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Agressividade
- Inato
-Afeto (possibilidade de sublimação: brincar)
-Reação à frustração (desejo não atendido – não necessariamente obteve e perdeu objeto de
desejo)
- Sinal de esperança
- Combina-se ao amor: avidez
Tendência Antissocial
- Inato
- Atos esporádicos (furto, enurese, etc. – Não há possibilidade de sublimação)
- Reação à deprivação (perda – obteve objeto e o perde)
- Sinal de esperança
Personalidade Antissocial
- Adquirido
- Padrão de conduta – estabelecido por meio 1) do reforçamento ambiental (ganhos
secundários) da tendência antissocial e 2) da ausência de um ambiente acolhedor (cuidador,
reparador de perdas) e educador (imposição de limites, referências de autoridade).
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alguém externo para ser odiado no lugar dele. A agressão é entendida como uma reação
direta ou indireta à frustração e é uma das muitas fontes de energia do sujeito. Ela é
saudável quando sob controle – é útil para dar força ao trabalho de reparação e
restituição.
Um dos objetivos na construção da personalidade é tornar o indivíduo capaz para
drenar continuamente o pulsional. Isso envolve a capacidade crescente para reconhecer a
própria crueldade e avidez, que então, e só então, podem ser dominadas e convertidas em
ação sublimada.
A noção de voracidade é usada por Winnicott para significar a fusão original de
amor e agressão; a de avidez é usada para indicializar um sintoma antissocial comum, não
devendo ser entendido como um retrato da onipotência infantil, mas uma consequência da
deprivação. A avidez é parte da compulsão do bebê para buscar uma cura da mãe para sua
deprivação. Essa avidez é antissocial e precursora do furto, podendo ser compreendida e
curada pela adaptação terapêutica da mãe, através de carinho e da contenção (proibição,
educação).
Diferentemente da agressividade, na tendência antissocial não há espaço para o
brincar: o que ocorre é uma descarga direta pela atuação (acting out) – furto, etc. A criança
antissocial procura, de um modo ou de outro, violenta ou pacificamente, fazer com que o
mundo reconheça seu débito para com ela, ou tenta fazer o mundo reconstruir a moldura
que foi quebrada.
Nesse sentido, Winnicott dá maior ênfase à importância do ambiente humano (mãe)
na identificação e na tendência inata da criança para o envolvimento emocional. Na época
dos 6 meses aos 2 anos a privação ou perda de alguém podem ter consequências
devastadoras para a capacitação da criança em criar vínculos, fazendo com que o
processo de sociabilização se perca ou se obstrua.
Tanto a agressividade como a tendência antissocial são naturais à condição
humana, segundo Winnicott. A agressão é um sintoma da vida, uma reação natural que não
tem, necessariamente, a intenção de matar ou machucar, mas que pode assim se consistir se
o ambiente não for facilitador (o sadismo, a inveja, o ódio não são sentimentos inatos).
A principal conclusão de Winnicott é que o cuidado parental é essencial para o
desenvolvimento humano1.
Quão mais nova for a criança, mais o afastamento dos pais implicará num distúrbio
psicológico grave, considerando que quão mais imatura, menos recursos a criança disporá
para manter a ideia da pessoa viva em si (um núcleo depressivo não subsistirá apenas na
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Este modelo é, inclusive, replicado nos tratamentos psicoterapêuticos.
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criança afastada, mas também na família, conquanto os impactos psíquicos serão muito
maiores na criança do que nos adultos).
Existe um limite para a capacidade infantil em manter viva a ideia de alguém que
ama sem manter contato com a pessoa. Por extensão, o mesmo vale para os adultos. No
caso de pais que perderam a guarda de uma criança, eles tão cedo deixariam de se sentir
responsáveis por ela. Para as crianças, a comparação maior realizada na mudança de lar
não é entre a casa nova e a casa antiga, mas entre a casa antiga e a casa idealizada em sua
mente. Várias crianças vêm de lares ruins, mas tinham imagens maravilhosas dela em suas
memórias. Se a criança regressa para seu antigo lar, com suas fantásticas expectativas, ela
acaba se deparando com a realidade frustrante e com a desilusão concomitante à percepção
de que tem um lar. Tal adaptação leva tempo, e deve ser encarada com naturalidade e
paciência. Não problema com a idealização em si; ela nos traz conforto; mas o quanto essa
idealização pode nos afastar da realidade e a aprender lidar com ela.
O retorno da criança aos seus lares de origem tendem a inaugurar uma nova era de
imaginação, ligada à realidade e encerramento das fantasias negativas que possuía. Assim,
Winnicott lista uma série de atos esperados que notificam a readaptação da criança, que
atestam para sua reintegração: desperdiçar comida, pirraçar, testar os adultos (pequenos
furtos), testar a mãe sobre o quanto ela é a verdadeira mãe, etc. Estes são atos que
testemunham que a criança está se sentindo segura novamente, por isso até ela pode ‘errar’
com seus cuidadores e estará ‘tudo bem’. Enquanto antes ela cumpria em si, precocemente,
a função materna e paterna, agora ela pode voltar a ser criança.
De acordo com Winnicott
Não é apenas de comida e o abrigo que contam, e nem a provisão de ocupações
para momentos livres. Penso que essas coisas são suficientemente importantes.
Podem ser providas em abundância e ainda assim o essencial estará faltando se
os pais de uma criança ou seus pais adotivos/guardiões não assumirem
responsabilidade pelo seu desenvolvimento. Existe um assunto que mencionei
sobre feriados de autocontrole. Devo dizer que, para que a criança se desenvolva
a ponto de descobrir as profundezas de sua natureza, alguém tem de desafiá-la e,
algumas vezes, até odiá-la. E quem melhor para fazer isso que os próprios pais
(que podem odiar sem oferecer perigo de uma ruptura de relação)?
A volta pra casa não é fácil. Além dos problemas normais no convívio com
crianças, é preciso gradualmente reconquistar a criança e a readaptá-la à dinâmica familiar.
É preciso colocar limites, acima de tudo! A família tem de manter uma postura enérgica
desde o início, e não somente quando a criança manifestar comportamentos desafiadores,
pois isto quebraria a confiança dela em relação à força de atenção dos pais sobre ela.
Importa indicar alguns indicadores de adaptabilidade (recursos psíquicos) da
criança: existência ou não de um lar estável, em relação ao original, no imaginário da
criança; habilidade para brincar; perseverar; fazer amigos: quando essas variáveis estão
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bem encaminhadas, há forte indício de saúde por parte da criança, pois crianças ansiosas
mudam frequentemente de amigos e crianças com sérios distúrbios apenas conseguem
integrar grupos na medida em que estes sejam verdadeiras gangues: organizadas para
perseguir algo (a maioria das crianças tiradas a força de seus lares e levadas para os abrigos
eram incapazes de brincar, de persistir em tarefas construtivas ou de estabelecer amizades.
O sentimento de culpa, moral, se forma, mas é perdido quando os ganhos secundários são
alcançados. Assim, a melhor época para tratar a tendência antissocial comportamental é
antes dos ganhos secundários serem adquiridos, pois até esta fase a criança está sendo
compelida a roubar e destruir apesar do sentimento de desconforto em relação aos atos. O
padrão é o seguinte:
1 as coisas vão bem para a criança
2 algo causa distúrbio no ambiente pacífico
3 a criança é exigida além da sua capacidade (as defesas do ego são suplantadas)
4 a psique infantil se reorganiza em torno da base de um novo padrão de defesa egoica,
mais arcaico
5 a criança começa a se tornar mais esperançosa de novo, e mobiliza atos antissociais
esperançosos – para coagir a sociedade no sentido de reconhecer sua fala e de restaurar o
estado promissor anterior
6 se 5 acontecer, ela pode reestabelecer a continuidade do seu desenvolvimento, através do
(re)descobrimento-criação de um bom objeto (se reintegrando, unificando) e um bom
controle e segurança pessoal, para desempenhar sobre o ambiente no momento das
exigências pulsional amorosas e destrutivas.
Mais especificamente, a criança usa o comportamento antissocial, que é natural,
para induzir o ambiente que o cerca a lhe prover as condições adequadas (recuperando o
status quo anterior à deprivação) de capacitação e amadurecimento. Quando isso funciona,
ele aprende a lógica por detrás da conduta e o sedimenta em seu ego como uma defesa.
Vale destacar que Winnicott aponta para a possibilidade de certas crianças
nascerem e se desenvolverem absolutamente amorais, mas isso não ofusca a importância
dos fatores ambientais na constituição da personalidade.
A delinquência (personalidade antissocial) é um complexo de defesas antissociais
sobrecarregada de ganhos secundários e reações sociais que tornam difícil a reconciliação
do jovem comprometido com o meio – o que torna o trabalho do investigador difícil. Por
sua vez, a tendência antissocial pode ser mais facilmente investigada, em crianças
saudáveis ou apenas parcialmente prejudicadas.
Para Winnicott, a delinquência, bem como a tendência antissocial, é “um sinal de
esperança”. Inconscientemente o delinquente busca reencontrar “bons pais”. O grande
problema é que o ambiente social não aceita, não tolera esse tipo de comportamento, e,
mesmo por conta da mentalidade cultural em que estamos inseridos, a primeira iniciativa
da sociedade é punir o delinquente, e não compreendê-lo. Vale lembrar, por outro lado, que
o delinquente não é consciente de seus atos, e um exame mais detido das motivações
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Sujeito enérgico e saudável: aquele que sustém em si o ímpeto, próprio ao psicótico, para transformar a
realidade sem rechaçá-la, mas conservando intacto seu juízo de realidade, como o neurótico.
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