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ENVELHECIMENTO ATIVO: UMA NECESSIDADE SOCIAL

Área temática: Saúde


Coordenador da ação: Lidiane Bernardes Faria Vilela¹
Autor: Lethicia Araujo Cordeiro2, Lidiane Bernardes Faria Vilela¹
RESUMO
O envelhecimento populacional é uma realidade mundial, devido a transição
epidemiológica, tem-se novas demandas de saúde, em que as doenças
crônicodegenerativas são destaque, estas doenças geram um impacto considerável
na qualidade de vida e até na autonomia dos indivíduos. Dessa forma, estes passam
a necessitar de tratamento constante com foco maior nas mudanças de hábitos de
vida e uso de medicamentos. As políticas sociais que protegem os idosos são
essenciais em sociedades envelhecidas ou em sociedades a envelhecer, como é o
caso do Brasil. Há também a necessidade de uma melhoria da qualidade de vida dos
idosos. O objetivo do estudo é analisar a realidade da população idosa no Brasil e
frisar a importância de não só criar políticas de saúde para esse grupo, mas as colocar
em vigor. Trata-se de uma revisão literária sistemática através de levantamentos
bibliográficos em base de dados, como: Scielo, Ministério da Saúde e IBEGE.
Mediante a análise desses dados nota-se que é necessário incentivar o
envelhecimento ativo, definido pela Organização Mundial de Saúde como o processo
de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo
de trazer maior bem-estar à população idosa. Entretanto, as políticas públicas de
saúde no Brasil voltadas para o envelhecimento são frágeis e insuficientes. Estas
delegam o cuidar do idoso para suas famílias, que muitas vezes são negligentes ou
não fornecem subsídios necessários para o zelo desses indivíduos. Sendo assim,
deve-se traçar metas que vinculem familiares, governo e profissionais de saúde para
efetivas políticas públicas de saúde que trarão conforto e qualidade de vida para os
indivíduos idosos.
Palavras-Chaves: transição epidemiológica, envelhecimento ativo, políticas de
saúde
1. INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional se caracteriza pelo aumento na quantidade


de pessoas com idade ≥60 anos e a diminuição no número de crianças e jovens. O
percentual de pessoas com 60 anos ou mais na população do país passou de 12,8%
para 14,4%, entre 2012 e 2016. Houve crescimento de 16% na população nessa faixa
etária, passando de 25,5 milhões para 29,6 milhões (IBGE, 2016). A Organização
Mundial de Saúde (OMS) declarou que nas próximas décadas a população mundial
com mais de 60 anos vai passar dos atuais 841 milhões para 2 bilhões até 2050,
tornando as doenças crônicas e o bem-estar da terceira idade novos desafios de
1.Professora Doutora, Titular da Faculdade de Nutrição da Universidade de Rio Verde, e-mail:
lidibfv@unirv.edu.br
2. Acadêmica da Faculdade de Medicina da Universidade de Rio Verde- Campus Rio Verde.
saúde pública global. Os países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, consideram
idosas pessoas com idade ≥60 anos. Já os países desenvolvidos, a partir de 65 anos.

Com a transição epidemiológica tem-se novas demandas de saúde, em que


as doenças crônico-degenerativas são destaque. Essas doenças são chamadas de
Doenças Não Transmissíveis-DCNT (doenças cardiovasculares, câncer, doença
pulmonar obstrutiva crônica, doenças musculoesqueléticas, hipertensão, diabetes).
Ademais, o processo de envelhecimento traz como desafios: a carga tripla de
doenças, o maior risco de deficiência (visão e audição), a provisão de cuidado para
populações em processo de envelhecimento, a feminização, a busca pela ética e a
superação das iniquidades, a sustentabilidade econômica da população em processo
de envelhecimento, a criação de um novo paradigma e a superação das situações de
vulnerabilidade (MARTINS J.R, 2016).

As mudanças sociais, econômicas e demográficas no Brasil contribuíram


para o acréscimo considerável da morbimortalidade por DCNT, sobretudo Diabetes
Mellitus e Hipertensão Arterial. Quando tais morbidades são associadas ao processo
de envelhecimento, estas doenças tornam-se ainda mais onerosas, gerando um
impacto considerável na qualidade de vida e até na autonomia dos indivíduos. Estes
passam a necessitar de tratamento constante com foco maior nas mudanças de
hábitos de vida e uso de medicamentos, além de precisarem de um acompanhamento
completo e constante por parte de profissionais da saúde (MOTTA et al, 2018).

Dessa forma, nota-se que a transição epidemiológica pela qual o Brasil


passa demanda um aumento do uso dos serviços de saúde, tal fato requer que sejam
realizadas modificações nas políticas sociais, principalmente aquelas relacionadas à
saúde, previdência e assistência social. A política de velhice constitui-se como um
ramo da política social que fornece instrumentos de apoio essenciais ao bem-estar
dos indivíduos (Lima, 2013).

As políticas sociais que protegem os idosos são essenciais em sociedades


envelhecidas ou em sociedades a envelhecer, como é o caso do Brasil. Há também a
necessidade de uma melhoria da qualidade de vida dos idosos. Esta população está
a aumentar de dia para dia e os idosos de hoje não são os mesmos de amanhã, visto
que as pessoas estão cada vez mais exigentes com elas próprias e também com a
sociedade em geral. Sendo assim, é urgente criar medidas para que os idosos
continuem a viver com estabilidade e vejam satisfeitas as suas diversas necessidades
(Santos, 2016).
O objetivo do presente estudo é analisar de forma aprofundada a realidade
da população idosa no Brasil. Identificar as mudanças sociais, econômicas e

biológicas que o envelhecimento traz e, por fim, frisar a necessidade da


aplicação das políticas sociais voltadas para esse grupo.

2. DESENVOLVIMENTO

Para esta análise foram realizados levantamentos bibliográficos em base


de dados, como: Scielo, Ministério da Saúde, IBEGE, afim de discorrer sobre processo
de envelhecimento, seu impacto social e na saúde. Além da possibilidade do
enriquecimento do conhecimento para formação ética e profissional acadêmica. Desta
forma discorre-se sobre três aspectos: O processo de envelhecimento; as políticas
públicas e sociais voltadas para o envelhecimento; O papel da formação acadêmica
ética e profissional no contexto do processo de envelhecimento.

3. DISCUSSÃO

O envelhecimento populacional é uma das mais significativas tendências


do século XXI. Apresenta implicações importantes e de longo alcance para todos os
domínios da sociedade. No mundo todo, a cada segundo 2 pessoas celebram seu
sexagésimo aniversário – em um total anual de quase 58 milhões de aniversários de
60 anos. (Fundo de População das Nações Unidas,2012). Embora as pessoas
estejam vivendo mais, elas não necessariamente estão mais saudáveis, os sistemas
de saúde precisam encontrar estratégias eficazes para resolver os problemas
enfrentados por uma população mundial mais envelhecida.

O envelhecimento é um processo dinâmico, progressivo e contínuo, no qual


ocorre um declínio progressivo, além de modificações morfológicas, funcionais,
bioquímicas e psicológicas que podem provocar a diminuição da capacidade de
adaptação do indivíduo ao meio ambiente. Durante o processo de envelhecimento
ocorrem muitas alterações morfofuncionais, como: diminuição da altura, modificação
da composição corporal, diminuição da massa óssea, perda da massa muscular, e
consequentemente na força muscular (Gonçalves et al, 2015).

O envelhecimento além de ser um processo demográfico assume vários


aspetos biológicos, psicológicos e sociais. Se as pessoas estão a viver mais anos, é
necessário assegurar a estas que vivam de forma mais ativa e saudável, satisfazendo
as suas necessidades e também potencializando as suas capacidades. Com este
propósito, a Organização Mundial de Saúde definiu o conceito de Envelhecimento
Ativo, que é considerado numa perspectiva de curso de vida, dependendo de uma
diversidade de determinantes, as quais são de ordem pessoal, comportamental,
econômica, ambiental, social e de saúde (SANTOS,2016).

É importante ressaltar que o envelhecimento ativo não se refere à força


física de trabalho, mas à participação social do idoso, apontando para uma nova
concepção sobre a velhice. O idoso pode e deve participar continuamente de decisões
acerca de aspectos estruturais da comunidade em que vive, tais como os de caráter
econômico, cultural, espiritual, civil, entre outros. Nessa proposta, as pessoas mais
velhas passam a ser vistas, para além de aspectos meramente orgânicos, podendo
ser qualificadas como contribuintes e beneficiárias do desenvolvimento social (MASSI
et al, 2018).

No Brasil, as políticas públicas de saúde do idoso evoluíram lentamente,


embora a mais de quatro décadas já se observa crescente aumento dessa parcela da
população e que os mesmos apresentam problemas específicos que precisam ser
considerados com vistas a manter a sua qualidade de vida (MARIN, et al, 2015). As
políticas públicas de saúde voltadas para o envelhecimento com dependência e ao
cuidador familiar são frágeis e insuficientes, tornando o sistema público ineficaz no
exercício de suas funções com resolutividade e plenitude (DOS SANTOS, 2013).

Considerando a realidade demográfica é importante ter atenção às


necessidades dos que envelhecem em um país com políticas sociais frágeis sem
garantia de acesso à previdência social, saúde, segurança e habitação. No Brasil a
constituinte no artigo 230, Parágrafo 1º, aponta que “os programas de amparo aos
idosos serão executados preferencialmente em seus lares”, ou seja, pela família.
Contudo, as famílias, por sua vez, estão reduzidas e com dificuldades de amparar
seus idosos (ALVAREZ, et al, 2018).

Cuidar do idoso em domicílio é uma tarefa árdua, uma vez que o cuidado,
geralmente, é destinado a uma pessoa que não desempenha apenas essa atividade,
e acaba conciliando-a com outras tarefas. Dessa forma, o indivíduo fica susceptível a
negligência, maus-tratos e demais ações que o impedem de almejar uma qualidade
de vida ao envelhecer. Ter qualidade de vida significa envelhecer de modo ativo e

independente, preservando a capacidade funcional do organismo, contudo a essa


condição depende de uma série de fatores sejam eles: pessoais, sociais e ambientais
ao longo da vida que juntos e combinados poderão ser determinantes para um
envelhecimento saudável ou não (ALVAREZ, et al, 2018).
Acredita-se que autonomia, participação, cuidado, autossatisfação,
possibilidade de atuar em variados contextos sociais e elaboração de novos
significados para a vida na idade avançada são conceitos-chave para qualquer
política destinada aos idosos. Além disso, não cabe pontualmente a um único
segmento da sociedade a responsabilidade pelo cuidado para com as pessoas
idosas e, acima de tudo, é preciso preparo e respaldo para a função de cuidador do
idoso, tanto por parte dos familiares como dos profissionais de saúde (MARIN, et al,
2015).

Através da análise do contexto social, econômico e de saúde da população


idosa e sua realidade no Brasil, podemos observar o impacto que a falta de políticas
sociais efetivas geram no idoso. No contexto acadêmico, em contato com indivíduos
idosos em hospitais e postos de saúde, percebe-se que as pessoas não se preparam
para um envelhecimento saudável, seja por falta de assistência ou até mesmo falta de
informação. Através desse estudo pode-se aplicar o conhecimento adquirido no
atendimento dessa população. É preciso indagar o idoso se o mesmo busca qualidade
de vida para si, se pratica exercícios físicos, se possui uma alimentação balanceada,
se possui doenças crônico-degenerativas e se as trata corretamente. Para que a
pessoa possa solicitar subsídios do governo e atenção de sua família, ela deve ter
plena consciência das ações que promovam um envelhecimento saudável. A
mudança começa em si, e para haver mudança precisa-se de informação.

A população tem dificuldade em distinguir senescência de senilidade, até


mesmo o idoso acaba se contentando com sua “velhice” e não busca melhorias de
vida. É fato que o país carece de políticas de saúde efetivas, entretanto, elas não
podem ser apoiadas somente em prevenção secundária, não é apenas tratar, mas sim
prevenir, informar, propagar informações para a população. A mudança é colocada
em três pilares, na própria pessoa, já que se ela não alterar suas ações, nem mesmo
o melhor atendimento de saúde trará benefícios a longo prazo. Na família, o lar familiar
precisa ser adequado para o idoso e proporcionar acolhimento e, por fim, no governo,
que precisa não só colocar em vigor políticas sociais de saúde, mas criar campanhas
informativas destinadas a população idosa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil tem um elevado percentual de idosos, que crescerá ainda mais nos
próximos anos, demandando serviços especializados e direcionados às
peculiaridades advindas com o processo do envelhecimento. Sendo assim, faz-se
necessário o planejamento e efetivação de políticas públicas sociais voltadas à essa
população. Estas políticas precisam de intervenções integradas, que assegurem o
cuidado a doenças crônicas e promovam um envelhecimento ativo. Diante do exposto,
acredita-se que a sociedade deve estar preparada para uma assistência aos idosos,
cabe ao Estado prover políticas específicas, financiar estruturas de apoio e monitorar
seu funcionamento. As famílias precisam de um apoio, a fim garantir que o processo
de envelhecimento de um ente no lar seja de modo ativo e independente, preservando
a capacidade funcional. Aos profissionais de saúde cabem treinamento e
aperfeiçoamento no tratamento de idosos. E, por fim o Governo precisa assegurar esta
atenção integral, garantindo então, uma qualidade de vida a essa população.

REFERÊNCIAS
DOS SANTOS, J. CONCEÇÕES DE CIDADANIA NA IDADE DOS CABELOS
GRISALHOS: ENVELHECIMENTO ATIVO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL DAS
PESSOAS IDOSOSAS. Portugal, 2016.
Fundo de População das Nações Unidas. Envelhecimento no Século XXI:
Celebração e Desafio. Nova York, 2012. Disponível em:
https://www.unfpa.org/sites/default/files/pub-pdf/Portuguese-Exec-Summary_0.pdf.
Acesso em: 05 de julho. 2018.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mudanças demográficas no Brasil no
início do século XXI: subsídios para as projeções da população. Rio de Janeiro:
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, IBGE, 2015.
MIRANDA, G.M.D, et al., O envelhecimento populacional brasileiro: desafios e
consequências sociais atuais e futuras. Rev. bras. geriatr. gerontol. vol.19 n.3 Rio de
Janeiro, 2016.
MARIN, M.J.S, et al., ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO E AS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE SAÚDE. Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília,
v.1, n.1, p.26-34, jul./dez. 2015. Disponivel em:
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/RIPPMAR/article/view/5641/3865.
Acesso em: 05 de julho. 2018.

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