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SÃO PAULO
2023
O COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL E A DELINQUÊNCIA EM RESPOSTA AO
DESAMPARO SOCIAL E AFETIVO
Quando a criança é deprivada ela perde a esperança de encontrar aquilo que ela
encontrava na fase de dependência absoluta. Se ela perde a esperança de encontrar
aquilo que ela tinha, ela fica com um certo humor deprimido (que não consideramos
como uma depressão ainda), mas fica descompensada. Se a criança percebe que o
ambiente pode entender aquilo que ela perdeu (ainda ter uma certa esperança), é
onde os atos antissociais começam aflorar. Por isso Winnicott chama a delinquência
como sinal de esperança, o que é totalmente contra o senso comum.
É na hora da esperança que a criança tenta voltar pra antes da deprivação - para o
ambiente que era bom e que ela perdeu. Mas essa volta é feita através dos atos
antissociais e Winnicott coloca os principais deles sendo roubo, mentira (relacionado
com a perda materna) e destrutividade (relacionada com a perda paterna), entre
outros sintomas possíveis. O mais importante aqui é entender que a principal
característica da criança antissocial é que ela incomoda, porque ela vai roubar, mentir,
destruir – mas tudo isso tem a ver com esperança, porque quando ela é deprivada,
ela fica dissociada. Existe uma dissociação da personalidade e essa parte que está
em busca do perdido é a parte dissociada que busca integração. E como o ambiente
se incomoda com esse tipo de sintoma ele é chamado a implicar no cuidado de quem
está passando por esse tipo de sofrimento.
Existe também a cura natural dentro da família, onde o próprio contexto familiar
pode curar (se aplica apenas nos momentos iniciais da deprivação. Para casos mais
agravantes é necessário o acompanhamento de clínica ampliada). Como exemplo de
cura natural, podemos exemplificar da seguinte forma: na chegada de um irmão mais
novo onde a criança mais velha passa a se sentir insegura e talvez fique de fato em
segundo plano, se sentindo excluída. Isso indica que o manejo da família não foi
adequado. Mas muitas vezes a família é capaz de enxergar isso e trazer a criança de
volta para um lugar de segurança, enchendo de mimo e reconhecendo que ela perdeu
e podendo fazer com que ela não precise implicar o ambiente mais duramente. Isso
diz muito em como o ambiente pode favorecer a resolução desses sintomas, sem
precisar necessariamente do analista ou terapeuta.
O que é transmitido corresponde àquilo "que não contém, aquilo que não se retém,
aquilo de que não se lembra" (Käes, 1998, p. 9). Pode também ser transmitido aquilo
que mantém os vínculos familiares, como os mecanismos de defesa e as
identificações (Käes, 1998; Valdanha, Scorsolini-Comin, & Santos, 2013).
CONCLUSÃO
Com isso, podemos concluir que a criança que sofreu deprivação traz consigo um
histórico de experiências traumáticas, o que resulta em um modo diferente de interagir
com o ambiente e pessoas ao seu redor, mas com o investimento certo de atenção
ao caso tanto por parte da família, escola e terapeutas, ela tem a possibilidade de se
recuperar, não evoluindo para casos permanentes e psicopatológicos no futuro.
1) Qual o melhor momento para uma intervenção para que a psicopatia não surja
no indivíduo?
R: A criança anti-social, está buscando o amor da mãe, mas também do pai severo e
forte que a contenha. Winnicott explica como a provisão ambiental deveria ser
fornecida, afirma: “...pode-se oferecer-lhes um ambiente estável e forte, com
assistência e amor pessoais, e doses crescentes de liberdade” (p.133). Ele comenta,
que o cuidado com esta criança com sintomas antissociais vai ficando cada vez mais
difícil, na medida na medida em que ela evolui para a delinquência: “Na delinquência
plenamente desenvolvida, a situação fica difícil para nós como observadores porque
o que nos chama a atenção é a necessidade aguda que a criança tem de um pai
rigoroso, severo (...) O pai rigoroso que a criança evoca também pode ser amoroso,
mas deve ser, antes de tudo, severo e forte” (Winnicott, 1946/1999, p.131).
A conjugação de amor e força, força está representada pela necessidade que essas
crianças têm de alguém de dê continência a seu comportamento impulsivo, é a
proposta da concepção winnicottiana para cuidar das crianças e jovens anti-sociais.
Sabemos, contudo, que um ataque de agressividade também traz uma reação do
meio a esse gesto anti-social. E o que vemos, como norma, é a aplicação de punições
a criança que rouba, grita, destrói, ao mesmo tempo em que os crimes dos
delinquentes despertam, na sociedade, um desejo de vingança.
Sendo assim, quando não é eficaz a busca que esta criança implementa, do
acolhimento amoroso da mãe e pelo pai, no limite dos braços que a contenham em
seus impulsos agressivos dirigidos ao ambiente, isso a leva a se tornar cada vez mais
“inibida” no amor e, por consequência, cada vez mais deprimida e despersonalizada,
acabando finalmente, por ser incapaz de sentir a realidade das coisas, exceto a
realidade da violência”. (Winnicott, 1946/1999, p.131).
REFERENCIAS: