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• A retórica em torno desta questão e a dificuldade em atingir políticas públicas articuladas (Graça
Carapinheiro e Tiago Correia, 2015)
O papel das ciências sociais neste contexto
• Margareth Whitehead (2006), interessada nestas questões da esperança média de
vida concluiu que há uma diferença que pode variar em 10 anos entre bairros de
Glasgow; 13 anos em função dos níveis de instrução na Estónia; e 9 em função das
ocupações desempenhadas em França.
• As diferenças no comportamento de muitos dos indicadores de saúde e doença não
são arbitrárias, nem a sua essência é individual. Decorrem de dinâmicas estruturais de
desigualdades, que são complexas, e assentes no modo de organização social, política
e económica em que as sociedades se baseiam. Todos estes elementos devem estar
refletidos nas políticas públicas.
• A sociologia “não se opõe” aos fatores individuais (opções, estilos de vida, genética),
mas não pode ignorar os motivos de ordem social e sua complexa teia de relações
neste contexto.
As Desigualdades da Saúde em Portugal
• Decreto-lei 413/71, Portugal reconhece o direito à saúde a todos os cidadãos,
assumindo o Estado um papel ativo na formulação de políticas de saúde.
• A Lei n.º 56/79, de 15 de setembro, cria o Serviço Nacional de Saúde, no âmbito
do Ministério dos Assuntos Sociais, enquanto instrumento do Estado para
assegurar o direito à proteção da saúde, nos termos da Constituição
• SNS é orientado pelo princípio da cobertura universal, geral e tendencialmente
gratuita:
i) direção unificada do SNS e gestão descentralizada e participada
ii) Gratuitidade
iii) Caráter supletivo do setor privado
• A tendência ao longo dos anos tem sido, no entanto, tem sido a redução dos
gastos públicos com saúde (despesa hospitalar e na área do medicamento) e
convenções com o setor privado
• Desde 1975 que existe um compromisso político com a saúde, o qual,
aliado ao crescimentro económico e às melhores condições de vida
traduziram-se na melhoria da saúde da população portuguesa
• Existem problemas de saúde específicos, reveladores de desigualdades
• PNS 2012-2016 – estabelece nove programas nacionais de saúde
1) diabetes, 2) VIH/SIDA, 3) prevenção e controlo do trabagismo, 4)
promoção da alimentação saudável, 5) saúde mental, 6) doenças
oncológicas, 7) doenças respiratórias, 8) doenças cérebro-cardiovasculares,
9) controlo de infeções e resistência aos antimicrobianos
Mortalidade infantil
• OMS considera Portugal um dos países mais bem-sucedidos na redução da
mortalidade infantil
• Desenvolvimento da rede de cuidados de saúde primários e hospitalares
especializados
• Crescimento do PIB per capita
• Melhores condições de vida da população
• Medidas dirigidas a determinates de saúde: maternidade tardia,
tratamento da infertilidade e prevenção do tabagismo
• Aumento da taxa de mortalidade em 2012 (aumento da idade materna)
• Desigualdades regionais relevantes
Diabetes
• 12,4% da população entre 20 e 79 anos tem diabetes
• Doença associada às condições de vida (alimentação, falta de
exercício físico)
• Desigualdade relacionada com a qualidade e organização dos
cuidados prestados (acompanhamento e vigilância deficitária)
• Falta de adesão dos doentes à terapêutica (sem rendimento
disponível para a compra da medicação)
• Importância da autogestão de cuidados nesta doença – degradação
das condições de vida dos cidadãos
VIH/SIDA
• O programa de recebe mais financiamneto
• Diminuição de novos casos e da taxa de mortalidade (em 197 casos
de recém-nascidos, dois casos de transmissão mãe-filho em 2016)
• Taxas de incidência elevadas na Europa
• 75% de casos concentados em Lisboa, Setúbal, Porto e Faro
• Aumento do VIH/SIDA entre população migrante e com mais 50 anos
(acesso condicionado aos serviços de saúde)
Prevenção e Controlo do tabagismo
• Primeira causa prematura de doença e morte evitável
• Aumento do tabagismo entre jovens escolarizados
• População inquirida não manifesta vontade de alterar este hábito
• Diminuição das consultas antitabágicas
• Grandes assimetrias no acesso a cuidados de saúde a nível nacional
Alimentação saudável
• Má qualidade alimentar: ingestão execessiva de gordura animal, sal,
baixo consumo de fruta e hortaliça, ausência de atividade física
• Perda prematura de anos de vida saudáveis (12 anos para as mulheres
e 15,3 anos para os homens)
• Aumento da obesidadee sua associação com características
socioeconómicas (grupos populacionais socialmente mais vulneráveis)
• Incapacidade (sobretudo financeira) para aceder a certos alimentos
• Aumento de ingestão de alimentos calóricos, mais baratos e sua
relação com aumento da obesidade
Saúde Mental
• Doença sem grande expressão na mortalidade, mas com grande
impacto na capacidade produtiva
• Elevado consumo de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos
• Saúde mental relacionada com desigualdades sociais e que exige uma
articulação com outros setores de atuação do Estado, como
educação, trabalho e segurança social
Doenças oncológicas
• Aumento de 12,6% de novos casos em Portugal
• Mais doença, menos cirurgias
• Desigualdades regionais
Doenças Cérebro-Cardiovasculares
• Principal causa de mortalidade em PT
• Diminuição da mortalidade relacionada com estratégias organizativas de prestação de
cuidados “via verde do acidente vascular cerebral” (2006), apesar das assimetrias
regionais
• Influência da educação e literacia em saúde (identificar sinais de alarme)
Notas conclusivas
• Desde a criação do SNS que se registam ganhos significativos em saúde
• Desafios: envelhecimento da população, redução da natalidade, aumento
de doenças crónicas, sustentabilidade do SNS
• Sobrecarga dos serviços públicos de saúde e redução dos recursos
humanos, materiais e financeiros
• Maior relevância do setor privado
• Necessidade de uma intervenção transversal e intersetorial em saúde
• Grupos socialmente mais desfavorecidos mais vulneráveis a certas
patologias
• Reforço no investimento analítico dos determinantes sociais e seu impacto
na saúde
Referências consultadas (além do texto
obrigatório):
• Carapinheiro, Graça; Correia, Tiago (coord) (2015),Novos temas da saúde,
novas questões sociais. Lisboa: Mundos Sociais.
• Correia, Tiago, Carapinheiro, Graça; Raposo, Hélder (2018), Desigualdades
sociais na saúde. Um olhar comparative compreensivo. Lisboa: Mundos
Sociais.
• Machado, Maria do Céu et al (2007), Iguais ou diferentes?” Cuidados de
saúde materno-infantil a uma população de imigrantes. Porto: Laboratórios
Bial. https://repositorio.hff.min-
saude.pt/bitstream/10400.10/2282/1/PremioBial.pdf
• Marmot, Michael et al. (2008), “Close the gap in a generation: Health
Equity through action on the social determinant of health”, Lancet, 371,
1611-1669.
Sugestão de recursos que podem/devem
consultar:
• Relatório ILGA Portugal: “SAÚDE EM IGUALDADE. Pelo acesso a cuidados
de saúde adequados e competentes para pessoas lésbicas, gays, bissexuais
e trans”, disponível em https://ilga-
portugal.pt/ficheiros/pdfs/igualdadenasaude.pdf