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DIREITO EMPRESARIAL I

Empresário (Sujeito da Atividade Empresarial)

Professora Me. Renata Egert


Definição de empresário:
Empresário é definido no art. 966, do CC/02, que estabelece: “Considera-se empresário
quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços”.

1) O exercício de uma atividade de natureza econômica,


visando lucro;
2) A organização da atividade (organizar fatores de produção);
3) A profissionalidade no exercício da atividade (habitualidade);
4) A finalidade da produção ou da circulação de bens ou de
serviços.
No regime atual (Teoria da empresa – CC/2002), a regra é estar o empresário submetido ao
direito de empresa, salvo se a lei o excluir.
Não se considera empresário :

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica


organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza:

científica (dentista)
literária (Maria Helena Diniz)
artística (Picasso)

* ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores (dentista tem secretária, recepcionista, etc...)

SALVO: se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (ex. dentista convida um colega e
organiza uma empresa, formas de lucrar, montam uma clínica, etc...) a profissão é apenas um dos
elementos da empresa.
APLICAÇÃO DO CONCEITO DE EMPRESÁRIO:

O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL:

Empresário Individual é a pessoa física que exerce a empresa em seu próprio nome, assumindo todo o risco da atividade
(ILIMITADA), ou seja, é a própria pessoa física que será o titular da atividade (empresa).

Tem CNPJ para fins fiscais... Escriturais, contábeis, emissão de nota.

“De se destacar, [...] que o empresário (individual) não é pessoa jurídica. E a inscrição não lhe atribuirá a qualidade de
pessoa jurídica. Essa inscrição não cria nenhuma figura jurídica distinta da pessoa natural do empresário. É que, para a
ordem jurídica vigente, pessoa jurídica é um ente que se comporta perante o direito como se fosse uma pessoa natural;
daí se lhe reconhecer personalidade jurídica. Ora, o comerciante individual é uma só pessoa tanto em família como na
frente de seus negócios. Quem age é ele, e não um ente por ele, sujeito de direitos ou obrigações diversas.” (CHAGAS,
2020, p. 105)

O exercício da empresa pelo empresário individual se fará sob uma firma, constituída a partir de seu nome, completo ou
abreviado, podendo a ele ser aditada designação mais precisa de sua pessoa ou do gênero de atividade.
Portanto o empresário individual é aquele que exerce a empresa, utilizando-se da
personalidade jurídica de pessoa natural, a mesma que adquiriu no nascimento com vida e,
ainda que lhe seja atribuída um CNPJ próprio, diferente do seu CPF, não há diferença entre
a pessoa física em si e o empresário individual.

“[...] não havendo uma pessoa jurídica na atuação do empresário individual,


o patrimônio é um só e responde por todas as obrigações decorrentes da
sua atuação. Assim, “o empresário individual responde pela dívida [....], sem
necessidade de instauração de procedimento de desconsideração da
personalidade jurídica (art. 50 do CC/02 e arts. 133 e 137 do CPC/2015”.
TOMAZETTE (2020, p. 75, apud STJ, Resp 1682989/RS, Rel. Min. Herman
Benjamim, 2º Turma, julgado em 19-9-2017, Dje 9-10-17)
Poderá, empresário individual, alternativamente, fazer uso do número de sua inscrição no
CNPJ como nome empresarial.

Para ser considerado regular, o EI deverá inscrever-se no

Registro Público de Empresas Mercantis

da respectiva sede, a cargo das Juntas Comerciais (CC/02, art. 968) antes de iniciar a sua
atividade econômica.
REGRAS PARA O REQUERIMENTO DE REGISTRO

Lei 8.934/94, deverá conter:

a. O nome, a nacionalidade, o domicílio, o estado civil e, se casado,


o regime de bens do interessado (no caso o Empresário Individual)
b. A firma sob a qual ele exercerá a atividade, com a respectiva
assinatura autógrafa, ou seja, o modo como assinará a firma
individual;
c. O capital;
d. O objeto;
e. A sede.

O requerimento de EI é um documento extremamente relevante e que substitui o contrato


social (utilizado no caso das sociedades) na formalização das empresas individuais.
Para ser empresário: (CC/02, arts. 972 à 976)
A CAPACIDADE CIVIL:
Para os atos da vida em geral, a pessoa deve ter capacidade, no sentido jurídico, ou seja,
deve ser dotada de vontade e de discernimento para exercer os atos por si só, sendo que
esta capacidade esta geralmente ligada a fatores como idade e estado de saúde.

A capacidade plena de agir se adquire aos 18 anos de idade (art. 5º do CC/02).

“Portanto, como regra de princípio, toda a pessoa maior de 18 anos e


que não seja incapaz relativamente a certos atos ou à maneira de os
exercer, [....] pode, pelo exercício da atividade econômica organizada
para a produção ou circulação de bens e serviços, constituir-se como
empresário.”(Campinho. 2020).
Disso, resta verificar a questão dos:

1.1. Menores (relativa e absolutamente incapazes)

1.2. Do curatelado

1.3. Da pessoa com deficiência


Menores:

O menor relativamente incapaz (16 aos 18 – deve ser assistido) tem duas possibilidades de
ser empresário. (ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento
reduzido; os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; os pródigos)

a) Por emancipação

b) Por continuação da empresa


a) Emancipação

→ Pode adquirir plena capacidade através da emancipação

A emancipação é feita por escritura pública, no cartório de notas. Trata-se de ato


irrevogável que torna o menor plenamente capaz. É obrigatório o comparecimento do
pai, da mãe e do filho a ser emancipado, o qual necessariamente deve ser maior de 16
(dezesseis) anos.

“Estando emancipado o menor, fica-lhe permitido exercer a atividade de empresário e,


como tal, ser qualificado, SEM NECESSIDADE DE SER ASSISTIDO visto que passa a estar em
pleno gozo da capacidade civil (CC/02, art. 972), devendo a prova da emancipação ser
levada a registro na Junta Comercial”. (Campinho, 2020).
b) A continuação da empresa

→ Temos duas situações que se apresentam para que o menor relativamente incapaz
possa ser empresário, quais sejam:

I. sucessão hereditária;
II. incapacidade superveniente.

Para que esta continuidade da empresa por parte do menor relativamente incapaz ocorra,
faz necessário o preenchimento de dois requisitos:

→ Que ele seja assistido


→ Que ele possua uma autorização judicial
a) Emancipação para iniciar uma atividade empresarial é ampla, sem restrições
para a prática de qualquer ato da vida civil e é irrevogável;

b) Autorização para o exercício da atividade empresarial é restrita aos atos


que dizem respeito à atividade a ser desenvolvida e pode ser revogada.

“[...] a continuação da atividade será necessariamente precedida de autorização judicial, que analisará os
riscos da empresa, bem como a conveniência de continua-la. Haverá uma ponderação dos riscos e benefícios
em jogo, deferindo-se ou não a continuação da atividade pelo incapaz. Tal autorização é genérica para o
exercício da atividade, devendo ser averbada na junta comercial (art. 976 do Código Civil), [...].” (TOMAZETTE,
2020).

Autorização é genérica devendo ser averbada na Junta Comercial; não existe um


procedimento próprio para a obtenção da autorização judicial, devem, por analogia, ser
observadas as regras do CPC/15, referentes aos procedimentos de especiais de jurisdição
voluntária, onde se encontra o procedimento da emancipação judicial.
Frise-se que a autorização pode ser revogada a qualquer tempo pelo juiz (a emancipação
não), desde que os interessados apresentem motivos que a justifiquem.

Sendo deferida a autorização para a continuidade da empresa, o relativamente incapaz é


que será o empresário e não o assistente, pois os menores relativamente incapazes,
devidamente autorizados pelo juiz e assistidos, praticam os atos em seu próprio nome,
apenas exige-se a assistência para a validade do ato.
O menor absolutamente incapaz ( menor impúbere - menor de 16 anos - CC/02, art. 3º -
representado)

O menor absolutamente incapaz pode ser empresário quando da continuidade da


empresa, nas duas situações que se apresentam também ao menor relativamente incapaz,
quais sejam:

I. sucessão hereditária (CC/O2, art. 974);


II. incapacidade superveniente

A continuação da atividade pelo menor absolutamente incapaz, também deve ser precedia
de autorização judicial, com a devida análise feita pelo juiz (CC/02, art. 974), bem como,
neste caso (menor absolutamente incapaz), deverá este ser representado.
Aqueles que são representados – os absolutamente incapazes, denominados menores
impúberes – têm sua vida gerida pelo representante, que pode manifestar sua vontade em
juízo, celebrar negócios em seu nome etc., desde que atendidos os pressupostos legais
para fazê-lo e respeitados os interesses do representado.

Embora apareça mais e assine os atos, o representante do absolutamente incapaz pratica


atos jurídicos em nome deste e para produzir efeitos na órbita jurídica.

→ Da mesma forma que o assistente (caso de menor relativamente incapaz), o


representante também não adquire a condição de empresário.

→ O ato praticado pelo representante não é atribuído a este, mas ao representado. É como
se o próprio representado estivesse praticando o ato deste em pelo representado
 Sendo deferida a continuação da empresa, o incapaz será o empresário.
O curatelado (CC/02, arts. 4º, II, III e IV e 974)

O curatelado, ainda que por meio de seu curador, não pode iniciar a atividade empresarial
que não exercia.

Dispõe o CC/02, em seu art. 974, que o incapaz, por meio de representante ou
devidamente assistido, poderá dar continuidade à empresa por ele antes exercida,
enquanto capaz, ou ainda àquela exercida por seus pais ou pelo autor da herança.

O CURATELADO É RELATIVAMENTE INCAPAZ e, como sabemos, os relativamente incapazes


podem dar continuidade à empresa, desde que assistidos.
Pessoa deficiente

Nem toda a pessoa com deficiência é incapaz e, de uma maneira geral, a pessoa com
deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade (Lei n. 13.146/15, arts.
6º e 84).

É facultada à pessoa com deficiência, quando do exercício de sua capacidade, a adoção de


apoio no processo de tomada de decisão apoiada (Lei n 13.146/15, art. 84, §2º).

Por isso, como regra de princípio, a pessoa com deficiência pode ser empresária, sendo
vedado apenas àquelas pessoas com deficiência que se enquadrem como relativamente
incapazes, assim entendidos os impedidos por causa transitória ou permanente de exprimir
suas vontades.
Impedidos de exercer a atividade empresarial

1) O falido não reabilitado LC nº 11.101/05, art. 102 c/c 94

Não podem atuar como empresários individuais os falidos, desde a decretação da falência,
até a sentença que extingue suas obrigações (art. 102 da Lei n. 11.101/2005).

Enquanto as obrigações anteriores não forem extintas e o falido não for reabilitado, não
permite o legislador que possa desenvolver atividade empresarial em nome próprio.
2) Os condenados a certos crimes previstos na lei – art. 1.011, § 1º, CC/02.

Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a
diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.

§ 1 o Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial:

1. condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a


cargos públicos;
2. por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão,
peculato;
3. contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra
as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé
pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
3) Agentes Públicos

A lei menciona alguns agentes públicos e políticos que são proibidos de exercerem a
atividade empresarial.

→ Os membros dos MPs – Art. 128, §5º, II, c, da CF; salvo se acionista ou cotista (art.
44, III, da Lei 8.625/93 – Lei Orgânica do MP).
→ Os magistrados - Nos mesmos limites dos membros do MP - Lei Complementar
35/79 – Lei Orgânica da Magistratura.
→ Presidente da República, Ministros de Estado, Secretários de Estado,
Governadores, Prefeitos, Deputados e Senadores – a lei não proíbe o exercício da
empresa de forma ampla, mas se restringe seu exercício quando forem proprietários,
controladores ou diretores de empresa (Art. 54, II, a da CF).

Por fim é de se observar que os atos da administração pública (portanto do administrador público) deverão
pautar-se pelo princípios e demais normas previstos no art. 37 da CF
4) Servidores Públicos (art. 117, X, Lei nº 8.112/90) e Militares (art. 29, Lei nº 6.880/80).

A proibição recai sobre a atividade de empresário individual e administrador de sociedade


empresária, mas não o impede de ser sócio ou acionista de uma sociedade (art. 117 da Lei
n. 8.112/90).

O servidor público que realiza a atividade empresarial não preenche os requisitos exigidos
pela lei e, portanto, pratica contravenção penal (art. 47 da LCP), independentemente das
sanções administrativas.

Os militares na ativa não apenas são proibidos de serem empresários individuais ou


administradores de sociedades empresárias, como também é considerado crime militar tal
atuação (art. 204 do CPM), sendo-lhes permitido participar de sociedade empresária
limitada ou anônima, como cotistas ou acionistas, respectivamente, sem integrar a
administração, consoante o Código Penal Militar (Decreto-Lei n. 1.001/69, art. 204).
5) Penalmente proibidos (pena acessória)

O CP nos arts. 47 e 56 estabelece como penas de interdição temporária de direitos a


proibição de exercícios de profissão, atividades ou ofício que dependam de habilitação
especial, de licença ou autorização do poder público, sempre que houver violação dos
deveres que lhes são inerentes.

“Pode-se afirmar que o processo ou a condenação pela prática de crime de qualquer


natureza não impede o exercício da atividade empresarial; somente o fará se a sentença
criminal condenatória fixar a interdição desse exercício resultado de pena acessória
temporária.”(Negrão, 2019).
Empresário Rural
É empresário rural aquele que exerce profissionalmente determinada atividade econômica
ligada ao uso, ao cultivo ou à exploração da terra, ou à produção de animais destinados ao
abate e à comercialização da carne, tudo visando a colocação dos produtos ao mercado.

O Código Civil conferiu tratamento sui generis àquele que exerce empresa agrária,
facultando-se a inscrição no registro Público de Empresas Mercantis, no caso de ser
empresário individual, nos termos do art. 971 do CC/2002:

“O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,


observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva
sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os
efeitos, ao empresário sujeito a registro”.
Empresário Rural
É empresário rural aquele que exerce profissionalmente determinada atividade econômica
ligada ao uso, ao cultivo ou à exploração da terra, ou à produção de animais destinados ao
abate e à comercialização da carne, tudo visando a colocação dos produtos ao mercado.

O Código Civil faculta a inscrição no registro Público de Empresas Mercantis, no caso de ser
empresário individual, nos termos do art. 971 do CC/2002:

“O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,


observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva
sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os
efeitos, ao empresário sujeito a registro”.
Atividades do Empresário Rural
Art. 2.º da Lei 8.023, de 12.04.1990, alterada pela Lei 9.250, de 26.12.1995, está a descrição de várias
atividades rurais ou agrícolas:

“Considera-se atividade rural:

I – a agricultura;
II – a pecuária;
III – a extração e a exploração vegetal e animal;
IV – a exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras
culturas animais;
V – a transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as
características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios
usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matéria-prima produzida na área
rural explorada, tais como a pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de
laranja, acondicionados em embalagem de apresentação.”
Empresário Rural
Não se incluem no conceito de empresa agrária as atividades ligadas à
produção pelo cultivo da terra considerada de mera subsistência, em que os
produtos obtidos são suficientes só para a subsistência do produtor e de sua
família.

A organização, a constituição e o funcionamento da empresa submetem-se às regras do Código Civil, Livro II –


arts. 966 a 1.195, além de regulamentação específica, em especial a Lei 6.404, de 15.12.1976.

Como decorrência, o empresário rural e a sociedade empresária rural,


inscritos no registro público de empresas mercantis, sujeitam-se à falência,
com a faculdade da recuperação judicial ou extrajudicial.

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