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Envelhecimento
Objetivos da Unidade:
ʪ Contextualização
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
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ʪ Contextualização
ʪ Material Teórico
Introdução
Daremos início ao nosso conteúdo a respeito do envelhecimento, que deve ser entendido como
um processo natural e normal da vida humana, assim como a infância, a adolescência e a fase
adulta. Vamos, nesta unidade, fazer algumas reflexões a respeito desse processo, defini-lo nas
suas diferentes abordagens e apresentar as interfaces com a Educação Física e os
procedimentos de intervenções junto a esta população. Provavelmente você já ouviu termos
como:
Figura 1
Reflita
“velho, velhice, terceira idade, melhor idade, idade de ouro, etc.”, geralmente acompanhados
ainda de uma série de terminologia de tratamento no mínimo questionável, tal como é possível
de ser verificado nos locais de moradia ou permanência: “creche para idosos, casa de repouso,
cada de cuidados, etc.”. Sem contar os diminutivos utilizados, infantilizando a pessoa idosa:
“me dê o bracinho, levante a perninha, vamos dar um passinho”, muitas vezes utilizados na
primeira infância.
Para Nahas (2006), o envelhecimento é um fenômeno complexo e variável, sendo o seu estudo
realizado sob uma perspectiva interdisciplinar. Também define o envelhecimento como um
processo gradual, universal e irreversível, provocando uma perda funcional progressiva no
organismo. Esse processo é caracterizado por diversas alterações orgânicas, como a redução do
equilíbrio e da mobilidade, das capacidades fisiológicas respiratória e circulatória e modificações
psicológicas (maior vulnerabilidade à depressão).
Esse processo está associado às perdas funcionais e biológicas, como o desenvolvimento das
doenças crônicas, doenças cardiovasculares, perda da massa muscular e da força e diminuição
do equilíbrio. Com isso, perde-se capacidade funcional, resultando na perda da autonomia. O
envelhecimento humano é um fenômeno natural, social, irreversível e mundial, que não pode
ser caracterizado apenas pela degeneração biológica, mas sim como resultado dessa situação
relacionada com problemas e limitações de ordem econômica, de condições políticas, históricas
e socioculturais que singularizam esse processo (MATSUDO et al., 2013).
Você, que está acompanhando esta discussão, pode começar a se fazer alguns questionamentos.
Já que se trata de um processo de perdas, qual é o papel e as abordagens da atividade física,
exercício e esporte neste processo? O que devemos esperar de resultados e benefícios
resultantes da prática de atividade física nesta população? Esses e outros conteúdos serão ainda
abordados nesta unidade e complementados nas unidades seguintes.
Figura 2
Mas por que entender de envelhecimento, se é um grupo tão restrito e específico? Será que essas
duas últimas afirmações são verdadeiras e procedentes? Vamos aos dados nacionais brasileiros.
Você sabia que, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020), em
2019, o número de idosos no Brasil chegou a 32,9 milhões. Isso mostra que a tendência de
envelhecimento da população vem se mantendo crescente e que o número de pessoas com mais
de 60 anos no país já é superior ao de crianças com até 9 anos de idade.
Os 7,5 milhões de novos idosos que ganhamos de 2012 a 2019 representam um aumento de
29,5% neste grupo etário. Recentemente, o IBGE divulgou uma série de projeções de longo prazo
sobre o avanço populacional no Brasil. Uma delas aponta para uma desaceleração no ritmo de
crescimento e uma consequente inversão na nossa pirâmide etária. Destaca que o crescimento
da população brasileira total foi elevado, o aumento da população idosa do Brasil tem sido muito
mais intenso do que no cenário global. O número de brasileiros idosos de 60 anos ou mais era de
2,6 milhões em 1950, passou para 29,9 milhões em 2020 e deve alcançar 72,4 milhões em 2100
(IBGE, 2020).
Figura 3 – Projeção da Pirâmide Etária Brasileira para o
ano de 2050, segundo o IBGE
Por isso, os países têm buscado, cada vez mais, compreender o processo de envelhecimento
populacional, procurando alternativas para manter seus cidadãos idosos socialmente e
economicamente integrados e independentes”. Isso porque a presença crescente de pessoas
idosas na sociedade impõe o desafio de inserir o tema do envelhecimento populacional na
formulação das políticas públicas e de implementar ações de prevenção de doenças crônicas e
cuidado direcionados às suas necessidades, subsidiando a organização de uma rede com
capacidade para ofertar serviços e ações no âmbito da proteção social.
ACESSE
Entende-se que a Gerontologia propõe a articulação das áreas de conhecimento por meio de
discussões e investigações de equipes multi ou interdisciplinares no intuito da construção e da
consolidação de políticas e dos programas de saúde na área do idoso. Enfim, é um campo vasto
aos profissionais, que podem atuar de maneira multi, inter e transdisciplinar nas questões que
cercam o processo de envelhecimento humano. Sabendo que o envelhecimento é um processo
natural do ser humano e que, durante este processo, vamos perdendo algumas capacidades
físicas e neurológicas, os exercícios físicos são muito indicados para retardar e prevenir essas
perdas (MATSUDO et al., 2008). A autora confirma que o envelhecimento vem acompanhado de
uma série de efeitos nos diferentes sistemas do organismo que, de certa forma, diminui a
aptidão e o desempenho físico.
Devemos nos aprofundar, nesse sentido, entre os diversos fatores que envolvem o conceito de
envelhecimento e suas peculiaridades, senescência e senilidade. A senescência ou
envelhecimento fisiológico é definido como um conjunto de alterações que ocorrem no
organismo humano que implica perda progressiva da reserva funcional sem que comprometa as
necessidades básicas de manutenção da vida (JACOB-FILHO et al., 2006). Em contrapartida, a
senilidade ou envelhecimento patológico denomina-se como conjunto de alterações que
ocorrem no organismo em decorrência de doenças e do estilo de vida que acompanha o
indivíduo até a fase idosa. Entende-se que as doenças (senilidade) associadas às perdas
fisiológicas (senescência) em idade avançada poderão levar à insuficiência de órgãos, à
incapacidade funcional e ao óbito.
Para o aprofundamento nesses termos e para facilitar seu entendimento, utilizaremos como
apoio as teorias de Shumway-Cook (2003). Há duas linhas teóricas principais que investigam o
envelhecimento: uma considera os aspectos primários; a outra, os secundários. A primeira está
relacionada às características genéticas e à deterioração do sistema nervoso; a segunda avalia a
influência dos danos causados por fatores ambientais, como a radiação, a poluição, o estilo de
vida, entre outros. O envelhecimento como fenômeno complexo requer uma inter-relação entre
os diversos componentes associados. No entanto, muitos desses efeitos deletérios são
secundários à falta de atividade física. Por esta razão, a prática regular da atividade física torna-
se fundamental nessa época da vida.
A hipótese biológica sugerida para explicar o declínio do nível de atividade física com o avanço da
idade cronológica seria a da diminuição de dopamina, que age sobre algumas áreas específicas
do cérebro e que está relacionada com a locomoção. Acrescenta-se a essa hipótese os fatores
não biológicos, como as variáveis psicológicas, sociais e do ambiente físico, que estão
relacionadas ao nível de atividade física (SALLIS et al., 2000). Existe, com avançar da idade, uma
relação entre o nível de atividade física na limitação funcional (MATSUDO et al., 2008), a
incapacidade e fragilidade (BOYLE et al., 2010) e a mortalidade (MANINI et al., 2006).
O nível de atividade física é um indicador importante de saúde da população idosa, estima-se que
18% dos homens e 14% das mulheres de 65 a 74 anos atinjam a recomendação de atividade
física moderada durante a semana. Com o avançar da idade, o decréscimo é verificado quando,
para idosos acima de 75 anos, a recomendação mínima de atividade física para saúde passa a
alcançar apenas 8% dos homens e 4% das mulheres (ACSM, 2009). A recomendação é
acrescida, além dos 150 minutos de atividade aeróbica, com exercícios de força muscular,
equilíbrio e flexibilidade (NELSON et al., 2007; ACSM, 2020). Essa diminuição da atividade física
interfere no estilo de vida, que pode, por sua vez, tornar-se sedentário; esses hábitos não
saudáveis resultam no aumento das doenças crônicas, quedas, dependência funcional, etc.
(MACIEL et al., 2005). A autonomia está relacionada à qualidade de vida e à capacidade de manter
as atividades de vida diária (AVD), associadas às atividades de autocuidado, e a dependência de
outro para a sobrevivência passa a ser vital.
A atividade física regular e a adoção de um estilo de vida ativo são necessárias para a promoção
da saúde e qualidade de vida durante o processo de envelhecimento (MATSUDO et al., 2001).
Entre os motivos que dificultam a adesão à prática da atividade física durante o processo de
envelhecimento estão as sensações negativas associadas ao exercício, tais como dor no peito,
desconforto, medo de cair, a preocupação com a segurança e a autopercepção negativa de saúde,
mesmo sabendo que atividade física pode manter e/ou minimizar os efeitos deletérios comuns
do envelhecimento, como a redução da musculatura (sarcopenia) e perda de força muscular em
relação à massa (dinapenia) (OLIVEIRA et al., 2017).
As quedas também são fatores importantes e, em alguns estudos com idosos longevos, foram
consideradas um fator de risco para mortalidade. Nos estudos sobre envelhecimento, é
consenso que a fragilidade é um dos fatores mais decisivos para a manutenção do estilo de vida
independente, característica que é resultante da força muscular (RABELO et al., 2013). De modo
geral, representa uma maneira de medir se uma pessoa é ou não capaz de independentemente
desempenhar as atividades necessárias para cuidar de si mesma e de seu entorno.
Para finalizar esta Unidade, vamos ressaltar conceitos que devem ser claros na organização de
programas de atividade física para idosos e quais deveriam ser seus objetivos. Alguns dos
conceitos que serão tratados no final desta Unidade têm sido adequadamente definidos e
compilados pelos melhores especialistas da área, que, em reunião especial, chegaram a alguns
consensos. Dentre os conceitos que merecem especial atenção, estão:
Fragilidade: é conceituada como uma síndrome clínica, que pode ser identificada
por perda de peso involuntária, exaustão, fraqueza, diminuição da velocidade da
marcha e do equilíbrio e diminuição da atividade física.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004) lançou, pelo meio de assembleia mundial, a
estratégia global para alimentação, atividade física e saúde, estimulando os países membros a
desenvolver programas nacionais de promoção de atividade física no combate à sedentarismo.
Já no Brasil podemos destacar no Sistema Universal de Saúde (SUS), que, através do meio da
alteração feita na redação de sua legislação em 2013, no artigo 3º da Lei 8.080, acrescenta a
atividade física, como um dos determinantes e condicionantes da saúde. No art. 3º da referida lei,
os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do país, tendo a saúde como
determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico,
o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o
acesso aos bens e serviços essenciais (MINISTERIO SAÚDE, 2013).
Destacamos a importância dos profissionais de Educação Física refletirem sua real importância
ao exercer suas atividades profissionais com enfoque na saúde da população idosa, na
promoção, prevenção e recuperação de saúde. Para o Ministério da Saúde, na Política Nacional de
Saúde do Idoso (PNSPI), em 2006:
As atividades tem o objetivo de garantir ao idoso um envelhecimento saudável, que
preserva a capacidade funcional e a autonomia, mantendo o nível de qualidade de
vida;
Deixamos aqui uma série de informações que podem esclarecer e orientar as intervenções dos
programas de atividades físicas e os programas de exercícios para população idosa.
Discutiremos, posteriormente, cada um desses temas e conceitos, apresentando e
aprofundando a respeito de promoção de atividade física e exercícios para idosos. Até lá.
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ʪ Material Complementar
Filmes
Amor
Da lista, esse é o filme mais recente. Aclamado por tratar o amor na
velhice, o concorrente ao Oscar de 2013 conta a história de Georges e
Anne, um casal de professores de música aposentados. Quando ela
adoece, o amor deles é colocado à prova.
ACESSE
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ʪ Referências
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