Você está na página 1de 7

Direito Empresarial I

Resumo para a VR

SURGIMENTO

O surgimento do Direito Comercial como sistema sistematizado de normas se operou somente


com o surgimento das corporações de ofício. Desde esse surgimento, passou por três fases,
sendo elas:

1. Fase subjetiva clássica: em que se considerava mercador/comerciante quem estava


inscrito numa corporação de ofício;
2. Fase objetiva: considerava-se comerciante quem realizava atos de comércio;
3. Fase subjetiva contemporânea: tem como base o código civil italiano.

Com o advento do CC/02, a unificação do direito comercial foi tema de debate. Isto porque
uma primeira corrente acredita que o CC/02 disciplina somente parte da matéria comercial,
motivo portanto inapto a ensejar uma unificação. Outra corrente acredita em uma unificação
parcial e formal. Parcial porque não abarca toda a matéria e formal porque não operou a
perda da autonomia do direito empresarial.

TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO

O Código Civil incorporou a chamada teoria dos atos de empresa, em substituição à teoria dos
atos de comércio. A teoria tem como elementos estruturais:

1. Empresário
2. Empresa
3. Estabelecimento

Segundo Alberto Aschini a noção jurídica de empresa é compreendida como um fenômeno


poliédrico, o qual se demonstra através dos perfis de empresa, quais sejam:

1. Objetivo: empresa como patrimônio


2. Subjetivo: empresa como sujeito que exerce uma atividade
3. Corporativo: empresa como instituição (titular + colaboradores)
4. Funcional: empresa como atividade econômica organizada

A noção que predomina é a de empresa como atividade econômica organizada,


contemplando-se o perfil funcional de empresa.

NOÇÕES GERAIS

Em sentido amplo, entende-se por empresário aquele que exerce profissionalmente a


atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços. Há exceção
a este conceito, quando se trate de exercício de profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística.

O estabelecimento é todo o complexo de bens organizado para o exercício da empresa.


EMPRESÁRIO INDIVIDUAL X SOCIEDADE EMPRESÁRIA

O empresário individual é a pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica


organizada. Por ser pessoa física, não goza da separação patrimonial característica das
sociedades empresárias, respondendo, portanto, com todos os seus bens, inclusive os
pessoais, pelo risco do empreendimento. Essa responsabilidade, em tese, seria direta,
entretanto, o Enunciado 6 da I Jornada de Direito Civil estabelece que o empresário individual
responde primeiramente com os bens vinculados à sua atividade econômica. O empresário
individual não pode ter sócios, apenas colaboradores.

Já a sociedade empresária, por ser pessoa jurídica, possui personalidade própria. Assim, os
sócios de uma sociedade empresária não são empresários, pois o empresário é a própria
sociedade. Como pessoa jurídica, possui patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios
que a integram. Desta forma, os bens particulares dos sócios, em princípio, não podem ser
executados por dívidas da sociedade, só os sendo após essa execução. A isto se chama
responsabilidade subsidiária: primeiro os bens da sociedade, depois os dos sócios.

Enquanto a responsabilidade do empresário individual é direta e ilimitada, a responsabilidade


dos sócios de uma sociedade empresária será subsidiária, podendo ser limitada, a depender do
tipo societário adotado.

IMPEDIMENTOS LEGAIS AO EXERCÍCIO DE EMPRESA

Podem exercer a atividade empresária os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e
não forem legalmente impedidos, mas não podem:

1. Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos;
ou por crime falimentar;
2. Membros do MP, servidores públicos federais, magistrados, militares. Importante
ressaltar que essa vedação é apenas para empresários individuais, sendo permitido
que participem na qualidade de sócio, como acionistas ou quotistas.

Caso aquele que, mesmo legalmente impedido, exerça atividade empresária, responderá pelas
obrigações contraídas. No entanto, estas não serão nulas, tendo plena validade perante
terceiros de boa-fé.

3. Pessoa incapaz: não pode iniciar o exercício da empresa, mas pode dar continuidade a
uma atividade empresarial. O incapaz pode exercer atividade individual de empresa,
desde que por meio de representante ou devidamente assistido.

O menor de 16 anos pode pedir emancipação, desde que capaz.

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI)

Tem por objetivo possibilitar que determinado empreendedor, de forma individual, exerça
atividade empresarial de responsabilidade limitada, ficando seus bens particulares
resguardados. O capital mínimo da EIRELI é igual ou superior a 100x o valor do maior salário
mínimo. Uma vez efetivamente integralizado o capital, não se alterará em função da alteração
do valor de salário mínimo vigente. Adquirirá personalidade jurídica quando os atos
constitutivos forem arquivados em registro competente e a falta de arquivamento configura
irregularidade superveniente. A EIRELI não é empresário individual e nem se confunde com
sociedade unipessoal. Pode adotar para nome empresarial tanto firma quanto denominação. A
pessoa natural que constitui a EIRELI só poderá figurar em uma única empresa dessa
modalidade.
Em caso de abuso da personalidade jurídica, que se caracteriza pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, poderá o juiz determinar a desconsideração da personalidade
jurídica, ou seja, que a responsabilidade recaia sobre os bens pessoais do empresário
individual de responsabilidade limitada.

AGENTE ECONÔMICOS EXCLUÍDOS DO CONCEITO DE EMPRESÁRIO

Algumas atividades, apesar de econômicas, não configuram empresa. São elas:

1. Profissionais intelectuais
Advogados, médicos, professores, etc., não são considerados empresários, salvo se
o exercício da profissão constituir elemento de empresa. A partir do momento em
que o empresário individual dá forma empresarial ao exercício de suas atividades,
será considerado empresário. Ou seja, quando a atividade empresarial deixar de
ser o fator principal do empreendimento empresarial; a atividade passa a ser
organizada (criação de registro de uma marca, contratação funcionários; fixação de
um ponto de negócio).
2. Sociedade simples
Sociedades constituídas por intelectual cujo objeto social é justamente a
exploração de sua profissão. Por isso, nem sempre a sociedade será empresária.
Como exceção, temos: sociedade simples – cooperativa.
3. Exercente de atividade econômica rural
Possui a faculdade de se registrar ou não perante a Junta Comercial. Quando não
registrado, não será considerado empresário, mas, uma vez registrado, será
considerado empresário para todos os efeitos legais.

SOCIEDADE SIMPLES X EMPRESÁRIA

É o objeto explorado pela sociedade que define a sua natureza empresarial ou não. Quando a
sociedade explorar atividade empresarial, empresária será, e, portanto, deverá registrar-se
junto à Junta Comercial e submeter-se ao regime jurídico empresarial. Quando seu objeto não
for atividade empresarial, será uma sociedade simples, devendo registrar-se no Cartório de
Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

REGISTRO EMPRESARIAL

O registro empresarial é uma obrigação legal imposta a qualquer empresário (empresário


individual ou sociedade empresária). Tem que se inscrever na Junta Comercial (RPEM) antes
de iniciar a atividade. Do contrário, estará irregular. A inscrição é requisito de regularidade, e
não de caracterização. Os atos de registro são:

1. Arquivamento
2. Matrícula
3. Autenticação

As Juntas Comerciais possuem a função de tornar públicos os atos relativos a esses agentes
econômicos. A publicidade dos atos de registro permite que qualquer pessoa possa consultar
os assentamentos existentes nas Juntas Comerciais.

ESCRITURAÇÃO DO EMPRESÁRIO

Todo empresário possui também a obrigação legal de seguir um sistema de contabilidade,


mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros em correspondência
com a documentação respectiva, e a levantar anualmente dois balanços: patrimonial e de
resultado econômico. Na escrituração do empresário deve-se manter um sistema de
escrituração contábil periódico. A escrituração irregular é considerada crime perante a
legislação falimentar.

São instrumentos de escrituração:

1. Livros
2. Conjunto de fichas ou folhas soltas
3. Conjunto de folhas contínuas
4. Microfichas

A escrituração é tarefa que a lei incumbe ao contabilista. O único livro comum e obrigatório a
todos é o Diário, que pode ser substituído por fichas ou pelo livro balancetes diários.

Os microempresários e os empresários de pequeno porte são dispensados das exigências de


manter um sistema de escrituração a das relativas ao levantamento anual patrimonial e de
resultado econômico.

A regularidade da escrituração deve obediência a dois requisitos:

1. Intrínsecos: a escrituração deverá ser feita em idioma e moeda corrente nacional,


por ordem cronológica;
2. Extrínsecos: existência de um termo de abertura e de um termo de encerramento
e autenticação na Junta Comercial.

O nome empresarial não se confunde com marca, nome fantasia, nome de domínio ou sinais
de propaganda. São características do nome empresarial a veracidade – ou seja, precisa
retratar a verdadeira situação jurídica e econômica – e a originalidade – não pode ser idêntico
a outro já existente. O nome empresarial se apresenta em duas espécies:

1. Firma – espécie de nome empresarial firmada por um nome social civil, que serve
como assinatura do empresário pra assinar contrato;
2. Denominação – pode ser formada por qualquer expressão linguística (nome
fantasia) + indicação do objeto social (ramo de atividade).

SIGILO EMPRESARIAL

Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal pode verificar se o
empresário ou sociedade empresária observam ou não, em seus livros, as formalidades
previstas em lei. A essa regra tem-se como exceção apenas as autoridades fazendárias, quando
no exercício de fiscalização tributária, limitadas apenas ao exame do ponto objeto de
investigação.

O sigilo que protege os livros empresariais pode ser quebrado mediante ordem judicial, total
ou parcialmente. Quando parcial, pode ser determinado de ofício pela autoridade judicial ou a
requerimento das partes. Quando total, somente determinado a requerimento das partes.

EFICÁCIA PROBATÓRIA DOS LIVROS

Os livros comerciais podem provar contra ou a favor do empresário. Prova contra porque é
lícito ao comerciante demonstrar por todos os meios permitidos em direito que os
lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Prova a favor porque os livros comerciais
que preenchem os requisitos exigidos em lei podem ser utilizados no litígio entre
comerciantes.

ESTABELECIMENTO

O estabelecimento não se confunde com ponto comercial. A mais-valia de um


estabelecimento, ou seja, o seu sobrevalor, denomina-se aviamento.
O contrato de trespasse consiste na transmissão onerosa da funcionalidade de um
estabelecimento. Este contrato somente produzirá efeitos contra terceiros quando
devidamente registrado na Junta Comercial e publicado na Imprensa Oficial, sendo esta uma
condição de sua eficácia perante terceiros. Já a eficácia da alienação do estabelecimento vai
depender de duas situações distintas, podendo ser direta ou condicionada:

1. Direta – quando restarem bens suficientes para solvência do passivo;


2. Condicionada – quando não restarem bens suficientes para solvência do passivo.

Quando falamos em eficácia condicionada, ou seja, quando o empresário não guardar em seu
patrimônio bens suficientes para saldar suas dívidas, estará condicionado, para que o
trespasse seja eficaz, ao pagamento dos credores ou ao consentimento destes. Assim, no caso
de não ter guardado bens suficientes, deverá o empresário proceder à notificação de seus
credores para que se manifestem em 30 dias. Transcorrido este prazo sem qualquer
manifestação, entende-se havido o consentimento tácito, podendo o empresário, então,
proceder à venda. Do contrário, caso proceda à transferência sem observar uma das
condicionantes, incidirá em ato de falência. A alienação em processo de falência não acarreta
ônus para o adquirente, e este também não responde pelas dívidas anteriores.

Ao falar sobre a alienação do imóvel, há de se pensar sobre quem recai a responsabilidade


pelo pagamento dos débitos, os quais podem ser anteriores ou posteriores.

1. Débitos anteriores: o adquirente reponde pelos débitos anteriores, desde que


regularmente contabilizados. O devedor primitivo continua solidariamente
obrigado pelo prazo de 1 ano, a partir da data da publicação, na imprensa oficial,
quanto aos créditos vencidos, e a partir da data do vencimento, quanto aos
créditos vincendos.
2. Débitos posteriores: são de responsabilidade do adquirente.

No que tange à concorrência ao adquirente, entende-se que quando não houver autorização
expressa, fica o alienante impedido pelo prazo de 5 anos. No entanto, desde que expressa, é
esta uma cláusula que pode ser livremente pactuada pelas partes, entendendo a doutrina que,
em casos abusivos, poderá haver revisão judicial.

SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

As sociedades não personificadas são aquelas que não possuem personalidade jurídica por não
possuírem registro. São elas:

Sociedade comum: Trata-se de sociedade sem contrato registrado, mas que está
exercendo sua atividade. Esta sociedade não possui patrimônio próprio. Seu
patrimônio é formado de bens e direitos por cada um de seus sócios, os quais
respondem subsidiária e ilimitadamente.

Sociedade em conta de participação: Esta sociedade só existe internamente, ou seja,


entre os sócios, que são ostensivo e participante. Também não possui patrimônio
social, em decorrência da falta de personalidade jurídica. Externamente só aparece o
sócio ostensivo, que exerce em seu nome individual a atividade empresarial e
responde sozinho pelas obrigações contratadas.

SOCIEDADE PERSONIFICADA

A principal característica destas sociedades é o seu reconhecimento como sujeito de direitos. É


um ente autônomo dotado de personalidade, a qual é distinta da pessoa de seus sócios, com
patrimônio também autônomo, que não se confunde com o de seus sócios. A sociedade
simples pura é exemplo de sociedade personificada.
SOCIEDADE SIMPLES PURA

Tem por objeto o exercício de atividade econômica não empresária. A sociedade simples tem
natureza jurídica contratual, ou seja, feita mediante contrato social escrito, particular ou
público, com regime de constituição e dissolução previsto no Código Civil. O contrato deve ser
escrito porque seus sócios devem levá-lo a registro no Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, pelo prazo de 30 dias subsequente à constituição da sociedade. Este tipo societário
pode ter como sócios tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas. No contrato, após a
qualificação dos sócios, deve-se proceder à qualificação da própria sociedade (denominação,
objeto, sede, prazo da sociedade).

1. Denominação – a sociedade simples pura pode usar denominação social;


2. Objeto social – não poderá explorar atividade empresária;
3. Sede – definida pelo cartório que fizer seu registro;
4. Prazo – em regra, indeterminado.

O capital social da sociedade simples pura, que será expresso em moeda corrente nacional, se
divide em quotas. Todos os sócios têm o dever de subscrever parcela do capital social e
integralizá-la. Esse dever é requisito de validade. Neste tipo societário é permitida a
integralização de quota de prestação de serviço, mas, neste caso, não poderá este sócio
empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela
excluído, salvo convenção em contrário.

Os sócios são obrigados às contribuições estabelecidas no contrato social, na forma e prazo


previstos. Quando não as cumprirem nos 30 dias subsequentes à notificação¸ responderão
pelo dano emergente de mora. O sócio que está em mora quanto à integralização de suas
quotas dá-se o nome de sócio remisso. Verificada a mora do sócio remisso, poderão os
demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir sua quota ao
montante já integralizado.

Em relação à administração da sociedade simples pura, somente poderá se realizar por pessoa
natural. O administrador pode delegar algumas funções a mandatário, mas sua atividade tem
caráter personalíssimo, não podendo ser exercida por outrem. O contrato social é quem
designa o administrador, mas nada impede que isto seja feito em ato posterior, necessitando,
assim, da averbação do ato no órgão de registro da sociedade. O contrato social estabelece
quais serão os poderes do administrador, porém, no silêncio deste, entende-se que podem
praticar todo e qualquer ato pertinente à gestão da sociedade, salvo oneração ou alienação de
bens imóveis. Quando o contrato estabelecer os poderes do administrador, caberá aos sócios
analisar se houve exagero por parte do administrador. Em regra, a sociedade responde pelos
atos com excesso de poderes praticados pelo administrador, mas existem algumas exceções. A
sociedade não responde pelos atos excessivos de seus administradores nos casos:

1. Limitação de poderes registrada, averbada junto ao registro da sociedade;


2. Limitação de poderes que a sociedade provou ser de conhecimento de terceiro;
3. Ato ultravires, ou seja, evidentemente estranho ao objeto social (Nesse caso, cabe
a terceiro cobrar as obrigações decorrentes de atos excessivos diretamente do
administrador)

Em acordo com a teoria da aparência, as sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé.

Quanto à responsabilidade dos sócios, sendo o contrato omisso, os sócios responderão


solidariamente e de forma ilimitada. O sócio admitido em sociedade já constituída não se
exime das dívidas sociais anteriores à sua admissão.

Você também pode gostar