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Direito Empresarial I

Monitora: Raíssa Rafaele


DO EMPRESÁRIO

CONCEITO
Código Civil/02: substituiu a figura do comerciante pela do empresário.
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Empresário → aquele que desempenha profissionalmente uma atividade organizada de
natureza econômica, voltada para a produção ou circulação de bens ou serviços.
Empresa → atividade econômica, organizada com a finalidade de produzir ou fazer circular
bens ou serviços.
• Atividade econômica: intenção de obter lucro + risco de perder o capital empregado.
Ao investir na empresa, se assume a responsabilidade e o risco.
• Organização: o empresário combina os fatores de produção, podendo ter auxiliares.
→ o estabelecimento é um fator que demonstra a organização da atividade.
• Profissionalismo: verificado quando o empresário desempenha a atividade como profissão.
→ Pressupõe habitualidade + pessoalidade + especialidade*.
• Produção ou circulação de bens ou serviços:
− Produção de bens: diz respeito à transformação de produtos e insumos.
− Produção de Serviços: se aplica a serviços em geral, exceto os intelectuais.
− Circulação de bens: o empresário é um intermediário, compra bens para revendê-los.
− Circulação de serviços: o empresário é intermediário entre o fornecedor de serviço e o
cliente.

QUEM NÃO É CONSIDERADO EMPRESÁRIO


art. 966 – Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.
Atividade intelectual: aquela que requer um esforço criador e que, por estar na mente do
profissional, não é fungível.
As atividades intelectuais não necessitam da organização dos fatores de produção e, por isso,
a regra é que um profissional intelectual não seja considerado empresário, de acordo com a
teoria adotada pelo Código Civil.
Para a Lei, quem exerce trabalho de natureza intelectual, literária, artística ou científica, ainda
que com a colaboração de auxiliares ou colaboradores, não é considerado empresário, “salvo
se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”.
Significa que será considerado empresário se a profissão intelectual é parcela dessa atividade
e não a atividade em si, isoladamente considerada.
Exemplo: um veterinário em uma pet shop que, além do seu ofício, vende ração,
medicamentos e oferece hospedagem para os animais.

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O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E A SOCIEDADE EMPRESÁRIA
O conceito de empresário se aplica tanto à pessoa física quanto à pessoa jurídica.
EMPRESÁRIO INDIVIDUAL (EI): é o empresário pessoa física que exerce
profissionalmente uma atividade econômica, organizada para a produção ou circulação de
bens ou de serviços, sem a participação de qualquer sócio.
A inscrição do Empresário Individual é feita na Junta Comercial, antes do início de sua
atividade. Somente é permitida uma inscrição de EI por CPF.
⚠️ O EI não é o mesmo que Microempreendedor Individual - MEI.
Principais diferenças: restrição de atividades e no faturamento anual
→ o EI poderá registrar qualquer atividade econômica no seu objeto social, enquanto o MEI
possui uma lista de atividades econômicas permitida, .
→ O EI não tem limite de faturamento anual, diferente do MEI.
O EI pode se classificar como ME, como EPP, observados os limites de faturamento, ou
mesmo não se enquadrar nem como ME nem como EPP, seja por opção ou ou restrições.
SOCIEDADE EMPRESARIAL: é um grupo de pessoas com um objetivo em comum de
exercer uma atividade econômica de forma profissional e organizada para produzir,
comercializar ou oferecer bens e serviços de forma a obter lucro.
Tipos de Sociedades: Sociedade Simples; Sociedade Limitada; Sociedade Limitada
Unipessoal; Sociedade em Nome Coletivo; Sociedade em Comandita Simples; Sociedade
Anônima;Sociedade Comandita por Ações; Sociedade Cooperativa; Sociedade de Advogados
Ao atribuir personalidade jurídica à sociedade empresária, a lei a torna apta a ser titular de
direitos e contrair obrigações.
RESPONSABILIDADE
Responsabilidade do empresário individual: direta e ilimitada
→ ele responderá pelo risco do empreendimento com seus bens pessoais.
→ não tem como limitar a responsabilidade ou o separar o patrimônio.
Responsabilidade dos sócios de uma sociedade empresária: subsidiária, pode ser limitada
→ a pessoa jurídica tem patrimônio próprio que não se confunde com o dos sócios, o que
impede, a princípio, que as dívidas da sociedade os atinjam, em processos de execução.

CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL


Para exercer a atividade de empresário devem estar presentes dois requisitos, previstos no
art. 972 do Código Civil: capacidade plena e sem impedimento legal;
1. Capacidade Plena: sujeito civilmente capaz → dezoito anos + sanidade mental
Possibilidade de emancipação: 16 anos + possuir um estabelecimento empresarial, com
economia própria.
*A emancipação cessa a incapacidade, não a menoridade.
Exceções:

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⚠️ Situação que envolve o empresário individual (não se aplica a sócio de sociedade
empresária pois a própria sociedade que exerce a atividade empresarial e não os sócios).
• Exercício de atividade empresarial por incapaz: nunca será autorizado a iniciar a atividade
empresarial, mas poderá, excepcionalmente, continuar a exercê-la.
As hipóteses legais de continuação da atividade empresária por incapaz são (art. 974):
− O incapaz continua a atividade empresarial iniciada por ele, enquanto capaz. (Incapacidade
superveniente)
− Incapaz continuar exercendo atividade de empresa, em razão de sucessão ou herança.
Obs: Absolutamente incapaz: representado – Relativamente incapaz: assistido.
Os dois casos exigem autorização judicial, que poderá ser revogada, posteriormente. Caberá
ao juiz avaliar a conveniência de o incapaz exercer atividade de empresa. (art. 974,§ 1º) :
Considerando conveniente a continuação da empresa, no caso de incapacidade superveniente,
o juiz deverá conceder um alvará de autorização, no qual serão relacionados todos os bens
que o incapaz possuía, antes da interdição. Esses bens serão protegidos, não ficando sujeitos à
execução, no caso de dívidas contraídas pela empresa. (art. 974, §2º)
ART. 974, §3º, III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente
incapaz deve ser representado por seus representantes legais.
Sendo assim, o incapaz pode ser sócio de uma sociedade, desde que:
a) não exerça a administração da sociedade;
b) o capital social esteja integralizado;
c) representado ou assistido.
⚠️ Sócio não pode ser confundido com empresário!
O art. 974 mistura situações: o caput fala acerca da possibilidade do EMPRESÁRIO incapaz
exercer a empresa. O Parágrafo 3 refere-se ao SÓCIO incapaz.
Portanto, no caso do sócio ele pode iniciar sociedade sim, só não pode ser empresário (a não
ser nos casos do caput do artigo 974 que permite a continuidade da atividade pelo incapaz).
Se o representante ou assistente for impedido de exercer a atividade, poderá nomear um
gerente. Essa indicação também será sujeita à aprovação judicial, ficando o representante
responsável pelos atos do gerente. (art. 975)
→ Exemplo: o representante legal do incapaz toma posse em cargo público e, com isso, fica
impedido de exercer atividade empresarial.
2. Ausência de impedimento legal para o exercício de atividade empresarial
Existem situações em que uma pessoa civilmente capaz não pode ser empresário, por estar
impedida por lei.
As principais consequências do exercício da atividade empresarial com violação das regras de
impedimento (art. 973, CC):
• Não poder usufruir dos direitos do empresário;
• Responsabilização pelas obrigações contraídas.
⚠️ O art. 1.011, § 1º traz uma regra que pode ter interpretações equivocadas:

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§1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados à
pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de
prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema
financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé
pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
Veda o exercício da administração da empresa → não há qualquer impedimento a ser sócio de
sociedade empresária de responsabilidade limitada, se não houver o exercício de função de
gerência ou administração.
Algumas leis esparsas vedam a atividade empresarial em razão de circunstâncias especiais,
relacionadas ao sujeito. Isso ocorre em relação a:
• Falido não reabilitado: A Lei 11.101/2005 determina que o empresário que faliu e ainda
não se reabilitou não tem condições de começar uma nova atividade empresarial (art. 102, cc.
art. 181, § 1º).
O falido será considerado reabilitado quando suas obrigações forem consideradas extintas,
seja por terem sido quitadas, seja em decorrência da prescrição das dívidas ou, no caso de
crime falimentar, 5 anos depois de extinta a punibilidade.
Tendo se reabilitado, o falido poderá voltar a exercer atividade empresarial e, para isso,
deverá formular requerimento ao juiz da falência, para que esse oficie a Junta Comercial.
• Servidor público: A Lei 8.112/90 , art. 117, X
→ pode ser acionista ou cotista de sociedade, mas não pode ser administrador ou exercer
atividade empresarial como empresário individual
A vedação não se aplica se o servidor estiver em licença para interesses particulares, sem
remuneração.
A penalidade administrativa para aqueles que infringirem a regra é a demissão.
• Militar: o Código Penal Militar, em seu art. 204, veda o exercício da atividade empresarial
por militares, tipificando como crime militar a violação a esse impedimento.
• Quem tem débitos com o INSS: Lei 8.212/91, art. 95, § 2º
São impedidos de exercer atividade empresarial.
• Leiloeiro: o art. 36 do Decreto nº 21.981/32 veda a constituição de qualquer forma de
sociedade → pela leitura do dispositivo o leiloeiro sequer pode ser sócio.
⚠️ O Manual de Registro da Sociedade Limitada e Sociedade Anônima do DREI
(Departamento de Registro Empresarial e Integração) esclarece que a vedação se refere à
administração da sociedade, não havendo impedimento a que ele seja sócio ou acionista.
• Magistrados: art. 36, I, da LC 35/1979 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional; obstam
que seus membros participem de sociedade empresária como sócio administrador.
• Membros do Ministério Público: o art. 44, III, da Lei 8.625/1993; obstam que seus
membros participem de sociedade empresária como sócio administrador.

O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL CASADO

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Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado
no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.
- Cônjuges não podem realizar sociedade caso seu regime de casamento seja o de comunhão
universal de bens ou no de separação obrigatória, o que se entende que existe apenas a
indivíduo diante a relação.
O empresário individual casado poderá, independentemente do regime de bens do casamento,
alienar os bens imóveis que integram o patrimônio da empresa, ou gravá-los de ônus real (ex:
hipoteca), sem necessidade de autorização do cônjuge. (art. 978, CC)
Enunciado n. 58, da II Jornada de Direito Comercial: O empresário individual casado é o
destinatário da norma do art. 978 do CC e não depende da outorga conjugal para alienar ou
gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia
averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no
cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua
inscrição no registro público de empresas mercantis.
Os bens que constem de cláusulas de incomunicabilidade ou inalienabilidade, em pactos e
declarações antenupciais do empresário não serão sujeitos à regra do art. 978. (art. 979)
Não poderão ser opostos a terceiros a separação judicial ou ato de reconciliação, enquanto
não for feita a averbação e o arquivamento no Registro Público de Empresas Mercantis. (art.
980) → visa proteger aqueles que irão firmar contratos com o empresário individual, no
sentido de terem conhecimento da extensão exata do patrimônio, já que a responsabilidade é
ilimitada.
⚠️ O entendimento que predomina na doutrina e jurisprudência é que o art. 978 é uma
exceção ao inciso I do art. 1647.

DEVERES DO EMPRESÁRIO (resumo 3)


As principais obrigações do empresário dizem respeito à inscrição e escrituração.
● Inscrição: deve ser feita no Registro Público de Empresas Mercantis, é obrigação a
ser atendida antes do início da atividade empresarial, sob pena de ser considerado
irregular o empresário individual ou a sociedade empresária. (art. 967 e art 1.150)
Dispensa de Inscrição: ao empresário rural é facultativo.
● Escrituração: deve ser feita em livros mercantis obrigatórios, com a observância dos
princípios contábeis. É dever do empresário manter a boa guarda da escrituração, das
correspondências e dos documentos referentes à atividade empresarial.

O EMPRESÁRIO RURAL
Empresário rural: quem desenvolve atividades voltadas para a agricultura, pecuária,
extrativismo ou agroindustrial.
O Código Civil inovou, ao apresentar àqueles que fazem da atividade sua principal profissão
a opção de se registrar como empresário (art. 971) ou sociedade empresária (art. 984).

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A vantagem do registro é que com a equiparação prevista no art. 984 o empresário rural e a
sociedade empresária rural se beneficiam das regras de falência e recuperação judicial,
podendo requerer a falência de outras empresas, além de poder utilizar a escrituração contábil
como prova em processos judiciais.
Para requerer sua inscrição, o ruralista deverá procurar o Registro Público de Empresas
Mercantis da sua sede e cumprir todas as formalidades legais, sendo a ele assegurado
tratamento especial. (art. 970)

O PEQUENO EMPRESÁRIO
Conceito legal na Lei Complementar 123/2006, art. 68: é o empresário individual
caracterizado como microempresa na forma da LC/2006 que aufira receita bruta anual até o
limite R$81.000,00.
Tratamento especial conferido ao pequeno empresário pelo Código Civil (art. 970 e 1.179).
→ Tratamento favorecido quanto à inscrição e aos efeitos decorrentes.
→ Dispensados de seguir o sistema de contabilidade com base na escrituração de seus livros
e do levantamento anual do balanço patrimonial e o de resultado econômico.
Obrigatoriedade do Registro: não é isento do registro, mas lhe é assegurado o tratamento
favorecido, diferenciado e simplificado.

O EMPRESÁRIO IRREGULAR
Empresário irregular: exerce a atividade empresarial, porém com inobservância dos requisitos
de registro, escrituração regular e levantamento de demonstrações contábeis periódicas.
Também é considerado irregular o empresário que, embora não seja plenamente capaz, exerce
a empresa sem autorização judicial, bem como o que possui algum impedimento legal.
Consequências do Exercício Irregular da Atividade Empresarial
As consequências legais do exercício irregular da atividade empresarial são:
A) Impedimento de requerer a falência de outro empresário, mas poderá ter sua falência
decretada. (Lei 11.101/05, art. 97, §1º);
B) Na hipótese de ter sua falência decretada, essa será considerada fraudulenta, incorrendo o
empresário em crime falimentar (Lei 11.101/05, art. 171);
C) Impedimento de requerer a própria recuperação judicial (Lei 11.101/05, art. 51, V);
D) Impedimento de autenticar seus livros na Junta Comercial (art. 1.181, do CC);
E) Os livros contábeis não poderão ser utilizados como prova em processos judiciais, pela
falta de inscrição;
F) Devido à falta de registro, é impossível o enquadramento como Microempresa ou Empresa
de Pequeno Porte;
G) Impedimento de participar de licitação promovida por órgãos e entidades da
Administração Pública (Lei 8.666/93, art. 28, II e III);
H) Impedimento de efetuar o registro no CNPJ;

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O art. 47, do Decreto-Lei 3.688/41, considera contravenção penal exercer atividade
econômica ou anunciar que a exerce sem preencher as condições estabelecidas por lei .
Para as sociedades empresárias, além dessas consequências → impedimento de instituir a
pessoa jurídica, o que importa na responsabilidade ilimitada dos sócios.

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