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OAB: Rumo à Aprovação - Ed. 2021


DIREITO EMPRESARIAL
DIREITO EMPRESARIAL
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Direito Empresarial
Fernando Augusto De Vita Borges de Sales

DICA

Direito Empresarial

I. Da Ordem Econômica na República Federativa do Brasil

• Economia Capitalista

O capitalismo é o regime econômico em que a exploração do mercado está nas mãos dos particulares, apoiando-se na
liberdade de ação e na propriedade privada dos meios de produção. A CF/1988, ao estabelecer as bases da ordem
econômica no art. 170, reconheceu a livre-iniciativa como fundamento principal, ao lado do reconhecimento do direito à
propriedade privada, revelando a sua feição capitalista.

• Liberdade Econômica

A Lei 13.874/2019 instituiu a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, estabelecendo normas de proteção à livre-
iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica, reconhecendo ao Estado apenas a função regulatória do mercado, na
forma da CF/1988, art. 174, garantido a liberdade de exercer atividade econômica de baixo risco sem necessidade de
autorização do Poder Público, e em qualquer dia ou horário da semana, sem estar sujeito a multas, cobranças ou encargos
adicionais.

II. Teoria Geral da Empresa

• Conceito de Direito Empresarial

Direito empresarial é o ramo do direito privado, autônomo, que regula as relações de quem exerce as atividades econômicas
organizadas.

• Teoria da Empresa

A teoria da empresa surgiu em substituição à antiga teoria dos atos de comércio. O atual Código Civil ( CC), ao entrar
em vigor, em 2003, revogou a parte geral do antigo Código Comercial que era de 1850, passando a regular a matéria, sob a
ótica do Direito de Empresa. Com isso, o comerciante deixou de ser o protagonista do Direito Comercial, sendo substituído pelo
empresário, com uma mudança substancial na definição do agente econômico.

Empresário

#PARTIUREVISAR
Empresa é uma atividade, e quem a desenvolve é o empresário. Não há definição legal de empresa. O Código Civil
preferiu conceituar o empresário, e, a partir da análise do conceito legal de empresário ( CC, art. 966), podemos dizer
que empresa é a atividade econômica, organizada, para produção ou circulação de bens ou serviços.

II.1. Para produção ou circulação de bens ou serviços

#PARTIUANOTAR

Estão excluídos do conceito de empresário, os profissionais que exercem atividade intelectual, de natureza científica, artística ou
literária, salvo se a atividade constituir elemento de empresa.

• Capacidade para ser Empresário

A capacidade para ser empresário é a mesma para os atos da vida civil em geral, com as vedações legais. Não têm
capacidade civil e, portanto, não podem ser empresários: os menores de 18 anos não emancipados, os ébrios habituais, os
viciados em tóxico, os deficientes mentais, os excepcionais, os pródigos e os índios. Além disso, não poderão exercer a
empresa aqueles que a lei impede.

#PARTIUANOTAR

Estão legalmente impedidos de exercer a empresa: os servidores públicos; os magistrados e membros do Ministério Público; os falidos
não reabilitados.

• Inscrição e Registro do Empresário

O empresário, para exercer sua atividade, obrigatoriamente deve fazer a sua inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis. A inscrição deve ser feita antes do início da atividade, devendo constar:

I. o nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, regime de bens;

a firma, com a respectiva assinatura autógrafa, que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com
II. certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade, ressalvado o disposto no inciso I do § 1º do
art. 4º da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006;

III. o capital; e

IV. o objeto e a sede da empresa.

#PARTIUANOTAR

“Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua
atividade.”

Esse registro está a cargo das Juntas Comerciais, em todos os estados. As Juntas Comerciais estão subordinadas ao
Departamento Nacional do Registro do Comércio.

Os documentos de inscrição do empresário deverão ser apresentados para arquivamento na junta comercial dentro de 30
dias contados de sua assinatura. Feito isso, os efeitos do arquivamento retroagirão àquela data. Não observado esse prazo, o
arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder.

Todo documento, ato ou instrumento apresentado para arquivamento na junta sofrerá um exame do cumprimento das
formalidades legais e, se houver algum vício insanável, o pedido será indeferido. Se o vício puder ser sanado, será colocado
em exigência, que deverá ser cumprida pelo interessado em até 30 dias.
O empresário que num período de 10 anos não proceder a qualquer arquivamento deverá comunicar à Junta Comercial que
ainda está em atividade. Se não o fizer, será considerado inativo, o que autoriza a Junta a proceder ao cancelamento do
registro. Antes de cancelar, no entanto, a Junta deverá notificar o empresário.

#PARTIUANOTAR

O empresário que não se registra é considerado empresário irregular e, como consequência, não pode usufruir de benefícios
concedidos pela lei: não poderá requerer a falência do seu devedor; não poderá requerer recuperação judicial a seu favor; não poderá ter
seus livros autenticados na Junta Comercial; não poderá obter o enquadramento de microempresa; não poderá participar de licitações
públicas.

A Lei 8.934/1994 dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis. Os atos de registro compreendem a
matrícula, o arquivamento e a autenticação.

• Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI)

Trata-se de uma modalidade de exercer a empresa, introduzida pela Lei 12.441/2011, que não se confunde nem com o
empresário nem com a sociedade empresária.

A EIRELI, embora composta de uma única pessoa, é uma pessoa jurídica de direito privado, que tem personalidade jurídica
própria que a princípio não se confunde com a do seu titular, aplicando-se as regras da sociedade limitada, especialmente a
limitação da responsabilidade.

A EIRELI será composta de uma única pessoa, que será titular da totalidade do capital social. O nome empresarial, que
pode ser do tipo firma ou denominação, deve ser seguido da expressão “EIRELI”. O capital social deverá ser, no mínimo, de
valor equivalente a 100 vezes o valor do maior salário mínimo vigente no País. Empresa com capital social inferior a esse valor
não poderá ser constituída sob a forma EIRELI.

Somente o patrimônio social da EIRELI responderá por suas dívidas, não se confundindo com os bens do seu titular, salvo
em fraude.

#PARTIUANOTAR

Qualquer tipo de sociedade empresária poderá ser transformado em empresa individual, desde que ocorra, por qualquer motivo, a
concentração de quotas em um único sócio. A sociedade que perder a pluralidade de sócios também poderá se converter em empresa
individual.

• Estabelecimento

Estabelecimento é o conjunto de bens, corpóreos e incorpóreos, reunidos pelo empresário para o desenvolvimento de sua
atividade. Não existe empresa sem estabelecimento, pois é nele que se organizam os fatores da produção.

Embora conceituado como um conjunto de bens, o estabelecimento pode ser considerado objeto unitário de direitos e
negócios jurídicos, ou seja, é tratado como uma universalidade de fato.

A alienação do estabelecimento denomina-se trespasse e só produz efeitos, em relação a terceiros, depois que o contrato
for averbado na inscrição do empresário na Junta Comercial e publicado no Diário Oficial. O adquirente do estabelecimento
fica responsável pelo pagamento das dívidas existentes antes da transferência, desde que regularmente contabilizadas.

O alienante permanece solidário no pagamento dessas dívidas pelo prazo de um ano, a partir da publicação no Diário
Oficial, pelas dívidas vencidas, e a partir da data do vencimento, das outras não vencidas. A cláusula de restabelecimento
proíbe o alienante de fazer concorrência ao adquirente no prazo de 5 anos após a transferência.

#PARTIUANOTAR

Denomina-se trespasse a alienação do estabelecimento empresarial. Embora seja um complexo de bens móveis e imóveis, materiais e
imateriais, o estabelecimento pode ser considerado um objeto unitário, constituindo uma universalidade de fato, de sorte que ele pode ser
alienado individualmente, distinguindo-o dos bens individuais que o integram. Deve-se observar que o trespasse é apenas a venda do
estabelecimento, que é um bem de propriedade do empresário ou da sociedade empresária, de forma que não se pode confundi-lo com a
cessão das quotas sociais nem com a modificação do controle acionário. O trespasse pode ocorrer com qualquer tipo de
estabelecimento, de qualquer tipo de empresário, seja individual, seja sociedade.

• Proteção do Estabelecimento – Ação Renovatória

A proteção do estabelecimento aviado em imóvel alugado se dá através da ação renovatória. Essa ação objetiva renovar
judicialmente o contrato de locação, desde que presentes os requisitos legais. O fundamento legal encontra-se na Lei
8.245/1991 (Lei do inquilinato – LI), art. 51 e seguintes.

#PARTIUANOTAR

Os requisitos para obter a renovação judicial do contrato de locação são: a) o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e
com prazo determinado; b) o prazo mínimo do contrato a renovar ou da soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja
de 5 anos; c) esteja explorando o mesmo ramo de comércio no prazo mínimo de 3 anos.

Além disso, a ação deverá ser proposta no prazo de 1 ano, no máximo, até 6 meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do
prazo do contrato em vigor → esse prazo é decadencial !

Estando presentes os requisitos, a renovação é compulsória. O locador somente não estará obrigado a renovar o contrato,
podendo suscitar em sua defesa a exceção de retomada, nos seguintes casos:

a) insuficiência do valor do novo aluguel na proposta de renovação apresentada pelo locatário;

b) ter proposta melhor de terceiro;

c) reforma substancial do prédio locado;

d) uso próprio;

transferência de estabelecimento empresarial existente há mais de 1 ano, desde que do próprio locador, de ascendente,
e) descendente ou cônjuge.

A ação renovatória poderá ser proposta pelo locatário empresário, seu cessionário ou sucessor.

#PARTIUANOTAR

Na locação de espaços em shopping centers, o locador não poderá exercer a exceção de retomada para uso próprio ou para
transferência de fundo de comércio.

• Nome Empresarial

Nome empresarial é a firma ou denominação adotada pelo empresário ou sociedade empresária, para o exercício da
empresa. O nome do tipo firma é aquele que utiliza, como base, o nome civil do empresário, ou dos sócios da sociedade. O
nome do tipo denominação é aquele que se utiliza de elementos de fantasia.

#PARTIUANOTAR

A regra básica a ser observada é que, quando houver sócio com responsabilidade ilimitada, ou o empresário exercer a empresa de
maneira individual, deve ser utilizado o nome do tipo firma.

O empresário opera sob firma, constituída por seu nome completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais
precisa da sua pessoa ou atividade.

Também opera sob firma a sociedade em que houver sócios com responsabilidade ilimitada – sociedade em nome coletivo,
sociedade em comandita simples e sociedade em comandita por ações.

A sociedade anônima opera sempre sob denominação, com designação do objeto social, devendo ser acompanhada das
expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso ou abreviado. Todavia, quando se optar pelo uso da expressão
“companhia”, ela deverá vir no começo ou no meio do nome, nunca no fim.

A sociedade limitada pode operar sob firma ou denominação, desde que acompanhada da expressão “limitada” por
extenso ou abreviado ao final.

A empresa individual de responsabilidade limitada também pode operar sob firma ou denominação, sempre acompanhado
da expressão “EIRELI” ao final.

A cooperativa opera sob denominação, integrada pela expressão “cooperativa”.

O nome empresarial goza de proteção legal, não podendo um empresário utilizar-se de nome igual ao de outro. A inscrição
do empresário ou da sociedade garante-lhe o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado e não pode ser objeto
de alienação.

#PARTIUREVISAR
III. Defesa da Concorrência

A Lei 12.529/2011 estrutura e regulamenta o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência e dispõe sobre a
prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica.

As empresas devem disputar livremente o mercado, atraindo a preferência dos clientes pela qualidade dos produtos ou
serviços que oferecem. É por isso que não se admite a concorrência desleal e a promovida com abuso de poder econômico.
Em relação a esta última, constitui as infrações à ordem econômica, objeto da referida lei.

O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência é constituído pelo Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência
– CADE e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico – SAE.

O CADE é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça com função judicante e é constituído pelos seguintes
órgãos: Tribunal Administrativo de Defesa Econômica, Superintendência Geral e Departamento de Estudos Econômicos. A
função principal do CADE é julgar os processos que envolvam infração à ordem econômica.

A SAE é um órgão consultivo, de caráter técnico-financeiro, vinculado ao Ministério da Fazenda.

#PARTIUREVISAR

Constituem infrações à ordem econômica:

a) limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre-iniciativa;

b) dominar mercado relevante de bens ou serviços;

c) aumentar arbitrariamente os lucros; e

d) exercer de forma abusiva posição dominante.

Os infratores respondem de maneira objetiva, vale dizer, independentemente de culpa e, também, independentemente
do resultado.

IV. Direito Societário

• Contrato de Sociedade e Personalidade Jurídica

Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam, reciprocamente, a contribuir, com bens ou
serviços, para o exercício de atividade econômica, partilhando entre si o resultado.

São elementos de um contrato de sociedade:

a) consenso;

b) objeto lícito;
c) forma prescrita ou não defesa em lei;

d) contribuição para formação do capital social;

e) participação dos sócios nos lucros e nas perdas;

f) “affectio societatis”.

Personalidade jurídica é a personalidade conferida pelo Direito a entes formados por conjunto de pessoas ou bens, que se
denominam pessoas jurídicas.

A existência legal da pessoa jurídica começa com a inscrição de seus atos constitutivos no registro competente.

#PARTIUANOTAR

CCivil, art. 985. “A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos
constitutivos (arts. 45 e 1.150).”

Efeitos da Personificação

A personalidade jurídica confere à sociedade formas de comportamento próprias dos seres humanos, especialmente os
direitos de personalidade, que são assegurados por lei.

São efeitos da personalidade jurídica:


Além disso, a personificação dá à sociedade vida própria que não se confunde com a de seus sócios ou administradores
(CCivil, art. 49-A).

Desconsideração da Personalidade Jurídica

Embora os efeitos da personificação sejam importantes para o desenvolvimento da empresa, eles não podem servir para
acobertar situações fraudulentas ou abusivas. Por isso mesmo, a doutrina criou a teoria da desconsideração da personalidade
jurídica, via da qual admite desconsiderá-la em casos que tais, para atingir as pessoas dos seus sócios.

#PARTIUANOTAR

CCivil, art. 50. “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial,
pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos
de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.”

TIPOS de Sociedade

Quanto à atividade
É empresária a sociedade constituída para exercer atividade
Simples e empresária
própria de empresário sujeito a registro, e simples as demais.

Quanto à personalidade jurídica

A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição de


seus atos constitutivos no registro competente, tornando-se uma
Personificadas e não personificadas
sociedade personificada. Enquanto não for efetuado o registro, a
sociedade será considerada não personificada.

Quanto à responsabilidade dos sócios

A diferença básica reside no grau de responsabilização do sócio


pelas obrigações da sociedade. Há sociedades em que a
Limitada e ilimitada responsabilidade dos sócios é limitada (sociedade anônima e
sociedade limitada) e outras em que a responsabilidade é ilimitada
(sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita por ações).

Quanto à relação com outras sociedades

São agrupamentos de sociedades, em que cada uma das


Coligadas participantes mantém sua personalidade própria. Subdividem-se
em:

É controlada a sociedade de cujo capital outra sociedade


possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou
da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos
Controlada
administradores ou cujo controle esteja em poder de outra,
mediante ações ou quotas possuídas por sociedade ou
sociedades por ela já controladas.

Considera-se filiada a sociedade de cujo capital outra


Filiada sociedade participa com dez por cento ou mais, do capital da
outra, sem a controlar.

É aquela de cujo capital outra sociedade possua menos de


Simples participação
dez por cento do capital com direito a voto.

• Sociedades não Personificadas

O Código Civil contempla dois tipos de sociedades não personificadas:

é a sociedade que foi constituída pelos sócios, mas ainda


não obteve seu registro. Em razão disso, ela não tem
personalidade jurídica. A consequência é que os bens e dívidas
Sociedade em comum
sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são
titulares em comum. E todos os sócios respondem solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais.

esse tipo societário não pode ter personalidade jurídica. Sua


constituição independe de qualquer formalismo. O contrato
apenas produz efeitos entre os sócios e, mesmo que
registrado, não lhe confere personalidade jurídica. Há duas
Sociedade em conta de participação
categorias de sócios: o sócio ostensivo, que é o único
autorizado a exercer a atividade da sociedade, e os sócios
participantes, que apenas participam dos resultados. A
liquidação da sociedade se dá por prestação de contas.

• Sociedades Personificadas

Cinco são os tipos de sociedades personificadas previstos no Código Civil:

– Sociedade em nome coletivo:

Somente pessoas físicas podem ser sócias e todos os sócios têm responsabilidade solidária e ilimitada. Constitui-se por
contrato escrito e o nome empresarial deve ser do tipo firma. Somente os sócios podem administrar a sociedade, sendo uso da
firma privativo de quem tenha os poderes necessários.

– Sociedade em comandita simples:

Há duas categorias de sócios: o comanditado, que deve ser pessoa física e tem responsabilidade ilimitada, e os
comanditários, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas e têm responsabilidade limitada ao valor de suas quotas. Constitui-
se mediante contrato escrito e o nome empresarial deve ser do tipo firma.

– Sociedade limitada:
Conforme CCivil, art. 1.052, § 1º, a sociedade limitada pode ser unipessoal (apenas um único sócio), ou pluripessoal (mais
de um sócio). Em qualquer situação, o sócio, ou sócios, têm responsabilidade limitada ao valor das suas quotas integralizadas,
mas respondendo, todos (no caso de sociedade pluripessoal), solidariamente pela integralização do capital social.

A sociedade tem seu capital dividido em quotas, que são distribuídas entre os sócios na proporção de sua contribuição para
formação do capital social. Os sócios poderão contribuir com dinheiro ou bens. Não se admite que a contribuição do sócio se dê
apenas com prestação de serviço.

Na omissão do contrato, a venda de quotas entre os sócios é livre, mas a venda para terceiros somente é possível se
houver a anuência dos demais sócios ou não houver oposição de titulares de mais de 1/4 do capital social.

A administração da sociedade ficará a cargo de uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.
Poderá ser admitido um administrador que não seja sócio, desde que aprovado por 2/3 dos sócios (se o capital não estiver
integralidade exige-se unanimidade).

Na constituição de uma sociedade limitada, a instituição de um conselho fiscal é sempre facultativa. O conselho fiscal, se
houver, será composto de 3 ou mais membros, sócios ou não, que sejam residentes no País.

As deliberações dos sócios devem ser tomadas em reunião ou assembleia, que será obrigatória se a sociedade tiver mais
de 10 sócios. Não haverá necessidade de reunião ou assembleia se todos os sócios decidirem, por escrito, a matéria a ser
deliberada.

– Sociedade anônima:

Sociedade por ações – ou anônima – é aquela que tem seu capital social dividido em ações, obrigando-se cada sócio ou
acionista somente pelo preço de marcado das ações que subscrever ou adquirir, estando regulada pela Lei 6.404/1976
(LSA).

Pode ser de capital aberto ou fechado, conforme tenha suas ações negociadas ou não em bolsa de valores.

– Sociedade em comandita por ações:

Ao se constituir uma companhia, é preciso definir o valor do capital social e a quantidade de ações em que esse capital vai
se dividir. Depois, pelo menos dois sócios deverão subscrever essas ações, na sua totalidade. A subscrição é o compromisso
que os sócios assumem para a formação do capital social da sociedade. Não se confunde com realização, que é a efetiva
contribuição dos sócios para com o capital social. Primeiro, os sócios subscrevem o capital e, posteriormente, eles devem
integralizar (realizar) o capital que subscreveram. No caso das sociedades anônimas, a sua constituição depende da
subscrição da totalidade das ações que compõe o capital social.

Essas ações, que podem ou não ter um valor nominal, são divididas em ordinárias, preferenciais ou de fruição e deverão
ser sempre nominativas, pois não mais existem ações ao portador. As ações ordinárias são as que, em regra, conferem
direito de voto ao seu titular. Ações preferenciais são espécies de ações que possuem vantagens não conferidas às ações
ordinárias, tais como prioridade na distribuição dos dividendos ou no reembolso do capital. Em contrapartida, as ações
preferenciais, em geral, não têm direito a voto na assembleia. Todavia, elas adquirirão direito a voto se a companhia deixar de
pagar os dividendos no prazo previsto no estatuto, não superior a 3 anos consecutivos. Ações de fruição são aquelas de
posse e propriedade dos fundadores da companhia, já amortizadas, em que o titular recebeu, antecipadamente, o valor contábil
que elas representam e não são objeto de negociação.

Sobre as ações, pode-se constituir direitos reais e outros ônus previstos em lei. Assim, as ações podem ser empenhadas ou
caucionadas e podem ser objeto de usufruto, fideicomisso e alienação fiduciária em garantia. As ações também podem ser
penhoradas. Todavia, as ações não podem ser hipotecadas.

A regra geral é de que cada ação ordinária dá direito a um voto nas deliberações da assembleia geral. A ação é a fração do
capital social de uma companhia, mas é também o título representativo dos direitos e obrigações do sócio.

A ação é emitida materialmente, sendo considerada um bem móvel e, como tal, pode ser gravada com usufruto. Quando o
usufruto sobre a ação for constituído, deverá ser estabelecido também como o direito de voto será exercido. Caso isso não
ocorra, o direito de voto somente poderá ser exercido mediante prévio acordo entre o proprietário e o usufrutuário.

Para captar recursos financeiros, as companhias podem emitir títulos diversos com finalidade específica, que são
considerados valores mobiliários. São eles: as ações, as partes beneficiárias, as debêntures, os bônus de subscrição e o
commercial paper.

As debêntures são títulos de crédito representativos de dívida que uma companhia faz junto a terceiros. Denomina-se
commercial paper o título de crédito sacado por uma Sociedade por ações, que tem como finalidade captar recursos de
investidores sem as formalidades exigidas pela LSA. Ele se instrumentaliza por meio de uma nota promissória, emitida pela
companhia.

#PARTIUREVISAR
A companhia é formada por vários órgãos. A assembleia geral é órgão da companhia responsável pelas deliberações
acerca dos negócios relativos ao seu objeto e para tomar as resoluções que julgar conveniente a sua defesa e a seu
desenvolvimento. A assembleia é composta de acionistas com direito a voto, sendo que o acionista poderá se fazer representar
por procurador, desde que constituído há menos de 1 (um) ano e que seja também acionista, administrador da companhia ou
advogado. A assembleia geral ordinária deve ocorrer anualmente, nos quatro primeiros meses seguintes ao término do
exercício social. Para tanto, os administradores deverão convocar os acionistas, comunicando-os através de anúncio publicado
por três vezes, com oito dias de antecedência, no mínimo, contado do primeiro anúncio.

Conselho de administração é órgão da Sociedade Anônima incumbido de auxiliar a Diretoria. Nas companhias de capital
fechado – aquelas que não negociam ações na bolsa de valores –, a existência desse conselho é facultativa. Entretanto, nas de
capital aberto e de capital autorizado ele é obrigatório, assim como nas de economia mista.

O Conselho Fiscal é órgão da companhia que tem por finalidade fiscalizar os atos dos administradores, opinar sobre os
relatórios e propostas dos administradores, denunciar erros, fraudes ou crimes, entre outras. Ele será composto de um mínimo
de 3 e máximo de 5 membros, acionistas ou não. Seu funcionamento poderá ser permanente ou nos exercícios sociais em que
for instalado a pedido dos acionistas, sendo que nesse caso deverá ser deliberado pela assembleia geral.

O administrador da companhia tem uma série de deveres, tendo de exercer o seu mister com o cuidado e a diligência que
todo homem honesto costuma empregar na administração de seu próprio negócio, dentro das atribuições que a lei e o estatuto
lhe conferem, sempre no interesse da empresa. A não observância desses deveres pode lhe acarretar responsabilidade civil.
Deste modo, os administradores das companhias de capital fechado são responsáveis pelos prejuízos que causarem pelo
não cumprimento dos deveres impostos pela lei para assegurar o funcionamento normal da companhia, ainda que, de acordo
com o estatuto, tais deveres não sejam de competência de todos eles (LSA/158, § 2º), o que não ocorre nas companhias
de capital aberto, em que a responsabilidade dos administradores limita-se ao que lhes competir, nos termos do estatuto.

A ação de responsabilidade civil contra o administrador deve ser proposta pela companhia, após prévia deliberação da
assembleia geral. Caso a assembleia delibere por não promover a ação, ela poderá ser proposta por qualquer acionista, ou
acionistas, que representem pelo menos 5% do capital social.

#PARTIUREVISAR
– Sociedade em comandita por ações:

Tem o capital social dividido em ações, regendo-se pelas regras e normas atinentes à sociedade anônima, mas tem como
traço distintivo o fato de que somente quem for acionista terá qualidade para administrá-la, não se admitindo, pois, que a
administração seja exercida por quem não é sócio. Será administrada por um diretor, nomeado no seu próprio ato constitutivo. A
lei não estabelece limite de tempo para o exercício do cargo de diretor, podendo o estatuto, todavia, estabelecê-lo. O diretor
nomeado poderá ser destituído por deliberação de acionistas que representem no mínimo 2/3 do capital social. O diretor terá
responsabilidade subsidiária e ilimitada pelas obrigações da sociedade. Havendo mais de um diretor, eles serão solidariamente
responsáveis, depois de esgotados os bens da sociedade. O diretor destituído ou exonerado permanece responsável por até
dois anos pelas obrigações sociais contraídas durante o período de sua gestão. Qualquer alteração em relação ao objeto social,
à prorrogação do prazo de duração da sociedade, aumento ou diminuição do capital social, bem como emissão de debêntures
ou partes beneficiárias depende da deliberação da assembleia geral e do consentimento dos diretores.

V. Títulos de Crédito

• Conceito

Título de crédito é um documento que representa um crédito, ou seja, que representa uma obrigação pecuniária devida por
alguém. Somente será considerado título de crédito o documento que preencher os requisitos legais. Dessa forma, pelo
princípio da tipicidade, somente serão considerados títulos de crédito aqueles expressamente previstos em lei.

#PARTIUANOTAR

CCivil, art. 887: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz
efeito quando preencha os requisitos da lei.”

Princípios Gerais dos Títulos de Crédito

São três os princípios mais importantes que regem os títulos de crédito:

É através desse princípio que o direito de crédito se


incorpora ao papel (documento). O título de crédito deve
sempre ser um documento e, como tal, deve ser escrito em
Cartularidade
papel. É esse documento que materializa o direito ao crédito.
Somente de posse do documento é que se pode exercer os
direitos que ele representa.

É o que está escrito no título, limitando os direitos nele


Literalidade incorporados. Não se admite interpretação, a obrigação deve
estar toda escrita no título.

O crédito representado pela cártula não depende de mais


nada além do próprio documento. Pode-se dizer que o título de
crédito posto em circulação desliga-se da sua causa de origem,
Autonomia
daí ser autônomo. Tal princípio é importante porque permite a
livre circulação do título. Ele se subdivide em dois
subprincípios.

Abstração Consiste na absoluta desvinculação do título em relação ao


negócio jurídico que lhe deu origem. Deve-se abstrair o negócio
que deu origem à cártula como forma de garantir-lhe a
autonomia. Assim, questões relativas ao negócio jurídico
subjacente não têm o condão de afetar o cumprimento da
obrigação do título de crédito, de sorte que não importa a
origem do título.

Trata-se da impossibilidade em que se encontra o devedor


de opor a portador, endossatário de boa-fé, as exceções que
Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de teria em relação ao endossante. Dessa forma, o devedor do
boa-fé título, ao ser executado, não pode invocar a seu favor defesa ou
argumentos ligados à relação jurídica original, eis que são
inoponíveis ao terceiro de boa-fé.

• Elementos Comuns aos Títulos de Crédito

ELEMENTOS OBRIGATÓRIOS:

ELEMENTOS EVENTUAIS:

– Aceite: é o ato pelo qual o sacado concorda com a ordem de pagamento e assume a obrigação de pagar.

#PARTIUANOTAR

Nem todo título de crédito precisa de aceite. A nota promissória e o cheque, por exemplo, não precisam, pois são títulos emitidos pelo
próprio sacado. Somente em títulos não emitidos pelo sacado, como a letra e câmbio e a duplicata, exige-se o aceite.

– Endosso: é o ato pelo qual se transfere a propriedade do título de crédito. O endosso é feito mediante simples assinatura
no verso do título. Não se admite endosso parcial, que é nulo. Também não se admite o endosso condicional: nesse caso vale o
endosso, mas não a condição. Há dois tipos de endosso:

É aquele que não identifica o endossatário. O endossante


Endosso em branco apenas põe sua assinatura no verso do título, sem identificar a
pessoa para quem o título está sendo endossado.

É aquele que identifica o endossatário, mencionando


Endosso em preto
expressamente o seu nome.

Há, ainda, outras formas de endosso que são consideradas impróprias, pois não transferem a propriedade do título, mas
apenas a sua posse. São elas:

O endossante apenas confere poderes ao endossatário para


Endosso mandato
agir como seu representante.

O endossante transfere a posse do título apenas para


Endosso caução
garantir uma dívida contraída junto ao endossatário.

– Aval: trata-se de ato cambiário de garantia, em que uma pessoa (avalista) garante o pagamento do título em favor do
devedor principal ou de coobrigado (avalizado).

#PARTIUANOTAR

CCivil, art. 897: “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.”

– Protesto: trata-se de ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada
em títulos e outros documentos de dívida. Há três tipos de protesto:

a) por falta de pagamento,

b) por falta de aceite, e

c) por falta de devolução.

Títulos de Crédito em Espécie


LETRA DE CÂMBIO

A letra de câmbio tem sua previsão legal na Lei Uniforme de Genebra (LUG), no Decreto 2.044/1908 e no Código
Civil (em caráter supletivo).

Trata-se de ordem de pagamento que uma pessoa (sacador) dirige a outra (sacado), para que este pague determinada
quantia para um terceiro (tomador). A Letra de Câmbio exige, assim, a participação distinta dos três elementos.

A letra de câmbio, para se aperfeiçoar, necessita do aceite do sacado, que é indispensável. Ela pode ser endossada e/ou
avalizada.

A PRESCRIÇÃO É DE:

a) 3 anos, contados do vencimento do título, em relação ao devedor principal;

b) 1 ano a contar do protesto, em relação ao sacador e endossante; e

c) 6 meses a contar da data em que pagou, para um endossante cobrar dos demais coobrigados.

NOTA PROMISSÓRIA

A nota promissória tem sua previsão legal na Lei Uniforme de Genebra (LUG), no Decreto 2.044/1908 e no Código
Civil (em caráter supletivo).

Trata-se de um compromisso – promessa de pagamento – que uma pessoa (sacador) se obriga a pagar a outrem (tomador)
uma quantia, em local e data determinados. Apenas duas pessoas tomam lugar numa nota promissória, de sorte que uma delas
vai exercer dupla função. No caso, é o sacador, que também é o sacado.

A nota promissória não necessita de aceite. Ela pode ser endossada e/ou avalizada. A prescrição é de:

a) 3 anos, contados do vencimento do título, em relação ao devedor principal;

b) 1 ano a contar do protesto, em relação ao sacador e endossante; e

c) 6 meses a contar da data em que pagou, para um endossante cobrar dos demais coobrigados.

CHEQUE

O cheque está previsto na Lei 7.357/1985 (LCh).

Trata-se de uma ordem de pagamento, à vista, dada a um banco ou instituição assemelhada, por alguém que tem fundos
disponíveis nele, em favor próprio ou de terceiro. Ao emitir um cheque, uma pessoa (sacador) dá uma ordem ao banco onde
mantém sua conta-corrente (sacado), para que ele pague determinada quantia a alguém ou a si mesmo (tomador).

O cheque não admite aceite. O cheque pode ser endossado, mas não se admite o endosso condicional, caso em que vale o
endosso, mas não vale a condição imposta para ele. São nulos o endosso parcial e o endosso do sacado. O cheque também
pode ser avalizado, valendo, inclusive, o aval parcial. O cheque prescreve em seis meses, contados do término do prazo de
apresentação. O prazo de apresentação será de 30 ou 60 dias, conforme o cheque seja da mesma praça ou de praça
diferente.

Há várias modalidades de cheque:

– Cheque visado: é aquele em que o banco lança visto, certificação ou declaração de suficiência de fundos, obrigando-se a
debitar na conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do tomador, durante o prazo de
apresentação.

– Cheque administrativo: é aquele sacado pelo próprio banco contra um de seus estabelecimentos. Só pode ser emitido
nominativamente. Um exemplo é traveller’s check, ou cheque de viagem, que é uma ordem de pagamento que o banco emite
contra qualquer um de seus estabelecimentos.

– Cheque cruzado: é aquele no qual o emitente ou o portador põe dois traços paralelos no anverso do título. Um cheque
cruzado não poderá ser descontado na boca do caixa, apenas levado a depósito em conta. O cruzamento pode ser geral ou
especial. É geral quando não indica o nome do banco e é especial quando indica o nome do banco. O cheque com
cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado a banco ou cliente do sacado, mediante crédito em conta. O cheque com
cruzamento especial só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado no cruzamento ou, caso este seja o próprio sacado, a
um cliente seu, mediante depósito em conta. O cruzamento geral pode ser convertido em especial, mas o especial não pode se
converter em geral.

– Cheque para se levar em conta: é aquele em que o emitente ou portador, mediante uma inscrição transversal no anverso
do título, proíbe que seja pago em dinheiro pelo banco. Como o próprio nome diz, ele deve ser depositado na conta do
favorecido. O efeito prático é o mesmo do cheque cruzado.

DUPLICATA
A duplicata tem previsão legal na Lei 5.474/1968 (LD).

Trata-se de um título emitido por um empresário (sacador), com uma ordem para que outro empresário (sacado) lhe pague
determinada quantia. Assim, apenas duas figuras tomam parte na duplicata, sendo que o sacador é, ao mesmo tempo, o
tomador. A duplicata é um título de crédito causal. Ela tem origem necessariamente num contrato de compra e venda mercantil
ou num contrato de prestação de serviços. O aceite é obrigatório, sendo que o sacado não pode se recusar a dá-lo, salvo nas
hipóteses previstas em lei.

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LD, art. 8º: O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I – avaria ou não-recebimento das mercadorias, quando
não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II – vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias,
devidamente comprovados; III – divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

A duplicata pode ser endossada e/ou avalizada. O prazo de prescrição é de:

a) 3 anos, contados do vencimento do título, contra o sacado e os avalistas;

b) 1 ano, da data do protesto, contra o endossante e avalistas; e

c) 1 ano, da data do pagamento, de um coobrigado contra os demais.

VI. Recuperação Judicial e Falência

A recuperação judicial e a falência estão reguladas pela Lei 11.101/2005 (LRF).

Disposições Comuns à Recuperação e à Falência

LEGITIMAÇÃO:

A LRF somente se aplica aos devedores sujeitos às regras do direito empresarial, a saber, o empresário e a sociedade
empresária. A regra, portanto, é que apenas a empresa (empresário e sociedade empresária) submete-se ao regime de
recuperação e de falência.

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A LRF não se aplica a: “I – empresa pública e sociedade de economia mista; II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de
crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora,
sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores” (art. 2º).

JUÍZO COMPETENTE:

A recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência deverão ser requeridas ao Poder Judiciário, sendo
competente para conhecer e julgar a ação o juízo do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha
sua sede fora do Brasil. Por principal estabelecimento deve ser entendido aquele em que o devedor concentra suas principais
atividades administrativas. A incompetência do foro, nos processos de falência e recuperação, é absoluta, podendo ser
declarada de ofício pelo juiz.

O juízo da falência ou da recuperação é prevento. Ele é universal e indivisível, o que significa que ele é prevento para todas
as ações em que o devedor é réu. Além disso, a distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial ou a
homologação de recuperação extrajudicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de falência, de recuperação judicial
ou de homologação de recuperação extrajudicial relativo ao mesmo devedor.

#PARTIUANOTAR
A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implicará: a) na suspensão do curso
da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao regime da LRF; b) na suspensão das execuções ajuizadas contra
o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos
à recuperação judicial ou à falência; e, c) na proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro,
busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou
extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência. Na recuperação judicial, as
suspensões referidas nos itens a e c perdurarão pelo prazo de 180 dias, a partir do deferimento da recuperação, prorrogável
por igual período uma única vez, desde que o devedor não tenha dado causa à superação do lapso temporal.

ADMINISTRADOR JUDICIAL:

O cargo de administrador judicial foi especialmente criado pela LRF, para auxiliar na organização dos processos de
recuperação e de falência. Ele fiscaliza as atividades do devedor na recuperação judicial e administra a massa falida, na
falência, sempre sob a direção do juízo.

O administrador judicial é sempre nomeado pelo juiz. No processo de recuperação judicial, sua nomeação se faz quando o
juiz defere o seu processamento, e na falência, na sentença que a decreta. Ele deverá ser profissional idôneo,
preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador. O administrador judicial também poderá ser
uma pessoa jurídica, com especialidade na área.

ASSEMBLEIA GERAL DOS CREDORES:

Consiste na reunião dos credores sujeitos aos efeitos da falência ou da recuperação, ordenados em categorias derivadas da
natureza de seus respectivos créditos, com o fim de deliberar sobre as matérias que a lei venha exigir sua manifestação, ou
sobre aquelas que possam lhes interessar.

A convocação da assembleia geral de credores é de competência exclusiva do juiz da causa, e deverá ser feita por edital
publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e das filiais do devedor, com antecedência
mínima de 15 dias.

VERIFICAÇÃO E HABILITAÇÃO DOS CRÉDITOS:

A verificação dos créditos, tanto na falência como na recuperação judicial, será feita pelo administrador judicial, com base
nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor, bem como nos documentos que lhe forem apresentados
pelos credores.

Com a publicação do edital, os credores terão o prazo de 15 dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações
ou impugnações aos créditos relacionados. A partir das informações obtidas nos livros e documentos do devedor e nas
habilitações e impugnações formuladas pelos credores, o administrador judicial publicará, no prazo de 45 dias após o término
dos 15 dias citado, edital contendo a relação dos credores habilitados.

No prazo de 10 dias, contados da publicação daquele edital, a relação de credores poderá ser impugnada por qualquer dos
interessados (os credores, o Ministério Público, o devedor ou seus sócios). Essa impugnação deverá ser autuada em apartado
e será julgada pelo juiz.

O quadro-geral de credores será formado com o julgamento das impugnações tempestivas e com as habilitações e as
impugnações retardatárias decididas até o momento da sua formação. As habilitações e as impugnações retardatárias
acarretarão a reserva do valor para a satisfação do crédito discutido.

Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de credores, a relação dos credores de publicadas pelo
administrador judicial.

• Recuperação Judicial

#PARTIUANOTAR

LRF, art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim
de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

O legitimado ativo para propor a recuperação judicial é o próprio devedor, não se admitindo a propositura por qualquer pelo
credor, administrador judicial, Ministério Público, juiz ou qualquer outra pessoa. São requisitos para requerer a recuperação
judicial:
Distribuído o pedido de recuperação, o juiz deverá fazer um exame prévio – meramente formal – da petição inicial e,
somente se ela estiver em termos, com todos os requisitos e documentos exigidos, o juiz deferirá o processamento da
recuperação judicial, em decisão fundamentada, em que, entre outras coisas, nomeará o administrador judicial.

Essa decisão ordenará, ainda, a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor. Após o deferimento do
processamento, o devedor não poderá mais desistir da ação, salvo se a desistência for aprovada pela assembleia geral de
credores.

No prazo de 60 dias contados do deferimento, o devedor deverá apresentar o plano de recuperação. Tal prazo é
improrrogável e, se não cumprido, acarreta a decretação da falência.

• Falência

Falência é uma ação de execução coletiva do patrimônio do devedor empresário.

Somente o Poder Judiciário pode declarar a falência de alguém, através do devido processo legal. São causas de falência:

impontualidade, caracterizada pela inadimplência de obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
a) protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos ou pela frustração de execução, caracterizada
por não pagamento, depósito ou penhora, no prazo legal;

b) prática de atos de insolvência, relacionados objetivamente pelo legislador;

c) crise econômico-financeira denunciada pelo próprio devedor.

Podem requerer a falência:

a) o próprio devedor;

b) o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;

c) o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; e

d) qualquer credor.

O prazo para contestar o pedido de falência é de 10 dias.

A sentença que julga o pedido tem natureza declaratória constitutiva. Se a sentença julga procedente o pedido, o recurso
cabível é o agravo de instrumento. Se julga improcedente, o recurso é o de apelação.

Os créditos obedecem à seguinte ordem:

VII. Propriedade Industrial

A propriedade industrial está regulada pela Lei 9.279/1996 (LPI).


• Conceito

O direito industrial é a divisão do direito empresarial que protege os interesses dos inventores, designers, e empresários em
relação às invenções, modelo de utilidade, desenho industrial e marcas.

• Bens da Propriedade Industrial

Os bens da propriedade industrial são bens imateriais, ou seja, são incorpóreos, não palpáveis, próprios da inventividade
do espírito criativo e empreendedor do ser-humano.

#PARTIUANOTAR

LPI, art. 5º: “Consideram-se bens móveis, para os efeitos legais, os direitos de propriedade industrial.”

São quatro os bens da propriedade industrial:

a) invenção,

b) modelo de utilidade,

c) desenho industrial, e

d) marca.

Os dois primeiros são protegidos mediante concessão de patente, e os dois últimos, por concessão de registro.

BENS PROTEGIDOS POR PATENTE

– Invenção:

Trata-se de uma criação original do espírito humano. A invenção, para ser patenteável, deve atender aos seguintes
requisitos:

- Novidade: é o requisito de ser novo, original, desconhecido da humanidade. Uma invenção é considerada nova
quando não compreendida no estado da técnica. Estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao
público antes da data do depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso de qualquer outro meio,
no Brasil ou no exterior. Não se compreende no estado da técnica a divulgação de invenção ou modelo de utilidade,
quando ocorrida durante os 12 meses que precederem a data do depósito.

- Atividade inventiva: a invenção deve decorrer do trabalho de descoberta, de criação, do inventor. A invenção é
dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do
estado da técnica.

- Aplicação industrial: a invenção deve ser possível de ser fabricada, industrializada, materializada. Além disso,
deve ser possível de exploração empresarial. A invenção é considerada suscetível de aplicação industrial quando
puder ser utilizada ou produzida em qualquer tipo de indústria.

#PARTIUANOTAR

A patente de invenção dura 20 anos, contados da data do depósito, ou 10 anos, contados da data da concessão.

– Modelo de utilidade:

Trata-se de toda disposição ou forma nova obtida ou introduzida em objetos conhecidos, desde que se prestem a um
trabalho ou uso prático.

#PARTIUANOTAR

LPI, art. 9º: “É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que
apresenta nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.”

A patente de modelo de utilidade dura 15 anos, contados do depósito, ou 7 anos, contados da concessão.

BENS PROTEGIDOS POR REGISTRO

– Desenho industrial (design):


É a alteração da forma de objetos já existentes, servindo tanto para dar-lhes um ornamento harmonioso quanto para
distingui-los de outros do mesmo gênero, cujo principal característica é a futilidade.

#PARTIUANOTAR

LPI, art. 95: “Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que
possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo
de fabricação industrial.”

Para poder ser registrado, o desenho industrial deve ter as seguintes características:

Não poderá ser registrado como desenho industrial:

O registro do desenho industrial dura 10 anos contados da data do depósito, podendo ser prorrogado por 3 períodos
sucessivos de 5 anos cada um.

– Marca:

É o sinal distintivo de um produto ou serviço. É um símbolo que, aposto em produtos e serviços, serve para diferenciá-los e
identificá-los de outros existentes.

#PARTIUANOTAR

LPI, art. 122: “São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições
legais.”

Existem três tipos de marcas:

O registro da marca vigora pelo prazo de 10 anos, contados da concessão, e pode ser prorrogado sucessivamente por
iguais períodos, indefinidamente.

#PARTIUREVISAR
VIII. Contratos Empresariais

• Conceito

São empresariais os contratos celebrados entre empresário. O contrato será considerado empresarial quando as partes
contratantes puderem ser qualificadas como empresários e a finalidade seja a própria consecução de suas atividades
empresariais.

Espécies de Contratos Empresariais

REPRESENTAÇÃO COMERCIAL:

É o contrato no qual um dos contratantes – o representante comercial autônomo – se obriga a obter pedidos de compra e
venda de produtos fabricados ou comercializados pelo outro – o representado.

Trata-se de contrato típico, de regime jurídico próprio, previsto na Lei 4.886/65, com as alterações que lhe foram
conferidas pela Lei 8.420/92, sendo que o representante deve ser registrado no Conselho Regional de Representante
Comerciais.

Não podem ser representantes:

O contrato de representação comercial deve sempre ser celebrado por escrito, com os requisitos do art. 27. Se não houver
contrato escrito, a interpretação deverá ser feita sempre em favor do representante, em especial no que se refere à zona e
exclusividade de representação. O representante comercial adquire o direito a receber sua comissão quando os pedidos forem
efetivamente pagos.

A comissão deve ser calculada sobre o valor total das mercadorias vendidas. O representando deverá efetuar o pagamento
das comissões até o dia 15 do mês subsequente ao da liquidação da fatura. As comissões pagas fora do prazo devem sofrer
reajuste monetário. O representante não terá direito à comissão em caso de insolvência do comprador, ou se o negócio for
desfeito em razão da situação do comprador, capaz de comprometer a liquidação.

Não se admite, nos contratos de representação, inclusão da cláusula del credere, de forma que o representante comercial
não se responsabiliza pela inadimplência ou pela insolvência do comprador.
O contrato poderá ser ajustado com prazo certo ou indeterminado. Com prazo certo, o término do contrato se dará ao
término do prazo. Caso o contrato com prazo certo seja prorrogado, de forma tácita ou expressa, ele passa a ter prazo
indeterminado. O contrato com prazo indeterminado pode ser denunciado a qualquer momento, por quaisquer das partes.

Caso o contrato tenha vigorado por mais de 6 meses, o denunciante deverá conceder à outra parte o aviso prévio, com
antecedência mínima de 30 dias, ou ao pagamento da importância igual a 1/3 das comissões auferidas pelo representante nos
3 meses anteriores.

A rescisão do contrato, sem justa causa, por parte do representado, confere ao representante o direito a uma indenização,
cujo valor não poderá ser inferior a 1/12 do total das comissões auferidas no curso do contrato. O contrato poderá ser
rescindido por justa causa (ou justo motivo).

MANDATO MERCANTIL:

O mandado mercantil se dá quando um empresário (mandante) confere a outrem (mandatário) poderes de gestão de seus
negócios. Age o mandatário na representação do mandante, administrando os seus interesses e celebrando com terceiros os
ajustes de que foi incumbido.

#PARTIUANOTAR

CCivil, art. 653: “Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar
interesses. A procuração é o instrumento do mandato.”

O mandatário age e obriga-se em nome do mandante, que será o responsável por todos os atos praticados por aquele,
dentro dos limites do mandato. Havendo excesso ou desbordo, a responsabilidade será do mandatário, que também se
responsabiliza por eventuais desvios praticados que causem prejuízo ao mandante ou a terceiros.

COMISSÃO MERCANTIL:

Comissão mercantil é o contrato em que um empresário – comissário – se obriga a realizar negócios mercantis por conta de
outro – comitente –, mas em nome próprio.

Trata-se de contrato típico, com previsão no Código Civil (art. 693 e ss.). Uma vez que o comissário realiza os negócios
em seu nome próprio, é ele quem se responsabiliza diretamente perante terceiros pelos atos praticados. O comissário não tem
responsabilidade pela inadimplência das pessoas com quem contratar, salvo em caso de culpa, ou se no contrato de comissão
houver sido estipulado cláusula del credere, situação que o tornará solidário com a pessoa com quem contratou pela solvência
da obrigação.

CORRETAGEM:

É o contrato em que uma pessoa não ligada a outra por mandato, prestação de serviço ou qualquer outra relação de
dependência se obriga a obter, para esta, um ou mais negócios, conforme instruções dela recebidas, recebendo, em
decorrência, sua remuneração.

O corretor tem direito a receber a sua remuneração uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato, ou,
ainda, que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes. Também terá direito ao recebimento se, mesmo
afastado ou dispensado pelo contratante, o negócio se realizar por efeitos de seu trabalho.

Se o negócio se concluir com a intermediação de mais de um corretor, a remuneração deverá ser paga a todos, em partes
iguais, salvo ajuste contratual em contrário. Como a atividade do corretor é de intermediação e aproximação das partes, se o
negócio for iniciado e concluído pelas partes, sem a interferência do corretor, e não houver cláusula de exclusividade, não lhe
será devida a comissão.

DISTRIBUIÇÃO E AGÊNCIA:

Contrato de distribuição é aquele em que um empresário – o distribuidor – tem consigo produtos de outro empresário – o
proponente – para venda ao mercado consumidor em determinada zona. A distribuição pode ser de aproximação ou de
intermediação.

A distribuição-aproximação é o contrato em que um dos empresários (distribuidor) se obriga a promover, em caráter não
eventual e sem vínculo de dependência, a realização de certos negócios por conta de outro empresário (proponente), em zonas
determinadas e tendo sob sua posse as mercadorias a serem vendidas. Se não tiver este último requisito, ou seja, se não tiver
as mercadorias, será caracterizado como “agência”. Tem previsão no CC/710 e seguintes.

A distribuição-intermediação é contrato atípico, sem previsão legal. É a obrigação assumida por um empresário
(distribuidor) perante outro (distribuído), de criar, consolidar ou ampliar o mercado dos produtos deste último, comprando-os
para revender.

FRANQUIA:

A franquia empresarial é o sistema pelo qual um empresário – o franqueador – cede a outro empresário – o franqueado – o
direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços e,
eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional,
mediante remuneração direta ou indireta.

Não há, entre franqueador e franqueado, relação de consumo nem relação de trabalho subordinado.

#PARTIUANOTAR
Lei 13.966/2019, “Art. 1º Esta Lei disciplina o sistema de franquia empresarial, pelo qual um franqueador autoriza por meio de
contrato um franqueado a usar marcas e outros objetos de propriedade intelectual, sempre associados ao direito de produção ou
distribuição exclusiva ou não exclusiva de produtos ou serviços e também ao direito de uso de métodos e sistemas de implantação e
administração de negócio ou sistema operacional desenvolvido ou detido pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem
caracterizar relação de consumo ou vínculo empregatício em relação ao franqueado ou a seus empregados, ainda que durante o período
de treinamento.”

A franquia é contrato atípico, embora regulamentado em alguns aspectos pela Lei 13.966/2019. É que a referida lei não
estabelece todos os direitos e deveres do franqueador e do franqueado, de forma que eles decorrerão das cláusulas contratuais
livremente pactuada. Por força da lei, o contrato de franquia deve ser celebrado por escrito (art. 7º, I e II), não se admitindo,
pois, o contrato verbal. Os contratos nacionais deverão ser escritos em língua portuguesa. Os internacionais serão
escritos em português ou terão tradução para o português custeada pelo franqueador. O contrato de franquia será
considerado internacional quando, pelos atos concernentes à sua conclusão ou execução, à situação das partes quanto a
nacionalidade ou domicílio, ou à localização de seu objeto, tiver liames com mais de um sistema jurídico (art. 7º, § 2º). Para
valer contra terceiros, o contrato de franquia deve ser registrado no INPI (art. 8º + Lei 9.279/1996 [LPI], art. 211). No
instrumento contratual, as partes poderão estabelecer uma convenção de arbitragem (art. 7º, § 1º), na forma prevista na
Lei 9.307/1996 [LArb], arts. 3º a 12. Tratando-se de contrato internacional, havendo a escolha de foro (inclusive arbitral), as
partes estão obrigadas a manter, no País da opção, representantes legalmente constituídos com poderes para representá-las
perante as autoridades administrativas e judiciais, inclusive para receber citações (art. 7º, § 3º).

A principal obrigação prevista na lei da franquia consiste na entrega da Circular de Oferta. Sempre que o franqueador tiver
interesse na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado uma Circular de Oferta de
Franquia, por escrito e em linguagem acessível, que deve conter os requisitos contidos no art. 2º da Lei 13.966/2019, e
não pode conter informações falsas (art. 4º).

O objetivo dessa Circular de Oferta é dar subsídios para o interessado na franquia poder avaliar a viabilidade do
empreendimento, com informações essenciais da operação. A Circular de Oferta é, pois, um documento obrigatório que o
franqueador deve fornecer ao franqueado em até 10 dias antes da assinatura do contrato (art. 2º, § 1º), sob pena de anulação
do contrato, restituição das quantias pagas. Na mesma sanção incorre o franqueador que prestar informações falsas, sem
prejuízo da apuração penal.

FATURIZAÇÃO ( FACTORING ):

Faturização, fomento mercantil ou factoring é o contrato pelo qual um empresário – o faturizador – obriga-se a cobrar os
devedores de um outro empresário – o faturizado –, prestando, a ele, serviços de administração de crédito.

Trata-se de contrato atípico, pois não há lei própria que o reja, embora encontre alguma regulamentação na Res/BC 1359/89
e na Lei de Reforma Bancária (4595/64). A faturização não é atividade bancária, sendo desnecessária, para o seu exercício,
autorização do Banco Central.

São obrigações do faturizador:

a) gerir os créditos do faturizado, procedendo ao controle dos vencimentos, providenciando os avisos e


protestos assecuratórios do direito creditício, bem como cobrando os devedores das faturas;

b) assumir os riscos do inadimplemento dos devedores do faturizado;

c) garantir o pagamento das faturas objeto da faturização.

Convém salientar que, numa época mais antiga, o factoring consistia apenas no desconto de títulos. O faturizador adquiria
os títulos de crédito com vencimento futuro do faturizado, pagando-lhe à vista o valor com um desconto previamente pactuado.
Essa modalidade de factoring, também chamada de old factoring, é, ainda hoje, bastante utilizada.

ARRENDAMENTO MERCANTIL ( LEASING ):

Denomina-se arrendamento mercantil o contrato realizado entre um empresário – o arrendador – e outro – o arrendatário – e
que tem por objeto o arrendamento de bens adquiridos pelo arrendador, segundo especificações do arrendatário e para uso
próprio dela. Pode ser de dois tipos:

– Leasing operacional: é feito diretamente com o fabricante do bem.

– Leasing financeiro: é feito por intermédio de uma instituição financeira.

Na modalidade operacional, o valor do arrendamento não pode ultrapassar 75% do valor do custo do bem. Os 25%
restantes são o resíduo que o arrendatário deverá pagar se exercer a opção de compra.

Há, ainda, a modalidade chamada leasing back, ou leasing de retorno, em que a arrendadora adquire o bem a arrendar
da própria arrendatária, ou seja, uma “operação de retorno dos bens à alienante, mas na qualidade de arrendatária,
caracterizando-se, pois, a mudança de título jurídico para o uso correspondente.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA – BENS MÓVEIS:

Denomina-se alienação fiduciária em garantia o negócio jurídico em que um dos contratantes – fiduciante –, proprietário de
um bem, aliena-o em confiança para o outro – fiduciário –, o qual se obriga a devolver-lhe a propriedade do mesmo bem, nos
termos definidos em contrato, após o seu cumprimento.
A alienação fiduciária em garantia de bens móveis está positivada no Decreto-lei n. 911/69. Trata-se de contrato de
mútuo em que o mutuário-fiduciante (devedor), para garantia do cumprimento de suas obrigações, aliena ao mutuante-fiduciário
(credor) a propriedade de um bem. Tal alienação se faz em fidúcia (confiança), de forma que o credor tem apenas o domínio
resolúvel e a posse indireta da coisa alienada, ficando o devedor com a posse direta do bem, sendo seu depositário. Uma vez
paga a dívida, ou seja, efetuada a devolução do dinheiro emprestado, resolve-se o domínio em favor do fiduciante, que passa a
titularizar a plena propriedade do bem dado em garantia.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS:

A alienação fiduciária em garantia de bens imóveis foi instituída pela Lei 9.514/1997, que trata do Sistema Financeiro de
Habitação, nos arts. 22 a 33, tratando-se de um negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia,
contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel.

Qualquer pessoa, física ou jurídica, poderá se valer da alienação fiduciária de coisa imóvel, não sendo necessário que seja
integrante do Sistema Financeiro de Habitação, podendo ter por objeto da alienação fiduciária, além da propriedade plena:

bens enfitêuticos, hipótese em que será exigível o pagamento do laudêmio, se houver a consolidação do
I.
domínio útil no fiduciário;

II. o direito de uso especial para fins de moradia;

III. o direito real de uso, desde que suscetível de alienação; e

IV. a propriedade superficiária.

A propriedade fiduciária se dá com o registro do contrato – que servirá como título – no Cartório de Registro de Imóveis
competente, ocorrendo, a partir daí, o desdobramento da posse, tornando-se o fiduciante possuidor direto e o fiduciário
possuidor indireto da coisa imóvel.

O pagamento da dívida principal e encargos resolve, de pleno direito, a propriedade fiduciária, ficando o fiduciário obrigado a
emitir, no prazo de 30 dias, termo de quitação ao fiduciante, sob pena de multa equivalente a 0,5% ao mês do valor do contrato.
Com a apresentação do termo de quitação, o Oficial do Cartório de Registro de Imóvel procederá ao cancelamento do registro
da propriedade fiduciária. No caso de inadimplemento, no todo ou em parte da dívida, depois de constituído em mora o
fiduciante por intimação do Cartório de Registro de Imóveis, será consolidada a propriedade da coisa em favor do fiduciário.

O fiduciante poderá purgar a mora, no prazo de 15 dias contados da intimação, pagando os valores devidos, caso em que o
contrato continuará vigorando. Não sendo purgada a mora no prazo legal, o Oficial do Cartório de Registro de Imóveis
competente certificará o fato e promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do
fiduciário, à vista da prova do pagamento por ele, do imposto de transmissão intervivos e, se for o caso, do laudêmio. Depois
de consolidada a propriedade, o fiduciário deverá, no prazo de 30 dias, promover o leilão público para venda do imóvel.

O fiduciante pode, desde que com expressa anuência do fiduciário, transmitir os direitos que tem sobre o imóvel objeto da
alienação fiduciária. O adquirente, nesse caso, assumirá todas as obrigações do fiduciante.

Referências Bibliográficas

SALES, Fernando Augusto De Vita Borges de. “Direito empresarial”, in BRUSSO, Vander e JORGE, Jefferson (coord.),
Passe agora OAB 1ª fase: questões comentadas da OAB. São Paulo: Rideel, 13ª edição, 2014.

_____. Súmulas do TST comentadas. São Paulo: LTr, 2015.

_____. Direito ambiental empresarial. Araçariguama: Rumo Legal, 2017.

_____. Direito empresarial contemporâneo. Araçariguama: Rumo Legal, 2017.

_____. Manual de direito processual civil. São Paulo: Rideel, 2017.

_____. Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada nas relações de consumo. Leme:
JHMizuno, 2019.

_____, e MENDES, Marcel Kléber. Direito do trabalho de A a Z. São Paulo: Saraiva, 2ª edição, ampliada e revista, 2015.

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