o Direito Penal brasileiro deverá
ser imposto e alicerçado partindo do entendimento de que o Brasil é um Estado
Democrático de Direito, isto é, o Direito Penal necessita acatar os princípios e
garantias dispostas pela Constituição Federal, devendo ter o seu funcionamento
voltado para o “instrumento de controle social limitado e legitimado por meio do
consenso alcançado entre os cidadãos de uma determinada sociedade”.
Desta forma, de acordo com os pensamentos de Santos (2014) 19, entende-se
que em um certo momento no tempo onde há a prevalência de uma relação,
ocorrendo assim um direito individual fundamentando, sendo que, em um
determinado instante, o mesmo irá sofrer algum tipo de lesão por meio de uma
atividade praticada contra si, o Direito Penal poderá entrar em ação, com o intuito de
proporcionar a sua segurança e para que seja aplicado as sanções cabíveis de
acordo com a legislação penal brasileira.
Significando assim, de acordo com Bitencourt (2014, p. 40) 20 “submeter o
exercício do ius puniendi ao império da lei ditada de acordo com as regras do
consenso democrático, colocando o Direito Penal a serviços dos interesses da
sociedade, particularmente da proteção de bens jurídicos fundamentais”.
Assim sendo, nota-se que não é qualquer ação que será justificada por meio
da manifestação do direito penal, sendo adotada nos casos em que,
fundamentalmente, o bem jurídico estiver sido lesionado ou por estar em grave
perigo.

____________________________
17
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral 1. 20ª Ed. rev., ampl. E
atual: São Paulo: Saraiva, 2014.
18
Idem 17.
19
SANTOS, K. G. A importância do bem jurídico para o direito penal e a necessidade de
delimitação. Salvador. 2014.
20
Idem 17.
21
FRAGOSO, H. C. Lições de Direito Penal - Parte Geral. 17ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
21

De acordo com Fragoso (2006)21 bem jurídico é:

____________________________
17
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral 1. 20ª Ed. rev., ampl. E
atual: São Paulo: Saraiva, 2014.
18
Idem 17.
19
SANTOS, K. G. A importância do bem jurídico para o direito penal e a necessidade de
delimitação. Salvador. 2014.
20
Idem 17.
21
FRAGOSO, H. C. Lições de Direito Penal - Parte Geral. 17ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
22

Não apenas um esquema conceitual visando proporcionar uma solução


técnica de nossa questão: é o bem humano ou da vida social que se
procura preservar, cuja natureza e qualidade dependem, sem dúvida, do
sentido que a norma tem ou que a ela é atribuído, constituindo, em qualquer
caso, uma realidade contemplada pelo direito. Bem jurídico é um bem
protegido pelo direito: é, portanto, um valor da vida humana que o direito
reconhece, e a cuja preservação é disposta a norma (FRAGOSO, 2006, p.
62).

Vale salientar que os bens jurídicos que possuem alto grau de relevância,
como a vida, a liberdade, a saúde, a honra tem um cuidado especial na nossa Carta
Magna de 1988, devendo, consequentemente, o Estado, por meio do Direito Penal,
realizar a sua proteção e aplicar as sanções cabíveis para cada caso em si.

3.1 Do ius puniendi

De acordo com a evolução histórica da ação de punir conferida ao Estado,


caberá a este, única e exclusivamente, a adotar medidas que vão na direção para o
combate de tal atividade, julgando e aplicando sanções em face daqueles que
venham a violar o ordenamento jurídico imposto. Detendo assim a legitimidade para
agir em face do acometimento de atos ilícitos, aplicando assim o seu poder de
punição.
Nesse sentido, Junior (2004)22 vem a preceituar que:

O Estado soberano caracteriza-se pela imposição de suas decisões em prol


do interesse geral, e esse poder de decidir afirma-se e consolida-se no dizer
e aplicar o direito, mesmo porque o Estado (moderno) existe na medida em
que dita o Direito e se põe como pessoa jurídica. O Estado, de conseguinte,
assegura a positividade do seu Direito e dá validade aos ordenamentos
internos, decidindo soberanamente sobre a ordem jurídica vigorante
(JUNIOR, 2004, p. 89).

Desta forma, a partir do momento em que o Estado associa o seu sistema


jurídico com o poder a ele conferido passa a exercer as suas funções por meio da
legalidade, advindas em virtude da sociedade necessitar de meios normativos para
que assim possam viver em harmonia, passando a punir aqueles que venham
colocar a coletividade em iminente perigo. Partindo-se deste preceito é que surge o
ius puniendi, sendo caracterizado assim, de acordo com Bitencourt (2014) 23, como o

____________________________
22
JUNIOR, Miguel Reale. Instituições de direito penal: parte geral. 2. ed. v.1. Rio de Janeiro:
Forense, 2004.
23
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral 1. 20ª Ed. rev., ampl. E
atual: São Paulo: Saraiva, 2014.
23

poder de atuação do Estado em face aos delinquentes que venham a atentar contra
o ordenamento jurídico, tirando a paz da sociedade.

____________________________
22
JUNIOR, Miguel Reale. Instituições de direito penal: parte geral. 2. ed. v.1. Rio de Janeiro:
Forense, 2004.
23
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral 1. 20ª Ed. rev., ampl. E
atual: São Paulo: Saraiva, 2014.
24

Assim sendo Battaglini (1973)24 explana que:

O direito de punir é manifestação do poder de império que cabe ao Estado;


insere-se na categoria dos direitos de supremacia, que se fundam no status
subjectionis, ou seja, naquela condição jurídica em razão da qual o individuo
deve obediência exclusivamente à vontade do Estado. O direito de punir
não é o constante na sua qualidade: há tantos direitos de punir, quantos são
os delitos (BATTAGLINI, 1973, p. 623 )

Todavia vale ressaltar que este poder punição conferido ao Estado está sobre
tutela dos principais princípios jurídicos, sejam eles a da dignidade da pessoa
humana, princípio da justicialidade, princípio da igualdade dentre outros. Devendo
assim ser respeitado, como cidadãos de direitos, os infratores no acometimento dos
seus atos infracionais. Devendo-se o Estado, desta forma, exercer as suas
atividades de punição de acordo como determina o sistema normativo penal, pois,
mesmo condenado, seja por meio da aplicação de uma pena restritiva de liberdade
ou de restritiva de direito, estes indivíduos são possuidores de direitos e devem ser
respeitados.

3.2 Das sanções penais compatíveis a psicopatia

Atualmente, muito tem-se falado das transgressões acometidas pelos


psicopatas e da total ineficácia das normas impostas aos mesmos, mostrando a
fragilidade do sistema jurídico presente no Brasil.
A pena tem como intuito central a punição dos infratores, bem como a sua
ressocialização, proporcionado assim que novos atos transgressivos não sejam
realizados.
Atualmente, o Código Penal Brasileiro não normatiza, diretamente, acerca do
tema em si, entretanto, alguns de seus preceitos normativos poderão ser aplicados
em situações em que haja o acometimento de atos infracionais praticados por estes
indivíduos.
Assim, de acordo Prado (2007)25, uma vez que a psicopatia é tida como um
distúrbio de personalidade, será examinado a culpabilidade do indivíduo, bem como
o grau pelo qual o mesmo manifesta, assim sendo, logo após a pratica destes atos
serão

____________________________
24
BATTAGLINI, Giulio. Direito penal: parte geral. V. 2. São Paulo: Saraiva, 1973.
25
PRADO. Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro. Volume 1, parte geral 1. 7 ed. São Paulo:
Editora Revista de Tribunais. 2007.
25

analisados os quesitos pelo quais os mesmos se encaixaram e só assim será


aplicado a sanção punitiva para o ato criminal pelo qual praticou.
Entretanto, alguns elementos ligados à culpabilidade deverão ser
examinados, em decorrência do seu vínculo com as penas a serem impostas aos
psicopatas. Vale ressaltar, antes de mais nada, que segundo Prado (2007) 26, a
culpabilidade é conceituada como:

A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou


omissão típica e ilícita. Assim não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude,
embora possa existir ação típica e ilícita inculpável. Devem ser levados em
consideração, além de todos os elementos objetivos e subjetivos da conduta
típica e ilícita realizada, também, suas circunstâncias e aspectos relativos à
autoria (PRADO, 2007, p. 408).

Segundo ainda Bitencourt (2000, p. 125)27 a culpabilidade “é vista como


possibilidade de reprovar o autor de um fato punível porque, de acordo com os fatos
concretos, podia e devia agir de modo diferente. Sem culpabilidade não há pena e
sem dolo ou culpa não pode existir”.
Sendo assim, diante esta breve explanação acerca da culpabilidade, torna-se
necessário informar os seus elementos, sendo eles a imputabilidade, a
inimputabilidade e semi-imputabilidade.
Para que os indivíduos infratores sejam responsabilizados pelos seus atos
ilícitos é de fundamental importância que os mesmos sejam considerados
imputáveis. Sendo que a imputabilidade consiste no ato de se responsabilizar
alguém por um fato ilícito.
Sendo assim, Jesus (2000)28 explana que:

Imputar é atribuir a responsabilidade de alguma coisa. Imputabilidade penal


é o conjunto de condições pessoas que dão ao agente capacidade para lhe
ser juridicamente imputada a prática de um fato punível, e ainda, imputável
é o sujeito mentalmente são e desenvolvido que possui capacidade de
saber sua conduta contraria aos mandamentos da ordem jurídica (JESUS,
2000, p. 85).

As transgressões cometidas pelos psicopatas o que se nota, principalmente, é


o reconhecimento da pratica ilícita que os mesmos estão acometendo, sendo que as
suas condutas são baseadas nestes reconhecimentos. Nestes casos os mesmos
deverão ser considerados como imputáveis.
____________________________
26
PRADO. Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro. Volume 1, parte geral 1. 7 ed. São Paulo:
Editora Revista de Tribunais. 2007.
27
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
28
JESUS, Damasio de. Direito Penal – Parte Geral 31 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.
26

O artigo 26 do Código Penal Brasileiro29 disciplina que:

Art. 26 – É isento de pena o agente que, por doença mental incompleto ou


retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento (BRASIL, 1940).

Ou seja, os agentes infratores, se considerados inimputáveis, de acordo com


o estabelecido pelo artigo supracitado, não serão aplicadas as penas privativas de
liberdade ou penas restritivas de direitos, ocorrendo, assim, a chamada absolvição
imprópria, com a consequente aplicação de medida de segurança, nos termos do
art. 97 do Código Penal30, pelo qual expõe:

Art. 97 – Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art.


26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção,
poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial (BRASIL, 1940).

Sob as medidas de segurança, Mirabete (2005)31 relata que:

A medida de segurança não deixa de ser uma sanção penal e, embora


mantenha semelhança com a pena diminuindo um bem jurídico, visa
precipuamente à prevenção, no sentido de preservar a sociedade de ação
de delinquentes temíveis ou de pessoas portadoras de deficiência
psíquicas, e de submetê-las a tratamento curativo (MIRABETE, 2005, p. 59).

Já, de acordo com Greco (2011)32:

Ao inimputável que pratica um injusto penal o Estado reservou a medida de


segurança, cuja finalidade será levar a efeito o seu tratamento. Não
podemos afastar da medida de segurança, além da sua finalidade curativa,
aquela de natureza preventiva especial, pois, tratando do doente, o Estado
espera que este não volte a praticar qualquer fato típico e ilícito (GRECO,
2011, p. 659).

De acordo com Jesus (2010)33 os motivos que levam a ocorrência da


inimputabilidade estão baseados em:

a) sistema biológico: leva-se em conta a causa e não o efeito. Condiciona a


imputabilidade à inexistência de doença mental, de desenvolvimento mental
deficiente e de transtorno psíquicos momentâneos [...]; b) sistema
psicológico: o que importa é o efeito e não a causa. Leva em conta se o
sujeito, no momento do prático o fato, tinha condição de compreender o seu

____________________________
29
BRASIL. Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal.
30
Idem 29.
31
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado – 5 Ed. – São Paulo: Atlas, 2005.
32
GRECO, Rogério. Culpabilidade. Curso de Direito Penal: parte geral. 13. Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011. Cap. 3, p. 371-412. (Curso de Direito Penal, v. 1).
33
JESUS, Damasio de. Direito Penal – Parte Geral 31 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.
27

caráter ilícito e de determinar-se de acordo com essa compreensão ou não


[...]; c) sistema biopsicológico: é constituído dos dois primeiros. Toma em

____________________________
29
BRASIL. Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal.
30
Idem 29.
31
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado – 5 Ed. – São Paulo: Atlas, 2005.
32
GRECO, Rogério. Culpabilidade. Curso de Direito Penal: parte geral. 13. Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011. Cap. 3, p. 371-412. (Curso de Direito Penal, v. 1).
33
JESUS, Damasio de. Direito Penal – Parte Geral 31 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.
28

consideração a causa e o efeito. Só é imputável o sujeito que, em


consequência da anatomia mental, não possui capacidade de compreender
o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com essa
compreensão. A doença mental, p. ex., por si só não é causa de
inimputabilidade. É preciso que, em decorrência dela, o sujeito não possua
capacidade de entendimento ou de autodeterminação (JESUS, 2010,
p.500).

Todavia, a inimputabilidade que trata o mencionado artigo 26, não deverá ser
imposto aos psicopatas, em virtude de os mesmos não serem tidos como doentes
mentais, que seja capaz de tirar a suas compreensões.
E por fim, mas não menos importante, tem-se a semi-imputabilidade, que se
encontra entre a imputabilidade e a inimputabilidade, podendo ser, em diversos
casos, decisivo no que diz respeito ao auto entendimento dos indivíduos.
Oliveira (2015)34 assim explana:
Os operadores do direito, de modo geral, têm disciplinado que os psicopatas
deveriam ser responsabilizados penalmente como semi-imputáveis, uma
vez que a psicopatia se assemelha a uma espécie de perturbação da saúde
mental e, por isso, há uma enorme dificuldade de se saber se esse sujeito
criminoso tem a relativa capacidade de entender o caráter ilícito do fato, ou
de agir conforme este entendimento. E, regra, cumpre ressaltar que, na
inimputabilidade penal, o agente é absolvido e submetido à medida de
segurança, visto que, na semi-imputabilidade há a prolação de sentença
condenatória, mas com a obrigatoriedade de redução da pena (OLIVEIRA,
2015, p. 08).

Assim sendo, torna-se de extrema importância que estes indivíduos,


independente do grau que os mesmos se encontrem, sejam submetidos a
procedimentos psiquiátricos em estabelecimentos apropriados, como os manicômios
judiciários. Que para Couto, Pires & Nunes (2012)35 pode ser entendido como:

[...] instituições complexas, que conseguem articular, de um lado, duas das


realidades mais deprimentes das sociedades modernas – o asilo de
alienados e a prisão – e, de outro, dois dos fantasmas mais trágicos que,
perseguem a todos: o criminoso e o louco (COUTO; PIRES; NUNES, 2012,
p. 17).

No que diz respeito as penas a serem aplicadas, Ceolin & Carvalho (2016) 36,
relatam que:

____________________________
34
OLIVEIRA, Alex Moises D. O psicopata e o direito penal brasileiro. Âmbito Jurídico, 2015.
35
COUTO, Gleiber, PIRES, Sanyo Drummond, NUNES, Carlos Henrique Sancineto da Silva. Os
contornos da psicologia contemporânea: temas em avaliação psicológica. São Paulo: Casa do
psicólogo, 2012.
36
CEOLIN, Emanuela Gonçalves; CARVALHO, Flavio Rodrigo Masson. O psicopata homicida e as
sanções penais a ele empregadas no atual sistema penal brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XIX, n. 153, out 2016.
29

Dentro do sistema penal brasileiro, as sanções penais compreendem as


penas e as medidas de segurança, e sabe-se que o fundamento para que

____________________________
34
OLIVEIRA, Alex Moises D. O psicopata e o direito penal brasileiro. Âmbito Jurídico, 2015.
35
COUTO, Gleiber, PIRES, Sanyo Drummond, NUNES, Carlos Henrique Sancineto da Silva. Os
contornos da psicologia contemporânea: temas em avaliação psicológica. São Paulo: Casa do
psicólogo, 2012.
36
CEOLIN, Emanuela Gonçalves; CARVALHO, Flavio Rodrigo Masson. O psicopata homicida e as
sanções penais a ele empregadas no atual sistema penal brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XIX, n. 153, out 2016.
30

uma pena seja imputada ao agente é a culpabilidade, ao passo que a


medida de segurança é fundamentada no aspecto da periculosidade. As
penas são atribuídas a agentes imputáveis e semi-imputáveis, enquanto as
medidas de segurança atualmente se aplicam principalmente aos
inimputáveis, mas há casos em que a semi-imputáveis também (CEOLIN;
CARVALHO, 2016, p.14).

Diante todo o exposto, nota-se que as penas têm como intuito o de punir os
indivíduos que cometem os atos infracionais, manifestando assim o total desprezo
no que concerne a atividade praticada tida como antijurídica, na esperança de
prevenir que os mesmos venham cometer novamente crimes a partir do momento
em que estiverem em liberdade. Já no que se refere as medidas de segurança, tem
como finalidade principal encaminhar o indivíduo portador de psicopatia ao
tratamento, não havendo assim um tempo médio que possa durar o tratamento, ou
seja, os mesmos ficarão à disposição dos cuidados médicos até o momento em que
persistir ativo o seu grau de periculosidade.
Vale ressaltar que os indivíduos portadores de psicopatia a partir do momento
em que forem julgados e levados a cumprirem as sanções impostas, independente
da duração de sua pena, o mesmo raramente terá o seu modo de agir mudado.
Percebendo então que a pena privativa de liberdade torna-se ineficaz ao ser
aplicada aos psicopatas, independentemente do grau que o mesmo apresenta.
Sendo assim, as medidas de segurança apresentam- se como o meio mais eficaz de
punir, bem como de prevenção e tratamento acerca dos atos ilícitos praticados pelos
mesmos.
Nesse sentido as medidas de segurança tratam-se uma ferramenta capaz de
ocasionar a prevenção, no sentido de proteger os demais cidadãos das possíveis
praticas delituosas que estes infratores venham acometer, proporcionado, ainda, a
recuperação dos mesmos por meio de cuidados médicos adequados.
Oliveira (2015)37 relata que:

Sem delongas, reconhecemos que a medida de segurança é, ainda, a


melhor punição ao psicopata. Contudo, é preciso dizer que é necessário que
o tempo da medida não se limite igualmente ao que fora imposta ao do
crime ocorrido, perdurando enquanto se achar necessário, ou seja,
enquanto mostrar sua periculosidade ao convívio social. Enfatizando
também que nessa medida haja o acompanhamento com equipe contínua,
para que se minimize as agressões e impulsividades do agente (OLIVEIRA,
2015, p. 10).

____________________________
37
OLIVEIRA, Alex Moises D. O psicopata e o direito penal brasileiro. Âmbito Jurídico, 2015.
38
BRASIL. Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal.
31

O Código Penal38, no seu art. 96, disciplina as medidas de segurança, sendo


elas:

____________________________
37
OLIVEIRA, Alex Moises D. O psicopata e o direito penal brasileiro. Âmbito Jurídico, 2015.
38
BRASIL. Decreto Lei n.º 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal.
32

Art. 96 – As medidas de segurança são:


I – Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta,
em outro estabelecimento adequado;
II – Sujeição a tratamento ambulatorial.
Parágrafo único – Extinta a punibilidade, não se impõe medida de
segurança nem subsiste a que tenha sido imposta (BRASIL, 1940).

Entretanto, Greco (2011)39 afirma que:

Apesar da deficiência do nosso sistema, devemos tratar a medida de


segurança como remédio, e não como pena. Se a internação não está
resolvendo o problema mental do paciente ali internado sob o regime de
medida de segurança, a solução será a desinternação, passando-se para o
tratamento ambulatorial. Mas não podemos liberar completamente o
paciente se este ainda demonstra que, se não for corretamente submetido a
um tratamento médico, voltará a trazer perigo para si próprio, bem como
para aqueles que com ele convivem (GRECO, 2011, p. 669).

Sendo assim, Araújo (2014)40 expõe que:

O Código Penal pátrio adotou o sistema vicariante ou unitário de penas.


Neste sistema, o condenado apenas cumprirá a pena, propriamente dita, ou
a ele será aplicada a medida de segurança (absolvição imprópria), que
possui função eminentemente curativa (ARAÚJO, 2014, p.21).

Ou seja, os psicopatas deverão ser tratados, de acordo com a grande maioria


dos doutrinadores, como uma pessoa semi-imputável, pelo qual, neste caso, serão
impostos aos estes, o que disciplina o parágrafo único do art. 26 do Código Penal, já
mencionado acima.
Partindo-se deste preceito nota-se que aqueles indivíduos acometidos de
psicopatia e que praticam crimes de homicídio, muitas vezes de forma maquiavélica,
não são tratados, pelo ordenamento penal brasileiro, como deveriam ser. Contudo, o
psicopata que não pratica atos ilícitos tidos como violentos também não sofrem as
devidas punições, sendo que, em ambos os casos, os mesmos praticaram
novamente algum tipo de crime, pois é da sua natureza a pratica destes atos.
Silva (2008, p. 133)41 explana que: “[...] a taxa de reincidência criminal dos
psicopatas é cerca de duas vezes maior que a dos demais criminosos”.
Oliveira (2015)42 explana ainda que:

____________________________
39
GRECO, Rogério. Culpabilidade. Curso de Direito Penal: parte geral. 13. Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011. Cap. 3, p. 371-412. (Curso de Direito Penal, v. 1).
40
ARAÚJO, Jáder Melquíades de. Da aplicabilidade da medida de segurança aos psicopatas: um
estudo à luz do parágrafo único do artigo 26 do Código Penal Brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XVII, n. 124, maio 2014.
41
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008.
42
OLIVEIRA, Alex Moises D. O psicopata e o direito penal brasileiro. Âmbito Jurídico, 2015.
33

Considerando todo aspecto e a completa rejeição por tratamentos de praxe


deve a execução penal dos psicopatas ocorrer de forma diferenciada e
supervisionada intensivamente por agentes capacitados e treinados contra
tal elemento portador de psicopatia, mas no Brasil não se encontra tal
supervisão, nem mesmo estrutura carcerária onde cada indivíduo deveria
repousar em celas individuais (OLIVEIRA, 2015, p. 23).

Diante o exposto, torna-se de suma importância a normatização dos atos


praticados por tais indivíduos, disciplinando penas a serem impostas aos mesmos,
pois, estes meliantes sempre apresentarão um alto grau de periculosidade para a
sociedade em si.

3.3 Diferenciação dos crimes praticados por indivíduos portadores de


psicopatia

Percebe-se que, as transgressões praticadas pelos psicopatas possuem uma


grande diferenciação em face aos cometidos por indivíduos comuns. O grau de
brutalidade e a falta de um determinado entendimento, que os mesmos apresentam,
é tido como algo pelo qual não se consegue explicar pela sociedade. A cada ano
que se passa percebe-se, cada vez mais, o número crescente de indivíduos
portadores deste distúrbio mental, deixando as pessoas em alerta.

3.3.1 Diferença dos crimes praticados por indivíduos comuns para com os indivíduos
psicopatas

Diversos assuntos já foram colocados em discursão acerca dos atos ilícitos


praticados pelos psicopatas. Entretanto, torna-se de suma importância frisar que, de
um modo em geral, os crimes praticados por estes indivíduos são realizados de
maneira extremamente violentas e com alto grau de crueldade. Os psicopatas, ao
realizarem tais crimes não desejam tão somente matar as suas vítimas, mas
também as humilhas, provocando enormes dores as mesmas.
Nota-se ainda que os delitos praticados por estes indivíduos são realizados
com alta grau de crueldade, de forma mortal e sendo praticados estrategicamente,
diferenciando assim dos crimes cometidos por indivíduos comuns. Os crimes
praticados pelos psicopatas apresentam como características a utilização da tortura
física e mental, o corpo humano é esquartejado, execução em massa e sem razões.
34

A ausência de normas regulamentadoras que discipline a conduta destes


indivíduos, ocasionam, de uma certa maneira, uma total ineficácia no que se refere
aos meios de punição. Os mesmos acabam obtendo uma redução de suas penas e
são colocados em liberdade, retornando para o meio social, mais seguro em si e
bem arquitetado, ocasionando assim o surgimento de novos crimes, cada vez mais
perversos e bem mais arquitetado, praticados cuidadosamente.
Já no que tange os indivíduos comuns que praticam determinadas ações de
forma típica e antijurídica, possuem determinadas éticas que os mesmos seguem e
respeitam, cuja a pratica de determinados crimes são incentivados por alguma
situação de extrema relevância para ele naquele exato instante.
Já um indivíduo acometido por psicopatia ao realizar um crime o faz,
simplesmente, pela maldade que está em si, desejando tão somente atingir um
determinado poder pelo qual tal ato poderá lhe proporcionar. Os psicopatas não
possuem ética, não seguem regras, se satisfazem praticando crimes bárbaros,
gostam de sentir o sofrimento das pessoas, tratam as suas vítimas com extremo
desprezo e frieza, são pessoas extremamente perigosas.
Entretanto, vale ressaltar que, estes indivíduos são inteligentes, praticando os
seus crimes de forma calculada. Acerca deste assunto Ceolin & Carvalho (2016) 43
explanam que:

Para parecer uma pessoa normal e misturar-se aos outros seres humanos,
o serial killer desenvolve uma personalidade para contato, ou seja, um fino
verniz de personalidade completamente dissociado do seu comportamento
violento e criminoso. Sem esse verniz não poderiam viver na sociedade sem
ser presos instantaneamente (CEOLIN; CARVALHO, 2016, p. 16).

O motivo destes indivíduos controlarem as suas condutas com o intuito de


não serem achados e que possam continuar praticando as suas ações de forma
calada, demonstra que eles estão cientes que as suas condutas são reprovadas
perante a sociedade. Deixando claro também que os mesmos são dotados de uma
extrema inteligência e com alta capacidade de saberem o que é certo e o que é
errado.
Entretanto, seguindo os ensinamentos de Ceolin & Carvalho (2016) 44, os
mesmos relatam ainda que:

____________________________
43
CEOLIN, Emanuela Gonçalves; CARVALHO, Flavio Rodrigo Masson. O psicopata homicida e as
sanções penais a ele empregadas no atual sistema penal brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XIX, n. 153, out 2016.
44
Idem 43.
35

____________________________
43
CEOLIN, Emanuela Gonçalves; CARVALHO, Flavio Rodrigo Masson. O psicopata homicida e as
sanções penais a ele empregadas no atual sistema penal brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XIX, n. 153, out 2016.
44
Idem 43.
36

É importante ter em mente que, mesmo que a personalidade do psicopata


apresente características que são “favoráveis” a desencadear
comportamentos criminosos, nem todos os psicopatas chegam a cometer
crimes; da mesma forma, nem todos os criminosos, ou mesmo homicidas
em série podem ser enquadrados como portadores da psicopatia. No
tocante aos homicidas, mister esclarecer que os motivos que levam um
psicopata a matar alguém guardam diferenças em comparação aos motivos
que levam uma pessoa “normal” a matar alguém (CEOLIN; CARVALHO,
2016, p. 24).

Observa-se então que, nem todos os homicidas que praticam tais atividades
em serie serão considerados como pessoas portadoras deste distúrbio. Cada ação,
em especial, poderá ser caracterizada de alguma maneira, tornando-os distintos
uma das outras de alguma forma.
Atualmente existem centenas de milhares de casos que poderão ser
utilizados como meio de exemplificar os atos criminosos praticados pelos
psicopatas.

3.4 Crimes praticados por psicopatas que marcaram uma sociedade

Neste momento, de forma resumida, serão elencados alguns crimes


praticados por psicopatas que se tornaram famosos mundialmente devido a forma
que foram praticados, com tremendo requinte de crueldade e que acabaram
provocando um verdadeiro caos nos locais onde tais fatos aconteceram.

3.4.1 O bandido da luz vermelha

Sendo assim, em um primeiro momento, de acordo com Cabral (2016) 45,


pode-se citar o “bandido da luz vermelha” sendo apontado como um dos
transgressores mais conhecido no Brasil. Desde a sua juventude o mesmo já
praticava pequenos delitos como roubos em sua cidade natal. Temendo ser preso,
João Acácio foi morar na cidade paulista de Santos começando assim a sua
trajetória perversa no crime. O nome atribuído ao mesmo se deve ao fato de se
utilizar uma lanterna de bocal vermelho para assaltar as residências de alto padrão
na capital paulista. Sempre praticava os seus crimes a altas horas da noite, cortando
a energia da residência pela qual iria adentrar.

____________________________
45
CABRAL, Danilo Cezar. João Acácio Pereira da Rocha, o Bandido da Luz Vermelha. Revista
Mundo Estranho, Site Abril, 15 de setembro de 2016.
46
Idem 45.
37

Cabral (2016)46 vem a lecionar ainda que este psicopata foi capturado em
agosto de 1967, na cidade de Curitiba, pela qual a sua condenação chegou a 351

____________________________
45
CABRAL, Danilo Cezar. João Acácio Pereira da Rocha, o Bandido da Luz Vermelha. Revista
Mundo Estranho, Site Abril, 15 de setembro de 2016.
46
Idem 45.
38

anos, 9 meses e 3 dias de prisão, pelos crimes de 4 homicídios, 7 tentativas de


homicídio e por setenta e sete assaltos. Contudo, apesar de nunca terem
formalizado nenhuma denúncia de estupro contra o mesmo, acredita-se que mais de
100 mulheres tenham sido vítimas deste indivíduo.
Seguindo os ensinamentos do autor supracitado acima47, apesar de sua
condenação ter sido bastante alta após 30 anos foi libertado devido a legislação
brasileira permitir tão somente isso. Sendo liberto em agosto de 1997. Contudo,
após 5 meses de sua liberdade, o mesmo foi assassinado em uma briga de bar, pelo
qual, o seu assassino foi absorvido alegando legitima defesa.

3.4.2 Maníaco do parque

Já no que tange ao “Maníaco do Parque” Cabral (2016) 48 vem a lecionar que


Francisco de Assis Pereira, como qual era conhecido, veio a praticar diversos
assassinados em série, estuprando e matando no mínimo seis mulheres e tentando
contra a vida de mais nove nos anos de 1998 na capital paulista, mais precisamente
no Parque do Estado.
Cabral (2016)49 vem a informar ainda que a infância deste indivíduo foi
marcada por trágicos acontecimentos sendo ele molestado sexualmente por sua tia
materna, ocasionando assim, na sua fase adulta, um extremo desejo por seios
femininos. Já na sua fase adulta, Francisco acabou sendo seduzido por seus
patrões, desenvolvendo, no mesmo, um desejo por indivíduos do sexo masculino.
Teve também a situação em que uma colega de trabalho acabou mordendo o seu
órgão genital, provocando quase a sua amputação. Sendo este considerado com o
ato vital pela qual o levou a praticar os inúmeros crimes, ficando assim conhecido
como “Maníaco do Parque”.
O autor acima mencionado50 relata ainda que os seus crimes eram
caracterizados pelas mordidas pelas quais o mesmo realizava em suas vítimas. Em
1998, ano este em que todos os crimes foram praticados, Francisco foi capturado e
condenado a 268 anos de reclusão pela morte de 10 mulheres. Após a sua prisão, o

____________________________
47
CABRAL, Danilo Cezar. João Acácio Pereira da Rocha, o Bandido da Luz Vermelha. Revista
Mundo Estranho, Site Abril, 15 de setembro de 2016.
48
Idem 47.
49
Idem 47.
50
Idem 47.
39

mesmo começou a receber diversas cartas de mulheres que sentiam atração por
este indivíduo.

____________________________
47
CABRAL, Danilo Cezar. João Acácio Pereira da Rocha, o Bandido da Luz Vermelha. Revista
Mundo Estranho, Site Abril, 15 de setembro de 2016.
48
Idem 47.
49
Idem 47.
50
Idem 47.
40

Atualmente Francisco encontra-se casado com uma das mulheres que


escreviam para ele na cadeia. Considera-se uma pessoa normal e diz estar vivo
graças a sua fé. Justifica que seus atos cometidos no passado foram em
decorrência de uma “força maligna”.

3.4.3 Jack, o estripador

Jack é um dos criminosos mais conhecidos em todo o mundo sendo os seus


crimes praticados no ano de 1888 na cidade de Londres.
Vívolo (2015)51 relata que:

Curiosamente, as descrições eram sempre acompanhadas de suposições


em relação à classe social e profissional do sujeito. Ao longo da
investigação, tais teses alimentavam suspeitas a –respectivamente- judeus,
estrangeiros, sapateiros, estudantes de cirurgia (cujo prestígio da profissão
médica não era sequer similar ao dos dias atuais), açougueiro, magarefes,
médicos, marinheiros e católicos (VÍVOLO, 2015, p. 03).

Vívolo (2015)52 explana ainda que os crimes praticados por Jack, o Estripador,
eram, na maioria das vezes, acometidos em face a prostitutas que moravam e
praticavam as suas atividades em regiões de baixa renda na cidade de Londres. O
requinte de crueldade era o que chamava a atenção de todos, pois as vítimas eram
encontradas mortas com a sua garganta cortada e com a região abdominal cortada
também. Foram aproximadamente 11 crimes praticados por este indivíduo.
Entretanto, até hoje os crimes praticados nunca foram desvendados, não se sabe
quem é o autor destes bárbaros assassinatos. Inúmeras entrevistas com suspeitos,
dezenas de detenções já foram realizadas. Mas nunca se chegou no verdadeiro
autor de tais atos. Tornando-se assim, uma lenda histórica.
O indivíduo praticante de tais atos nuca foi descoberto e capturado, sendo
este assunto até hoje repleto de mistérios e intrigas. Inúmeras teses despontam a
cada ano, tentando desvendar a verdadeira identidade do Jack, O Estripador.
Entretanto, até o exato momento não há provas robustas que acabe desvendando o
verdadeiro autor de tantos assassinatos acometidos no ano de 1888 na cidade de
Londres.

____________________________
51
VÍVOLO, Vitor da Matta. As vítimas de Jack, o Estripador. Jusbrasil, São Paulo, 2015.
52
Idem 51.
41

____________________________
51
VÍVOLO, Vitor da Matta. As vítimas de Jack, o Estripador. Jusbrasil, São Paulo, 2015.
52
Idem 51.
42

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias atuais, não há uma norma que trate, de modo especifico, sobre os
delitos acometidos por indivíduos portadores de psicopatia e bem como a melhor
maneira de se aplicar uma punição a estes infratores. Consequentemente, o sistema
judiciário se vê obrigado a utilizar de normas destinadas, especificamente, para
criminosos considerados comuns, que não possuem transtorno de personalidade.
Tornando assim, os meios de punição muitas vezes ineficaz perante os psicopatas.
Essa ineficácia se dá, principalmente pelo fato dos psicopatas possuírem um
comportamento dissimulado, frio e calculista, possuidor de um distúrbio de
personalidade, sendo caracterizada principalmente pela falta de sentimento que o
indivíduo apresenta em face as outras pessoas, não aprendendo de maneira
nenhuma através das sanções impostas aos mesmos. Sendo que, na maioria das
vezes, ao serem colocados em liberdade, voltarão a cometer crimes, cada vez
piores e de forma cruel.
Sendo assim, é de fundamental importância que ocorra um maior empenho,
por parte do Estado, acerca do assunto, possibilitando a criação de Leis especificas
que trate dos crimes cometidos por estes indivíduos transgressores e, bem como a
criação de estabelecimentos destinados tão somente a estas pessoas, tirando-os do
convívio de outros detentos considerados comuns, pois vale ressaltar que por onde
passam, sejam nas prisões ou nos centros de tratamento, os psicopatas irão deixar
a sua marca, provocando um verdadeiro caos nestes estabelecimentos judiciários.
Proporcionando assim, à aplicação de medidas com o intuito de amenizar o seu
comportamento agressivo, mesmo sabendo que nunca serão curados totalmente,
pois o que possuem é justamente um distúrbio de personalidade.
Torna-se necessário que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, a cada
momento que se passe, se atualize cada vez mais, pois vivemos em constante
evolução, onde a cada minuto novas descobertas vão surgindo. Existem relatos,
como visto nos capítulos anteriores, de psicopatas desde o ano de 1888, ficando
claro a necessidade de uma normatização concreta para os atos praticados por
estes indivíduos, pois o tema não é novo. Só com a utilização de tratamento não irá
resolver o problema, pois estes indivíduos apresentam características duvidosas.
Sendo assim, fica claro a necessidade da criação de normas que possibilitem
combater, de forma mais precisa, a ocorrência destes casos. Fica evidenciado
43

também que as pesquisas relacionadas ao tema em si nunca deverão sessar, em


virtude do surgimento de novos casos pelas quais envolvam estes indivíduos
portadores de psicopatia.
Vale ressaltar ainda que, todos os setores do conhecimento que tratam
destes tipos de ocorrência devam trabalhar juntas, possibilitando que o
conhecimento sobre o tema cresça cada vez mais, ocasionando, consequentemente
a sua expansão, proporcionando assim um tratamento mais eficaz e métodos de
punição mais rígidas sejam criadas.
44

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