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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia

ADRIANA GOMES DOS SANTOS SILVA RA: F18BHE4


ALISON NASCIMENTO LUNA RA: D748FF7
ANA MARIA SILVA OLIVEIRA DOS SANTOS RA: F224IA6
ANGEL RODRIGUES SANTANA RA: F12IEG0
IVANILDE ZOIA RA: T256BI3
NATHAN HENRIQUE LEITE DA LUZ RA: F3165G8
SARAH MATOS AQUINO RA: N590173
SIMONE JOSÉ DE ALMEIDA RA: T2697I8

PRÁTICAS SOCIAIS E SUBJETIVIDADE

Identificar comportamentos de interação de pessoas com animais domésticos


em locais públicos.

Campus Chácara II

São Paulo – 2022


UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA
Instituto de Ciências Humanas
Curso de Psicologia

ADRIANA GOMES DOS SANTOS SILVA RA: F18BHE4


ALISON NASCIMENTO LUNA RA: D748FF7
ANA MARIA SILVA OLIVEIRA DOS SANTOS RA: F224IA6
ANGEL RODRIGUES SANTANA RA: F12IEG0
IVANILDE ZOIA RA: T256BI3
NATHAN HENRIQUE LEITE DA LUZ RA: F3165G8
SARAH MATOS AQUINO RA: N590173
SIMONE JOSÉ DE ALMEIDA RA: T2697I8

PRÁTICAS SOCIAIS E SUBJETIVIDADE

Identificar comportamentos de interação de pessoas com animais domésticos


em locais públicos

Relatório Final apresentado à


disciplina de Práticas Sociais e
Subjetividade do Curso de Psicologia
da Universidade Paulista - UNIP, sob
orientação da Prof.ª Me. Claudia
Tavares dos Santos.

Campus Chácara II
São Paulo – 2022
SUMÁRIO

1.
INTRODUÇÃO........................................................................................................04
2.
PROCEDIMENTO ..................................................................................................07
3.
DISCUSSÃO...........................................................................................................10
4. CONCLUSÃO.........................................................................................................15
5. BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................17
6. ANEXOS.................................................................................................................19
4

1. INTRODUÇÃO

Dentro do contexto da matéria Práticas Sociais e Subjetividades o grupo


escolheu trabalhar com o tema “Identificar comportamentos de interação de pessoas
com animais domésticos em locais públicos”, cujo foco consistia em observar o
comportamento de pessoas e a maneira como elas se relacionavam com os animais
de estimação em diferentes situações e locais.
Observou-se, dessa maneira, indivíduos do sexo masculino e feminino, de
idade variada, em momento de interação principalmente com cachorros, devido a
facilidade de circulação com esse tipo de animal doméstico, e também se observou
as interações entre pessoas facilitadas pelos animais.
Ao realizar uma análise geral dos relatos de observação, foi possível destacar
que a maior parte das observações foram realizadas aos domingos, com 25
observações, seguido de sábado com 19 e segunda-feira com 10.
O tempo médio de realização de observação foi de 1h44 min. Mas esta média
é variável dependendo do local de observação, variando para mais ou menos de
acordo com o cenário no qual ocorreu o processo. É possível também perceber que
o tempo de observação variava conforme o clima do dia, em dias ensolarados era
possível estender o tempo de observação, uma vez que as pessoas aproveitam o
sol para passear com os animais, enquanto que em dias chuvosos a observação era
mais reduzida ou se concentrava em espaços fechados como shopping, comércio ou
clínicas veterinárias.
Quanto aos locais de observação a maior parte delas ocorreu em parques,
justamente pela facilidade de se encontrar animais de estimação. Os parques
concentraram 32 observações, seguido de 24 observações realizadas em vias
públicas, onde também temos facilidade de encontrar animais de estimação e 5 em
comércio como lojas de animais.
Dentre os comportamentos observados podemos destacar a demonstração
de afeto entre tutores e seus animais de estimação, com 28% dos comportamentos,
seguido de socialização entre as pessoas, facilitadas pelo animal de estimação, com
20% e demonstração de cuidados com o animal de estimação, com 17%. Para se
distinguir o comportamento de demonstração de afeto do comportamento de
demonstração de cuidados, consideramos afeto todo o carinho, afago, abraços e
5

beijos entre tutor e seu animal de estimação e cuidados todo comportamento de dar
comida, água, proteger do sol ou da chuva.
Outros comportamentos observados, em menor percentual, foram vestir o
animal, brincar, praticar esporte, conversar com o animal e tirar selfie. Houve
também poucas observações de maus-tratos, com 3 relatos encontrados. Sabemos
que existem maus-tratos contra animais e talvez se as observações se
concentrassem em locais privados ou periféricos poderíamos encontrar um número
maior.
Os comportamentos mais observados vão de encontro com pesquisa
realizada pela Radar Pet 2021, que aponta que tutores de cachorros tendem a
perceber os animais como filho, com um crescimento de 7% em relação a 2019. Já
os que percebem os cachorros como membro da família cresceram 3% também em
relação de 2019. E a percepção que está em queda é justamente a de ver o
cachorro somente como um bicho de estimação, caindo 16% em relação a 2019.
É possível relacionar o crescimento da indústria pet com essa percepção
crescente de ver o animal como um filho ou membro da família. De acordo com
dados da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de
Estimação) a indústria Pet foi uma das indústrias que não sofreu durante a
pandemia, pelo contrário, ela teve um crescimento de 13,5% no ano de 2020 e um
faturamento de 35,8 bilhões de reais em 2021. Ao considerar os animais como
família, o consumo de produtos para eles também cresce, não só em quantidade,
mas também na qualidade deste produto.
Ainda de acordo com a Abinpet, o crescimento foi de 33% em pet food
(alimentos), 14% em pet care (produtos de cuidado e higiene) e 11% em pet vet
(remédios e clínicas veterinárias).
Outro dado importante de destacar, extraído da pesquisa da Radar Pet de
2021, aponta que o perfil de pessoas que adquiriu um pet se divide entre uma
pessoa que mora sozinha ou um casal sem filho. Podemos relacionar este dado com
os dados do IBGE de 2019, que aponta que a cada 100 famílias, 44 possuem animal
de estimação contra 36 que possuem crianças de até 12 anos. Ou seja, já temos
mais famílias com animais de estimação do que com crianças, reforçando ainda
mais a percepção dos animais serem vistos como filhos ou membros da família.
A nossa conexão com os animais percorre toda a história humana, desde a
pré-história cães ajudam na caça e os gatos afastam os ratos. Se antes eram
6

convidados aos campos, quando a população se tornou urbana os animais


passaram a conviver dentro de casa. Essa convivência foi se estreitando aos longos
dos anos, talvez atingindo seu ápice justamente durante a pandemia, período que
ficamos confinados dentro de casa, muitas vezes tendo somente o animal de
estimação como companhia.
Soma-se a isso o fato de nos sentirmos tão solitários, de acordo com o
levantamento Perceptions of the impacto f Covid-19 (Percepções do impacto do
Covid 19) realizado pela Ipsos com pessoas de 28 países, os brasileiros são os que
mais se sentem só.
Dessa maneira a companhia de um animal de estimação pode reduzir a
sensação de solidão e também facilitar a interação com outras pessoas, algo que
conseguimos observar durante a realização deste trabalho, além da própria
construção de um relacionamento de afeto, confiança e amor.
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2. PROCEDIMENTO

O objetivo é fazer uma análise dos relatórios de observação da disciplina


Práticas Sociais e Subjetividade de estudantes do 6º semestre de psicologia da
Universidade Paulista - UNIP, Campus Chácara II. Dessa maneira foram realizadas
atividades de observação, que deveriam ser feitas sem intervenção do observador,
para buscar um cenário isento da participação do relator. Após a observação, era
necessário escrever e enumerar algumas considerações, percepções e possíveis
análises e relacionar a uma teoria que melhor se ajuste com a temática proposta
pelo grupo.
Desse modo, o objetivo da atividade seria de realizar 20 horas de observação
que seriam divididas da seguinte maneira:
● 20 horas destinadas objetivamente a prática observacional
● 5 horas destinadas a registro de observação
● 5 horas para apresentação do seminário
● 5 horas para levantamento bibliográfico
● 5 horas para planejamento do relatório final.

Das 20 horas de prática observacional, 05 foram destinadas à análise e


discussão textual de conteúdos relacionados ao tema proposto pela disciplina. Estes
materiais propiciaram reflexão sobre a atividade de observação:
 O texto “A subjetividade como objeto da (s) Psicologia ”, de PRADO FILHO,
K.; MARTINS, S.

Para a realização das observações foram considerados os seguintes critérios


de exclusão:

● Não poderiam estar relacionados a um ambiente na qual o observador


possui interferência, interage ou compartilha influências.
● Não ultrapassar a 2 horas de observações/dia
● O observador deve manter-se como elemento de estímulo neutro no
ambiente, sem interagir com aqueles que são observados.
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● Não poderia ser realizada captação de imagens ou registros das


observações durante o período de observação.

Os integrantes deveriam realizar as observações em ambientes distintos, com


os cuidados e discrições necessárias, garantindo dessa forma que esta atividade
fosse registrada com êxito e que não fossem perdidas as informações e
comportamentos observados.
Nas observações, os participantes deveriam estar atentos para descrever
características do ambiente, como o local, as pessoas observadas, especificamente
os tutores dos animais e as interações com outros indivíduos, percepções e detalhes
que demonstrasse um diferencial nos cuidados com os animais, que poderiam
provocar percepções e possíveis análises, como: falas, objetos, comportamentos
não verbais, roupas e acessórios e etc.
Após a realização de cada registro de observação, era preenchido também
uma folha de controle de atividade vide anexo 01. Foi realizada uma entrega parcial
de resultados no dia 28 de setembro de 2022, com 10 horas de atividades de cada
integrante do grupo, totalizando em 80 horas de atividades observacionais. As
últimas 10 horas de observação foram entregues no dia 26 de outubro de 2022.
Os relatórios foram tabulados em uma tabela de Excel (anexo), quanto ao
local, grupo de local de observação, data de coleta, hora de início, hora de término,
dia da semana, duração, categoria e principais comportamentos observados. Foram
elaboradas 6 categorias no que tange às características de local de observação.
Após esta elaboração, foi realizado um levantamento estatístico, evidenciando-se as
três maiores categorias de observação: 1. Lazer, 2 Via Pública e 3. Comércio.
Também se destacou os comportamentos mais evidenciados e buscaram-se textos
jornalísticos, mais recentes, relacionados aos temas, como o embasamento teórico,
a qual foi utilizada a teoria do apego de John Bowlby. Para a construção do
PowerPoint, cada integrante colocou as informações e reflexões que vieram a partir
da observação e da busca midiática, relacionando com a teoria escolhida e esta
experiência foi incrível e muito enriquecedora, trazendo uma visão ampla sobre o
tema, a qual foi fundamental para a composição do trabalho.
O tempo médio de observação foi de 1h44 e a análise geral dos relatos
demonstrou que a maior parte das observações foram realizadas aos domingos,
9

com 25 observações, seguido de sábado com 19 e segunda-feira com 10. O local de


observação e as datas da semana variaram.
As categorias observadas foram: lazer (parques, praças e clubes); via
pública (ruas, ciclovia), comércio (lojas específicas); transporte (metrô e ônibus),
saúde (hospitais, clínicas) e alimentação (restaurantes, bares). O maior destaque
recaiu para a categoria de lazer, via pública e comércio; em relação às categorias
lazer e via pública, o comportamento mais observado foi de demonstração de afeto,
socialização entre as pessoas e cuidado com o animal. Foram observados, portanto,
183 comportamentos dos quais 28% foram de demonstração de afeto; 20%
socialização entre as pessoas, 17% demonstração de cuidados, 11% vestir o animal,
9% brincar com o animal, 7% prática de esporte, 4% conversar com o animal, 3%
maus-tratos e 1% selfie.
O levantamento final propiciou uma análise geral sobre os dados para a
construção da introdução, das observações gerais e do procedimento, reiterando e
refletindo sobre o que foi observado e as relações inerentes à experiência de
observador, como a relação com os animais podem trazer benefícios para os seus
tutores, mudanças de comportamentos e os reflexos no crescimento do mercado e
economia e os avanços na legislação.
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3. DISCUSSÃO

A partir das observações registramos diversos comportamentos entre os


donos e seus animais de estimações. Os três comportamentos mais observados
foram os de demonstração de afeto (carinho, afago, abraços e beijos entre tutor e
seu animal de estimação), socialização entre as pessoas (interação entre pessoas
através do animal de estimação) e cuidados com o animal de estimação
(comportamento de dar comida, água, proteger do sol ou da chuva).
Era evidente o vínculo formado pelo dono e seus animais de estimação e
abaixo destacamos alguns destes comportamentos que foram observados:

O cachorro estava com uma focinheira e parecia respirar com dificuldade.


Eles se aproximaram do carrinho onde eu comprei minha água e pediram
água para eles. A mulher tirou uma tigela da mochila, encheu com a água
de coco, retirou a focinheira e ofereceu a água para o cachorro, que bebeu
rapidamente. (Simone Almeida, 03/09/2022)
O outro balançando a cabeça disse: “o meu filho cismou que precisamos
comprar um presente de aniversário para a nossa gata e ainda pediu um
bolinho e velas para cantar parabéns”. (Adriana Silva, 10/09/2022)
As pessoas que por ali passavam, paravam ao lado desta senhora para
realizar perguntas relativas ao animal de estimação, demonstrando muito
interesse nas respostas da mesma. Após ela ser parada e questionada por
cerca de quatro pessoas no local, um veículo em sua direção foi reduzindo a
velocidade e parando de se movimentar enquanto se aproximava. Dentro do
veículo, estava um homem. O mesmo, realizava perguntas para ela
enquanto apontava para o gato, que ali se mantinha sentado, não
demonstrando medo do que pudesse estar ocorrendo. Ambos conversavam
enquanto olhavam para o gato, que permaneceu no mesmo local durante
este período de diálogo. (Angel Santana, 10/10/2022)

Embora ainda não exista uma teoria voltada exclusivamente para o vínculo
entre humanos e seus animais de estimação, a Teoria do Apego de John Bowlby
tem sido a mais utilizada para explicar essa relação.
Essa teoria começou a ser elaborada na metade do século XX e tem como
fundamento que todos os seres vivos, humanos e animais, possuem uma inclinação
natural para construir vínculos afetivos. Teoria essa que era contra a ideia vigente da
época, de que os laços formados pela mãe e o bebê eram mantidos apenas pela
necessidade de alimentação:
11

Naquele tempo, era largamente aceito que a razão pela qual a criança
desenvolve um forte laço com sua mãe é o fato de que esta a alimenta. Dois
tipos de impulso são postulados, primário e secundário. O alimento é tido
como primário; a relação pessoal, referida como “dependência”, como
secundário. Essa teoria não me parecia se adaptar aos fatos. Por exemplo,
se isso fosse verdade, uma criança de um ano ou dois deveria prontamente
aceitar quem quer que a alimentasse e isso, claramente, não era o caso.
Uma teoria alternativa, da escola húngura de psicanálise, postulava uma
relação objetal primitiva desde o início. Em sua versão mais conhecida,
aquela defendida por Melaine Klein, o seio materno é postulado como o
primeiro objeto e a maior ênfase é dada ao alimento, à oralidade e à
natureza infantil de “dependência”. Nenhum desses dados coincidiam com
minha experiência com crianças (BOWLBY, 1989, p. 37)
Para Bowlby o vínculo não estaria ligado a necessidade de alimentação do
bebê ou à pessoa que o alimenta, mas sim à pessoa que cuida dele, que demonstra
comportamentos de afeto com este bebê. Seus estudos foram fundamentados na
psicologia do desenvolvimento, psicanálise, na biologia e na etologia e
profundamente relacionados com as consequências da Segunda Guerra Mundial.
Uma vez que nascemos com essa inclinação natural para construir vínculos
afetivos, sem um adulto com o qual a criança possa construir esse vínculo, o
desenvolvimento dela será prejudicado, já que ela será incapaz de experimentar
uma base segura e, dessa maneira, se sentir amada e protegida:

[...] a forte propensão de uma criança a se apegar à mãe e ao pai, ou a


quem quer que esteja cuidando dela, pode ser compreendida como tendo a
função de reduzir o risco de que algo de mau lhe aconteça. A melhor
política, em termos de segurança, é estarmos próximos ou em fácil
comunicação com alguém que possa nos proteger (BOWLBY, 1989, p. 85).
O apego então se torna essencial para a sobrevivência do ser humano, uma
vez que o bebê é completamente dependente da mãe e esse vínculo começa a se
formar desde o período gestacional, se prolongando por toda a vida:

A teoria do apego considera a propensão para estabelecer laços emocionais


íntimos com indivíduos especiais como sendo um comportamento básico da
natureza humana, já presente no neonato em forma germinal e que continua
na vida adulta e na velhice. Durante a primeira infância, os laços são
estabelecidos com os pais (ou pais substitutos), que são procurados para
proteção, conforto e suporte. Durante a adolescência saudável e a vida
adulta esses laços persistem, sendo, no entanto, complementados por
novos laços, comumente de natureza heterossexual. Embora alimento e
sexo tenham, às vezes, papéis importantes nas relações de apego, a
relação de apego existe por si só e tem função primordial de sobrevivência –
proteção (BOWLBY, 1989, p. 118).
Na citação acima podemos notar que o apego não acontece exclusivamente
na primeira infância, mas sim que prevalece por toda a vida, conforme novos laços
vão se formando.
12

Para Bowlby (2002) o desenvolvimento do apego está dividido em fases,


embora não exista separação clara entre elas:
 Fase 1: orientação e sinais com discriminação limitada da figura;
 Fase 2: orientação e sinais dirigidos para uma figura discriminada (ou
mais de uma);
 Fase 3: manutenção da proximidade com uma figura discriminada por
meio de locomoção ou de sinais:
 Fase 4: formação de uma parceria corrigida para a meta.
Durante essas fases a criança vai ter na mãe, ou em quem lhe presta
cuidados, a figura de apego, que vai proporcionar para a criança o atendimento das
suas necessidades emocionais e físicas. Segundo Bowlby (2002), o comportamento
de apego refere-se a qualquer comportamento utilizado por um indivíduo para
manter proximidade com outro.
Alguns exemplos do que pode se considerar comportamentos de apego,
segundo Bowlby (1969): chamar, fazer contato visual, sorrir, agarrar-se ao outro e
buscar aconchego.
A ausência de uma figura de apego, de uma base segura, prejudica o
desenvolvimento da criança, uma vez que ela não encontra um espaço seguro para
poder plenamente se desenvolver:

[...] o que se acredita ser essencial à saúde mental é que o bebê e a criança
pequena tenham a vivência de uma relação calorosa, íntima e contínua com
a mãe (ou mãe substituta permanente – uma pessoa que desempenha,
regular e constantemente, o papel de mãe para eles), na qual ambos
encontrem satisfação e prazer. É esta relação complexa, rica e
compensadora com a mãe, nos primeiros anos, enriquecida de inúmeras
maneiras pelas relações com o pai e com os irmãos, que os psiquiatras
infantis e muitos outros julgam, atualmente, estar na base do
desenvolvimento da personalidade e saúde mental (BOWLBY, 2020, p.3-4).
A capacidade de desenvolver laços emocionais com outras pessoas,
segundo Bowlby (1989), é fundamental para o pleno funcionamento da saúde mental
e da personalidade e por isso as figuras de apego são importantes não só na
infância mas em todas as fases do ser humano.
Fica claro, através dessa breve explicação sobre a Teoria do Apego, que ela
é essencial para compreender o papel dos relacionamentos e porque ela é tão
utilizada para explicar o vínculo com os animais de estimação. De acordo com
Bowlby:
13

[...] não sentimos amor e nem pesar por um ser humano qualquer, mas
apenas por um ou alguns seres humanos em particular. O núcleo daquilo
que eu chamo de “vínculo afetivo” é a atração de que um indivíduo sente
por um outro indivíduo (BOWLBY, 2006, p.95-96, grifo do autor).
Seria possível então estender esse “vínculo afetivo” para os próprios animais
de estimação, com os quais, através das nossas observações, conseguimos
registrar comportamentos de apego:

Ela, sentada num banco, conversava com o animal como se ele realmente
pudesse compreender de forma racional todo o diálogo, trocando assuntos
longos sobre respeito dos filhos e da vida. (Angel Santana, 09/10/2022)
No momento que cheguei havia um pequeno cachorro branco da raça spitz
alemão, ele havia acabado de tomar banho e a dona estava escolhendo
uma roupinha para ele. Acredito que era uma fêmea, visto que a roupa
escolhida foi um vestido azul com corações. A dona, uma mulher de
aparentemente 50 anos, estava eufórica com sua cachorra, chamando ela
de filha e princesa, dando beijos e tirando fotos. (Simone Almeida,
04/09/2022).
Fica evidente nos registros de observação os mesmos comportamentos de
apego encontrados por Bowlby, é possível verificar a preocupação dos donos com
seus animais de estimação, a busca por proximidade e principalmente o cuidado,
que é um comportamento complementar ao comportamento de apego pois, segundo
Bowlby (1989) só há vínculo com aquele que oferece algum tipo de cuidado.
Os animais de estimações proporcionam sentimento de bem-estar, de
companhia, de leveza, de distração em relação aos problemas, além da troca de
carinho existente com seu dono, que vai fortalecendo essa relação conforme os
anos. Além disso, contribuem também para a relação com outras pessoas,
fornecendo uma base segura para que os donos explorem essas relações.
Pode ser que, justamente por serem uma fonte constante de afeto, que essa
relação tenha alcançado novos patamares, com os animais de estimação cada vez
mais se tornando membros da família e sendo vistos como “filhos”.
O animal de estimação vai perdendo então suas funções originais (cão de
guarda, de caça, de ajuda no campo, de transporte), e adquire este novo lugar, hoje,
nas famílias, promovendo um estreitamento de laços afetivos com o homem.
Relacionando com a teoria de outro autor que iria dar sentido ao alerta para
a crescente fragilização das relações sociais e afetivas em nosso mundo moderno,
Zygmunt Bauman (2001), nos traz o momento de vida da sociedade atual, onde
encontramos a fragilidade dos relacionamentos em tempos de rápidas mudanças e
14

adaptações, as relações que escorrem, os amores frágeis que não se sustentam,


descartáveis, conduzindo o ser por um sistema que o desconecta da socialização e
da aproximação com o outro, levando-o a fazer substituições afetivas.
Em suas reflexões, o autor propõe que o homem nasce em comunidade e a
alteridade é necessária para a construção de sua identidade, porém, com a chegada
das redes, a conexão corpo a corpo parece se perder, dando lugar à facilidade de
conexão e desconexão, juntamente com a carência de socialização nos laços
humanos.
Em uma sociedade individualista, onde as trocas afetivas tornaram-se
distantes e superficiais, a idealização do animal de estimação como o companheiro
perfeito supre a ausência da figura do outro, o cão assume o papel de um ente
querido dado o sentimento do homem relacionado à atenção, ao afeto e à admiração
em tempo integral – sem aparentemente exigir muito em troca. Supre seus prazeres
e se torna por vezes recurso para sua sobrevivência.
15

4. CONCLUSÃO

Através das nossas observações foi possível perceber a conexão entre os


tutores e seus animais de estimação. Diversos comportamentos de apego puderam
ser registrados, assim como tivemos a oportunidade de observar os sentimentos
positivos existentes nessa relação.
Seria possível desenhar uma linha do tempo mostrando a evolução da
relação dos homens com os animais, desde o início da pré-história, com os animais
sendo utilizados para caça e proteção, até a evolução para o campo, com os
animais auxiliando nas plantações e ainda na proteção, até a mudança para as
áreas urbanas, onde eles efetivamente se encontram dentro dos lares, estreitando
cada vez mais esses laços.
Atualmente os animais de estimação tem sido cada vez mais tratados como
membros da família, como filhos, e o próprio crescimento da indústria pet, assim
como o aumento registrado pelo IBGE de domicílios com cachorros e gatos,
comprova que estamos diante de um novo conceito de família, a família multiespécie
(conceito que se refere a afetividade inerente na relação humano-animal).
A própria legislação mudou para acompanhar essa nova relação, desde
2019 os animais não podem mais serem considerados como coisas, mas sim como
seres sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e emocional e passíveis de
sofrimento. Com essa mudança os animais ganham mais uma defesa jurídica contra
possíveis maus tratos.
Além disso, a ciência vem realizando diversas pesquisas para demonstrar os
benefícios da companhia de um animal de estimação, reforçando ainda mais os
aspectos positivos dessa relação.
Ao relacionarmos nossas observações e o relacionamento entre humanos e
animais, com as práticas possíveis dentro da psicologia, encontramos diversas
possibilidades, como a Terapia Assistida por Animais, a Cinoterapia, a Educação
Assistida por Animais, entre outros. Foi extremamente prazeroso compreender como
os animais podem ajudar na nossa profissão.
16

Uma prática social possível e que consideramos que poderia ser muito
efetiva seria a de incluir animais de estimação no convívio com os idosos.
De acordo com a Psicologia do Desenvolvimento e Ciclo Vital, a fase da vida
adulta tardia (dos sessenta e cinco anos adiante), é a fase com maior declínio da
saúde e das capacidades físicas, com deterioração da inteligência e da memória e
muitas vezes vem acompanhada da solidão. É uma fase onde se tem um contato
maior com a perda, de amigos que já se foram, de familiares que vão se afastando,
da própria autonomia de gerenciar sua vida. Por isso mesmo é também uma fase de
maior busca por significado para a sua vida.
Desta maneira, entendemos que incluir no dia a dia desse idoso o cuidado
com um animal de estimação poderia suprimir o sentimento de solidão, através da
companhia deste animal, além de outros sentimentos positivos que surgiriam através
do vínculo a ser formados por eles. A necessidade de cuidar daquele animal, de
alimentar, de conversar, de dar colo e aconchego, poderia aumentar a percepção de
autonomia, de responsabilidade e com isso trazer um novo significado para a vida
daquele idoso.
Essa prática poderia se dar tanto nas próprias instituições que cuidam
exclusivamente de idosos, quanto em lares familiares onde o idoso mora sozinho ou
permanece sozinho na maior parte do tempo.
Existem centenas de animais abandonados que, uma vez cuidados e
prontos para serem adotados, poderiam auxiliar nessa fase tão carente de contato
com outras pessoas e melhorar ainda mais sua qualidade de vida.
17

● 5. BIBLIOGRAFIA

BAUMAN, Z. (2001) Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

BAUMAN, Z. (2021) Amor líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

BOWLBY, J. (1989) Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. Porto


Alegre: Artes Médicas.

BOWLBY, J. (1979/2001) Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo:


Martins Fontes.

BOWLBY, J. (1969/1990) Apego e perda: Apego - A natureza do vínculo. São Paulo:


Martins Fontes, vol. 1.

BOWLBY, J. (1967) Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: ltda.

GOMES, A. (2011) A teoria do apego no contexto da produção científica


contemporânea. São Paulo: Cultura Acadêmica.

OLIVEIRA, D. (2013) O luto pela morte do animal de estimação e o reconhecimento


da perda. São Paulo: Pontífica Universidade Católica de São Paulo.

VIEIRA, M. (2016) Quando morre o animal de estimação: um estudo sobre luto. São
Paulo: Pontífica Universidade Católica de São Paulo.

Informações da Indústria Pet. 2022. Disponível em: Dados de Mercado | Abinpet.

Pesquisa Radar Pet. 2021. Disponível em: Apresentação do PowerPoint


(sindan.org.br).

Quais países tem mais animais de estimação? Super Interessante 2022. Disponível
em: Quais países têm mais animais de estimação? | Super (abril.com.br)

Animais de estimação aliviam o estresse. Revista Veja. 2010. Disponível em: Animais
de estimação aliviam estresse, diz estudo | VEJA (abril.com.br)
18

A doutrina da família multiespécie e a identidade animal. Conjur. 2021. Disponível


em: ConJur - A doutrina da família multiespécie e a identidade animal

Ciência: donos de animais felizes e saudáveis. Meus animais. 2015. Disponível em:
Donos de animais: felizes e saudáveis (meusanimais.com.br)

Teoria do Apego: qual a sua importância. Instituto Geração Amanhã. 2018.


Disponível em: Teoria do Apego: qual sua importância - Instituto Geração Amanhã
(geracaoamanha.org.br)
19

ANEXO 01
20

ANEXO 02
21

ANEXO 3

Tempo Médio de Observação: 1:44

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