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ED ITO R IA L

CRIADOR
Osvaldo Ciasulli
DIRETOR EDITOR
Diogo Ciasulli
DIRETOR ADMINISTRATIVO
Diego Turri

EDITORA CHEFE NEM TUDO


É CONTO
Sthefany Lara (MTb. 81.112)
sthefany@ciasullieditores.com.br
EDITORA WEB
Cláudia Guimarães (MTb. 81.558)
claudia@ciasullieditores.com.br

DE FADAS
WEB REPÓRTER
Gabriela Couto
gcouto@ciasullieditores.com.br
EDITOR DE ARTE
Daniel Guedes (MTb. 33.657)
daniel@ciasullieditores.com.br

T
DIAGRAMAÇÃO
Rafael Leite
rafael@ciasullieditores.com.br oda história começa com um “era uma vez...” e
EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS termina com “foram felizes para sempre”. Mas
Diogo Ciasulli
diogo@ciasullieditores.com.br você já pensou que nem toda a história que se
Luiz Carlos
luiz@ciasullieditores.com.br passa em seu consultório tem esse desfecho?
ADMINISTRATIVO
Diego Turri Quando você recebe um animal com a temida perito-
diego@ciasullieditores.com.br
nite infecciosa felina (PIF), por exemplo, o final já pode
COORDENADORA
DE PUBLICIDADE ser trágico para o gato e para o tutor, que vê todos os
Tatiane Amor
tatiane@ciasullieditores.com.br esforços ser em vão na maioria dos casos.
PLANEJAMENTO,
CONTROLE E OPERAÇÕES Mas há uma luz no fim do túnel, ainda em fase expe-
Monique Leite
monique@ciasullieditores.com.br rimental, um medicamento que parece ser promissor no
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
tratamento da PIF, o GS-441524. Você pode ler mais sobre
Aline Gueno, Ana Purchio, Carolina Bernardes
Cruz, Catarina Mosquete, Jose Luiz Tejon, a doença e esse tratamento na nossa reportagem de capa
Leticia Tortola, Letícia Warde Luis, Luciana
Domingues de Oliveira, Monique Paludetti, e depois nos escreva para contar como é sua rotina no
Vanessa Oliveira, Vanessa Zimbres
tratamento da doença e o que espera para o futuro dele.
Daqui, ficamos de olho nas novidades terapêuticas
Administração, Redação e Publicidade
Rua Paulo Antônio do Nascimento, 145, para passar para você, leitor.
Edifício Planeta Office - 13º andar - Sorocaba/SP
18047-400 - Fone: 55 (15) 3219-2540
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www.caesegatos.com.br Boa leitura!

CIRCULAÇÃO DIRIGIDA

A Revista Cães&Gatos (ISSN 0103-278X) é uma publicação


brasileira e mensal. Seu conteúdo editorial é focado na
profissionalização do mercado pet. Os artigos assinados não
expressam necessariamente a opinião dos editores. Não é
permitida a reprodução parcial ou total dessa publicação, por
qualquer meio, sem prévia autorização da editora, sob as penas
de Lei registrada no Regime Especial DRT-1 nº 011391/90.
Periodicidade: Mensal

Sthefany Lara
Editora
NO MIOLO

14
Fotos: banco de imagens e C&G VF
“GATIFICAR”
O ATENDIMENTO
Como examinar sem estressar
os gatos domésticos?

| PETBUSINESS | MERCADO
08 › EXPANSÃO DE CONHECIMENTO 20 › SUCESSO NA
Hill’s disponibiliza plataforma com MISSÃO DE TRATAR
conteúdos para médicos-veterináros Vetoquinol Mobility Program,
09 › #AFETOSREAIS da Vetoquinol, leva informações
Ourofino Saúde Animal sobre osteoartrose
realiza campanha sobre posse
responsável com ONGs
11 › MERCADO FORTE | OUTROS AUTORES
Dados sobre faturamento
aponta crescimento do setor 44 › NÃO É SÓ
12 › UM OLHAR SOBRE UMA GRIPEZINHA!
OS VELHINHOS Cuidados com a saúde
Dicas para adaptação de cães idosos felina no inverno
50 › NO COMEÇO DA VIDA
A importância da
nutrição na gestação
| VETERIANÊS 52 › DOENÇA RENAL
CRÔNICA EM CÃES E GATOS
26 › A CHEGADA DA CURA? Entendendo as rações renais
O tratamento promissor para a PIF é sob olhar científico
uma realidade no Brasil? Saiba mais 56 › MEU PEIXE DORME?
32 › FEBRE MACULOSA O que se sabe sobre
Doença, causada por carrapato, o sono dessa espécie
é um problema a ser combatido
36 › PRIMEIRO CONTATO
COM O MUNDO EXTERNO
Os cuidados médicos | SEÇÕES
com os neonatos
40 › CUIDADO! MÁ POSIÇÃO À VISTA › Editorial 3
A odontologia em animais | PONTO FINAL › On-line/Cartas 6
braquicefálicos
› Cursos e eventos 7
46 › QUAL É A EXPLICAÇÃO? 58 › FERRAMENTAS EM MÃOS
Cistite intersticial felina é um desafio Wsava atualiza guia de › Tejon 22
para a clínica veterinária ferramenta nutricional › Juridicopet 24
UM PASSO
À FRENTE
PARA NUTRIR
O MELHOR
DA VIDA

ALTA DIGESTIBILIDADE:
SUPORTE A DIGESTÃO
1 E FACILITA ABSORÇÃO
DE NUTRIENTES

CONTÉM FIBRAS:
2 AUXÍLIO NA QUALIDADE
DAS FEZES

COMBINAÇÃO DE
ELETRÓLITOS: AJUDA
3 NA REPOSIÇÃO DE
NUTRIENTES PERDIDOS

i/d Gastro Intestinal i/d Gastro Intestinal


TAMANHOS Pedaços Pequenos Original

DISPONÍVEIS: 2kg 7,5kg 2kg 10,1kg


C&G on line
Cláudia Guimarães, da redação | claudia@ciasullieditores.com.br

ENTRE
AS TRENDS,
INFORMAÇÕES!
DIA APÓS DIA, surgem, na internet, inúmeras Outra reportagem de destaque no mês
trends, as famosas tendências, sejam elas de passado foi sobre a úlcera indolente,
brincadeiras, danças ou vídeos específicos um problema que acomete os lábios de gatos
que viralizam nas redes sociais. Em meio a domésticos e que é muito confundido com
tudo isso, é bom para nós, jornalistas, saber- neoplasias. A médica-veterinária especializada
mos que sempre há uma pausa, um momento em clínica e cirurgia de cães e gatos, mestra
de leitura de conteúdos informativos, como em Ciência Animal e em pesquisas em saúde,
os que trazemos em nosso portal de notícias. Evelynne Hildegard Marques de Melo, chama
Que bom que há tempo para tudo! atenção para que, durante a avaliação clínica
de felinos domésticos, por qualquer motivo, a
primeira investigação deve ser abrir a boca do
animal para observar se há lesões no seu interior.
Evelynne explica que o diagnóstico das
úlceras indolentes é clínico. “Há extensa do-
cumentação científica destacando que ape-
nas os sinais físicos
característicos são
suficientes para o
No mês de julho, mais especificamente diagnóstico. A expe-
no dia 6, foi comemorado o Dia das Zoono- riência do profissio-
ses e, nessa data, entrevistamos uma médica- nal colabora muito
-veterinária que abordou a esporotricose. Além para os diagnósticos
de comentar sobre as opções de tratamento clínicos”, reitera.
para a enfermidade, Fernanda Maris Ramos
Miranda, que é professora do curso de Medicina
Veterinária, do Centro Universitário Braz Cubas,
destaca que não existe nenhuma vacina contra
a doença. Por isso, como medidas de prevenção,
é preciso alertar sobre os cuidados com gatos
doentes. “Essa atenção é de extrema impor-
tância, manipular o
animal com o devido
cuidado de biosse-
gurança, utilizando
luvas, máscaras e, em
animais arredios, a
contenção adequada,
para evitar acidentes”.

6 • caesegatos.com.br Fotos: banco de imagens C&GVF


CURSOS&EVENTOS
Por Sthefany Lara | Envie-nos seu evento: sthefany@ciasullieditores.com.br

› SETEMBRO

EMERGÊNCIA
E INTENSIVISMO
VETERINÁRIO
O Grupo de Estudos de Pequenos Animais
(Gepa-Unesp-Jaboticabal) realiza, entre 16 e 18 de
setembro, o I Encontro de emergência e intensi-
vismo veterinário, no Centro de Convenções da
Unesp Jaboticabal (SP). Informações e inscrições
em funep.org.br ou pelos telefones
(16) 3209-1300/3209-1303.

› OUTUBRO
› AGOSTO › AGOSTO › SETEMBRO ABRAVAS
GASTROEN- CLÍNICA DE ENDOSCOPIA A Associação Brasileira de
TEROLOGIA CÃESEGATOS DIGESTIVA Veterinários de Animais
Selvagens (Abravas) reali-
No dia 13 de agosto, a Vet- Médicos-veterinários e gra- Nos dias 24 e 25 de setem- za, na cidade de São José
Soul realiza o Curso de gas- duandos em Medicina Ve- bro, em Belo Horizonte (MG), dos Campos (SP), entre os
troenterologia em peque- terinária podem se inscre- será realizado o 5ª do Curso dias 11 e 14 de outubro os O
nos animais: da teoria à ver no 4º Curso de aperfei- de endoscopia digestiva XXX Encontro e XXIV Con-
prática clínica, que conta- çoamento em clínica médi- de cães e gatos. Com carga gresso Abravas. Os presen-
rá com palestras com os ca de cães e gatos, entre 19 horária de 16 horas, os pre- tes poderão aprender mais
professores doutores Ri- de agosto de 2022 e 19 de no- sentes poderão aprender sobre temas como “Apli-
cardo Duarte, Fabio Alves vembro de 2023. O curso é sobre doenças esofágicas, cabilidade do ultrassom
Teixeira e Ana Rita de Car- coordenado pelos professo- gástricas e intestinais e co- na clínica de pets não con-
valho. O evento será reali- res Annelise Carla Camplesi, leta de material para bióp- vencionais” e “Aplicação da
zado no formato on-line. Aparecido Antonio Cama- sia, entre outros tópicos. terapia canábica na clínica
cho e Mirela Tinucci Costa. de animais selvagens”.
Inscrição pode Informações
ser feita por meio Informações e inscrições pelo Informações
do QR Code pelo Qr Code QR Code pelo Qr Code

Foto: banco de imagens C&G VF Agosto / 2022 • 7


PETBUSINESS
Sthefany Lara, da redação | sthefany@ciasullieditores.com.br

PLATAFORMA para desenvolver essa plataforma, rica


em conteúdos, como artigos técnicos,

Expansão do
podcasts, webinars e palestras ao vivo.
Procuramos integrar a nutrição com
as principais doenças que acometem

conhecimento
cães e gatos, reforçando a estratégia
nutricional como uma grande aliada
para otimizar o protocolo terapêuti-
co”, comenta a médica-veterinária e
DE ACORDO com o último censo como Dermatologia, Endocrinolo- supervisora de Assuntos Veterinários
(2020), realizado pelo Conselho Fede- gia, Gastroenterologista e outros. da Hill's Pet Nutrition, Brana Bonder.
ral de Medicina Veterinária (CFMV), Com convidados renomados e
cerca de 36 mil novos profissionais palestras de alto valor acadêmico, COMO UTILIZAR A PLATAFORMA
chegaram ao mercado de trabalho em a Hill’s busca também O centro de aprendizado
um intervalo de apenas quatro anos. conscientizar os profissio- da Hill's já está disponível
O crescimento do mercado pet está nais sobre a importância para uso. Os especialistas
associado à sofistificação do setor. Os da saúde preventiva por e estudantes de Medicina
tutores estão cada vez mais conscien- meio de uma nutrição Veterinária interessados
tes com os cuidados dedicados à saúde excelente, além de pro- em atualizar e adquirir co-
plena e bem-estar do seu companhei- tocolos de cuidados que nhecimentos podem fa-
ro de estimação e, por isso, buscam su- ajudam a otimizar os tra- zer a inscrição por meio
porte especializado para proporcionar tamentos, elevando a expectati- do QR Code. “Esperamos impactar
melhores condições de vida ao pet. va e qualidade de vida do animal. positivamente o universo da comu-
“Focamos todos os nossos esforços nidade veterinária”, finaliza Bonder. ◘
PROPOSTAS E CONTEÚDO
DO CENTRO DE PROCURAMOS
APRENDIZADO DA HILL’S
INTEGRAR A NU-
Atenta às demandas e transformação
do mercado, a Hill 's, com o objetivo de
TRIÇÃO COM AS
inspirar e contribuir para a expansão PRINCIPAIS DOENÇAS QUE
do conhecimento, criou um canal de ACOMETEM CÃES E GATOS,
comunicação para que médicos-vete- REFORÇANDO A ESTRATÉ-
rinários e estudantes de Medicina Ve- GIA NUTRICIONAL COMO
terinária possam se atualizar constan-
UMA GRANDE ALIADA PARA
temente. O centro de aprendizado da
Hill’s foi desenvolvido com conteúdos
OTIMIZAR O PROTOCOLO
atualizados, altamente relevantes e TERAPÊUTICO
práticos, produzidos por especialistas
em diferentes assuntos veterinários, BRANA BONDER

8 • caesegatos.com.br
ALIMENTAÇÃO

Uma alimentação
equilibrada e balanceada
A ORGANNACT acaba de lançar a Be Nature food sempre foi um desejo da Organnact, afinal, a
Food, linha de alimentação natural para cães e empresa possui know-how em nutrição, profis-
gatos. A nova fase da empresa vem ao encontro sionais e pesquisadores altamente capacitados, e
de um novo comportamento de tutores, que sabemos como nutrir. Mas não queríamos ser só
cada vez mais buscam esse novo modelo de mais um no setor de pet food, e entendemos que
alimentação. Estudos da Euromonitor mostram oferecer uma alimentação natural, pautada no
que essa mudança já é realidada e a expecta- equilíbrio e que alia alimentação e suplementação
tiva é que, em 2023, esse mercado cresça até era o nicho de mercado ideal e pouco explorado
127% quando se fala em alimentos úmidos. para esse lançamento”, explica o diretor comercial
“A oportunidade de entrar para o setor de pet e de Marketing da Organnact, Jorge Bacila.

CAMPANHA tituições serão premiadas com produtos da


Ourofino para cuidados com os pets, cader-
#AfetosReais nos e agenda, além de estampar os meses do
calendário oficial da Ourofino Pet para 2023.
A OUROFINO Saúde Animal realizou campanha “Temos um trabalho muito próximo com
sobre posse responsável com participação tutores, protetores e instituições. A ideia é
de 12 ONGs de todo o Brasil. A ação faz parte promover o trabalho das ONGs com este es-
da iniciativa #AfetosReais e convida institui- paço para mostrarem parte do seu trabalho
ções para compartilharem histórias, amor por meio do envio de fotos de cães e gatos res-
e companheirismo dos seus cães e gatos. gatados, além de suas histórias. #AfetosReais
A campanha #AfetosReais é um movi- também traz a posse responsável de cães e
mento da empresa que compartilha com- gatos, reforçando todo o potencial positivo de
panheirismo, dedicação e o poder de trans- uma relação bem cuidada entre tutores e seus
formação dos animais na vida de ONGs e pets”, comenta a gerente de Marketing da Uni-
tutores. Por meio de votação popular, 12 ins- dade de Animais de Companhia, Juliana Aguiar.
Para conhecer
sobre o traba-
lho acesse o
QR Code

Fotos: divulgação e banco de imagens C&GVF Agosto / 2022 • 9


PETBUSINESS

CRESCIMENTO VetBR, menos de 3% dos cães chegam a


Mais consciência ser vacinados contra essa doença no País.
“O índice é baixo mesmo em Estados com
com a saúde maior prevalência da doença, como Minas
Gerais e Ceará”, sinaliza a gerente Comer-
A VETBR, distribuidora de produtos de cial da Companhia, Ivana dos Santos.
saúde animal, distribuiu mais de 150 mil De acordo com a distribuidora, o
doses da vacina contra leishmaniose incremento de 50 mil doses repassadas
visceral canina (LVC) no ano passado, um no ano passado é um efeito da pandemia
número 50% maior do que o registrado da covid-19, período marcado por um
em 2020. As vacinas contra a LVC devem aumento no número de adoções de cães,
ser utilizadas em animais expostos ao associado ao maior tempo que os tutores
risco ou que vivem em áreas endêmicas, passaram em casa e conseguiram dar
como o Brasil. Ainda assim, segundo a mais atenção à saúde dos animais.

HÁBITOS fisiológicas, acaba deduzindo que seu pet também


passou a comer mais, quando na verdade é ele
O frio dá mais fome? que está oferecendo mais alimento para o animal.
O médico-veterinário deve lembrar aos tu-
É COMUM, durante a época de inverno, tutores tores sobre os riscos desse gesto, como induzir
relatarem que os pets se alimentam mais. Mas os o animal à obesidade e outros problemas de
dias frios interferem na fome dos cães e gatos? “Há saúde. Outro ponto de atenção é que a mudança
uma explicação fisiológica, mas tem também uma no apetite atribuída ao frio pode ser, na verdade,
questão muito mais comportamental do próprio a manifestação de alguma doença que por coin-
tutor envolvida”, explica o médico-veterinário es- cidência acometeu o animal nas estações mais
pecializado em Clínica Veterinária e Nutrologia do frias do ano. “Algumas situações clínicas, como
Veros Hospital Veterinário, Fábio Alves Teixeira. Se- diabetes, insuficiência pancreática e outras,
gundo ele, se o tutor tende a comer mais no frio, seja podem alterar o apetite, e isso não tem nada
por razões culturais, comportamentais ou mesmo a ver com a questão climática”, alerta Teixeira.

É importante
orientar os
tutores sobre
os riscos de
oferecer mais
alimentos do que
o indicado aos
pets durante
os dias frios

10 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação e banco de imagens C&GVF


CRESCIMENTO II

Mercado forte
EM 2021, o faturamento do mercado pet brasi-
leiro ficou na sexta posição no ranking mundial,
acima do levantamento realizado em 2020. Os
dados do Instituto Pet Brasil (IPB) mostram que
o segmento faturou R$ 51,7 bilhões no ano pas-
sado − o equivalente a 4,5% de participação no
mercado mundial de animais domésticos, que
ficou em, aproximadamente, R$ 667 bilhões.
Os Estados Unidos dominam o mercado
mundial com praticamente metade do fatu-
ramento: 44,8%. A China vem em segundo,
seguida, na sequência, de Alemanha, Reino
Unido e Japão. Entre 2020 e 2021, o Brasil
ganhou a posição da França.
“Os números mostram a força do setor pet
brasileiro mesmo diante de um momento críti-
co da economia global”, afirma o presidente do
Conselho Consultivo do IPB, Nelo Marraccini. “O
brasileiro pôde contar com a companhia de seu
animal de estimação quando precisou ficar em
casa e retribuiu esse carinho mantendo os cui-
dados com seu pet graças à amplitude, capilari-
dade e criatividade da rede varejista do setor.”

Agosto / 2022 • 11
PETBUSINESS

TRATAMENTO

Quanto
antes,
melhor
AO PASSAR o diagnósti-
co de que o animal está
com algum tipo de câncer
para o tutor, é preciso
acalmá-lo e explicar que
hoje há ferramentas para
o tratamento. “A Onco-
logia Veterinária evoluiu
muito nos últimos 20
anos, tanto em termos
de diagnóstico como de
tratamento, impactando
diretamente na sobrevida
e qualidade de vida dos
animais. É possível, sim,
conseguir um bom con-
trole da doença e, porque
não a cura, em muitos
pacientes”, atesta a médi-
ADAPTAÇÃO dor do curso de Medicina Veterinária da ca-veterinária com espe-
Um olhar para Faculdade Anhanguera, Rafael Abreu,
explica que, além de cuidados como va-
cialização em Oncologia

os velhinhos
do Veros Hospital Veteri-
cinas e visitas regulares ao consultório, nário, Juliana Vieira Cirillo.
qualquer bicho precisará de atenção A manifestação mais
ENTRE AS principais justificativas para especial, independentemente da idade. visível da neoplasia são os
a não adoção de cães idosos estão o Confira alguns cuidados que aju- tumores, ou seja, um au-
custo que um animal pode gerar e a dam na integração de um animal idoso mento de volume formado
dificuldade de adaptação. O coordena- e que podem ser passadas aos tutores: por células que cresceram
de forma desordenada. Ao

1 4
primeiro sinal da presença
Mantenha uma rotina: animais Tem outros animais em casa? de nódulos ou massas no
adoram rotina, hora correta para Faça o primeiro contato em corpo do pet, o tutor de-
passeio, brincar, comer etc. O locais neutros e fique por ve levá-lo imediatamente
organismo deles funciona como um perto caso perceba algum estra- ao médico-veterinário.
reloginho e ter horário definido para nhamento. Algum deles estranhou? Porém, há casos em que
todas as atividades ajuda no processo; É só chamar atenção e seguir com a o tumor ocorre em áreas
tentativa de contato;

2
mais difíceis de detectar,
Caso o animal tenha um pano

5
como a cavidade abdomi-
preferido, caminha, pote de ra- Choros, inquietudes e grunhi- nal, torácica ou mesmo nos
ção/água, ou até um brinquedo dos são normais nos primei- linfonodos (gânglios), e o
que goste, leve os itens com você para ros momentos, principalmen- tutor só vai perceber quan-
casa. Isso ajuda na familiarização do te depois de ficarem sozinhos por do o animal manifestar
ambiente e faz com que ele se sinta bem; um tempo. Esses sinais são comuns algum sintoma específico,
e passageiros, então, não há com o

3
mudanças no comporta-
Mantenha o pet ativo. Ativi- que se preocupar, apenas ofereça mento ou então quadro
dades e brincadeiras não são amor e atenção; de apatia, perda de apetite
dispensáveis apenas porque o

6
e de peso, a depender da
animal é mais velho. Brinque, estimule Mantenha as vacinas em dia localização da neoplasia.
pulos e corridas. Saia para passear ao e faça visitas periódicas ao
menos uma vez por dia; veterinário.

12 • caesegatos.com.br Foto: divulgação


Agosto / 2022 • 13
Z O O M / C O N S U LTA

“GATIFICAR”
O ATENDIMENTO
OS CUIDADOS E CONSULTAS COM FELINOS POSSUEM
DIFERENÇAS QUANDO COMPARADOS AOS CÃES. VETERINÁRIO
DEVE FOCAR NO ATENDIMENTO INDIVIDUALIZADO A FIM
DE EVITAR ESTRESSE AO ANIMAL E AO TUTOR

E
› CL ÁUDIA GUIMAR ÃES, DA RE DAÇÃO
claudia@ciasullieditores.com.br

ELES SÃO SERES FORTES, PORÉM FRÁ-


GEIS; REQUEREM ATENÇÃO EM CASA E
CUIDADOS ESPECIAIS NA CLÍNICA, MAS
SABEMOS QUE QUALQUER COISA FORA
DA ROTINA PODE ESTRESSAR OS GATOS,
NÃO É? ENTÃO, COMO O TUTOR PODE
CONTORNAR TODAS AS ADVERSIDADES
QUE ENGLOBAM A IDA AO VETERINÁRIO?
Antes de saber como amenizar o estresse
desse pet em dias de consulta, é preciso desta-
car que, apesar de serem mais independentes
que os cães, por exemplo, a espécie requer a
mesma atenção com a saúde e o bem-estar a
fim de evitar contratempos. De acordo com a
médica-veterinária, que realiza atendimento
especializado e exclusivo a felinos no Hospital
Veterinário Pet Care Animalia, Raquel Calixto,
os gatos são famosos por uma característica:
estoica. “Isso significa que eles disfarçam a
maioria das doenças e não apresentam, tão
evidentemente quanto os cães, sinais clínicos da
evolução dessas enfermidades”, elucida.
A profissional ainda comenta que, se traçar-
mos um paralelo com o ser humano, que tam-
bém é independente, sabemos que não podemos
deixar de fazer “check-ups” ou buscar um aten-
dimento médico. “No caso dos felinos, os tutores

14 • caesegatos.com.br
precisam ter este discernimento da animal por ter vivenciado situações
importância para prevenir, antecipar ruins neste ambiente”, corrobora.
e tratar os gatos doentes”, frisa. A médica-veterinária clínica geral e
Dentre as condições crônicas e que atua em Medicina Felina, Vivian dos
silenciosas que os gatos, muitas vezes, Santos Baptista, também adiciona que,
são acometidos e não demonstram desde a consulta pediátrica, os cuidados
sintomas evidentes aos tutores, a mé- e as informações passadas pelo veteri-
dica-veterinária com especialização nário ao tutor farão a diferença no de-
em Medicina de Felinos do Veros Hos- senvolvimento do felino durante toda
pital Veterinário, membro da American a sua vida. “O veterinário deve ser aten-
Association of Feline Practitioners cioso, sincero e claro. Sem rodeios quan-
(Associação Americana de Medicina to às chances de melhora e o desenvol-
Felina - AAFP) e Academia Brasileira vimento do estado clínico e o quanto
de Clínicos de Felinos (AbFel), Camila este pode ser agravado e ou as chan-
Ferreiro, destaca a doença renal crônica, ces de melhora do paciente”, sugere.
cardiomiopatias, doenças inflamatórias
do trato digestório e doenças endócri- RECEITAS DA REDE
nas. “Além da necessidade de preven- Além de muitos tutores não levarem
ção de doenças infecciosas por meio seus gatos ao veterinário, alguns deles
da vacinação anual”, complementa. ainda buscam “tratamentos mila-
Sendo assim, é dever do médico- grosos” na internet quando seu pet
-veterinário mudar a mentalidade do apresenta alguma alteração compor-
tutor para que leve seus gatos com tamental ou de saúde. Raquel explica
a frequência indicada à clínica. Para que existem muitos riscos nesse tipo de
Raquel, a melhor forma de fazer isso é conduta. “A internet é, sem dúvida, uma
explicando, exatamente, a natureza es- grande ferramenta, mas jamais subs-
toica do gato, mostrando que, quando tituirá a avaliação de um profissional
eles mostram sinais clínicos de enfer- capacitado para examinar e investigar
midades crônicas, é porque o processo a condição física dos pacientes. Subs-
já está evoluindo há algum tempo. tituir orientações médico-veterinárias
“Além disso, precisamos criar a por propostas, que, muitas vezes, não
conscientização dos tutores quanto a se enquadram no perfil do animal, é
estes dados. Muitos acreditam que a danoso, podendo colocar, seriamen-
ida ao veterinário não é necessária ou te, a vida do pet em risco”, alerta.
é ineficaz quando a doença do gato não Ela menciona que o médico-vete-
tem um bom desfecho. Demonstrar rinário, quando atende um paciente,
quão importantes são as consultas procura cuidar não só dos sinais físicos
periódicas e exames de check-up e que ele apresenta, mas, também, de
como a prevenção é o melhor remé- toda a sua história. “A interpretação de
dio, são pontos cruciais”, argumenta. exames e dos sinais clínicos em con-
Outra medida importante, na junto do conhecimento do veterinário
visão de Raquel, é criar, cada vez é o que direcionará o melhor caminho
mais, ambientes em que o felino para tratar o paciente. Utilizar fórmu-
se sinta à vontade. “Muitos tutores las já prontas e tratamentos que foram
temem a ida ao veterinário por conta desenhados para outros animais pode
do medo e estresse que o gato sofre. dar muito errado, pois conta somente
Portanto, buscar serviços especiali- com uma perspectiva: a dos poucos
zados é muito importante”, adiciona. sinais clínicos que o felino apresenta
Sobre isso, Camila também co- ou demonstra ao tutor”, complementa.
menta que as práticas “catfriendly” e Camila reconhece que a internet
o conhecimento do médico-veteriná- pode ser um grande aliado no processo
rio sobre o comportamento da espécie de busca por um veterinário qualificado,
ajudam a não criar memórias negati- mas não para receitas e tratamentos já
vas ao paciente dentro do ambiente prontos com base em outro indivíduo.
hospitalar. “Os tutores demoram a “O importante é que o tutor busque in-
procurar a ajuda de um veterinário formações em sites confiáveis, porém,
em decorrência do estresse do seu realmente, nada irá substituir a ne-

Foto: banco de imagens C&GVF Agosto / 2022 • 15


Z O O M / C O N S U LTA

cessidade de exame físico detalhado


para buscar diagnóstico e terapia ade-
quada para o paciente”, compartilha.

CUIDADO CERTO
Para Raquel, promover longevidade
e qualidade de vida na essência é a
melhor forma de cuidar da saúde
preventiva dos felinos. “Acreditamos
que esse é o intuito para todos: viver
mais e melhor. E pensando, também,
no lado financeiro, pode evitar ou di-
minuir possibilidades de internações
ou intervenções mais invasivas e caras.
Lógico que, pensando pelo ângulo de A INTERNET É, SEM DÚVIDA, O ATENDIMENTO DE FELI-
descobertas de doenças, existe o lado UMA GRANDE FERRAMEN- NOS PRECONIZA, TAMBÉM,
investigativo e, nestes casos, o plano de TA, MAS JAMAIS IRÁ SUBS- A SAÚDE MENTAL DO
tratamento é mais a longo prazo, com TITUIR A AVALIAÇÃO DE GATO, POIS SABEMOS
UM PROFISSIONAL CAPACI- QUE DOENÇAS MENTAIS
intervenções a sinais clínicos mais
TADO PARA EXAMINAR E INVESTIGAR GERAM ESTRESSE E ENFERMIDA-
brandos e precoces, diferente de doen- A CONDIÇÃO FÍSICA DOS PACIENTES DES ASSOCIADAS
ças agudas. Pelo lado emocional, além
RAQUEL CALIXTO, MÉDICA-VETERINÁRIA
da longevidade e qualidade de vida, CAMILA FERREIRO, MÉDICA-VETERINÁRIA
QUE REALIZA ATENDIMENTO ESPECIALIZADO COM ESPECIALIZAÇÃO EM
também existe o luto pela descoberta E EXCLUSIVO A FELINOS NO HOSPITAL MEDICINA DE FELINOS DO VEROS
de doenças graves e que poderiam ser VETERINÁRIO PET CARE ANIMALIA HOSPITAL VETERINÁRIO

contornadas ou melhor trabalhadas.


Quem nunca atendeu um felino que tutor não. “O tutor de gato é exigente e são obtidos por meio da especialização
tem osteoartrite e o único sinal é que muito preocupado em relação ao estado em cursos de Latus sensu (residência,
deixou de subir em algum móvel espe- emocional do seu animal. Se o paciente aprimoramento com duração média
cífico? E como observamos a culpa do sofre durante a consulta (aplicações e de 18-24 meses) ou Strictu Sensu (mes-
tutor do quanto e por quanto tempo contenção), o tutor reluta em levar seu trado – 18-24 meses). “O veterinário
esse paciente viveu com dor?”, indaga. animal ao médico-veterinário. Dado a especializado deve apresentar esses
Mas o que significa, de fato, a pre- esse fato, as campanhas catfriendly requisitos. Isso garante profundo co-
venção? Raquel indica que ela se baseia têm ganhado bastante espaço, mesmo nhecimento da espécie”, argumenta.
na avaliação periódica dos animais, para veterinários não especializados.
muitas vezes, necessitando de exames É importante respeitar as particula- PESQUISA INÉDITA
de check-up e, também, na orientação ridades da espécie e gerar memórias Um estudo, encomendado pela Ro-
sobre determinadas doenças, bem positivas durante a consulta”, reforça. yal Canin e realizado pelo Instituto
como na instituição de protocolos va- E nada melhor que cuidar dos gatos Brasileiro de Pesquisa e Análise de
cinais estipulados para cada paciente. com um atendimento especializado, Dados (IBPAD), focou nesse tema tão
“Tudo isto para evitar ou minimizar o que, conforme descrito por Raquel, sur- importante que estamos debatendo: a
impacto das doenças nos seres vivos ge a partir do momento em que, tanto natureza independente dos gatos não
e nos que os rodeiam. Desta forma, o profissional envolvido como a equipe é sinônimo de menos necessidade de
prevenir é cuidar; e cuidar é uma e as instalações do consultório/clínica atenção, estímulos e cuidados com a
forma de carinho e amor”, pondera. ou hospital, estão alinhados no conhe- saúde. O objetivo da pesquisa, que ou-
Já Camila Ferreiro acredita que a cimento e necessidades específicas da viu, também, tutores de gatos de todo
prevenção é a busca da antecipação de espécie. “Isso se refere desde a chegada o Brasil, é conscientizar sobre a impor-
condições mórbidas que podem levar à do animal ao local de atendimento, até tância dos cuidados preventivos com a
perda de estado de saúde física e emocio- o manejo e às particularidades do feli- saúde dos felinos, estimulando visitas
nal dos pacientes. “Portanto, não estamos no. Então, o planejamento da estrutura, periódicas para acompanhamento.
falando apenas de condições de ‘doença aliado ao conhecimento técnico do Um dos tópicos de descoberta
física’, o atendimento de felinos preconi- médico-veterinário e treinamento de desse levantamento indica que 58% dos
za, também, a saúde mental do gato, pois toda a equipe são essenciais para que, tutores levam seus gatos ao médico-
sabemos que doenças mentais geram todos juntos, possam ofertar um aten- -veterinário apenas uma ou até menos
estresse e enfermidades associadas”. dimento especializado e de excelência vezes ao ano. Sobre isso, Raquel Calixto
A profissional ainda comenta que, para o felino e para o tutor”, esclarece. declara que o gato é um animal com
geralmente, o clínico desconhece as Camila lembra que o atendimento comportamento atávico, naturalmente
particularidades da espécie, mas seu requer prática e conceitos técnicos que temeroso e adrenérgico, o que gera,

16 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação


Agosto / 2022 • 17
Z O O M / C O N S U LTA

O QUE MAIS muitas vezes, experiências ruins


do tutor e, também, do próprio
felino. “É frequente o acentuado

O ESTUDO INDICA? nível de estresse desses animais


ao sair de sua residência, onde
eles se sentem mais seguros
OUTROS DADOS DA PESQUISA DO IBPAD, ENCOMENDADA
e dominantes. Na tentativa de
PELA ROYAL CANIN, SÃO COMENTADOS POR RAQUEL CALIXTO:
evitar tais experiências, o tutor

72%
prefere resguardar o animal de
DOS TUTORES COSTUMAM LEVAR SEUS GATOS novos possíveis traumas. Em
A CLÍNICAS VETERINÁRIAS PARA CONSULTA, menor escala, também há o mito
ENQUANTO 20% PREFEREM O ATENDIMENTO dos gatos não ficarem doentes
DOMICILIAR. “Novamente, o estresse do gato ao sair de casa leva à preferên- e muitos felinos, infelizmente,
cia dos atendimentos em domicílio. E, durante a pandemia, também houve o semi domiciliados”, menciona.
movimento dos tutores saírem menos de casa e buscarem mais serviços que Além disso, o estudo apon-
atendam as necessidades dentro do conforto do lar”. ta que dos tutores que levam
os gatos a clínicas, apenas 6%

80%
costumam levar o animal a um
DOS TUTORES ACREDITAM QUE OS VALORES
médico-veterinário especializado
ALTOS DAS CONSULTAS E EXAMES SÃO A MAIOR
em felinos, nas chamadas clínicas
DIFICULDADE PARA LEVAR OS GATOS AO MÉDI-
catfriendly. Raquel acredita que a
CO-VETERINÁRIO, SEGUIDO DE DESCONFORTO DO GATO NA CAIXA DE
porcentagem baixa é reflexo do
TRANSPORTE (52%), NÃO TER ACESSO A UMA CLÍNICA ESPECIALIZADA
desconhecimento de um profis-
EM GATO (37%) E FALTA DE TEMPO (27%). “A especialização e a adequação
sional especializado e, também,
para melhor atender os felinos gera um custo e um atendimento diferenciado,
de ambientes especializados no
o que também deve ser entendido como uma valorização do serviço e do mé-
atendimento do felino. “Todavia,
dico-veterinário em relação ao mercado. Quanto ao desconforto da caixa de
apesar do número de locais e de
transporte, muitos estudos e informações estão disponíveis para aplicarmos aos
profissionais voltados para a es-
tutores e aos felinos. Quanto mais cedo for introduzida a caixa de transporte,
pécie estar aumentando progres-
maiores as chances de sucesso. Quer receita melhor que levar, desde cedo, o
sivamente, a distribuição desses
gatinho ao veterinário? E, também, isso pode e deve ser feito de forma gradativa,
locais ainda é débil. Pode-se somar
planejada e consciente, como toda socialização e introdução de objetos novos”.
a isso o fato de ser, em sua maioria,
Em relação ao acesso a clínicas especializadas, Raquel diz que, infelizmente, elas
um atendimento mais caro. Nos
estão mais restritas aos grandes centros. “Mas é um cenário que vem mudando com
grandes centros, já vemos uma
a demanda crescente pelos serviços especializados e com a qualificação de mão
mudança, mas ainda caminhamos
de obra veterinária. E, por fim, sobre a falta de tempo, hoje em dia, pode ser bem
em pequenos passos”, observa.
atendida com a demanda das consultas em domicílio e centros veterinários 24h”.
A veterinária Vivian Baptista
salienta que os tutores de felinos,

12%
DOS TUTORES geralmente, possuem mais de um
AFIRMAM QUE AU- gato em casa e, como o número
MENTARAM O IN- de habitações de moradia, como
VESTIMENTO NA IDA AO MÉDICO-VE- apartamento, tem crescido, o fe-
TERINÁRIO NOS ÚLTIMOS DOIS ANOS, lino tem sido cada dia mais dese-
jado e adaptado a esses espaços.
62% MANTIVERAM O MESMO GASTO E
“Desta forma, o mercado pet
20% DIMINUÍRAM. “Acredito que isto reflita
voltado para eles se torna cada
não só o cenário econômico incerto do Brasil,
dia mais necessário para melhor
mas, também, a desconfiança do tutor em re-
atendimento do veterinário,
lação à medicina preventiva”.
melhor saúde do pet e melhor
satisfação do tutor”, afirma.

40%
DOS TUTORES LEVAM SEU GATO AO MÉDI- Para finalizar, a veterinária
CO-VETERINÁRIO APENAS EM SITUAÇÕES Camila frisa que a prevenção de
DE EMERGÊNCIA OU URGÊNCIA. “Fato realmente doenças e a garantia de saúde emo-
comum, novamente na tentativa de evitar o estresse do felino ao ter de retirá-lo de cional para os pacientes felinos é
casa e reflete, ainda, a realidade dos tutores não buscarem os serviços para check-up a melhor forma de evitar custos
ou exames/consultas de prevenção. Pois esse dado não significa que o restante busca e, ainda, promover bem-estar e
atendimento veterinário, significa que muitos nem buscam este tipo de serviço”. qualidade de vida para o animal. ◘

18 • caesegatos.com.br Foto: banco de imagens C&GVF


Agosto / 2022 • 19
R ADAR PE T / PROG R AMA

SUCESSO NA
MISSÃO DE TRATAR
VETOQUINOL MOBILITY PROGRAM TEM COMO OBJETIVO LEVAR AO
MÉDICO-VETERINÁRIO INFORMAÇÕES ATUALIZADAS SOBRE OSTEOARTROSE
E CONTRIBUIR PARA UM TRATAMENTO MAIS COMPLETO
› STHEFANY L AR A , DA RE DAÇÃO
sthefany@ciasullieditores.com.br

S
empre é falado nas matérias apresen- enfermidade são os grandes desafios do médico-
tadas a você, leitor, sobre a prevenção -veterinário, quando o assunto é a osteoartrose.
e tratamento das diversas doenças
que aparecem nos atendimentos. Uma UMA CARTA NA MANGA
delas é a osteoartrose, uma doença Para superar esse desafio, Dias fala sobre o
crônica que provoca dor, interferindo, diretamen- programa VMP (Vetoquinol Mobility Program)
te, na qualidade de vida dos cães e seus tutores. que tem como objetivo disponibilizar aos mé-
Para o gerente Técnico e Marketing – Animais dicos-veterinários informações atualizadas
de Companhia da Vetoquinol, Jaime Dias, realizar sobre a osteoartrose, aprofundando o conhe-
o diagnóstico de forma correta, indicar o trata- cimento e tendo a oportunidade de fazer um
mento mais adequado e controlar o avanço da tratamento mais completo aos seus pacientes.

20 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação e banco de imagens C&GVF


Segundo ele, o programa foi desenvolvido princípio ativo o meloxicam, que, com sua ação
levando em consideração quatro pilares: preferencial COX-2, atua no controle da dor e
inflamação de forma efetiva. “A via transder-

1
ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROI- mal facilita a administração deste AINE, além
DAIS: constituem uma base importante no de reduzir a ocorrência de possíveis vômitos,
tratamento da osteoartrose, contribuindo administrado por via transdermal”, explica.
no controle da dor e inflamação. Este controle é E, por fim, a empresa disponibiliza o Flexa-
importante, porém, os medicamentos não pos- din Advanced com sua formulação exclusiva,
suem ação no controle da progressão da doença. contendo colágeno de frango tipo II não hi-
drolisado (UC-II), Ômega 3 e Vitamina E. “Este

2
SUPORTE NUTRICIONAL: é importante suplemento alimentar é muito importante
sendo adjuvante nos cuidados da osteoar- para os cães com osteoartrose, promovendo a
trose, auxiliando na melhora dos sinais tolerância imunológica que está, diretamente,
clínicos e sintomas. envolvida na osteoartrose, aumentando a
destruição articular, promovendo mobilidade,

3
FISIOTERAPIA: utiliza diferentes modali- flexibilidade e qualidade de vida”, aponta.
dades terapêuticas nos pacientes, trazen-
Cimalgex,
Vetaflan do benefícios com a diminuição da dor, FACILITAR O DIAGNÓSTICO
e Flexadin prevenção ou tratamento da atrofia muscular, O VMP conta com a participação de especialistas
Advanced são melhora no condicionamento físico, entre outros. que orientam a maneira mais adequada de se
os produtos
realizar o diagnóstico, por meio de palestras e

4
da Vetoquinol
que fazem EDUCAÇÃO: médicos-veterinários têm materiais técnicos que estão disponíveis na pá-
parte do VMP a oportunidade, junto a este programa, gina do programa. “Por se tratar de uma doença
e auxiliam no de intensificar a educação continuada, crônica, quanto mais precoce for o diagnóstico,
tratamento da
osteoartrose atualizando seus conhecimentos e conside- mais rápido é o início do tratamento, contri-
rando as medidas terapêuticas fundamentais buindo para um avanço mais lento da enfer-
para a qualidade de vida. Para os tutores, a midade, uma vez que ela não tem cura”, afirma.
oportunidade de identificar os sinais e sinto- Outro ponto importante é a dor causada
mas da enfermidade e a im- pela doença. Sobre isso,
portância de consultar um Jaime Dias explica que o
médico-veterinário e seguir controle é essencial, pois
todas as suas orientações e proporciona mais qualida-
prescrições de forma corre- de de vida e oportunidade
ta, além de se sentir parte para um retorno às ativi-
POR SE integrante do tratamento. dades do cão com osteoar-
TRATAR trose. “Dentro do progra-
DE UMA SUPORTE VETOQUINOL ma, apresentamos nossas
DOENÇA CRÔNICA, No que diz respeito aos anti-inflamatórios, a soluções no controle da dor e inflamação
QUANTO MAIS Vetoquinol, segundo Jaime Dias, possui, no dando opções de um tratamento direcionado
PRECOCE FOR O portifólio, o Cimalgex, anti-inflamatório não conforme as necessidades e particularidades
DIAGNÓSTICO, MAIS esteroidal (AINE) com elevada seletividade de cada paciente”, afirma e completa que,
RÁPIDO É O INÍCIO para a COX-2, proporcionando controle de dor dessa forma, o VMP contribui com infor-
DO TRATAMENTO, e inflamação por meio de seu princípio ativo mações atualizadas que podem auxiliar o
CONTRIBUINDO exclusivo, o cimicoxib. “Ele é apresentado em médico-veterinário na prescrição de um
PARA UM AVANÇO comprimidos palatáveis e facilmente divisíveis, tratamento multimodal atualizado, trazendo
MAIS LENTO DA
graças à tecnologia Vetabs. Esta divisibilida- informações importantes para que possam
ENFERMIDADE,
de dos comprimidos de forma diferenciada contribuir com o bem-estar dos pacientes.
UMA VEZ QUE ELA
permite que a prescrição seja adequada às “A Vetoquinol é uma empresa francesa
NÃO TEM CURA
necessidades do animal. Além disso, o Cimal- com mais de 80 anos na busca de uma vida
JAIME DIAS, gex é extremamente seguro para animais com mais longa e saudável aos animais, utiliza alta
GERENTE TÉCNICO E
doença renal até a fase moderada de lesão”. tecnologia no desenvolvimento de produtos
MARKETING - ANIMAIS
DE COMPANHIA Há, também, o Vetaflan, primeiro anti-infla- que tragam benefícios aos pets e facilidade no
DA VETOQUINOL matório transdermal indicado para cães, como cuidado pelos seus tutores”, finaliza. ◘

Agosto / 2022 • 21
TEJON
www.tejon.com.br | tejon@tejon.com.br | twitter.com/luiztejon | facebook.com/joseluiztejon

AGOSTO, MÊS DE
CACHORRO LOUCO?
■ COAUTORA: ANA PURCHIO

A
gosto é um ótimo mês, mas como neste 11 casos de Raiva canina em 2020, todos identificados
mês as condições climáticas mudam no como variantes de animais silvestres. Sim, cães sel-
Brasil, o tempo fica mais frio e há maior vagens e morcegos também transmitem Raiva! E em
incidência de chuvas, foi observado por 2022, até 13 de junho, foram registrados apenas qua-
veterinários que as cadelas entram no cio mais cedo tro casos de Raiva em humanos, dois causadas por
e os machos começam a apresentar comportamentos morcegos e dois sem identificação de qual animal e
mais agressivos para disputar suas fêmeas e acasalar. depois de dez anos sem registrar casos. Progredimos
A partir dessa constatação, o mês de agosto come- muito. Então em agosto, mês do Cachorro Louco, não
çou a ser conhecido como o mês do cachorro louco! esqueça e vacine o seu cão e seu gato! ◘
Embora a história seja interessante, tanto no
Brasil como em outros países, todo cuidado é pouco
e devemos evitar a Raiva, uma doença infecciosa
viral aguda grave, que acomete mamíferos, inclusi-
ve o homem, e caracteriza-se como uma encefalite
progressiva e aguda com letalidade de, aproxima-
damente, 100%. É causada pelo vírus do gênero
Lyssavirus, da família Rabhdoviridae.
Por isso, é importante que os pets sejam devida-
mente vacinados para evitar a Raiva e a transmissão
para os seus tutores. E uma boa notícia: nas pesqui-
sas que fiz para compor esse artigo, graças ao Pro-
grama Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR), criado
em 1973, foram implantadas diversas ações, como a
obrigatoriedade da vacinação antirrábica canina e DEVEMOS EVITAR A RAIVA, UMA DOENÇA
felina em todo o território nacional, o que resultou INFECCIOSA VIRAL AGUDA GRAVE, QUE
em um decréscimo significativo nos casos de Raiva ACOMETE MAMÍFEROS, INCLUSIVE O
e permitiu um controle da Raiva urbana no País. HOMEM, E CARACTERIZA-SE COMO UMA
Na série histórica de 1999 a 2017, o Brasil saiu de ENCEFALITE PROGRESSIVA E AGUDA COM
1.200 cães positivos para Raiva, em 1999, para apenas LETALIDADE DE APROXIMADAMENTE 100%

José Luiz Tejon é jornalista, publicitário, mestre em Arte e Cultura com especializações em Harvard, MIT e Insead e Doutor
em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai. Conselheiro do CCAS - Conselho Científico Agro Sustentável;
Colunista da Rede Jovem Pan, autor e coautor de 34 livros. Coordenador acadêmico de Master Science em Food &
Agribusiness Management pela AUDENCIA em Nantes/França e Fecap e professor na FGV In Company. Presidente
da TCA International e Diretor da agência Biomarketing. Ex-diretor do Grupo Estadão, da Agroceres e da Jacto S/A.
Ana Purchio é jornalista, pós-graduada em mídias sociais pelo Senac. Trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo,
na Agência Estado, na Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG) e atualmente é assessora de imprensa
da TCA Internacional e Assessora de Comunicação da Convergência Comunicação Estratégica.

22 • cãesegatos.com.br Foto: banco de imagens C&GVF


Julho / 2022 • 23
JURÍDICO PET

por ALINE GUENO (OAB/RS 95.449) e VANESSA OLIVEIRA, (OAB/RS 113.954) - Instagram: @juridicopet

ATENÇÃO
AO QUE MUDA
VOCÊ SABE QUAIS SÃO AS MODALIDADES DE
TELEMEDICINA PERMITIDAS PELO CFMV?

E
m 29/06/2022, foi publicado, no ou terapêutico. Devendo ocorrer
Diário Oficial, a Resolução 1465 somente após a realização de aten-
do Conselho Federal de Medici- dimento presencial anterior e nos
na Veterinária (CFMV) que regulamen- casos de tratamento de doenças
ta o uso da Telemedicina Veterinária crônicas ou, ainda, durante a recu-
na prestação de serviços médico-ve- peração de procedimento clínico ou
terinários. A prática é permitida aos cirúrgico para o devido acompanha-
médicos-veterinários com inscrição mento, a critério do profissional. Nos
ativa no Sistema CFMV/CRMVs e às atendimentos de doenças crônicas
pessoas jurídicas registradas com ART. ou doenças que requeiram acom-
panhamento contínuo, os interva-
MAS AFINAL, O QUE É los entre as consultas presenciais VOCÊ É OBRIGADO A ATENDER
A TELEMEDICINA? não pode ser superior a 180 dias. POR TELEMEDICINA?
Conforme o Art. 4º, é o exercício da Não, você tem autonomia para deci-
Medicina Veterinária pelo uso de
tecnologias de informação e co-
municação (TICs) com o objetivo de
3 Teletriagem: destinada à identifi-
cação e classificação de situações
que, a critério do médico-veterinário,
dir quanto ao seu uso ou não, sendo
totalmente responsável pelo ato,
que deve encontrar limites na be-
assistência, com observância dos indiquem a possibilidade da telecon- neficência e na não maleficência do
padrões técnicos e éticos. sulta ou a necessidade de atendimen- paciente. Ou seja, você que avalia se
to presencial, imediato ou agendado; deve atender utilizando tecnologias
QUAIS SÃO AS MODALIDADES de informação e comunicação.
DE TELEMEDICINA?
4 Teleorientação: orientação mé-
dico-veterinária geral e inicial,
Por fim, importante salientar que
o atendimento presencial é o padrão

1 Teleconsulta: consulta médico-


-veterinária a distância, que so-
mente pode ser efetivada nos casos
a distância, sendo vedado qualquer
tipo de definição diagnóstica ou
conduta terapêutica;
ouro para a prestação dos servi-
ços veterinários, o que assegura ao
profissional autonomia e melhores
em que o responsável tenha estabe- condições de indicação ou não da
lecido presencialmente uma relação
prévia veterinário-animal-responsá-
vel (RPVAR), a qual deverá ser devi-
5 Teleinterconsulta: acompanha-
mento contínuo de parâmetros
fisiológicos, realizado sob orientação
telemedicina, levando em conside-
ração as peculiaridades de cada caso.
De fato, é um tema complexo e
damente registrada em prontuário, e supervisão médico-veterinária para controverso. O advento da resolução,
sendo vedada nos casos de urgência monitoramento ou vigilância a distân- como toda e qualquer inovação legis-
e emergência. Excepcionalmente, cia das condições de saúde e/ou doença; lativa, requer tempo e muita reflexão
em casos de desastres, é dispensada entre os profissionais para que se
a exigência de RPVAR, enquanto per-
durar a impossibilidade de realiza-
ção de atendimento presencial;
6 Telediagnóstico: finalidade de
transmissão de dados e imagens
para serem interpretados, a distân-
torne um instrumento efetivo de va-
lorização da Medicina Veterinária. ◘

cia, entre médicos-veterinários e

2 Telemonitoramento: realizado,
exclusivamente, entre médicos-
-veterinários para troca de informa-
com o objetivo de emissão de laudo
ou parecer, o qual deverá ser assina-
do eletronicamente (assinatura ele- Ficou com dúvidas? Siga nosso
ções e opiniões e com a finalidade trônica avançada) pelos médicos-ve- perfil no Instagram @juridicopet
de promover o auxílio diagnóstico terinários que prestaram o serviço. e nos chame no direct

24 • cãesegatos.com.br
Agosto / 2022 • 25
C A P A / T R ATA M E N T O

A
CHEGADA
DA CURA?

26 • caesegatos.com.br
A PRESCRIÇÃO DO GS-441524 AINDA NÃO É PERMITIDA
EM SOLO BRASILEIRO PARA O TRATAMENTO DA PIF;
ENQUANTO NÃO HÁ LIBERAÇÃO DO FÁRMACO, CONHECER
A DOENÇA E ORIENTAR OS TUTORES SOBRE A PREVENÇÃO
AINDA É O MELHOR REMÉDIO

› STHEFANY L AR A , DA RE DAÇÃO

H
sthefany@ciasullieditores.com.br

á algumas doenças que são Jardim, acrescenta que este vírus é perten-
como um pesadelo para o cente à família Coronaviridae e uma de suas
médico-veterinário, para características mais relevantes é o fato de
o tutor e, também, para o ser envelopado. “Assim, apesar do vírus ter a
gato. Entre elas, está a Pe- capacidade de sobreviver por até sete semanas
ritonite Infecciosa Felina em um ambiente seco e poder ser transmiti-
(PIF), uma doença que leva do indiretamente por meio de fômites como
tantos gatos a óbito. O tratamento nem sempre é caixas de areia, sapatos, roupas e até por
eficaz, o que agrava a situação, tanto da terapia meio de nossas mãos, o mesmo é inativado
em si, quanto das expectativas que o tutor terá pela maioria dos detergentes e desinfetantes
com o caso. No entanto, hoje, há um novo tipo domésticos. Dois tipos do FCoV foram até
de medicamento, ainda em fase experimental, hoje identificados com base nas proprieda-
que pode trazer alívio para tutores e felinos des sorológicas e genômicas, de forma que
com a doença. Mas, antes adentrarmos sobre o tipo I é o mais prevalente em todo mundo”.
essa nova terapia e sabermos se é possível pres-
crevê-la, relembremos um pouco sobre a PIF. COMO É O TRATAMENTO
HABITUAL?
A VILÃ A médica-veterinária da Chatterie Centro de
A Peritonite Infecciosa Felina é uma doença Saúde do Gato e professora e coordenadora
que tem como agente etiológico o Coronavírus da pós-graduação em Felinos do IBM VET,
Felino (FCov). A médica-veterinária com ênfase Rochana Rodrigues Fett, afirma que, pelo fato
em Medicina Felina da Clínica Chatterie, Mariana da PIF ser uma doença causada por imuno-
da Silva Lira, explica que o Coronavírus Felino, complexos, a imunossupressão é a base do
por si só, é um patógeno de baixa virulência, tratamento. “Altas doses de glicocorticoides
que infecta as células intestinais dos gatos, são utilizadas em virtude de seu potencial
causando pouco ou nenhum sinal clínico. “É imunossupressor e anti-inflamatório. É co-
um vírus de alta prevalência entre a população mum, também, a associação de drogas cito-
felina, ou seja, quase todos os gatos já tiveram, tóxicas como a ciclofosfamida e clorambucil”.
em algum momento da sua vida, contato com O médico-veterinário especializado em
este agente. Entretanto, devido a uma interação Medicina Felina por meio do programa de Re-
entre capacidade de mutação do vírus e susceti- sidência em Clínica Médica do Gato Doméstico
bilidade imunológica do indivíduo, a infecção por da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
este vírus pode adquirir um caráter sistêmico, diretor da Academia Brasileira de Clínicos de
levando à inflamação de diversos órgãos e cul- Felinos, monitor da pós-graduação em Medi-
minando em versão da infecção com grandes cina Felina no Centro de Desenvolvimento em
complicações e repercussões, incluindo o óbito, Medicina Veterinária (CDMV), Gustavo Parrei-
dos gatos que evoluem para esta condição”. ras, conta que o tratamento de suporte sempre
A médica-veterinária, doutoranda, mem- foi amplamente empregado, com medicações
bro diretor da Academia Brasileira de Clínicos para controle de febre, suporte de hidratação
de Felinos (ABFeL) e que, atualmente, presta e nutricional, além de estimulantes de apetite.
atendimento exclusivo de gatos domésticos “Não há indicação por meio de comprovação
na Clínica Veterinária Gatos & Gatos, Marina científica que o uso de imunoestimulantes

Foto: banco de imagens C&GVF Agosto / 2022 • 27


C A P A / T R ATA M E N T O

rotineiramente empregados na Medi- dado em utilizar drogas que ainda


cina Felina beneficiem estes pacien- não estão licenciadas, mesmo sendo
tes. Devido à resposta exacerbada de promissoras. “Como não é considerado
anticorpos do sistema imune do felino ético ao médico-veterinário a prescri-
com PIF, o uso de medicações imunos- ção e nem sequer o auxílio à terapia
supressoras melhora o quadro clínico com os produtos atualmente utiliza-
destes pacientes quando associado ao dos, obtidos de forma não licenciada,
suporte clínico, muito embora nenhum há, de fato, várias implicações relacio-
desses tratamentos proferidos para nadas ao mau prognóstico da doença
gatos com PIF é capaz de eliminar a e a impossibilidade de se empregar
infecção viral, apenas aumentam uma terapia comprovada como eficaz,
brevemente o tempo a sobrevida”. O DIAGNÓSTICO as quais envolvem questões éticas e
CONTINUA SE morais. Ademais, dado o potencial
E O QUE HÁ DE NOVO? sucesso do GS-441524 no tratamento
SUSTENTANDO EM
A médica-veterinária com atuação em de gatos com PIF, muitos tutores de
UMA COMBINA-
atendimento especializado em felinos, gatos tratam independentemente
ÇÃO DE ACHADOS, INCLUINDO
Ludmilla Malta fala que, hoje, há um seus animais de estimação com drogas
A DETECÇÃO VIRAL. MUITO EM-
fármaco promissor no tratamento da não licenciadas do tipo GS-441524. Um
PIF: o GS-441524. “Tal medicamento es-
BORA O FUTURO NO QUE TANGE estudo recente realizou uma pesquisa
tá em estudo no exterior. O tratamento À TERAPIA PARECE SER PRO- pela internet, com proprietários que
consiste em 12 semanas de aplicação MISSOR, VISTO A EFICÁCIA tentaram tratar a PIF com medicamen-
e possui como efeito colateral reações TERAPÊUTICA DE PRODUTOS tos GS-44-1524 não aprovados. Este es-
no local da aplicação para os gatos ATÉ ENTÃO NÃO AUTORIZA- tudo destaca o benefício potencial dos
que fazem o tratamento injetável e DOS PARA USO VETERINÁRIO medicamentos GS-441524, mas muitas
sintomas gastrointestinais em gatos ROTINEIRO, PORÉM ASSOCIA- preocupações permanecem devido ao
que fazem o uso da medicação oral”. DOS A RESPOSTAS SATISFATÓ- uso generalizado desses tratamentos
Mariana Jardim diz que o GS- RIAS, ATÉ AQUI NÃO VISTAS NO não aprovados, incluindo a emergência
441524 é uma forma ativa da pró- TRATAMENTO DA PIF potencial de cepas virais resistentes”.
-droga Remdesivir, utilizado como
terapia em casos de COVID-19 grave, MARIANA JARDIM, MÉDICA-VETERINÁRIA, O PERIGO DE MORTE
DOUTORANDA, MEMBRO DIRETOR
um análogo de nucleosídeos, mais Enquanto esse novo medicamento não
DA ABFEL E PRESTA ATENDIMENTO
especificamente da adenosina, a EXCLUSIVO DE GATOS DOMÉSTICOS NA é realidade no Brasil, é importante que
principal molécula empregada na CLÍNICA VETERINÁRIA GATOS & GATOS o médico-veterinário possa conhecer
terapia promissora contra a PIF, até bem a doença e seus riscos. A médi-
mesmo para os felinos com manifes- ca-veterinária Ludmilla Malta explica
tação neurológica associada à doen- desta doença, que, há décadas, frustrou que nem todo gato infectado pelo vírus
ça, segundo trabalhos científicos os profissionais e os tutores de gatos, pode ir a óbito. “Apenas os gatos que se
recentes. “Os tratamentos propostos com consecutivos casos de insucesso. infectam com o Coronavírus Felino e,
baseados neste produto podem ser posteriormente, apresentam a variante
realizados por meio de preparações JÁ POSSO PRESCREVER? mutante (vírus da peritonite infec-
injetáveis ou orais. Outros produtos Mariana Lira conta que, comercialmen- ciosa felina) correm risco de morte”.
similares ao GS-441524, como o Mu- te, o GS-441524 ainda não está disponível Mariana Jardim faz uma diferen-
tian, também estão sendo utilizados no Brasil. “Alguns tutores conseguem ciação entre aqueles animais que pos-
para o controle da eliminação fecal adquirir a medicação em sites interna- suem o FCoV e os gatos que possuem
do FCoV e tratamento da PIF”, aponta. cionais. Esperamos que brevemente PIF. “Cerca 5% dos gatos infectados pelo
E como seria sua atuação no orga- já esteja disponível para ser prescrito FCoV desenvolverão a PIF, visto que a
nismo? Rochana responde que o GS- e adquirido em território nacional”. doença é causada pelo FCoV mutado,
441524 é um análogo sintético à adeno- Parreiras explica que outro fator conhecido como vírus da PIF mutado
sina, exibindo atividade de amplo es- limitante da aplicabilidade desta (FIPV). Isso ocorre porque os corona-
pectro contra o vírus do RNA. “Os análo- nova terapia é o quão onerosa ela se vírus têm um grande genoma de RNA,
gos dos nucleotídeos funcionam substi- torna para concluir um tratamento o que predispõe uma elevada taxa de
tuindo a adenosina, terminando, assim, de, aproximadamente, três meses, recombinação e mutação”, afirma.
a replicação do genoma do vírus de RNA”. em que a dose diária da medicação Ainda segundo ela, desta forma, ao
Parreiras lembra que, nos últimos aumenta de acordo com o peso do gato contrário do que se pensa para outros
anos, autores da literatura médico ve- e conforme a forma clínica da doença, patógenos, como o vírus da panleuco-
terinária vinham buscando encontrar pacientes com PIF seca demandam penia Felina e o calicivírus felino, as
um tratamento capaz de inibir a repli- doses maiores que os com PIF úmida. epidemias de PIF são incomuns, visto
cação do vírus da PIF e alcançar a cura Mariana Jardim frisa sobre o cui- que, enquanto o coronavírus entérico

28 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação


(FECV) possui afinidade
pelos enterócitos, o
FIPV invade e se replica
com alta eficácia em
monócitos e macró-
fagos, o que permite a
disseminação sistêmica,
muito embora apresente
baixa capacidade de repli-
cação nos enterócitos, assim
o FIPV não é eliminado nas fezes ou
é eliminado em níveis extremamente baixos.
“Agora, pensando nos gatos com PIF, devido aos
avanços na terapêutica, nem todos necessaria-
mente apresentam prognóstico desfavorável
e terão como desfecho da doença o óbito”, diz.
corpos, isto porque os antígenos virais não
A CONTAMINAÇÃO se depositam na superfície celular, evitando
Ludmilla Malta explica como o gato se infecta assim a lise mediada por anticorpos, gerando
com o vírus: “o coronavírus entérico felino um longo período de incubação da doença.
(FECV) dissemina-se por via oro-fecal, pois o Contudo, a partir do momento que os monóci-
vírus é eliminado, principalmente, pelas fezes tos e macrófagos perivasculares são ativados,
e uma pequena parcela por via aerógena. Uma as clássicas lesões piogranulomatosas genera-
semana após o animal ser infectado, começa a lizadas e as vasculites e perivasculites asso-
ocorrer eliminação fecal do vírus. Essa elimina- ciadas à PIF se desenvolvem em vários órgãos,
ção pode perdurar por semanas, meses ou até como rins, linfonodos mesentéricos, pulmão,
por toda vida do felino. A doença acontece mais fígado, baço, omento e cérebro”, detalha.
frequentemente em locais muito populados por
gatos e acomete, principalmente, filhotes com OS FATORES DE RISCO
menos de dois anos de vida. A resposta imune Os fatores de risco apresentados pela médi-
é fundamental para a patogenia da doença e ca-veterinária Mariana Lira são os seguintes:
depende de fatores como a susceptibilidade qualquer gato pode ser infectado pelo FCoV,
genética, idade, presença ou não de fatores entretanto os gatos que desenvolvem PIF ten-
estressores”, afirma e completa que uma res- dem a ser gatos jovens. “Oitenta porcento dos
posta imune celular adequada pode impedir gatos que desenvolvem PIF têm até dois anos
o desenvolvimento da doença. “Uma resposta de vida, o que está intimamente relacionado
imune celular fraca associada a uma vigorosa com uma baixa maturidade imunológica, o
resposta humoral, aumenta a chance de PIF que torna esses indivíduos suscetíveis. Raros
efusiva. Enquanto uma resposta celular pouco os casos são relatados em gatos acima dos
adequada aumenta a chance de PIF seca”. três anos, ou seja, a idade é um fator de risco”.
Mariana Jardim diz que a maioria dos felinos Segundo ela, além disso, viver em altas po-
infectados com FCoV permanecerá saudável e pulações e em confinamento torna a pressão
sem sinais clínicos, podendo haver nestes ape- de infecção mais elevada, o que aumenta as
nas uma leve enterite, desta forma apenas uma taxas de replicação viral e mutações em um
proporção de gatos com FCoV desenvolverá a PIF, único indivíduo. “Para o desenvolvimento da PIF
uma vasculite piogranulomatosa. A patogênese também há outros fatores de risco já relatados
da PIF pode ser justificada pelo alto número de como a infecção concomitante por retrovírus
mutações virais em situações de imunossupres- (FIV e FeLV) e eventos estressores, como
são do animal, por exemplo, de forma que a carga
viral e a imunidade do indivíduo (principalmente
"(...)percebo que um dos maiores desa-
a imunidade mediada por células) determi-
fios na especialidade continua sendo o
narão o desenvolvimento da doença”, explica. diagnóstico da PIF e devemos lutar além
De acordo com ela, em animais com PIF, o da legalização do uso da medicação por
vírus se replica nos monócitos e macrófagos formas mais eficazes de diagnóstico. É
e pode ser encontrado em diversos órgãos muito desafiador que tenhamos a pos-
sibilidade de um desfecho favorável a
devido à disseminação sistêmica gerada. “Os um paciente que outrora seria fatal, mas
monócitos e macrófagos podem permanecer ainda não possamos legalmente pres-
infectados mesmo com altos níveis de anti- crever", Rochana Fett

Agosto / 2022 • 29
C A P A / T R ATA M E N T O

mudança de ambiente, separação da


família, estresse ambiental, todos são
gatilhos que aumentam a chances do
desenvolvimento da PIF”, afirma.

AS CATEGORIAS DA PIF
Ludmilla Malta afirma que, depen-
dendo da resposta imune desenca-
deada, duas apresentações clínicas
podem ocorrer: Forma seca não
efusiva, onde ocorrem lesões piogra-
nulomatosas focais acometendo um
ou mais sistemas orgânicos; forma
úmida efusiva, onde ocorre vasculite,
serosite e disfunções sistêmicas.
Sobre isso, Mariana Lira ex-
plica que, na forma úmida, é
comum haver coleção de lí-
quidos em cavidades, como o
abdome, pleura e pericárdio. A RESPOSTA
“Na forma seca, ocorre for- IMUNE É FUNDA-
mação de granulomas, estes MENTAL PARA
podem acometer qualquer A PATOGENIA DA
órgão, fazendo com que os DOENÇA E DEPENDE DE FATO-
sintomas sejam manifestados RES COMO A SUSCEPTIBILIDA-
a partir do órgão acometido. DE GENÉTICA, IDADE, PRESEN-
Ainda assim, em alguns gatos pode ÇA OU NÃO DE FATORES
ocorrer um tipo ‘misto’ onde há for- ESTRESSORES
mação de granulomas e de líquido, ou
seja, uma forma não exclui a outra” dependem dos órgãos acometidos. LUDMILLA MALTA, MÉDICA-VETERINÁRIA
COM ATUAÇÃO EM ATENDIMENTO
“Podem ocorrer lesões granuloma-
ESPECIALIZADO EM FELINOS
INDICATIVOS DE tosas oculares, causando quadros
QUE HÁ ALGO ERRADO como: uveíte, alterações na retina,
Quais são os sinais apresentados irite e pupila irregular. Os quadros para o diagnóstico rotineiramente,
pelos gatos e que médico-veterinário neurológicos também podem ocorrer pela amostra ser coletada por meio
deve ficar atento? Ludmilla Malta em decorrência à vasculite intensa ou de biópsia, um procedimento invasivo
afirma que o início da PIF pode ser lesões piogranulomatosas em SNC. para o quadro insidioso que a maioria
agudo ou insidioso, podendo, inclu- Pode ocorrer granulomas em linfo- dos gatos se encontra no momento
sive, ter uma combinação entre a nodos mesentéricos, rins e fígado, da suspeita, este método acaba sendo
forma não efusiva e a forma efusiva. assim como aderências por todo o aplicado em maior frequência para
“Geralmente, os filhotes acometidos omento e mesentério. Esses felinos confirmação post-mortem em necrop-
possuem peso inferior aos demais da podem apresentar emagrecimento, sias. Um exame molecular com bom
ninhada. Também pode ser observada disorexia, vômitos e icterícia. Lesões valor diagnóstico é a PCR, gatos com
febre intermitente que não responde piogranulomatosas em intestino PIF efusiva podem ter suas amostras de
à antibioticoterapia, perda de peso podem causar quadros diarreicos, te- líquido abdominal ou pleural enviadas
progressiva, anorexia e inapetência, nesmo, hematoquezia e obstruções”. para análise, essa possibilidade diag-
vômito, diarreia. Na palpação, pode-se nóstica também se aplica aos felinos
observar linfadenopatia, alças intesti- O DIAGNÓSTICO com PIF seca, porém nestes casos a
nais espessadas e superfícies serosas Para chegar ao diagnóstico, Parreiras amostra deve ser coletada dos órgãos
irregulares em órgãos abdominais. aponta que há uma associação entre acometidos, o que, por vezes, torna
Pode estar presente uma distensão histórico e anamnese com achados de o procedimento mais invasivo; gatos
abdominal importante, indolor e cheia fatores predisponentes, adicionado à com PIF neurológica devem passar por
de acúmulo de líquido. Alguns gatos presença de sinais clínicos relaciona- coleta de líquor (líquido da medula es-
também podem ser acometidos por dos à manifestação da PIF e alguns exa- pinhal), gatos com PIF ocular, podem
efusão pleural que gera dispneia, ta- mes complementares. “O exame consi- coletar humor aquoso (líquido da
quipneia e mucosas cianóticas”, conta. derado padrão-ouro para o diagnóstico câmara anterior do olho), fragmentos
De acordo com Ludmilla, na for- é a histopatologia e imuno-histoquími- e aspirados de órgãos acometidos
ma não efusiva, as manifestações ca, muito embora seja pouco aplicável também são amostras representa-

30 • caesegatos.com.br
tivas, para estes procedimentos é necessário para lidar com uma situação de que seu gato, es-
sedação e profissionais treinados”, conta. pecialmente os filhotes, têm uma doença a qual
Ainda segundo ele, exames sorológicos podem não sobreviver nas próximas semanas.”.
(que detectam anticorpos) não têm valor diag- Para Ludmilla Malta, o tratamento é finan-
nóstico, visto que uma grande parte dos gatos ceira e emocionalmente desgastante para todos
tem ou teve exposição ao coronavírus entérico os envolvidos e, por esse motivo, alguns tutores
felino, o que trará um exame positivo, mas desistem mesmo quando excelentes resultados
este resultado não confirma que o gato tem o são observados. “O GS não pode ser prescrito por
vírus mutado para PIF. “O hemograma de um médicos-veterinários no Brasil e em outros locais
paciente com a doença pode estar normal ou do mundo, assim sendo podemos apenas acom-
podem ser encontradas anemia, aumento de panhar e orientar o tutor durante o tratamento”.
neutrófilos e diminuição de linfócitos e sinais Já para Gustavo Parreiras, há uma escassez
inespecíficos. Nos exames bioquímicos do de protocolos de prevenção para PIF. “No País,
sangue, o aumento das proteínas plasmáticas, não há vacina disponível no mercado, embora
condizente com aumento de globulina e di- haja uma acessível nos Estados Unidos, a imu-
minuição de albumina, tem valor significativo nização tem baixa eficácia e indicação de ser
para auxiliar no diagnóstico, podem também aplicada, exclusivamente, em gatos que nunca
ser encontradas alterações condizentes com foram expostos ao coronavírus entérico felino,
os órgãos acometidos, como fígado e rins, além melhor dizendo, não há valor agregado da va-
disso, uma parte dos gatos tem aumento das bi- cina na profilaxia da doença. Evitar situações
lirrubinas pela hemólise (destruição do sangue). estressoras crônicas, prevenir FIV-FeLV, evitar
Nos gatos com PIF efusiva, além da PCR, o líquido aglomerações de felinos e compartilhamento
pode ser enviado para análise laboratorial, nas de caixas de areia por um número elevado de
amostras positivas o laudo virá como transudato gatos, são prevenções genéricas recomendadas
modificado ou exsudato asséptico, a relação em literatura médica veterinária. Em síntese, a
albumina globulina também pode ser feita PIF é uma doença de alta mortalidade, preven-
dessa amostra, com bom valor para suspeita ções limitadas, diagnóstico definitivo, por vezes,
diagnóstica em resultados menores que 0,4”. complexo e cuja qual, para que o felino sobrevi-
va, obrigatoriamente, deve passar por um trata-
ENQUANTO ISSO... mento ainda sem regulamentação para venda e
Mariana Jardim afirma que o diagnóstico da prescrição no Brasil, além de seus custos one-
PIF continua sendo temido e doloroso, devido, rosos. Características suficientes para colocar
principalmente, à alta mortalidade dos felinos a PIF como uma das doenças mais frustrantes e
infectados, associada aos desafios diagnósticos temidas na rotina dos consultórios de médicos-
e a falta de uma terapêutica promissora licen- -veterinários clínicos e especialistas em felinos”.
ciada. “O diagnóstico continua se sustentando Segundo ele, felinos e pessoas têm cada vez
em uma combinação de achados, incluindo a uma relação mais íntima, sendo considerados
detecção viral. Muito embora o futuro do que por muitos de seus tutores, como membros
tange à terapia parece ser promissor, visto a não humanos de suas famílias. “Eu, como
eficácia terapêutica de produtos, até então, médico-veterinário especializado em felinos
não autorizados para uso veterinário rotineiro, e amante desses animais, anseio pelo registro
porém associados a respostas satisfatórias, do nucleosídeo no nosso País e torço para que
até aqui, não vistas no tratamento da PIF”. a liberação para prescrição e uso em gatos,
A médica-veterinária Mariana Lira reforça so- venha acompanhada de preços mais acessíveis,
bre o GS-441524, que tanto os estudos quanto a ob- para que todos ou um grande número de gatos,
servação de pacientes sob tratamento mostram tenha a oportunidade de acesso ao tratamento”.
que estes animais são capazes de serem curados Por fim, para Rochana essa doença também
da PIF, o que é uma grande conquista da ciência. é um dos grandes obstáculos do médico-veteri-
“Obviamente, por ser uma terapia muito recente, nário. “Como uma veterinária apaixonada por
é necessário maior tempo de observação dos ani- gatos e com mais de 15 anos exclusivos à Medici-
mais que sobreviveram até mesmo para dizer se na Felina, percebo que um dos maiores desafios
eles terão uma sobrevida igual ao de gatos que não na especialidade continua sendo o diagnóstico
tiveram PIF”, afirma e completa que há um grande da PIF e devemos lutar, além da legalização do
desafios encontrado pelo médico-veterinário uso da medicação, por formas mais eficazes de
quando o assunto é PIF e tratamento: “Ele consiste diagnóstico. É muito desafiador que tenhamos
em determinar o diagnóstico, além de abordar a possibilidade de um desfecho favorável a um
com uma família uma doença tão devastadora, paciente que outrora seria fatal, mas ainda não
até mesmo pelo fato de ninguém estar preparado possamos legalmente prescrever”, finaliza. ◘

Agosto / 2022 • 31
CLÍNICA MÉDICA / ZOONOSES

FEBRE
MACULOSA!
A DOENÇA É TÃO SUBDIAGNOSTICADA, QUE É PRECISO QUE SEU NOME SEJA LEMBRADO
DURANTE AS CONSULTAS DE ANIMAIS QUE FREQUENTAM ÁREAS ENDÊMICAS
› STHEFANY LARA, DA REDAÇÃO
sthefany@ciasullieditores.com.br

U
m animal que apresente sinais são semelhantes a outras hemoparasitoses e
como febre, falta de energia, perda alguns cães podem apresentar, ainda, sintomas
de apetite, manchas vermelhas pelo como tosse e dificuldade para respirar, perda de
corpo e sangramento pode indicar peso e, na fase final da doença, pode haver ne-
que esteja com febre maculosa. crose das extremidades e sinais nervosos, dentre
Segundo a bióloga e médica-vete- eles, paresia, convulsão e síndrome vestibular.
rinária, mestra em Ciências e doutoranda no
Programa de Pós Graduação em Epidemiologia A doença
Experimental Aplicada às Zoonoses da Faculda- A Febre Maculosa, explica a médica-veteriná-
de de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), ria, é uma doença infecciosa causada por uma
da Universidade de São Paulo (USP), Maria Ca- bactéria chamada Rickettsia rickettsii, transmi-
rolina de Azevedo Serpa, os sinais apresentados tida ao ser humano e aos animais por meio da

32 • caesegatos.com.br
picada de carrapatos que estejam infectados disponibilidade de diagnóstico laboratorial
por essa bactéria. “Duas espécies de carrapatos da febre maculosa em animais domésticos no
nativos são os principais vetores: Amblyomma Brasil. Esses fatores contribuem para um quase
sculptum (carrapato-estrela) e Amblyomma total desconhecimento da casuística da febre
aureolatum (carrapato-amarelo-do-cão). maculosa em cães no País, onde, até o presente,
Essa doença, em humanos, se caracteriza por só foram relatados dois casos clínicos no Esta-
causar sintomas como febre alta, dores de do de São Paulo (trabalho original disponível
cabeça e pelo corpo, além de um quadro cha- pelo QR Code). No entanto, vários inquéritos
mado de exantema, que consiste em manchas sorológicos em populações caninas nos quatro
vermelhas que aparecem, primeiramente, Estados da Região Sudeste indicam que cães
nas extremidades (mãos e pés) e, depois, se domésticos são expostos aos carrapatos in-
espalham pelo resto do corpo e podem evoluir fectados por R. rickettsii em frequências muito
para necrose em casos mais graves”, detalha. maiores que em humanos”, afirma e completa
Segundo ela, é uma doença que pode que, desta forma, a febre maculosa pode ser
ser letal se o diagnóstico e tratamento não considerada uma doença quase que totalmente
forem realizados a tempo e corretamente. negligenciada em cães domésticos no Brasil.
“Nos últimos 20 anos, a febre maculosa vem Maria Carolina Serpa enfatiza que a falta
apresentando uma letalidade variando de 30 a de informação relacionada à doença é um dos
50% no Sudeste do Brasil. Porém, consideran- principais motivos para o que se vê no Brasil.
do apenas os casos onde não houve qualquer “A febre maculosa é uma doença considerada
intervenção com antibióticos específicos, a negligenciada, ela é pouco difundida e é possí-
letalidade gira em torno de 80% nos humanos vel notar muitas dúvidas sobre o assunto tanto
acometidos. Dentre os animais domésticos, na comunidade médica como na sociedade.
casos clínicos de febre maculosa têm sido Deve-se considerar que tanto a bactéria R. ric-
relatados apenas em cães. Dados dos Estados kettsii como os carrapatos vetores são nativos
Unidos indicam uma letalidade por febre do Brasil, portanto, não é factível a erradicação
maculosa ao redor de 10% nessa espécie”, diz. da febre maculosa. Por outro lado, por ser uma
doença com 100% de cura, quando tratada no
A realidade brasileira início com antibióticos específicos, o espera-
O número de casos de febre maculosa tem do seria que ninguém morresse mais desta
crescido no Brasil, sobretudo neste novo século, doença. Obviamente, pelos fatores expostos
aponta a profissional. De acordo com ela, é im- acima, a febre maculosa ainda é uma realidade
portante frisar que a febre maculosa é endêmica brasileira, onde os índices de letalidade ainda
da Região Sudeste, que concentra a maioria são da ordem de 30-50% na Região Sudeste”.
dos casos e mortes pela doença. “O Estado de
São Paulo é o que apresenta o maior número de O contágio
casos, seguido de Minas Gerais. Infelizmente, Sobre o meio de contágio, Maria Carolina Ser-
não se nota diminuição do número de casos pa conta que o principal é o contato dos ani-
em função de uma maior disponibilidade de mais e do homem com o carrapato transmis-
informações sobre a doença, uma vez que exis- sor que esteja infectado. “É importante citar,
tem outras doenças de curso clínico similar (ex. aqui, que, no ciclo da febre maculosa, temos
dengue, leptospirose, meningite) com casuís- dois carrapatos envolvidos na transmissão: o
tica muito maior, dificultando o diagnóstico e primeiro é o Amblyomma sculptum chama-
tratamento precoce da febre maculosa. Mesmo do, popularmente, de ‘carrapato-estrela’. Ele
assim, existem, ainda, muitas pessoas, incluin- parasita cavalos e capivaras e está envolvido
do cidadãos e médicos em áreas endêmicas, nos casos humanos que acontecem no interior
que relatam não conhecer a febre maculosa”. do Estado de São Paulo e nos outros Estados
Para ela, muito embora a febre maculosa brasileiros. O contato desse carrapato com o
também afete os cães, o diagnóstico nesta es- homem se dá nas áreas de mata e, também,
pécie também é dificultado pela ocorrência de pastagem, ou seja, o homem adentra essas
doenças mais comuns de curso clínico similar, áreas, seja para realizar atividades de lazer ou
tais como erliquioses e babesioses. “Da mesma de trabalho, e acaba ‘pegando’ o carrapato. A
forma, se deve considerar o desconhecimento segunda espécie é o Amblyomma aureolatum
da doença por parte da população geral e dos (carrapato-amarelo-do-cão), responsável por
veterinários e, principalmente, a carência de transmitir a febre maculosa nas áreas ver-

Fotos: banco de imagens C&GVF Agosto / 2022 • 33


CLÍNICA MÉDICA / ZOONOSES

des da Região Metropolitana de São assim, perguntar para o paciente tância de minimizar as infestações
Paulo. Nesses locais, esse carrapato humano, de área reconhecidamente por carrapatos em cães que vivem em
parasita os cães domésticos que têm endêmica para a doença, se realizou áreas endêmicas para febre maculosa.
livre acesso à mata que circunda atividades em área de mata, por “Soma-se a isso, o papel que os cães
áreas urbanas e periurbanas. Assim, exemplo, pode ajudar a direcionar o possam desempenhar em carrear car-
um carrapato infectado pode, além diagnóstico. Já o tratamento é reali- rapatos infectados para dentro dos do-
de se fixar e transmitir a doença para zado com antibióticos que têm efi- micílios, propiciando uma transmissão
os cães, também ser levado por esses ciência comprovada contra a bactéria intradomicílio. É possível que os gatos
cães para as residências e acabar por causadora da doença. O Ministério da domésticos, mesmo que não sejam
transmitir a doença para os humanos”. Saúde estabelece que o medicamen- afetados pela doença, possam também
to de escolha para o tratamento da fazer este papel de carreamento de
Para chegar à conclusão febre maculosa em humanos é a do- carrapatos infectados, especialmente
O diagnóstico é importante para que xiciclina. A mesma medicação é feita na região metropolitana de São Paulo,
o animal seja tratado de forma corre- no tratamento realizado nos cães”. onde o carrapato vetor (Amblyomma
ta. Para ser realizado, a médica-vete- aureolatum) é encontrado também
rinária aponta que deve ser feito por A Prevenção sobre esta espécie de felino” conta.
meio de sorologia com a técnica de “A prevenção é o melhor remédio”, “Como já dito, a febre maculosa
imunofluorescência indireta para de- destaca a médica-veterinária. “O ideal, é uma doença negligenciada e sub-
tecção de anticorpos anti-Rickettsia. no caso dos cães, é que o tutor faça diagnosticada tanto em humanos
“Para isso, são colhidas duas amostras uso dos carrapaticidas regularmente quanto nos cães, isso se deve ao fato
de sangue do paciente em dias dife- e, de acordo com as especificações do de apresentar sintomas similares
rentes, uma no início dos sintomas fabricante, é necessário respeitar dose a outras doenças que ocorrem com
e a segunda cerca de uma semana e intervalo de aplicações para que o maior frequência em ambos os casos,
após a primeira. As duas amostras produto tenha o efeito esperado, isso como a dengue e a zika em humanos,
são necessárias, pois, na fase inicial evita que os cães adquiram a doença e, e a erliquiose em cães. Mas, apesar da
da doença, o paciente pode não apre- também, que carrapatos infectados se- menor incidência quando comparada
sentar os anticorpos anti-Rickettsia, jam transportados para dentro das resi- às outras citadas, deve ser lembrada e
fazendo com que o resultado seja um dências pelos próprios cachorros. Para levada em consideração como hipótese
falso negativo. Também é possível os humanos, o ideal é evitar as áreas diagnóstica nas áreas que são sabida-
realizar a técnica de PCR, que detecta reconhecidas como de risco e, caso pre- mente endêmicas, principalmente, nos
o material genético da bactéria no cise fazer isso, usar roupas claras (para casos humanos, pois possui alta taxa de
sangue do paciente. Esse método é que seja mais fácil ver um carrapato) e letalidade. Nas áreas em que há ocor-
mais utilizado nos casos graves e nos que cubram a maior parte do corpo e, rência de casos de febre maculosa, es-
que já evoluíram para óbito, uma vez além disso, vistoriar o corpo a procura pecialmente em humanos, deve haver
que apresenta sensibilidade muito de algum carrapato que possa ter se uma atenção especial dos profissionais
baixa em casos clínicos mais amenos fixado assim que for possível”, orienta. de Saúde Humana e Veterinária para
ou no início da doença”, conta. difundir informações que auxiliem
Outro ponto importante para o Levar informação na prevenção da doença”, finaliza. ◘
diagnóstico é a realização de uma O médico-veterinário tem um papel
anamnese completa, tanto para cães importante, como dito, quando o as-
quanto para humanos, pois os sin- sunto é a oferta de informação para
tomas para ambos são semelhantes levar orientação técnica junto aos
a muitas outras doenças. “Sendo tutores, esclarecendo sobre a impor-

O IDEAL, NO CASO DOS CÃES, É QUE O TUTOR FAÇA USO DOS


CARRAPATICIDAS REGULARMENTE E, DE ACORDO COM AS
ESPECIFICAÇÕES DO FABRICANTE, É NECESSÁRIO RESPEI-
TAR DOSE E INTERVALO DE APLICAÇÕES PARA QUE O PRODUTO TENHA
O EFEITO ESPERADO, ISSO EVITA QUE OS CÃES ADQUIRAM A DOENÇA E
TAMBÉM QUE CARRAPATOS INFECTADOS SEJAM TRANSPORTADOS PARA
DENTRO DAS RESIDÊNCIAS PELOS PRÓPRIOS CACHORROS
MARIA CAROLINA DE AZEVEDO SERPA É BIÓLOGA E MÉDICA-VETERINÁRIA
E DOUTORANDA NO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
EXPERIMENTAL APLICADA ÀS ZOONOSES DA FMVZ-USP

34 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação


Agosto / 2022 • 35
C L Í N I C A M É D I C A / M O R TA L I D A D E N E O N ATA L

PRIMEIRO
CONTATO
COM O MUNDO
EXTERNO
APÓS O NASCIMENTO, NEONATOS PODEM VIR A ÓBITO POR DIFERENTES
CAUSAS. POR SEREM FRAGILIZADOS, NECESSITAM DE CUIDADOS
ESPECIAIS POR PARTE DO MÉDICO-VETERINÁRIO
› CATARINA MOSQUETE

P
or ser muito vulnerável, o especialmente, se houver inexperiência da mãe
neonato pode ser acometido ou falha na assistência neonatal. “Várias outras
por diversos fatores que en- causas estão relacionadas com a mortalidade,
volvam risco e óbito. Dentre como a hipoglicemia, em virtude da imaturi-
eles, causas não infecciosas dade do organismo do neonato e sua capaci-
que podem ser evitadas ou rapidamente trata- dade reduzida em relação ao metabolismo da
das para que o pior não aconteça. Você, médi- glicose; malformações, como, por exemplo, a
co-veterinário, sabe o que fazer nesses casos? palatosquise, que predispõe a aspiração de leite
A médica-veterinária, mestra em Biociência e comprometimento respiratório, assim como
Animal, Giovana Patrícia Anderlini, explica que, a hidrocefalia, que tem relação com aumento
durante o parto, algumas situações emergen- de pressão intracraniana; neonatos prematu-
ciais como hipóxia e hipotermia são fatais, ros quando não assistidos por equipes vete-

36 • caesegatos.com.br Foto: banco de imagens C&GVF


rinárias podem, também, ter maior Giovana explica que a própria in-
predisposição ao óbito, até mesmo capacidade de regular a temperatura
quando permanecem monitorados do corpo e a quantidade reduzida de
em incubadoras estão vulneráveis tecido adiposo em neonatos predis-
a complicações em relação à matu- põem à hipotermia. “Eles não têm re-
ridade respiratória e metabólica; e flexos que aumentam o metabolismo,
os próprios traumas provocados por como tremor, por exemplo, por isso es-
ambientes inadequados para mãe tão susceptíveis. A temperatura retal
e filhotes, bem como inexperiência deve ser aferida para controle do calor
e estresse da mãe”, complementa. do corpo, neonatos com temperaturas
menores que 35° C já são considerados
HIPÓXIA hipotérmicos. A utilização de recursos
Segundo Giovana, a hipóxia transi- para aquecimento gradativo, como
tória durante o parto é normal, sig- mantas térmicas, garrafas pet com
nifica que o bebê canino ou felino água morna, luvas de procedimento
está deixando um ambiente interno com água morna, caixas com lâm-
para ter sua primeira respiração no padas aquecedoras, incubadoras e
ambiente externo. “Já a hipóxia, por o próprio contato com a mãe, são
causa da asfixia prolongada, ocorre fundamentais para o restabeleci-
quando a mãe não remove correta- mento da temperatura. Ressalta-se a
mente as membranas e o líquido que importância de não oferecer alimento
envolve o bebê. Quando a família é enquanto o neonato estiver hipotér-
orientada a ajudar no parto, é possí- mico, visto que todo o trato digestivo
vel evitar esse quadro, assim como a pode apresentar estase em virtude da
ação da equipe neonatal veterinária redução da temperatura. Outros sinais
durante o parto vaginal ou cesariana”, estão relacionados com a redução da VÁRIAS CAUSAS
diz. Ela completa que remoção das atividade e da sucção, onde pode haver ESTÃO RELACIO-
secreções das vias aéreas, estímulos também hipoglicemia secundária”. NADAS COM A
para que o neonato respire, oxige- MORTALIDADE,
nioterapia e drogas, como a amino- HIPOGLICEMIA COMO A HIPOGLICEMIA, EM
filina, são utilizados nos tratamentos A dosagem de glicose abaixo de 35mg/ VIRTUDE DA IMATURIDADE
emergenciais de reanimação quan- dL é preocupante em neonatos, ca- DO ORGANISMO DO NEONATO
do os neonatos estão em hipóxia. racterizando quadro hipoglicêmico, E SUA CAPACIDADE REDUZIDA
A profissional destaca que a ocor- de acordo com a profissional. “Muitas EM RELAÇÃO AO METABOLISMO
rência de distocias, seja por despro- das vezes, o intervalo maior que três DA GLICOSE; MALFORMAÇÕES,
porção fetal ou materna, e a atonia horas entre as amamentações pode COMO, POR EXEMPLO, A PALA-
ou hipotonia primária e secundária causar este quadro, assim como TOSQUISE, QUE PREDISPÕE
estão entre as mais comuns causas qualquer outro fator que compro- A ASPIRAÇÃO DE LEITE
para este quadro. “É fundamental que meta a ingestão do leite. Fraqueza, E COMPROMETIMENTO
haja acompanhamento obstétrico e sonolência, inatividade são sinais RESPIRATÓRIO, ASSIM COMO
neonatal para reanimação por meio da importantes a serem considerados”. A HIDROCEFALIA, QUE TEM
ventilação ativa com auxílio de másca- Giovana pontua que, diante de RELAÇÃO COM AUMENTO DE
ras de oxigênio, bem como broncodila- uma suspeita de hipoglicemia, é PRESSÃO INTRACRANIANA
tadores mecânicos e farmacológicos, fundamental que a mãe seja criterio-
assim como aquecimento do neonato”. samente avaliada. “Muitas das vezes, GIOVANA PATRÍCIA ANDERLINI,
há hipogalactia, mastite, agalactia, MÉDICA-VETERINÁRIA, MESTRA
PREMATURIDADE galactostase, ou, diante de uma EM BIOCIÊNCIA ANIMAL
E HIPOTERMIA ninhada numerosa, deficiência na
“Os neonatos prematuros precisam amamentação pela disputa entre os
de monitoramento de temperatura, neonatos. A oferta de substitutos de
oxigênio e nutrição. Eles não têm leite materno industrializados ou
capacidade de regular a tempera- caseiros devem ser instituídos diante
tura do corpo, nem têm reflexo de do comprometimento na amamen-
sucção, por isso, a necessidade de tação, assim como o revezamento
acompanhamento intensivo, nor- dos neonatos nas mamas quando há
malmente, em incubadoras e sendo ninhada numerosa. Atenção especial
alimentados por meio de sonda oral”. ao fornecimento de altas quantida-

Agosto / 2022 • 37
C L Í N I C A M É D I C A / M O R TA L I D A D E N E O N ATA L

des de glicose, pois trata-se de uma molécula


que carreia muita água e pode provocar diurese
desencadeando a desidratação neonatal. O
fornecimento ideal são 0,2 a 0,4ml para cada
100 gramas de peso do neonato de glicose a 5%
NEONATO
por via endovenosa ou intraóssea lentamente”.
ATENDIDO
CAUSAS HEREDITÁRIAS Giovana destaca que, logo após o nascimento,
OU CONGÊNITAS é importante a inspeção para identificação de
“Muitas das patologias de origem hereditária qualquer malformação. “Nesse caso, um dos
ou congênita apenas podem ser identificadas bebês apresentava palatosquise e, por isso,
após o nascimento; no entanto, situações como houve a necessidade de alimentação por meio de
anasarca (edema generalizado no neonato) substituto de leite materno e sonda oral até que
podem ser previstas por meio do ultrassom e houvesse a possibilidade de correção cirúrgica –
tratadas com medicações imediatamente após o que ocorre em aproximadamente dois meses”.
a cesariana. Diante deste quadro, já é possível
identificar a desproporção do feto em relação
aos outros e à pelve materna durante o estudo
pelvimétrico. A utilização de um diurético,
como a furosemida em dose mínima por via
subcutânea a cada três horas, pode reduzir
o edema lentamente. Este neonato deve ser
monitorado intensivamente por, no mínimo,
48 horas, inclusive sendo alimentado via son-
da orogástrica em virtude da diminuição de
seus reflexos de sucção”, diz Giovana.
Outras situações, segundo ela, como gas-
trosquise ou toracosquise (malformações na
parede abdominal e torácica) são evidenciadas,
na maioria das vezes, durante o parto e há
uma necessidade emergencial de intervenção,
inclusive cirúrgica, no neonato. Nesse caso, a
ocorrência de óbito logo ao nascimento é alta.

INTOXICAÇÕES
Giovana aponta que as intoxicações ocorrem,
principalmente, por uso de medicamentos
de forma indiscriminada nos neonatos ou
na mãe durante a amamentação, por parte
dos tutores. “Como existe imaturidade na
eliminação das drogas por meio dos rins e
no metabolismo por meio do fígado, muitos
neonatos acabam apresentando quadros
neurológicos em decorrência de intoxicações
medicamentosas ou de qualquer outro fator,
como produtos no ambiente, por exemplo”.
O uso indiscriminado de antibióticos, ver-
mífugos e outras drogas sem indicação, nesta
fase neonatal, é comum na rotina emergencial
na neonatologia, de acordo com a médica-ve-
terinária. “O fígado imaturo tem dificuldade de
metabolizar as moléculas das drogas utilizadas
e estas acabam atravessando a barreira hema-
toencefálica provocando danos neurais impor-
tantes. O tratamento emergencial com diálise
peritoneal, fluido endovenoso ou intraósseo são
recomendações prudentes, assim como a sus-
pensão imediata de tais fármacos”, conclui. ◘

38 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação e banco de imagens C&GVF


Agosto / 2022 • 39
ESPECIALIDADE / ODONTOLOG IA

CUIDADO!
MÁ POSIÇÃO
À VISTA
OS CUIDADOS COM A DENTIÇÃO DE ANIMAIS BRAQUICEFÁLICOS
VÃO ALÉM DO DENTE EM SI E SE FAZEM IMPORTANTES,
NÃO APENAS PARA A SAÚDE BUCAL DO PET, MAS PARA
TODO SEU ORGANISMO. CONHEÇA AS PRINCIPAIS DOENÇAS
ODONTOLÓGICAS E COMO TRATÁ-LAS

40 • caesegatos.com.br
› STHEFANY LARA, DA REDAÇÃO
sthefany@ciasullieditores.com.br

O
s animais braquicefálicos ga- palato mole, hiperplasia de tonsilas, colapsos
nharam os corações de diver- de laringe, eversão de sacos laringes, hipopla-
sos tutores mundo afora. Mas, sia de traqueia e até broncopatias”, explica.
junto com aquela carinha linda,
vieram diversos cuidados que são exclusivos O TRATAMENTO
de animais com essa caraterística. Um dos de- Para o tratamento das enfermidades odonto-
safios diz respeito à odontologia desses pets. lógicas, Prescinotto afirma que é importante
De acordo com o médico-veterinário, di- o atendimento ainda jovem desses pacientes.
retor da Associação Brasileira de Odontologia Alguns problemas de bragnatismos podem ser
Veterinária (ABOV), sócio proprietário da Sor- adquiridos durante o desenvolvimento das arca-
riso Animal (Centro Odontológico Veterinário), das mandibulares e maxilares por maloclusões
Thiago Prescinotto, o atendimento de animais dentárias precoces, sendo necessária a realização
braquicefálicos é repleto de desafios: “Para nós, de exodontias, amputação de coroas dentárias
médicos-veterinários, o maior deles é orientar ou tratamentos ortodônticos; acompanhando
os tutores sobre os problemas mais frequentes também, ainda quando filhote, sobre a troca
nessas raças e, principalmente, estabelecer dentária, identificando as persistências de dentes
cuidados domiciliares, tratamentos clínicos decíduos, dentes apinhados e girovertidos, reali-
ou até procedimentos cirúrgicos preventivos zando, assim, as extrações cirúrgicas de maneira
para que estes animais tenham qualidade de delicada sem acometimentos dos elementos
vida. A maioria dos tutores de braquicefálicos dentários adjacentes, gerando um ambientes
entendem ser normal o pet roncar, ser obeso favorável para a higienização oral pelos tutores.
e veem beleza em apresentar dentição torta”. “Nos quadros respiratórios, o tratamen-
Segundo ele, esses animais, normal- to é realizado de maneira individual para
mente, apresentam diversos problemas cada paciente de acordo com as alterações
dentários e, principalmente, respiratórios. anatômicas identificadas, onde alguns po-
“Na questão odontológica, por possuí- dem apresentar quadros leves, com poucas
rem uma maxila menor em relação à man- alterações, até quadros graves, com todas
díbula (bragnatismo), apresentam diversas alterações já citadas e isso estará relacionado
alterações dentárias, tais como: também no seu prognóstico. Em quadros com
alterações em narinas e palato, o prognós-

1 dentes lateralizados gerando traumas em


palato e gengiva;
tico é favorável com o tratamento cirúrgico,
diferente de quadros que também englobam
deformidades de laringe, traqueia e brônquios,

2 persistência de dentes decíduos, dentes


apinhados e ou girovertidos, gerando um
sítio facilitador da doença periodontal;
tornando-se um prognóstico reservado”, conta.
Ele ainda aponta que, nas estenoses de
narinas, é realizada a rinoplastia, onde existem
diferentes técnicas de abertura das narinas

3 dentes inclusos, podendo formar cistos


dentígeros.
facilitando a passagem do ar. “Os prolongamen-
tos de palato são corrigidos por meio da técnica
de estafilectomia, que consiste na ressecção
Na questão respiratória, podem apre- do tecido aumentado do palato mole que di-
sentar diversas alterações anatômicas acar- ficulta também a passagem do ar em direção
retando desde leve à extrema dificuldade à traqueia; esta técnica pode ser realizada de
respiratória. Essas alterações incluem narinas forma tradicional, com lâmina fria e sutura
estenosadas, macroglossia, prolongamento de com fio absorvível, com possíveis compli-

Foto: banco de imagens C&GVF Agosto / 2022 • 41


ESPECIALIDADE / ODONTOLOG IA

cações de edema e sangramentos responde que o atendimento veteri-


locais e por meio da técnica do laser nário desde jovem é importante para
cirúrgico de alta potência, que diminui que as principais alterações anatômi-
o risco dessas complicações”, afirma cas sejam observadas e acompanha-
e completa que, nas situações mais das durante seu desenvolvimento e o
graves com alterações em laringe e quanto antes serem diagnosticadas
traqueia, é discutível cada caso clínico por meio de exame clínico e exames
para intervenção cirúrgica, podendo de imagem, como raio-X de crânio e
envolver ressecção de sacos larin- odontológico e endoscopia do trato
geos, laringectomia e traqueostomia. respiratório. “Na questão odontoló-
gica, é de extrema importância o pro-
A IMPORTÂNCIA fissional se atentar à troca dentária,
DA ANAMNESE... que ocorre dos quatro aos seis meses
Prescinotto aponta a seriedade de uma de idade, pois, nessa fase, os dentes
boa anamnese: “Durante a consulta, é podem apresentar alterações de posi-
importante que toda a rotina do pet seja cionamentos e atrasos na troca dentá-
relatada e, se possível, que o tutor traga ria. As narinas estenosadas e o palato
O ESPAÇO REDUZI-
vídeos desse animal em casa, mostran- mole alongado, quando diagnosticado
DO PARA O POSI-
do seu comportamento em momentos recentemente e assim corrigidos,
CIONAMENTO DOS
relaxados a fim de verificar se apresen- podem evitar consequências graves,
ELEMENTOS DENTÁRIOS
tam roncos; em momentos de excita- como colapso de laringe, e eversão de
CAUSA QUASE QUE SEMPRE
ção, se ficam cianóticos e se, quando sacos laríngeos, diminuindo possíveis
APINHAMENTO, GIRO-VERÃO
submetidos a passeios ou atividade sinais, como por exemplo, dificul-
E MAL OCLUSÃO DENTÁRIA,
física, apresentam dificuldade respira- dade respiratória, ronquidão, tosse,
FACILITANDO, ASSIM, O
tória durante e após o passeio”, afirma. espirros reversos e refluxo gástrico”.
ACÚMULO DE PLACA
Segundo ele, um teste interessante Sobre o prognóstico, ele afirma
BACTERIANA E, TAMBÉM,
de se aplicar é aferir os parâmetros des- que, nas alterações dentárias, é bom,
DIFICULDADE PARA SUA
se animal, tais como frequência cardía- desde que corrigido com possíveis
HIGIENIZAÇÃO ORAL,
ca, frequência respiratória, saturação exodontias a fim de aumentar os es-
ACELERANDO O AVANÇO DA
de oxigênio e temperatura em repouso, paços entre os elementos dentários,
DOENÇA PERIODONTAL
submeter esse animal a um passeio de melhorando sua oclusão, diminuindo
dez a 15 minutos, e aferir, novamente, THIAGO PRESCINOTTO, o acúmulo de placa bacteriana, faci-
dez a 15 minutos após o término do pas- MÉDICO-VETERINÁRIO, litando sua higienização e cuidados
DIRETOR DA ABOV
seio. “Um cão sem dificuldades respira- orais domiciliares. “Já nas alterações
tórias deve se restabelecer nesse perío- respiratórias, o prognóstico pode mu-
do, se isso não ocorrer e os parâmetros mia craniana, consequentemente, dar de cada caso a depender do grau
estiverem aumentados, é bem possível sofre alterações em seus tamanhos, de gravidade e idade a ser corrigida.
que esse animal seja um candidato à apresentando-se reduzidas, princi- Em deformidades de narinas e palato,
síndrome respiratória braquicefálica. palmente em suas cavidades oral e o prognóstico é bom, mas quando
Observação: não realizar esse teste em nasal. “O espaço reduzido para o posi- se tem, também, deformidades de
dias ou horários de alta temperatura”. cionamento dos elementos dentários laringe, traqueia e broncopatias, o
causa quase que sempre apinhamen- prognóstico torna-se reservado”.
E OS EXAMES DE ROTINA to, giro-verão e maloclusão dentária,
O diretor da ABOV explica que, tanto facilitando, assim, o acúmulo de placa CONSEQUÊNCIAS
para a cavidade oral como para o sis- bacteriana e, também, dificuldade O médico-veterinário explica que os
tema respiratório, é necessário que para sua higienização oral, acelerando problemas odontológicos, principal-
esses animais sejam anestesiados, o avanço da doença periodontal. A mente a doença periodontal, pode
para realização de um exame oral cavidade nasal ‘achatada’ tem como levar ao acometimento ou agrava-
detalhado, radiografias periapicais e consequências narinas estenosadas, mento de doenças sistêmicas, tais
endoscopias respiratórias. “Se possí- presença de cornetos aberrantes e como diabetes mellitus, endocardite,
vel, que sejam realizados anualmente. prolongamento de palato mole, dimi- insuficiência renal, doenças articu-
Solicitamos, também, exames bioquí- nuindo, assim, a passagem durante a lares, neoplasias orais. “Este fator
micos e cardiológicos antecedentes”. inspiração e apresentando uma respi- acontece por ação de mediadores
ração ruidosa com possível dispneia, químicos produzidos nas inflama-
ORIGEM DOS PROBLEMAS tosse, engasgos e espirros reversos”. ções crônicas e, também, por meio da
Prescinotto compartilha que os bra- É possível que haja o diagnóstico migração de bactérias pela síndrome
quicefálicos, por possuírem o crânio precoce dos problemas odontológi- da anacorese (tropismo de bactérias
diminuído rostralmente, sua anato- cos em braquicefálicos? Prescinotto para regiões inflamadas)”, diz.

42 • caesegatos.com.br Fotos: divulgação


“A síndrome respiratória braquicefá-

CASOS
lica pode levar alguns animais a afecções
gástricas, como gastrites e esofagites, isso
ocorre pelo fato de se apresentarem ocasio-

ATENDIDOS
nalmente em posição ortopédica (inclina-
ção da cabeça para frente) com objetivo de
melhor inspiração, mas, em consequência,
CASOS ATENDIDOS PELO DIRETOR DA ABOV, THIAGO PRESCINOTTO
"engolem" muito ar preenchendo, também,
1. Dentes superiores apinhados e girovertidos esôfago e estômago, resultando em aumento
da produção de suco gástrico com irritação
da parede gástrica e refluxos esofágicos”.
Por fim, ele fala que as raças braquicefá-
licas estão cada vez mais presentes na rotina
do médico-veterinário, e esse fator acontece
por serem animais escolhidos, às vezes, até
de maneira inconsciente pelos tutores, pela
sua anatomia humanizada de "focinho" curto,
lembrando características de um rosto huma-
no. “A procura cada vez maior por animais bra-
quicefálicos e com o 'focinho' cada vez menor,
levou os criadores destas raças a selecionarem
os animais nesta característica. Embora es-
2. Dente ausente com presença de cisto dentígero sas escolhas agradem o seu público-alvo, as
consequências geram alterações no padrão
anatômico acarretando muitos problemas
de saúde, afetando a qualidade e longevidade
desses pets. O atendimento multidisciplinar
clínico/odontologista corrobora para que se
tenha um olhar ampliado visando a excelência
no manejo e procedimentos necessários”. ◘
A B
Área cística de coloração azulada em região do primeiro pré-molar (A).
Após incisão, é possível identificar a coroa inclusa demonstrada pela seta (B) 4. Casos de estafilectomia

A B A B
Remoção da coroa inclusa e cápsula cística (A). Exodontia do dente Prolongamento do palato mole ultrapassando
306 e posterior sutura com ponto simples separado (B) a margem da epiglote, evidenciando o tecido
extra que impede a passagem de ar (A).
Após a estafilectomia com laser diodo de alta
3. Casos de Rinoplastia
potência, é possível observar a ferida cirúrgica
e o novo espaço entre palato mole e epiglote
para melhor passagem de ar (B)

Dois meses
após a esta-
A filectomia:
nessa imagem
é possível
A B observar a
ferida cirúrgica
Narinas estenosada cicatrizada e
no momento pré cirúrgico (A). Abertura das os tecidos ao
narinas com a técnica de rinoplastia no redor normo-
pós-cirúrgico imediato (B) B C
corados (C)

Agosto / 2022 • 43
FELINOS / INVERNO

NÃO É
SÓ UMA
GRIPEZINHA!
CUIDADOS COM A SAÚDE FELINA NO INVERNO
VÃO ALÉM DE EVITAR DOENÇAS COMUNS
› VANESSA ZIMBRES

44 • caesegatos.com.br Foto: banco de imagens C&GVF


C
om o inverno, da mesma forma por situações de imunossupressão. A mesma
que os humanos precisam orientação deve ser seguida após a vacinação.
cuidar da saúde para evitar Curiosamente, o inverno também pode
doenças comuns, como um causar nos felinos, assim como em humanos,
resfriado, é esperado que o transtorno afetivo sazonal, condição em que
os felinos apresentem si- pessoas e animais sofrem os efeitos nocivos
nais clínicos da tão comum rinotraqueíte devido à diminuição da luz solar nos meses
viral felina. Isso acontece porque, uma vez frios. Por isso, especialmente no inverno, de-
portadores dos agentes causais da doença, vemos enriquecer o ambiente com o objetivo
eles não conseguem eliminar o agente e, em de distrair, estimular e encorajar nossos gatos
situações de imunossupressão, o vírus tem a se movimentarem mais nos dias frios.
a chance de reativar a infecção, levando a
sinais clínicos, principalmente, respiratórios. CONFORTO NO AMBIENTE
Mas a atenção com a saúde dos felinos no Algumas adaptações simples podem fazer
inverno deve ir além das doenças do trato res- toda a diferença na saúde física e mental dos
piratório. As doenças musculoesqueléticas, em felinos, como disponibilizar caixas de papelão
especial a doença articular degenerativa e a os- com aberturas de diversos tamanhos para os
teoartrite, podem afetar até 92% dos gatos com gatos se entocar e brincarem entre si; colocar
idade igual ou superior a 12 anos e, apesar dos brinquedos com catnip, bolinhas com barulhi-
gatos não apresentarem sinais clínicos eviden- nhos ou mesmo bolinhas de papel, e petiscos
tes, nos dias frios, eles sofrem com dor e infla- escondidos para estimular o gato a caçar.
mação e sutilmente mudam seu estilo de vida. Se o ambiente está muito frio, colocar tocas
As consequências disso são: maior risco de em diversos locais da casa e colocar garrafas
constipação e/ou doenças do trato urinário inferior pet com água morna; oferecer mais alimento
devidoàmenormobilidade,erelutânciaemacessar úmido, se possível, misturando com água
as vasilhas de água e caixas de areia para sanar as morna para intensificar o aroma do alimento,
necessidades básicas. Além disso, devido a diminui- tornando-o mais agradável ao felino; disponi-
ção de atividade física, tendem a ganhar mais peso. bilizar mais caixas de areia em locais próximos
de onde o gatinho escolheu ficar nos dias frios.
ATENÇÃO É FUNDAMENTAL! Se houver um gatinho idoso em casa, facilitar
Nos dias frios, os gatos costumam dormir mais, o acesso dele a locais seguros e aquecidos, co-
mas o tempo de sono não deve interferir no locando móveis para auxiliar a subir e a descer; Referências
bibliográficas
apetite. O animal não deve ficar letárgico, dimi- disponibilizar caixas de areia com a borda mais 1. Binns, S.H., Dawson, S.,
nuir sua higienização, deixando os pelos feios e baixa para facilitar a entrada; colocar comedou- Speakman, A.J. A Study
emaranhados, nem relutar em interagir com o ros e bebedouros mais altos, tanto para que o ga- of Feline Upper Respira-
tutor. Qualquer comportamento anormal deve tinho não tenha que se abaixar para se alimentar, tory Tract Disease with
Reference to Prevalence
ser investigado por um médico-veterinário. quanto evitar que se abaixe e fique mais próximo
and Risk Factors for
Gatosqueestãoacostumadosateracessoaam- ao piso frio, se for o caso. Lembrar que esses Infection with Feline
bientes externos podem sofrer mais, pois ficam ex- animais, por sofrerem de dor articular, tendem Calicivirus and Feline
postos a baixas temperaturas e ventos, tendo como a evitar esforço ao permanecerem agachados, Herpesvirus. Journal
consequência uma predisposição à hipotermia. tendendo a ficarem mais em pé ou deitados. of Fel Med Surg, 2 (3).p
123-133, 2000.
Quando colocados dentro de casa, esses animais O uso de aquecedor e umidificador pode ser 2. Gowan, R.; Iff,I. Chro-
podem sofrer com o estresse ou comprometer a uma alternativa, mas deve ser supervisionado, nic Pain and Behavior.
boa convivência com o tutor pela dificuldade de pois, além do risco de queimaduras e acidentes In: Rodan, I.; Heath, S.;
adaptação e por ficarem longos períodos reclusos. elétricos, gatos que apresentam quadros respi- Feline Behavioral Health
and Welfare , 1st ed, El-
Caso o animal tenha passado recentemente ratórios alérgicos podem piorar em ambientes
sevier, p. 184 – 212, 2016.
por um procedimento clínico ou cirurgia, os com demasiada umidade. Além disso, o básico
cuidados devem ser redobrados durante o pe- deve ser disponibilizado como: mantas, ca-
ríodo de convalescência. Os pacientes devem minhas, tocas em locais de fácil acesso e em Vanessa Zimbres é
ser mantidos em locais aquecidos e receber quantidade adequada ao número de animais. médica-veterinária
nutrição adequada, e é fundamental que os Com as orientações básicas e específicas especializada em
tutores sigam as orientações profissionais para conforme a condição do gatinho, o inverno cer- felinos da clínica Gato
o pós-cirúrgico, para evitar que os gatos passem tamente será mais confortável para os pets. ◘ é Gente Boa (Itu/SP)

Agosto / 2022 • 45
F E L I N O S / T R AT O U R I N Á R I O

QUAL
ÉA
EXPLI-
CAÇÃO?

46 • caesegatos.com.br
A CISTITE INTERSTICIAL FELINA É COMUM NA
CLÍNICA, MAS SUAS CAUSAS SÃO DESCONHECIDAS,
POR ISSO, O DIAGNÓSTICO CONSISTE EM UM
DESAFIO PARA O MÉDICO-VETERINÁRIO
› STHEFANY L AR A , DA RE DAÇÃO
sthefany@ciasullieditores.com.br

C
istite intersticial felina. Esse INDICATIVOS E CAUSAS
conjunto de três palavras, Priscila Fonte Boa Rabelo afirma que há uma
provavelmente, já te deixou combinação de sinais clínicos sem padrão
preocupado, mesmo sendo um previsível de início, com variação importante
diagnóstico comum na rotina da frequência de recorrência dos casos e das
clínica. A médica-veterinária durações das crises, assim como da gravidade do
membro do Colégio Brasileiro de Nefrologia e acometimento, que indique que o animal esteja
Urologia Veterinárias (CBNUV) e responsável com o problema. “Os sinais clínicos são aliados
pelo atendimento especializado da República ao aumento da urgência e frequência miccional
dos Animais (Minas Gerais), Priscila Fonte Boa e micção fora da caixa de areia, podendo ocorrer
Rabelo, explica que, na maioria dos estudos, polaciúria, disúria, estrangúria, periúria e, fre-
felinos de meia idade (4-7 anos), castrados e quentemente, hematúria. O fator autolimitante
com sobrepeso apresentam risco aumentado pode levar ao desaparecimento dos sinais em
para sinais de doença do trato urinário inferior. menos de uma semana, e isso é preocupante
“Há uma deficiência nos cuidados com o nos casos crônicos, por isso, é clara a neces-
felino no interior das residências, com ausên- sidade de um emprego terapêutico assertivo”.
cia de enriquecimento ambiental específico, A causa é multifatorial, complexa e, muitas
o que favorece a alteração do trato urinário vezes, indeterminada, segundo a médica-ve-
inferior, embora não seja suficiente para terinária. “As hipóteses mais recentes suge-
causar alterações por si só”, conta. rem que múltiplas anormalidades da bexiga
Segundo ela, o termo “cistite intersticial urinária, do sistema nervoso central e do eixo
felina” foi proposto, em 1996, para os casos em hipotálamo-hipófise-adrenal possam levar
que se desconhece a causa da inflamação das às manifestações clínicas da doença do trato
vias urinárias inferiores, pois há interações urinário inferior felino. A inflamação vesical
complexas entre a etiologia e fisiopatologia, re- de origem neurogênica com a participação
lacionado aos sistemas urinários, nervoso e en- de mastócitos e defeito na camada superficial
dócrino, além de influências comportamentais. da mucosa urinária de glicosaminoglicanos
“Infecções do trato urinário, neoplasias, plugs e infecções virais são as hipóteses mais acei-
uretrais, urólitos, malformações anatômicas, tas para explicar a inflamação vesical”, diz.
alterações comportamentais, neurológicas e
traumatismos podem causar manifestações DIAGNÓSTICO E DESAFIOS
clínicas de doença do trato urinário inferior A médica-veterinária aponta que a cistite in-
felino e, em 60 a 85% dos casos, a causa da tersticial felina é uma síndrome complicada,
inflamação não é identificada e a doença é de- pois o paciente pode apresentar sinais físicos
signada como idiopática, onde 65% é do tipo não agudos, com recidivas em torno de 40 a 60%
obstrutiva e em torno de 29 a 53% obstrutiva”. dos felinos, tornando crônico o problema

Foto: banco de imagens C&GVF Agosto / 2022 • 47


F E L I N O S / T R AT O U R I N Á R I O

sem que se identifique a causa de base. “Há


um aumento das pressões de fechamento
uretral nos pacientes acometidos, que ocorre
mais em felinos machos do que em fêmeas,
por diferenças na anatomia da uretra. E ain-
da podem estar associados a anormalidades
múltiplas, complexas e variáveis do sistema
nervoso, endócrino e sistema imunológico
que, provavelmente, afetam mais do que a
bexiga. O diagnóstico baseia-se em anam-
nese com histórico ambiental detalhado,
exame físico e exames complementares para
elucidar a complexidade de alguns casos”.
Ainda segundo ela, o diagnóstico constitui
um grande desafio para o profissional, pois
o problema, na maioria das vezes, está fora
do órgão de interesse de qualquer subes-
pecialidade em particular. “Envolve fatores
genéticos, influências epigenéticas e am-
bientais, inclusive quando esse animal ainda
está sendo gerado no útero materno, antes
do nascimento, pois há uma vulnerabilidade
maior do sistema nervoso central, devido à
plasticidade nessa etapa”, afirma e completa
que, ao escolher os testes de diagnóstico,
vários fatores precisam ser levados em consi- MUITAS CLASSES
deração, incluindo o número de episódios que
o felino já teve, a gravidade dos sinais clínicos e DE MEDICAMENTOS
as limitações financeiras do guardião. “Não há SÃO CONSIDERA-
sinais clínicos e testes sensíveis e específicos DAS ‘OFF-LABEL’ E O CONSEN-
para o diagnóstico de cistite intersticial felina”.
TIMENTO DO TUTOR DEVE SER
COMO SE DÁ O TRATAMENTO? OBTIDO ANTES DA TERAPIA.
Segundo ela, não há cura para cistite intersticial DROGAS PSICOATIVAS NÃO
felina e a maioria dos casos é autolimitante com
resolução em dois a sete dias com ou sem trata-
DEVEM SER UTILIZADAS
mento. “A maioria dos aspectos da terapia aguda EM FELINOS NA APRESEN-
não foi testada adequadamente para permitir TAÇÃO AGUDA DA CISTITE
recomendações. No entanto, devido à suposta
sensibilidade dos felinos à cistite intersticial,
INTERSTICIAL FELINA, E
cuidados importantes devem ser esclarecidos DEVEM SER UTILIZADOS SOMEN-
com o tutor desses animais, por meio de uma TE QUANDO AS OUTRAS ABOR-
comunicação empática, para reduzir o estresse
e a percepção desses animais a ameaça”.
DAGENS FALHAREM
Priscila Rabelo conta que, se o paciente PRISCILA FONTE BOA RABELO É MEMBRO
estiver hospitalizado, a qualidade do ambiente PARTICIPANTE DA FUNDAÇÃO DO CBNUV
E RESPONSÁVEL PELO ATENDIMENTO
pode ajudar o felino a lidar com o confinamento. ESPECIALIZADO DA REPÚBLICA DOS ANIMAIS
“As superfícies forradas com o cheiro do animal
e do tutor reduzem a percepção de ameaça.
Um lugar para se esconder e empoleirar-se A terapia analgésica para o tratamen-
fornecendo o mesmo alimento e água próximos to da dor aguda é indicada, segundo ela. O
ao esconderijo, uma liteira, música suave e uso de anti-inflamatórios não esteroidais
escovação contribuem para sua recuperação. não tem resultados satisfatórios quando a
Evite fatores estressantes que ameacem o feli- cistite intersticial é obstrutiva, devido ao
no fora do local de confinamento, luz ambiente risco de injúria renal aguda nesse paciente.
sempre que possível, sem ruídos, presença de “Os casos crônicos podem ocorrer por
cães, cigarros e produtos químicos. Os felinos ausência na capacidade de resposta às modifi-
preferem temperaturas quentes entre 29 e cações ambientais sugeridas e outras interven-
37°C. O manejo desse animal, quando feito no ções terapêuticas podem manter o felino sem
mesmo horário e pela mesma pessoa, aumenta sinais clínicos e aumentar o intervalo livre de
a previsibilidade desse ambiente”, lista. doença. Empatia para ouvir histórias frustradas

48 • caesegatos.com.br
CASO QUE
sobre ter um animal com cistite intersticial feli-
na com explicações satisfatórias para a fonte dos

ATENDI!
sinais, expressam cuidado e preocupação com a
situação e melhora a percepção do tutor com o
controle, adesão do paciente ao tratamento e re-
sultados de qualidade de vida da terapia”, afirma.
PRISCILA Fonte Boa Rabelo compartilha Para ela, as modificações ambientais é a
que, na região que atende, a frequência terapia primária para a prevenção de recorrên-
é maior de cães do que de gatos, e os cia de sinais de cistite intersticial felina, assim
tutores de felinos que buscam o atendi- como a água é a terapia primária para a pre-
mento pela primeira vez mostram-se bem venção de recorrência de cálculos urinários.
interessados em saber cuidados básicos “As modificações ambientais fornecem todos
com o fornecimento da água e alimento os recursos necessários para refinamento
e número de liteiras, além do enriqueci- das interações entre os guardiões e uma in-
mento ambiental e práticas cat friendly tensidade tolerável de conflito. Nem todos os
(algumas listadas no checklist ao lado). No felinos requerem uma modificação ambiental
atendimento especializado os casos po- intensa, pois varia com as necessidades e o
dem ser mais desafiadores, pelo fato dos compromisso do tutor nesse processo”, afirma.
tutores buscarem uma segunda opinião. Priscila Rabelo apresenta o checklist abaixo,
“Acompanho um caso bem interessan- que auxilia na implementação de algumas
te, há um ano e meio, e o motivo da primeira mudanças importantes nesse processo.
consulta foi a presença de pielectasia
com hidronefrose devido a urólitos, que 1. Lugares seguros para descansar e dormir, pode
também estavam presentes na vesícula se utilizar a caixa de transporte como opção;
urinária. Esses achados foram identifica- 2. Um ambiente que acomoda todas as moda-
dos após um checkup de rotina. O animal lidades sensoriais, incluindo gustativa, visual,
macho, oito anos, castrado, é ofertado auditiva, tátil e olfativa;
alimento seco, consome água de acordo 3. Alimentos satisfatórios, que acomodam as
com a necessidade da espécie, e sua guar- preferências do tutor e do gato;
diã utiliza e realiza as práticas cat friendly. 4. Oportunidades diárias para o gato brincar
Conseguimos, por meio de tratamento e se envolver em comportamento predatório;
conservativo, expulsar todos os urólitos 5. Áreas múltiplas e separadas em residências
nesse intervalo de tempo, no entanto, multiespécie para os principais recursos am-
como é de se esperar em um sábado de bientais (descansar e dormir, comida, água, ir
madrugada, o animal começou a ir com ao banheiro, coçar, escalar e brincar);
maior frequência a leiteira com disúria 6. Mudanças nos recursos ambientais ofere-
e hematúria. Esse paciente não tinha cidos como escolhas para permitir que o gato
histórico de hipertensão, apresentava-se expresse suas preferências;
10% acima do escore corporal, sem perda 7. Um ambiente tão positivo, consistente e
de massa muscular, FIV e FelV negativo, previsível quanto possível;
doente renal crônico estádio II e não pro- 8. Interação social humana-gato diária positiva,
teinúrico. Na ultrassonografia, demons- consistente e previsível.
trou paredes espessadas e conteúdo com
discretos ecos amorfos. Infelizmente, “Muitas classes de medicamentos são
no momento da cistocentece, houve consideradas ‘off-label’ e o consentimento do
esvaziamento da bexiga por micção es- tutor deve ser obtido antes da terapia. Drogas
pontânea e esse exame não foi realizado psicoativas não devem ser utilizadas em feli-
para evitar estresses desnecessários. nos na apresentação aguda da cistite inters-
Foi incluída medicação com anti-in- ticial felina, e devem ser utilizadas somente
flamatório e analgésico por três dias e foi quando as outras abordagens falharem”.
obtido um bom desfecho. A importância Por fim, ela lembra que o trabalho preventivo
de inserir medidas preventivas logo no começa tão logo tem-se contato com o felino e
primeiro atendimento é essencial para inicia com uma comunicação assertiva e empáti-
contribuir para o bem-estar do paciente ca. “Isso colabora para um gerenciamento exclu-
confinado, mas não impede de ocorrer sivo de saúde e bem-estar, fundamental para ob-
problemas, principalmente em um am- ter, também, a história detalhada do ambiente
biente onde já se pratica medidas cat em que o felino reside. Uma boa conversa abre
friendly. Esclarecer isso logo no primeiro portas para que o médico-veterinário possa
contato com o guardião é de fundamen- realizar um bom exame físico que contribui
tal importância para o cuidado com o para inserções multidisciplinares nos casos
felino e o desfecho desse caso”. complexos, sempre que necessário”, finaliza. ◘

Agosto / 2022 • 49
N U T R O L O G I A / G E S TA Ç Ã O

NO COMEÇO
DA VIDA
COMO MONITORAR A CADELA GESTANTE
DO PONTO DE VISTA NUTRICIONAL
› LETICIA TORTOLA

A
nutrição da cadela durante a ges- É essencial que a suplementação de ácido
tação e o manejo alimentar podem fólico seja iniciada assim que a cadela entrar
afetar diretamente a vitalidade dos no estro, uma vez que o tubo medular se
seus filhotes no nascimento, bem fecha durante a primeira fase da gestação.
como a capacidade de essa cadela produzir leite Após o 42º dia de gestação, as necessidades
suficiente para os filhotes. Portanto, a alimentação energéticas da fêmea aumentam para 1,25 a 1,5
correta da cadela durante a gestação é um aspecto vezes as de manutenção. Nessa fase, os fetos ga-
importante que não deve ser negligenciado pelos nham 70% do seu peso ao nascer. Mas o simples
médicos-veterinários, de forma a orientar tutores aumento das quantidades fornecidas do alimen-
e criadores sobre essa fase de vida tão importante. to de manutenção é muitas vezes problemático,
A gestação da cadela tem duração de, apro- pois o útero está comprimindo o estômago e,
ximadamente, 63 dias, podendo ser dividida em portanto, limitando a ingestão de alimentos.
Referências
duas fases: os primeiros 42 dias, em que ocorre o Portanto, a recomendação é trocar para um bibliográficas
desenvolvimento dos órgãos dos embriões e não alimento específico para essa fase ou para cães DOMOSLAWSKA, A.;
há ganho de peso da cadela e dos fetos. E a se- filhotes, que fornecerá, além da energia, os nu- JURCZAK, A.; JANOWSKI, T.
Oral folic acid supplemen-
gunda fase, que se inicia a partir do terço final de trientes essenciais em quantidades adequadas tation decreases palate
gestação, ocorrendo um rápido crescimento dos para um crescimento saudável durante essa se- and/or lip cleft occurrence
fetos e, consequentemente, um aumento no peso gunda fase. Esse alimento deve conter alta den- in Pug and Chihuahua pup-
pies and elevates folic acid
corporal da mãe. Durante estas fases essenciais sidade energética, pois, desta forma, é possível
blood levels in pregnant
da vida, a nutrição da mãe será responsável para garantir a ingestão calórica necessária com me- bitches. Polish Journal of
a formação e o crescimento embrionário/fetal. nor volume de alimento. E recomenda-se dividir Veterinary Sciences, 2013.
Durante a primeira fase, o principal objetivo em várias refeições diárias por causa da disten- FONTAINE, E. Food intake
and nutrition during
nutricional é o de manter o peso corporal ideal. são abdominal causada pelo útero gravídico. pregnancy, lactation and
A desnutrição da fêmea pode ter sérias conse- E, por último, durante a consulta gesta- weaning in the dam and
quências, tanto para a saúde dela quanto para cional, deve-se sempre pesar a cadela a fim offspring. Reproduction
o desenvolvimento dos fetos. Por outro lado, o de monitorar seu ganho de peso. Durante in Domestic Animals, 47,
326-330. 2012.
excesso de peso precoce durante essa primeira os primeiros 42 dias de gestação, ela deve GUILLOTEAU, A.; SERVET,
fase pode ser um problema. Muitos tutores manter seu peso corporal. E, no momento do E.; BIOURGE, V. Folic acid
acreditam que grandes quantidades de energia parto, a cadela deveria pesar de 115 a 120% de and cleft palate in
brachycephalic dogs.
são necessárias desde o início da gestação. A peso corporal inicial o que significa um ganho
Waltham Focus n.16,
presença de gordura em excesso armazena- semanal de 5 a 8%. Mas vale ressaltar que a no. 2: 30-33. 2006.
da pode levar a contrações uterinas menos fêmea não deve ganhar mais do que 30% em NATIONAL RESEARCH
eficientes, dando origem ao aumento do risco relação a seu peso original durante a gestação. COUNCIL (NRC). Nutrient
requirements of dogs
de atonia uterina e de distocia, consequente- O peso corporal é um indicador extrema- and cats. Washington,
mente, levando ao aumento da necessidade mente importante e fácil de monitorar e, caso a D.C: National Academy
da realização de cesáreas, podendo aumentar cadela esteja com peso abaixo ou acima do espe- Press, 2006.
também a taxa de mortalidade neonatal ligados rado para o período gestacional, deve-se tentar
ao parto prolongado e ao sofrimento fetal. corrigir com revisão da quantidade de alimento Letícia Tortola
Alguns nutrientes específicos são impor- fornecido. De fato, não se deve alimentar a cade- é coordenadora
tantes para essa primeira fase, o ácido fólico, la no esquema ad libitum durante a gestação e, de Comunicação
por exemplo, tem um papel importante para sim, com quantidade controlada de acordo com Científica da Royal
diminuir a possibilidade de fenda palatina. as recomendações do fabricante do alimento. ◘ Canin Brasil

50 • caesegatos.com.br Foto: banco de imagens C&GVF


Junho / 2022 • 51
PE TFOOD / ADEQUAÇÃO

DOENÇA RENAL
CRÔNICA EM
CÃES E GATOS
O QUE OS ESTUDOS CIENTÍFICOS DIZEM
A RESPEITO DAS RAÇÕES RENAIS?
› LETÍCIA WARDE LUIS, MONIQUE PALUDETTI
E LUCIANA DOMINGUES DE OLIVEIRA

A
doença renal crônica (DRC) Figura 1.
corresponde à perda da Estágios da DRC
função renal pela presen-
ça de lesões renais irrever-
síveis e progressivas nos
rins, com perda estrutural, diminui- Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4
ção da taxa de filtração glomerular Não Azotemia Azotemia Azotemia
azotêmico leve moderada severa
e acúmulo de substâncias tóxicas (creat. (creat. normal
no organismo1. O tratamento, bem normal) ou pouco
aumentada)
como o prognóstico, varia de acordo
com o estágio da doença (figura 1)2.
Creatina (mg/dL) Cão <1,4 <1,4 - 2,8 2,9 - 5,0 >5,0
A nutrição é considerada, há dé- Estágio baseado
cadas, um dos principais pilares do na creatina estável Gato <1,6 <1,6 - 2,8 2,9 - 5,0 >5,0

manejo da DRC e auxilia no contro-


le dos sinais clínicos e na manuten- SDMA (µ/dL) Cão <18 <18 - 35 36 - 54 >54
Estágio baseado
ção do equilíbrio hidroeletrolítico, do no SDMA estável Gato <18 <18 - 25 26 - 38 >38
peso e da massa magra1,3,4. Dentre os
nutrientes que requerem modifica-
ções nas dietas para pacientes DRC, U/PC não proteinúrico <0,2 Limítrofe 0,2 - 0,5 proteinúrico >0,5
Cão
Subestágio baseado
destacam-se a proteína e o fósforo4. Gato não proteinúrico <0,2 Limítrofe 0,2 - 0,4 proteinúrico >0,4
na proteinúria
A degradação da proteína (seja
ela dietética ou endógena, provenien-
Pressão arterial Cão Normotenso <140 Pré-hipertenso 140 - 159
te da degradação da massa magra) é
sistêmica mmHg) Gato Hipertenso 160 - 179 Hipertenso 160 - 179
responsável pelo acúmulo de meta-
bólitos nitrogenados que, não sen- (IRIS, 2019)

52 • caesegatos.com.br
do filtrados pelos rins, causam a maioria dos de a se acumular na corrente sanguínea com a
sinais clínicos1. Embora haja muita controvér- diminuição da filtração glomerular, agravando
sia, a recomendação atual é que não haja re- a crise urêmica e podendo causar outros pro-
dução na quantidade de proteína em estágios blemas como hiperparatireoidismo renal se-
iniciais para promover manutenção da massa cundário, desmineralização óssea e calcifica-
magra e que a proteína seja de alta digestibili- ção de tecidos moles1,3. Com isso, os alimentos
dade e possua perfil de aminoácidos adequado. comerciais para DRC contam com redução no
Entretanto, uma vez instalada a perda de pro- teor de fósforo com o objetivo de manter ade-
teína na urina, recomenda-se a diminuição da quada a concentração sérica desse mineral8,9,10,11.
ingestão de proteína para reduzir a proteinú- Diversos estudos publicados, ao longo dos
ria, isso já foi relatado em inúmeros estudos anos, comprovam a eficácia dos alimentos co-
publicados em revistas de alto impacto1,4,5,6,7. merciais para doença renal em reduzir a pro-
O fósforo, por sua vez, é um mineral que ten- gressão da DRC, o risco de crises urêmicas

Tabela 1. Principais alimentos comerciais coadjuvantes para


doença renal crônica para cães disponíveis no Brasil

Proteína Fósforo Fósforo


EM* Bruta mínima mínimo máximo
Alimento (kcal/kg) (g/kg) (mg/kg) (mg/kg)

Royal Canin Renal Special Canine 3.890 115 2.400 N/D*


Royal Canin Renal Canine 4.030 140 1.700 N/D
Premier Renal Cães 4.072 145 3.000 N/D
Hill’s k/d canine 4.050 120 1.500 N/D
Equilíbrio RE canino N/D 140 2.000 5.000
Pro Plan NF Cães 3.980 120 2.000 4.000
Vet Life Renal Canine 3.990 133 1.600 N/D
EM: energia metabolizável; N/D: não declarado

Proteína Fósforo Fósforo


EM* Bruta mínima mínimo máximo
Alimento (kcal/kg) (g/kg) (mg/kg) (mg/kg)

Royal Canin Renal Special Feline 3.970 240 3.500 N/D


Royal Canin Renal Feline 3.916 210 2.400 N/D
Premier Renal Gatos 4.072 240 3.000 N/D
Hill’s k/d feline 4.177 260 3.000 7.500
Equilíbrio RE felino 4.225 240 2.200 3.000
Pro Plan NF Gatos Early Care N/D 330 3.000 6.000
Pro Plan NF Gatos Estágio Avançado N/D 250 2.000 5.000
Vet Life Renal Feline 4.140 245 3.000 N/D
EM: energia metabolizável; N/D: não declarado

Foto: banco de imagens C&GVF Agosto / 2022 • 53


PE TFOOD / ADEQUAÇÃO

e aumentar a qualidade de vida e a sobrevida dos nas referências desse texto, é possível
dos pacientes9,11,12,13,14,15,16. Entretanto, mesmo afirmar, com segurança, que as dietas renais
com tanta evidência científica de pesquisa- comerciais continuam sendo a melhor op-
dores e instituições de renome, atualmente, ção para o manejo nutricional da DRC a par-
tem-se visto um movimento contrário às re- tir do estágio 2 da doença. Entretanto, res-
comendações dietéticas que há décadas são salta-se o fato de que a doença pode causar
empregadas no tratamento desses pacientes. inapetência em muitos pacientes1,3, sendo
Esse movimento é, principalmente, compos- assim, as dietas caseiras cozidas passam a
to por indivíduos adeptos das dietas “BARF”, ser uma opção para manter a nutrição ade- A BIBLIOGRÁFICA
ditas biologicamente apropriadas por conte- quada, desde que sigam o perfil nutricional COMPLETA ESTÁ
rem quantidades altíssimas de carne, vísceras praticado nos alimentos comerciais. Em um DISPONÍVEL PELO
e ossos crus, porém não existe nenhum tipo de estudo, Larsen & colaboradores22 avaliaram QR CODE
evidência científica que tenha validado o uso 39 receitas de alimentação natural cozida
desse tipo de alimento para pacientes renais, para cães e 28 para gatos com DRC e verifi- Letícia Warde Luis,
ou que tenha verificado melhores respostas caram que nenhuma das dietas atendeu as médica-veterinária,
desses alimentos quando comparados com os recomendações do NRC, 2006 para animais ex-residente de Nutri-
alimentos comerciais para DRC, sendo as afir- adultos. Foram encontradas deficiências de ção e Nutrição Clínica
de Cães e Gatos pela
UNESP/Jaboticabal.
Mestra em Clínica
Médica com ênfase
É IMPRESCINDÍVEL, COMO EM QUALQUER OUTRA em Nutrição de Cães
CONDIÇÃO, QUE, PARA SE INSTITUIR ESSA MODALIDADE DE e Gatos pela UNESP/
Jaboticabal. Clínica
ALIMENTAÇÃO, SEJA CONSULTADO UM PROFISSIONAL na área de Nutri-
HABILITADO PARA FORMULAÇÃO DE DIETAS BALANCEADAS ção de cães e gatos.
E-mail: leticiawluis@
gmail.com
Monique Paludetti,
mações praticadas totalmente especulativas. aminoácidos essenciais em pelo menos 77% ex-residente de Nutri-
Considerando nossa experiência profissional, e 43% das dietas de gatos e cães respectiva- ção e Nutrição Clínica
de Cães e Gatos pela
não é incomum na rotina dos nutricionistas mente, colina em pelo menos 82% (gatos) e
UNESP/Jaboticabal.
e nutrólogos se deparar com pacientes DRC 95% (cães) das dietas e inúmeras deficiên- Clínica na área de Nu-
anteriormente compensados, apresentando cias de outras vitaminas e minerais, indi- trição Clínica de cães e
crises urêmicas decorrentes da troca de die- cando que o uso de dietas disponíveis on-li- gatos. E-mail: mopalu-
ta para opções com excessos de carne, uma ne se torna um risco para o desenvolvimento detti@gmail.com
vez que essas dietas possuem como carac- de deficiências nutricionais em cães e gatos. Luciana Domingues
terísticas serem riquíssimas em proteína de Por isso, é imprescindível, como em qual- de Oliveira, médica-
origem animal e apresentarem um teor ex- quer outra condição, que, para se instituir -veterinária, mestra
tremamente elevado de fósforo17. E mais do essa modalidade de alimentação, seja con- e doutora na área
que isso, existem ainda evidências de que sultado um profissional habilitado para for- de Nutrição de Cães
e Gatos pela UNESP/
dietas com elevados teores de fósforo, como mulação de dietas balanceadas, pois são
Jaboticabal. Clínica e
por exemplo, dietas caseiras hiperproteicas, inúmeros os relatos de pacientes consu-
Consultoria na área
ricas em carnes e vísceras e com suplemen- mindo dietas desbalanceadas provenien- de Nutrição de cães
tação inadequada podem causar doença re- tes de sites e outras fontes duvidosas na e gatos. E-mail: lu-
nal em animais previamente saudáveis18,19,20. internet21,22,23,24, assim como de profissio- ciana.naturaliapet@
Com base nos artigos científicos trazi- nais não suficientemente capacitados. ◘ yahoo.com

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Agosto / 2022 • 55
P E T S I LV E S T R E / S O N O

MEU PEIXE DORME?


CONHECER SOBRE A ESPÉCIE E SEU HABITAT NATURAL
AUXILIA PARA QUE O ANIMAL TENHA UM BOM SONO
› CAROLINA BERNARDES CRUZ

O
sono é um estado comportamental com- dos mamíferos e a área dorsal do pálio do cére-
plexo e ainda muito pouco explorado em bro dos peixes em que são emitidas assinaturas
peixes. Nesse sentido, cabe a pergunta: neuronais do sono semelhantes as dos mamí-
esses animais têm a capacidade de feros. Para que fosse feita a análise dessas as-
dormir e, se tiverem, como isso se dá? sinaturas, pesquisadores realizaram uma po-
Com o objetivo de compreender esses lissonografia não invasiva em peixes-zebra,
questionamentos, estudos foram realizados, Danio rerio, baseada em fluorescência por
levando em consideração os entendimentos meio da gravação imparcial de atividade em
já presentes a respeito do sono em mamíferos. todo o cérebro, juntamente com avaliação
O sono em mamíferos é dividido em REM do movimento dos olhos, dinâmica muscular
e NREM, de forma simplificada, há diferentes e frequência cardíaca. Esse estudo comprovou
frequências e amplitudes de ondas captadas a presença de ondas que se assemelham às
por eletroencefalograma, além da análise presentes no sono REM e NREM dos mamíferos.
do movimento dos olhos, tônus muscular e Porém, para os peixes-zebra as ondas foram
frequência cardiorrespiratória que auxiliam denominadas de sono de ondas de propa-
a determinar em que fase do sono o animal gação e de ruptura lenta, respectivamente.
está. Essas ondas são emitidas no neocórtex. Para se compreender o sono, o compor-
Entretanto, quando foram feitos os estudos tamento é essencial. Nesse sentido, assim
em peixes, foi verificado que o cérebro desses como os mamíferos, durante o sono, os pei-
animais não apresenta essa estrutura, porém, xes também apresentam uma diminuição do
foi estabelecido um paralelo entre o neocórtex tônus muscular e diminuição da frequência

56 • caesegatos.com.br Fotos: banco de imagens C&GVF


cardíaca. Entretanto, durante o sono REM nos realmente constroem um ninho para dormir
mamíferos, há presença de movimentos rápi- (WEIS, 2011). O ciclo circadiano, de forma Referências
dos oculares, já nos peixes esses movimentos simplificada, diz respeito ao período em que bibliográficas
Leung, L.C., Wang, G.X.,
se tornam lentos durante o sono de ondas o peixe tende a dormir, por exemplo, peixes Madelaine, R. et al.
de propagação (equivalente ao sono REM diurnos tendem a dormir durante a noite, Neural signatures of
dos mamíferos). Além disso, pode ser citado sendo assim, é necessário a ausência de luz. sleep in zebrafish.
também o aumento do limiar de excitação, ou Em relação a respiração, o comportamento se Nature 571, 198–204
(2019). https://doi.org
seja, para que o peixe faça algum movimento, difere, pois os peixes pulmonados necessitam /10.1038/s41586-
o estímulo deve ser maior do que o habitual. ir até a superfície em intervalos de tempo para 019-1336-7
Um estranhamento entre os peixes e os ma- poder captar o ar atmosférico, já nos peixes Pinheiro-da-Silva,
J. Efeitos da privação do
míferos é a ausência de pálpebras nos peixes, branquiais, há a necessidade de um fluxo de
sono em tarefas cogniti-
o que pode levantar dúvidas a respeito do água para que haja a respiração, esse fluxo vas. Natal, RN, 2016.
sono dos peixes, visto que é comum vermos pode se dar por meio da abertura e fecha- Alóe, F., Azevedo, A. P.,
os mamíferos fechando os olhos ao dormir. mento da boca ou por meio da natação desses Hasan, R. Mecanismos
do ciclo sono-vigília.
Nessa perspectiva, para que o sono ocorra peixes com a boca aberta. Uma característica Braz. J. Psychiatry, 2005.
de forma segura para os peixes, cada espécie interessante observada nos peixes-zebra, https://doi.org /10.1590/
tem o seu respectivo comportamento que é durante o estudo feito por Leung, L.C., Wang, S1516-44462005000500007
Weis, J. S. Do Fish Sleep?:
influenciado por uma série de fatores, entre G.X., Madelaine, R. et al, é que a melatonina
Fascinating Answers to
eles pode-se citar: habitat, ciclo circadiano e produzida no subcórtex desses animais está Questions about Fishes.
respiração. O habitat se relaciona com o local ligada com o efeito de mudança de coloração Rutgers University
em que o peixe dormirá, como por exemplo, desses animais enquanto dormem, isso é Press, 2011.
os peixes de recife encontram um local seguro uma estratégia para evitar a predação.
no coral para se esconder e descansar. Alguns Nesse contexto, foram estudados os efeitos
da privação do sono nos peixes, assim como
nos mamíferos, eles se dão de forma negativa
no comportamento habitual desses animais.
O CICLO CIRCADIANO, Apenas uma noite de privação de sono já
é suficiente para afetar o desempenho do
DE FORMA SIMPLIFICADA, Danio rerio em tarefas cognitivas (PINHEI-

DIZ RESPEITO AO PERÍODO RO-DA-SILVA, 2016). Isso afeta diretamente na


discriminação de objetos pelos peixes-zebra.
Carolina Bernardes
Cruz é aluna do
EM QUE O PEIXE TENDE Dessa forma, é essencial que haja o manejo curso de Medicina
Veterinária da Fa-
adequado de peixes ornamentais em relação
A DORMIR, POR EXEMPLO, ao sono, visto que foi comprovado que a sua culdade de Medi-
cina Veterinária e
privação é danosa para o animal. Portanto,
PEIXES DIURNOS TENDEM deve-se atentar a espécie de peixe que está
Zootecnia (FMVZ)
da Universidade
A DORMIR DURANTE A NOITE, buscando criar, fazer uma pesquisa a respeito
de seu habitat natural, para que seja feita uma
de São Paulo (USP)
e membro do
SENDO ASSIM, É NECESSÁRIO ambientação adequada, além de pesquisar so- Grupo de Estudos
bre o seu ciclo circadiano, buscando favorecer de Animais Selva-
A AUSÊNCIA DE LUZ um período de iluminação adequado. ◘ gens (GEAS)

Agosto / 2022 • 57
TOME NOTA
Sthefany Lara, da redação | sthefany@ciasullieditores.com.br

DIRETRIZES

FERRAMENTAS
EM MÃOS
WSAVA ATUALIZA GUIA DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL,
QUE ESTÁ DISPONÍVEL EM PORTUGUÊS

Desde 2010, o Comitê de Nutrição Global (GNC), da


World Small Animal Veterinary Association (Wsava),
possui a tarefa inicial de desenvolver diretrizes glo-
bais de nutrição, que foram publicadas pela primeira
vez em 2011. O intuito dessas diretrizes é contribuir,
junto às equipes de saúde veteri-
nária e aos tutores, para um pla-
no de nutrição ideal adaptado às
necessidades de cada cão e gato.
O Comitê de Nutrição Global
da WSAVA oferece informações nutricionais espe-
cializadas e baseadas em evidências para animais de
companhia para apoiar a equipe de saúde veterinária.
O documento em português pode ser acessa-
do pelo QR Code.

Kit ferramentas
Após o lançamento das Diretrizes de Nutrição Glo-
bal da WSAVA, em 2011, o GNC desenvolveu um con-
junto de ferramentas, que incluem auxílios prá-
ticos para a equipe de saúde veterinária tornar a
avaliação e recomendações nutricionais mais efi-
cientes, como um formulário de histórico de die-
ta, guia de alimentação do paciente hospitaliza-
do, gráficos de pontuação da condição corporal
e recomendações de calorias para cães e gatos.
Além disso, foram desenvolvidos materiais edu-
cativos para donos de animais de estimação. De
acordo com o portal da Wsava, essas ferramen-
tas são projetadas para ajudar a equipe de saúde
veterinária a abordar a Nutrição em todas as vi-
sitas ao paciente e promover o papel central da
equipe de saúde veterinária como fonte especia-
lizada de informações nutricionais.
Conheça as ferramentas pelo QR Code.

58 • caesegatos.com.br Foto: banco de imagens C&GVF

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