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ED ITO R IA L

CRIADOR
Osvaldo Ciasulli
DIRETOR EDITOR
Diogo Ciasulli
DIRETOR ADMINISTRATIVO
Diego Turri

COMEÇAMOS E
RECOMEÇAMOS!
EDITORA CHEFE
Sthefany Lara (MTb. 81.112)
sthefany@ciasullieditores.com.br
EDITORA WEB
Cláudia Guimarães (MTb. 81.558)
claudia@ciasullieditores.com.br

O
EDITOR DE ARTE
Daniel Guedes (MTb. 33.657) ano de 2023 chegou! Janeiro, geralmente, é aquele momento
daniel@ciasullieditores.com.br
DIAGRAMAÇÃO
em que repensamos muitas coisas, fazemos planos, pensamos
Rafael Leite no novo. É, também, para muitos, período de descanso para
rafael@ciasullieditores.com.br
EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS recompor as energias para mais 12 meses de trabalho.
Daniel Berker
dberker@ciasullieditores.com.br Tudo novo! Mas, olhando para o que ainda não chegou, não devemos
Luiz Carlos
luiz@ciasullieditores.com.br esquecer de voltar nossos olhares e pensar, também, em questões antigas,
ADMINISTRATIVO que sempre assombram a vida da clínica, como é o caso da leishmaniose,
Diego Turri
diego@ciasullieditores.com.br uma doença que, mesmo diante dos esforços dos médicos-veterinários,
GERENTE DE OPERAÇÕES
ESTRATÉGICAS tutores e indústria farmacêutica, ainda é uma realidade no nosso Brasil.
Tatiane Amor
tatiane@ciasullieditores.com.br Nossa reportagem de capa sobre o tema buscou ouvir autoridades
MARKETING sobre o assunto que fazem parte do Brasileish, um grupo de estudos sobre
Monique Leite
monique@ciasullieditores.com.br a doença em solo brasileiro.
Aproveite seus dias de descanso e se atualize lendo nossas páginas!
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
Ana Purchio, CRMV-SP, José Luiz Tejon,
Letícia Warde Luis, Luciana Domingues
de Oliveira, Monique Paludetti, Boa leitura e um feliz 2023!
Priscila Rizelo e Vanessa Zimbres

Administração, Redação e Publicidade


Rua Paulo Antônio do Nascimento, 145,
Edifício Planeta Office - 13º andar
Sorocaba/SP - 18047-400
+55 (15) 3500-7913
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CIRCULAÇÃO DIRIGIDA

A Revista Cães&Gatos (ISSN 0103-278X) é uma publicação


brasileira e mensal. Seu conteúdo editorial é focado na
profissionalização do mercado pet. Os artigos assinados
não expressam necessariamente a opinião dos editores.
Não é permitida a reprodução parcial ou total dessa
publicação, por qualquer meio, sem prévia autorização da
editora, sob as penas de Lei registrada no Regime Especial
DRT-1 nº 011391/90. Periodicidade: Mensal

Sthefany Lara
Editora
NO MIOLO

14
Fotos: banco de imagens e C&G VF
UMA
QUESTÃO
SOCIAL
E DE SAÚDE
Quais políticas públicas
voltadas a cães e gatos
faltam no Brasil?

| PETBUSINESS | OUTROS AUTORES


08 › COM O PÉ DIREITO! 38 › A REALIDADE
Petvi estreia no varejo pet DO ABANDONO
09 › CONQUISTANDO Festa para alguns,
A AMÉRICA LATINA castigo injusto para outros
Ceva Saúde Animal adquire 42 › PARA O CORAÇÃO
Zoovet e Biotecnofe O papel da nutrição
11 › SNACKS A BORDO no manejo das doenças
Purina e Azul firmam parceira cardíacas de gatos e cães
44 › HÁ EVIDÊNCIAS?
Kefir na nutrição de cães e gatos
| MERCADO 48 › CUIDADOS NECESSÁRIOS
O médico-veterinário
20 › FOCO NA NUTRIÇÃO! e a detecção das principais
Alivira Pet lança afecções em psitacídeos
Condrofor Pet CT-II

| PONTO FINAL
| VETERIANÊS 50 › DIRETRIZES
PARA A DOR
26 › PELA SAÚDE ÚNICA! Wsava atualiza o guia
O que se tem feito no combate global de gestão de dor
à leishmaniose no País? durante congresso
34 › UM, O OUTRO OU TODOS?!
SDMA ou ureia e creatinina,
qual é a melhor escolha?
36 › PRIORIDADE AO ATENDER | SEÇÕES
Utilização de escore
de triagem na emergência › Editorial 3
40 › DESDE O INÍCIO DA VIDA › On-line 6
Vermífugos protegem › Cursos e eventos 7
o trato gastrointestinal › Coluna do Tejon 22
de filhotes de gatos › Boletim Paulista 24
C&G on line
Cláudia Guimarães, da redação | claudia@ciasullieditores.com.br

SERVE
PARA O
ANO TODO!
DEZEMBRO foi marcado por confra- quiser um pet, mas, se quem gosta de
ternizações, festas e presentes. Mas animal é quem está presenteando,
sabemos que não é apenas no Natal que pode ser um problema, levando a
as pessoas se presenteiam, não é, então abandono ou até maus-tratos, por-
é válido trazer, aqui, como lembrete no tanto, quando a ideia for presentear
primeiro mês de 2023, algo que vale para alguém com um animal deve-se pes-
todas as datas comemo- quisar a impressão que
rativas: é preciso pen- a pessoa tem de ter um
sar bem antes de dar em casa e sobre todos
um pet para alguém. os aspectos que estão
A médica-veterinária envolvidos no processo”.
e coordenadora do curso Aos pais que desejam
de Medicina Veterinária, presentear os filhos com
do Centro Universitário um pet, a profissional
Nossa Senhora do Pa- declara que eles devem
trocínio (Ceunsp), Leslie conversar com as crian-
Maria Domingues, comenta que é ças antes da chegada do animal, para
importante saber se o presenteado, explicarem sobre todos os aspectos
realmente, quer um pet, se ele gosta relacionados a ter um pet em casa,
ou não de animais, para que a ação não como por exemplo, qual tipo de ani-
termine em abandono. “Essa surpresa mal se adapta à rotina da família e ao
pode ser maravilhosa se o presenteado espaço que terão disponível para ele. ◘

A CADA POST,
OPINIÕES!
É ISSO que queremos. Aproveita e coloca na lista de metas para 2023 seguir
a C&G nas redes sociais (se ainda não segue), porque a gente garante: você
está perdendo conteúdos exclusivos que postamos por lá.
Em cada uma das publicações, esperamos receber a sua opinião,
leitor, sobre o tema proposto, as fontes entrevistadas, a forma com que o
conteúdo foi compartilhado. Também queremos que, neste novo ano, você
sugira mais assuntos para nós. Nos empenhamos, ainda mais, quando é
um pedido seu! Te esperamos em nossa página no Instagram, uma das
redes mais movimentadas da atualidade. Siga a @revistacaesgatos!

6 • caesegatos.com.br Fotos: banco de imagens C&GVF


CURSOS&EVENTOS
Por Sthefany Lara | Envie-nos seu evento: sthefany@ciasullieditores.com.br

› MARÇO

CBOV
O Colégio Brasileiro de Oftalmologia Veterinária
(CBOV) realiza o 18º Congresso Brasileiro de Oftal-
mologia Veterinária entre os dias 29 e 31 de março,
em Pernambuco. Temas como "Situação atual da
Oftalmologia Veterinária no Brasil: Pós-graduações
e especialistas e Técnicas" e "aplicação de
lentes de sutura em cães: vale mesmo
a pena" serão abordados no evento.
Informações pelo Qr Code.

› JANEIRO › FEVEREIRO › FEVEREIRO › MARÇO


PLANTONISTA LUXAÇÃO NEUROLOGIA E CIRURGIA ON-
Nos dias 14 e 15 de janeiro,
DA PATELA NEUROCIRURGIA COLÓGICA E RE-
a Evipe Capacitação Ve-
A Funep realiza, de 3 a 5 de
DE CÃES E GATOS CONSTRUTIVA
terinária realiza o Curso
fevereiro, o Curso Prático O XI Curso teórico-prático de O 7º Curso de Aperfeiçoa-
teórico-prático de Planto-
Avançado de Luxação da Pa- Neurologia e Neurocirurgia mento em Cirurgia Onco-
nista Veterinário, em Belo
tela, coordenado pelos pro- de Cães e Gatos, da Funep, lógica e Reconstrutiva em
Horizonte (MG). O curso
fessores Bruno Watanabe acontece de 11 de fevereiro Cães e Gatos será realizado
será ministrado pelos mé-
Minto e Luis Gustavo Go- a 20 de agosto. O curso é de 4 de março a 4 de agos-
dicos-veterinários Caio
suen Gonçalves Dias. Entre formado por sete módu- to. Serão 16 módulos, que
Leles, Ivan Drummond e
os conteúdos estão “Plane- los que abordarão temas trarão temas como cirur-
Gustavo Cobucci.
jamento em Tomo”; “Osteo- como neurointensivismo; gia reconstrutiva da pele e
tomias femorais”; “Osteoto- neuroanatomia e semio- cirurgia oncológica.
Informações
mias tibiais” e “TPLOm”. logia, e neurologia clínica.
pelo Qr Code.
Todas as informações
Informações Informações estão disponíveis
pelo QR Code. pelo QR Code pelo QR Code

Foto: banco de imagens C&G VF Janeiro / 2023 • 7


PETBUSINESS
Cláudia Guimarães, da redação | claudia@ciasullieditores.com.br

MERCADO

Com o
pé direito
DE ACORDO comoCensoPetIPB,em2021,
o Brasil encerrou o ano com 149,6 milhões
de animais de estimação, um aumento de
3,7% sobre os 144,3 milhões do ano anterior.
Hoje, nosso País é o terceiro em população
total de animais de estimação, o que en-
dossa a força do setor pet na economia.
Alinhada a essa demanda e com um
investimento de mais de R$ 5,5 milhões no
desenvolvimento de novos produtos, lan-
çados no segundo semestre de 2022, a Pe-
tvi estreou, recentemente, no varejo pet.
Presente em todas as regiões do
Brasil, com mais de 250 mil pets aten-
didos em 22 meses, a startup especiali-
zada em suplementação animal possui
expectativa de crescimento de 100%
para o segundo semestre em relação
ao mesmo período de 2021. A startup
deve atingir mais 100 mil novos pets
até o final de 2022. Para alcançar esse A startup alcançou a liderança da
objetivo, investiu na entrada no varejo categoria, fazendo inclusive parte do
físico e na expansão para o mercado programa Scale Up, da Endeavor, a
externo. A meta é chegar, por fim, a uma maior ONG de empreendedorismo do
distribuição em toda a América Latina. mundo. “Em menos de 100 anos, a ex-
“Nós já ajudamos mais de 250 mil pectativa de vida humana praticamente
cães no Brasil a terem mais qualidade de dobrou. Parte disso se deve à nutrição.
vida e queremos aumentar esse número. Não apenas passamos a comer melhor,
Chegar, também, a outros países mostra mas também a suplementar ingredien-
que nossa missão realmente é valorosa e tes que faltavam nessa alimentação. Por
compreendida pelos pais de pet”, diz um isso resolvemos fazer o mesmo com
dostrêssóciosdaempresa,PatrickPeters. nossos cães”, afirma Peters. ◘
Entre os produtos da Petvi que
registraram maior crescimento nas NÓS JÁ AJUDA-
vendas estão os que podem ajudar a dar
maior longevidade aos cães. O Longevi
MOS MAIS DE
– primeiro super suplemento canino 250 MIL CÃES
com 44 micronutrientes, entre eles NO BRASIL A TEREM MAIS
spirulina, probióticos e biotina – atingiu QUALIDADE DE VIDA E
uma curva de crescimento de 100% no QUEREMOS AUMENTAR
primeiro semestre de 2022, comparado
ESSE NÚMERO
ao mesmo semestre do ano passado e
acaba de ser lançado em nova emba- PATRICK PETERS, UM DOS TRÊS
lagem como suplemento mastigável. SÓCIOS DA PETVI

8 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação e banco de imagens C&GVF


AQUISIÇÕES

Conquistando
a América Latina
VISANDO expandir sua participação na Amé-
rica Latina, a Ceva Saúde Animal anuncia a
aquisição das empresas argentinas Zoovet –
especializada na produção e comercialização
de produtos de saúde animal e Biotecnofe
– uma startup de biotecno-
logia que desenvolve pro- Biotecnofe é
dutos inovadores a serem uma startup de
distribuídos pela Zoovet. biotecnologia
que desenvolve
Essas aquisições estraté- produtos
gicas darão à Ceva acesso a inovadores
um campus de biotecnologia
de última geração com sede em Santa Fé, Argen- farmacêutica, especialmente para ruminantes.
tina. Com 200 especialistas e uma estreita cola- Com isso, a Ceva se tornará a 5ª maior
boração com a prestigiosa Universidade Nacional empresa de saúde animal da Argentina, com
do Litoral, este campus fortalecerá as atividades 250 funcionários e um faturamento previsto
da Ceva na América Latina para apoiar a inovação de 35 milhões de euros.

CAMPANHA do Instagram, segue até o dia 15 de janeiro.


Prêmios aos “A campanha é uma maneira de recompen-
sar os veterinários, que são tão importantes
veterinários para a companhia e sociedade, com premia-
ções que agreguem, também, em sua carreira.
O BRAVECTO, antipulgas e carrapatos da MSD Então, nada melhor que oferecer a oportuni-
Saúde Animal, lança uma campanha exclusiva dade de participar de um evento reconhecido
para os médicos-veterinários, a #Momen- internacionalmente e desejado pelo setor, o
tosBravectoVet. A iniciativa, que tem como Congresso WSAVA, que reunirá profissionais
objetivo prestigiar os profissionais parceiros de todo o mundo e discutirá os temas mais
da marca, premiará kits de viagem, incluindo importantes e atualizados da Medicina Vete-
ingressos, passagens e hospedagens para um rinária, além de aparelhos de última geração”,
dos eventos mais importantes do setor, o Con- ressalta a gerente de Soluções Estratégicas e
gresso WSAVA 2023, em Lisboa, além de iPho- Serviços Médicos-Veterinários da MSD Saúde
nes 14. A promoção, que é realizada por meio Animal, Daniela Baccarin.

Promoção,
que é realizada
por meio do
Instagram,
segue até o dia
15 de janeiro

Janeiro / 2023 • 9
PETBUSINESS

LANÇAMENTO TECNOLOGIA

Aliados Atenta à
demanda
local e global
na clínica PARA ATENDER à crescente de-
manda interna por tecnologia
A SURE PET CARE, linha de produtos cães e gatos e ainda acessar diversas e ciência, a Mars, detentora das
tecnológicos para cães e gatos da MSD funcionalidades, como encontrar e marcas M&M’S, Snickers, Twix,
Saúde Animal, traz para o mercado pet inserir pets perdidos e fazer o controle Pedigree e Whiskas, anunciou re-
brasileiro mais dois lançamentos: o de consultas, vacinação, histórico centemente a expansão de seu hub
microchip e a plataforma Sure PetCa- de saúde e lembretes de vacinas e de tecnologia e serviços de negócios
re de gestão para a clínica veterinária. cuidados preventivos. Nela, também globais MGS, divisão responsável
Ambos chegam com propostas inova- é apresentado um dashboard com pelas inovações e laboratórios
doras e que agregam valor ao negócio informações relevantes ao negócio. da empresa. A área ganhará uma
do médico-veterinário, acompa- “Mais do que um produto, a ideia nova diretoria - a diretoria de ope-
nhando as tendências de mercado também é oferecer uma solução rações -, que terá como principal
de cuidado e identificação animal. inovadora e tecnológica que facilita o objetivo otimizar processos para
A plataforma Sure PetCare é gra- acesso às informações e auxilia o ve- que os serviços prestados ganhem
tuita e, além de ser uma ferramenta terinário na rotina profissional. Trazer mais velocidade e alcancem mais
para registro do microchip, auxilia o essa iniciativa para ele é uma forma de mercados nas Américas e Europa,
profissional na gestão de pacientes colocar em prática o cuidado com os potencializando suas atividades e
da clínica. Os médicos-veterinários pets associado à precisão e facilidade sua colaboração com outros pon-
podem registrar os microchips dos da tecnologia, o que entendemos tos globais do MGS. A expansão
como Petnologia, além de ajudar a também prevê a seleção de novos
agregar valor ao seu negócio, uma vez
que a utilização do serviço pode mos-
trar ao tutor um serviço diferenciado”,
diz a médica-veterinária e gerente de
Produto da Unidade de Negócio Pet
da MSD Saúde Animal, Silvana Badra.
Já o microchip, é um produto de talentos da área de tecnologia no
acesso veterinário com duas opções Brasil, especialmente no interior de
disponíveis, o Global Ident 2.1 e o Glo- São Paulo, onde a companhia possui
bal Ident XS 1.4. Eles são encapsulados escritórios, fábricas e laboratórios
em vidro de alta biocompatibilidade e nas regiões de Guararema, Cam-
envolvidos em Parylene-C, um revesti- pinas, Mogi Mirim e Descalvado.
mento antimigratório de uso médico e Para anunciar a expansão e
compatível com as normas ISO 11784 e a criação da nova diretoria, o vi-
11785, que determinam certa frequên- ce-presidente global e chefe de
cia de funcionamento e a numeração Segurança da Informação da Mars,
inalterável e exclusiva. Além disso, os Andrew Stanley, veio ao Brasil, no
acessórios possuem aplicador de fácil segundo semestre de 2022, e pres-
manuseio, com trava de segurança e tigiou as inovações realizadas pela
excelente penetração cutânea. equipe brasileira. “Acompanhamos
a evolução da área no Brasil nos últi-
mos anos e fazer este investimento
significa continuar crescendo
tanto no que diz respeito ao uso
de novas tecnologias, quanto em
A plataforma segurança cibernética. É notável
Sure PetCare é como o Brasil é um polo de talentos
gratuita e auxilia nesta área e, por isso, queremos
o profissional
aumentar este time, trazendo mais
na gestão de
pacientes da profissionais para a equipe de tec-
clínica nologia no Brasil”, conta Andrew.

10 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação e banco de imagens C&GVF


PORTFÓLIO aporte desses nutrientes auxiliando, mulado com Aminoácidos, Vitamina C

Mais opções inclusive, em situações de estresse. O


produto é indicado para cães e gatos.
e Vitamina D3, Betaglucanas e MOS, in-
dicado no auxílio do sistema imunoló-
para o pet Os demais lançamentos são
snacks, com sabor atrativo para cães.
gico de cães em todas as fases da vida.
Uree Snacks contribui para a
OUROFINO Saúde Animal amplia a Rennaiz Snacks é um suplemento ali- manutenção de funções essenciais,
linha de suplementos para pets com mentar em forma de tablete mastigá- também em formato de tabletes
quatro novos produtos: Seren Pasta é vel formulado com Vitaminas do Com- mastigáveis, formulados com Aran-
um suplemento alimentar formulado plexo B, Ômega 3, Quitosana, Betaca- do (cranberry), Romã, Betaglucanos,
com L-Triptofano, associado à vitami- roteno, Probióticos e Vitaminas C e E, Ômega 3, Sulfato de Glucosamina e
na B6, magnésio aminoácido quelato, que auxiliam na melhora nutricional e Vitamina A, que auxiliam na melhora
hidrolisado de peixes e extrato de qualidade de vida de animais em todas nutricional e qualidade de vida de
melissa, indicado para o suporte nu- as fases de vida, ao contribuir com animais em todas as fases de vida
tricional para todas as idades e fases o equilíbrio de líquidos e minerais. em situações que se beneficiem do
da vida dos animais que necessitem do Imunees Ourofino Snacks é for- uso de seus nutrientes.

CUIDADOS ESPECIAIS

Snacks a bordo
PENSANDO em oferecer a melhor
experiência aos tutores e seus pets, Pu-
rina e a Azul anunciaram uma parceria
muito especial no fim de 2022. A partir
de então, a aérea passa a oferecer gra-
tuitamente snacks Purina para pets a
bordo de alguns voos pré-seleciona-
dos. Num primeiro momento, o serviço
especial estará disponível em voos
partindo de Vi-
racopos (Campi- Ação reforça o
nas) com destino posicionamento
aos aeroportos de Purina que
busca promover
de Recife, Belém,
momentos para
Cuiabá, Belo Ho- que pessoas
rizonte e Rio de e pets vivam
Janeiro (Santos melhor juntos
Dumont). Essa é a
primeira vez que uma companhia área to de Purina que busca promover viagem e um serviço de bordo dife-
e uma marca de produtos para pets momentos para que pessoas e pets renciado para todos os Clientes – in-
firmam parceria e dedicam cuidados vivam melhor juntos, unindo forças cluindo os pets. As opções de snacks
especiais durante os voos aos animais. com o propósito da Azul, que é o de são: Snack Dog Chow para cães e
A ação reforça o posicionamen- garantir a melhor experiência de Friskies Party Mix para os gatos.

Janeiro / 2023 • 11
PETBUSINESS

INICIATIVA

Ajuda mais
que bem-vinda
NO FINALZINHO de 2022, os abrigos Fucin Fe-
liz, em Mairiporã, e Vira-Lata Vira-Amigo, em
Ibiúna, ambos no interior de São Paulo, co-
memoram sua reinauguração após reformas
e melhorias realizadas pela ONG AMPARA
Animal em parceria com NexGard e Frontli-
ne, antiparasitários para pets da Boehringer
Ingelheim. Focadas em melhorar a saúde e
bem-estar dos animais abrigados, as mudanças
também aumentam suas chances de adoção.
Para atingir o objetivo, as reformas contaram
com melhorias na infraestrutura dos abrigos,
manejo dos cães e gatos albergados, protocolos
operacionais de controle sanitário, práticas de
trabalho e socialização dos pets. A Boehringer
Ingelheim investiu um montante superior a R$ Brasil. Temos certeza de que, com melhorias A Boehringer
107 mil para realização do projeto. Parceiros da na infraestrutura e no manejo, podemos im- Ingelheim investiu
AMPARA Animal desde 2020, essa é mais uma pactar positivamente os índices de adoção, um montante
superior a R$ 107
ação que reforça o compromisso da farmacêutica contribuindo com a redução do problema de
mil para realização
com o bem-estar animal para além da medicação. excesso populacional e abandono animal”, do projeto
“O trabalho realizado nos abrigos tem um destaca o Head de Saúde Animal da Boehringer
papel fundamental na proteção dos pets no Ingelheim no Brasil, Xavier Andivia.

PARCERIA

Condições especiais
A VETFAMILY assinou parceria com a Boehrin-
ger Ingelheim Saúde Animal com dois grandes
objetivos: oferecer condições especiais em pro-
dutos veterinários para membros da Vetfamily e
compartilhar conteúdo relevante com médicos-
-veterinários e clínicas, abordando importantes
conceitos para o dia a dia dos profissionais.
"A VetFamily tem acordos globais com gran-
des indústrias de produtos para saúde animal. Fe-
char essa parceria no Brasil com uma empresa tão
conceituada mundialmente como a Boehringer
Ingelheim Saúde Animal, é indiscutivelmente um
grande ganho para as clínicas e veterinários par-
ceiros, além dos tutores”, destaca o Head Latam e
diretor Geral da VetFamily no Brasil, Henry Berger.
A partir da parceria, os veterinários e as clíni- prescrição. Os benefícios também são para os Relação de
cas veterinárias passam a comprar, em condições tutores clientes dos veterinários parceiros da confiança entre
os veterinários e
especiais exclusivas, qualquer produto da linha da VetFamily, que têm a segurança de adquirir pro- os tutores avança
Boehringer Ingelheim Saúde Animal, passando a dutos de alta qualidade e receber suporte téc- em Medicina
ter mais rentabilidade e maior controle sobre a nico de uma empresa líder, como a Boehringer. Preventiva

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Janeiro / 2023 • 13
ZO O M / S AÚ D E Ú N I C A

14 • caesegatos.com.br
UMA
QUESTÃO
SOCIAL E
DE SAÚDE
EXISTE UMA TRÍADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS PRIORITÁRIAS
PARA ORGANIZAR A CRIAÇÃO E PERMANÊNCIA DE CÃES
E GATOS NAS CIDADES. VOCÊ SABE O QUE ELA ENGLOBA E SE
É COLOCADA EM PRÁTICA NO BRASIL?

› CL ÁUDIA GUIMAR ÃES, DA RE DAÇÃO


claudia@ciasullieditores.com.br

A SAÚDE ÚNICA, QUE ENGLOBA A SAÚDE vive exclusivamente livre em área externa am-
DO HOMEM, DOS ANIMAIS E DO MEIO biental (ruas, telhado da residência ou, muitas
AMBIENTE, DEVE SER ESTUDADA E COLO- vezes, no acesso parcial limitado à área externa
CADA EM PRÁTICA EM TODO O MUNDO. como calçada ou varanda). Já o domiciliado é o
NO ENTANTO, ALGUMAS POLÍTICAS PÚ- tipo de criação ideal. O animal está exclusiva-
BLICAS SOBRE CANINOS E FELINOS DO- mente dentro do domicílio e em pleno convívio
MÉSTICOS SE DIFEREM QUANDO COMPA- domiciliar, dividindo cômodos da residência em
RAMOS O BRASIL COM OUTROS PAÍSES. convívio com as pessoas e, no caso dos gatos, não
Esse é exatamente o tema de um trabalho há acesso à via pública e os cães têm acesso à via
realizado por pesquisadores, dentre eles, a médi- pública junto ao seu tutor, preso à guia de condu-
ca-veterinária, doutoranda em Políticas Públicas, ção em horário definidos para passeio”, diferencia.
mestra em Ciência Animal e em Pesquisas em Além destes, ainda há algo bastante comum
Saúde, Evelynne Hildegard Marques de Melo, que, na conduta dos brasileiros que são os animais
para introduzir o assunto, afirma que é importante domiciliados com acesso à via pública. “É um
termos em mente os diferentes modos de criação modo de criação onde o animal, cão ou gato,
de cães e gatos domésticos: semidomiciliado, do- possui pleno acesso e convivência domiciliar, no
miciliados e domiciliados com acesso à via pública. interior da residência, porém, o tutor o permite
“Semidomiciliado é o tipo de criação onde passear desacompanhado de um responsável
o animal possui algum tipo de dependência pela via pública, tanto cães quanto gatos, onde
domiciliar, embora não adentra no domicílio da se identifica a expressão ‘meu cachorro ou meu
pessoa que o presta alguma assistência, como: gato foi dar uma voltinha’”, descreve. Segundo
comida, atenção, carinho, castração, assistência a profissional, esses modos de criação foram
veterinária, quando possível; ou seja, o animal bem destacados em um de seus trabalhos de

Foto: divulgação Janeiro / 2023 • 15


ZO O M / S AÚ D E Ú N I C A

mestrado, onde realizou uma pesquisa do tipo alguma interação homem-animal”, observa.
inquérito com pessoas que criam cães e gatos. A veterinária cita como exemplo a espo-
Porém, para além do convívio domiciliar, há rotricose nos felinos, doença causada por um
outra forma de manutenção de cães e gatos que fungo ambiental e que infecta, acidentalmente,
são os de vida livre, distantes e alguns ferais, o gato e, também acidentalmente, pode ser
que até recebem algum tipo de assistência de transmitida ao ser humano por meio de uma
pessoas/cuidadores/protetores, como explica- arranhadura em situação de defesa que o ani-
do por Evelynne. “No entanto, são animais sem mal expresse, pois os felinos acabam mantendo
o contato domiciliar, não são ‘pets’, são animais o fungo nas unhas quando afiam ou escavam o
presentes em áreas coletivas, praças, esta- solo que contenham o microorganismo.
cionamentos, campus universitários”, expõe. Sobre o modo de criação domiciliados com
acesso à via pública, os pontos positivos, na
PONTOS POSITIVOS opinião de Evelynne, também são parciais e
E NEGATIVOS DOS ficam limitados ao animal pelo fato de se ter um
MODOS DE CRIAÇÃO “porto” para onde possa voltar, se alimentar e
Segundo Evelynne, no modo criação domiciliada, descansar no conforto. “Porém, os fatores ne-
praticamente, só há pontos positivos a destacar. gativos estão para ambos, animal e tutor, pela
“É o modo correto e ideal a uma boa criação de exposição direta e sem vigilância ao ambiente
canino e felino doméstico, pois, como o próprio externo, os animais podem revirar lixo, caçar
nome da espécie nos lembra, é ‘doméstico’ e insetos, roedores, terem contato íntimo com
está intimamente dependente do homem para muitos agentes infecciosos e, depois, retornar
a determinação de seus cuidados básicos e pre- ao domicílio e aproximar o risco zoonótico das
ventivos de doenças. Precisamos falar sobre isso, pessoas, pois, em muitos casos da criação do-
pois, na saúde animal, há um risco de desenvol- miciliada com livre acesso à via pública, os ani-
vimento de algumas doenças que são zoonoses mais até dormem nas mesmas camas que seus
(aquelas que podem ser transmitidas do animal tutores, deitam no mesmo sofá e são levados
ao homem) e outras doenças ou agravos que ao colo em situações de carinho. Esse contexto
são restritos ao animal, mas que dependem também foi evidenciado em minha pesquisa
dos cuidados do homem também. Não diria que de mestrado, quando investiguei o nível de
há um ponto negativo, mas, sim, um ponto de compreensão e cuidados básicos das pessoas
alerta, que é o fato de não ser o bastante manter sobre caninos e felinos domésticos”, menciona.
o animal totalmente domiciliado sem prover
os seus cuidados adequados (alimento, abrigo, CONTROLE
água limpa, vermífugo, vacinas, castração). É DA SAÚDE ÚNICA
na ausência dos cuidados que enfrentamos O assessor técnico-jurídico e de Relações
complicações tanto de saúde animal, quanto Institucionais do Conselho Federal de Me-
de Saúde Única. O alerta é que, na situação do- dicina Veterinária (CFMV), Rodrigo Antonio
miciliar, podemos nos deparar com ausência ou Bites Montezuma, menciona que os cuidados
presença de posse/guarda responsável”, discorre.
Já no modo de criação semidomiciliada, para
Evelynne, os pontos positivos são parciais e é
possível destacar o fato dos cuidados que o animal
recebe, tendo em vista ser uma condição de vida
A PRIMEIRA ATITU-
exposta aos riscos ambientais. “Ao menos, há, em
sua maioria, oferta de um alimento diariamente
DE É UMA APROXI-
e alguma assistência veterinária quando pos- MAÇÃO DA CLASSE
sível, como, por exemplo, castração. É negativa TÉCNICA VETE-
a situação, de modo geral, por, normalmente, a RINÁRIA COM A CLASSE
pessoa que disponibiliza algum cuidado não se POLÍTICA LEGISLATIVA,
sentir responsável pelo animal e isso é grave. JUSTAMENTE PORQUE AS
Além disso, não há vínculo de pertencimento,
GESTÕES SÃO ROTATIVAS,
muitas vezes, e, nem sempre, as assistências
COM A FINALIDADE DE
serão prestadas. Também destaca-se pela ausên-
cia dos cuidados básicos, acidentes de trânsito, MANTER IDEIAS COESAS
maus-tratos diversos e exposição aos patógenos EVELYNNE MARQUES
ambientais, que há um potencial risco de trans- DE MELO, MÉDICA-VETERINÁRIA
missão de algumas zoonoses quando ocorrer E PESQUISADORA

16 • caesegatos.com.br
com os animais de qualquer tipo de aos cães e gatos é, de certa forma,
criação incluem: vacinações, ver- fácil e desproporcional ao acesso aos
mifugações e monitoramento das requisitos garantidores de cuidados
zoonoses, principalmente dos animais (dependente de poder financeiro).
que possuem livre acesso à rua. “Es-
sas ações são essenciais para fins de INICIATIVAS DE
saúde pública, pois são focos poten- POLÍTICAS PÚBLICAS:
ciais de doenças zoonóticas”, atesta. BRASIL X MUNDO
Montezuma declara que, hoje, De acordo com diretrizes internacio-
no Brasil, a Lei nº 13.426/2017 prevê nais, Evelynne diz que há uma tríade de
o controle de natalidade e desenca- políticas públicas de Estado prioritá-
deamento de campanhas educativas rias para organizar a criação e perma-
sobre ética e posse responsável de nência de cães e gatos nas cidades que
animais domésticos. “No entanto, são: 1 - custeio público para castra-
o CFMV, desde a sua Resolução nº ção, 2 - posse/guarda responsável e
962/2010, preconiza que a castração 3 - educação ambiental. A veteriná-
de cães e gatos deve vir acompanhada ria ainda compartilha que estas devem
de programas de educação em saúde SE MOSTRA IM- vir antecedendo outras políticas, tais
e guarda responsável, para que o como reconhecimento de cães e gatos
PRESCINDÍVEL QUE
controle populacional seja efetivo. comunitários, método CED (captura,
Vale destacar que os mutirões de
AS POLÍTICAS PÚ- esterilização e devolução) e a punição
castração são regulamentados por BLICAS EM TODAS do cidadão que pratica maus-tratos,
esta resolução, em que o projeto deve AS ESFERAS POSSUAM, EM entre outras medidas de acordo com
ser submetido ao CRMV da jurisdição SEUS QUADROS, MÉDICOS- a realidade de cada país. “No Brasil, por
para aprovação e verificação técnico/ -VETERINÁRIOS, PRINCI- exemplo, há necessidade de controle
logística quanto à capacidade do PALMENTE NAS ÁREAS DE de acesso aos fármacos de uso veteri-
estabelecimento nos procedimentos nário, como antibióticos e progestinas
SAÚDE DA FAMÍLIA, CON-
cirúrgicos sucessivos de castração (“vacina anti-cio”). Ainda, a realidade
no que tange à equipe devidamente
TROLE DE ZOONOSES E de políticas públicas prioritárias sobre
habilitada, sala cirúrgica, equipamen- MEIO AMBIENTE modos de criação e organização da
tos devidamente esterilizados, pré e presença de cães e gatos no Brasil é
RODRIGO MONTEZUMA,
pós-operatório adequados”, explica. ASSESSOR TÉCNICO-JURÍDICO E DE fragmentada. O instrumento punitivo
Como outras atitudes que são RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DO CFMV está a frente dos instrumentos sanitá-
bem-vindas para uma boa Saúde rio (castração-sem custeio federal), do
Única no Brasil, o profissional ainda educativo (educação ambiental) e da
indica que o CFMV preconiza que posse responsável (identificação ho-
sejam adotadas as boas práticas na por isso, cuidar da saúde animal é im- mem-animal), que ainda são Projetos
criação dos animais, inclusive no prescindível para o contexto de Saúde de Lei, assim como as políticas impor-
tocante à sua própria saúde e da co- Única para as famílias que decidem tê- tantes sequenciais que também são,
munidade humana que o cerca. “Com -los em íntima convivência, afinal, os ainda, uma proposta Legislativa, os
isso, se mostra imprescindível que as patógenos estão no ambiente e nós to- PLs: Sobre método CED e sobre cães e
políticas públicas em todas as esferas dos convivemos com animais que têm gatos comunitários e organização da
possuam, em seus quadros, médicos- contato com o meio ambiente, essa, rede de acolhimento”, revela.
-veterinários, principalmente nas mesmo sendo uma convivência indis- Para Evelynne, ao falar em políticas
áreas de saúde da família, controle de sociável, seja totalmente dependente públicas, devemos lembrar que tanto as
zoonoses e meio ambiente”, observa. de orientação/instruções básicas ao políticas básicas, quanto as outras se-
A médica-veterinária Evelynne ex- cidadão que cria cães e gatos (atingi- quenciais importantes, devem ser insti-
plica que, quando os animais estão em das por meio de educação ambiental) tuídas de acordo com a realidade social
vida livre, distantes do convívio íntimo e, também, de condições financeiras dos países e, sobre isso, observa-se que
humano, muitas vezes, ocorre um esta- mínimas para garantir os cuidados a política pública básica de castração
do de equilíbrio com os patógenos que básicos (que começa com consulta no Brasil ainda é desvalorizada, pois
os albergam, por isso, o raciocínio de ao veterinário, vacinas, vermífugos, a lei foi sancionada com vetos no cus-
Saúde Única deve ser sempre preventi- controle de ectoparasitas, alimento, teio e as castrações, em sua maioria,
vo. “O risco de transmissão de algumas abrigo e castração)”, enumera. somente acontecem na dependência
doenças existe quando se estabelece A profissional ainda adiciona que de emenda parlamentar. “Há alguns
o estreito contato das pessoas com os essa situação ainda encontra-se em poucos municípios que incluíram
animais, como citado anteriormente, desequilíbrio no Brasil, pois o acesso dotações orçamentarias próprias.

Fotos: divulgação Janeiro / 2023 • 17


ZO O M / S AÚ D E Ú N I C A

Ainda está a cargo dos entendimentos castração, por exemplo, e ambientes vimento superficial distantes de uma
dos legisladores, que, em sua maioria, de recuperação para animais vulne- atuação na raiz dos problemas”, analisa.
entende superficialmente”, analisa. ráveis em situação de rua-doentes). Essa pesquisa sobre a importância
No Brasil, por vezes, de acordo com “Citemos, como exemplo, Portugal, da tríade básica de políticas públicas
a profissional, há volume de iniciativas onde há orçamento público federal sobre caninos e felinos domésticos
parlamentares protocolando PLs, mas para castração de cães e gatos, além para a Saúde Única no Brasil, com
que ainda fogem da prioridade básica. de política de posse responsável rígida, uma análise comparativa nacional
“Isso demonstra uma necessidade também política de reconhecimento e internacional, que ainda está em
de nivelar os entendimentos, sendo legislativo sobre o método CED e das andamento, partiu da observação da
importante o envolvimento do legisla- permanências de colônias de gatos necessidade de abordagens no âmbito
tivo federal como forma de nortear as castrados de vida livre. A Itália também elementar do tema notadamente na
unidades federativas. No Brasil, há bem possui reconhecimento legal para cães base resolutiva para grande parte dos
consolidada a política federal de vacina- comunitários e para colônias de gatos problemas que o Brasil enfrenta com
ção contra a raiva (com custeio federal) e castrados e de vida livre”, aponta. cães e gatos, segundo Evelynne, que é a
a política punitiva do cidadão com reclu- Na visão de Evelynne, todos os falta de responsabilidade humana sobre
são de até cinco anos quando constatar esforços devem ocorrer no sentido de eles, a falta de educação ambiental e a
os maus-tratos (Lei Sansão)”, aponta. que o Brasil tenha um programa federal falta de um controle sério sobre o nasci-
Portanto, para Evelynne, o que há para custear cirurgias de castração de mento e investigamos essas iniciativas
de diferente entre o Brasil e os países modo permanente. “A primeira atitude políticas no Brasil e no exterior. “Esses
que já organizaram a presença de cães e é uma aproximação da classe técnica são pontos bem ajustados em vários
gatos no cenário urbano, é, sem dúvidas, veterinária com a classe política legis- países. Observamos que, no Brasil, há
o entendimento no assunto ao nível de lativa, justamente porque as gestões são muitos legisladores orgulhosos em
Estado, notadamente, a importância rotativas, com a finalidade de manter protocolar inúmeros Projetos de Leis,
entre saúde pública e bem-estar ani- ideias coesas, evitar textos com termos contudo, distantes das prioridades”.
mal e a imposição de responsabilidade técnicos truncados, produzir propos- O assessor técnico-jurídico do CFMV,
cidadã sobre a criação dos cães e gatos. tas com base na prioridade e evitar Rodrigo Montezuma, afirma que todo
“Os países mais antigos, como os da discursos superficiais que tendem a trabalho acadêmico é importante para
Europa, têm, nas tomadas de decisão, a alimentar ilusões populares”, pondera. demonstrar o que tem sido feito e, com
compressão sanitária antecedendo os base científica, se chegar a uma con-
ideais de bem-estar animal, embora as MAIS SOBRE A PESQUISA clusão para certificar a eficiência das
compreensões de senciência animal Evelynne revela que política pública na políticas públicas. “Seja para definir se o
estejam bem entendidas e já ocupem temática cães e gatos se tornou uma caminho tomado é o adequado ou se há
grande parte dos debates públicos, linha de pesquisa para ela já há alguns a necessidade de se tomar outra direção
a atuação com prioridade sanitária anos, tanto que, hoje, é doutoranda em no sentido de melhorar a eficiência dos
trouxe como consequência positivida- políticas públicas. “De modo geral, as processos. No deste trabalho produzido,
de à vida dos animais, simplesmente, pesquisas têm um papel na sociedade verifica-se que as propostas de políticas
porque significa responsabilidade do que é estudar os problemas e pensar públicas nacionais e internacionais
cidadão com a criação animal. Então, os ou indicar soluções. Especialmente na estão em consonância, especialmen-
países levam a sério a consolidação de questão animal sobre cães e gatos nas te nas ações de Saúde Única”, opina.
três políticas públicas básicas: Posse/ cidades, o Brasil possui uma lacuna de O profissional ainda expõe que o
guarda responsável’ (com cadastros investigações básicas que sirvam de controle populacional é importante
públicos de vínculo legal cidadão-ani- suporte para compreender o problema para reduzir ou minimizar o número
mal); castração (com orçamentos pú- e servir de direcionamento político de animais em situação de rua, semi-
blicos federais em vários países) e edu- para as prioridades. Por aqui, vemos domiciliados e errantes, mas acredita
cação ambiental (para construir novas que a lida com cães e gatos tem estado que a medida isoladamente é pouco
mentalidades de cidadãos)”, conta. muito forte nas mãos da sociedade civil eficaz se realizada esporadicamente.
Evelynne elucida que a questão e distantes da classe técnica veterinária “As ninhadas de cães e gatos, facilmente,
animal relativa aos cães e gatos nos e mais distante ainda do interesse polí- repõem o quantitativo de animais de
centros urbanos é dependente de po- tico. No período de campanha eleitoral, uma população. A conscientização da
lítica pública, desde o nível elementar, vimos muito oportunismo sobre o pro- posse responsável e o controle popu-
no sentido de organizar as condutas blema, mas, de um lado, temos o sonho lacional, preconizada na resolução do
do cidadão que cria esses animais popular baseado no senso comum e, CFMV e na lei, é imprescindível para que
(que é a política de posse/guarda res- do outro, os políticos que, mesmo sem os proprietários, responsáveis e o poder
ponsável) e que se estende ao nível de entender a totalidade da demanda, público, conjuntamente, monitorem as
manutenção financeira de projetos caminham em direção aos anseios do populações de animais e, com isso, redu-
com prestação de assistência à socie- povo. Com isso, temos sempre inicia- zam o risco de doenças zoonóticas trans-
dade (tal como vacinação antirrábica, tivas políticas fragmentadas e envol- missíveis por esses animais”, finaliza. ◘

18 • caesegatos.com.br
Janeiro / 2023 • 19
R ADAR PE T / PRE VE NÇÃO

FOCO NA
NUTRIÇÃO!
ALIVIRA PET LANÇA CONDROFOR PET CT-II, NUTRIENTES
BENÉFICOS PARA A SAÚDE OSTEOARTICULAR
› STHEFANY L AR A , DA RE DAÇÃO

Q
sthefany@ciasullieditores.com.br

ue o seu alimento seja o seu


remédio e o que o seu remédio
seja o seu alimento”, frase dita
por Hipócrates, pai da Medi-
cina, apesar de muito antiga,
nunca esteve tão atual e cabe tanto para as pes-
soas quanto para os animais. Nos dias de hoje,
são os chamados “nutracêuticos” que podem re-
forçar essa conexão entre alimentos e uma vida
mais saudável. Alivira Pet lança o Condrofor Pet
CT-II, composto por nutrientes essenciais para
a saúde osteoarticular de cães e gatos, indicado
para filhotes em crescimento, animais de médio
e grande porte e que praticam exercícios físicos.
Segundo a gerente Técnica, Ana Beatriz
Mourão Carvalhaes, o tratamento farmacológico
de doenças osteoarticulares tem evoluído, mas
muito focado no tratamento sintomático (anal-
gésicos ou anti-inflamatórios não esteroides). “A
nutrição vem tomando um espaço de destaque
na Medicina Humana e Veterinária. Ela cuida da
prevenção de patologias, de longevidade e quali-
dade de vida, trabalhando o terreno biológico do
animal. Os suplementos dietéticos fornecem de
forma concentrada componentes bioativos usa-
dos para beneficiar a saúde, em dosagens maio-
res que aquelas obtidas de
um alimento tradicional. Indicado para
Por meio do uso de suple- filhotes em cres-
cimento, animais
mentos, minimizamos o
de médio e gran-
uso de fármacos que, além de porte e que
de limitação de tempo de praticam exercí-
uso, oferecem riscos de cios físicos

20 • caesegatos.com.br
efeitos colaterais. Os suplementos dietéticos, da avaliação caso a caso pelo médico-veteriná-
agentes nutracêuticos e alimentos funcionais rio que atende o animal, ele define o protocolo,
podem proporcionar melhorias e apoio em dose de manutenção e demais recomendações”.
tratamento e prevenção de doenças de várias Por fim, ela afirma que o Condrofor Pet CTII,
espécies animais”, afirma e completa que, por da linha Dynamic, agrega à Alivira Pet profis-
meio do lançamento do Condrofor Pet CTII, sionalismo e inovação. “Ele é o novo retrato da
a Alivira Pet lança a linha Dynamic, um novo marca Alivira Pet, inovador na formulação, prati-
conceito dentro do portfólio que visa atender cidade na administração, embalagem moderna,
à demanda do mercado profissional/técnico. agregando ao mercado técnico novas tendências.
A Alivira Pet acredita na importância que a nutri-
APRESENTAÇÃO ção desempenha na saúde dos animais seja na
Ana Beatriz explica que o produto está dispo- prevenção de patologias, manutenção de uma
nível em diversos pontos comerciais, como boa saúde e longevidade. Por meio da equipe de
clínicas veterinárias, pet shops e lojas do ramo desenvolvimento de produtos, investimento em
veterinário, em frascos com 30 comprimidos novas tecnologias e pesquisas, a Alivira Pet está
palatáveis. “A formulação do produto é composta pronta para levar os melhores e mais inovadores
por nutrientes funcionais como colágeno do produtos ao mercado veterinário”. ◘
tipo II não desnaturado, magnésio, condroitina
e glucosamina, vitamina C, que é precursora do
colágeno; vitamina K, importante para saúde ós-
sea e elementos que são o diferencial do produto:
silício, que contribui para a arquitetura, força,
resistência e elasticidade dos tecidos osteoar-
ticulares, o extrato de chá verde que contém a
substância Epigalocatequina Galato (EGCG), que,
junto da curcumina, auxilia na modulação dos
processos inflamatórios. Nosso produto possui,
também, a piperina, que aumenta a biodisponi-
bilidade da curcumina, já que é um composto
importante, mas de difícil absorção”, detalha.

OS BENEFÍCIOS
Ela conta, ainda, que, além de conter elementos
naturais e estruturais da cartilagem, os nu-
trientes auxiliam na modificação das diferen-
tes estruturas articulares (ossos, cartilagens e
líquido sinovial), que são afetados pela artrose,
sobrecarga articular, estes elementos auxiliam
na modificação das vias bioquímicas pato-
lógicas (anti-inflamatórias e antioxidantes)
conferindo bem-estar e conforto ao paciente.
De acordo com ela, agregando a nutrição
específica para saúde osteoarticular o veteri-
OS SUPLEMENTOS
nário vai proporcionar ao animal, não apenas
o controle da dor e inflamação (que é feito por
DIETÉTICOS, AGENTES
meio da prescrição de fármacos como anti- NUTRACÊUTICOS E
-inflamatórios e analgésicos podendo apenas ALIMENTOS FUNCIONAIS PODEM
mascarar o problema), mas, efetivamente, PROPORCIONAR MELHORIAS
oferecer nutrientes que vão auxiliar na recu- E APOIO EM TRATAMENTO
peração e minimizar o desgaste osteoarticular. E PREVENÇÃO DE DOENÇAS DE
Sobre o tempo de uso, Ana Beatriz comenta VÁRIAS ESPÉCIES ANIMAIS
que, normalmente, é de uso contínuo. “O animal
utiliza uma dose inicial e, posteriormente, a dose ANA BEATRIZ MOURÃO CARVALHAES
de manutenção, mas salientamos a importância É GERENTE TÉCNICA DA ALIVIRA PET

Fotos: banco de imagens C&GVF e divulgação Janeiro / 2023 • 21


TEJON
www.tejon.com.br | tejon@tejon.com.br | twitter.com/luiztejon | facebook.com/joseluiztejon

NOSSOS PETS TÊM


DIREITOS UNIVERSAIS
ASSEGURADOS POR LEI
■ COAUTORA: ANA PURCHIO

E
m 1977, nascia a Declaração Universal dos 7. Todo ato que põe em risco a vida de um animal é
Direitos dos Animais, criada pela Liga In- um crime contra a vida;
ternacional dos Direitos dos Animais, mas 8. A poluição e a destruição do meio ambiente são
proclamada um ano depois pela Organiza- consideradas crimes contra os animais;
ção das Nações Unidas para a Educação, a Ciência 9. Os direitos dos animais devem ser defendidos por lei;
e a Cultura (Unesco), órgão da ONU. No entanto, 10. Os humanos devem ser educados para observar,
todos os dias vemos registros em vídeos nas mídias respeitar e compreender os animais desde a infância.
sociais o quanto existem pessoas cruéis, que mal-
tratam e abandonam seus animais de estimação. No Brasil, a Lei de Crimes Ambientais estabelece que
A liberdade, a integridade física e, sobretudo, a vida quem comete maus-tratos (abusos, mutilações e feri-
estão entre os direitos dos animais declarados neste mentos) a animais pode sofrer detenção de três meses
documento, assim como ocorre com os humanos. De a um ano e multa. Além disso, pode haver um aumento
acordo com várias correntes do movimento em defesa de um sexto a um terço caso o animal venha a óbito.
dos pets, humanos e bichos são iguais quando se trata Em 2020, a Lei nº 14.064 aumentou as penas de
de sensibilidade à dor e ao sofrimento psíquico. maus-tratos a animais domésticos, como cães e gatos,
Vale destacar, aqui, para que todos lembrem, os de dois a cinco anos de reclusão. No entanto, com a
dez direitos dos animais: revisão da lei, entram em vigor punições para crimes
1. Todos os animais têm o mesmo direito à vida; contra a fauna e os animais selvagens no geral.
2. Todos os animais têm direito ao respeito e à pro- No entanto, não adianta leis serem escritas e nós
teção dos humanos; presenciamos atos de violência contra os animais e
3. Nenhum animal deve ser maltratado; ficarmos de braços cruzados. Há três maneiras de
4. Todos os animais selvagens têm o direito de viver denunciar: ou pela delegacia de polícia próxima a
livremente em seu habitat; você, ou pela central de denúncias do Ibama (0800
5. O animal que o humano escolher para companheiro 61 80 80) e no Estado de São Paulo pelo Disque De-
nunca deve ser abandonado; núncia Animal (0800-600-6428).
6. Nenhum animal deve ser usado em experiências Vamos, cada um de nós, juntos, fazermos a nossa
que causem dor; parte e proteger os nossos animais! ◘

José Luiz Tejon é jornalista, publicitário, mestre em Arte e Cultura com especializações em Harvard, MIT e Insead e Doutor em
Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai. Conselheiro do CCAS - Conselho Científico Agro Sustentável; Colunista da
Rede Jovem Pan, autor e coautor de 34 livros. Coordenador acadêmico de Master Science em Food & Agribusiness Management
pela AUDENCIA em Nantes/França e Fecap e professor na FGV In Company. Presidente da TCA International e Diretor da agência
Biomarketing. Ex-diretor do Grupo Estadão, da Agroceres e da Jacto S/A. Ana Purchio é jornalista, pós-graduada em mídias sociais
pelo Senac. Trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, na Agência Estado, na Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG) e atual-
mente é assessora de imprensa da TCA Internacional e Assessora de Comunicação da Convergência Comunicação Estratégica.

22 • cãesegatos.com.br
Julho / 2022 • 23
B O L E T I M P A U L I S TA

w w w. c r m vs p . g ov. b r

CERTIFICAÇÃO DE CURSOS PROFISSIONAIS DE DESTAQUE 2022


Nova resolução estabelece Homenagens foram para as áreas de
critérios de qualidade Educação, Empreendedorismo e Zootecnia
para instituições de EM CERIMÔNIA realizada na sede do CR- filho do homenageado, o médico-veteriná-
ensino superior MV-SP, profissionais de destaque em Medi- rio Alexandre Benesi. O contemplado pelo
cina Veterinária e Zootecnia de 2022 foram Prêmio Renê Corrêa (Categoria Empreen-
O CRMV-SP aprovou resolução que institui
laureados. A premiação visa reconhecer dedor) foi o médico-veterinário e zootec-
o Sistema de Certificação de Cursos de Gra-
aqueles que, com seus trabalhos, inspiram e nista Alexandre Rossi, o Dr. Pet, membro da
duação em Medicina Veterinária no Estado
prestam relevantes serviços ao País em suas Comissão Técnica de Bem-estar Animal. O
de São Paulo. A certificação será voluntária
áreas de atuação. O Prêmio Walter Maurício terceiro homenageado foi o zootecnista Luiz
e ocorrerá em três níveis: bronze, prata e
Corrêa (Categoria Educação em Medicina Marques da Silva Ayroza, que já atuou como
ouro, com validade de três, quatro e cinco
Veterinária), outorgado in memoriam ao diretordoInstitutodePescaedoInstitutode
anos, respectivamente. O processo de ava-
Prof. Dr. Fernando José Benesi, docente da Zootecnia. O profissional recebeu o Prêmio
liação será realizado conforme edital a ser
Universidade de São Paulo, foi entregue ao Luiz Alberto Fries (Categoria Zootecnia).
publicado no primeiro semestre de 2023 e
os requisitos de habilitação estabelecidos
pela Resolução CRMV-SP 2.994/2022. Para
certificação no nível bronze, será exigido o NOVIDADES NA FISCALIZAÇÃO
conceito máximo em, pelo menos, 70% dos Fiscais passam a realizar abordagem
indicadores do Instrumento de Avaliação;
no nível prata, 80%; e no nível ouro, 90%.
mais técnica e orientativa junto aos profissionais
As avaliações serão feitas a partir das PRINCIPAL função do CRMV-SP, a fiscaliza- mos de orientação foram elaborados. Com
dimensões relacionadas à organização ção fechou 2022 com um balanço positivo. a medida, percebe-se um retorno positivo
didático-pedagógica, corpo docente e Foram 5.157 inspeções que motivaram a re- por parte dos fiscalizados, que têm demons-
técnico-administrativo, e infraestrutura. gularização de 822 empresas inscritas e 64 trado interesse em se regularizar para aten-
O edital para o primeiro ciclo de avaliação estabelecimentos que antes não possuíam der melhor o cliente. Outra inovação que se-
deverá ser lançado durante o II Encontro de registro ou responsável técnico homologa- rá colocada em prática em 2023 é a pesqui-
Coordenadores de Curso em Medicina Ve- do. O conceito e as métricas do setor foram sa de satisfação, que ajudará os fiscais a ob-
terinária do Estado de São Paulo, a ser rea- alterados após análise da Comissão Esta- ter dados e até a detectar problemas que no
lizado na capital paulista, no dia 28 de abril. dual de Fiscalização, quando os fiscais pas- momentonãosãoperceptíveis.Apartirdes-
saram a realizar uma abordagem mais téc- temês,dezfiscais, aprovados recentemente
nica e orientativa junto aos auditados, em es- em concurso, devem iniciar suas funçõesna
pecial no que se refere à Resolução CFMV nº sede e em cinco Unidades Regionais de Fis-
ANUIDADE 2023 1.275/2019. Como resultado, mais de 700 ter- calização e Atendimento (Urfas).

Guias deverão
ser emitidas por meio
ESCOLHA ACADÊMICA
da SIG CRMV-SP, na
Plataforma do Regional Projeto apresenta requisitos
que devem ser observados
A PARTIR deste ano, os boletos da anui-
dade de profissionais e estabelecimentos
no momento de escolher a faculdade
registrados no CRMV-SP serão emitidos VISANDO auxiliar os futuros profis- didática e ilustrativa, sete requisitos
somente no formato on-line, por meio sionais interessados em ingressar na básicos que devem ser observados no
da SIG CRMV-SP. Com a mudança, médi- graduação em Medicina Veterinária, o momento da escolha acadêmica, como
cos-veterinários e zootecnistas ganham CRMV-SP lançou a campanha ‘Melhor matriz curricular, índices de avalia-
mais autonomia ao acessar o boleto de Escolha’. A iniciativa pretende apoiar ção do curso, corpo docente, visita a
qualquer celular, tablet ou computador e estudantes e demais cidadãos na es- faculdade, infraestrutura, conversa
ter a opção de copiar o código de barras colha de uma boa instituição de ensino com veteranos, e registro no Conse-
para pagamento on-line por meio de seu superior. O projeto apresenta, de forma lho Regional de Medicina Veterinária
internet banking. Também poderá impri- (CRMV). A campanha é apresentada
mir o boleto para quitação em casa lotérica em formato de vídeo e em peças de
ou instituição bancária. A medida diminui opções para pagamento, com descontos redes sociais. A iniciativa tem como
gastos elevados com o envio de correspon- que vão de 5% a 15%. Já a anuidade de embaixador o médico-veterinário e
dências e contribui com o meio ambiente. empresas dependerá do enquadramento zootecnista Alexandre Rossi. Todos
O valor da anuidade de pessoa física e de do estabelecimento e faixa de capital. Para os materiais da campanha estão
microempreendedor individual será de R$ mais informações, acesse: www.crmvsp. disponíveis na Plataforma CRMV-SP.
588,00 e será possível contar com cinco gov.br/saiba-quais-as-taxas-praticadas/

24 • caesegatos.com.br
Junho / 2022 • 25
C A PA / Z O O N O S E

26 • caesegatos.com.br
CONTROLE DA LEISHMANIOSE VISCERAL É FUNDAMENTAL
PARA EVITAR SOFRIMENTO DE ANIMAIS E DIMINUIR A
MORBIMORTALIDADE EM HUMANOS
› CL ÁUDIA GUIMAR ÃES, DA RE DAÇÃO
claudia@ciasullieditores.com.br

E
la pode ser chamada de leishmanio- do parasito ao homem e a outros animais. Os
se visceral (LV) ou calazar, tanto faz. insetos picam, preferencialmente, ao anoitecer,
O que não é diferenciado e nem pode durante a noite e ao amanhecer. Durante o dia,
ser menosprezado é seu potencial. em ambiente natural, os insetos permanecem
Relembrando, a doença pode ser em abrigos, como troncos de árvores, no interior
causada por protozoários parasi- de cavernas, dentro de tocas de animais, em
tos de duas espécies: Leishmania frestas de rochas e, em áreas modificadas pelo
infantum e L. donovani. homem; podem, ainda, ser encontrados nas pa-
Conversamos com o biólogo, professor as- redes internas e externas das casas ou próximo
sociado III, do Departamento de Microbiologia à vegetação, sob material acumulado nos quin-
e Parasitologia, da Universidade Federal do Rio tais e em abrigos de animais, como galinheiro,
Grande do Norte (UFRN), vice-coordenador do chiqueiro, canil, estábulo e curral”, menciona.
Programa de Pós-Graduação em Biologia Para- O inseto, segundo Guedes, é bem adaptado
sitária da UFRN, Paulo Marcos da Matta Guedes, ao ambiente urbano e periurbano e possui ampla
e ele explica que, no Brasil, o parasito causador distribuição geográfica, sendo que sua ocorrência
da LV é a L. infantum, que também pode ser cha- já foi descrita em 25 dos 27 Estados brasileiros.
mada de L. chagasi (sinônimo). “A L. infantum é “Somente não foi descrito, ainda, no Estado do
encontrada parasitando, principalmente, ma- Amazonas e em Santa Catarina. A LV, atualmente,
crófagos, que são células de defesa do sistema é uma doença urbana: 75% dos casos ocorrem em
imunológico, parasitando, portanto, órgãos que ambiente urbano e 25% em ambiente rural”, revela.
apresentam abundância dessas células como:
fígado, baço, medula óssea e linfonodos”, cita. TRANSMISSÃO E PRIMEIROS SINAIS
Como sabemos, a principal forma de Para definir o papel do cão na transmissão
transmissão do parasito é por meio da picada da LV para outros animais, inclusive para
de fêmeas de insetos, conhecidos como flebo- humanos, na visão de Paulo Guedes, é preci-
tomíneos, que podem parecer mosquitos, mas so, primeiramente, compreender o ciclo de
não são! “No Brasil, o Lutzomyia longipalpis é transmissão epidemiológico da L. infantum.
o principal inseto envolvido na transmissão “Vale ressaltar que da mesma forma que

Fotos: banco de imagens e C&GVF Janeiro / 2023 • 27


C A PA / Z O O N O S E

humanos, cães também são vítimas de peso, pancitopenia, hipoalbu-


da infecção pelo parasito e também minemia, hipergamaglobulinemia,
sofrem com a LV ou calazar”, frisa. linfadenopatia, anemia, esplenome-
Ele diz que, em áreas urbanas e galia e hepatomegalia, caquexia e
periurbanas, o cão doméstico é consi- óbito se não forem tratados”, explica.
derado o principal animal reservatório No caso dos cães, o profissional cita
de L. infantum. “A doença em cães, que, após a picada pelo inseto e infec-
usualmente, precede o surgimento de ção por L. infantum, também existirá
casos em humanos, sendo mais pre- o período de incubação, que, normal-
valente que a doença humana. O cão mente, varia entre três a sete meses,
apresenta elevado parasitismo cutâneo mas pode variar entre três meses a
de L. infantum sendo boa fonte de in- três anos. “De 25% a 80% dos animais
fecção para os flebotomíneos, diferente podem permanecer assintomáticos,
de humanos e outros mamíferos, que a depender de fatores do parasito e
apresentam parasitismo cutâneo baixo hospedeiro. Podemos dizer que em
ou ausente, não sendo eficientes em áreas endêmicas no Brasil, em torno de
infectar o inseto durante a alimentação 50% dos animais são assintomáticos e
sanguínea. Os cães são considerados outros 50% apresentam sintomatologia
reservatórios eficientes de L. infan-
DE 25% A 80% clínica. Clinicamente, os cães podem ser
tum, devido à alta susceptibilidade à DOS ANIMAIS divididos em três grupos: assintomáti-
infecção, à proximidade com os seres PODEM PER- cos; oligossintomáticos, apresentam
humanos, favorecendo a manutenção adenite, perda de peso leve e pelo opa-
do ciclo de transmissão doméstico, e ao
MANECER ASSINTOMÁ- co; e sintomáticos, podem apresentar
intenso parasitismo cutâneo”, discorre. TICOS, A DEPENDER DE dermatite furfurácea, onicogrifose
Diversos mamíferos são encon- FATORES DO PARASITO (crescimento das unhas), ceratocon-
trados infectados com L. infantum, juntivite, febre, diarreia, coriza, apatia,
E HOSPEDEIRO
segundo Guedes, incluindo mamíferos hemorragia intestinal, atrofia muscu-
silvestres, domésticos e sinantrópi- PAULO GUEDES, BIÓLOGO E PROFESSOR lar com paresia das patas posteriores,
cos, os quais abrangem espécies de ASSOCIADO III, DO DEPARTAMENTO DE lesões cutâneas, anorexia, perda de
canídeos (raposa, cão), felinos (gato MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA DA UFRN peso, caquexia e morte”, diferencia.
doméstico), equídeos (cavalos), mar- O médico-veterinário, professor,
supiais (gambá), quirópteros (mor- infecção para os flebotomíneos e, pesquisador e clínico, Vitor Márcio
cegos), bovinos, roedores e primatas indiretamente, para o homem”, define. Ribeiro também adiciona que, atual-
(macacos). “Entretanto, nem todas Em relação aos sintomas, já que mente, os cães são classificados clini-
essas espécies agem como fontes de se trata de uma zoonose, ou seja, a camente conforme seu estadiamento
infecção para vetores e amplificação doença é transmitida de animais para físico e laboratorial, indo do Estádio I
de focos enzoóticos, sendo necessários humanos, Paulo Guedes conta que, ao Estádio V, conforme as alterações
estudos para melhor compreensão após a picada do inseto (flebotomíneo) apresentadas. Além disso, aponta que
de sistemas reservatórios e do papel e infecção de humanos, os indivíduos alterações gastroentéricas, no sistema
desempenhado por cada espécie de apresentam um período de incubação, renal, vasculites e, não raramente,
mamífero na manutenção dos para- sem a presença de sintomatologia, alterações ortopédicas e neurológicas;
sitos na natureza”, analisa. que dura, normalmente, de dois a quadros de anemia não regenerativa e/
A partir deste contexto, Guedes quatro meses, mas pode variar de duas ou imunomediada com trombocitopa-
defende que considerar os cães como semanas a dois anos, dependendo de tia também são referenciados.
responsáveis exclusivos pela manu- características do parasito (genética,
tenção da endemia de LV diminui as virulência, tamanho do inóculo) e do EM BUSCA DO
possibilidades de sucesso no controle hospedeiro (resposta imunológica, CONTROLE DA DOENÇA
epidemiológico, pois outros mamífe- estado nutricional, infecção por HIV, Paulo Guedes está envolvido em uma
ros podem atuar como possíveis reser- idade, genética). “A maioria dos indi- nova estratégia de controle para LV,
vatórios. “A condição de reservatório víduos infectados (aproximadamente investigada por um grupo de pesquisa
é dinâmica, variando em diferentes 80-90%) é assintomática ou apre- na UFRN. Esse estudo envolve a avalia-
ambientes e ao decorrer do tempo, e senta poucos sintomas, como febre ção do tratamento de cães em áreas
apenas um estudo local da enzootia irregular ou linfonodos infartados. endêmicas com isoxazolinas. “O flura-
poderia definir a participação ou Aproximadamente, 10% dos indivíduos laner (Bravecto), sarolaner (Simparic),
não de determinadas espécies como infectados poderão desenvolver a afoxolaner (NexGard) e lotilaner (Cre-
potenciais reservatórios. Contudo, doença clássica, chamados de sin- deli) pertencem a essa classe de fár-
o cão é um reservatório doméstico tomáticos, com desenvolvimento de macos com ação inseticida e acaricida,
importante do parasito e fonte de febre irregular e intermitente, perda que atuam inibindo o sistema nervoso

28 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação


(Bravecto) não evitaria a infecção do
animal, já que flebotomíneos infecta-
dos podem sugar o sangue do animal e
transmitir o parasito. Porém, o inseto
morreria após se alimentar do sangue
do cão, evitando transmitir o parasito
a outros animais. Seria uma medida
de profilaxia em saúde pública e não
de proteção individual do animal.
Essa medida de saúde pública deve
envolver a distribuição pelo Governo e
tratamento de todos os cães de áreas
endêmicas, evitando a infecção do
vetor, de outros animais e, consequen-
temente, a humana”, propõe.
Vitor Ribeiro reforça que, além
dessa nova estratégia apresentada por
de artrópodes. Essa classe atua sob Guedes, outras medidas são necessárias
[A EHRLICHIOSE para o controle da expansão dessa infec-
os canais de cloreto acoplados ao
ácido gama aminobutírico (GABACls) E A BABESIOSE] ção. “De maneira rápida, podemos dizer
e canais acoplados ao L-glutamato SÃO DOENÇAS que, por meio do controle do vetor (Lu.
longipalpis), tratamento dos humanos
(GluCls), apresentando alta seletivi- TAMBÉM TRANSMITIDAS e animais infectados. Porém, essas
dade para neurônios de insetos sobre
neurônios de mamíferos”, elucida. POR VETORES E QUE TÊM medidas são de difícil implantação, pois
Ele compartilha que o grupo de UM DIAGNÓSTICO NEM exigem recursos, muitas vezes, não dis-
poníveis pelas entidades governamen-
pesquisa escolheu o composto flurala- SEMPRE FÁCIL. TAMBÉM
ner (Bravecto) para avaliar a atividade tais. Fato é que muito se tem buscado
inseticida contra Lu. longipalpis por
LEVAM A ALTERAÇÕES na direção das formas de controle e,
apresentar o período de ação mais SEMELHANTES ÀS DA hoje em dia, tem aumentado o conhe-
prolongado contra pulgas e carrapa- LEISHMANIOSE cimento da sociedade sobre a doença
tos após a administração em cães: 12 e suas formas de prevenção”, avalia.
semanas. “Inicialmente, nós tratamos
VISCERAL Mas, como conscientização nunca
cães com dose oral única de fluralaner VITOR RIBEIRO, é demais, Ribeiro declara que a po-
(Bravecto) e submetemos os animais a MÉDICO-VETERINÁRIO E PESQUISADOR pulação deve receber programas de
repasto sanguíneo com fêmeas Lu. lon- educação em saúde, que conscientizem
gipalpis não infectadas. Observamos sobre a posse responsável de animais
que houve 100% de mortalidade dos manos pelo parasito. “Essa medida de estimação. “Podemos dizer que a so-
insetos transmissores de L. infantum de controle poderia ser associada a ciedade tem grande parcela de respon-
após alimentação sanguínea até cinco outras já existentes, como vigilância sabilidade na grande população de cães
meses após o tratamento dos cães. entomológica e utilização de inseticida abandonados e vítimas da infecção por
Além disso, no sexto mês, 72% dos in- no peridomicílio e domicílio, utiliza- Leishmania. Precisamos produzir leis
setos morreram. Esses dados indicam ção de coleiras com ação repelente, que ajudem o cidadão a cuidar bem
que poderíamos fazer o tratamento soroepidemiologia canina com remo- dos animais. Também precisamos
de cães com fluralaner (Bravecto) em ção de animais infectados e manejo de leis que ajudem as autoridades a
área endêmica de LV a cada cinco ou ambiental (limpeza do ambiente e servir a sociedade e aos animais com
seis meses, na tentativa de reduzir saneamento básico)”, sugere. respeito e responsabilidade”, opina.
a população do inseto transmissor, Guedes explica que o fluralaner
sua infecção pelo parasito, a taxa de (Bravecto) também poderia ser uti- PANORAMA BRASILEIRO
infecção canina e, consequentemente, lizado em cães que foram tratados No Brasil, Paulo Guedes declara que,
a taxa de infecção humana”, observa. com miltefosina (Milteforan) para no ano de 2021, foram notificados 1683
Esse, inclusive, é o próximo passo evitar infecção de outros animais e casos clínicos humanos. “Esse número
da pesquisa na qual Guedes está en- humanos, já que o tratamento de cães pode estar subestimado devido à so-
volvido: tratar cães de área endêmica com miltefosina não induz cura para- brecarga gerada no sistema de saúde
para LV no RN e verificar se ocorre sitológica, apenas cura clínica, ou seja, pela pandemia da Covid-19. Se obser-
diminuição da população de Lu. lon- o animal continua infectado, reduz o varmos a série histórica, nos últimos
gipalpis e diminuição da infecção por parasitismo, mas ainda é reservatório 20 anos, percebemos que existem,
L. infantum dos insetos e, também, de L. infantum. “Ressalto, aqui, que o aproximadamente, 3 mil casos clínicos
redução da infecção de cães e hu- tratamento de cães com fluralaner por ano. Deve ser ressaltado que

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C A PA / Z O O N O S E

os casos de infecção humana relatados são refe- do vetor e implementação de outras estratégias
rentes a pacientes com manifestações clínicas, de controle associadas às já existentes”, avalia.
que equivalem entre 10-20% do total de casos Alguns fatores, como reforçado por Guedes,
humanos. Dessa forma, poderíamos ter em torno contribuem para disseminação da LV: “Não existe
de 15 mil novos casos humanos por ano no Brasil. vacina que proteja de maneira eficiente cães e
Em áreas endêmicas, a infecção de cães por L. humanos contra infecção por L. infantum, os mé-
infantum ocorre de forma generalizada com soro- todos de diagnóstico existentes apresentam baixa
prevalência variando, normalmente, de 5% a 40%. acurácia (sensibilidade e especificidade), os medi-
O profissional revela que os órgãos de saúde camentos disponíveis no mercado para tratamen-
pública vêm adotando medidas de controle em to de pacientes (como antimoniais pentavalentes,
todo o País que visam reduzir a transmissão anfotericina B, pentamidina) e cães (miltefosina)
e a morbimortalidade em humanos. “O pro- não geram cura parasitológica em pacientes e
grama brasileiro de vigilância e controle da LV animais, apenas cura clínica (somente da doen-
recomenda o diagnóstico e tratamento precoce ça). Assim, uma vez infectados por L. infantum,
dos casos humanos; vigilância entomológica e animais e humanos permanecem infectados pelo
redução da população de flebotomíneos, com a resto da vida se tratados com os medicamentos
utilização de inseticida para combater a forma disponíveis no mercado atualmente”, salienta.
adulta do vetor; triagem sorológica periódica de Vitor Ribeiro nota um avanço contínuo na
cães em áreas endêmicas, seguida da retirada área do controle da LV no Brasil. “Cito como
e eutanásia dos sororreagentes; atividades de exemplo o lançamento de campanhas educati-
educação em saúde sobre LV direcionadas à vas junto aos centros de controle de zoonoses
comunidade e aos profissionais de saúde. “O estendidas à população, o programa de encolei-
manejo ambiental também é importante, com ramento de cães para proteção das picadas dos
a retirada de matéria orgânica acumulada em vetores e os programas de esterilização dos ani-
quintais e terrenos, bem como o saneamento mais são sinais desses avanços, entre outros”.
básico, pois a presença de esgoto e matéria Guedes ressalta que, em 2021, foi publicada
orgânica são ideais para desenvolvimento de portaria do Ministério da Saúde visando testar
larvas de flebotomíneos no solo. Medidas de coleiras caninas impregnadas com deltame-
proteção individual também são de grande valia, trina (Scalibor) em municípios considerados
como a utilização de repelentes, e mosquiteiros com alta transmissão do parasito a partir de
em portas e janelas também podem auxiliar no 2022. “A implementação de novas medidas
controle da infecção humana”, elenca. para o controle de maneira integrada com
Guedes aponta que, mais recentemente, outras estratégias já utilizadas, envolvendo
em 2022, com suporte do Ministério da Saúde, a sociedade e os agentes de saúde, pode ser
foi testado o uso de coleiras repelentes à base o caminho para redução do número de casos
de deltametrina (Scalibor) em cães de cidades de LV canina e humana no Brasil”, pondera.
com alta transmissão de L. infantum e elevado
número de casos de LV canina e humana. “Des- MAIS DE UM PROBLEMA
taca-se que as medidas de controle devem ser Se um cão diagnosticado com leishmaniose se
utilizadas de maneira integrada, de modo que torna um paciente que requer todas as atenções
uma complemente a ação das outras. Também possíveis do médico-veterinário, imagina
seria importante o desenvolvimento de: vacina
contra LV eficaz, que impedisse a infecção canina
e humana; métodos diagnósticos com melhor
acurácia e medicamentos que induzam cura
ACREDITO
parasitológica em humanos e animais, até o QUE [O
momento não disponíveis no mercado”, destaca. LEISHSCAN]
Por outro lado, Guedes acredita que as polí-
ticas públicas voltadas para o controle da LV no
VAI AUXILIAR NÃO SÓ
Brasil existem, embora, nos últimos anos, houve O MÉDICO-VETERINÁ-
redução de investimento público e consequente RIO, MAS, TAMBÉM,
redução das medidas profiláticas. “Tem sido
OS TUTORES COM
observado, por exemplo, redução do grupo de
agentes de endemias envolvidos no controle da ANIMAIS POSITIVOS
LV, impossibilitando a realização de soroepide-
FÁBIO NOGUEIRA, MÉDICO-VETERINÁRIO,
miologia canina, monitoramento e combate ao PRESIDENTE DO BRASILEISH,
principal vetor Lu. longipalpis, manejo ambiental GRUPO DE ESTUDOS EM LEISHMANIOSE,
para impedir desenvolvimento do ciclo de vida E CRIADOR DO APP

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C A PA / Z O O N O S E

só se esse animal possui outros


problemas de saúde? Vitor Ri-
beiro comenta que há casos em
que cães com a doença também
são acometidos por outras enfer-
midades, como a ehrlichiose e a
babesiose. “São doenças também
transmitidas por vetores e que têm
um diagnóstico nem sempre fácil.
Também levam a alterações seme-
lhantes às da LV, por isso, temos
que buscar conhecimentos em
diferenciá-las e diagnosticá-las,
pois sua coexistência em cães com
LV vai dificultar a cura. Ao mesmo
tempo, o seu diagnóstico incorreto
pode atrasar o tratamento da LV e
piorar o estado do paciente”, alerta.
Para o veterinário saber se MAIS UMA APOSTA
o paciente está apresentando
melhora clínica da leishmaniose
caso também esteja acometido
NO COMBATE À DOENÇA
pela ehrlichiose ou babesiose, DEPOIS de muitas palestras sobre o O profissional revela que vem tra-
Ribeiro destaca que é crucial o tratamento, prevenção e manejo da balhando e desenvolvendo o Leishscan
acompanhamento por meio da LV, o médico-veterinário, pesquisador há três anos, observando as maiores
condição física do paciente e de e atual presidente do Brasileish, grupo dificuldades dos colegas e dos tutores.
exames laboratoriais. “As coinfec- de estudos em Leishmaniose Animal e O aplicativo será lançado em janeiro
ções são comuns. Principalmente, pesquisador, Fábio dos Santos Noguei- de 2023 e estará disponível para do-
pela Ehrlichia canis e pela Babesia ra, percebeu que a grande dificuldade wnload para Android e iOS. Todos que
vogeli. Entretanto, temos outros do clínico é o manejo e o monitora- trabalham com a leishmaniose, médi-
agentes que podem estar presen- mento dos animais em tratamento. cos-veterinários, tutores, empresas e
tes e gerar doença nos cães, como “Qual fármaco utilizar? Até quando? até o Ministério da Saúde podem fazer
Anaplasma sp.; Trypanosoma Como acompanhar o tratamento? Com uso dessa ferramenta, pois teremos
sp.; Hepatozoon canis; Rangelia quais exames? Então, desenvolvi um a geolocalização e saberemos onde a
vitalli, entre outros”, elenca. aplicativo chamado Leishscan, que é o doença está mais prevalente”, indica.
Nestes casos, o pesquisador primeiro e único aplicativo de monito- Fábio Nogueira declara que sempre
afirma que cabe ao médico-veteri- ramento dos animais em tratamento. E fala em suas palestras que, quando o
nário adequar e priorizar as drogas acredito que vai auxiliar não só o médi- assunto é leishmaniose, tudo é muito
a serem utilizadas em um cão com co-veterinário, mas, também, os tuto- complicado. “A infecção depende da
coinfecção. “Muitas vezes, o tra- res com animais positivos”, considera. resposta imunológica do paciente, ca-
tamento é feito por etapas e isso Nogueira descreve que, neste apli- da animal se comporta de uma forma
requer conhecimento na interpre- cativo, o veterinário poderá realizar, e apresenta diversas manifestações
tação dos sinais das doenças, que de forma interativa, o estadiamento clínicas, o diagnóstico nem sempre é
permitirá a escolha dos melhores dos animais, realizar o escore clínico conclusivo e as formas de proteção são
protocolos de tratamento”, revela. de acompanhamento, registrar os variáveis. Assim, acredito que unindo
Vitor Ribeiro salienta que a resultados de exames laboratoriais e tutor, médico-veterinário, empresa e
mais importante questão é en- compartilhar com os tutores por meio tecnologia, conseguiremos auxiliar o
tender que estamos sempre em de um QR Code que comunica o celu- seu controle”, confia o profissional que
evolução. “As pesquisas e a prática lar do veterinário com o responsável ainda adiciona: “A leishmaniose faz
médica nos ensinam a melhor pelo animal. “Outro ponto bastante parte da minha vida e busco, incessan-
diagnosticar, tratar e controlar interessante e útil é o lembrete de temente, melhores condições para os
doenças como a LV. Não podemos retornos, troca de coleiras e retorno animais, tutores e colegas. Foi assim,
nos esquecer que, para a doença de vacinação, contribuindo, assim, conduzindo o estudo do Milteforan e,
nos seres humanos, o combate à com o controle da doença. E outros agora, realizando diversas pesquisas
pobreza e à fome é uma das mais, botões que foram criados, sempre com novos fármacos leishmanicidas,
senão a mais importante medida fazendo referência à leishmaniose. É imunoterápicos, vacinas e colares
de combate à LV e a tantas outras a tecnologia a serviço da Medicina Ve- repelentes e inseticidas. Estamos
doenças zoonóticas”, analisa. terinária e da leishmaniose”, resume. avançando!”, garante. ◘

32 • caesegatos.com.br
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CLÍNICA MÉDICA / DIAGNÓSTICO

UM,
O OUTRO
OU SDMA OU UREIA E CREATININA:
QUAL EXAME É MAIS INDICADO PARA O

TODOS?!
ESTADIAMENTO DA DOENÇA RENAL EM PETS?

› STHEFANY LARA, DA REDAÇÃO

V
sthefany@ciasullieditores.com.br

ocê já se perguntou qual o exame ou da perda de massa magra (p.ex: caquexia,


é melhor: o SDMA ou ureia e crea- hipertireoidismo), como a creatinina, o que a
tinina diante de uma suspeita de tornaria um biomarcador mais específico da
doença renal? Existem diferenças função renal. Porém, os estudos sobre essa mo-
entre eles e quando é melhor lécula na Medicina Veterinária ainda são muito
solicitar um ou outro, ou ainda, os dois? O mé- iniciais e mais investigações sobre possíveis
dico-veterinário patologista clínico veterinário influências ainda devem ser realizadas”, afirma.
do Lab Animal, Thiago Augusto Fernandes
Costa Ferreira, explica que a diferença mais DÁ PARA CONFIAR?
relevante entre as dosagens de SDMA e de ureia Diante do resultado dos exames, é possível
e creatinina e que estudos atuais dão conta ter confiança no que é mostrado no laudo?
é a de que a primeira apresenta aumento de De acordo com Ferreira, sim. “Tanto SDMA
sua concentração sérica quando há perda de quanto creatinina são confiáveis e aceitas
cerca de 40% da Taxa de Filtração Glomerular atualmente pelo International Renal Interest
(TFG), em comparação com os cerca de 75% da Society (IRIS) para triagem e estadiamento
segunda. Isso permitiria uma intervenção mais das doenças renais aguda e crônica, desde
precoce para retardar o avanço da doença renal. que sejam considerados os fatores que in-
“Outra diferença é a de que a SDMA não fluenciam no resultado destes exames”, afirma
sofreria influência de dietas ricas em pro- e completa que a ureia deve ser avaliada com
teínas, processos que levem ao catabolismo mais cautela, pois outros órgãos e processos,
proteico (p.ex. febre, jejum prolongado, sepse, além dos renais, influenciam em sua concen-
entre outros), hemorragias gastrointestinais, tração. “Entretanto, ainda pode agregar infor-
e alterações da função hepática, como a ureia, mações relevantes sobre o quadro do paciente”.

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Ela comenta, ainda, que a SDMA estágio 2, mas SDMA para ser classifi-
pode ser utilizada como um teste de cado como estágio 3, ele deve receber
triagem para pacientes com risco tratamento de estágio 3”, detalha.

RELEM-
de desenvolver doença renal (p.ex. O médico-veterinário comenta que
pacientes geriátricos ou de raças com é necessário repetir o exame de SDMA,

BRANDO!
predisposição) ou estar em seus está- como se faz com a creatinina, para
gios iniciais com uma maior possibili- confirmar a doença renal. “Em caso de
dade de detecção de alteração do que concentração aumentada de SDMA
outros exames. “Contudo, a SDMA não sem outros sinais clínicos de disfun-
O QUE SERIA O SDMA? deve ser utilizada como ção renal, recomenda-se
Segundo Ferreira, A Dimeti- único critério para con- repetir o exame entre
larginina Simétrica (SDMA, da firmar ou descartar um duas e quatro semanas
sigla em inglês) é um subpro- diagnóstico. Em estágios para a confirmação do
duto natural do metabolismo mais avançados da doen- resultado. Se a concentra-
proteico intranuclear de todas ça renal, a creatinina tem ção se mantiver aumen-
as células do organismo e, devi- um papel mais relevante tada, deve-se proceder
do a seu baixo peso molecular e para o estadiamento e com uma avaliação com-
carga positiva, é filtrada livre- definição da conduta pleta do sistema urinário”.
mente pelos glomérulos renais. a ser tomada pelo clínico”, afirma. Por fim, ele afirma que, atual-
“Essa característica a torna um Ainda sobre a SDMA, Ferreira afir- mente, a SDMA tem se mostrado com
importante biomarcador da ma que, mesmo sendo aparentemen- um ótimo potencial para auxiliar no
função renal, visto que sua pro- te mais sensível para o diagnóstico diagnóstico e em um tratamento com
dução é constante, 90% de sua precoce de uma doença renal, nem melhores resultados para a qualidade
concentração é eliminada pelos ela nem outros testes para este fim de vida dos pacientes veterinários.
rins, sua concentração sérica é devem ser avaliados isoladamente. “Mas ainda são necessários mais estu-
inversamente proporcional à “Deve-se interpretá-la em conjunto dos para verificar quais limitações esse
TFG e positivamente correla- com o histórico, exame físico, ultras- novo teste ainda pode ter nas espécies
cionada com a concentração de sonografia, pressão arterial e outros com as quais trabalhamos”, finaliza. ◘
creatinina sérica”, diz. exames laboratoriais, tais como as
próprias ureia e creatinina, hemogra-
E A UREIA E CREATININA? ma, dosagens de eletrólitos, albumina
Ainda segundo ele, a ureia é uma sérica, urinálise completa e relação
molécula produzida pelo meta- proteína urinária: creatinina urinária”.
bolismo hepático de aminoáci-
dos e da amônia e é a principal SDMA NO ESTADIAMENTO
forma de eliminação de nitrogê- DA DOENÇA RENAL Thiago Augusto
nio nas espécies animais. “Por Ferreira conta que, nas recomenda- Fernandes
Costa Ferreira é
ter baixo peso molecular, tam- ções de 2019 da IRIS, a SDMA é utili- médico-veterinário
bém é filtrada livremente pelos zada em conjunto com a creatinina patologista clínico
glomérulos. Ela pode sofrer para o estadiamento da doença renal veterinário do
reabsorção passiva nos túbulos crônica. “A depender dos aumentos Lab Animal
proximais e ativa nos túbulos de cada, o paciente é classificado em
coletores. Uma porção da ureia um estágio de 1 a 4. Chama atenção
é excretada pelas glândulas sa- que a SDMA se torna um critério
livares e pode ser degradada em para a classificação do paciente
amônia por bactérias do trato para o estágio 1, mesmo com a con-
gastrointestinal, podendo esta centração de creatinina dentro dos
ser reabsorvida e reconvertida valores de referência das espécies.
em ureia pelo fígado. A creati- E, quando há um aumento maior e
nina é um produto da degra- persistente da concentração de SDMA
dação da creatina e creatina que não condiz com o estadiamento
fosfato, moléculas com função de acordo com a concentração da
de armazenamento de ener- creatinina, a IRIS recomenda que o
gia em músculo esquelético. paciente seja tratado como em um
Sua produção é relativamente estágio acima do que seria indicado
constante e é livremente filtra- pela concentração de creatinina.
da pelos glomérulos sem sofrer Por exemplo, se o animal apresenta
reabsorção”, conta. creatinina para ser classificado como

Janeiro / 2023 • 35
ESPECIALIDADE / TRIAG E M

PRIORI-
DADE
AO ATEN-
DER
NA EMERGÊNCIA, A UTILIZAÇÃO DE
ESCORE DE TRIAGEM FACILITA AO
ESTABELECER ORDEM AOS ATENDIMENTOS
E EVITA QUE OS ANIMAIS NÃO SEJAM
ATENDIDOS A TEMPO

› STHEFANY LARA, DA REDAÇÃO


sthefany@ciasullieditores.com.br

A
chegada de um animal à emer-
gência pode gerar dúvidas em
relação aos procedimentos
a se seguir, como por exem-
plo: é um animal que, de fato,
precisa ser atendido rapidamente? O caso
pode aguardar alguns minutos? Como é rea-
lizada a classificação do estado do animal?
Segundo a médica-veterinária intensivista
do Hospital Veros, Camila Aguirre, é impor-
tante saber a diferença entre emergência e
urgência. “A emergência configura situações
em que há ameaça imediata à vida em que a
intervenção deve ser realizada no momento
de entrada do paciente no âmbito hospitalar,
enquanto que a urgência tem potencial de
configurar um risco à vida do paciente em
poucas horas se não for solucionada. A grosso
modo, podemos dizer que o que diferencia as

36 • caesegatos.com.br Fotos: banco de imagens C&GVF e divulgação


duas é o tempo hábil ao profissional emer-
gencista para resolução da questão”, explica.

ESCORE DE TRIAGEM
Uma maneira que pode auxiliar o médico-ve-
terinário a definir se um animal se enquadra
na emergência ou na urgência é o escore de
triagem. E o que seria isso? Camila Aguirre ex-
plica que os escores fornecem dados clínicos,
permitindo que os veterinários possam abordar
os pacientes de forma prioritária a depender
da sua gravidade em detrimento de outros
pacientes menos graves. “Eles também nos per-
mitem avaliar a evolução do paciente após uma
abordagem inicial e estabelecer sua evolução”.
Segundo ela, na Medicina Humana, os esco-
res de triagem se iniciaram pela necessidade de
priorizar pacientes, especialmente em situações
de múltiplas vítimas. “Hoje em dia, é um exce- No Brasil, em Medicina Veterinária, não
lente aliado no setor de emergência, facilitando existe validação ou um padrão de escore de
a tomada de decisões e uso de equipe e recursos triagem em emergência, segundo Camila
para cada caso, otimizando o atendimento num Aguirre, ela, por exemplo, se baseia no sistema
setor que pode ser caótico muitas vezes”, diz. proposto pelo Professor Rodrigo Rabelo, que O SISTEMA
“É bem comum termos, numa sala de emer- determina a necessidade de atenção pela DE CLASSES
gência, um gatinho respirando com boca aberta, gravidade dos sinais clínicos e pela localização TAMBÉM PODE
um cachorro que caiu da laje e apresenta uma fra- das alterações por sistema orgânico. SER SINALIZADO
tura exposta em algum membro e um filhote com COM AS CORES,
diarreia profusa e sinais de desidratação. Nesta NA HORA DE CLASSIFICAR COMO VERME-
situação hipotética, a equipe de plantão pode Você pode ficar com dúvida sobre o que o LHO, AMARELO,
classificar os pacientes e atendê-los de forma responsável pelo atendimento deve questio-
VERDE E AZUL,
prioritária do mais grave ao menos grave, aumen- nar para classificar cada animal. Sobre isso,
ASSIM COMO
tando suas chances de sobrevida”, exemplifica. Camila recomenda o uso do anagrama CAPÚM,
que é capaz de fornecer os dados iniciais para
PROPOSTOS EM
CLASSIFICAÇÃO uma primeira abordagem. “Nele, temos Cena PRONTO ATEN-
E como é realizada a classificação dentro do es- (o que aconteceu?); Alergias, Passado/Prenhez DIMENTOS
core de triagem em uma emergência? A médica- (paciente tem algum problema de saúde?); DA SAÚDE
-veterinária conta que cada animal recebe uma Última refeição e Medicações em uso”, afirma HUMANA
classe ou cor, a depender do seu estado geral, e completa que o escore dá uma ideia quanto
CAMILA AGUIRRE É
indo do mais grave ao menos grave. “Prioriza-se ao prognóstico no momento de entrada do MÉDICA-VETERINÁRIA
os pacientes em parada cardiorrespiratória paciente. “Aqueles mais graves têm chances INTENSIVISTA DO
(classe I), seguido dos pacientes com dificulda- maiores de um desfecho ruim, se não estabi- HOSPITAL VEROS

de respiratória ou rebaixamento de consciência lizado prontamente. No entanto, o diagnós-


(classe II), depois, temos os pacientes com algu- tico advém da combinação entre avaliação e
ma instabilidade, sem dificuldade respiratória, história do paciente complementada com os
com lesões aparentes, sangramentos, etc (clas- exames necessários e o prognóstico mais as-
se III) e, por fim, aqueles pacientes com queixas sertivo ocorre de forma concomitante”, conta.
mais pontuais, como vômito ou diarreia, sem Dessa forma, para ela, conhecer os es-
descompensação clínica (classe IV)”. cores de triagem é peça fundamental para o
Ainda segundo ela, assim como na emer- veterinário no dia a dia.“Com eles, podemos
gência humana, também é possível utilizar traçar um mapa de como serão realizados os
cores para classificar o paciente. “O sistema de atendimentos, especialmente nas salas de
classes, exemplificado anteriormente, também emergência, o que facilita a organização do
pode ser sinalizado com as cores, como verme- setor, com a grande vantagem de aumentar a
lho, amarelo, verde e azul, assim como proposto sobrevida dos nossos pacientes no momento
em pronto atendimentos da saúde humana”. de admissão no hospital”, finaliza. ◘

Janeiro / 2023 • 37
FELINOS / ABANDONO

FESTA
PARA
ALGUNS,
CASTIGO
INJUSTO
PARA
OUTROS
38 • caesegatos.com.br
› VANESSA ZIMBRES

A
cabamos de passar pelo período O momento do primeiro cio nas gatas é in-
de festas de fim de ano e, nessa fluenciado, também, por outros fatores, como a
época, há uma série de situações condição corporal e o peso, além disso, é compro-
aparentemente inofensivas, vado que fêmeas de pelo curto chegam à puberda-
mas que geram muitas proble- de antes das gatas de pelo longo. Isso pode aconte-
máticas e afetam, até mesmo, a saúde pública. cer dos quatro até os 18 meses, aproximadamente,
Além das tradicionais celebrações de Natal e dificultando a previsão do cio, por parte do tutor.
Ano Novo e do período de férias, em 2022, tivemos Por isso, juntando as festas de final de ano,
a Copa do Mundo, realizada entre novembro e de- tutores que não castram suas gatas, acabam
zembro. Apesar da alegria, o eventual excesso nas se surpreendendo com ninhadas inesperadas
comemorações prejudica os animais de estimação. e vendo o abandono da mãe dos filhotes como
Nesse período, a tendência é de aumento na uma possível solução para o caso.
quantidade de animais abandonados, principal-
mente filhotes de gatos, seja por parte de tutores ABANDONO DE ANIMAIS,
irresponsáveis,que simplesmente abandonam por UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
Referências
não terem com quem deixá-los durante uma via- Sabemos que não existe lar para todos. Estima-se bibliográficas:
gem de férias ou por conta de fugas favorecidas que, no mundo todo, existam cerca de 600 milhões LITTLE, S. E. O gato -
pelo estresse causado pelos festejos de fim de ano. de gatos e mais da metade deles não tem donos. Medicina Interna. Rio de
Janeiro: Roca, 2015.
Além disso, temos o calor do verão, que fa- Os animais abandonados estão mais sus- JOHNSON, A. K. Normal
vorece o cio das gatas. Por isso, a tendência é de ceptíveis a contraírem doenças (zoonoses) feline reproduction: the
aumento no número de filhotes abandonados. que, se não tratadas adequadamente, podem queen. Journal of Feline
chegar até as pessoas. Por isso, em um debate Medicina and Surgery,
v.24, n.3, p. 203-272, 2022.
LUZ X DAR À LUZ mais amplo, o abandono de animais torna-se SCHAFER-SOMI, S. Effect
A fisiologia reprodutiva das gatas é bem diferen- um problema de saúde pública. of melatonina on the re-
te quando comparada com as cadelas. As gatas Para evitar a superpopulação e o abandono de productive cycle in female
cats: a review of clinical
apresentam ciclos estrais, ou seja, mudanças fi- animais, defende-se como solução a castração pre-
experiences and previous
siológicas recorrentes induzidas por hormônios. coce, em média, aos cinco meses de vida. Além dis- studies. Journal of Feline
Esses ciclos são influenciados pelo fotoperíodo, so, é comprovado que a castração previne diversos Medicine and Surgery,
fazendo com que o cio seja mais frequente em problemasdesaúde,comoasneoplasiasmamárias. v.19, n.1, p. 3-80, 2017.
International Cat Care.
épocas do ano em que há mais luminosidade. No Ainda falando em superpopulação de animais Cat Friendly Solutions for
caso do Brasil, inicia-se no final da primavera (no- carentes, o uso de anticoncepcionais é contrain- Unowed Cats. Disponivel
vembro) e se estende até o final do verão (março). dicado e é somente um paliativo que, além de não em: < https://icatcare.org/
unowned-cats>. Acesso
Com uma gestação que dura, em média, 66 resolver o problema, expõe o animal a riscos reais
em: 26 nov.2022.
dias, uma gata que emprenha em novembro, pro- de saúde. A castração deve ser vista e os tutores
vavelmente, terá filhotes em janeiro. Os gatinhos, orientados por nós, médicos-veterinários, que é
quando tiverem com 30 dias de vida, aproxima- uma solução ao menos em parte para o problema
damente, por volta de fevereiro/março, são aban- de abandono e mais ainda: para a saúde do animal. Vanessa Zimbres é
donados nesse período. Mas é importante ressal- É fundamental que os tutores tenham cons- médica-veterinária
tar que isso não é regra, uma vez que, no Brasil, ciência da responsabilidade ao adotar um ani- especializada em
as estações do ano não são tão bem definidas e as mal, afinal, trata-se de um ser vivo, e que a solução felinos e sócia-pro-
gatas podem, também, ter acesso à luz artificial equivocada de um problema, como por exemplo, o prietária da clínica
dentro das residências. Nesse caso, o efeito da sa- abandono após uma ninhada inesperada é, na ver- Gato é Gente Boa
zonalidade diminui ou, até mesmo, desaparece. dade, o começo de um problema ainda maior. ◘ (Itu/SP)

Foto: banco de imagens C&GVF Janeiro / 2023 • 39


FELINOS / VE RMIFUG AÇÃO

DESDE O
INÍCIO DA VIDA
É POSSÍVEL INICIAR A VERMIFUGAÇÃO DE GATOS FILHOTES
ENTRE 15 E 30 DIAS APÓS O NASCIMENTO, A FIM DE
GARANTIR SEGURANÇA COMPLETA CONTRA OS VERMES
› CLÁUDIA GUIMARÃES, DA REDAÇÃO
claudia@ciasullieditores.com.br

O
s vermífugos são medicamentos
que combatem diversos tipos de
vermes, sendo que alguns produ-
tos apresentam ação em proto-
zoários que acometem, principal-
mente, o trato gastrointestinal de gatos. Quem
nos explica é a médica-veterinária especializada
em Medicina de Felinos no Hospital Veros, docen-
te do curso de Medicina Veterinária, das Faculda-
des Metropolitanas Unidas (FMU), conselheira
Fiscal da Academia Brasileira de Clínicos de Feli-
nos (ABFeL) e membro da American Association
of Feline Practitioners (AAFP), Camila Ferreiro.
Além disso, a profissional ainda comen-
ta que há parasitas que podem gerar qua-
dros pulmonares em felinos, além da im-
portância do fármaco relacionada ao cará-
ter zoonótico (transmissão para os humanos).
Sobre as apresentações do vermífugo focado
em gatos, Camila compartilha que existem diver-
sos produtos, na dependência de qual parasita
encontra-se em questão. “De forma geral, exis-
tem formulações em comprimidos (palatáveis
ou não) e formulações em pour on (absorção
transdérmico) ou seja, de forma tópica”, cita.

MEDICADOS SEM ESTRESSE


A médica-veterinária, residente em Clínica
Médica de Pequenos Animais, Renata Borges
da Silva, adiciona que as medicações devem
ser administradas em um ambiente calmo,
sem barulho. “O gato deve ser contido de forma
que não seja machucado, o tutor pode envolver
o animal em uma toalha para que ele não con-
siga se mover. Após a contenção, pode ser ad-
ministrada a medicação em comprimido ou lí-
quido e, em seguida, é importante fornecer pe-
tiscos ou atividades, como o passeio com o feli-

40 • caesegatos.com.br
no, algo que ele goste bastante, assim, terá um
reforço positivo após a medicação”, orienta.
Mas, segundo Camila, a facilidade de ad-
ministração é individual, sendo que um gato
bem socializado e que foi habituado a tomar
medicações com uso de reforços positivos não
apresentará problemas em ser medicado por
via oral. “No entanto, a maioria dos tutores
opta pela absorção transdérmica, pela conve-
niência de administração”, explana.
Camila Ferreiro declara que, no caso dos pro-
dutos pour on, ou seja, de absorção cutânea, não
há nenhum tipo de estresse ao animal. “Deve-
-se tomar o cuidado de aplicação interescapu-
lar a fim de evitar que o animal consiga lamber
o produto. No caso de medicações por via oral,
é sempre interessante realizar reforços positi-
Camila Ferreiro é membro da American
vos com escovação, carinho, biscoitos ou sachês Association of Feline Practitioners (AAFP)
após a administração do medicamento”, reforça.
explicar os benefícios da vermifugação e exem-
QUANDO INICIAR O PROTOCOLO plificar algumas doenças que podem ocor-
DE VERMIFUGAÇÃO? rer em animais não vermifugados”, corrobora.
Camila explica que, em filhotes, a primeira dose Caso o tutor não consiga administrar o ver-
deve ser realizada entre 15 e 30 dias de vida, de mífugo no gato em casa, Camila diz que ele pode
acordo com a avaliação prévia de um médico- recorrer a veterinários que realizam atendimen-
-veterinário. “Lembrando que mães devida- to a domicílio ou clínicas veterinárias. “Mas será
mente vermifugadas e com boa condição de importante realizar tratamento comportamen-
saúde garantem filhotes saudáveis, sendo pos- tal com um profissional especializado para que
sível iniciar a vermifugação acima de 30 dias esse paciente aceite a administração de fárma-
de idade”, discorre. Aqui, vale lembrar que os cos, pois, em qualquer fase da vida, será necessá-
gatos são considerados filhotes até os 12 me- rio medicar o animal. Então, será importante rea-
ses de vida, sendo necessárias diversas avalia- lizar um tratamento de socialização”, recomenda.
ções durante o esquema vacinal a fim de iden- No geral, Camila comenta que procurar um
tificar a necessidade de novas vermifugações. médico-veterinário especializado na espécie é
Em relação às doses ideais para os filhotes de muito importante desde a fase de filhote do ani-
felinos, a veterinária comenta que depende do mal. “Esse profissional realizará todas as orien-
princípio ativo escolhido pelo médico-veteriná- tações necessárias para que o tutor aprenda a
rio do paciente, na dependência da sua avaliação medicar seu gato sem estresse e gerar um con-
prévia, assim como o número de intervalos a se- dicionamento positivo, conceitos sobre a impor-
rem realizados, de acordo com o risco de exposi- tância de socialização de filhotes e cuidados com
ção deste filhote. “Em geral, são necessárias, no a nutrição ao longo da vida do paciente, além de
mínimo, duas doses até os primeiros 60 dias. A imunização adequada nessa fase tão importan-
partir dos quatro meses, se faz necessária avalia- te da vida do animal”, encerra. ◘
ção e uso de exames de fezes (coproparasitológi-
co) e de acordo com a queixa do tutor”, adiciona.
O médico-veterinário é responsável por fa-
zer recomendações específicas para a vermifu-
gação de rotina com base no estilo de vida do seu
gato, de acordo com Camila, focando especifica-
mente se ele fica ao ar livre e se ele fica em con-
tato com outros gatos, viagens e de acordo com
o risco de exposição a qualquer tipo de agente.
Em geral, em gatos domiciliados, a vermifu-
gação pode ser realizada a cada seis ou 12 meses
e, em gatos que têm acesso à rua, a cada quatro Reginaldo Pereira Renata Borges
de Sousa Filho é da Silva é residente
meses, é o que revela o médico-veterinário do médico-veterinário em Clínica Médica
Hospital Catus Medicina Felina, Reginaldo Perei- do Hospital Catus de Pequenos
ra de Sousa Filho. “O médico-veterinário deve Medicina Felina Animais

Foto: banco de imagens C&GVF Janeiro / 2023 • 41


N U T R O L O G I A / C A R D I O P AT I A S

O PAPEL DA NUTRIÇÃO
NO MANEJO DAS DOENÇAS
CARDÍACAS DE GATOS E CÃES
› PRISCILA RIZELO

A
doença cardíaca é uma causa fatores e resulta na perda de massa B2 e C, respectivamente, e restringir
significativa de morbidade e muscular magra em vez das reservas ainda mais a ingestão de sódio em
mortalidade em gatos e cães. de gordura. A caquexia cardíaca é con- pacientes com DMVM em estágio D
Estima-se que 10% dos cães te- siderada um indicador de prognóstico com acúmulos de líquidos refratá-
nham algum tipo de doença cardíaca, negativo para progressão da doença. rios. A razão para a restrição de sódio
sendo a doença mixomatosa da válvu- Não há evidências de que a restrição menos agressiva nos estágios iniciais
la mitral (DMVM) a de maior prevalên- proteica seja necessária para cães da DMVM é que a restrição severa de
cia ao redor do mundo, representando e gatos com insuficiência cardíaca sódio em cães com doença cardíaca
75% das doenças cardíacas em cães. A congestiva e, provavelmente, é de- crônica precoce pode levar a uma ati-
cardiomiopatia dilatada (CMD) é apon- letéria, uma vez que esses pacientes vação excessiva e precoce do sistema
tada como a segunda doença cardíaca estão predispostos à perda de massa renina-angiotensina-aldosterona e,
mais comum em cães. Em gatos, as magra. Intervir precocemente com com isso, acelerar a progressão da
cardiomiopatias são frequentes e as uma dieta altamente palatável e com doença cardíaca. Em relação à restri-
doenças cardiovasculares estão entre alto teor calórico pode ajudar a evitar ção de sódio para os pacientes felinos
as dez causas mais comuns de morte a caquexia, já que ela é muito mais com doença cardíaca, Nguyen et al.
na espécie. A prevalência exata das fácil de ser prevenida do que tratada. (2017) relatam que, embora a quanti-
doenças cardíacas em felinos não Um dos nutrientes de fundamental dade adequada de sódio dietético para
é conhecida, mas estudos recentes importância no manejo da doença car- gatos com doença cardíaca permane-
mostram que a cardiomiopatia hiper- díaca é o sódio. Na doença cardíaca, há ça indeterminada, a pressão arterial
trófica (CMH) atinge 15% da população. ativação do sistema renina-angiotensi- não deve ser tão sensível ao sódio
O tratamento para doença car- na-aldosterona e excreção anormal de em gatos quanto em outras espécies.
díaca em cães e gatos varia de acordo sódio. O sódio dietético também pode Fuentes et al. (2020) recomendam
com o tipo, causa subjacente e gravi- afetar o acúmulo de líquidos (edema evitar dietas com altos teores de sódio
dade, no entanto, nenhum dos medi- e efusão, como ascite) em cães com para gatos com insuficiência cardíaca.
camentos disponíveis é curativo, o que insuficiência cardíaca. A ingestão die- Além do sódio, o papel de outros
significa que as mudanças estruturais tética de sódio baixa a moderada reduz nutrientes no manejo das doenças
no coração são irreversíveis. Além do a retenção de sódio e água, reduzindo, cardíacas dos gatos e cães já foi
tratamento medicamentoso, as in- assim, a congestão. Em cães com insu- demonstrado. Estas evidências de-
tervenções nutricionais para doenças ficiência cardíaca crônica (secundária monstram que pacientes com doen-
cardíacas constituem um dos pilares a DMVM ou CMD), foi demonstrado que ças cardíacas podem se beneficiar da
da terapia e têm papel importante no a restrição dietética de sódio tem efei- terapia nutricional como coadjuvante
gerenciamento do equilíbrio vascular, tos benéficos na redução dos parâme- no tratamento, sendo guiada pelos
combate aos radicais livres resultantes tros de tamanho cardíaco, em compa- sinais clínicos do paciente e estágio
do processo oxidativo, gerenciamento ração com níveis moderados de sódio. da doença cardíaca. ◘
da caquexia cardíaca, redução da Em uma revisão de 1998, publicada
inflamação, suporte à contratilida- por Freeman et al., é recomendado para
de e gerenciamento de eletrólitos. cães e gatos com cardiopatia assinto-
PARA LER AS
A perda de massa muscular ma- mática evitar a ingestão excessiva de
REFERÊNCIAS
gra, também conhecida como ca- sódio. Para esses pacientes (por exem- BIBLIOGRÁFICAS,
quexia cardíaca, afeta muitos cães plo, cães com DMVM Estágio B1), uma ACESSO O
com insuficiência cardíaca congesti- dieta para idosos pode ser adequada. QR CODE.
va, especialmente aqueles com CMD A declaração de consenso do
e pode estar presente em gatos com ACVIM recomenda começar com res- Priscila Rizelo é coordenadora
cardiomiopatia em estágio D. Esta trição leve a moderada de sódio em de Comunicação Científica
perda de peso ocorre devido a muitos pacientes com DMVM nos estágios da Royal Canin Brasil

42 • caesegatos.com.br Foto: banco de imagens C&GVF


Janeiro / 2023 • 43
P E T F O O D / M I C R O B I O TA

44 • caesegatos.com.br
USO DO KEFIR COMO
PROBIÓTICO PARA
CÃES E GATOS:
EXISTE EVIDÊNCIA?
› LUCIANA DOMINGUES DE OLIVE IR A ,

A
MONIQUE PALUDETTI, LETÍCIA WARDE LUIS

microbiota intestinal engloba uma o que contribui com suas diferentes composi-
grande variedade de microrganis- ções microbiológicas. Zanirati, et al.7 realizaram
mos no sistema digestório dos ma- estudo com o objetivo de isolar bactérias lácti-
míferos, com, pelo menos, 1014 cé- cas de oito grãos de kefir de cinco locais dife-
lulas microbianas originárias de até rentes no Brasil que foram propagadas em lei-
1.000 espécies diferentes1. Até o momento, a mi- te ou soluções de açúcar e selecionaram isola-
crobiota intestinal e sua associação com saúde dos de Lactobacillus com base em proprieda-
ou doença foram avaliadas em vários animais, des probióticas in vitro desejáveis. Esses pes-
incluindo cães e gatos1,2,3. Devido ao crescente quisadores caracterizaram várias bactérias áci-
interesse na saúde e bem-estar dos animais de do-lácticas que poderiam ser usadas em com-
companhia, a composição e o papel da microbio- binação com leveduras como culturas iniciais
ta intestinal têm sido ativamente investigados e para kefir de leite ou de água com açúcar e as
estudos sobre as possibilidades de sua modifica- propriedades funcionais de vários dos lactoba-
ção terapêutica com probióticos, prebióticos e cilos isolados dos grãos de kefir foram sugesti-
simbióticos têm aumentado nos últimos anos4. vas de seu possível uso como probióticos tan-
Os probióticos são microrganismos vivos to no kefir quanto em outros produtos lácteos.
que, quando administrados em quantidades Todo esse interesse sobre o uso de kefir
adequadas, conferem benefícios à saúde do ocorre pela possibilidade de que seu consumo
hospedeiro5. O kefir é um leite fermentado tra- regular possa ajudar no tratamento de doen-
dicional que contém mais de 50 espécies de mi- ças, como a obesidade, diabetes mellitus, doen-
crorganismos, incluindo bactérias ácido-lácti- ça hepática, distúrbios cardiovasculares, imu-
cas e ácido-acéticas como Lactobacillus kefi- nossupressão, distúrbios neurológicos, entre
ranofaciens DN1 e Lactobacillus kefiri DH5, le- outros8. Peptídeos, compostos bioativos e ce-
veduras, além de compostos bioativos, como pas presentes no kefir podem modular a com-
exopolissacarídeos e beta-galactosidade6. Im- posição da microbiota intestinal, a inflama-
portante ressaltar que existe uma grande va- ção de baixo grau e a permeabilidade intesti-
riação na composição do kefir, de acordo com nal, o que, consequentemente, pode gerar be-
a localização de sua fabricação e, também, de nefícios à saúde. O kefir também pode impac-
acordo com o meio de cultura empregado. O tar na regulação da homeostase do organismo,
kefir brasileiro é uma bebida fermentada ca- com efeito direto no eixo intestino-cérebro, sen-
seira obtida pela incubação dos grãos de ke- do uma possível estratégia para a prevenção
fir em leite ou em solução de açúcar mascavo, de doenças metabólicas. Entretanto, mais

Foto: banco de imagens C&GVF Janeiro / 2023 • 45


P E T F O O D / M I C R O B I O TA

estudos são necessários para padronizar es- te a razão de Firmicutes:Bacteroidetes, con-


ses compostos bioativos e melhor elucidar os cluindo que a administração de kefir por duas
mecanismos que ligam o kefir e a modulação semanas modificou com sucesso a microbio-
da microbiota intestinal8. Ainda assim, devido ta intestinal sem causar nenhum efeito adver-
aos benefícios relatados, baixo custo e facili- so clinicamente evidente, podendo ser utilizado
dade de preparo, o kefir parece ser uma abor- como um novo suplemento alimentar probiótico
dagem promissora para prevenir e controlar para cães. Num estudo mais recente, entretan-
doenças relacionadas à microbiota intestinal. to, Gaspardo et al.20 verificaram que o uso de ke-
Embora o kefir seja amplamente usado há sé- fir contendo Lactobacillus kefiri (107 células por
culos na alimentação humana, pouco se sabe de dia) administrado a cães saudáveis por 30 dias
sua efetividade para uso na alimentação de cães não influenciou a microbiota fecal. Esses resul-
e gatos. Entretanto, devido à maior proximidade tados podem ter sido influenciados pelo uso de
e humanização nos cuidados com os pets, o uso uma dose insuficiente de kefir ao dia. O uso tó-
regular do kefir tem sido recomendado para es- pico do kefir sobre feridas infectadas por S. au-
sas espécies. Considerando as diferenças anatô- reus também foi avaliado em cães, onde se cons-
micas, metabólicas e fisiológicas entre carnívo- tatou que os animais tratados com kefir tiveram
ros e humanos, incluindo as diferenças na com- melhor cicatrização que o grupo não tratado21.
posição da microbiota intestinal, é possível que Um único estudo foi realizado avaliando a
os resultados obtidos com a ingestão de kefir se- ingestão de kefir por gatos da raça angorá, e
jam diferentes entre essas espécies, o que torna a os pesquisadores observaram que a ingestão
realização de pesquisas nesse sentido ainda mais de 30mL/kg de kefir por 14 dias alterou positi-
importantes para sua correta recomendação. vamente a microbiota intestinal, aumentando
Estudos em camundongos indicaram que a o total de bactérias aeróbicas mesófilas, lac-
administração de kefir por três semanas modu- tococos, lactobacilos e leveduras. Além disso,
lou com sucesso a microbiota intestinal e que a nenhum efeito prejudicial foi observado nos
administração regular de kefir preveniu a obesi- parâmetros sanguíneos, escores de condição
dade e a doença hepática gordurosa não alcoó- corporal e qualidade fecal, sugerindo que in-
lica induzida por uma dieta rica em gordura9,10. cluir kefir na alimentação diária dessa espé-
Além disso, microrganismos individuais do kefir cie pode melhorar suas condições de saúde22.
e compostos bioativos podem modular a micro- Diante dessas informações, podemos con-
biota intestinal e exercer efeitos benéficos à saú- cluir que o uso do kefir como probiótico para
de11-14. AL-Shemmari et al.15 verificaram efeitos an- cães e gatos é promissor, entretanto, ainda
tilipidêmicos e antiglicêmicos em ratos com dia- são necessários mais estudos para melhor en-
betes mellitus induzido, quando o kefir foi consu- tender quais as composições microbiológicas
mido por 20 ou 40 dias. Enquanto outros pesqui- mais favoráveis dos grãos de kefir para cães e
sadores também já verificaram em ratos, efei- gatos saudáveis ou com doenças, a dose diá-
tos positivos do uso de kefir sobre a hiperten- ria efetiva de consumo e tempo de uso para
são primária e secundária e sobre o estresse oxi- obtenção dos efeitos desejados. ◘
dativo16,17. Em um estudo recente, Radiati et al.18
testaram os efeitos de um kefir de leite de ca-
bra com diferentes concentrações de Saccha-
romyces cerevisiae, e os resultados mostraram Luciana Domingues de Oliveira,
que o kefir inibiu o crescimento da Escherichia médica-veterinária, mestra e doutora
coli, Salmonella typhi e Klebsiella pneumoniae, na área de Nutrição de Cães e Gatos pela
UNESP/Jaboticabal. Clínica e consultoria
além de aumentar a capacidade de produção
na área de Nutrição de cães e gatos.
de β-galactosidase e da atividade antioxidante.
E-mail: luciana.naturaliapet@yahoo.com
Num dos poucos estudos com cães, Kim et
Monique Paludetti, ex-residente de Nutrição
al.19 exploraram o potencial de aplicação do ke-
e Nutrição Clínica de Cães e Gatos pela
fir como suplemento probiótico por meio da ad-
UNESP/Jaboticabal. Clínica na área
ministração oral a cães adultos saudáveis por de Nutrição Clínica de cães e gatos.
duas semanas na quantidade de 200 mL de ke- E-mail: mopaludetti@gmail.com
fir/dia/cão (Kefir contendo bactérias ácido-lác- Letícia Luis, médica-veterinária,
ticas 9.32 ± 0.23 log CFU/mL, e leveduras 7.12 ± ex-residente de Nutrição e Nutrição
0.36 log CFU/mL). O ensaio de PCR quantitati- Clínica de Cães e Gatos pela UNESP/Jabotica-
vo mostrou que o consumo de kefir aumen- bal. Mestra em Clínica Médica com ênfase em
ACESSE A
tou, significativamente, a população de bacté- Nutrição de Cães e Gatos pela UNESP/Jaboti- BIBLIOGRAFIA
rias láticas e a razão de bactérias lácticas:En- cabal. Clínica na área de Nutrição de cães e COMPLETA POR
terobacteriaceae e diminuiu significativamen- gatos. E-mail: leticiawluis@gmail.com MEIO DO QR CODE

46 • caesegatos.com.br
Janeiro / 2023 • 47
P E T S I LV E S T R E / A V E S

CUIDADOS NECESSÁRIOS
A IMPORTÂNCIA DO MÉDICO-VETERINÁRIO NA DETECÇÃO
DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES EM PSITACÍDEOS
› JHENIFER SUELEN SALUSTIANO GISTO

O
s Psittaciformes, representados tel saudável e sob frequentes cuida- da-se que não haja o compartilha-
principalmente pelas calopsitas dos veterinários. Preocupar-se com mento de comedouros, bebedouros
(Nymphicus hollandicus), peri- a obtenção do animal e seu local de e outros utensílios entre o novo psi-
quitos australianos (Melopsitta- origem é o primeiro passo para pre- tacídeo e a ave já existente na resi-
cus undulatus) e papagaio-verda- venir a ocorrência de doenças infec- dência, tomando cuidado com a troca
deiro (Amazona aestiva), podem ser ciosas e, também, de evitar a dispersão de vestimentas ao manipular os dois
acometidos por uma grande varieda- de patógenos − especialmente caso o animais, de modo a atuar de maneira
de de vírus, que apresentam ou não tutor tenha outra ave em casa. A par- preventiva. O período de quarentena
alterações clínicas, fato que pode ser tir disso, destaca-se a importância do deve ser adequado, algo entre 60 e 90
um problema quanto à percepção do médico-veterinário, a fim de realizar dias − ou conforme orientação veteri-
tutor sobre o estado de sua ave. Nes- exames laboratoriais e fechar diag- nária −, haja vista que algumas infec-
se sentido, dentre as viroses mais co- nósticos, confirmando ou não a sus- ções podem levar tempo para serem
muns em ambiente cativo e criadou- peita clínica, e seguir com o tratamen- expressas e detectadas em exames.
ros, destacam-se a doença do bico e to específico ao combate do agente. Na consulta veterinária, exames
das penas (circovírus), poliomavírus, Os cuidados com essas aves tor- como hemograma, bioquímica séri-
papilomavírus, a doença de Pacheco nam-se ainda mais importantes quan- ca, exame radiológico, além de copro-
(herpesvírus), adenovírus, paramixo- do pensamos nos meios de dissemina- parasitológicos, são complementares
vírus e poxvírus, por exemplo. Devido ção da variedade de vírus existentes ao exame físico realizado no consultó-
à apresentação de sinais clínicos ines- em suas criações, que ocorrem, geral- rio e vital para a constatação do esta-
pecíficos, as viroses em psitacídeos mente, por meio do contato com obje- do do pet. Ademais, é válido ressaltar
podem não ser diagnosticadas facil- tos contaminados, água de qualidade que algumas viroses podem apresen-
mente, haja vista a necessidade de re- ruim, contato com outros animais de tar resultados falso positivos e falso
messa adequada de material biológico vida livre, vestimentas contaminadas negativos, assim, exames negativos
para testes laboratoriais, tornando a e a introdução de aves não testadas não são resultados definitivos quan-
detecção e tratamento ainda mais difí- em ambientes com aquelas saudáveis. to à ausência do vírus, consideran-
cil. A partir disso, é de responsabilida- O contágio pode se dar, também, por do o período de latência de diversas
de do tutor estar atento ao comporta- via aerógena e de forma vertical, de doenças virais, sendo importante o
mento e estado geral de sua ave, além mãe para filhote. Frente a tal proble- acompanhamento do estado da ave
de frequentar regularmente às consul- mática, recomenda-se que os criadou- e a realização de novas coletas perió-
tas veterinárias, a fim de que o profis- ros de aves mantenham pouca diver- dicas no período de quarentena. As-
sional possa recomendar medidas pre- sidade de espécies juntas, haja vista a sim, o médico-veterinário é peça in-
ventivas, minimizando a possibilidade existência de vírus que podem causar dispensável para manter o bem-estar
de óbito do animal e, ao mesmo tempo, doenças em espécies de Psittacifor- do animal recém obtido, fornecendo
evitando a dispersão de vírus e a con- mes e, também, em outras espécies orientações preventivas, de contro-
sequente ocorrência de surtos virais, ou ordens diferentes - especialmen- le e tratamento, principalmente, tra-
que podem atingir as aves de vida livre. te quando se trata de aves oriundas tando-se de pets não convencionais,
Dessa forma, observar o compor- de regiões geográficas distintas e que como os carismáticos psitacídeos. ◘
tamento da ave é fundamental para passam a dividir o mesmo recinto.
que haja o rápido reconhecimento de Desse modo, é imprescindível que Referência:
CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C.R.; CATÃO-DIAS, J. L. Trata-
alguma alteração indicativa de que o psitacídeo passe por um período cri- do de animais selvagens: Medicina Veterinária.
algo está errado, como por exemplo, terioso de quarentena, especialmen- 2.ed. São Paulo: Editora GEN/Roca, 2014.
estar atento ao consumo de água e te quando introduzido em um am-
alimento e/ou a ocorrência de tosse biente com outra ave saudável, a fim
Jhenifer Suelen Salustiano Gisto
e espirros, além de prostração e apa- de evitar a transmissão de possíveis
é aluna do curso de Medicina Veteri-
tia. Do mesmo modo, é imprescin- doenças. Na quarentena, é essencial nária, da Faculdade de Medicina
dível que o pet seja oriundo de um que haja a realização de exames, se- Veterinária e Zootecnia, da Univer-
criadouro confiável e seguro, corre- jam moleculares e/ou sorológicos, vi- sidade de São Paulo (FMZV-USP) e
tamente identificado e anilhado, e sando a detecção de possíveis vírus; membro do Grupo de Estudos de
que, sobretudo, venha de um plan- ainda, nesse momento, recomen- Animais Selvagens (Geas)

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Janeiro / 2023 • 49
TOME NOTA
Sthefany Lara, da redação | sthefany@ciasullieditores.com.br

GUIDELINE

DIRETRIZES
PARA A DOR
WSAVA ATUALIZA O GUIA GLOBAL DE GESTÃO
DE DOR DURANTE CONGRESSO
Durante o Congresso da World Small
Animal Veterinary Association (WSAVA),
que ocorreu entre 29 e 31 de outubro, no
Peru, a entidade divulgou a atualização
das diretrizes globais de gestão de dor.
Segundo o texto publicado no Jour-
nal of Animal Veterinary Association,
“como profissionais de saúde veteri-
nária, temos o dever moral e ético de
mitigar o sofrimento da dor da melhor
maneira possível. Apesar dos avanços
no reconhecimento e tratamento da
dor, ainda existe uma lacuna entre sua
ocorrência e seu manejo bem-sucedido”.
Ainda sobre o documento, a mesma
publicação afirma que ele foi “elabora-
do para fornecer ao usuário fundamen-
tos básicos e fáceis de implementar
sobre o reconhecimento e tratamento
bem-sucedidos da dor no ambiente
clínico diário de pequenos animais”. ◘

A atualização
do documento
está disponível
pelo Qr Code.

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