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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Faculdade de Ciências Jurídicas


Curso de Graduação em Direito

Ana Clara Fernandes Carlos Totti

PSICOPATIA E RESPONSABILIDADE PENAL:


UMA ANÁLISE NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Diamantina
2023
Ana Clara Fernandes Carlos Totti

PSICOPATIA E RESPONSABILIDADE PENAL:


UMA ANÁLISE NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Monografia apresentada ao curso de Direito


da Universidade do Estado de Minas Gerias,
unidade de Diamantina, como requisito parcial
à obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Franklin Vinícius
Marques Dutra

Diamantina
2023
Dedico este trabalho à minha mãe, Patrícia
Fernandes Carlos bem como ao meu avô,
Hélvio Carlos, que são a minha razão da
busca pelo sucesso.
AGRADECIMENTOS

Ao longo desses cinco anos, foram muitos os momentos difíceis e de


ansiedade. Me lembro quando soube que havia passado no vestibular e do sentimento
de euforia em vivenciar essa nova etapa... e hoje, com muita gratidão no coração,
encerro mais esse ciclo ao lado de pessoas maravilhosas, que sempre me apoiaram
e me incentivaram a perseguir meus objetivos, em especial, à minha mãe, Patrícia
Fernandes Carlos, que nunca mediu esforços para que esse sonho se tornasse real,
e ao meu Avô, Hélvio Carlos, que sempre esteve ao meu lado segurando minha mão
nos momentos difíceis. Agradeço também aos meus familiares e amigos, irmãos do
coração, que tornaram o processo muito mais leve.
Por fim, agradeço a Deus, a base de tudo, aos mestres, que sempre me
mostraram a direção a ser seguida, e a Diamantina, que também se tornou meu lar.
O sentimento que fica é de orgulho pela trajetória percorrida.
RESUMO

Este trabalho aborda a complexa relação entre a psicopatia e o sistema jurídico penal
brasileiro, destacando os desafios enfrentados na identificação, tratamento e punição
do indivíduo portador do transtorno de personalidade antissocial. O estudo também
abrange questões como a responsabilidade penal do sujeito inserido nessa realidade.
Isso posto, a pesquisa questiona a eficácia das intervenções legais e destaca lacunas
na legislação, levantando questionamento sobre as respostas jurídicas frente ao
problema. O objetivo é contribuir para uma reflexão sobre como o sistema penal lida
com indivíduos considerados psicopatas e quais são suas limitações. A presente
pesquisa segue abordagem qualitativa, através do método dedutivo, a partir de análise
bibliográfica.
Palavras-chave: Psicopatia; Responsabilidade penal; Direito penal brasileiro.
ABSTRACT

This work addresses the complex relationship between psychopathy and the Brazilian
penal legal system, highlighting the challenges faced in the identification, treatment,
and punishment of individuals with antisocial personality disorder. The study also
covers issues such as the criminal responsibility of individuals within this context. With
that said, the research questions the effectiveness of legal interventions and highlights
gaps in legislation, raising questions about legal responses to the problem. The aim is
to contribute to a reflection on how the penal system deals with individuals considered
psychopathic and what its limitations are. The present research follows a qualitative
approach through the deductive method, based on bibliographical analysis.
Keywords: Psychopathy; Criminal liability; Brazilian criminal law.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09
1. A PSICOPATIA ............................................................................................... 11
2 ESPÉCIES DE PENA ......................................................................................... 16
2.1 Medida de Segurança ...................................................................................... 16
2.2 Pena Privativa de Liberdade ............................................................................ 18
2.3 Pena Restritiva de Direitos ...............................................................................19
2.4 Ineficácia do tratamento aplicado .................................................................... 21
2.5 Exame Criminológico ....................................................................................... 23
3. RESPONSABILIDADE PENAL ......................................................................... 26
3.1 Culpabilidade ................................................................................................... 26
3.2 Imputabilidade .................................................................................................. 27
3.3 Inimputabilidade ............................................................................................... 28
3.4 Semi-imputabilidade ......................................................................................... 30
4. REINCIDENCIA ................................................................................................. 35
4.1 Escala PCL-R ................................................................................................... 37
5. CASOS BRASILEIROS ..................................................................................... 39
5.1 Comparação com outros países ...................................................................... 41
CONCLUSÃO ......................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 46
INTRODUÇÃO

A psicopatia, também denominada transtorno de personalidade antissocial,


pode ser caracterizada pelo aparecimento de sinais associados à ausência de
empatia, falta de escrúpulos morais, comportamento manipulativo, tendência à
mentira patológica, egocentrismo, propensão à criminalidade, impulsividade,
propensão à violência e crueldade. Sua temática da suscita interesse em disciplinas,
como criminologia, psicologia, psiquiatria e psicanálise; todas voltadas para a
compreensão do comportamento agressivo das pessoas. Ao longo dos anos, esse
tema tem sido objeto de debates e pesquisas, no entanto, sua complexidade ainda
persiste (Santos, 2013).
Nesse sentido, mesmo que a psicopatia seja discutida no âmbito da
terminologia psiquiátrica, sua descrição nosológica a distingue de doenças mentais,
uma vez que não manifesta sintomas como delírios, alucinações ou qualquer forma
de comprometimento intelectual. Além do mais, sendo considerada uma modalidade
de existência vinculada à prática de ações na sociedade, essa configuração clínica
sugere uma predisposição do indivíduo à criminalidade (Silva, 2008).
Diante desse cenário, o presente trabalho de conclusão de curso busca analisar
a política criminal, bem como a responsabilidade penal do psicopata, tendo em vista,
que a legislação brasileira se mostra silente quanto a essa questão. Em linhas gerais,
a metodologia empregada se fundamenta na pesquisa bibliográfica, fazendo uso de
fontes como livros, artigos e casos específicos. Adicionalmente, busca-se uma
colaboração interdisciplinar entre as áreas psiquiátrica e jurídica.
Diante das suposições que indicam a importância da análise de laudos periciais
no contexto do sistema penal para uma resolução eficaz de crimes cometidos por
indivíduos com transtornos, é notável que as evidências periciais têm a tendência de
serem objetivas e menos suscetíveis à influência humana quando comparadas às
provas subjetivas. Entretanto, mesmo que tais provas sejam aceitas, não são
concedidas de maior relevância do que as demais, pois a conclusão do magistrado
muitas vezes será determinada pela análise crítica de todo o conjunto probatório
apresentado nos autos do caso específico.
Tendo em vista fatores mencionados, torna-se importante examinar a ineficácia
das medidas adotadas e as condições precárias de tratamento oferecidas aos

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psicopatas. Isso inclui a análise dos índices de reincidência criminal, a prevalência na
sociedade e, por fim, a comparação da forma como esses indivíduos são tratados pela
legislação estrangeira.
Para tanto, a estrutura do trabalho se inicia com uma revisão, ainda que em
termos gerais, dos principais elementos caracterizadores da psicopatia. Na sequência,
o capítulo que se segue quer contextualizar as diversas espécies de pena previstas
no ordenamento jurídico brasileiro, com a finalidade de vislumbrar como encaixar ali
a conduta de um agente psicopata. Dando continuidade a esse esforço, o capítulo
subsequente, revisa elementos essenciais da responsabilidade penal no direito
brasileiro. Adiante, é feito uma breve explanação a respeito do problema da
reincidência das ações criminosas de psicopatas, bem como se aproxima da prática
do direito brasileiro por meio da análise de casos concretos, em debate com sistemas
jurídicos outros.
Espera-se que, com isso, seja possível entender melhor como a questão da
responsabilidade penal do psicopata envolve vários equívocos em todos os seus
aspectos e definições, dado o número limitado de estudos e debates destinados a
encontrar soluções viáveis para esses casos. Com base nos dados psiquiátricos
coletados ao longo deste projeto e na análise do perfil de cada indivíduo reportado
com psicopatia, em conjunto com o sistema jurídico brasileiro, busca-se uma
adequação na legislação vigente. O objetivo é garantir o tratamento seguro para esses
indivíduos, assegurando sua dignidade e promovendo uma maior proteção social.

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1. A PSICOPATIA

De início, vale esclarecer que o mapeamento dos traços da psicopatia ou


personalidade antissocial se deu início por meio dos estudos Hervey Cleclkey na
década de 1970, quem, para determinarem os atributos característicos, criou uma lista
de verificação, denominada DSM-I, o qual foi posteriormente revisada por Robert Hare
(Beck; Freeman; Davis; Veronese, 2005, p. 148).
A partir desses critérios, foi desenvolvido o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, tradução do protocolo em inglês denominado Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders, conhecido pela sigla DSM, como esclarece o
professor Odon Maranhão (1975). Em sua primeira edição, o DSM-I dispunha que
todo indivíduo que não detinha moral para convívio em sociedade possuía
perturbação de personalidade sociopática, ou seja, pedófilo, sádico, estuprador,
homicida, na visão da entidade responsável pela elaboração do manual, isto é, a
Associação Americana de Psiquiatria, em inglês, American Psychiatric Association –
APA. Posteriormente, no DSM-II, a instituição estabeleceu que o termo psicopata:

[...] é reservado para os indivíduos basicamente insocializáveis, e cujo


padrão de comportamento os coloca repetidamente em conflito com a
sociedade. São incapazes de lealdade significativa para com os
indivíduos, grupos ou valores sociais. São manifestamente egoístas,
rudes, irresponsáveis, impulsivos e incapazes de sentir culpa ou
aprender com a experiência e o castigo.
A tolerância à frustração é baixa. Tende a culpar os outros ou a
oferecer racionalizações plausíveis pelo seu comportamento. Uma
simples história de repetidas ofensas legais ou sociais não é suficiente
para justificar este diagnóstico. As relações delinquenciais de grupo
na infância (ou adolescência) e desajustamento social sem desordens
psiquiátricas manifestas devem ser eliminadas antes de fazer este
diagnóstico (Maranhão, 1975, p. 119).

Na década de 1980, com a chegada do DSM-III e do DSM-III-R, houve a


inclusão da prática reiterada de condutas tidas como imorais, por exemplo, falsificar,
praticar furto, envolver-se em conflitos, ociosidade e desafiar figuras de autoridade,
juntamente com envolvimento sexual prematuro ou comportamento agressivo nessa
área, como abuso de álcool e uso de substâncias ilícitas. Especificamente a partir do
DSM-III-R, também foram incluídos os comportamentos cruéis, vandalismo e fuga de
casa. De acordo com Christian Dunker, nessas versões do manual, os entendimentos

11
que antes eram apenas psicanalíticos passaram a respaldar-se em estudos médicos
baseados em evidências (Dunker, 2014).
Tal acontecimento foi considerado marco científico e histórico para a psiquiatria,
haja vista, que psicanálise era a base do manual nas edições anteriores. Houve
também a mudança nas terminologias doença mental e neurose para transtorno
mental. Na sequência, em 1994, foi lançado o DSM-IV, e se iniciou o chamado modelo
nosográfico de diagnóstico, de modo que o guia é percebido como uma abordagem
inquestionável que, após a conclusão de uma lista de verificação, gera
automaticamente um diagnóstico psiquiátrico (Ribeiro et al., 2020, p. 48).
Por fim, sua última versão foi publicada somente em 2013 e possui como
escopo central o diagnóstico dimensional, que analisa o sujeito de forma integral.
Sendo assim, o DSM-V é organizado em três sessões:

[...] A seção I apresenta as orientações para o uso clínico e forense.


A seção II descreve os critérios e códigos diagnósticos dos
transtornos. E, por último, na seção III estão os instrumentos para as
avaliações dos sintomas, os critérios sobre a formulação cultural dos
transtornos, o modelo alternativo para os transtornos de personalidade
e uma descrição das condições clínicas para estudos posteriores
(Martinhago; Caponi, 2019, p. 3, grifou-se).

Nesse contexto dos distúrbios mentais, Rogério Paes Henriques explica que a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a
Saúde (CID) representa uma das principais ferramentas epidemiológicas utilizadas na
prática médica diária. Criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a primeira
especificação do CID consiste em acompanhar a existência e persistência de doenças
por meio da padronização universal de registros. Em relação ao tema, o CID-10 segue
um tratamento estrutural semelhante ao DSM-IV. Durante a criação desses guias,
houve diversas colaborações entre a Associação Americana a de Psiquiatria e OMS,
levando à formulação de códigos e terminologias em consenso mútuo (Henriques,
2009, p. 295).
Entretanto, o autor ainda esclarece que os manuais apresentam diferentes
abordagens em relação à psicopatia: enquanto o DSM procedeu à radical
operacionalização dos critérios diagnósticos propostos para a psicopatia, baseando-
se tão somente em características comportamentais, reduzidas às condutas
antissociais, objetiváveis e evidenciáveis, a CID-10 incluiu características

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psicológicas. Nesse sentido, é interessante trazer expressamente os critérios
instituídos, tanto na DSM-V, quanto no CID-10, que são a seguir reproduzidos em
citação longa, porém esclarecedora:

[DSM-V] A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos


direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade,
conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes: fracasso em
ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais,
conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de
detenção; tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras
repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer
pessoal. ; impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;
irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas
corporais ou agressões físicas; descaso pela segurança de si ou de
outros; irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha
repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar
obrigações financeiras; ausência de remorso, conforme indicado pela
indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou
roubado outras pessoas.
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior
aos 15 anos de idade. D. A ocorrência de comportamento antissocial
não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou
transtorno bipolar (APA, 2014, p. 705, grifou-se).

[CID-10] Transtorno de personalidade, usualmente vindo de atenção


por uma disparidade flagrante entre o comportamento e as normas
sociais predominantes, e caracterizado por:
(a) indiferença insensível pelos sentimentos alheios;
(b) atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito
por normas, regras e obrigações sociais;
(c) incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja
dificuldade em estabelecê-los;
(d) muito baixa tolerância à frustração e um baixo limiar para descarga
de agressão, incluindo violência;
(e) incapacidade de experimentar culpa ou de aprender com a
experiência, particularmente punição;
(f) propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer
racionalizações plausíveis para o comportamento que levou o paciente
a conflito com a sociedade (Henriques, 2009, p. 296, grifou-se).

Sendo assim, os primeiros sinais da existência do transtorno de personalidade


antissocial, em regra, surgem na adolescência e persistirem até a vida adulta,
acarretando comportamentos irresponsáveis e ameaçadores. A periculosidade do
indivíduo dependerá do grau específico de comportamento criminal e da patologia
clínica. Ressalta-se que, além de serem pessoas extremamente manipuladoras,

13
psicopatas são caracterizados por desrespeitarem e violarem os direitos alheios (APA,
2014, p. 685).
Em 1941, foi lançada a primeira edição do livro The Mask of Sanity (A máscara
da sanidade), escrito pelo psiquiatra americano Hervey Cleckey, em obra seminal a
respeito do assunto e cujo objetivo era elucidar algumas questões sobre a
personalidade psicopática. O autor trata essa condição como uma “demência
semântica”, ou seja, uma dificuldade de entendimento dos sentimentos humanos de
forma profunda e se baseou em 15 (quinze) pacientes para desenvolver às principais
características de um psicopata, em suas próprias palavras:

Aparência sedutora e boa inteligência; ausência de delírios e de outras


alterações patológicas do pensamento; ausência de "nervosidade" ou
manifestações psiconeurótico; não confiabilidade; desprezo para com
a verdade e insinceridade; falta de remorso ou culpa; conduta
antissocial não motivada pelas contingências; julgamento pobre e
falha em aprender através da experiência; egocentrismo patológico e
incapacidade para amar; pobreza geral na maioria das relações
afetivas; perda específica de insight (compreensão interna); não
reatividade afetiva nas relações interpessoais em geral;
comportamento extravagante e inconveniente, algumas vezes sob a
ação de bebidas, outras não; suicídio raramente praticado; vida sexual
impessoal, trivial e mal integrada, falha em seguir qualquer plano de
vida (Cleckley, 1988, p. 337-338).

De acordo com os estudos estatísticos dos fatores de risco genéticos e


fisiológicos, foi percebido que há uma pré-disposição do desenvolvimento do
transtorno entre parentes de primeiro grau, conforme atual posicionamento da
Associação Americana de Psiquiatria:

Dentro de uma família na qual um membro apresenta transtorno da


personalidade antissocial, os indivíduos do sexo masculino têm mais
frequentemente transtorno da personalidade antissocial e por uso de
substância, ao passo que os do feminino apresentam com mais
frequência transtorno de sintomas somáticos. Nessas famílias, no
entanto, há prevalência aumentada de todos esses transtornos em
ambos os sexos em comparação com a população em geral (APA,
2014, p. 705).

Interessante pontuar que o mesmo estudo mostra que tanto os filhos adotivos
quanto os filhos biológicos de pais portadores desse transtorno possuem maior risco
de desenvolver o transtorno de personalidade antissocial:

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Crianças que conviveram algum tempo com os pais biológicos e
depois foram encaminhadas para adoção assemelham-se mais aos
pais biológicos do que aos adotivos, embora o ambiente da família
adotiva influencie o risco de desenvolvimento de um transtorno da
personalidade e psicopatologia relacionada (APA, 2014, p. 707).

Além disso, aparentemente o transtorno está mais ligado a problemas


socioeconômicos e é muito mais comum no sexo masculino, sendo que seu
diagnóstico não pode ser feito em menores de 18 (dezoito) anos e um dos requisitos
é que tenha havido ao menos um episódio de transtorno de conduta até os 15 (quinze)
anos. Outro ponto importante é que a psicopatia não deve ser confundida com
comportamento antissocial provocado por esquizofrenia ou transtorno bipolar (APA,
2014, p. 705).
Feitos esses esclarecimentos, acredita-se ter realizado uma breve exposição
da evolução histórica de importantes parâmetros utilizados para a caracterização da
psicopatia. Com isso, entende-se que é chegado o momento de progredir para um
estudo das espécies de pena previstas no direito penal brasileiro, iniciando a ponte
interdisciplinar proposta no presente estudo.

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2. ESPÉCIES DE PENA
2.1 Medida de Segurança

Pode-se deduzir que, tanto as diversas espécies de penas (multa, restritiva de


direitos e privativa de liberdade), quanto a medida de segurança representam formas
de sanções impostas pelo Estado aos que violam as leis penais. É sabido que as
penas acima referidas só são cabíveis aos indivíduos considerados imputáveis ou
semi-imputáveis, e possuem caráter preventivo e punitivo. Por sua vez, Júlio Frabbini
Mirabete pontua que a medida de segurança é uma forma de sanção penal voltada
para pessoas consideradas inimputáveis e possuem caráter apenas preventivo,
visando utilizar meios jurídico-penais para neutralizar ou controlar a periculosidade do
agente, com o intuito de reabilitá-lo (Mirabete, 2008, p. 36).
No que se refere à medida de segurança, trata-se de uma sanção imposta pelo
Estado aos indivíduos considerados inimputáveis ou parcialmente imputáveis que
possuem duas opções: a detentiva (internação) ou a restritiva (tratamento
ambulatorial). No primeiro caso, o indivíduo é internado em uma instituição quando o
crime cometido é punível com pena de reclusão; no segundo, quando o delito é punível
com detenção (Mirabete, 2008, p. 886).
Portanto, um indivíduo considerado imputável, que cometa um ato punível será
submetido unicamente à pena correspondente. Já para o inimputável, a consequência
será a aplicação de medidas de segurança. Quanto ao semi-imputável, também
conhecido como fronteiriço, a punição pode envolver tanto a aplicação da pena quanto
da medida de segurança, dependendo das circunstâncias, mas nunca será sujeito à
aplicação dupla da pena, como acontece no sistema binário.
De acordo com o artigo 26, parágrafo único, do Código Penal, observa-se que
a medida será aplicada àquele que, devido a enfermidade mental, desenvolvimento
incompleto ou retardado, era, no momento do ato, completamente incapaz de
compreender a natureza ilícita da ação ou de agir conforme essa compreensão, como
bem explica Cezar Roberto Bitencourt:

As circunstâncias pessoais do infrator semi-imputável é que


determinarão qual a resposta penal de que este necessita: se o seu
estado pessoal demonstrar a necessidade maior de tratamento,
cumprirá medida de segurança; porém, se, ao contrário, esse estado
não se manifestar no caso concreto, cumprirá a pena correspondente

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ao delito praticado, com a redução prevista (art. 26, parágrafo único).
Cumpre, porém, esclarecer que sempre será aplicada a pena
correspondente à infração penal cometida e, somente se o infrator
necessitar de “especial tratamento curativo”, como diz a lei, será
aquela convertida em medida de segurança. Em outros termos, se o
juiz constatar a presença de periculosidade (periculosidade real),
submeterá o semi-imputável à medida de segurança (Bitencourt, 2012,
p. 931)

Nos ensinamentos do autor, a medida de segurança se distingue das demais


penas em sua natureza: enquanto as penas têm um caráter retributivo-preventivo, as
medidas de segurança têm um caráter principalmente preventivo. Assim, a pena se
baseia na culpabilidade, e a medida de segurança se fundamenta exclusivamente na
periculosidade. Além disso, as penas têm um tempo determinado, ao passo que as
medidas de segurança são por tempo indeterminado, encerrando-se somente quando
não houver mais periculosidade por parte do agente (Bitencourt, 2012, p. 932).
Para que a medida de segurança seja aplicada, é necessário que o indivíduo
tenha cometido um ato criminoso e demonstre periculosidade, exigindo um tratamento
especializado para sua reabilitação. Caso contrário, estará sujeito à pena
convencional. Conforme já mencionado, é possível identificar duas formas de medida
de segurança no Código Penal. A primeira é a internação em um hospital de custódia
para tratamento psiquiátrico, também conhecida como medida detentiva. A segunda
é a submissão a um tratamento ambulatorial, uma medida mais restritiva, que pode
substituir a internação se o crime em questão for punível com detenção e se as
circunstâncias pessoais do indivíduo permitirem essa modalidade mais flexível. Se as
condições pessoais se tornarem favoráveis, a substituição é requerida (Bitencourt,
2012, p. 933).
Nenhuma modalidade possui período fixo de duração, permanecendo vigentes
até que a perícia médica confirme a cessação efetiva da periculosidade do indivíduo.
Desta forma, é determinado um prazo mínimo de um a três anos, ao final do qual é
realizado um exame para verificar se a periculosidade do agente cessou. Esse exame
geralmente é repetido indefinidamente por decisão do juiz, sempre que julgar
necessário (Mirabete, 2008, p. 887).
Como a legislação não estabelece um prazo máximo para o encerramento das
medidas de segurança, em tese, seria possível prolongá-las por tempo indefinido caso
a periculosidade persista. Embora o Superior Tribunal de Justiça, adote o
entendimento de que o tempo de duração das medidas de segurança não deve
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exceder o limite máximo da pena estabelecida abstratamente para o crime cometido
em sua súmula nº 527 (STJ, 2013), o Supremo Tribunal Federal (STF) tem uma
interpretação distinta. Para este tribunal, o prazo máximo é de 40 anos, com no artigo
nº 75 do Código Penal (STF, 2009).
Segundo tal interpretação, esse é o limite em respeito à Constituição Federal,
que proíbe penas de caráter perpétuo em seu artigo 5º, inciso XLVII, alínea ‘b’ (Brasil,
1988). Assim, após os 40 anos, a medida de segurança deve ser declarada extinta, e
se a persistência do estado de periculosidade for comprovada, o Ministério Público
deve entrar com uma ação civil para interditar a pessoa perigosa. Isso porque o artigo
1.769 do Código Civil (Brasil, 2002) e o artigo 9º da lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001
(Brasil, 2001) permitem a internação compulsória de indivíduos perigosos, mesmo que
não estejam ligados à prática de crimes (STF, 2009).

2.2 Pena Privativa de Liberdade

Em oposição às medidas de segurança e passando a tratar das espécies de


pena, inicia-se pena privativa de liberdade. De acordo com Cezar Bitencourt, desde
1984 a legislação brasileira optou por definir as penas privativas de liberdade como
um conceito amplo, mantendo como suas espécies a reclusão e a detenção. Assim,
somente os crimes considerados mais sérios são puníveis com pena de reclusão,
enquanto a detenção é reservada para delitos de menor gravidade (Bitencourt, 2012,
p. 945).
Conforme os ensinamentos de Rogério Greco, a diferenciação entre reclusão
e detenção se baseia no regime de cumprimento da pena. A reclusão é aplicada nos
regimes fechado, semiaberto e aberto, enquanto a detenção é aplicada nos regimes
semiaberto e aberto, a menos que o cumprimento inadequado da pena de detenção
resulte em sua execução no regime fechado (Greco, 2017, p. 545).
Atualmente, a periculosidade deixou de ser o critério primordial para a escolha
dos regimes de cumprimento de pena. Assim, a determinação dos regimes passou a
depender principalmente do tipo de pena, sua duração, bem como da consideração
da reincidência e do mérito do condenado, novamente recorrendo aos ensinamentos
de Bitencourt, em seus próprios termos:

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O regime fechado será executado em estabelecimento de segurança
máxima ou média; o semiaberto será executado em colônia agrícola,
industrial ou estabelecimento similar; e, finalmente, o regime aberto
será cumprido em casa de albergado ou em estabelecimento
adequado. Recentemente, a Lei n. 10.792/2003 instituiu o que
denominou regime disciplinar diferenciado - a ser cumprido em cela
individual -, que poderá ter duração máxima de 360 dias, sendo
possível sua repetição, desde que não ultrapasse um sexto da pena
(Bitencourt, 2012, p. 946).

Salienta-se ainda que o artigo 8º da lei de execução penal (Brasil, 1984)


estipula que o indivíduo sentenciado a cumprir uma pena no regime fechado será
avaliado por um exame criminológico. Esse procedimento visa coletar os dados
fundamentais para a classificação apropriada e para a individualização da execução
da pena. Além disso, a execução penal brasileira adota o sistema de progressão de
regime, que se trata de uma iniciativa para reeducar e reintegrar o condenado,
proveniente do processo de execução o qual leva em consideração as
particularidades da pena e do indivíduo (Bitencourt, 2012, p. 947).
Esse sistema, em consonância com o disposto no artigo 5º, inciso XLVI da
Constituição Federal, assegura a possibilidade de reintegração gradual do apenado à
convivência em sociedade. Com isso, explicitamente se reconhece a responsabilidade
do Estado em promover a reintegração social do condenado após o cumprimento
integral de sua pena. A legislação vigente também considerou a possibilidade de que
o beneficiado pela progressão possa mais tarde apresentar alguma incompatibilidade
com o novo regime. Assim, estabeleceu o instituto da regressão de regime, que
consiste na transferência de um regime menos rigoroso para um mais severo
(Bitencourt, 2012, p. 948).

2.3 Pena Restritiva de Direitos

Em certos cenários, é viável substituir o encarceramento por diferentes


alternativas, prevenindo os danos associados ao sistema prisional. Nesse sentido,
ganham espaço as penas restritivas de direito, que se apresentam como um conjunto
independente e substitutivo de avaliações penais. Sendo substitutivas, essas penas
derivam de modificações introduzidas após a imposição da pena na sentença
condenatória. Portanto, quando o juiz impõe uma pena privativa de liberdade, tem-se
o dever de substituí-la por uma pena restritiva de direitos pelo mesmo período,
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atendidos os requisitos legais. Após a substituição, essas penas persistem por si
próprias, caracterizando-se uma pena autônoma (Nucci, 2014, p. 351).
Além disso, a pena restritiva de direitos é categorizada em cinco modalidades,
conforme definido pelo Código Penal, in verbis:

Art. 43. As penas restritivas de direitos são:


I - prestação pecuniária;
II - perda de bens e valores;
III - limitação de fim de semana;
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
V - interdição temporária de direitos;
VI - limitação de fim de semana (Brasil, 1940).

Para sua concessão, a lei estabelece quatro requisitos, que se dividem em


critérios objetivos e subjetivos, ambos os tipos considerados indispensáveis e
cumulativos para a aplicação de uma pena restritiva de direitos, nos termos previstos
pelo artigo 44 do Código Penal, a seguir reproduzido:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem


as privativas de liberdade, quando:
I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e
o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,
qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II - o réu não for reincidente em crime doloso;
III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente
(Brasil, 1940, grifou-se).

Em síntese, a pena restritiva de direitos é empregada com a finalidade de


substituir a pena de prisão, evitando os prejuízos inerentes à reclusão. Para atingir
esse propósito, é necessário cumprir os critérios estipulados no artigo mencionado
acima, bem como considerar a aplicação de alternativas legais, nas palavras de Cezar
Bitencourt:

Tradicionalmente o Direito codificado brasileiro prevê a sanção em


cada tipo penal. A norma penal compõe-se de duas partes: (a) o
preceito, que contém o imperativo de proibição ou comando, (b) e a
sanção, que constitui a ameaça de punição a quem violar o preceito.
Já em relação às penas restritivas — ditas alternativas — foi adotado
um outro sistema de cominação de penas, mais flexível, mas sem
alterar a estrutura geral do Código Penal. Há um capítulo regulando
especificamente as condições gerais de aplicação da referida espécie

20
de sanção, que não sofreu qualquer alteração com a Lei n. 9.714, de
25 de novembro de 1998. Com esse novo sistema evitou-se o
problema do casuísmo, isto é, a dificuldade em escolher os crimes que
poderiam ou não ser apenados com essa sanção. Assim, se a pena
efetivamente aplicada não for superior a quatro anos de prisão ou se
o delito for culposo, estando presentes os demais pressupostos, que
serão examinados a seguir, será possível, teoricamente, aplicar uma
pena restritiva de direitos, que, apesar de ser uma sanção autônoma,
é substitutiva (Bitencourt, 2012, p. 676).

Apresentado esse panorama a respeito tanto da pena restritiva de direito


quanto da privativa de liberdade, bem como da medida de segurança, chega a hora
de contrapor esses institutos com as características de agentes psicopatas, o que se
inicia a partir da sessão seguinte.

2.4 Ineficácia do Tratamento Aplicado

A partir das análises empreendidas no decorrer deste estudo, foi possível


examinar a questão da psicopatia e o inquietante envolvimento da sociedade nesses
cenários. Observa-se que o psicopata não possui sentimento de empatia e não
demonstra qualquer sinal de remorso, culpa ou arrependimento por suas ações.
Considerando a importância e a necessidade de atenção direcionada a esses
indivíduos, acredita-se que o sistema penal brasileiro carece de melhorias ao
disciplinar o tema, não o abordando de maneira específica e suficientemente
detalhada, o que justifica e motiva o presente estudo.
Pois bem, mesmo que a legislação penal aborde de maneira genérica a
classificação dos agentes psicopatas como inimputáveis ou semi-imputáveis,
considerando-os como portadores de distúrbios mentais ou com desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, não existe, de fato, uma classificação específica para
os criminosos psicopatas dentro do ordenamento jurídico.
É disposto no Código Penal, em seu art. 59, que a pena será estabelecida: “[...]
atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, os motivos, às circunstâncias e consequências do crime [...]” (Brasil, 1940).
Nesse sentido, o ordenamento jurídico pátrio sugere que a pena deve ser aplicada de
forma a atender a singularidade do indivíduo, dentro dos limites legais e de acordo
com o caso concreto. Ocorre que a personalidade do agente, especificamente nesse

21
caso, deve ser observada diante da ótica de um profissional apto a avaliar a condição
psíquica do mesmo.
Além disso, conforme estabelece o Código de Processo Penal (CPP), o juiz não
está vinculado a seguir o laudo médico, nos termos do caput de seu art. 182: “O juiz
não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte”
(Brasil, 1941). O mesmo código ainda determina que a decisão judicial não poderá se
basear exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, e que o
juiz não ficará obrigado a seguir o laudo médico, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no
todo ou em parte, conferindo ao juiz autonomia para julgar a condição mental do
acusado, mesmo sem possuir competência para tal, nos seguintes termos:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas (Brasil, 1941).

A consequência da inexistência de lei distintiva para pessoas portadoras do


transtorno de personalidade psicopata é que, na maioria das vezes, serão julgadas
pelos crimes cometidos, mas sem enquadramento específico de sua condição.
Outro fator a se considerar, é que o psicopata acaba se beneficiando do art. 26
do CPP, quando alegado em defesa. Conforme citado, os psicopatas podem ser
favorecidos em seus tratamentos, visto que, se forem classificados como semi-
imputáveis, terão uma redução de pena em um a dois terços, enquanto os
classificados como inimputáveis serão submetidos a medidas de segurança, conforme
mencionado acima. No entanto, após o cumprimento do tempo mínimo de tolerância,
haverá uma avaliação para determinar se o indivíduo está pronto para se reintegrar à
sociedade. Devido à alta perspicácia e capacidade de persuasão desses indivíduos,
é muito provável que manipulem a situação em prol da liberdade desejada.
Dessarte, é importante destacar que os indivíduos com psicopatia têm a
capacidade de discernir entre o certo e o errado, mantendo a habilidade de se
autodeterminar diante de ações ilícitas, estando plenamente conscientes da prática
de seus crimes. Sua principal distinção em relação a outros criminosos é a falta de
sensibilidade para com os sentimentos alheios e a ausência de culpa ou remorso
diante de suas ações, utilizando dessa situação para favorecerem a si mesmos.

22
Para que se reconheça sua inimputabilidade, é necessário que a psicopatia
seja considerada uma condição de doença mental ou de desenvolvimento mental
incompleto ou retardado. Caso alguns desses traços estejam presentes, será crucial
realizar uma avaliação para determinar se, no momento dos acontecimentos, tal
condição era suficiente para comprometer e invalidar a capacidade dos indivíduos de
compreender. Além disso, observa-se de imediato que a psicopatia não é uma doença
mental, mas sim uma maneira de existir no mundo. Em outras palavras, não gera
nenhuma alteração na capacidade psicológica do indivíduo, pois se trata de um
transtorno de personalidade (Abreu, 2013, p. 187).
À vista disso, é essencial estabelecer um tratamento específico para esses
indivíduos, tendo em vista que cumprem suas penas nos mesmos locais que os
criminosos comuns, recebendo tratamento semelhante para sua recuperação. No
Brasil, o primeiro passo necessário envolve a criação de instalações para a detenção
desses apenados, evitando a recorrência de crimes. Uma estrutura voltada
exclusivamente para as psicopatas, com métodos de tratamento mais especializados
e a restrição de concessão de benefícios até a aplicação integral da pena, procurando
um controle mais eficaz sobre tais ações (Pereira et at., 2016).
Desse modo, entende-se que o atual tratamento jurídico-penal se mostra
ineficaz, o que motiva a busca por uma nova abordagem que se concentre na
periculosidade do indivíduo e no seu tratamento, em oposição à abordagem tradicional
baseada na reprovabilidade e culpabilidade (Pimentel, 2019). Essa questão é
evidenciada devido à ausência de sua normatização específica dentro do sistema
jurídico, resultando na falta de um consenso específico. Há apenas a defesa de um
tratamento que, até o momento, não foi declarado eficaz para esses indivíduos.
Diante disso, torna-se necessário estabelecer um protocolo adequado para
aplicação de uma medida eficaz, bem como um espaço apropriado para a execução
e efetivação dessa medida, juntamente com a busca por um tratamento humano para
essas pessoas, objetivando a redução nos delitos praticados por esses indivíduos e
na ocorrência de reincidência.

2.5 Exame Criminológico

23
Considerando o que se discutiu no tópico anterior, vislumbra-se que o exame
criminológico se justifica pela necessidade de cumprir as determinações
constitucionais relacionadas à proporcionalidade da pena. A seriedade do ato
criminoso e as características individuais do sujeito são fatores que justificam a
realização desse exame. Isso ocorre porque o exame criminológico desempenha um
papel crucial ao oferecer insights sobre a inteligência, princípios morais e
personalidade do infrator, ao mesmo tempo em que pode fornecer informações sobre
o grupo ao qual esse indivíduo pode ser associado.
No contexto brasileiro, a instituição do exame criminológico ganhou maior
relevância com a modificação da Lei de Execução Penal, que prevê, em seu artigo 5°,
que a classificação dos presos será feita: “[...] para orientar a individualização da
execução penal” (Mirabete, 1984, p. 48). Essa legislação atribui grande importância
às avaliações criminológicas, com o objetivo principal de alcançar uma
individualização no cumprimento da pena. Isso implica em estabelecer planos de
ressocialização que levem em consideração as características únicas de cada
indivíduo.
Vale ressaltar que a individualização da pena é um princípio fundamental no
campo do Direito Penal e possui amparo no inciso XLVI, do artigo 5º da Constituição
Federal, a qual define que as sentenças e medidas punitivas devem estar adaptadas
às circunstâncias do crime e às características individuais do acusado, levando em
consideração o grau de culpabilidade, seu histórico criminal, personalidade, situações
sociais, econômicas e familiares. Além disso, interpretando o art. 59 do Código Penal,
esclarece José Eduardo Goulart:

Nesse instante, o juiz penal deverá escolher o tipo de pena aplicável


ao caso e fixar-lhe a quantidade, bem como, determinar o regime
inicial do cumprimento da pena e decidir sobre o cabimento de
eventual substituição de pena privativa de liberdade (art. 59 e incisos
do CP). Tal decisão, deverá tomar em linha de conta a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e consequências do crime e, ainda,
o comportamento da vítima. Nesse procedimento, ainda, impõe a lei
ao juiz a individualização da pena consoante os critério da
necessidade e suficiência para a reprovação e prevenção do crime.
(Goulart, 1994, p. 97)

Desse modo, o exame criminológico é percebido como uma ferramenta de


apoio às decisões judiciais relacionadas aos processos de execução penal,

24
atualizando a precisão e a eficácia das medidas aplicadas. A essência desse conceito
sugere que tal exame representa um recurso importante, permitindo que o condenado
seja direcionado a um programa de cumprimento de pena adaptado as suas
necessidades individuais. Desta forma, busca-se resultados seguros mais
desenvolvidos para a reintegração social do indivíduo (Santos, 2013, p. 70).
A condução do exame criminológico permite obter respostas para diversas
questões que envolvem a conduta delituosa do indivíduo, sua tendência antissocial e
a probabilidade de reintegração à sociedade. Através dessas medidas, é possível
obter uma compreensão mais profunda das diferentes nuances da personalidade do
infrator, que se manifestam por meio de seu comportamento. Isso ocorre porque o
comportamento delituoso é, em última análise, um reflexo da índole do indivíduo no
processo de desenvolvimento (Mirabete, 2008, p. 36).
A análise criminológica perpassa avaliação médica, psicológica e social, sendo
agendada após o trânsito em julgado da sentença, para determinar de maneira
individual a pena de prisão. Ademais, é obrigatória por lei para condenados ao regime
fechado e opcional para aqueles sob o regime semiaberto (Mirabete, 2008, p. 37).
Destaca-se que, conforme previsto no artigo 8º da Lei de Execução Penal,
aquele que recebe uma sentença para cumprir em regime fechado passará por uma
avaliação criminológica. Tal processo tem como objetivo reunir informações para a
classificação adequada e a personalização da execução da pena, como se pode
depreender do texto do artigo acima mencionado:

Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade,


em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a
obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e
com vistas à individualização da execução (Brasil, 1984).

Considerando que essa avaliação analisa a personalidade do indivíduo, sua


eficácia pode ser limitada quando se trata de psicopatas. Isso ocorre devido ao uso
de entrevistas no exame, o que facilita a manipulação dos psicopatas, haja vista, que
distorcem informações a seu favor. Sendo assim, parece importante aprofundar-se
nos elementos da responsabilidade penal no direito brasileiro, na busca por
compreender a responsabilidade penal do psicopata dessa perspectiva, o que se
empreender detidamente no capítulo a seguir.

25
3. RESPONSABILIDADE PENAL
3.1 Culpabilidade

A culpabilidade é um dos elementos-chave da responsabilidade penal para o


direito brasileiro. De acordo com Fernando Capez, ela está relacionada à capacidade
de compreender a ilicitude do ato e à capacidade de se comportar de acordo com
essa compreensão, como se pode ler a seguir:

Assim, culpa, em seu sentido mais amplo (lato sensu), e reprovação


caminham lado a lado, de modo que a culpabilidade é a culpa (lato
sensu) em seu estado potencial (cuidado: culpa em sentido amplo é a
culpa que empregamos em sentido leigo, significando culpa,
responsabilizar, censurar alguém, não devendo ser confundida com a
culpa em sentido estrito e técnico, que é o elemento do fato típico, e
se apresenta sob as modalidades de imprudência, imperícia e
negligência). Toda vez que se comete um fato típico e ilícito, o sujeito
fica passível de ser submetido a uma censura por parte do poder
punitivo estatal, como se este lhe dissesse: “você errou e, por essa
razão, poderia ser punido”. Nesse desvalor do autor e de sua conduta
é que consiste em a culpabilidade (Capez, 2017, p. 318).

Entretanto, no caso dos psicopatas, há uma dificuldade frente à identificação


da culpabilidade, tendo em vista que são pessoas manipuladoras e não possuem
empatia e nem consciência dos seus atos. Sendo assim, pode-se argumentar que a
culpabilidade dos psicopatas deve ser avaliada de maneira diferente, levando em
consideração suas características psicológicas únicas. Isso pode envolver uma
avaliação mais aprofundada da capacidade de discernimento e um foco na proteção
da sociedade, ao invés de uma simples retribuição.
Isso posto, a culpabilidade possui o condão de diferenciar a atuação do
criminoso comum, que possui plena capacidade de entendimento do caráter ilícito do
ato, da conduta praticada por portadores de doença mental ou desenvolvimento
mental retardado ou incompleto, que não possuem tal percepção. Como esclarece
Capez, a culpabilidade pode ser analisada por dois prismas, o da culpabilidade do
autor e da culpabilidade de fato. A culpabilidade do autor possui como análise o
caráter do agente, o modo de vida, o histórico e os incentivos que o conduziram a
perpetrar o delito penal. Já na culpabilidade de fato, que tem sido predominantemente
adotada pela literatura brasileira, a reprovação recai em função da seriedade da

26
infração, associada à manifestação da vontade humana, seja por meio de uma ação
ou de uma omissão, nas próprias palavras do autor:

No que concerne ao grau de culpabilidade, é analisada a “dosagem”


da pena. Uma vez constatada a reprovabilidade do ilícito cometido, o
próximo passo será a análise da intensidade da resposta penal. Desta
forma, quanto mais censurável o fato e piores os indicativos subjetivos
do autor, maior será a pena. Para tanto, torna- se imprescindível uma
análise do grau da culpabilidade com base no autor e no fato, como
previsto no artigo 59, caput, do Código Penal, determinando que ao
dosar a pena, deve ser levado em consideração o grau de culpa, a
intensidade do dolo, a personalidade, os antecedentes e os motivos
do crime, bem como todos os aspectos subjetivos relacionados ao
autor, assim como as consequências do crime e o comportamento da
vítima à ação (Capez, 2017, p. 324).

Desse modo, evidencia-se que a culpabilidade é ferramenta utilizada para


condenar uma pessoa em razão do cometimento da conduta ilícita somada à
personalidade do indivíduo e das condições do momento do crime. Portanto, o juízo
de reprovação recai sobre a capacidade e oportunidade do agente de ter agido de
maneira diversa.

3.2 Imputabilidade

Nessa seara, também é discutível a responsabilidade penal do psicopata.


Salienta-se que responsabilidade penal é a obrigação jurídica de responder pelo ato
cometido, enquanto a imputabilidade se trata da condição pessoal do indivíduo. Em
sua origem, o termo imputar, do latim imputare, denota a atribuição da
responsabilidade de determinada conduta a outrem. No âmbito do direito penal,
imputar se relaciona com a capacidade de compreensão do agente sobre a conduta
ilícita por ele praticada e por consequência a responsabilização penal cabível. A
questão da imputabilidade no âmbito do direito penal está relacionada à reunião de
diversas características individuais que capacitam alguém a ser considerado
responsável por um ato ilegal praticado. Portanto, para condenar um comportamento,
é essencial evidenciar que o indivíduo tinha a capacidade geral de compreender o
imperativo da norma, conforme ensinamentos de Paulo Busato:

A imputabilidade é, pois, em termos gerais, uma capacidade de


compreensão e de valoração e atuação consequente com essa
27
compreensão. Essa compreensão, valoração e atuação dependem,
evidentemente, da conjunção de fatores físicos, biológicos, psíquicos
e psicossociais. Desse modo, é possível dizer que a aferição da
imputabilidade exige a análise de duas etapas consecutivas do
comportamento: a primeira, consistente em uma capacidade de
intelecção e compreensão da natureza ilícita do comportamento
realizado, e outra, subsequente, de possibilidade de controle que
permita atuar em consonância com tal percepção (Busato, 2015, p.
557).

Ainda sobre o tema, Cléber Masson esclarece que o Código Penal Brasileiro
aderiu à tendência observada na maioria das legislações contemporâneas ao optar
por não estabelecer uma definição explícita para a imputabilidade. Em vez disso, o
código se restringe a indicar as situações em que a imputabilidade está ausente, ou
seja, os cenários de inimputabilidade penal (Masson, p. 205, 2015).

3.3 Inimputabilidade

Conforme estipulado no artigo 26, parágrafo único, do Código Penal, se não


houver, no tempo do fato, a capacidade de compreensão da ilicitude da conduta, a
inimputabilidade deve ser aplicada. Nessa situação, o agente não é tido como
responsável por suas ações em relação ao seu estado de saúde mental. Assim, na
condição de inimputabilidade, o indivíduo não está sujeito à imposição de pena
privativa de liberdade ao cometer uma infração, mas sim à aplicação de medidas de
segurança, nos termos das lições de Damásio Evangelista de Jesus:

A imputabilidade pode ser excluída por determinadas causas,


denominadas causas de inimputabilidade. Não havendo
imputabilidade, primeiro elemento da culpabilidade, não há
culpabilidade e, em consequência, não há pena. Assim, em caso de
inimputabilidade, o agente que praticou o fato típico e antijurídico deve
ser absolvido, aplicando-se medida de segurança (Jesus, 2011, p.
543).

As razões que excluem a imputabilidade do indivíduo estão definidas nas


disposições do próprio Código Penal. Entendidas como fatores que confirmam a
ausência de imputabilidade do autor dos eventos, tais isenções de pena são
condicionais pelo legislador. Conforme mencionado, tais condições precisam estar
presentes no momento da ação ou omissão dos eventos, visto que tornam o agente

28
completamente incapaz de compreender a natureza ilícita dos atos realizados ou de
agir de acordo com essa compreensão (Sadalla, 2019, p. 81).
Conforme explicações de Fernando Capez, a imputabilidade do agente é
excluída quando este apresenta doença mental, desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, ou embriaguez completa relativa associada a caso fortuito ou força
maior. O autor define doença mental como uma condição em que o agente possui
uma atipicidade que o impede de compreender certos comportamentos e
cumprimentos de regras impostas. O desenvolvimento mental incompleto ocorre
quando o agente não consegue compreender completamente os princípios da vida
em sociedade, apesar de possuir certo grau de entendimento, sendo essa capacidade
reduzida. Capez também esclarece que a falta de experiência social pode afetar a
habilidade do indivíduo de se comportar especificamente em determinados contextos
(Capez, 2017, p. 318).
Já na visão de Nachara Sadalla, é necessário que dois fatores estejam
presentes para que o agente seja capaz de compreender suas ações. O primeiro é a
saúde mental, que envolve a capacidade de avaliar a ilegalidade compreendida no
ato. Ademais, o segundo fator é a maturidade, que inclui o desenvolvimento físico e
mental necessário para estabelecer relações sociais, ser capaz de se autossustentar
longe dos pais, organizar suas ideias e manter a estabilidade emocional, bem como
equilíbrio no aspecto sexual (Sadalla, 2019, p. 82).
Nessa abordagem, de acordo com Jesus, o sistema biopsicológico, composto
pelos sistemas biológico e psicológico, é considerado em relação à causa e ao efeito.
Sendo assim, é considerado inimputável o indivíduo que, devido a uma doença mental
ou transtorno, não possui a capacidade de compreender a natureza ilícita da ação ou
de agir de acordo com essa compreensão. Em outras palavras, não basta apenas a
presença de uma anomalia mental: é necessário que o agente não tenha a capacidade
de compreender a ilicitude do ato ou de agir de forma autônoma, ou seja, em
decorrência desses estados, o agente deve ser completamente incapaz de
compreender a ilicitude do evento (Jesus, 2011, p. 544).
Isso encontra ressonância na perspectiva do artigo 26 do Código Penal, que
adotou a abordagem biopsicológica para determinar a inimputabilidade do agente. A
respeito do tema, vale mencionar decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da

29
4ª Região, que demonstra o entendimento do relator, desembargador federal Carlos
Eduardo Thompson Flores Lenz, em relação a tais critérios:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. INCIDENTE DE INSANIDADE


MENTAL. LAUDO MÉDICO PERICIAL. IMPUTABILIDADE. 1. A
inimputabilidade não é determinada apenas pela identificação de
determinada doença mental, mas também pela análise da capacidade
de compreensão do caráter ilícito do fato e de conduzir-se de acordo
com tal entendimento. Trata-se do denominado critério biopsicológico
(CP, art. 26), que contempla a fusão dos critérios biológico e
psicológico, conjugando-se a análise da doença com a capacidade de
entendimento e autodeterminação. Assim, sendo constatado em laudo
médico, que o periciado possuía, ao tempo da prática criminosa,
capacidade de entendimento e conhecimento acerca do caráter ilícito
de sua conduta, impõe-se a declaração de sua imputabilidade. 2. As
conclusões emanadas da perícia indicam capacidade de
compreensão pelo periciado enquanto praticava o crime, sem
ressalvadas quanto a eventual redução sobre tal entendimento, o que
também excluiu a semi-imputabilidade (CP, art. 26, parágrafo único).
Eventual reconhecimento da semi-imputabilidade, apresentado como
pedido subsidiário, é assunto a ser tratado no mérito do processo
penal, ligado à fixação da pena, e não em incidente de insanidade
mental (CPP, arts. 149 a 154). 3. Não comporta provimento o pedido
subsidiário de suspensão do processo até o restabelecimento do
acusado (CPP, art. 152), porquanto não se verificou doença mental
superveniente à prática criminosa, possuindo o acusado "condições
de comparecer a atos do processo penal (como interrogatórios) ou de
cumprir sanções penais (como prisão ou prestação de serviços
comunitários)". 4. Improvimento da apelação (TRF-4, 2019).

Por outro lado, a imputabilidade penal não apresenta uma chave meramente
disjuntiva, uma vez que é possível compreender indivíduos enquanto semi-imputáveis,
conceito que se pretende desenvolver no tópico que se segue.

3.4 Semi-Imputabilidade

No que tange à semi-imputabilidade, disposta no parágrafo único do artigo 26


do mesmo código, trata-se de indivíduos que sofrem de distúrbios resultantes de uma
perturbação mental ou de um desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
Nesses casos, a redução da pena é aplicada devido a uma capacidade de
compreensão parcial, caracterizando um estado intermediário entre a imputabilidade
e a inimputabilidade.
As situações que levam ao reconhecimento da semi-imputabilidade implicam
na redução da pena de um a dois terços para o autor dos atos. A legislação estabelece
30
que para a comprovação da semi-imputabilidade, não é necessário que o agente seja
considerado doente mental; basta que ele apresente algum tipo de perturbação na
saúde mental. Além disso, aqueles indivíduos que, no momento da prática do ato
ilícito, não eram totalmente incapazes de compreender a natureza ilícita do ato ou de
agir de acordo com esse entendimento, acabam se beneficiando com a redução da
pena, conforme explica Cezar Bitencourt:

A modo de conclusão, essas condições biológicas, com exceção da


menoridade, podem fazer o agente perder totalmente a capacidade de
entendimento ou de autodeterminação, ou, simplesmente, diminuir
essa capacidade. Pode ter integra uma e diminuída a outra, mas como
precisa, para ser imputável, das duas capacidades, de entendimento
e de autodeterminação, a ausência de uma basta para a
inimputabilidade. Se houver prejuízo de uma delas, total – é
inimputável; se houver prejuízo de uma delas, parcial – é semi-
imputável, isto é, tem capacidade de culpabilidade diminuída
(Bitencourt, 2012, p. 493).

Em relação ao assunto, vale a leitura da ementa de relevante julgado em que


se cristaliza o atual o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO E


PORTE ILEGAL DEARMA DE FOGO. DOSIMETRIA. PENA-BASE.
FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CULPABILIDADE.
DESFAVORABILIDADE. CONDUTA SOCIAL.
ARGUMENTAÇÃOIDÔNEA. SANÇÃO MOTIVADA. ELEVAÇÃO
JUSTIFICADA. DESPROPORCIONALIDADEENTRE OS
FUNDAMENTOS ESPOSADOS E O QUANTUM DE REPRIMENDA
IRROGADO CONSTRANGIMENTO ILEGAL PARCIALMENTE
EVIDENCIADO. MITIGAÇÃO DEVIDA (...) MINORANTE PREVISTA
NO ART. 26, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP. SEMI-
IMPUTABILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA.
PERTURBAÇÃO MENTALREDUZIDA. FRAÇÃO MÍNIMA QUE SE
MOSTRA DEVIDA. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA. 1. Nos
termos do art. 26, parágrafo único, do CP: "A pena pode ser reduzida
de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento." 2. Demonstrado
que o paciente não era portador de doença mental, desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, apenas não possuindo plena
capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimento, em
razão de perturbação na sua personalidade, justificada a escolha pela
fração mínima (1/3) prevista no parágrafo único do art. 26 do CP (STJ,
2011).

31
Diante desse cenário, devido a tais fatores, ocorre uma redução da sanção
penal imposta pelo Estado. Existe, nesse caso, uma diminuição da responsabilidade,
mas não da imputabilidade. Tal redução de responsabilidade não constitui um motivo
para a exclusão da culpabilidade, uma vez que o indivíduo ainda será
responsabilizado pelo ato ilícito e, consequentemente, receberá uma sentença
condenatória, nas palavras de Bitencourt:

Situam-se nessa faixa intermediária os chamados fronteiriços, que


apresentam situações atenuadas ou residuais de psicoses, de
oligofrênias e particularmente, grande parte das chamadas
personalidades psicopáticas ou mesmo transtornos mentais
transitórios. Esses estados afetam a saúde mental do indivíduo sem,
contudo, excluí-la (Bitencourt, 2012, p. 495).

Sendo assim, pode-se sumarizar que a distinção entre a semi-imputabilidade e


a inimputabilidade diz respeito ao grau de responsabilidade penal. Observa-se que a
semi-imputabilidade é aplicada quando há alguma perturbação mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado que resulte em uma capacidade
parcialmente reduzida do agente de compreensão da natureza criminosa do ato. Por
outro lado, a inimputabilidade aplica-se a indivíduos que possuam alguma doença
mental que comprometa totalmente a sua capacidade de entendimento, tornando-os
completamente isentos de responsabilidade penal.
Na visão de Dercirier Gonçalves Freire, a psicologia e a ciência médica
empreendem esforços para definir as características da psicopatia e investigar seu
potencial envolvimento em crimes. No âmbito do direito penal, a avaliação da
psicopatia frequentemente oscila entre teorias normativas que questionam sua
relação com a imputabilidade. Sabe-se que, dentro de um contexto biológico, a mera
presença de uma doença mental preenche o critério determinante para a
consideração de inimputabilidade do agente. Quando, com base em evidências
médicas apresentadas perante o tribunal, for alegado que o agressor sofre de um
distúrbio de saúde mental, o juiz proferirá uma sentença de inimputabilidade absoluta
do réu (Freire, 2022).
Já no campo psicológico, o determinante não é a presença ou ausência de
transtornos mentais no indivíduo, mas sim a avaliação de sua capacidade para
discernir a natureza criminosa de suas ações. Portanto, cabe ao juiz determinar se o

32
agente é capaz de ser considerado inimputável ou não com base nessa análise
(Masson, 2015).
Para determinar o cabimento da semi-imputabilidade, bem como da
inimputabilidade, é necessário, em primeiro lugar, estabelecer em qual categoria a
psicopatia se enquadra: como uma doença mental ou como um distúrbio que afeta o
desenvolvimento mental. Uma vez identificada uma dessas condições, é fundamental
avaliar se, no momento dos eventos em questão, essa condição era suficiente para
afetar a capacidade dos indivíduos envolvidos de compreender e controlar suas ações
(Capez, 2017).
Em geral, o sistema judiciário do Brasil tende a considerar os indivíduos
psicopatas como parcialmente imputáveis, de acordo com a maioria das
interpretações da literatura jurídico-penal. No entanto, psiquiatras e psicólogos
defendem, de modo geral, que o psicopata é imputável, haja vista, que possuem a
capacidade mental necessária para compreender as leis, as suas restrições e
proibições, de modo que não se afastam da realidade. Insta salientar, que uma
parcela significativa dos indivíduos detidos em instituições penitenciárias possui traços
de personalidade associados à psicopatia (Morana, 2003, pp. 140-141).
De acordo com a pesquisa de Hilda Clotilde Morana, a presença do diagnóstico
de psicopatia é bastante comum entre os reclusos, afetando até 60% da população
carcerária do sexo masculino. A autora também observa que, quando se trata de
crimes violentos, a proporção de psicopatas entre os detentos é quatro vezes maior
do que a dos indivíduos sem esse diagnóstico. Além disso, Morana destaca que, em
casos de prisioneiros no sistema penal brasileiro, a taxa de reincidência criminal é
4,52 vezes maior entre os que apresentam traços de psicopatia em comparação com
aqueles que não demonstram essas características, conforme as palavras da própria
autora:

A necessidade de excitação continuada é muitas vezes a justificativa


para que repetidas infrações sejam praticadas. Viver emoções
contínuas é a circunstância de subsistência do psicopata. Estejam
onde estiver, serão capazes de repetir suas ações, criminosas ou não.
Isso não implica afirmar que, necessariamente, sempre cometerão a
mesma modalidade de delito. Em geral, os psicopatas praticam
diversos delitos para alcançar sua finalidade ou o seu simples bem-
estar (Morana, 2003, p. 142).

33
Isso posto, a insegurança social está relacionada com a abordagem penal
aplicada a esses agentes. O motivo dessa inquietação reside no fato de que eles
possuem uma notável habilidade para manipular e demonstram uma falta de temor
diante de ameaças, o que os torna um desafio específico para o sistema penitenciário.
Esses reclusos são capazes de manter um comportamento exemplar com o objetivo
de obter vantagens legais. Dentro das instituições correcionais, eles são capazes de
ocultar sua verdadeira natureza, podendo envolver-se em atos cruéis ou prejudicar o
processo de reabilitação de outros detentos.
Pelo exposto, é evidente que o campo do Direito, em sua totalidade, muitas
vezes demonstra hesitação em enfrentar essa questão de frente. Mesmo diante das
incertezas em outras áreas, é fundamental que o sistema legal tome uma posição
definida e esteja disposto, se para o caso, a sugestão de reformas e modificações nos
métodos de aplicação das penas. Nessa seara, um instituto especialmente relevante
é o da reincidência, que será mais bem desenvolvido no capítulo subsequente.

34
4. REINCIDÊNCIA

Embora não seja algo necessário, a presença de psicopatia está intimamente


ligada à prática de crimes, especialmente os violentos. Em comparação com
criminosos sem traços psicopáticos, aqueles que apresentam essa condição
enfrentam um número maior de acusações criminais, sendo mais frequentemente
condenados por delitos que envolvem violência e tortura. De acordo com Hare, a
avaliação da psicopatia desempenha um papel fundamental na capacidade de
compreender, prever e gerenciar comportamentos criminosos. Ele destaca a
psicopatia como “[...] o construto clínico mais crucial no sistema de justiça criminal”
(Hare, 1998, p. 99).
Isso porque, considerando a habilidade significativa que possuem em
simulação de arrependimento, esses indivíduos têm uma grande probabilidade de
obter liberdade e serem reintegrados à sociedade. No entanto, as suas características
pessoais levam a cometer novos delitos, sendo que cerca de 70% reincidem após
serem soltos, devido à falta de alteração no seu comportamento enquanto cumprem
pena na prisão (Morana, 2003, p. 143).
Quando se trata da reincidência criminosa, é viável explorar e compreender as
causas e os impulsos por trás do comportamento transgressor do indivíduo psicopata.
Essa compreensão pode direcionar a implementação de medidas para prevenir ou até
mesmo erradicar futuras situações problemáticas. Vale ressaltar que a psicopatia é
considerada o principal fator de risco associado à reincidência.
A reincidência criminal ocorre quando um indivíduo, após cumprir a pena
imposta em razão de um ato criminoso, é posteriormente libertado e volta a cometer
outro crime. Esse conceito serve como agravante para punir mais severamente
alguém que, já condenado anteriormente, reincide na prática delituosa, provando que
a sanção anteriormente aplicada não foi eficaz o suficiente para dissuadi-lo ou
promover sua reabilitação (Mirabete, 2008, p. 319).
Ainda sobre o tema, Hilda Morana elucida que os psicopatas apresentam uma
taxa de reincidência criminosa até três vezes superior em comparação com outros
criminosos. Além disso, para crimes que envolvem violência, a taxa de reincidência
entre as psicopatas chega a ser quatro vezes maior do que a observada entre os
demais infratores (Morana, 2021, p.144).

35
Não há, no sistema carcerário brasileiro, um processo para diagnosticar a
psicopatia em relação à redução de penas ou à avaliação da capacidade do preso de
cumprir sua sentença em regime semiaberto. Se fossem implementados tais
procedimentos, é provável que os criminosos em questão permanecessem detidos
por um período mais longo, resultando em uma possível redução progressiva nas
taxas de reincidência desses crimes violentos cometidos por psicopatas.
No entanto, o único recurso apresentado pelo sistema legal brasileiro, quando
julgado pelo juiz, é o exame criminológico, conforme já mencionado. Entretanto, este
método não consegue avaliar o indivíduo de maneira minuciosa e confiável, indicando
a necessidade de uma abordagem mais atualizada e precisa, pelas razões expostas
anteriormente.
Além disso, conforme o disposto no Código Penal, a reincidência criminal é
considerada como um agravante da pena, o que leva a um aumento da sanção
imposta. Como já se viu, observa-se uma taxa de reincidência de 77% entre os
psicopatas, os quais, ao serem libertadores, demonstram uma especialização
crescente na prática de atos criminosos, o que leva à aplicação do seguinte dispositivo
do mencionado código: “Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
quando não constituem ou qualificam o crime: I - a reincidência; [...]” (Brasil, 1940).
Nesse contexto, as leis penais consentem que, se a primeira ação criminosa
do psicopata não envolve absolvição imprópria, esse pode ser julgado com base no
artigo acima mencionado. Em outras palavras, se a decisão anterior não se basear
em uma exceção de absolvição, um indivíduo depositado com psicopatia leve pode
ser considerado reincidente na segunda publicação.
Salienta-se que, em sede do processo legislativo, existem alguns projetos de
lei que visam a disciplinar a matéria, como projeto da Câmara dos Deputados nº
6.658/2010, que propõe: “[...] criar comissão técnica independente da administração
prisional e a execução da pena do condenado psicopata, estabelecendo a realização
de exame criminológico do condenado a pena privativa de liberdade, nas hipóteses
que especifica” (Brasil, 2010b). Também vale mencionar o projeto de lei do Senado
Federal nº 140/2010, que adiciona os incisos 6º, 7º, 8 e 9º ao artigo 121 do Código
Penal brasileiro, com intuito de tipificar o assassino em série, assim sumarizado:

Altera o Código Penal para considerar assassino em série o agente


que comete três ou mais homicídios dolosos em determinado espaço
36
de tempo, seguindo procedimento criminoso idêntico, constatado por
laudo pericial elaborado por junta profissional; estabelece pena
mínima de trinta anos de reclusão, em regime integralmente fechado
ao assassino em série, proibida a concessão de qualquer tipo de
benefício penal (Brasil, 2010a)

De toda forma, para aplicar o instituto de modo específico em relação aos


psicopatas, existe um critério observado em sede de direito comparado e que será
esclarecido no tópico a seguir.

4.1 Escala PCL-R

Países como Canadá, Austrália e Estados Unidos implementaram uma


avaliação denominada, em tradução literal, “Lista de Verificação de Psicopatia
Revisada,” do inglês Psychopathy Checklist Revised, também conhecida pela sigla
PCL-R. Ela tem demonstrado eficácia na redução da taxa de reincidência entre
indivíduos identificados como psicopatas.
Vale esclarecer que, na década de 1990, Robert Hare desenvolveu a escala
PCL-R, uma ferramenta utilizada para avaliar o potencial de periculosidade e a
tendência de reincidência criminal associada à psicopatia e comportamentos
antissociais de um indivíduo específico. A escala foi desenvolvida com o intuito de
distinguir entre os indivíduos psicopatas e os crimes inoportunos. O PCL-R consiste
em um questionário contendo 20 itens, os quais avaliam o nível de psicopatia de um
indivíduo. Cada item é pontuado em uma escala de 0, 1 ou 2, baseada em dois fatores,
e para a versão brasileira, é estabelecido “um ponto de corte de 23 pontos”,
possibilitando a distinção entre a personalidade típica e a personalidade antissocial
(Hare, 1998).
O esquema possui dois componentes estruturais distintos: o primeiro consiste
na avaliação das características comuns presentes nos portadores da psicopatia, que
incluem a ausência de sentimentos como vínculos interpessoais verdadeiros e
duradouros, arrependimento, afeto, bem como traços de crueldade e perversidade.
Enquanto isso, o segundo componente identifica os padrões de comportamento
ligados aos padrões de comportamento de um psicopata, que incluem uma tendência
crônica à instabilidade, um estilo de vida antissocial, impulsividade e outros
comportamentos característicos. De acordo com Ana Beatriz Silva, além de oferecer

37
vantagem para a sociedade no geral, a avaliação PCL-R também beneficia o sistema
de justiça criminal: “[...] os psicopatas são manipuladores inatos e que, em função
disso, costumam utilizar os outros presidiários para a obtenção de vantagens
pessoais” (Silva, 2008, p. 133).
Conforme mencionado, os países que adotaram a utilização da escala PCL-R,
alojam esses criminosos em celas distintas dos demais presidiários, quando
comprovada a identificação de personalidade psicopática. Entende-se que essa é uma
medida que teve sucesso nos sistemas jurídicos mencionados e que se mostra como
promissora para a realidade brasileira, se for a ela bem adaptada, na medida em que
casos eminentes no Brasil tiveram tratamento diverso e menos adequado, como será
discutido no capítulo a seguir.

38
5. CASOS BRASILEIROS

O objetivo do estudo dos casos é detalhar minuciosamente os aspectos


discutidos ao longo da análise referentes às características e, principalmente, aos
métodos de tratamento empregados em cada um deles. Antes de prosseguir, insta
salientar que o termo serial killer não é sinônimo de transtorno de personalidade
antissocial ou psicopatia: o transtorno mencionado é avaliado em graus, do mais leve
ao mais intenso, como os assassinatos. Portanto, o termo recai sobre o crime
praticado e não sobre a psicopatia em si.
O primeiro caso a ser abordado é o do assassino em série Febrônio Índio do
Brasil, destacando as principais características associadas ao crime e ao transtorno
de personalidade antissocial. De acordo com Ilana Casoy (2014), Febrônio se tornou
o precursor da prisão perpétua no Brasil, caso em que a ciência justificou a
inimputabilidade do assassino, levando à sua detenção em manicômio judiciário.
resultando na criação do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, onde ele se tornou
o primeiro interno. Esse evento refletiu sobre a preocupação em mantê-lo em um
ambiente apropriado para tratamento, evitando sua convivência com outros infratores.
Conforme o relato de Ilana Casoy (2014), Febrônio era um homem negro,
homossexual, economicamente desfavorecido e mentalmente assustador. Ele
exerceu ilegalmente as profissões de dentista e médico, utilizando essas funções para
cometer atrocidades contra seus supostos pacientes. Além disso, chegou a registrar
seus pensamentos na forma escrita e, dentre as várias frases desconexas presentes
em seus escritos, Ilana Casoy destacou algumas expressões, tais como:

Buscou entre os homens mais infelizes o menino insignificante de


valor tão precioso...; menino das magias antigas, qual o ente 50
encarnado o mysterio da igreja do que a ti ensinou a voz da morte a
vida profetizar? (Casoy, 2014, p. 60).

Diante desse caso, percebe-se que o indivíduo foi considerado inimputável por
falta de sanidade. Conforme os relatos de Ilana Casoy, Febrônio, na realidade, sofria
de grande desordem mental, a qual ele utilizou para cometer uma variedade de
crimes. Febrônio poderia ser rotulado como um assassino em série desorganizado e
não demonstrou qualquer premeditação em seus crimes ou preocupação com sua
captura. Foi sujeito a uma medida de segurança devido a sua incapacidade de
39
reabilitação, uma medida de caráter perpétuo legitimada pelas autoridades brasileiras
da época. Conforme relata Casoy, Febrônio foi internado em 6 de junho de 1929 no
Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, permanecendo por 57 (cinquenta e sete)
anos, vindo a falecer aos 89 (oitenta e nove) anos de idade (Casoy, 2014).
As conclusões indicavam que Febrônio manifestava uma psicopatia
caracterizada por “desvios éticos, evidenciados por impulsos sádicos e homossexuais,
associados a uma imaginação fértil e delirante”. Os atos criminosos de Febrônio eram
resultados de sua condição psicológica, incapazes de afetar sua própria vontade,
sendo este o motivo de sua inimputabilidade. Ainda, que devido à sua falta de controle,
Febrônio representava uma ameaça para a sociedade, necessitando permanecer
internado e afastado do convívio social em uma instituição designada para o
tratamento de delinquentes psicopáticos, conforme laudo pericial redigido pelo Dr.
Heitor Carrilho no mês de fevereiro de 1928 (Casoy, 2014).
Diante disso, é demonstrado que o caso de Febrônio representou o primeiro
exemplo de um assassino em série considerado mentalmente incapaz. Nota-se
também que houve uma medida de proteção à sociedade, e, apesar da aplicação de
uma medida de caráter perpétuo, a justiça acautelou-se, com sua saúde mental e
física, encaminhando-o não para uma prisão, mas para uma instituição adequada ao
seu estado psicológico.
Em contraponto a essa narrativa, que representou a primeira aplicação de uma
medida de caráter perpétuo no Brasil, faz-se relevante a descrição de um caso
relativamente recente que abalou o país devido à maneira desumana com que esse
assassino perpetrava seus atos. Conhecido como "Maníaco do Parque", o agente
cometia seus crimes, na área de mata do Parque do Estado, localizado em São Paulo.
Francisco de Assis Pereira, apelidado de Chico, foi detido após um período de 23 dias
em fuga, conforme descrito por Luisa Alcalde em um estudo que aborda em detalhes
toda a busca pelo assassino em série (Alcade, 1999).
A autora relata que, em 1996, uma mulher procurou os ás autoridades e alegou
em seu depoimento que foi abordada por um homem na Praça da República que foi
apresentado como Patrick. Ele a convenceu a tirar fotos para uma agência de modelos
no jardim zoológico local. Quando então propôs que entrassem em uma trilha na mata,
ela hesitou. Contudo, foi surpreendida pela mudança repentinamente na expressão
facial e na voz do agressor, o que a deixou amedrontada e a fez ceder às exigências

40
do rapaz. A partir daí, se iniciou o ritual agressões físicas e sexuais. A autora relata
diversas denúncias de vítimas sobreviventes, com os mesmos detalhes da abordagem
e modos operandi (Alcade, 1999).
No dia 4 de agosto de 1998, em Itaqui, Rio Grande do Sul, Francisco de Assis
Pereira foi detido e posteriormente transferido para São Paulo. Em seus primeiros
depoimentos, ele negou qualquer envolvimento com os crimes dos quais foi acusado,
apesar das múltiplas evidências contra ele. Apenas em 7 de agosto, decidiu por
iniciativa própria confessar, com detalhes, os crimes que havia cometido, inclusive
oferecendo-se para indicar os locais onde os corpos que ainda não foram encontrados
estavam. No dia 14 de fevereiro de 1998, o criminoso foi encaminhado para a Casa
de Custódia e Tratamento de Taubaté, aguardando julgamento. Durante esse período,
passou por avaliações psiquiátricas e foi diagnosticado como semi-imputável e
portador de transtorno de personalidade antissocial. Tais avaliações destacaram sua
dificuldade em se adaptar às normas sociais e sua incapacidade de estabelecer
relações afetivas. É importante salientar que, conforme indicado pela autora, o próprio
assassino teria declarado que, caso fosse reintegrado à sociedade, cometeria novos
assassinatos (Alcade, 1999).
Neste segundo caso, observa-se a imposição de sanção punitiva mediante a
pena privativa de liberdade, no entanto, sem considerar a reintegração do indivíduo à
sociedade. Isso gera um desconforto entre os especialistas no assunto, uma vez que
uma pessoa em questão é exposta com transtorno de personalidade psicopática,
representando um risco para a comunidade caso seja libertada após cumprir sua
pena.

5.1 Comparação com Outros Países

Diante de todas as informações previamente examinadas, torna-se necessário


avaliar a abordagem aplicada aos indivíduos psicopatas em diferentes sistemas
jurídicos, com a finalidade de aprimorar o ordenamento brasileiro. Isso se justifica pelo
fato de que a psiquiatria forense, peça fundamental na identificação de psicopatas, é
objeto de fuga da atenção do sistema penal brasileiro em comparação com outros
países. É importante investigar a existência de tratamentos específicos e os métodos

41
para detectar a psicopatia em outros países, estabelecendo uma comparação com a
realidade brasileira, a fim de avaliar a adoção de abordagens semelhantes.
Conforme analisado, a ferramenta utilizada por países como EUA, Holanda,
Noruega e China, para o reconhecimento do transtorno, é conhecida como
Psychopathy Checklist (PCL-R), que se demonstrou bastante eficaz na identificação
desses indivíduos, resultando na diminuição da taxa de reincidência criminal entre
esses indivíduos:

A psiquiatra forense Hilda Morana, responsável pela tradução,


adaptação e validação do PCL para o Brasil, além de tentar aplicar o
teste para a identificação de psicopatas nos nossos presídios, lutou
para convencer deputados a criar prisões especiais para eles. A ideia
virou um projeto de lei que, lamentavelmente, não foi aprovado (Silva,
2008, p. 134).

Em países como o Reino Unido e Estados Unidos, o transtorno antissocial é


objeto de observação e tratamento desde as fases iniciais de sua manifestação.
Conforme indicado por pesquisas realizadas pela polícia federal norte-americana, a
maioria dos indivíduos portadores de psicopatia iniciam sua trajetória atípica na
infância, desenvolvendo como por exemplo, atos de tortura e morte de animais,
recebendo julgamentos diferentes. Desse modo é evidenciado que tais países
adotaram medidas preventivas, controlando, de certa forma, desde os primeiros sinais
(Oliveira, 2018).
Quanto ao Brasil, esse problema não passa nem perto de ser solucionado, haja
vista, que nunca recebeu a atenção devida e nem foi objeto de questionamento pelos
poderes governamentais. Como resultado, a taxa de casos de reincidência criminal
não mostra sinais de estabilização, evidenciando a lacuna no sistema jurídico.
No que diz respeitos aos crimes de natureza sexual, a Suécia, Dinamarca e
Alemanha, adotam a administração de hormônios femininos aos psicopatas,
provocando uma redução progressiva dos níveis de testosterona e,
consequentemente em sua libido sexual. Esse procedimento é popularmente
conhecido como “castração química” e representa uma forma de sanção dos países
supracitados (Oliveira, 2018).
Além disso, EUA e Canadá adotaram a criação de leis direcionadas para tais
indivíduos, permitindo dessa forma a melhor condução da sentença e
consequentemente a aplicação de penas adequadas ao nível de periculosidade
42
apresentada por cada condenado. Nesses países, a legislação prevê a condição de
prisão perpétua em regime de isolamento, assim como a detenção por tempo
indeterminado. Todavia, no Brasil, a infraestrutura necessária para essa abordagem
não está disponível nos sistemas prisionais, resultando na liberação desses indivíduos
altamente perigosos, que acabam reincidindo.
Isso posto, é sabido que a Constituição Federal proíbe a adoção de medidas
como a castração química e a prisão perpétua, por representarem violações a direitos
fundamentais. Logo, torna-se evidente que a abordagem mais adequada seria a
adoção de medidas que estejam em consonância com a legislação, como o
estabelecimento de normas específicas, com intuito de abranger esses indivíduos e
manter um controle eficaz sobre tal problema, considerando a gravidade e a
periculosidade dos crimes geralmente praticados por esses indivíduos.

43
CONCLUSÃO

O presente trabalho buscou elucidar o conceito e as características da


psicopatia, visto que sua caracterização passou por alterações ao longo do tempo,
sendo atualmente considerada sinônimo de transtorno de personalidade antissocial.
Conforme descrito, tal condição tem origem em uma disfunção cerebral que afeta a
região responsável pelos sentimentos associados à sociabilidade humana, como
empatia e remorso resultantes de influências biológicas, psicológicas ou genéticas, as
psicopatas manifestam comportamento impulsivo e instintivo, desconsiderando o
reconhecimento da natureza ilícita de suas ações. Como consequência, tornam-se
incapazes de adequar seu comportamento de modo socialmente aceitável.
Além disso, a questão foi analisada pela percepção do sistema jurídico em
relação ao tema, tendo em vista que existe uma lacuna na abordagem em relação ao
psicopata. Quando se trata de um indivíduo envolvido em crimes bárbaros,
demonstrando frieza e suspeitos de apresentarem transtorno de personalidade são
submetidos ao exame criminológico, com a intenção, em tese, de preservar a
individualização da pena e facilitando a decisão sobre o tratamento penal mais
adequado para cada caso. No entanto, vale ressaltar que esse método não é
considerado confiável no contexto dos psicopatas, pois podem facilmente manipular
o exame para obter benefícios indevidos.
Salienta-se que esses indivíduos possuem a capacidade de compreender suas
ações e as normas impostas pela sociedade. Consequentemente, como visto, são
julgados de maneira genérica, equiparando-o ao criminoso comum e sujeito ao limite
máximo de 40 anos de encarceramento sob os cuidados do Estado, conforme
atualização do pacote anticrime, com a possibilidade de usufruir dos benefícios
previstos na legislação penal.
Também foi abordado o procedimento de identificação de psicopatas adotado
por alguns países nas Américas e na Europa, o denominado Psychopathy Checklist
Revised (PCL-R). Esse método envolve a aplicação de um teste de personalidade. É
avaliado como um método confiável, segundo os países que aderem, pela sua
adaptação às diferentes culturas.

44
No que se refere à culpabilidade, sabe-se que esta é requisito para a imposição
da pena, sendo determinada pela capacidade de compreensão da ilicitude do ato
praticado, bem como, de agir em consonância com a legislação do país.
Diante de todo o exposto, conclui-se que o Estado deve se empenhar em
garantir uma segurança efetiva para a sociedade ao lidar com casos de psicopatia
comprovada, especialmente aqueles que possuem histórico de envolvimento em
crimes violentos. Isso implica na necessidade de desenvolver métodos específicos
para identificá-los, distinguindo-os do tratamento destinado aos denominados
criminosos comuns.
Em outras palavras, além da necessidade da introdução de dispositivos que
abordem a psicopatia, para atingir, de fato, o princípio da individualização da pena,
isso inclui a criação de instalações prisionais específicas para acomodar esses
indivíduos manipuladores, considerando que não devem compartilhar o mesmo
ambiente com outros detentos, com o objetivo de evitar que reincidam e se tornem
novamente uma ameaça para a sociedade.

45
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