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CURSO PROFIJ/ NÍVEL IV – TÉCNICO ADMINISTRATIVO (10ºD)

Domínio de Formação: LEGISLAÇÃO COMERCIAL, FISCAL E LABORAL


UFCD 0563 – Legislação Comercial
TEXTO de APOIO 2

EMPRESA E O DIREITO
A palavra «empresa» traduz um conceito atual que qualquer pessoa tende a identificar com a ideia
de negócio, estabelecimento, organização para a exploração de uma atividade, como contraponto às antigas
«oficinas», «ateliers».
Na perspetiva da economia, empresa é uma «unidade de produção», ou «uma unidade de exploração
económica», ou «uma unidade técnica de produção», uma organização com o objetivo de criar utilidades,
sob a forma de bens ou serviços, para obter o lucro.

A «empresa» no Direito Comercial Português


«Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas, que se propuserem:
1. Transformar por meio de fábricas ou manufaturas, matérias-primas, empregando, para isso, ou
só operários, ou operários ou máquinas.
2. Fornecer, em épocas diferentes, géneros quer a particulares, quer ao Estado, mediante preço
convencionado.
3. Agenciar negócios ou leilões por conta de outrem em escritório aberto ao público, e mediante
salário estipulado.
4. Explorar quaisquer espetáculos públicos.
5. Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas.
6. Edificar ou construir casas para outrem com materiais subministrados pelo empresário.
7. Transportar, regular e permanentemente, por água ou por terra, quaisquer pessoas, animais,
alfaias ou mercadorias de outrem…»
Resumindo, empresa é:
o Em sentido subjetivo, o comerciante;
o Em sentido objetivo, a atividade que o comerciante exerce profissionalmente, servindo-se de uma
organização que é o estabelecimento comercial.
Referiu-se que a atividade do empresário se realiza através de uma organização. Esta organização que é
o instrumento da atividade comercial é o estabelecimento comercial, ou seja, o conjunto de bens ou serviços
organizado pelo comerciante com vista ao exercício da sua atividade. Reúne todos os elementos necessários
à atividade, como sejam, as instalações onde funciona, as licenças respetivas, os trabalhadores, a clientela,
etc..

Requisitos da atividade comercial


O Código Comercial diz quais são os atos de comércio todos os que se encontrem especialmente
regulados no Código Comercial, ou seja, aqueles que são sempre comerciais, independentemente da
qualidade de comerciante de quem os pratica - são os atos de comércio objetivos. Todos os atos praticados

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pelos comerciantes, exceto se: a sua natureza for exclusivamente civil (por exemplo, o casamento), se provar
que não têm relação com o comércio (como por exemplo, se o comerciante compra uma casa para a
habitação da sua família, este ato não terá relação com o comércio). Estes são os atos de comércio
subjetivos.
Os comerciantes são as pessoas que, tendo capacidade para praticar atos do comércio, fazem desta
profissão – os comerciantes em nome individual e as sociedades comerciais.
Os comerciantes têm de adotar uma firma, ter uma escrituração, de efetuar o registo de determinados
atos e dar balanço e prestar contas. Estas obrigações a que os comerciantes estão vinculados têm por
objetivo geral o exercício do comércio de uma forma segura. Especialmente, os objetivos destas obrigações
são os seguintes:
o A firma tem por fim distinguir os comerciantes uns dos outros;
o A escrituração, o balanço e a prestação de contas têm por fim dar a conhecer a situação
económica do comerciante;
o O registo tem a finalidade de publicitar os atos dos comerciantes.

TIPOS DE EMPRESAS

EMPRESAS SINGULARES
As empresas singulares são aquelas que apenas têm um indivíduo como proprietário, o qual, para
além de deter a totalidade do capital, contribui com o seu trabalho na direção da empresa.
A. Empresário em nome individual
Uma empresa individual ou um empresário em nome individual consiste numa empresa titulada apenas
por um só indivíduo ou pessoa singular, que afeta bens próprios à exploração do seu negócio. O empresário
em nome individual pode exercer a sua atividade na área comercial, industrial, de serviços ou agrícola. O
proprietário e gestor são uma e a mesma pessoa, que é pessoalmente responsável por todas as atividades
da empresa. Responde ilimitadamente perante os credores pelas dívidas (incluindo dívidas fiscais e no caso
de falência) contraídas no exercício da sua atividade.
A firma deverá ser constituída pelo nome civil completo ou abreviado do proprietário, seguido ou não
da atividade a que se dedica.
Exemplos
Maria José Abreu
M. J. Abreu
Maria José Abreu – Artesanato

A. Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada (EIRL)


É titulada por um único indivíduo ou pessoa singular e é composto por um património autónomo ou de
afetação especial ao estabelecimento através do qual uma pessoa singular explora a sua empresa ou
atividade. O capital social não pode ser inferior a € 5.000 e pode ser realizado em numerário, coisas ou
direitos que possam ser alvo de penhora. Contudo, a parte em dinheiro não pode ser inferior a 2/3 do capital
mínimo. Existe uma separação entre o património pessoal do empreendedor e o património afeto à
empresa, pelo que os bens próprios do empreendedor não se encontram afetos à exploração da atividade
económica. Pelas dívidas resultantes da atividade económica respondem apenas os bens a ela afetos.

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A firma deve ser composta pelo nome civil, por extenso ou abreviado, do empreendedor. Este nome
pode ser acrescido, ou não, da referência ao ramo de atividade, mais o aditamento obrigatório
Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada ou E.I.R.L.
Exemplos
R. F. Andrade, E.I.R.L.
R. F. Andrade, comércio de equipamentos, E.I.R.L.

EMPRESAS COLECTIVAS

Sociedades comerciais
O contrato de sociedade é definido no Código Civil como «aquele em que duas ou mais pessoas se
obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que
não seja a de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade».
A sociedade tem, assim, como características:
o Uma pluralidade de pessoas como seu substrato;
o A ideia de colaboração entre as pessoas numa atividade com vista a um objetivo que é o lucro;
o Conjugação de bens, isto é, um fundo comum que constituirá o património social;
o Uma organização que seja a base de realização dos objetivos.
As sociedades são pessoas coletivas que, à semelhança das pessoas físicas, têm personalidade jurídica,
isto é, são sujeitos de direitos e obrigações. As sociedades compram, vendem, intentam ações em Tribunal.
Mas, porque são pessoas fictícias, não podem, como as pessoas físicas, agir, por si. São os seus
representantes que praticam atos, que agem em nome da sociedade. São, assim, duas as condições para
que se possa qualificar a sociedade como comercial: o fim (exercício do comércio) e a forma (adoção de um
dos tipos previstos na lei).

A. Sociedade em nome coletivo


Este tipo de sociedade não exige um montante mínimo obrigatório para o capital social, visto que os
sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais da empresa. É uma sociedade de
responsabilidade ilimitada em que os sócios respondem ilimitada e subsidiariamente em relação à sociedade
e solidariamente entre si perante os credores sociais. O sócio para além de responder individualmente pela
sua entrada, responde pelas obrigações sociais, subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente
com os outros sócios, ou seja, o seu património pessoal pode ser afetado.
A firma pode ser composta pelo nome, completo ou abreviado, o apelido ou a firma de todos, alguns ou,
pelo menos, de um dos sócios, seguido do aditamento obrigatório por extenso "e Companhia", abreviado e
"Cia" ou qualquer outro que indicie a existência de mais sócios, nomeadamente "e Irmãos";
Exemplos
Marques & Pereira
Marques & Cª
Marques E Companhia

B. Sociedade por quotas


É uma sociedade de responsabilidade limitada, ou seja, apenas o património da sociedade responde
perante os credores pelas dívidas da sociedade. Este tipo de sociedade é composta por dois ou mais sócios,

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não sendo admitidas contribuições de indústria, e a firma deve terminar pela palavra "Limitada" ou sua
abreviatura (Lda). Na sociedade por quotas o capital social está dividido em quotas e a cada sócio fica a
pertencer uma quota correspondente à sua entrada. Os sócios são solidariamente responsáveis por todas as
entradas convencionadas no contrato social. O capital social é representado por quotas, que poderão ter ou
não um valor idêntico (mas nunca inferior a € 1 cada), ou seja, na prática o capital social mínimo nunca será
inferior a €. 2. No caso de a realização do capital social ser superior ao mínimo legal, não tem de ser
integralmente realizado no momento da constituição, podendo ser diferidas entradas em dinheiro que não
ultrapassem 50% do capital social por um período máximo de cinco anos a contar da data da constituição da
sociedade. Contudo, o capital realizado em dinheiro à data da constituição deve perfazer o capital mínimo
fixado na lei e deve ser depositado em instituição de crédito, numa conta em nome da futura sociedade. Só
o património social responde para com os credores pelas dívidas da sociedade, salvo acordo em contrário,
sendo que nesse caso se pode estipular que um ou mais sócios, além de responderem para com a sociedade
respondem também perante os credores sociais até determinado montante.
A firma deve ser formada:
a) Com ou sem sigla, pelo nome ou firma de todos, algum ou alguns sócios, aditando-lhes ou
não expressão que dê a conhecer o objeto social;
b) Por denominação particular, aditando-lhe ou não expressão que dê a conhecer o objeto
social;
c) Pela reunião de a) e b);
d) Deve terminar sempre pela expressão "Limitada" ou pela abreviatura "Lda".
Exemplos
Alves, Pereira & Freitas, Lda.
A.P.F. - Alves, Pereira & Freitas, Lda.
TexLar – Comércio de Têxteis, Lda .

C. Sociedade em comandita
Cada um dos sócios comanditários responde apenas pela sua entrada. Os sócios comanditados
respondem pelas dívidas da sociedade nos termos da sociedade em nome coletivo. O traço distintivo reside
na circunstância de terem duas espécies de sócios, com regimes de responsabilidade diferentes:
o Os sócios comanditados assumem responsabilidade pelas dívidas da sociedade, nos mesmos termos
dos sócios das sociedades em nome conectivo;
o Os sócios comanditários não respondem por quaisquer dívidas da sociedade, à semelhança do que
acontece com os sócios das sociedades anónimas. Respondem, apenas, pelas suas entradas.
Mas dentro deste tipo de sociedades, e pelo que toca às participações sociais, surgem-nos dois subtipos:
o Nas sociedades em comandita simples: as participações de ambas as espécies de sócios,
comanditados e comanditários, denominam-se partes sociais.
o Nas sociedades em comandita por ações: as participações dos sócios comanditados são igualmente
partes sociais, mas as participações dos sócios comanditários são ações tituladas e regidas pelos
preceitos próprios do regime das sociedades anónimas. Não pode constituir-se com menos de 5
sócios comanditários.
A firma é formada pelo nome ou firma de um, pelo menos, dos sócios comanditários e o aditamento “
Em Comandita” ou “& Comandita” (para a comandita simples) / "Em Comandita por Ações" ou "& Comandita
por Ações".

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D. Sociedade anónima
É uma sociedade de responsabilidade limitada em que os sócios limitam a sua responsabilidade ao valor
das ações por si subscritas, pelo que os credores da sociedade só se podem fazer pagar pelo património da
sociedade. O elemento fundamental deste tipo de sociedades é o capital, que é o titulado por um grande
número de pequenos acionistas ou por um pequeno número de grandes acionistas com poder financeiro.
Assim, é o tipo de sociedade adequado à realização de grandes investimentos. O capital social está dividido
em ações que se caracterizam pela facilidade de transmissão. O número mínimo de sócios, normalmente
chamados acionistas, é cinco, não sendo admitidos sócios de indústria. O capital social não pode ser inferior
a €. 50 000 e encontra-se dividido em ações, cujo valor nominal não pode ser inferior a um cêntimo. As ações
têm todo o mesmo valor nominal e são representadas por títulos.
A subscrição das ações pode ser pública ou particular. Pública quando qualquer pessoa tem a faculdade
de subscrever uma ou mais ações para o capital social e particular quando o capital social for subscrito
apenas pelos sócios fundadores.
As ações podem ser nominativas - transmitem-se pela declaração do seu titular escrito no título – ou ao
portador - a transmissão opera-se por mera transferência do título para outrem -.
A firma pode ser composta pelo nome (ou firma) de algum ou de todos os sócios, por uma denominação
particular ou uma reunião dos dois. Em qualquer dos casos, tem que ser seguida do aditamento obrigatório
"Sociedade Anónima" ou abreviado - "S.A.".

E. Sociedade unipessoal
É constituída por um único sócio, pessoa singular ou coletiva, que é o titular da totalidade do capital
social, sendo seu mínimo de €. 1. Apenas o património social responde pelas dívidas da sociedade. A
sociedade unipessoal por quotas pode resultar da concentração do capital de uma sociedade por quotas
num único sócio, da transformação de um estabelecimento individual de responsabilidade limitada ou da
constituição de raiz de uma sociedade unipessoal por quotas.
A firma, para além das regras relativas às Sociedades por Quotas, deve-se ter em conta o seguinte: antes
da expressão "Limitada" ou da abreviatura "Lda." deve constar a expressão "Sociedade Unipessoal" ou
"Unipessoal".
Uma pessoa singular só pode ser sócia de uma única sociedade unipessoal por quotas. Uma sociedade
por quotas não pode ter como sócio único outra sociedade unipessoal por quotas.
Exemplos
João José Freitas, Unipessoal, Lda
J.J.F. – João José Freitas, Comércio de Automóveis, Sociedade Unipessoal, Lda
Jocas – Comércio de Automóveis, Unipessoal

SOCIEDADES CIVIS
Além de sociedades comerciais, existem sociedades civis, que são aquelas que não têm por fim a
prática de atos do comércio, nem adotaram um dos tipos previstos na lei comercial. Por exemplo associações
profissionais, clubes cívicos, clubes sociais e desportivo, grupos ambientalistas, etc.

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