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Noção de Sociedade

Quando se refere a sociedade, refere-se ao contrato ou o acto que gera o ente, ou o ente em si estando muitas vezes estes
elementos ligados. Muitas vezes fala-se do negócio jurídico como sendo um contrato de sociedade, mas a qualificação
correcta é de acto jurídico, porque existem sociedades que resultam, simplesmente, de negócios unilaterais (Ex:
sociedade unipessoal). Por outro lado, é possível também que as sociedades sejam constituídas por acto legislativo (Ex:
sociedades de capitais públicos, sendo estas sociedades constituídas por DL). Temos então o ente e o acto que gera o
ente. A partir do momento em que o ente é gerado, ele, em certa medida, desprende-se do acto constitutivo que o gerou,
dado que o funcionamento interno e a constituição da sociedade decorrerem da lei, sendo em grande parte independentes
do acto de constituição dessa mesma sociedade. São, portanto, regulados pela legislação societária. Perspectiva-se, então,
a sociedade como ente em si, dado que é essa a perspectiva do CSC.

A sociedade comercial é considerada com uma das grandes descobertas jurídicas da ciência jurídica ocidental, sendo
uma criação moderna. Se não tivesse sido criada a sociedade, não seria possível mobilizar capitais avultados para um
determinado empreendimento sem que os sócios não respondam pelo risco. Isto aconteceu inicialmente no século XVII
com a Companhia das Índias Holandesa, tendo sido também nesta altura que se criou o comércio bolsista. Houve, nesta
altura, a criação de tecnologia jurídica ao serviço do património.

O CSC não tem nenhuma noção de sociedade, embora determine o que são sociedade comerciais. Esta noção decorre, de
facto, do 980º CC:

Elementos da noção de sociedade


Decompondo esta noção temos os seguintes elementos:

Associação ou agrupamento de pessoas - A sociedade comercial deverá ser uma associação ou agrupamento de
pessoas, podendo ser constituída por dois ou mais sujeitos, sendo esse o modelo que a lei pressupõe. Esses sócios
podem ser pessoas singulares ou pessoas colectivas (980ºCC e 7º CSC). No entanto, temos sociedades que
originariamente apenas têm um sócio – unipessoais (por quotas ou sociedades anónimas). Tem-se igualmente casos
que, após a constituição da sociedade, ocorre a unipessoalidade, em que inicialmente havia dois ou mais sócios, mas
que com o desenvolvimento da vida societária (Ex. morte de um dos sócios), a sociedade passou a ter apenas um sócio.
Nestas circunstâncias, não deixa de ser uma sociedade.
Tem de ter um fundo patrimonial - O segundo elemento prende-se com o chamado substrato patrimonial. Todas as
sociedades têm de ter um património próprio, o qual não é dos sócios, mas sim da sociedade como ente, sendo distinto
do património dos sócios; assim, como o património dos sócios é distinto do património da sociedade. Esse património
é composto por direitos da sociedade face aos sócios relativamente às entradas. O sócio, quando constituem a
sociedade, obriga-se a entrar com bens ou valores (pecuniário, imóvel, carro, outra empresa, …). Aparentemente, o
património inicial da sociedade não seria os direitos, mas um objecto dos direitos. Mas as entradas não se realizam
sempre aquando da constituição da sociedade, podendo ser realizadas posteriormente. O que existe logo desde o início
é o direito da sociedade que corresponde ao dever dos sócios da realização dessas entradas. A sociedade tem, assim,
desde o início um direito de crédito sobre o sócio, mesmo que só tenha de entrar com o património após a sua
constituição.

Tem de ter um objecto (actividade económica) que não seja de mera fruição - A sociedade tem de ter um objecto, uma
actividade económica que não seja de mera fruição. Não se confundir com o seu fim; é a actividade económica que a
sociedade vai desempenhar. Importa então distinguir o que a sociedade tem de carácter económico do que não tem
carácter económico. A actividade económica é preenchida pela produção de bens (sector primário, secundário e
terciário e de bens imateriais – serviços), sendo que essa actividade implica o uso ou troca de bens. Desta forma, não
fazem parte da actividade económica as actividades culturais, políticas, desportivas, recreativas, … Na verdade, para o
exercício dessas actividades, não se constituem sociedades, mas sim associações. Contudo, estas podem, no entanto, ter
um carácter económico (Ex: criação de uma actividade no âmbito cultural de forma a obter lucro). Quando assim for, e
embora não tenha um carácter directamente económico, e podendo ser transformada nesse âmbito, a partir desse
momento, poderá vir a ser objecto de uma sociedade. O que se pretende em última instância é uma vantagem económica
(lucro).

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A actividade económica não pode ser de mera fruição. O que se tem em vista é tirar vantagem de um determinado bem,
mas não desenvolver uma actividade em comum. Uma actividade é uma série de actos. Nessa medida, não são o que se
denomina por sociedades ocasionais: são constituídas por um conjunto de pessoas para a prática de um único acto:
aquisição de um bilhete de lotaria por um conjunto de 2 ou 3 pessoas. Não podem, assim, ser uma sociedade dado que
implicam a realização de um acto isolado e não os múltiplos que são exigidos. Existem, contudo, sociedades que tem por
objecto um acto jurídico em si, embora se trate de um acto jurídico complexo, e nessa medida podemos falar em
actividade. Ex: constituição de uma sociedade para a realização de uma empreitada: é um acto complexo e pode ser
objecto de uma sociedade comercial.

Fim da sociedade: trata-se do lucro a ser repartido pelos sócios - A sociedade tem de visar um fim lucrativo, onde o lucro
é acréscimo patrimonial; é um ganho traduzido num aumento patrimonial. A sociedade visa não só o lucro, como
também a sua distribuição pelos sócios. Devem por isso distinguir-se o lucro objectivo (o que a sociedade visa obter) e o
lucro subjectivo (lucro que é distribuído aos sócios). Só existe lucro subjectivo quando há o objectivo.

O lucro distingue-se também daquilo que chamam vantagens económicas para o património dos associados ou a
realização de economias. Não é possível constituir uma sociedade sem fins lucrativos. Se for constituído um ente com
estas características, a ausência do fim lucrativo não está incluída nas causas de nulidade do 42º/1 do CSC.

Em conclusão, é possível precisar-se a noção do 980º CC nestes termos. É uma entidade que é composta por um ou mais
sujeitos (sócios). Esse ente tem um património próprio e que visa o exercício de uma determinada actividade económica
para obter lucros e para os repartir pelos sócios (lucro objectivo e subjectivo). A sociedade sujeita-se a perdas (como
contrapartida da sua actividade).

Relação entre sociedade e empresa


Existem duas concepções de empresa: em sentido subjectivo (sujeito que detém a empresa) e em termos objectivos.
(com uma organização de factores de produção com valor de posição no mercado, a qual podia ser objecto de locação,
trespasse, …). Diferente é o sujeito que detém a empresa. Muitas vezes há uma correspondência; uma sociedade pode ter
como objecto uma empresa. Ex: A e B constituem uma sociedade para montar um café: uma coisa é a empresa em si do
café e outra é a sociedade tal como ela foi constituída. São coisas diferentes.

Assim, verifica-se uma ligação próxima entre empresas e sociedade. Mas isso não significa que a todas as empresas
correspondam sociedades comerciais (Ex: sociedades de profissionais liberais, sendo sociedades que não são
comerciais). É também possível que uma empresa seja detida por um ente que não seja uma sociedade (Ex: associação,
fundação, comerciante em nome individual, …). A sociedade tem um património, tal como a empresa (elementos que
constituem a empresa). Mas o património da sociedade pode não ser idêntico ao da empresa, sendo possível que a
sociedade tenha bens que não incluem a empresa; pode inclusivamente deter mais de uma empresa. As sociedades
podem deter mais do que uma empresa e podem negociar as empresas.Uma sociedade pode sobreviver à empresa. Se
esta for dissolvida, entra em liquidação só se extingue quando terminar a liquidação. Mas antes do fim da liquidação, a
empresa em si extingue-se. Figuras afins da sociedade

Notas da Sociedade Comercial


Para se estar face a uma sociedade comercial, tem de se ter três elementos: tem de se estar face a uma sociedade e essa
sociedade tem de ter como objecto uma actividade comercial (conjunto de práticas comerciais). Tem, também, de
adoptar uma das formas previstas no Código das sociedades: sociedade em colectivo, sociedade em comandita,
sociedade por quotas ou sociedade anónima.

Mas se se constituir uma sociedade comercial que vise a prática de actividades comerciais, mas sem que tenha adoptado
um dos 4 tipos previstos no CSC? Se for uma sociedade civil, nada obriga que adopte um destes tipos. Mas sendo
sociedade comercial, tem mesmo de o fazer. Ela não deixa de ser uma sociedade comercial; simplesmente é uma
sociedade comercial irregularmente constituída, dado a lei obriga a adoptar um dos tipos legais.

Sociedades civis simples e sociedade civis de tipo comercial


As sociedades civis simples (980º CC ss) são aquelas que têm exclusivamente por objecto actos não comerciais: Ex:
sociedade agrícolas, sociedades de artesãos, sociedades de profissionais liberais.

Sempre que o objecto destas sociedades não for exclusivamente civil (civil e comercial), estamos face a sociedades civis
de tipo comercial. Neste caso, aplica-se o regime do CSC (1º/4 CSC). Ex: uma sociedade que se dedica à exploração e
um terreno agrícola para a produção de kiwis, mas ao mesmo tempo adquire para revenda sementes de abóbora. Neste
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último caso, o objecto é comercial (revenda, embora de carácter acessório). Como o objecto da sociedade não é
exclusivamente civil, já não se está perante uma sociedade civil, mas sim, uma sociedade comercial.

Tipos de sociedades comerciais

Os tipos societários são modelos ou formas de diferenciados de regulação de relações determinadas por conjuntos
abertos de notas características. Estas relações podem ser entre sócios, entre sócio(s) e sociedade e entre uns e outra com
terceiros. As sociedades comerciais estruturam-se em quatro tipos societários, estando previstos no CSC. Qualquer um
destes tipos tem um regime muito detalhado.

Responsabilidade dos sócios


A caracterização dos tipos das sociedades comerciais pode ser feita à luz de dois critérios:

Responsabilidade dos sócios perante a própria sociedade:

. Nas sociedades de nome colectivo, cada um dos sócios responde pela sua entrada seja em dinheiro, em espécie ou
indústria (175º CSC).

. Nas sociedades por quotas, cada um dos sócios responde pelas suas entradas, sejam elas quais forem, mas sempre que
sejam pluripessoais (mais do que um sócio), cada sócio responde pelas restantes entradas previstas no pacto social
(197º/1 CSC). Os sócios podem ficar obrigados, sempre face à sociedade, a realizarem prestações acessórias ou
suplementares: desde que definidos no pacto societário, um ou mais sócios podem ficar vinculados a prestações
acessórias ou suplementares.

. Nas sociedades anónimas, cada um dos sócios responde somente pela sua entrada, seja ela em dinheiro ou em espécie.
Respondem meramente pelo valor das acções que subscreveram. Esse valor corresponde a o valor pelo qual elas foram
colocadas à subscrição. Esse valor pode ser superior, mas não pode ser inferior, ao valor nominal das acções. Se cada
acção tiver um valor nominal de 1000 o valor de subscrição pode ser de 1100 (prémio para a sociedade de 100). Não
podem é ser vendidas abaixo de 1000. Naqueles casos em que as acções não tenham valor nominal, não podem ser
inferiores ao valor de emissão (valor pelo qual foram emitidas).

. Nas sociedades em comandita simples ou sociedades em comandita por acções, quer o comanditado quer o
comanditário só respondem pelas suas entradas.

Responsabilidade dos sócios perante os credores sociais:

Nas sociedades em nome colectivo, os sócios respondem perante os credores sociais subsidiariamente, mas
solidariamente entre eles (175º CSC). Os credores só podem exigir pagamento aos sócios depois de excutido o
património social. Torna-se necessário que, em acção executiva movida contra a sociedades, se verifique que a sociedade
já não tem património e, nesse caso, no mesmo processo, serem executados os bens de qualquer um dos sócios, sem
necessidade de serem interpostas contra qualquer um deles acções declarativas e depois acções executivas separadas
perante cada um dos sócios. Há aqui uma vantagem muito grande, onde o 745º/1 CPC permite executar de imediato os
bens dos sócios.

Nas sociedades por quotas, estas respondem pelas obrigações sociais (197º/3 CSC). É possível, no termos do 198º CSC,
desde que previsto no pacto social, que um ou alguns dos sócios respondam, até um determinado montante fixado, de
forma subsidiária relativamente à responsabilidade da sociedade ou solidária perante os credores sociais. Isto significa
que os credores podem exigir essa quantia a esses sócios pelas dívidas sociais. Há duas formas que têm de estar definidas
de forma a responsabilizar esse sócio: responsabilidade solidária com a sociedade ou, de forma menos grave para o
sócio, subsidiária relativamente à responsabilidade da sociedade, e só ser efectivada quando a sociedade esteja a ser
liquidada (figura baseada na company limited by guarantee).

Nas sociedades anónimas; sócios só investem capital e não respondem face a credores, apenas respondem pelas suas
entradas.

Nas sociedades em comandita, os sócios comanditados respondem pelas dívidas sociais nos mesmos termos do que os
sócios em sociedade em nome colectivo. Os sócios comanditários limitam a sua responsabilidade; face a credores
sociais, estes não respondem (465º/1 CSC). Nas sociedades em comandita, temos então que um sócio responde
totalmente, e o outro responde face à sua entrada, mas não responde face aos credores sociais.

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Tem-se aqui uma particularidade, em que uma sociedade pode ter um único sócio (no caso das sociedades por quotas ou
anónimas) originariamente, ou então pode ter um único sócio subsequentemente (inicialmente tinha mais sócio e depois
aquele adquiriu as quotas ou foram amortizadas). Nessa eventualidade, se a sociedade for declarada insolvente, o sócio
único responde a título principal solidariamente face aos credores sociais, mas só pelas dívidas constituídas depois da
concentração das participações sociais. Para esse efeito de responsabilização, ainda é necessário que os credores
demonstrem que não tenham sido observados os preceitos legais que estabelecem a afectação do património social ao
cumprimento das obrigações sociais (ónus da prova) (84º/1/2 CSC). É possível nestas circunstâncias a responsabilização
externa de um único sócio. Outra especificidade prende-se com as sociedades em relação de grupo: a sociedade
dominante ou directora é responsável face aos credores da sociedade dominada (491º e 501º CSC).

Estrutura organizatória das sociedades


Enquanto pessoas colectivas, as sociedades actuam através dos seus órgãos. Estes são centros institucionalizados de
poderes funcionais a exercer por pessoa ou pessoas, com o objectivo de formar e /ou exprimir a vontade juridicamente
imputável à sociedade. Recorrendo ao critério da competência, podemos distinguir: Órgãos de formação da vontade ou
deliberativos internos: tomam decisões exprimindo a vontade social, mas poucas vezes se relacionam com o exterior ou
terceiros. Órgãos de administração e representação: gerem a actividade social e representam a sociedade face a
terceiros. São estes que emitem declarações e recebem declarações. Nada obsta que as sociedade tenham outros
representantes voluntários (caixeiros, …). Órgãos de fiscalização ou controle: visam principalmente fiscalizar a
actuação do órgão de administração. Quando há só um sócio único, só esse ente forma a vontade da sociedade. Aliás, a
sociedade unipessoal é uma construção puramente artificial, a qual visa a atribuir a um sujeito uma espécie de segunda
personalidade; o sujeito permite-se actuar perante um quadro da sociedade, mas é um único sócio.

A colectividade dos sócios é habitualmente é por assembleia geral. Em regra, a assembleia geral é a reunião dos sócios
(e não só). Os sócios, em certos casos, podem deliberar fora da assembleia geral, sendo então chamado de órgão
deliberativo interno. Temos também os órgãos de administração e representação. Nas sociedades em nome colectivo
pode integrar a gerência de todos os sócios (respondem pessoalmente). Nas sociedades por quotas também têm a
gerência, que é integrada por um ou mais gerentes que têm de ser pessoas singulares com capacidade jurídica plena e que
podem ser sócios, mas não precisam de o ser (pode ser qualquer pessoa com quem tenha sido estabelecido um contrato
com a sociedade (552º/1 CSC).

Nas sociedades anónimas pode optar-se por um conselho de administração ou conselho de administração executivo
(258º CSC). Há uma estrutura dual ou germânica, em que se o capital não exceder 200  000€, pode a administração ser
composta por um só administrador face à estrutura tradicional. Nas sociedades de estrutura monista, o órgão é sempre
plural (278º CSC). Nesse caso os administradores não têm de ser sócios, mas têm de ser pessoas singulares com
capacidade jurídica plena, a não ser que integram a comissão de auditoria (423º, al. b) CSC).

O órgão de fiscalização não existe nalgumas sociedades e existe sempre em determinadas sociedades e pode
(dependendo do pacto) existir noutras sociedades. Ex. não existe nas sociedades em nome colectivo e nas sociedades em
comandita simples. A ideia de não existirem nas sociedades em nome colectivo é que todos os sócios pertencem à
gerência e, portanto, controlam-se uns aos outros. As sociedades por quotas podem ter um conselho fiscal ou um fiscal
único. Quando atinge uma determinada dimensão, têm mesmo de ter um conselho fiscal ou um fiscal único, a não ser
que designam um ROC para proceder à revisão legal das contas a que são obrigados (262º/2/3 CSC). Quando tiverem de
ter um órgão de fiscalização, um dos membros do conselho fiscal, quando optem pelo modelo fiscal único, tem de ser um
ROC ou uma sociedade de ROC’s, em que nenhum deles podem ser sócios. Quanto aos restantes membros do conselho
fiscal, esses têm de ser sócios e tem de ser pessoa singulares. Ainda assim a lei admite que possam integrar o conselho
fiscal sociedades, como por exemplo as sociedades de advogados ou sociedades de ROC’s, cabendo à sociedade de
advogados ou sociedade de ROC’s determinar quem é que os irá representar no conselho de administração.

Nas sociedades anónimas o órgão de fiscalização não é optativo. Têm sempre de ter um órgão de fiscalização,
distinguindo-se entre: sociedades anónimas com estrutura tradicional (Lei 22/06, 1867 e CCom): a estrutura é composta
pela administração e um conselho fiscal, ou então um fiscal único. O conselho fiscal tem de integrar um ROC que não
seja sócio e o fiscal único tem de ser um ROC e não pode ser sócio. É possível que tenham ao mesmo tempo um
conselho fiscal e um ROC. Quando assim acontecer, não é obrigatório que o próprio conselho fiscal tenha um ROC.

- estrutura germânica: é um modelo, em regra, adoptado pelas sociedades alemãs. Distingue-se num conselho geral e de
supervisão que é composto por pessoas singulares com capacidade jurídica plena (sócios ou não), um ROC como órgão
de fiscalização e um conselho de administração executivo (ou um administrador único, quando não têm determinada
dimensão). Tem sempre de haver um representante dos trabalhadores na assembleia geral (processo de co-decisão), onde
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muitas decisões só podem ser tomadas com o consentimento desses representantes. Isto permite que muitos dos
problemas das empresas sejam resolvidos dentro das empresas. Esta estrutura germânica pode ser adoptada no âmbito de
associações.

- sociedades de estrutura monista (ou modelo anglo saxónico): em termos de gestão e fiscalização, só tem conselho de
administração (+ assembleia geral). Simplesmente dentro do conselho de administração tem-se a comissão de auditoria, a
qual é composta, pelo menos, por três administradores e um ROC. Estes administração não são os administradores
executivos.

Resumindo, em termos de sociedades anónimas, temos a estrutura tradicional (um conselho administração e conselho
fiscal), a estrutura germânica (um conselho geral e de supervisão, o conselho de administração executivo e ROC) e
estrutura monista (conselho administração e, dentro deste, tem a comissão de auditoria e o ROC).

Transmissões das participações comerciais - Participação social denomina-se parte, sendo uma sociedade em nome
colectivo; quota, nas sociedades por quota; e acções, nas sociedades anónimas. Consiste no conjunto de direitos e
obrigações actuais e potenciais dos sócios.
Transmissões mortis causa - Sempre que um sócio tenha morrido, a quota transmite-se para os seus sucessores. No
entanto é possível que o pacto social estabeleça a não transmissão ou então sujeitar essa transmissão a condições (225º/1
CSC). Naqueles casos em que a quota por esse motivo não se transmita por, por exemplo, estarem sujeitas a condições
que não foram preenchidas, verifica-se que: 1) A sociedade amortiza-a, extinguindo-a; 2) A sociedade adquire-a; ou 3)
A sociedade fá-la adquirir por um dos sócios ou por terceiro. Se nenhuma destas medidas vier a ser adoptada nos 90
dias subsequentes ao conhecimento pelo gerente da morte do sócio, então nesse caso a quota considera-se mesmo
transmitida a título definitivo para os seus sucessores (225º/1 CSC). É possível condicionar a transmissão à vontade dos
sucessores.

Nas sociedades anónimas não há nenhum regime especial, vigoram as regras do direito das sucessões.

Transmissões inter vivos - Nas sociedades por quotas, em regra, a transmissão é livre entre os sócios, entre cônjuges,
entre ascendentes, ou descendentes. Fora destes casos, em regra, é necessário o consentimento da sociedade. Quando,
sendo necessário o consentimento da sociedade, e ele não é prestado, o negócio não é inválido e produz efeitos, mas é
ineficaz: não produz efeitos perante a sociedade. No entanto, a transmissão da quota se faz de forma livre sempre que a
deliberação da sociedade relativamente ao consentimento não seja realizada dentro de um determinado período de tempo.
O consentimento é dado, regra geral, por deliberação dos sócios. Em regra, não é necessário consentimento unânime,
mas basta a maioria dos votos emitidos. Para efeitos de transmissão judicial não é necessário o consentimento dos sócios.

O regime das sociedades por quotas é muito plástico. Pode ser utilizado para abrir ou fechar mais a sociedade:

Fechar mais a sociedade: 1) pode proibir a cessão de quotas 2) pode exigir o consentimento da sociedade para as cessões
de quota que, em regra, seriam livres; 3) pode condicionar o consentimento da sociedade a certos requisitos.

Abrir mais a sociedade: pode ser dispensado o consentimento da sociedade para toda e qualquer cessão (229º/1 a /5
CSC). Nas sociedades anónimas, as acções em princípio são livremente transmissíveis. No entanto, é possível fechar a
sociedade anónima impondo limitações à transmissão das acções nominativas, estabelecendo-se limites à sua
transmissão. Esses limites são: 1) exigência para a transmissão das acções o consentimento da sociedade anónima; é
necessário a prestação do consentimento ou recusa através de deliberação dos sócios. 2) Alternativamente é possível
estabelecer limitações de caracter objectivo ou subjectivo, desde que de acordo com o objecto social. 3) É possível
atribuir um direito de preferência aos outros accionistas. Estas cláusulas que subordinem a transmissão de acções
nominativas ao consentimento da sociedade, ou então aos referidos requisitos subjectivos ou objectivos, não são
oponíveis em sede de processo executivo ou de liquidação do património (328º/5 CSC); as acções integram o património
do seu titular, onde podem ser executadas por dívidas do seu titular. A liquidação do património faz se, em regra, em
caso de insolvência.

Tipos societários - Os tipos sociais previstos no CSC são taxativos: não podem ser criados outros tipos sociais por
contrato. No entanto, o Estado pode, por lei ou decreto-lei, criar tipos societários diferentes daqueles previstos no código,
para aquele efeito e para aquela empresa cujo capital é detido pelo Estado. Este pode também, para determinados entes
públicos, criar tipos societários específicos que só vigorem para certos entes públicos. Além da excepção anterior, as
partes podem adoptar o tipo social que mais convier, embora com algumas limitações. Ex: sociedades unipessoais só
podem ser por quotas ou anónimas. Há um conjunto de outras sociedades que têm de ser obrigatoriamente por quotas ou
por sociedades anónimas, uma vez que o legislador assim o estabelece. Dentro de cada um dos tipos societários, a lei
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atribui às partes uma ampla liberdade de conformação do tipo. O que as partes não podem é criar um regime ou cláusulas
que sejam contrárias àquele tipo social, sendo estas nulas. A lei recorre à criação de um regime de tipos taxativos por
segurança jurídica: o público em geral tem de saber, quando entra numa relação com uma sociedade de determinado tipo,
qual é o quadro regulativo.
Constituição das sociedades comerciais - A constituição de uma sociedade traduz-se num processo, ou seja, num
conjunto de actos e formalidades que são necessários para a constituição da sociedade como pessoa colectiva. Há aqui
três actos principais: o contrato de sociedade ou pacto social; o registo do contrato e a publicação do contrato.

O contrato de sociedade ou pacto social (ou acto unilateral) está sujeito a forma. É necessário que o contrato seja feito
por escrito com a presença da(s) parte(s). Só deixa de ser assim se for necessária uma forma mais solene para a
transmissão dos bens com que os sócios entram para a sociedade. Nesse caso, o contrato tem de adoptar essa forma:
contrato sujeito a escritura publica se a parte entrar com imóvel.
Regime especial de constituição imediata de sociedades (empresa na hora). Exige a opção por estatutos previamente
aprovados, a adopção de uma firma preexistente reservada a favor do Estado, o acto de constituição é conduzido pelo
serviço comercial e deve, em princípio, ser terminado no próprio dia.

Regime especial da constituição online de sociedades (empresa online). Permite a constituição de empresas sem
presença física, em que o sujeito recorre a um site para o qual envia o pacto social e depois há um conjunto de
procedimentos que são seguidos e que levam, de forma simplificada, ao registo e publicação do pacto.

Acto constituinte da sociedade

Espécies e sujeitos: O acto em si pode ser unilateral e também um contrato (generalidade dos casos). Este contrato é um
contrato muito específico que se distingue dos demais, porque é um contrato de fim comum a ambas as partes (obtenção
do lucro e sua divisão). É também um contrato de organização, ou seja, faz nascer uma estrutura orgânica (conjunto de
órgãos que levarão ao funcionamento da própria sociedade). Nessa medida é uma contrato diferente de um contrato
comutativo. Ex: num contrato de compra e venda há obrigações para ambas as partes, mas que consiste basicamente
numa troca; um sujeito obriga-se a pagar o preço e o outro obriga-se a entregar-lhe a coisa cuja propriedade já lhe
transmitiu ou vai transmitir. Não são contratos de fim comum em que visam a obtenção de um determinado resultado
económico comum a ambas as partes. Daqui também não decorre nenhuma estrutura organizativa.

Se estivermos face a uma sociedade constituída por subscrição pública, não há propriamente um acto constitutivo, mas,
na verdade há dois, os quais são interdependentes, mas complementares: há o contrato em si que é formado
sucessivamente pelas declarações de vontade dos promotores/subscritores e depois daqueles que subscrevem as acções,
sendo também necessária a deliberação da assembleia constitutiva. As sociedades podem ser constituídas por negócio
jurídico unilateral. Distingue-se e do conjunto de outros actos jurídicos unilaterais para que é também um acto de
organização da sociedade, porque se cria uma estrutura orgânica. Um aspecto com grande importância pratica consiste
em saber se os cônjuges podem constituir sociedades entre eles. A questão é resolvida no 8º/1 do CSC: permite-se a
constituição de sociedades inter-cônjuges, assim como a participação destes em sociedades, mas só um deles é que pode
assumir responsabilidade ilimitada.

Conteúdo: O pacto social tem de conter um conjunto de menções obrigatórias (9º CSC):

1) Tem de ter nomes ou firmas (se forem sociedades) de todos os sócios fundadores e outros elementos que
permitam a sua identificação. 2) Tem de ter o tipo social adoptado. 3)A própria firma da sociedade. 4)O objecto da
sociedade (actividade que a sociedade vai desenvolver). Não pode ser definido de forma tão ampla que não se posa
concretizar. A falta de indicação em termos de concreção do objecto leva à nulidade do acto constituinte (41º CSC e 280º
CC).

Sede da sociedade - O pacto social tem de designar a sede social ou estatutária (a que está prevista nos estatutos). Este
é o local definido onde a sociedade se considera situada para a generalidade dos efeitos jurídicos em que a sua
localização seja relevante. Ex: local onde sócios podem consultar documentos, ou onde, em princípio, se realizam as
assembleias gerais). É este o local que também determina a competência internacional relativo à um conjunto de
questões respeitantes as sociedades (63º CPC).

Registo do contrato

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O registo definitivo do contrato é necessário para a constituição da personalidade jurídica (5º CSC). É, portanto, um
acto constitutivo: antes a sociedade não existe como personalidade jurídica e, portanto, este carácter não pode ser
invocado, quer nas relações internas quer, nas relações externas antes do registo.

A lei permite o registo prévio da sociedade (antes ainda da formalização do contrato). Celebrado o contrato, o registo vai
converter em definitivo esse registo prévio.

Publicação do contrato
Não basta apenas o registo; é necessário também a publicação do pacto social ou do acto constitutivo. As publicações
são feitas num site de acesso público que é regulado por portaria do Ministério da Justiça. As publicações dos actos
constitutivos são promovidas pela conservatória do registo comercial, onde o registo foi efectuado (embora as despesas
decorram por conta da sociedade). A publicação é condição da oponibilidade do acto a terceiros (168º/2 CSC).

Acordos parassociais - Os estatutos das sociedades fazem parte do pacto. Estes regem a vida da sociedade e seguem as
regras supletivas do CSC, ou podem afastar-se delas naquela parte em que a lei o permita. Havendo alguma cláusula que
se afaste do estabelecido no CSC, esta é nula. Uma coisa são os estatutos sociais, outra são os acordos parassociais. Estes
correspondem a contratos que são celebrados entre todos os sócios ou pelo menos alguns deles ou entre sócios e terceiros
e que dizem respeito à posição jurídica dos intervenientes no acordo que sejam sócios.

Personalidade jurídica das sociedades comerciais - A partir do momento em que a sociedade adquire personalidade
jurídica (após o registo), ela torna-se num centro autónomo de direitos e obrigações, ou seja, um centro de imputação de
direitos e obrigações (o que antes não se verificava). Isso significa que as dívidas contraídas, são dívidas da sociedade e
que actos danosos praticados para com terceiros são actos da sociedade, e não dos sócios. Existe, então, um substrato
jurídico em que se cria uma base para que a sociedade seja, ela própria titular de direitos e obrigações.
Em princípio a venda da totalidade das participações sociais não significa a venda da própria empresa. Contudo, para
certos casos e em certas circunstâncias, pode haver uma equiparação entre uma coisa e outra, ou seja, entre as
participações sociais ou da sua maioria.

Outro caso a destacar são as letras de câmbio. Estas são títulos de crédito que circulam por endosso. Endosso é uma
declaração na parte de trás do título que indica que o título é transmitido. Havendo um endosso, o sujeito não pode opor
ao endossante a chamadas excepções decorrentes da relação pessoal que ele tinha com o beneficiário.

Casos de responsabilização dos sócios

Casos de responsabilização dos sócios verificam-se quando é mais efectivo o levantamento do véu. Existem diversos
casos típicos. A descapitalização gerada pelos sócios ocorre, por exemplo quando determinada sociedade começa a ter
problemas de liquidez e os sócios constituem uma nova sociedade, para a qual vão transmitindo a produção. Será
desconsiderado neste momento se se trata de uma insolvência dolosa (crime). Para além disso poderá desconsiderar-se a
personalidade jurídica desta sociedade original para responsabilizar os seus sócios, face aos credores desta sociedade que
não venham a ser satisfeitos, justamente por causa da acção dos sócios de transferir a produção para outra sociedade.
São, aqui, infringidas as regras de autonomia do património. A personalidade jurídica foi aqui utilizada para provocar
danos nos credores, tratando-se aqui de um caso de abuso de direito (334º CC).

Capacidade jurídica das sociedades comerciais


Existem diversos sistemas de atribuição de capacidade a uma sociedade, tal como nas pessoas colectivas em geral.
Temos, por um lado, o sistema anglo-saxónico que consagra a chamada ultra vires doctrine, ou seja, uma sociedade só
pode praticar os actos previstos no seu objecto. Se não o fizer, está a actuar ultra vires – para além dos seus poderes.
Desta forma, o negócio é nulo, e sendo-o, não pode sequer ser ratificado pelos sócios. É possível depois haver uma
capacidade geral de todos os direitos e obrigações, bem como haver uma capacidade que esteja limitada pelo fim da
sociedade (e não pelo seu objecto). Este é o sistema português (6º CSC). Esta norma indica que a capacidade
compreende os direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim, embora com algumas
excepções (vedados por lei - ex: direito de uso e habitação - ou inseparáveis da personalidade singular – ex: não pode
haver casamento entre sociedades). Por isso se diz vigorar aqui o princípio de especialidade do fim. Como o fim da
sociedade comercial é o lucro para repartir entre os seus sócios, todos os actos para gerar esses lucros integram-se na
capacidade das sociedades. Como o 6º CSC é uma norma imperativa, os actos que a contrariem são nulos, visando assim

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a norma tutelar quer os credores sociais, quer os sócios. A nulidade em termos gerais pode ser invocada a todo o tempo e
por qualquer interessado (sócios ou credores sociais). A capacidade das sociedades não deve ser confundida com a sua
vinculação.

Liberalidades e garantias concedidas por sociedades a terceiros - A sociedade não pode praticar actos gratuitos;
todavia há um conjunto de liberalidades realizadas pela sociedade com fins em terceiros; ou seja, com vista à
realização do seu fim social (6º/2 CSC). A sociedade pode praticar as liberalidades que possam ser consideradas usuais
de acordo com as circunstâncias da época e estejam conformes com a própria sociedade. Nesse caso, esses actos são
válidos. Ex: entrega, a título gratuito, de um conjunto de brindes para promover a venda de produtos; ou a concessão
de um conjunto de vantagens patrimoniais com vista a aumentar a produtividade laboral; ou para promover o bom
nome da sociedade (good will). Podem ser até praticadas por razões fiscais, atendendo aos valores daí decorrentes.

As prestações de garantias por uma sociedade podem vir a ser prestadas a título gratuito ou a título oneroso (quando
haja um correspectivo; paga-se para a sociedade prestar essa garantia). A lei veda a prestação de garantias a título
gratuito, salvo em duas excepções (6º/3 CSC):

1) Se existir um justificado interesse próprio da sociedade garante (exemplo do empreiteiro B que iria deixa a
obra a meio se A não prestasse garantia ao banco).

2) O que presta garantias está numa relação de domínio ou de grupo. Aqui, trata-se de uma sociedade que tem
uma influência decisiva sobre a sociedade dominada (maior capital social, maior parte dos votos na assembleia
geral, direito de nomear a maior parte dos membros do conselho de administração, …). Nesta situação, em
princípio, se prestar garantias à sociedade dominada, corresponde a um interesse próprio dele. Este tipo de
garantia chama-se garantia downstream, ao contrário das upstream, onde a sociedade dominada presta garantia à
sociedade dominante. Nem sempre se poderá firmar o interesse da sociedade dominada em prestar uma garantia
a favor da sociedade dominante: os seus interesses, com grande frequência, não são coincidentes. A sociedade
dominada tem interesses específicos, próprios, que são ou podem ser diferentes da sociedade que a domina.
Haverá, nesse caso, a necessidade de afirmar o relevante interesse da sociedade garante. Ex: sociedade
dominante à qual é prestada a garantia, é um fornecedor de matérias-primas que são essenciais para o
desenvolvimento da actividade da sociedade dominada que presta a garantia. Neste caso, haverá um justificado
interesse próprio ser, onde a prestação da garantia nestes termos é válida.

Capacidade de exercício ou de agir das sociedades - As sociedades actuam através dos órgãos. Quando se fala em
representação orgânica, não se trata exactamente de uma representação voluntária; a sociedade actua por via dos órgãos,
sendo os órgãos uma parte que constituem a sociedade. Isso não significa que a sociedade possa também ter
representantes voluntários. Ex: o órgão de administração passa uma declaração ao advogado para representação judicial,
ao mandatário para a prática de um conjunto actos, …

Participações sociais - As participações sociais consistem num conjunto unitário dos direitos e deveres dos sócios. Elas
podem ser adquiridas originariamente (aquando da constituição da sociedade), ou de forma superveniente (A cede a
quota a B). Podem também ser adquiridas inter vivos (A vende a quota a B) ou mortis causa (A é sucessor de B).

Obrigações da sociedade - Estas obrigações encontram-se no 20º CSC. A primeira obrigação do sócio a apontar é a
obrigação de entrada. Com bens susceptíveis de penhora ou com indústria (nos tipos de sociedade em que tal seja
permitido). Existe também a obrigação de quinhoar nas perdas. É possível que existam outras obrigações que
decorram da lei ou do pacto social. Podem distinguir-se entre prestações acessórias, que são prestações que os estatutos
impõem a um ou mais sócios, para além das obrigações de entrada, bem como as prestações suplementares, que podem
também ser exigidas aos sócios. Estes têm também de estar previstas nos estatutos, mas é necessário que haja uma
deliberação subsequente.

Principais direitos e obrigações em que se desdobram as participações sociais

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Direito de quinhoar nos lucros - Direito a que, nos termos definidos na lei ou no pacto lhe sejam atribuídos os lucros
gerados por essa sociedade, caso os tenham.

Direito de participar nas deliberações dos sócios - As deliberações dos sócios são tomadas pelos órgãos sociais que
formam a vontade da sociedade, da colectividade dos sócios ou do sócio único, ou seja, são a forma de apurar a vontade
colectiva e são imputadas à sociedade. A participação nas assembleias traduz-se desde logo no direito de estar presente,
seja física ou virtualmente na assembleia, o direito de discutir os assuntos sobre os quais incide a deliberação, e o direito
de votar as propostas. A lei estabelece um numerus clausus de deliberações societárias admissíveis. As deliberações
podem ser de 4 espécies:

Participação nas deliberações - As deliberações não são mais do que negócios jurídicos. Só que aqui, eles são
constituídos por uma ou mais declarações de vontade (votos), que visam a produção de determinados efeitos que são
tutelados. Isto significa que poderemos aplicar às deliberações sociais as regras do direito comuns (CC) relativas aos
negócios jurídicos, mas com as especialidades que decorrem do direito societário (55º a 62º CSC).

Quanto ao voto, nas sociedades em nome colectivo vigora o princípio democrático: cada pessoa, um voto. Nas outras
sociedades funciona o princípio capitalístico ou proporcional, de acordo com o valor da participação social. Nas
sociedades por quotas cada sócio tem um voto por cada cêntimo do valor nominal da sua quota (250º CSC). Nas
sociedades anónimas, cada sócio tem um voto por cada acção que possua, (384º/2 CSC).

Direito à informação - Outro direito que leva a múltiplos conflitos é a direito à informação (21º/1, al. c) CSC).
Qualquer sócio tem direito a informação nos termos previstos na lei e no pacto social. Muitas vezes o direito à
informação é pedido de forma abusiva, de forma a obstaculizar a acção da sociedade. Nesses casos, estamos perante a
situações de abuso de direito.

Obrigações dos sócios

A obrigação de entrada está prevista no 20º/1 CSC. O sócio está obrigado a entrar com bens susceptíveis de penhora,
ou então, sempre que tal seja permitido, com indústria. Distinguem-se então as entradas em dinheiro, em espécie, e em
indústria. A entrada em dinheiro é feita em moeda, em regra através de moeda escritural.

As entradas em espécie podem ser bastante distintas. Podem consistir na transmissão ou na constituição de direito reais
sobre bens. Ex: A entra com um imóvel, transmitindo-se esse imóvel para a sociedade, passando a integrar o património
social. É também possível que, em vez de ser transmitido o imóvel, que seja constituído um usufruto sobre o imóvel a
favor da sociedade. O usufruto tem um valor económico, servindo, portanto, de entrada. Também podem ser entradas em
espécie coisas móveis, corpóreos, máquinas, patentes, marcas, participações sociais, créditos-

Quanto às entradas de indústria, traduzem-se numa determinada actividade que o sócio disponibiliza à sociedade ou
então o seu trabalho. No entanto, as entradas indústria não são admitidas nas sociedades por quotas nem nas sociedades
anónimas (202º/1 e 277º CSC). É possível que um sócio fique obrigado a desenvolver uma determinada actividade a
favor da sociedade, mas isso trata-se de uma obrigação acessória. Tem um carácter eventual e ocorre apenas quando
estiverem previstas no pacto; o que não pode é ser uma entrada.

Obrigações acessórias - Estas obrigações acessórias acrescem às que são as obrigações principais (entradas); mas isto
não quer dizer que tenham uma importância diminuída face às principais. Estão previstas para as sociedades por quotas
no 209º CSC e para as sociedades anónimas no 287º CSC. Em qualquer caso, tem de estar previstas nos estatutos, em
que se tem de prever a obrigação de um ou mais sócios efectuarem prestações a favor da sociedade, sendo necessário
que:

- é preciso que seja fixado no pacto quais os elementos essências dessas prestações

- é preciso estar especificado se são a título gratuito ou oneroso.

Sem estarem as prestações acessórias previstas não pacto social, quando ele for concluído, elas não podem ser exigidas a
não ser que este seja alterado. Se não se alterar o pacto e a assembleia geral deliberar que um ou mais sócios tem de
prestar prestações acessórias a favor da sociedade, a deliberação é válida, mas só vincula os sócios que votaram a favor.
Mesmo sejam alterados os estatutos para incluir as prestações acessórias, os sócios que não votaram a favor da alteração
estatutária não ficam vinculados (86º/2 CSC).

A sociedade tem direito a estas prestações acessórias, sendo este crédito da sociedade é transmissível por esta a um
terceiro se tiver um caracter pecuniário. Ex: sujeito obrigou-se a entregar à sociedade 1 000€. A sociedade tem um

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crédito sobre ele, o qual é transmissível. Mas se o crédito não for não pecuniário (Ex: direito à assistência técnica de uma
máquina), esse direito já não será transmissível (209º/2 e 287º CSC).

Na eventualidade de serem transmitidas as participações sociais (quotas ou acções) quando o pacto negocial resulta da
obrigação para esse ou para todos os outros sócios transmitentes de realizar prestação acessórias, o que adquire a
participação social também está obrigado a estas prestações acessórias; transmitindo-se as quotas ou acções, o dever de
realizar as prestações acessórias também se transmite com elas. Isto é inerente à qualidade de sócio daquela sociedade.
Excluem-se aqui aquelas prestações que são infungíveis, ou seja, aquelas em que só aquele sócio poderá cumprir dado
terem a ver com as qualidades especiais daquele sócio. Se o sócio não cumprir com a prestação acessória (209º/4 e
287º/4 CSC), não atinge a posição de sócio, não podendo ser excluído da sociedade por isso (em princípio). Havendo o
incumprimento de uma obrigação, aplica-se aqui o regime geral do incumprimento das obrigações (790º ss CC), mas
com as particularidades dos contratos a que correspondam as prestações acessórias. Se a prestação acessória for a compra
de bens à sociedade, e o sujeito não comprar, ou se o sujeito comprar, mas não nos termos definidos no pacto, é esse
regime específico que se aplica. Ex: um sujeito obriga-se a vender fruta produzida por ele à sociedade por quota que
produz sumos. Se esse sujeito vender fruta que já não está nas condições adequadas, o regime que se aplica é o da coisa
defeituosa. Mas nada impede que os estatutos prevejam outras sanções (241º + 237º CSC), nomeadamente, a exclusão do
sócio que não realiza prestação acessória específica.

Obrigações suplementares - As prestações suplementares só se aplicam à sociedade por quotas. Só podem ter por
objecto dinheiro (prestações pecuniárias) e não vencem juros a favor de sócio.

A realização de prestações suplementares tem de estar prevista no pacto e depois tem de haver uma deliberação
social que as venha exigir, determinando o seu valor concreto (dentro do quadro inicialmente definido). Se não
estiverem originariamente previstas no estatuto, este tem de ser alterado por maioria qualificada, e a quem não vota a
favor, não podem ser exigidas essas prestações suplementares (86º/2 CSC). O estatuto tem de prever o montante global
das prestações suplementares (Ex: pode ser exigido a cada sócias prestações suplementares até 10 000€ ou até ao dobro
do capital social). Se não forem fixados estes elementos (valor global), essa cláusula é nula.

Suprimentos - Os suprimentos (243º ss CSC) são contratos regulados pelo direito societário e consistem num contrato
pelo qual um sócio empresta à sociedade dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a sociedade obrigada a restituir uma
coisa do mesmo género e qualidade. Em regra, fala-se de dinheiro. Também são contratos suprimento as convenções
entre o sócio e a sociedade nos termos das quais é acordado o deferimento do vencimento de um crédito do sócio
sobre a sociedade. Em qualquer destes casos, estes créditos têm de ter carácter de permanência àqueles que visam
suprir a falta de capital social - suprimento. Os suprimentos estão previstos pelas sociedades por quotas, embora por
analogia se possam aplicar as sociedades anónimas. O financiamento das sociedades faz-se, em regra, através das
entradas dos sócios, dotando a sociedade meios que a permitam desenvolver a actividade. Acontece que o capital social
mínimo nas sociedades por quotas é mínimo ou até quase inexistente (embora não signifique que não possam dotar a
sociedade com um capital social maior). Como a sociedade precisa de meios pecuniários para desenvolver a sua
actividade, os sócios vão emprestar dinheiro à sociedade através de suprimentos, de forma a exercer a função do
capital social nos casos em que há uma subcapitalização material. As sociedades ficam, assim, muito dependentes do
financiamento que é concedido pelos sócios, razão pela qual estes suprimentos seres tão relevantes.

Não é exclusivamente sob forma de suprimentos que a sociedade adquire meios para se manter em actividade; poderá
também recorrer ao financiamento bancário, o qual é quase sempre mediante garantias.

Uma das características dos suprimentos é que têm de ter carácter de permanência: eles precisam desempenhar a
função do capital social e é por isso que por vezes chama aos suprimentos quase capital social. Sabe-se que
efectivamente se trata de um suprimento (e não de um simples adiantamento de tesouraria) quando esta disponibilização
de meios tem esse carácter de permanência. A lei estabelece presunções ilidíveis de permanênciaEstabelecimento de um
prazo de reembolso ser superior a um ano. No caso de um deferimento do crédito (passar para a frente a exigência do
crédito quando podia ser exigido antes), conta-se o tempo decorrido desde a data da constituição do crédito até ao
negócio do deferimento. O regime dos suprimentos está previsto para as sociedades por quotas, podendo, no entanto,
aplicar-se este regime às sociedades anónimas por analogia. É possível estabelecer-se no pacto social, mesmo nas
sociedades anónimas, como prestações acessórias. Também é lícita obrigação de realizar suprimentos por via de
deliberação dos sócios ou, então, simplesmente por contratos, tal como sucede nas sociedades por quotas. Apesar de
haver diversas posições, a doutrina, em termos gerais, sustenta que nas sociedades anónimas, ao contrário ao contrário
do que acontece nas sociedades por quotas, devem-se distinguir aqueles sócios que querem participar na gestão da
sociedade, daqueles que simplesmente querem fazer um investimento ou uma aplicação de poupanças, onde as
acções interessam-lhes como forma de investimento para rentabilizarem o valor. Essa distinção não existe nas sociedades
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por quotas porque é difícil transmitir quotas como as acções. Havendo estas diferenças entre as sociedades anónimas e as
sociedades por quotas, há também diferenças no significado destes empréstimos que são realizados. É por isso que parte
da doutrina defende que este que esta disciplina só se deveria aplicar aqueles sócios que façam parte do grupo que visem
controlar a sociedade e participar na gestão da sociedade e não aos sócios investidores. Aqui, o problema está na
distinção entre uns e outros, sendo difícil de fixar, sendo por isso que se tem apontado como critério indicativo 10% das
participações sociais; se o sócio tem mais de 10% das participações sociais, pertenceria já um grupo de controle da
sociedade e, nessa medida, caso os empréstimos que ele venha a realizar à sociedade tenha tenham carácter de
permanência, eles devem ser considerados O Dr. Coutinho de Abreu tem um entendimento ligeiramente diferente, dado
que ele sustenta que o critério em si não é o critério mais adequado porque qualquer sócio de uma sociedade anónima
pode ser credor por suprimento, desde que se possa afirmar que essas prestações têm um carácter substitutivo do capital
social nesses suprimentos; não interessa qual a participação social detida pelo sócio. Se não tiver essa característica são,
por exemplo, simples avanços de tesouraria e já não têm carácter de suprimento, não estando, portanto, sujeitos ao
regime severo dos suprimentos em que o aspecto mais severo é o que se verifica em termos de tratamento na insolvência,
possibilidade de conversão e depois, a qualificação esses créditos em créditos subordinados na insolvência.

Cessão das quotas e o direito de preferência - É muito comum que exista nos estatutos das sociedades cláusulas, nos
termos das quais, quer os sócios, quer a própria sociedade, tenha direito de preferência na transmissão de quotas.
Estas disposições do pacto social são válidas e só deixariam de o ser se elas fizessem condicionar a cessão de quotas face
à sociedade pelo cumprimento da obrigação de preferência. Assim, é só uma a condição a que a transmissão das quotas
pode estar sujeita, que é de consentimento da sociedade, sendo depois o sócio obrigado a conceder a preferência, mas a
cessão em si não pode estar condicionada ao cumprimento deste dever.Estes direitos de preferência têm um carácter
societário integrantes no estatuto da sociedade, o que significa, dentre outras coisas, que eles estão sujeitos ao regime da
modificação ou da alteração do pacto social. Fora isso, aplicam-se aos direitos de preferência o regime civil da
obrigação de preferência ou do pacto de preferência conforme está previsto no CC. Essas cláusulas nos termos das
quais há direito de preferência da sociedade têm eficácia face a terceiros, em que sempre que elas sejam registadas (e têm
de ser porque o pacto social é registado nos termos do 168º CSC e 14º CRegCom) elas têm eficácia real ou oponibilidade
a terceiros. O relevo é que, é possível nestes casos e depois em caso de incumprimento da obrigação da de preferência, o
titular desse direito recorrer à acção de preferência (1410º CC), substituindo-se ao adquirente. Contudo, uma coisa são
estes direitos de preferência que estão previstos e registados nos estatutos; outra coisa que também sucede é a atribuição
recíproca ou unilateral de direitos de preferência, mas no âmbito de acordos parassociais (os quais são contratos).
Portanto, aplica-se aqui o regime do pacto de preferência o que significa que não há aqui eficácia real, não sendo
possível depois recorrer à acção de preferência. Ambos são obrigações de preferência, mas num caso tem base nos
estatutos, e no outro caso tem base num acordo parassocial. Para o incumprimento da obrigação de preferência num
acordo parassocial, pode fixar-se uma cláusula penal exigente.

Amortização das quotas - É, por exemplo, limitar a transmissão de quotas por mortis causa, obrigando-se a sociedade,
no caso de morte do sócio, a amortizar as quotas ou então, eventualmente, até adquirir a quota. Uma amortização de
uma quota na participação social, em termos de direito societário, significa a extinção da participação social (extinção
da quota) por deliberação dos sócios (232º, 234º e 246º CSC). O termo amortização poderá ser utilizado no direito com
outros significados.Os casos de amortização compulsiva têm que estar previstos no pacto social; isto é, todos os factos
que permitam a amortização compulsiva têm que estar elencados, não bastando uma autorização genérica como no caso
anterior.
O capital social

O património social é diferente do capital social, não podendo haver aqui confusões entre uma coisa e outra. Trata-se de
um conjunto de relações jurídicas patrimoniais, onde o património social muda quase necessariamente constantemente
porque a sociedade está sempre a dialogar.

O capital social e património social tendencialmente coincidem no momento da constituição da sociedade, pelo menos
no valor das entradas, mas depois não há coincidência. Muitas vezes aquilo que sucede é que capital social é escasso,
então perde-se parte do capital social.

Pode dar-se também o caso de a sociedade inicialmente ter perdas. Se a sociedade tem um capital inicial de 20 000€,
só que inicialmente as sociedades não dão imediatamente lucro, a não ser que seja um negócio daqueles muito: Ao
implantar-se no mercado, o património social seja vai descendo num primeiro momento (cash burning), em que depois,
até determinada altura, vai fazer um rebound, vai subindo outra vez até que liberar. Este valor de equilíbrio é o chamado
break even point, em que o património corresponde já àquele valor inicialmente colocado. A partir daí, entra na parte
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lucrativa. Todos os grandes empreendimentos, em regra, são assim. capital social, existem várias distinções a fazer. Em
primeiro lugar, o capital social é a soma é uma só dos valores nominais das participações sociais Ex: se cada acção valer
1€ e houver 1000 acções, o capital social é de 1000€. Nessa medida, é uma simples cifra, é um valor. Ele, em princípio,
coincidirá aquando da constituição e sociedade com o valor das próprias entradas: se cada acção vale 100€ se quer
dizer com sujeito pode tira essa acção teve que entregar 100€ que passaram para a conta bancária da sociedade (activo).
Mas pode haver um prémio de emissão, onde um sujeito para adquirir uma acção com valor nominal de 100€, pode ter
que pagar 102€, não havendo uma coincidência inicial entre o capital social e o valor do próprio património societário,
que inicialmente é logo superior ao do capital social que contemple o prémio de emissão.

Funções do capital social - Há diversas funções do capital social.

Este desempenha um papel de financiamento à sociedade. Este tem de corresponder, pelo menos, ao valor das entradas
dos sócios, sendo estas entradas o principal meio de financiamento próprio de uma sociedade; é aquilo que os sócios
entregam à sociedade para ela desenvolver a actividade que consiste no seu objecto social.

No que diz respeito às sociedades por quotas, tendo-se reduzido o valor do capital a 1€ por sócios, isso significa que é
possível desenvolver uma actividade empresarial sem, basicamente, a sociedade ter meios. O papel do capital social
como meio de financiamento das sociedades em termos legais (obrigatórios), foi bastante reduzido nas sociedades por
quotas; o que quer dizer que o papel do capital social, muitas vezes, como instrumento de financiamento, é
limitadíssimo, ou quase não existe. Desta forma, como a sociedade precisa de financiamento para sobreviver a sua
actividade, recorre ao contrato de suprimentos, onde os sócios não colocam o dinheiro como entrada, mas depois
emprestam dinheiro à sociedade. Ou então, articulado com isso, recorre ao crédito bancário. E aí, o que os sócios-
gerentes vão fazer é constituir garantias pessoais; em rigor, vão prescindir de grande parte das vantagens decorrentes da
personalidade jurídica da sociedade. Isto quer dizer que esta questão do capital social, na prática, e face aos bancos, as
sociedades por quotas (e em certos casos, as próprias sociedades anónimas) funcionam como sociedades em nome
colectivo, embora não o seja juridicamente. Isto deve-se ao facto de os sócios acabarem por ser, eles próprios,
responsáveis por essas dívidas numa situação semelhante à das sociedades em nome colectivo. Portanto, parte do
interesse do recurso à personalidade jurídica é ultrapassada por via contratual.

Ordenação - Como segundo elemento do relevo do capital social, tem-se a chamada ordenação. A ordenação consiste
num critério de determinação da medida dos direitos e das obrigações dos sócios, bem como da existência certos direitos
dos sócios e de quóruns deliberativos.

Garantia para os credores sociais

A quarta função do capital social é de garantia para os credores sociais. Não pode haver uma confusão entre aquilo
que seja capital social e aquilo que seja o património de uma sociedade. A garantia dos credores não composta pelo
capital social, mas sim pelos bens que integram o património da sociedade. Se a sociedade tiver dívidas e não cumprir e
os sócios tiveram que recorrer a uma acção executiva, o que vão fazer é penhorar os bens da sociedade (o veículo, as
contas bancárias, os créditos, …). O capital social em si não é minimamente penhorável. Portanto, o valor do capital
social não funciona como garantia dos sócios. Ele só poderia funcionar se houvesse um capital social inicial, por
exemplo, de 5000€ e um património nunca pudesse baixar desse valor (ter de ser pelo menos igual a 5000€, o que não
tem que ser). Agora há uma garantia, ainda assim, que a existência do capital social presta aos credores que consiste no
facto do capital social dessa cifra funcionar como aquilo que se chama uma soma de retenção; ou seja, a sociedade está
impedida de distribuir bens aos sócios, nomeadamente dinheiro sobre a forma de lucros, em tudo que seja necessário
para cobrir o capital social mais as reservas de que a sociedade não pode dispor (reserva legal) (31º e 32º CSC).

Ex: uma sociedade com 5 000€ de capital social. Com o decurso do tempo, ela foi obrigada a constituir reservas
legais no valor de 1 000€. Passou, desta forma passou a ter capital social mais reservas de 6 000€ e detém um
património no valor de 5 500€. Esta pretende distribuir bens aos sócios sob a forma de lucro. Não o poderá
fazer.

Lucros da sociedade

Em termos gerais, o lucro consiste num incremento do património da sociedade.

Ex: num determinado momento, a sociedade X tinha um património no valor de 100€. Decorridos 10 meses, tem
um património 110€. Neste caso, há lucro. Simplesmente, em termos societários, tem de se distinguir diversos
tipos de lucros: Lucro de balanço: trata-se de um acréscimo patrimonial que é revelado pelo balanço dessa
sociedade, e consiste na diferença entre o património social líquido e o valor correspondente ao capital social
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mais as reservas disponíveis. Esse lucro de balanço é fundamental como cifra de retenção, onde a inexistência
deste lucro impede a distribuição de bens aos sócios. Lucro do exercício: consiste na diferença entre o
património social líquido no final do exercício ou do período (o qual corresponde a 1 ano) e o património social
líquido no início desse período. Este é revelado, no balanço, através da rubrica de resultado líquido do período
ou capital próprio. Este lucro é relevante a vários títulos, nomeadamente para a constituição das reservas legais,
ou seja, impostos pela lei, ou para a sua reconstituição, em que se tiver havido uma perda é preciso depois
reconstituir a reserva legal (218º e 295º CSC). É importante também para constituição das reservas estatutárias,
ou seja, os estatutos podem impor a constituição de determinadas reservas (33º/1 CSC). Por fim, são importantes
também para definir o valor distribuível pelos sócios, no final desse período. Nem todo o lucro do exercício, em
primeiro lugar, pode ser distribuído e, em segundo lugar, tem que ser distribuído. Para ser distribuído, este lucro
de exercícios tem que se conter dentro do lucro do balanço, ou seja, é possível uma sociedade ter lucro do
exercício naquele exercício, mas ter um lucro de balanço negativo. Lucro final ou de liquidação: é aquele que
se apura na fase final da vida da sociedade ou na sua liquidação. É a diferença determinada nas contas finais
entre o património social líquido e o capital social. A sociedade pode ter gerado outros lucros, que, entretanto,
foram distribuídos, mas no fim é este o valor do lucro final ou de liquidação.

O direito ao lucro - Com o lucro, nasce o direito dos sócios a participarem desse lucro (21º/1, al. a) CSC – direitos
centrais dos sócios), ou seja, o direito de quinhoar nesses lucros. Portanto, todos os sócios têm o direito de exigir uma
parte do lucro que, em regra, é proporcional ao valor da sua participação social.
O direito concreto ao lucro é um crédito pecuniário dos sócios face à sociedade, direito esse que diz respeito ao lucro
distribuído. Não basta que a sociedade gere o lucro (até porque, uma coisa é o lucro de exercício e outra é o lucro do
balanço); é necessário também que esse lucro possa ser distribuído e que, efectivamente, tenha sido distribuído.

Desta forma, o direito ao lucro em abstracto não pode ser retirado ao sócio, em que este não pode ser excluído da
comunhão nos lucros em geral. Se o for, se por exemplo, houver uma cláusula do pacto social que retire ao sócio este
direito geral ao lucro, está-se no âmbito do chamado pacto leonino1, o qual é proibido (22º/3 CSC). Esta exclusão tanto é
proibida se constar de uma cláusula no pacto social, como se se tratar de uma deliberação dos sócios (a assembleia ou
eventualmente, da própria administração) (56º/1, al. c) e 411º/1, al. c) CSC). Há também uma outra vertente do pacto
leonino, que visa isentar um sócio da participação nas perdas sociais. Isso significa que todos eles têm que correr o risco
de, em maior ou menor extensão, sofrer perdas. Tratando-se de uma sociedade por quotas ou uma sociedade anónima,
isso não quer dizer que eles respondam pessoalmente com património próprio; disso estão isentos de força da
personalidade colectiva. O que eles não podem é ser isentos de correr o risco da perda, em parte ou em todo, do valor que
investiram na sociedade. Ex: 5 sócios com 5 000€ de capital social numa sociedade por quotas. Não se pode isentar dois
dos sócios da perda dos 1 000€ com que contribuíram, tendo os outros de assumir essa perda; ou seja, o sócio não pode
dizer que quer sair da sociedade e exigir a entrega dos 1 000€ com que entrou, quando esta já não tem o capital social de
5 000€, mas de 3 000€.

A isto chama-se a obrigação de quinhoar nas perdas; não se trata de uma obrigação em sentido técnico, mas é um
risco do sujeito perder, no todo ou em parte, aquilo que investiu na sociedade. Portanto, essa vertente também está
incluída pelo chamado pacto leonino. Existem diversas justificações para este pacto leonino e para a sua proibição.
Hoje em dia aquilo que tem sido o fundamento de qualquer das suas vertentes (afastar um sócio dos lucros ou então
isentá-lo de quinhoar nas perdas), teria a ver com o facto de que, se um sócio estivesse isento de quinhoar nas perdas, ou
não correr o risco de perda do seu investimento, ele teria uma propensão para levar a que a sociedade tomasse a um risco
maior àquilo que seria prudente, já que não tinha nada a perder. Pelo contrário, se o sócio só corresse o risco de perder,
então nesse caso, ele incentivaria políticas de gestão muito prudentes para evitar a perda do seu valor.

Distribuição do lucro - Desta forma, todos os sócios têm direito ao lucro e a regra dispositiva que funciona é, se nada
estiver definido no pacto, os sócios têm o direito a um lucro proporcional ao valor da sua participação social (22º/1
CSC). Agora, ainda assim, há excepções; nada impede que o pacto social estabeleça o direito de um ou mais sócios
quinhoarem num valor superior à da sua participação social. Nestes casos, diz-se que se está perante um direito
especial de um sócio, o direito especial aos lucros. Por outro lado, é também possível, com fundamento nos estatutos ou
no contrato, que sejam atribuídos lucros a não sócios; ou seja, que não sócios possam quinhoar dos lucros.
Ex: Se estiver previsto nos estatutos, as remunerações dos administradores podem consistir em participação nos lucros da
sociedade (255º/3 e 399º/2 CSC).

Um administrador recebe 1 000€/mês e uma participação de 5% nos lucros.


1

13
Quando o lucro é distribuído aos administradores, geram-se alguns efeitos positivos, como também negativos. Quanto a
um possível efeito positivo tem-se que a distribuição de lucros a um administrador poderá funcionar como uma espécie
de incentivo para que sejam gerados esses mesmos lucros.

Reservas - A reserva societária é uma cifra que representa um valor patrimonial da sociedade decorrente, em regra, de
lucros que os sócios não podem ou não querem distribuir. Estas servem para cobrir perdas sociais ou podem funcionar
como forma de autofinanciamento a sociedade, ficando aquela quantia que vai ser destinada ao financiamento da
sociedade. De uma forma idêntica ao capital social, as reservas não dizem respeito a bens em concreto (móvel ou
imóvel); a reserva a reserva uma cifra, é um valor percentual do activo como tal (Ex: 5% do valor do activo).

Estas reservas decorrem de lucros e, em certos casos, esses lucros não podem ser distribuídos e têm que ser
reconduzidos às reservas. Nos outros casos, são os próprios sócios que querem conduzir determinados valores a reservas
que eles constituem. Quer as reservas sejam obrigatórias ou não, elas podem ser sempre utilizadas para cobrir o
prejuízo (296º CSC). Quanto às modalidades de reservas, tem-se as reservas legais e equiparadas, reservas estatutárias,
reservas livres e reservas ocultas.

Reservas legais e equiparadas


Nas sociedades por quotas e nas sociedades anónimas é obrigatória a constituição de uma reserva legal (218º e 295º
CSC, respectivamente). Estas reservas impostas pela lei servem para tutelar os interesses de credores da sociedade,
permitindo cobrir eventuais prejuízos. Para a constituição desta reserva legal, ou da sua reintegração (quando ela tiver
sofrido um decréscimo), devem ser afectados pelo menos 5% dos lucros de exercícios. Deste lucro de exercício tem que
ser descontado o valor necessário à cobertura das perdas que vêm de trás. Estas reservas têm que ir sendo constituídas até
chegarem a um máximo de 20% do capital social. Se o capital social é muito baixo, 5% desse capital social é muito
pouco. Daí a lei ter estabelecido um valor absoluto, ou seja, nas sociedades por quotas esse valor tem que ir até 2 500€
nos termos do 218º/2 CSC.

Nos termos do 296º CSC, esta reserva só se pode aplicar para a cobertura perdas de exercício que não possam ser
cobertas por outras reservas.

Servem também para cobrir os prejuízos transitados do período anterior que não possam ser cobertos pelo lucro
desse exercício. E

As reservas também podem ser incorporadas no capital social, fazendo um aumento do mesmo (aumento de capital por
incorporação de reservas) (91º CSC). Depois terão de ser constituídas novas reservas com esse capital social aumentado,
mas isso com os lucros futuros. As reservas equiparadas têm o mesmo destino que as reservas legais, ou seja, à
cobertura de prejuízos ou então à incorporação ao capital social.

Se os sócios deliberarem distribuir valores que atinjam as reservas para fins distintos daqueles que foram analisados, ou
então impeça a sua reconstituição, essas deliberações sociais são nulas.

Reservas estatutárias
Quer no pacto social que as partes celebram, quer numa sua eventual alteração, os sócios podem estabelecer que até uma
determinada percentagem do lucro de exercício será afectado a reservas. Essas reservas podem ter uma finalidade
específica (Ex: delibera-se a constituição de reservas para aquisição do equipamento) ou então não ter nenhuma
finalidade específica, sendo simples reservas como formas de financiamento da sociedade.

Mesmo que a reserva por deliberação dos sócios ou prevista no pacto tenha uma finalidade específica, ela pode ser
sempre utilizada para cobrir perdas; ou seja, aquela reserva constituída para a aquisição do equipamento interessante
pode ser utilizada para cobrir perdas que, entretanto, hajam surgido.

As deliberações dos sócios que não cumpram estas disposições do pacto relativas às reservas são, em princípio,
anuláveis (58º/1, al. a) CSC).

Reservas livres
Estas não decorrem nem por exigência da lei, nem decorrem do pacto social. Os sócios podem livremente, embora com
aqueles limites relativos à necessidade de distribuir metade do lucro de exercício, constituir reservas com o lucro, onde a
constituição destas reservas não obsta sequer que no exercício seguinte, se os sócios assim deliberarem, elas não possam
vir a ser distribuídas.

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Reservas ocultas
Se um balanço omitir uma verba do activo, ou então criar ou incluir uma despesa fictícia, está-se face a reservas ocultas,
uma vez que não correspondem ao património real e correspondem a bens que aí não estão e a dívidas que efectivamente
não existem. Também ocorrem quando haja uma subavaliação dos bens do activo ou a uma sobrevalorização do passivo.
Em qualquer dos casos, o património líquido da sociedade é inferior ao valor do património líquido real. Isto é comum
acontecer e não é necessariamente ilícito. Está relacionado, no que diz respeito aos bens do activo, com uma
subvalorização decorrente dos critérios de mensuração dos bens do activo, ou seja, da atribuição de valor aos bens do
activo. Ocorre também por causa do regime das amortizações.

Perdas sociais

As perdas sociais são os decréscimos com as quebras do património da sociedade. Tem de se distinguir as:

- Perdas de balanço: diferença negativa registada entre o valor do património social líquido e o valor do capital
social mais reservas legais e equiparadas.

- Perdas exercício: diferença do património social líquido entre o início e o fim do exercício.

- Perda final ou liquidação: diferença negativa entre o património social líquido no termo da liquidação da
sociedade e o capital social.

Uma perda exercício não significa necessariamente uma perda de balanço; a sociedade pode perder no exercício, mas
tem um património social que seja superior ao capital social mais as reservas, especialmente se o capital social for baixo
e a perda do balanço não é muito significativa.

As deliberações sociais

Distinguem-se entre as deliberações ineficazes, deliberações nulas e deliberações anuláveis.

Deliberações ineficazes
Têm-se as deliberações absoluta ou totalmente ineficazes e as deliberações que são só relativamente ineficazes, ou seja,
que sejam ineficazes relativamente a um ou mais sócios.

As deliberações totalmente ineficazes (55º CSC) são aquelas para as quais a lei exige o consentimento de determinado
sócio. Se a lei exigir o consentimento de um determinado sócio para um determinado assunto e esse sócio não tiver
prestado o seu consentimento, essas deliberações não produzem efeitos em termos absolutos, quer relativamente àquele
sócio, quer relativamente aos outros sócios, quer relativamente a terceiros. O consentimento pode ser dado na própria
deliberação, se esse sócio votar a favor, ou pode ser dado posteriormente de forma expressa, por escrito, ou então de
forma tácita (quando o sócio aceita a execução da deliberação).

Ex: uma deliberação que limite ou suprima direitos sociais do(s) sócio(s) sem o seu consentimento é ineficaz
(24º/5 e /6 CSC).

Ex: uma deliberação de alteração estatutária que proíba a limite a cessão de quotas sem o consentimento de todos
os sócios afectados (229º/4 CSC). Nestes casos estas liberações são ineficazes sem o consentimento desses sócios.

Tem-se também, de forma excepcional, as deliberações que tem uma ineficácia relativa, sendo as em que a lei exige o
consentimento de um determinado sócio. Nesse caso, elas não produzem efeitos face a esse determinado sócio que não
deu o consentimento.

Ex: há uma deliberação introduz nos estatutos ou obrigações de prestação acessória ou, eventualmente, prestações
suplementares. Essas deliberações são ineficazes relativamente aos sócios que não as tenham aprovado, não lhes
podendo ser exigidas.

O papel da acta no âmbito das deliberações é de importância enorme, sendo, em geral, uma fonte de conflito. A acta
consiste num documento escrito que regista as deliberações tomadas na assembleia pelos sócios e, para além disso, o
próprio processo deliberativo. Inclui informação como quem esteve presente nas reuniões, se houve faltas refere a
justificação de faltas, a ordem de trabalhos, tem que se explicitar quem é que interveio e o propósito de cada assunto,
havendo um curto sumário daquilo que a pessoa disse. Aí é que muitas vezes reside a dificuldade, dado que a acta não é
uma gravação das reuniões. Este equilíbrio do registo de quem participou, daquilo que foi dito e as respostas levam
depois à tomada de decisão, levam frequentemente a desacordo.
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Se se tiverem deliberações tomadas numa assembleia, mas que não constem da acta (porque a acta ainda não foi
aprovada, ou se foi, não faz referência essa deliberação), tem-se que a deliberação em si é existente; considera o Dr.
Coutinho de Abreu que a acta não é uma forma ad substantiam, ou seja, mesmo que não esteja consignada na acta, a
deliberação existe. Por sua vez, e de acordo com a doutrina dominante, enquanto não estiver na acta não é eficaz; isto é, a
acta é condição de eficácia e as deliberações que não constem dela não produzem efeito. Neste âmbito, o que o Dr.
Coutinho de Abreu também entende é que, se as liberações não estiverem ainda ou não vierem a estar consignadas na
acta, há um conjunto de consequências de carácter negativo, porque a acta desempenha um papel certificativo do que se
passou na assembleia das liberações tomadas. Por isso, as deliberações dos sócios lavradas em livro de actas, têm um
valor de prova bastante e só cede mediante contraprova (346º CSC). Portanto, nesta perspectiva, a acta não é uma
condição de eficácia, mas é um simples meio de prova que pode ser substituído por um outro meio de prova.

Deliberações inválidas
Quanto às deliberações inválidas, importa saber quando é que são inválidas e qual é a modalidade de invalidade
(nulidade ou anulabilidade).

Se uma deliberação é nula terá que ser renovada. Se for anulável, e enquanto não for anulada, produz todos os seus
efeitos e, decorrido o prazo para anulação sem ter sido anulada, consolida-se. Esse aspecto é particularmente relevante no
que diz respeito às deliberações de assembleias, porque o prazo para anulação é muito curto; se não for anulado dentro
daquele período de tempo, mantém-se a deliberação.

Para distinguir entre uma deliberação nula ou anulável, importa atender, em primeiro lugar, à espécie de vício e, em
segundo lugar, ao normativo atingido

Quanto aos vícios, tem de se fazer uma distinção do são vícios de procedimento e vícios de conteúdo:

Os vícios de procedimento dizem respeito aos modos ou processo pelo qual se formou a deliberação, elas respondem à
questão de como se formou a deliberação, que actos é que foram praticados. Os vícios de conteúdo dizem respeito à
disciplina ou à regulamentação foi estabelecida por essa deliberação; o que é que foi decidido, qual o conteúdo ((não)
distribuição de lucros, distribuição em 2/3, distribuição em ¾, obrigação de prestações acessórias, deliberação de
prestações suplementares, …).

Tem-se depois a distinção quanto às normas em si que foram atingidas. Em termos de procedimento dos actos
praticados para a tomada de decisão, há um conjunto de passos para esse efeito (convocatória, fornecimento de
informação, a participação na assembleia geral, votação, …).

Outra coisa é o conteúdo das deliberações. Tem-se então: Normas ou princípios legais, quer relativos ao
procedimento, quer relativos ao conteúdo, Normas estatutárias, estabelecem determinadas regras, mas é para aquela
sociedade específica.

Deliberações nulas

Em regra, só a violação das normas legais das que sejam imperativas relativas ao conteúdo da deliberação levam a
nulidade (56º/1, als. c) e d) CSC). Estão relacionadas com aquelas deliberações que, por natureza, tenham por objecto o
que não está na disponibilidade dos sócios, nomeadamente, normas legais imperativas. Estas normas não podem ser
afastadas e podem ser do direito societário, bem como de outros ramos de direito (civil, fiscal, concorrência, …). Tem-se
também as deliberações que atinjam os princípios dos bons costumes.

Existem alguns casos raros de vícios de procedimento que são nulos:

- 56º/1, al. a) CSC: Tomadas em assembleia geral não convocada, salvo se todos os sócios tiverem estado presentes
ou representados.

- 56º/1, al. b) CSC: Tomadas mediante voto escrito sem que todos os sócios com direito de voto tenham sido
convidados a exercer esse direito, a não ser que todos eles tenham dado por escrito o seu voto. Uma assembleia geral não
convocada é aquela que não foi precedida de convocatória.

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A nulidade nas situações anteriores não é uma nulidade típica, podendo der sanada através da participação dos sócios que
não tomaram parte dessa assembleia.

.1.1. Deliberações anuláveis

Com este regime da anulabilidade pretende-se o favor societário, ou seja, pretende-se a estabilização das deliberações.

 Vícios de procedimento anuláveis

Quanto à violação de normas legais imperativas pelo procedimento, salvo casos excepcionais, são anuláveis (58º/1,
al. c) CSC). De acordo com o regime geral dos negócios jurídicos (294º CC), a violação de uma norma imperativa leva à
nulidade. Aqui, em regra, o regime que se aplica é o da anulabilidade, sendo o da nulidade aplicado a título excepcional.

O procedimento relativo a deliberação tomada em assembleia geral é constituído por:

1) Convocação: autoria, conteúdo e forma da convocatória, tempo que deve mediar entre a convocação e a reunião;

2) Constituição e organização da assembleia: quem pode nela participar, saber quórum constitutivo está
preenchido, e se for o caso, estabelecer a presidência da assembleia. O quórum constitutivo (o que tem o poder
de deliberar) é diferente de quórum deliberativo (o que aprova as deliberações); no quórum constitutivo é
necessário que estejam representados 1/3 do capital social de forma a deliberar. Em regras, essas deliberações
são tomadas por maioria simples dos votos presentes (basta que metade+1 das pessoas que estejam presentes na
assembleia votem a favor).

3) Apresentação de propostas;

4) Pedidos de informação: trata-se de um direito de participação;

5) Debate:

6) Votação: quem pode votar, forma de exercício do voto:


7) Contagem dos votos;

8) Apuramento do resultado: com ou sem proclamação (formal) pelo presidente.

O resultado (e não só) deste processo deliberativo terá de constar da acta. Não sendo respeitados alguns destes passos, as
deliberações são anuláveis.

Ex: deliberações tomadas numa assembleia convocada sem a antecedência devida (248º para as sociedades por
quotas e 277º CSC para sociedades anónimas).

Ex: Deliberação de alteração estatutária de sociedade anónima tomada em assembleia (de primeira convocação) sem
quórum constitutivo (383º/2 CSC).

Ex: Deliberações adoptadas em assembleia na qual sócio foi arbitrariamente impedido de discutir propostas sobre
assuntos indicados na ordem do dia (379º/1 e /2 CSC).

 Vícios de conteúdo anuláveis

Nas deliberações anuláveis estão em causa preceitos legais dispositivos (58º/1, al. a) CSC). Mas não todos. Os preceitos
legais dispositivos, podem ser derrogados pelo estatuto social ou, quando este ou a lei permitam, por deliberação dos
sócios. Portanto, só quando falte essa permissão são anuláveis as deliberações cujo conteúdo seja ofensivo de normas
legais dispositivas.
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Ex: as deliberações que estabeleçam medida de partilha dos lucros não proporcional aos valores das participações
sociais (92º/1 CSC).

Ex: deliberações que dispensem o consentimento da sociedade para a cessão de quotas a terceiros (228º/2 e 229º/2
CSC).

Ex: deliberações que determinem contrapartida de amortização de quota diversa da estabelecida no 235º/ 1 CSC.

.1.1. Deliberações anti-estatutárias

As deliberações que violem normas estatutárias, quer relativas ao procedimento, quer ao conteúdo, em princípio, são
anuláveis (58º/1, al. a) CSC).

.1.2. Regime especial das deliberações de aprovação do relatório de gestão e de documentos de prestação de
contas

Um dos regimes específico às contas societárias é aquele onde os sócios têm de aprovar as deliberações referentes ao
relatório gestão e de documentos de prestação de contas. Cabe aos membros do órgão de administração elaborar e
submeter aos órgãos competentes da sociedade o relatório de gestão, as contas do exercício e demais documentos de
prestação de contas previstos na lei, relativos a cada exercício anual (65º/1, /3 e /4 CSC).

As contas do exercício são compostas pelo balanço, a demonstração dos resultados e pelo anexo. A deliberação sobre
esta matéria está sujeita a um regime especial de invalidade, isto porque, se for aprovado um balanço falso ou porque
apresentam activo líquido superior ou inferior ao real, estão a ser atingidos os interesses dos credores (estão a invocar
uma situação patrimonial que não têm), os interesses dos sócios, bem como os interesses tributários (é sobre o valor do
balanço que se determina o lucro tributável).

Nesta hipótese, o órgão de fiscalização deve tomar deve tomar iniciativa relativamente às situações nulas nos termos do
57º CSC; deve dar a conhecer aos sócios em assembleia geral o carácter nulo da deliberação com o fim de que estes a
possam renovar em termos legais ou que possam promover a respectiva acção judicial de nulidade.

 Vinculação das sociedades

O que se tem em atenção neste âmbito é a vinculação da sociedade através dos órgãos administrativos (gerência,
conselho de administração, etc.).

Quando se fala em representação, geralmente refere-se à representação voluntária do CC. Mas aqui não é o caso; não há
uma verdadeira representação por se tratar de uma representação orgânica (apesar de se poder aplicar o CC por analogia
em alguns aspectos).

.1. Requisitos subjectivos


OS administradores ou gerentes não actuam em nome próprio, mas em nome da sociedade. Têm, nesse sentido de
indicar ou declarar essa qualidade, com referência à sociedade. Quanto aos actos realizados por escrito, em regra, terá
de haver uma indicação dessa qualidade (260º/4 e 409º CSC), não sendo exigível que haja essa indicação expressa; pode
também ser tácita, sendo apenas importante que o destinatário consiga retirar por dedução que esse gerente é imputável à
sociedade.

Quando se está perante órgãos de representação plurais, esta pode ser disjuntiva, onde qualquer gerente ou
administrador tem o poder de vincular a sociedade; ou conjuntiva, onde é necessária a intervenção ou de todos os
administradores ou gerentes (conjunção integral), a participação da maioria (conjunção maioritária) ou de uma minoria
(conjunção minoritária). Neste âmbito, aplica-se o regime previsto na lei ou o regime previsto no pacto social. Os
interesses aqui várias; no método disjuntivo, facilita-se a rapidez da vinculação. No entanto, o regime da conjunção
favorece a colegialidade na tomada das decisões, levando à ponderação e o controlo recíproco dos administradores.

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ara a representação passiva das sociedades, vale a regra da disjunção. Esta regra é imperativa, sendo nula qualquer
disposição em contrário.

Ex: se for necessário fazer uma notificação, ela pode ser dirigida a qualquer gerente ou administrador (261º/3 e
408º/3 CSC).

O regime regra para sociedades em nome colectivo é a disjunção. Para as sociedades por quotas e anónimas é o da
conjunção maioritária: a sociedade fica vinculada pelos negócios jurídicos concluídos pela maioria dos administradores
ou por eles ratificados. Estas normas são normas dispositivas, as quais podem ser afastadas; portanto, é possível que os
estatutos, dentro dos limites da lei, estabeleçam regras diferentes.

É possível, no entanto, que os estatutos estabeleçam que para a vinculação social basta a intervenção de um
administrador ou gerente ou num número inferior à maioria (Ex: aprovação por dois, quando o número de
administradores é 5).

Numa sociedade anónima, esta fica vinculada com os negócios celebrados pela maioria de administradores, ou por estes
ratificado, ou então, por um número inferior, se isso constar do pacto (408º/1 CSC). Se constar do pacto atribuir uma
cláusula estatutária que exija um número superior à maioria, esta norma é ineficaz relativamente a terceiros. Já numa
sociedade por quotas, se uma cláusula estatutária prescreve a conjunção maioritária superior àquela que é normalmente
exigida, essa cláusula é plenamente eficaz (260º/1 CSC).

Ex: uma sociedade pode-se vincular com a assinatura de dois membros, bastando apenas com a assinatura de
apenas um deles para actos de mero expediente (actos de pequeno valor económico – emitir facturas, recibos,
notas de encomenda, depósitos bancários, …). Se esse sujeito praticar actos que não são de mero expediente, a
sociedade fica vinculada uma vez que esta delimitação tem efeitos meramente internos.

Existem também cláusulas que se referem nominalmente a um gerente ou administrador: “a sociedade vincula-se
com a assinatura de dois gerentes, mas uma delas tem de ser sempre do gerente A”. Estas cláusulas são válidas,
observadas as exigências legais de publicidade.

Nas sociedades anónimas de estrutura monística (só com conselho de administração), é muito comum que os estatutos
permitam ao conselho de administração delegar num ou mais administradores a gestão corrente da sociedade (407º/3
CSC). Quando isto ocorre, devem ser fixados os limites da delegação. Também é possível que seja deliberado que a
sociedade fique vinculada pelos actos de um ou mais administradores-delegados dentro dos limites da delegação do
conselho (408º/2 CSC). Se esses administradores vão para além dessa delegação, se esses limites decorrerem do estatuto
social, têm efeitos internos e não externos (409º/1 CSC).

Para as sociedades por quotas, o 261º/2 CSC regula que os gerentes podem delegar nalgum ou nalguns deles a
competência para determinados negócios (Ex: compra de um veículo) ou então para uma espécie de negócios (Ex:
compra de mercadorias). Sendo-se atribuídos esses poderes, esses actos vinculam a sociedade.

Existem duas correntes doutrinais e jurisprudenciais para determinar se basta um administrador actuar para a
sociedade ficar vinculada face a um terceiro de boa-fé naqueles casos em que vigorar a conjunção de forma supletiva
ou em virtude de cláusulas estatutárias. A posição dominante é aquela que sustenta que, por razoes de tutela de terceiros
de boa-fé, a sociedade fica mesmo vinculada, onde o fundamento é a necessidade de celeridade no tráfico e tutela do
terceiro de boa-fé. Contudo, há outra posição (minoritária) defendida pelo Dr. Coutinho de Abreu, que defendem que,
sempre que essa conjunção maioritária decorre da lei, tem eficácia face a terceiros. Como tal, o acto praticado por um
único sujeito, não vincula a sociedade, uma vez que a regra da conjunção serva para defender os interesses da sociedade,
para que ela só possa ficar vinculada pelos actos da maioria. Defende também que o terceiro que pretenda saber se a
sociedade fica ou não vinculada pelos actos daquele gerente tem possibilidade de o saber porque o número de gerentes
está previsto nos estatutos e estes, nos termos do 70º/1, 73º e 74º CRegCom tem publicidade; um sujeito terceiro que
pretende negociar com outro que se apresente como gerente, tem de apurar por si se efectivamente é gerente ou não.

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Casos Práticos

1. A, B e com acordam fornecer mensalmente o dinheiro para a aquisição de um bilhete de lotaria. A, B e com
constituíram uma sociedade?

De acordo com o 980º CC, o contrato de sociedade “é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com
bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade económica, que não seja de mera fruição, a fim de
repartirem os lucros resultantes dessa actividade”.

Nesta medida, verificam-se que esta noção poderá ser decomposta em quatro elementos. O primeiro destes é a
necessidade de a sociedade comercial deverá ser uma associação ou agrupamento de pessoas, podendo ser constituída
por dois ou mais sujeitos, sendo esse o modelo que a lei pressupõe. Esses sócios podem ser pessoas singulares ou
pessoas colectivas (980ºCC e 7º CSC). Neste aspecto, verifica-se que existe efectivamente um acordo entre duas ou mais
partes, sendo estas A, B e C.

O segundo elemento prende-se com o chamado substrato patrimonial. Todas as sociedades têm de ter um património
próprio, o qual não é dos sócios, mas sim da sociedade como ente, sendo distinto do património dos sócios; assim, como
o património dos sócios é distinto do património da sociedade. Esse património é composto por direitos da sociedade
face aos sócios relativamente às entradas. Desta forma, verifica-se este aspecto, em que A, B e com obrigaram-se a
contribuir mensalmente com um valor pecuniário.

O terceiro elemento está relacionado com o objecto da sociedade, uma actividade económica que a sociedade vai
desempenhar que não seja de mera fruição, em que o que se tem em vista é tirar vantagem de um determinado bem, mas
não desenvolver uma actividade em comum. A actividade económica é, assim, preenchida pela produção de bens (sector
primário, secundário e terciário e de bens imateriais – serviços), sendo que essa actividade implica o uso ou troca desses
bens. Como se trata de uma sociedade para adquirir um bilhete de lotaria, não se verifica este elemento, dado que não
existe uma actividade económica associada a esta acção.

Quanto ao quarto e último elemento, a sociedade tem de visar um fim lucrativo, onde o lucro é acréscimo patrimonial; é
um ganho traduzido num aumento patrimonial. A sociedade visa não só o lucro, como também a sua distribuição pelos
sócios. Devem por isso distinguir-se o lucro objectivo (o que a sociedade visa obter) e o lucro subjectivo (lucro que é
distribuído aos sócios). Este elemento verifica-se, em que, se sair um prémio da lotaria, A, B e com pretendem repartir o
valor correspondente e distribuí-lo entre si.

Logo, o acordo constituído por A, B e com não se considera como sendo uma sociedade, dado faltar-lhe o terceiro
elemento – um objecto que não seja de mera fruição. O que, de facto, existe é uma associação uma vez que se associaram
para praticar um conjunto de actos para os quais contribuem com determinados bens, em que esses bens integram o
fundo comum da associação.

2. A, B e com herdaram uma casa e um supermercado, acordando explorar a casa para alojamento local, bem como o
supermercado. Estão convencidos que são comproprietários. Têm razão?

O supermercado é uma empresa, onde se trata, em sentido objectivo, de uma organização de meios que tem valor de
posição no mercado (bens materiais e imateriais devidamente organizados). Assim, supermercado é uma empresa
comercial já que procede à compra de produtos para revenda. A, B e com estão a contribuir para a exploração da
empresa comercial, que já era explorada e eles continuam a fazê-lo como tal. Contribuem, assim, para o exercício desta
actividade em comum.

Quanto ao alojamento local, trata-se de um contrato misto de arrendamento e prestação de serviços a muito curto prazo.
A, B e C, ao criar uma empresa de alojamento local, contribuíram com meios pecuniários e praticaram um conjunto de
outros actos associados à criação deste alojamento (p.e., aquisição de outros bens). Assim, este alojamento local
considera-se uma empresa.

A, B e com passam assim a explorar duas empresas em conjunto, tratando-se de uma actividade económica. Trata-se,
então, de uma actividade económica que não é de mera fruição, visando repartir os lucros que dela advenham (980º CC e

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7º CSC). Embora estejam convencidos que são comproprietários, trata-se, efectivamente, de uma sociedade que explora
duas empresas diferentes.

3. A e B adquirem um restaurante que exploram durante 6 meses para depois o revenderem. Constituíram uma
sociedade?

De acordo com o 980º CC, o contrato de sociedade “é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com
bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade económica, que não seja de mera fruição, a fim de
repartirem os lucros resultantes dessa actividade”.

Nesta medida, verificam-se que esta noção poderá ser decomposta em quatro elementos. O primeiro destes é a
necessidade de a sociedade comercial deverá ser uma associação ou agrupamento de pessoas, podendo ser constituída
por dois ou mais sujeitos, sendo esse o modelo que a lei pressupõe. Esses sócios podem ser pessoas singulares ou
pessoas colectivas (980ºCC e 7º CSC). Neste aspecto, verifica-se que existe efectivamente um acordo entre duas ou mais
partes, sendo estas A e B.

O segundo elemento prende-se com o chamado substrato patrimonial. Todas as sociedades têm de ter um património
próprio, o qual não é dos sócios, mas sim da sociedade como ente, sendo distinto do património dos sócios; assim, como
o património dos sócios é distinto do património da sociedade. Esse património é composto por direitos da sociedade
face aos sócios relativamente às entradas. Desta forma, verifica-se este aspecto, em que A e B e com obrigaram-se a
contribuir para a aquisição do restaurante.

O terceiro elemento está relacionado com o objecto da sociedade, uma actividade económica que a sociedade vai
desempenhar que não seja de mera fruição, em que o que se tem em vista é tirar vantagem de um determinado bem, mas
não desenvolver uma actividade em comum. A actividade económica é, assim, preenchida pela produção de bens (sector
primário, secundário e terciário e de bens imateriais – serviços), sendo que essa actividade implica o uso ou troca desses
bens. Como se trata de uma sociedade adquiriu um restaurante e depois passou a explorá-lo, verifica-se o preenchimento
deste elemento.

Quanto ao quarto e último elemento, a sociedade tem de visar um fim lucrativo, onde o lucro é acréscimo patrimonial; é
um ganho traduzido num aumento patrimonial. A sociedade visa não só o lucro, como também a sua distribuição pelos
sócios. Devem por isso distinguir-se o lucro objectivo (o que a sociedade visa obter) e o lucro subjectivo (lucro que é
distribuído aos sócios). Este elemento verifica-se, em que, visando a exploração do restaurante, se pretendia obter lucro
para distribuir entre A e B.

Verifica-se o preenchimento dos elementos descritos anteriormente. Contudo, A e B compraram o restaurante e querem
revender, tendo explorado a empresa durante determinado período de tempo. Pode dizer-se que constituíram sociedade,
mas o que queriam em termos finalísticos era a revenda do restaurante (obtenção de lucro resultante da revenda e não da
sua exploração). Assim, a exploração do restaurante que desempenharam não teve consistência necessária para ser uma
actividade económica em si, dado ser puro e simplesmente um acto instrumental para o seu fim: revenda do restaurante.
A actividade foi residual para justificar a formação da sociedade; fizeram só para que o seu bem não desvalorizasse.

Portanto, não se trata de uma sociedade.

4. A e B constituíram uma pessoa colectiva que visa promover o ensino de inglês explorando, para tal, uma escola de
línguas. Que ente é este? Porquê?

Trata-se de uma empresa de prestação de serviços. Neste caso, como se visa promover o ensino de inglês, trata-se de
uma associação. Uma vez que tem um fim de outra natureza que não gerar o lucro (cultural, científico, recreativo, … ),
não poderá ser considerada uma sociedade comercial. Isto não significa que não possa obter lucro; mas se o obter, tem de

21
o utilizar no desenvolvimento da sua actividade, que a título principal é promover o ensino e, eventualmente, até
acumulá-lo; o que não pode é distribuí-lo pelos sócios.

Se as partes assim o quisessem, poderiam ter constituído uma sociedade, mas escolheram constituir uma associação.

5. A assembleia geral da cooperativa A Margarida delibera a sua transformação numa sociedade comercial. Pode fazê-
lo?

As cooperativas são pessoas colectivas autónomas de livre constituição. Têm capital e uma composição variáveis e
visam, através de uma cooperação e ajuda dos seus membros e em obediência aos princípios cooperativos, sem fins
lucrativos, a satisfação de necessidades e aspirações dos seus membros, de carácter económico ou não – cooperantes.

Não se trata de sociedades comerciais, uma vez que não visam o lucro: podem ter resultados positivos que se destinam a
um determinado fim e, em última instância, é que são devolvidos aos cooperantes.

As cooperativas têm, assim, uma natureza completamente diferente das sociedades comerciais. Como tal, não se pode
constituir uma sociedade comercial utilizando uma cooperativa como um género de pré-empresa. Desta forma, se se
pretender transformar uma cooperativa numa sociedade comercial, esse acto é nulo (111º CCooperativo - Lei n.º
119/2015, 31 de Agosto).

6. A cooperativa A é dona de um supermercado que apresenta anualmente resultados positivos. Pode esse valor ser
atribuído aos cooperantes?

As cooperativas são pessoas colectivas autónomas de livre constituição. Têm capital e uma composição variáveis e
visam, através de uma cooperação e ajuda dos seus membros e em obediência aos princípios cooperativos, sem fins
lucrativos, a satisfação de necessidades e aspirações dos seus membros, de carácter económico ou não – cooperantes.

Não tendo fins lucrativos, os lucros não podem ser distribuídos pelos seus cooperantes. Contudo, existe a possibilidade
de distribuir os excedentes anuais líquidos (100º CCooperativo - Lei n.º 119/2015, 31 de Agosto), desde que pagos os
juros pelos títulos de capital e das reversões para as diversas reservas.

7. Suponha o seguinte. A e B, sociedades comerciais, constituem um ACE para aquisição de materiais de construção.
Para o efeito, o ACE adquire a com 5 toneladas de cimento. Contudo, na data prevista, não paga. O com pretende
demandar A e B. Pode?

As pessoas singulares ou colectivas podem agrupar-se sem prejuízo da sua personalidade jurídica com o fim de melhor
as condições para o exercício da sua actividade ou os resultados da sua actividade económica. A actividade desenvolvida
pela ACE, composto por dois ou mais membros, tem de ser diversa e auxiliar da actividade económica desenvolvida
pelos membros agrupados; tem de ter um carácter auxiliar ou complementar da actividade desenvolvida por cada um
desses membros. Pode dirigir-se a melhorar as condições do exercício ou melhorar a actividade dos sujeitos, não tendo
como finalidade a realização de lucro por parte do ACE e a sua repartição pelos sócios. O ACE tem personalidade
jurídica a partir do momento em que seja inscrito num registo comercial, respondendo, portanto, pelas dívidas os
associados, subsidiária, mas solidariamente (podem exigir a qualquer um deles a totalidade da dívida).

Desta forma, tendo o ACE personalidade jurídica, com pode demandar A e B subsidiária, mas solidariamente. Isto deve-
se ao facto de uma ACE se aproximar do regime das sociedades em nome colectivo, aplicando-se, por isso esse mesmo
regime às ACE’s (com a principal diferença de que não visa o lucro). Neste regime, o primeiro que responde é o
património do ente, mas subsidiária ou solidariamente respondem os sócios ou os membros do ACE.

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8. A acorda com B, sociedade cujo objecto é a compra para revenda de computadores, a entrega 100 000€ para esta
adquirir 1500 computadores para depois revender com um lucro de 5%. Ficou também acordado que este valor se
dividiria em partes iguais entre A e B. Os computadores são depois revendidos a C.

a) Se com vier a ser declarado insolvente, pode A pedir a B a restituição dos 100  000€ mais o lucro de 2.5%?

b) Se B por descuido do seu funcionário D não entregar os computadores, pode com exigir a A uma indemnização
por mora?

c) Poderia B vender a sua empresa de revenda de computadores a E?

a) Trata-se de uma associação em participação. Consiste num contrato pelo qual um ou mais sujeitos se associam a uma
actividade económica (associado), actividade essa que é exercida pelo outro (associante): o associado passa a participar
nos lucros e nas perdas que resultarem desse exercício. Não resulta de uma nova entidade; as entidades que existem
fazem parte do acordo. O aspecto central desta figura é a contribuição patrimonial que este associado faz à outra parte.
Essa contribuição tem a particularidade de, necessariamente, integrar o património do associante; não uma actividade em
comum que vise a obtenção do lucro e para o qual se constitua um fundo comum. O que faz com que a contribuição ou
prestação irá compartilhar os termos definidos no lucro dessa actividade, mas também das suas perdas (em regra até o
limite da sua contribuição), a não ser que algo em contrário seja fixado no contrato.

Assim, tendo com sido declarado insolvente e ter havido a perda total do dinheiro, A, enquanto associado, participa quer
nos lucros quer nas perdas da actividade comercial. Neste caso, como o enunciado nada diz quanto a este aspecto, não
poderá pedir a restituição desse valor.

b) A actuação da actividade comercial é apenas de B, sendo os contratos celebrados apenas por este. A apenas se associa
à sociedade económica participando com bens, neste caso 100 000€, para o desenvolvimento dessa actividade com vista
a partilhar os lucros e, eventualmente participar das perdas.

Trata-se, então, de uma situação e incumprimento de contrato. Neste caso, apenas será responsabilizado o associante B e
não o associado A.

c) A, ao contribuir para o desenvolvimento da actividade comercial visando o lucro, integrou o seu património no do
associante B. A partir desse momento, o B passa a assumir determinadas limitações à gestão da própria empresa,
particularmente no que respeita à sua alienação. A não ser nos casos em que esteja estipulado no contrato, B não pode
vender a sua empresa a E sem o consentimento de A. Este dever do associante faz parte do leque constante no 26 do DL
231/81, 28 de Julho.

9. A sociedade A tem por objecto a exploração de um aviário em Penafiel e, acessoriamente, a compra para revenda
das laranjas do distrito. Que sociedade é esta?

As sociedade civis simples (980º CC ss) são aquelas que têm exclusivamente por objecto actos não comerciais: Ex:
sociedade agrícolas, sociedades de artesãos, sociedades de profissionais liberais. Contudo, sempre que o objecto destas
sociedades não for exclusivamente civil (civil + comercial), estamos face a sociedades civis de tipo comercial. Neste
caso, aplica-se o regime do CSC (1º/4 CSC).

Neste caso, tratando-se de uma sociedade que tem dois objectos: a actividade pecuária (actividade principal) e revenda
das laranjas. Apesar de ser acessória, a revenda das laranjas é uma actividade comercial (1º/3/4 CSC). Desta forma, está-
se perante uma sociedade civil de tipo comercial.

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10. A celebra com B um contrato cujo objecto é a compra para revenda de computadores sem adoptar nenhum dos tipos
societários previstos no CSC. O contrato é válido?

A constitui uma sociedade com B, que tem como objecto comercial a compra para revenda de computadores (230º
CCOm). É necessário, para se tratar de uma sociedade comercial que seja celebrado um contrato, esse contrato tenha
como objecto uma actividade comercial e que, por fim, seja adoptada um dos tipos previstas no CSC. Temos, neste
processo, toda a constituição que termina no registo e, nessa altura, está constituída a pessoa jurídica.

Neste caso, como não adoptou nenhum dos tipos societários previstos no CSC conforme obriga a lei, não deixa de ser
uma sociedade comercial; simplesmente é uma sociedade comercial irregularmente constituída, mas não é nula.

11. A, B, com e D constituem uma sociedade em nome colectivo. A sociedade contrai uma dívida de 20   000€ face ao
Banco E. Pode este exigir o pagamento a A na eventualidade a sociedade não pagar a dívida aquando do vencimento da
obrigação?

Numa sociedade em nome colectivo, os sócios respondem perante os credores sociais subsidiariamente, mas
solidariamente entre eles (175º CSC). Os credores só podem exigir pagamento aos sócios depois de excutido o
património social. Torna-se necessário que, em acção executiva movida contra a sociedades, se verifique que a sociedade
já não tem património e, nesse caso, no mesmo processo, serem executados os bens de qualquer um dos sócios, sem
necessidade de serem interpostas contra qualquer um deles acções declarativas e depois acções executivas separadas
perante cada um dos sócios. Há aqui uma vantagem muito grande, onde o 745º/1 CPC permite executar de imediato os
bens dos sócios.

Desta forma, pode o Banco E exigir pagamento a A, mas apenas depois de ter demandado a sociedade e excutido o seu
património. Posteriormente, ao demandar A, irão responder solidariamente B, com e D.

12. A, B, com e D constituem sociedade por quotas com o capital social de 5 000€. Pode A assumir perante os credores
sociais a responsabilidade pelas dívidas sociais até 20  000€? Em que termos é que o pode fazer?

Nas sociedades por quotas, estas respondem pelas obrigações sociais (197º/3 CSC). É possível, no termos do 198º CSC,
desde que previsto no pacto social, que um ou alguns dos sócios respondam, até um determinado montante fixado, de
forma subsidiária relativamente à responsabilidade da sociedade ou solidária perante os credores sociais. Isto significa
que os credores podem exigir essa quantia a esses sócios pelas dívidas sociais. Há duas formas que têm de estar definidas
de forma a responsabilizar esse sócio: responsabilidade solidária com a sociedade ou, de forma menos grave para o
sócio, subsidiária relativamente à responsabilidade da sociedade, e só ser efectivada quando a sociedade esteja a ser
liquidada (figura baseada na company limited by guarantee).

Assim, dependendo do pacto social que foi outorgado, poderá A vir a assumir a responsabilidade pelas dívidas, embora o
possa fazer apenas até um valor previamente fixado e de forma subsidiária ou solidária em relação à responsabilidade da
sociedade. Sendo de forma subsidiária, esta liquidação é efectivada na fase da liquidação.

13. A, B e com constituem uma sociedade por quotas. Por morte de B, e por aquisição a C, A torna-se sócio único. A
sociedade vem mais tarde a ser declarada insolvente. Neste caso, podem os credores responsabilizar o A pelas dívidas
da sociedade, e em que termos?

Quando uma sociedade tem um único sócio subsequentemente (inicialmente tinha mais sócio e depois aquele adquiriu as
quotas ou foram amortizadas), se a sociedade for declarada insolvente, o sócio único responde a título principal
solidariamente face aos credores sociais, mas só pelas dívidas constituídas depois da concentração das participações
sociais. Para esse efeito de responsabilização, ainda é necessário que os credores demonstrem que não tenham sido
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observados os preceitos legais que estabelecem a afectação do património social ao cumprimento das obrigações sociais
(ónus da prova) (84º/1/2 CSC). É possível nestas circunstâncias a responsabilização externa de um único sócio.

14. É obrigatório à sociedade anónima ter só um conselho de administração e um conselho fiscal como órgãos?
Porquê?

Nas sociedades anónimas pode optar-se por um conselho de administração ou conselho de administração executivo (258º
CSC). Há uma estrutura dual ou germânica, em que se o capital não exceder 200 000€, pode a administração ser
composta por um só administrador face à estrutura tradicional. Nas sociedades de estrutura monista, o órgão é sempre
plural (278º CSC). Nesse caso os administradores não têm de ser sócios, mas têm de ser pessoas singulares com
capacidade jurídica plena, a não ser que integram a comissão de auditoria (423º, al. b) CSC).

Quanto ao órgão de fiscalização, este não é optativo. Têm sempre de ter um órgão de fiscalização, distinguindo-se entre:

- sociedades anónimas com estrutura tradicional (Lei 22/06, 1867 e CCom): a estrutura é composta pela
administração e um conselho fiscal, ou então um fiscal único. O conselho fiscal tem de integrar um ROC que não seja
sócio e o fiscal único tem de ser um ROC e não pode ser sócio. É possível que tenham ao mesmo tempo um conselho
fiscal e um ROC. Quando assim acontecer, não é obrigatório que o próprio conselho fiscal tenha um ROC.

- estrutura germânica: é um modelo, em regra, adoptado pelas sociedades alemãs. Distingue-se num conselho
geral e de supervisão que é composto por pessoas singulares com capacidade jurídica plena (sócios ou não), um ROC
como órgão de fiscalização e um conselho de administração executivo (ou um administrador único, quando não têm
determinada dimensão). Tem sempre de haver um representante dos trabalhadores na assembleia geral (processo de co-
decisão), onde muitas decisões só podem ser tomadas com o consentimento desses representantes. Isto permite que
muitos dos problemas das empresas sejam resolvidos dentro das empresas. Esta estrutura germânica pode ser adoptada
no âmbito de associações.

- sociedades de estrutura monista (ou modelo anglo saxónico): em termos de gestão e fiscalização, só tem
conselho de administração (+ assembleia geral). Simplesmente dentro do conselho de administração tem-se a comissão
de auditoria, a qual é composta, pelo menos, por três administradores e um ROC. Estes administração não são os
administradores executivos.

15. A, B e com constituem uma sociedade por quotas. Nos termos do contrato, a cessão de quotas por morte não é
permitida devendo, nesse caso, a sociedade adquirir a quota. A morre a 01/07/2020, tendo o gerente da sociedade D
tido conhecimento desse facto a 01/08/2020. E, filho único de A, pretende a 01/11/2020 exercer os direitos decorrentes
da quota. Pode?

Sempre que um sócio tenha morrido, a quota transmite-se para os seus sucessores. No entanto é possível que o pacto
social estabeleça a não transmissão ou então sujeitar essa transmissão a condições (225º/1 CSC). Naqueles casos em que
a quota por esse motivo não se transmita, verifica-se que:

1) A sociedade amortiza-a, extinguindo-a;

2) A sociedade adquire-a; ou

3) A sociedade fá-la adquirir por um dos sócios ou por terceiro. Se nenhuma destas medidas vier a ser adoptada
nos 90 dias subsequentes ao conhecimento pelo gerente da morte do sócio, então nesse caso a quota considera-se mesmo
transmitida a título definitivo para os seus sucessores (225º/1 CSC). É possível condicionar a transmissão à vontade dos
sucessores.

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Desta forma, passados mais de 90 dias após o conhecimento do falecimento de A, foi ultrapassado o prazo limite para
que a sociedade tivesse de amortizar ou adquirir esta quota. Nesses moldes, E poderá exercer os seus direitos no que
concerne à quota que lhe foi transmitida mortis causa.

16. A, B e com constituem uma sociedade por quotas. Foi incluído no pacto uma cláusula nos termos da qual qualquer
cessão da quota teria de ser consentida pela sociedade. A vem depois a vender a quota a seu marido E. O negócio é
válido?

Nas sociedades por quotas, em regra, a transmissão é livre entre os sócios, entre cônjuges, entre ascendentes, ou
descendentes. Fora destes casos, em regra, é necessário o consentimento da sociedade. Quando, sendo necessário o
consentimento da sociedade, e ele não é prestado, o negócio não é inválido e produz efeitos, mas é ineficaz: não produz
efeitos perante a sociedade. No entanto, a transmissão da quota se faz de forma livre sempre que a deliberação da
sociedade relativamente ao consentimento não seja realizada dentro de um determinado período de tempo. O
consentimento é dado, regra geral, por deliberação dos sócios. Em regra, não é necessário consentimento unânime, mas
basta a maioria dos votos emitidos. Para efeitos de transmissão judicial não é necessário o consentimento dos sócios.

O regime das sociedades por quotas é muito plástico. Pode ser utilizado para abrir ou fechar mais a sociedade:

- Fechar mais a sociedade: 1) pode proibir a cessão de quotas 2) pode exigir o consentimento da sociedade para
as cessões de quota que, em regra, seriam livres; 3) pode condicionar o consentimento da sociedade a certos requisitos.

- Abrir mais a sociedade: pode ser dispensado o consentimento da sociedade para toda e qualquer cessão (229º/1
a /5 CSC).

Desta forma, e apesar de haver uma cláusula válida no pacto a definir que qualquer cessão da quota teria de estar sujeita
a consentimento pela sociedade (229º/1 CSC), a venda da quota de A ao seu cônjuge é válida (228º/2 CSC), embora
padeça de eficácia perante a sociedade pois não for pedido o consentimento (230º CSC).

17. Uma sociedade por quotas é constituída por A, B e C.

a) A e B são cônjuges. É permitido que ambos participem na sociedade por quotas? O contrato é válido?

b) A pretende transmitir a sua quota a B, sem o consentimento da sociedade, sendo certo, que o contrato
constitutivo da sociedade, tal transmissão é proibida. Quid iuris?

a) Um aspecto com grande importância pratica consiste em saber se os cônjuges podem constituir sociedades entre eles.
Tem de se ter em consideração, dias disposições: 1714º CC e o 8º/1 CSC.

O 1714º/3, 1.ª parte CC diz-nos que é lícito a participação dos dois cônjuges na mesma sociedade de capitais. Prende-se
a questão se se considera a sociedade por quotas uma sociedade de capitais. Estas estão a género de meio caminho entre
as sociedades de pessoas, como a sociedade em nome colectivo, e as sociedades de capitais, como são as sociedades
anónimas. A doutrina levantou muitos problemas interpretativos à volta deste 1714º CC para se saber o que são
sociedades de capitais, devido ao disposto na norma.

O que, eventualmente, veio a resolver o problema foi o 8º/1 CSC. Esta norma jurídica permite a constituição em
sociedade entre cônjuges, desde que apenas um deles assuma responsabilidade ilimitada. Desta forma, os cônjuges não
podem participar em conjunto em sociedades de nome colectivo uma vez que se trata de uma sociedade em que os sócios
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respondem ilimitadamente: respondem perante todo o seu património, mesmo perante terceiros da sociedade. Não podem
também participar também em sociedades em comandita simples ou por acções, onde os cônjuges são os dois sócios
comanditados, uma vez que esses sócios comanditados respondem ilimitadamente. Mas se um deles for sócio
comanditado e outro sócio comanditário, já será possível criar este tipo de sociedade. Significa isto, então, que os
cônjuges podem ser sócios de uma sociedade em comandita simples ou por acções se apenas um deles for sócio for
comanditado, bem como numa sociedade em nome colectivo se apenas um deles for sócio, podem ser sócios de
responsabilidades anónimas. Nos que se refere às sociedades por quotas, temos no 197º/3 CSC que as sociedades por
quotas apenas o património social responde para com os credores sociais. Portanto, o sócio nas sociedades por quotas,
pode vir a perder apenas a sua entrada, sendo a sua responsabilidade limitada à sua entrada. Contudo, é possível nas
sociedades por quotas que o sócio possa responder mais do que aquilo que foi a sua entrada (198º CSC), embora
responda apenas por montante limite que foi estabelecido no estatuto, sob pena da cláusula ser nula.

Assim, e quanto ao caso prático, A e B podem ser ambos sócios da sociedade por quotas, sendo este contrato social é
válido, mesmo apesar de parecer não haver uma cláusula no contrato social a indicar que o sócio tenha de responder até
determinado montante de forma subsidiária ou solidária para com a sociedade.

b) Está-se perante uma transmissão ineficaz perante a sociedade. O princípio que consta do 228º/2 CSC é o de que é
necessário o consentimento da sociedade para a transmissão das quotas para ser eficaz perante a sociedade. No entanto,
ressalva-se no final desta norma que se pode proceder à livre transmissão dessas quotas se se tratar de um cônjuge,
ascendente, descendente ou entre sócios.

Neste caso em concreto, temos a transmissão de uma participação social de um cônjuge para o outro, em que ambos são
sócios desta sociedade. Portanto, cabe perfeitamente nesta segunda parte do 228º/2 CSC. No entanto, temos o estatuto
que veio proibir esta transmissão e, nos termos do 229º/1 e 229º/3 CSC, esta cláusula é válida. Trata-se, desta forma, de
uma sociedade fechada. Se este pedido tivesse sido feito por A nos termos do 230º/1 CSC, a sociedade teria 60 dias para
deliberar (230º/4 CSC), sendo esta deliberação feita pela maioria dos votos emitidos, desconsiderando-se as abstenções.
Não tendo sido feita a deliberação no período designado, a transmissão da quota será livre. Caso a sociedade recuse o
consentimento, deverá incluir uma proposta de amortização ou aquisição da quota, tendo o cedente de aceitar a proposta
no prazo de quinze dia, sob pena desta ficar sem efeito e se manter a recusa do requerimento (231º/1 CSC). Contudo, a
sociedade não respeitando os moldes da resposta referidos no 231º/2, a cessão torna-se livre.

Desta forma, não tendo sido prestado o consentimento da sociedade, este negócio jurídico não é inválido e produz
efeitos, mas é ineficaz: não produz efeitos perante a sociedade. Isto significa que A continuará a participar normalmente
na vida da sociedade, estando B impedido de o fazer, pelo menos de forma correspondente às quotas que deveria ter. Há
aqui incumprimento contratual por parte de A, em que não deveria efectuado essa transmissão sem obter o
consentimento. Desta forma, há lugar a responsabilidade contratual, podendo B pedir uma indemnização pelos danos
sofridos.

18. A, B e C pretendem constituir uma sociedade comercial. Explique que passos é que teria de dar para esse efeito.

A constituição de uma sociedade traduz-se num processo, ou seja, num conjunto de actos e formalidades que são
necessários para a constituição da sociedade como pessoa colectiva. Há aqui três actos principais: o contrato de
sociedade ou pacto social; o registo do contrato e a sua publicação.

O contrato de sociedade ou pacto social (ou acto unilateral) é um contrato muito específico que se distingue dos demais,
porque é um contrato de fim comum a ambas as partes (obtenção do lucro e sua divisão). É também um contrato de
organização, ou seja, faz nascer uma estrutura orgânica (conjunto de órgãos que levarão ao funcionamento da própria
sociedade). Está sujeito a forma e é necessário que o contrato seja feito por escrito com a presença da(s) parte(s) (7º/1
CSC). Só deixa de ser assim se for necessária uma forma mais solene para a transmissão dos bens com que os sócios
entram para a sociedade. Nesse caso, o contrato tem de adoptar essa forma: contrato sujeito a escritura publica se a parte
entrar com imóvel. O pacto social deverá obedecer a um conjunto de menções obrigatórias (9º CSC), nomeadamente os
nomes ou firmas dos sócios fundadores, o tipo social adoptado, a firma da sociedade e o objecto da sociedade (sob pena
de nulidade do acto 41º CSC e 280º CC). Deverá também designar a sede social ou estatutária, que é onde a sociedade se
considera situada para a generalidade dos efeitos jurídicos em que a sua localização seja relevante.

Em 2005 e 2006 foram criados regimes aligeirados/simplificados para a constituição de sociedades: regime especial de
constituição imediata de sociedades (empresa na hora), a qual exige a opção por estatutos previamente aprovados, a
adopção de uma firma preexistente reservada a favor do Estado, o acto de constituição é conduzido pelo serviço
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comercial e deve, em princípio, ser terminado no próprio dia. É constituído pelos seguintes momentos: a) Próprio pacto
com estatutos previamente definidos; b) Registo do acto constituinte; c) No prazo de 24h, o serviço promove às
publicações. Temos também o regime especial da constituição online de sociedades (empresa online). Permite a
constituição de empresas sem presença física, em que o sujeito recorre a um site para o qual envia o pacto social e depois
há um conjunto de procedimentos que são seguidos e que levam, de forma simplificada, ao registo e publicação do pacto.

De seguida, tem-se o registo do contrato. Este é necessário para a constituição da personalidade jurídica (5º CSC). É,
portanto, um acto constitutivo: antes a sociedade não existe como personalidade jurídica e, portanto, este carácter não
pode ser invocado, quer nas relações internas quer, nas relações externas antes do registo. A lei permite o registo prévio
da sociedade (antes ainda da formalização do contrato). Celebrado o contrato, o registo vai converter em definitivo esse
registo prévio.

Por fim, tem-se a publicação do contrato. Não bastando apenas o registo; é necessário também a publicação do pacto
social ou do acto constitutivo. As publicações são feitas num site de acesso público que é regulado por portaria do
Ministério da Justiça. As publicações dos actos constitutivos são promovidas pela conservatória do registo comercial,
onde o registo foi efectuado (embora as despesas decorram por conta da sociedade). A publicação é condição da
oponibilidade do acto a terceiros (168º/2 CSC).

19. A e B são casados no regime de comunhão de adquiridos. A constitui uma sociedade por quotas com C e D.

a) A quem pertence a quota?

b) Quem pode exercer a posição de sócio?

a) Estando um dos sócios casados, é importante perceber a quem é que pertence a participação social. Este facto
determina-se de acordo com o regime de bens.

Sendo A e B casados, e tendo A constituído uma sociedade por quotas com C e D a título oneroso, de acordo com o
regime de comunhão de adquiridos, a quota é um bem comum (1724º, al. b) CC).

b) Contudo, nas relações da sociedade será considerado sócio apenas A, dado ter sido aquele que celebrou a sociedade
(8º/2 CSC). Caso a sociedade distribuísse lucros, esses lucros pertenceriam a ambos, A e B.

20. A, B e com pretendem celebrar um contrato de sociedade por quotas. Pretendem também que a participação
eventual futura de terceiros na sociedade seja mais limitada possível. O que é que eles podem fazer para o efeito?

Nas sociedades por quotas, em regra, a transmissão é livre entre os sócios, entre cônjuges, entre ascendentes, ou
descendentes. Fora destes casos, em regra, é necessário o consentimento da sociedade. Para tal, basta colocar uma
cláusula no pacto social que faça essa determinação, conforme o previsto no 228º/2 CSC.

21. A, B e com constituíram uma sociedade comercial com sede em Lisboa. Mais tarde, em virtude da relocalização das
operações comerciais, o seu Conselho de Administração passou a reunir-se em Madrid. Um dos sócios (A) pretende
transmitir a sua quota a B sem o consentimento da sociedade. Qual será a solução sabendo que uma transmissão nesses
termos seria possível ao abrigo da lei espanhola?

O pacto social tem de designar a sede social ou estatutária (a que está prevista nos estatutos). Este é o local definido
onde a sociedade se considera situada para a generalidade dos efeitos jurídicos em que a sua localização seja
relevante. É este o local que também determina a competência internacional relativo à um conjunto de questões
respeitantes às sociedades (63º CPC). Este é em Lisboa.

Diferente da sede estatutária é a sede principal ou sede efectiva da administração. É o local onde são tomadas as
decisões de caracter administrativo da gestão estatutária. Neste caso, esta é em Madrid.

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De acordo com o 3º/1 CSC, a lei pessoal das sociedades é aquela do estado onde se encontre a sua sede principal e
efectiva. Um dos aspectos da lei pessoal (estatuto pessoal da sociedade) são só modos de aquisição e perda da
qualidade de sócio. Por isso, esta matéria de transmissão, estando relacionada com a alteração da qualidade de sócio,
estava sujeito à lei espanhola e não à lei portuguesa, porque a sede efectiva ou principal é a que está em Madrid.

22. A vende a B a sua agência de viagens a 01/06/2020. Decorridos 4 meses, A adquire a com uma quota
correspondente a 60% do capital da sociedade X que é detentora de uma outra agência de viagens nesse quarteirão. B
alega perda de clientela e quer pedir uma indemnização a A. Pode?

A partir do momento em que a sociedade adquire personalidade jurídica (após o registo), ela torna-se num centro
autónomo de direitos e obrigações, ou seja, um centro de imputação de direitos e obrigações (o que antes não se
verificava). Isso significa que as dívidas contraídas, são dívidas da sociedade e que actos danosos praticados para com
terceiros são actos da sociedade, e não dos sócios. Existe, então, um substrato jurídico em que se cria uma base para que
a sociedade seja, ela própria titular de direitos e obrigações. Existem alguns casos em que se é levado a desconsiderar a
personalidade jurídica da sociedade (levantamento do véu da personalidade jurídica ou piercing the corporate veil),
sendo este um deles.

Os actos de imputação são os que, embora praticados pela sociedade, podem ser imputados ao sócio como se tivessem
sido praticados por ele. Um desses actos de imputação é devido à desobediência do dever (tácito) de não concorrência,
em que, A não deveria ter estabelecido outro estabelecimento comercial similar na proximidade da empresa que tenha
trespassado anteriormente a B, isto mesmo apesar de não ser A que está a incumprir o dever, mas sim a sociedade que A
criou (enquanto sócio maioritário) e que gere a empresa concorrente. No fundo, o que ele está a fazer é utilizar a
personalidade jurídica da sociedade para incumprir o dever que sobre ele recai. Portanto, nestas circunstâncias, a acção é-
lhe imputada a ele, embora seja da sociedade. Isto significa que B poderá demandá-lo pelo incumprimento deste dever de
não concorrência, dado ter-lhe provocado danos no seu negócio.

23. A é pai de B e C, que por sua vez, são pais de E (no caso de B) e de F e G (no caso de C). G sempre foi o neto
preferido do seu avô e, por isso, este pretende que ele fique com a casa de família. Para tal, vende-a à sociedade por
quotas Y detida 80% por G e 20 % pela mulher de G. Os outros netos pretendem anular a venda feita à sociedade.
Podem?

A partir do momento em que a sociedade adquire personalidade jurídica (após o registo), ela torna-se num centro
autónomo de direitos e obrigações, ou seja, um centro de imputação de direitos e obrigações (o que antes não se
verificava). Isso significa que as dívidas contraídas, são dívidas da sociedade e que actos danosos praticados para com
terceiros são actos da sociedade, e não dos sócios. Existe, então, um substrato jurídico em que se cria uma base para que
a sociedade seja, ela própria titular de direitos e obrigações. Existem alguns casos em que se é levado a desconsiderar a
personalidade jurídica da sociedade (levantamento do véu da personalidade jurídica ou piercing the corporate veil),
sendo este um deles.

Os actos de imputação são os que, embora praticados pela sociedade, podem ser imputados ao sócio como se tivessem
sido praticados por ele. Um desses actos de imputação é a venda por parte dos pais a filhos ou netos (877º CC). Estas
vendas carecem do consentimento dos outros filhos ou netos para evitar que negócios simulados contornem a regra da
protecção dos herdeiros legitimários e a sua quota na sucessão (877º CC). Neste caso, há uma instrumentalização da
personalidade jurídica da sociedade.

Portanto, estamos perante um caso de abuso de personalidade jurídica uma vez que A vendeu a casa de família à
sociedade por quotas Y, detida por G (60%) e pela sua cônjuge (20%). Deve-se tratar esta venda como tendo sido feita
directamente a G e à sua cônjuge, sendo a venda inválida (289º CC) a partir do momento não tenha havido o
consentimento dos outros descendentes. Assim, não pode ser oposta a personalidade jurídica aos outros descendentes que
interpõem a acção de anulação, seguindo a acção e o negócio destruído, retroactivamente.

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24. A, B e com são sócios da sociedade por quotas X que se dedica à produção de têxteis de vestuário. Tendo a
sociedade X sofrido perdas importantes, ela começa a transmitir a sua produção para uma outra sociedade detida
exactamente pelos mesmos sócios. E, credor da sociedade X em 10  000€, não consegue obter satisfação do seu crédito
no âmbito de uma acção executiva interposta à sociedade X, pretendendo responsabilizar por essa dívida A e B. Pode?
Com que base?

A partir do momento em que a sociedade adquire personalidade jurídica (após o registo), ela torna-se num centro
autónomo de direitos e obrigações, ou seja, um centro de imputação de direitos e obrigações (o que antes não se
verificava). Isso significa que as dívidas contraídas são dívidas da sociedade, e que actos danosos praticados para com
terceiros são actos da sociedade, e não dos sócios. Existe, então, um substrato jurídico em que se cria uma base para que
a sociedade seja, ela própria titular de direitos e obrigações. Existem alguns casos em que se é levado a desconsiderar a
personalidade jurídica da sociedade (levantamento do véu da personalidade jurídica ou piercing the corporate veil),
sendo este caso em concreto um caso de responsabilização dos sócios. Estes casos verificam-se quando é mais efectivo o
levantamento do véu.

Existem diversos casos típicos, dentro dos quais se inclui a descapitalização gerada pelos sócios. Esta ocorre, por
exemplo quando determinada sociedade começa a ter problemas de liquidez e os sócios constituem uma nova sociedade,
para a qual vão transmitindo a produção. Neste caso, pode desconsiderar-se a personalidade jurídica desta sociedade
original para responsabilizar os seus sócios, face aos credores que não venham a ser satisfeitos, justamente pela acção
dos sócios de transferir a produção para outra sociedade. São, aqui, infringidas as regras de autonomia do património.

Neste caso, há uma instrumentalização da personalidade jurídica da sociedade, a qual foi utilizada para provocar danos
aos credores, tratando-se aqui de um caso de abuso de direito (334º CC). Ao transmitir a sua produção para uma nova
sociedade, com exactamente os mesmos sócios, há uma pretensão clara de provocar danos aos credores, de modo a não
serem responsabilizados pela dívida de 10 000€.

25. A, B e com são sócios da sociedade por quotas X que se dedica à compra para revenda de automóveis, sendo esse o
seu objecto social. A, sócio-gerente, vende a B, que no passado tinha sido gerente de uma sucursal de X, um
computador de um lote de 100 computadores que a sociedade tinha comprado para revenda.

a) Pode X mais tarde vir a invocar face a B a nulidade do negócio por falta de capacidade da sociedade?
Porquê?

b) O que poderia, então, a sociedade fazer?

a) O sistema anglo-saxónico consagra a chamada ultra vires doctrine, ou seja, uma sociedade só pode praticar os actos
previstos no seu objecto. Se não o fizer, está a actuar ultra vires - para além dos seus poderes. Desta forma, o negócio é
nulo, e sendo-o, não pode sequer ser ratificado pelos sócios. Contudo, não rege este sistema em Portugal, sendo
impeditivo à capacidade jurídica das sociedades comerciais actuar de forma desconforme com o fim da sociedade, ou
seja, o 6º CSC indica que a capacidade compreende os direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução
do seu fim, embora com algumas excepções.

Desta forma, verifica-se que, embora o objecto da sociedade Y seja a revenda de automóveis e tenha decidido revender
um lote de computadores, o objecto não limita a capacidade do sujeito. Este acto praticado pela sociedade por quotas X é
válido e eficaz (260º/1 CSC); mas, embora o acto não seja nulo, há um conjunto de sanções que impendem sobre a
sociedade (mais concretamente a sua administração) praticarem-se actos que estejam fora do seu âmbito social.

b) Há uma regra específica que decorre do 260º/2 e do 409º CSC, nos termos do qual a sociedade pode invocar face a
terceiros as limitações decorrentes do seu objecto social, desde que consiga provar que o terceiro sabia ou não podia
ignorar, tendo em conta as circunstâncias que o acto praticado não respeitava o objecto social se a sociedade não tiver
por deliberação expressa ou tácita assumido o acto. Portanto, neste caso em concreto, não havendo uma deliberação por
parte da sociedade a assumir o acto, seria necessário que B soubesse ou devesse saber qual o objecto da sociedade, coisa
que com certeza deveria saber pois tinha sido gerente dessa sociedade no passado, conhecendo, muito provavelmente, o
teor do pacto social. A sociedade poderá assim opor-lhe a ineficácia do acto.

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26. A sociedade comercial por quotas A dedica-se à construção de edifícios. No âmbito da sua actividade, celebra com
B um contrato de empreitada que tem por objecto a construção de um edifício de 2 andares para seguimento de luxo.
Para esse efeito celebra um contrato de subempreitada com a sociedade por quotas C, que se dedica ao fornecimento e
aplicação de pedra de mármore. A obra iniciou-se e C começou os seus trabalhos de assentamento do mármore,
contudo, devido a dificuldades financeiras teve de os interromper. Pode A constituir hipoteca sobre um imóvel seu, a
favor do banco X para com conseguir obter crédito junto deste?

Existem diversos sistemas de atribuição de capacidade a uma sociedade, tal como nas pessoas colectivas em geral. É
possível haver uma capacidade geral de todos os direitos e obrigações, bem como haver uma capacidade que esteja
limitada pelo fim da sociedade (e não pelo seu objecto) (6º CSC). Esta norma indica que a capacidade compreende os
direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim, embora com algumas excepções (vedados
por lei ou inseparáveis da personalidade singular). Por isso se diz vigorar aqui o princípio de especialidade do fim. Como
o fim da sociedade comercial é o lucro para repartir entre os seus sócios, todos os actos para gerar esses lucros integram-
se na capacidade das sociedades. Como o 6º CSC é uma norma imperativa, os actos que a contrariem são nulos, visando
assim a norma tutelar quer os credores sociais, quer os sócios. A nulidade em termos gerais pode ser invocada a todo o
tempo e por qualquer interessado (sócios ou credores sociais).

Desta forma, à partida, A não poderia constituir hipoteca a C, dado o seu fim é a construção de edifícios e não a
prestação de garantia a outra entidade. Contudo, temos no 6º/3, 2ª parte CSC que uma das situações excepcionadas para a
prestação de garantias é o caso de haver justificado interesse próprio da sociedade garante ou se se tratar de uma situação
em que haja uma relação de domínio ou de grupo. Trata-se de uma liberalidade realizada por A com vista à realização do
seu fim social (6º/2 CSC). A sociedade pode praticar as liberalidades que possam ser consideradas usuais de acordo com
as circunstâncias da época e estejam conformes com a própria sociedade. Nesse caso, esses actos são válidos.

No fundo, percebe-se que se o subempreiteiro incumprir, A também entre em incumprimento e arrisca-se a ter de
indemnizar por incumprimento de contrato. Assim, trata-se de uma prestação de garantia a título gratuito de A a C,
havendo aqui um justificado interesse próprio, ou seja, de forma a que A consiga ver a sua empreitada terminada, uma
vez que a actividade de B é essencial para que a construção seja concluída com sucesso, inserindo-se assim, no disposto
no 6º/3.

27. Suponha que A tinha uma participação social de 60% numa sociedade C. Encontrando-se A em dificuldades
económicas, poderia C constituir uma garantia pessoal a favor de A?
As prestações de garantias por uma sociedade podem vir a ser prestadas a título gratuito ou a título oneroso (quando haja
um correspectivo; paga-se para a sociedade prestar essa garantia). A lei veda a prestação de garantias a título gratuito,
salvo em duas excepções: quando há um justificado interesse da sociedade garante e quando há a prestação de garantias
numa relação de domínio ou de grupo.

Este caso pratico poderá eventualmente enquadrar-se na segunda situação. De forma geral, a sociedade dominante é
quem presta garantias a favor da dominada, dado ter uma influência decisiva sobre esta (maior capital social, maior parte
dos votos na assembleia geral, direito de nomear a maior parte dos membros do conselho de administração, …). Nesta
situação, em princípio, se prestar garantias à sociedade dominada, corresponde a um interesse próprio dele. Este tipo de
garantia chama-se garantia downstream. Pode também ocorrer o contrário, uma garantia upstream, onde a sociedade
dominada presta garantia à sociedade dominante. Nem sempre se poderá firmar o interesse da sociedade dominada em
prestar uma garantia a favor da sociedade dominante: os seus interesses, com grande frequência, não são coincidentes. A
sociedade dominada tem interesses específicos, próprios, que são ou podem ser diferentes da sociedade que a domina.
Haverá, nesse caso, a necessidade de afirmar o relevante interesse da sociedade garante.

Quanto ao nosso caso prático, embora seja a sociedade dominada C a prestar garantia à sociedade dominante A, teria de
haver um motivo válido que o justificasse, como por exemplo, A ser um importante fornecedor de C. Teria de existir,
portanto, um justificado interesse próprio para a sociedade C de forma a poder, de forma legal, prestar esta garantia a A,
onde a prestação da garantia nestes termos é válida.

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28. A, B e C constituem uma sociedade por quotas, sendo a atribuído no pacto social ao sócio A o direito de ser gerente
enquanto se mantiver a sua qualidade de sócio, e a B o direito de ceder a sua quota a terceiro sem necessitar de
consentimento da sociedade.

a) Estas cláusulas são validas?

b) Suponha que no exercício da sua gerência, A celebra diversos negócios ruinosos conduzindo a sociedade a
uma situação económica difícil. Podem os outros sócios destituí-lo?

c) Poderiam os sócios A e B votar em assembleia geral a atribuição de um direito especial à gerência ao sócio
A?

a) As participações sociais consistem num conjunto unitário dos direitos e deveres dos sócios. Elas podem ser adquiridas
originariamente ou de forma superveniente. Podem também ser adquiridas inter vivos ou mortis causa. Os direitos dos
sócios estão previstos no 21º CSC, em que podem ser distinguidos de acordo com a sua função ou de acordo com a sua
titularidade.

Este caso prático prende-se com esta questão da titularidade dos direitos dos sócios. Os direitos gerais são os que
pertencem a todos os sócios, embora possam pertencer-lhes em medida diversa (Ex: os votos, de acordo com a sua
participação). Por sua vez, os direitos especiais são aqueles que o pacto de sociedade atribui a certos sócios ou a um
conjunto de sócios titulares de uma determinada categoria de acções (24º/1 CSC). Estes direitos consistem numa posição
privilegiada, situação esta que não pode, em princípio, ser suprimida ou limitada sem o consentimento dos respectivos
titulares. Temos então o princípio da igualdade de tratamento dos sócios, o qual determina que não possa ser concedido a
um dos sócios um tratamento diverso (relativamente a outros sócios) sem que ele assente numa razão de natureza
objectiva. Se não existir essa razão de carácter objectivo, o sócio não pode beneficiar desse tratamento especial.

Temos então que foi atribuído a A no pacto social o direito de ser gerente enquanto se mantiver a sua qualidade de sócio.
Trata-se de um direito especial à gerência, onde é cláusulado que um determinado sócio tem o direito de ser o gerente
daquela sociedade por toda a vida da sociedade, enquanto for sócio ou estabelecer-se que só poderá ser despedido por
justa causa. Esta cláusula não poderá ser suprimida nem poderá ser alterada por via de deliberação sem que o próprio
sócio-gerente o tenha também consentido (24º, 257º/3 CSC).

Quanto a B, foi igualmente cláusulado no pacto social o direito de ceder a sua quota a terceiro sem necessitar de
consentimento da sociedade. Esta é, também uma cláusula especial permitida por lei, em que o sócio pode ceder a quota
em circunstâncias diversas dos outros sócios (229º/2 CSC). Assim, esta é também uma cláusula válida.

b) Embora lhe tenha sido conferido um direito especial de ser gerente enquanto se mantiver a sua qualidade de sócio, A
só pode ser suspenso ou destituído judicialmente por acção proposta pela sociedade, onde essa acção terá de ter por base
uma deliberação dos sócios, tendo de existir justa causa para o efeito (257º/3/4 CSC). Verifica-se, portanto, que os outros
sócios poderiam destituí-lo mediante deliberação em assembleia geral (246º/1, al. g) CSC) e justa causa para o efeito,
coisa que existe porque A procedeu a vários negócios ruinosos, violando o dever de prudência, arriscando a própria
existência da sociedade (257º/6 CSC). De seguida, a sociedade terá de propor uma acção judicial contra A.

c) Considerando que este direito não existe inicialmente, A e B querem atribuir este direito especial de gerência a A após
a constituição da sociedade, sem a intervenção de C. Para tal, não o poderão fazer por deliberação, mas sim apenas por
alteração do contrato de sociedade, incluindo aqui a referida cláusula, dado que os direitos especiais poderão apenas ser
atribuídos por contrato (24º CSC). Essa alteração do contrato de sociedade poderá apenas ser votada por unanimidade,
obedecendo ao princípio da igualdade de tratamento dos sócios. Desta forma, poderia haver uma deliberação de alteração
de pacto especial para conferir direitos especiais a A, mas apenas se houvesse uma votação por unanimidade, o que não
aconteceu, já que C não participou na mesma.

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29. A tem uma quota na sociedade B. Precisando de um financiamento para desenvolver a sua actividade, pretende
constituir um penhor sobre essa quota.

a) Poderá fazê-lo?

b) Suponha que A é devedor do C e não cumpre a sua obrigação perante este sujeito. C pretende interpor uma
acção executiva na qual seja penhorada a quota de A. Pode fazê-lo, sabendo que nos termos do pacto social é
necessário o consentimento de todos os sócios para a sua alienação?

a) As participações sociais consistem num conjunto unitário dos direitos e deveres dos sócios. É por ter uma posição
autónoma que elas podem ser objecto de direitos sociais, ou seja, é possível o penhor de uma participação social. É,
então possível que A penhore a quota que tem da sociedade B, desde que se respeite a forma exigida e que seja feito
dentro das limitações estabelecidas para a transmissão inter vivos de tais participações.

b) As quotas são objecto autónomo de execução, onde, fazendo parte do património de um sujeito, podem ser objecto de
uma acção executiva (239/1º CSC). Não poderá haver uma limitação ou proibição da penhora no pacto social, nem tão
pouco está dependente do consentimento dos sócios da sociedade (239º/2 CSC).

Assim, tendo C um tendo um título executivo, interpõe uma acção de execução para pagamento de quantia certa e
penhora as acções. Estas são transmitidas judicialmente onde, com o produto da sua venda, vão satisfazer o credor.

30. A é titular de uma quota na sociedade B. Para se financiar, vende a B os créditos decorrentes da distribuição dos
lucros dos dois exercícios seguintes. Contudo, não transmite a quota. Pode fazê-lo?

No âmbito de uma participação social, o sujeito tem uma série de direitos, nomeadamente de participação, patrimoniais e
de controlo. Nos direitos patrimoniais, engloba-se o direito ao dividendo, ou seja, ao direito do lucro distribuído após
cada exercício, o qual depende da existência de lucro e o da deliberação de distribuição por cada um dos sócios. Trata-se
de um direito destacável, isto é, é possível transmiti-lo autonomamente sem a participação social. Trata-se de uma
vantagem concedida a sócios pelo seu papel na fundação da sociedade (16º, 19º/4 CSC). A cessão prévia dos créditos
enquadra-se nestes termos, em que os créditos correspondentes a eventuais lucros de exercício futuros são transmitidos a
terceiros. Isso não significa que as quotas sejam transmitidas; significam simplesmente que o crédito foi transmitido
isoladamente.

Desta forma, A não transmitiu a quota; mantém-se seu titular. O que A fez foi vender os créditos decorrentes aos
dividendos que possam vir a ser cedidos no futuro. Assim, se o que aconteceu foi a manutenção da quota e a transmissão
desse dividendo, isto é possível e é, até, comum. A está a transmitir um direito futuro que ele possa vir a ter face à
sociedade – distribuição dos lucros. Isto significa que, nos dois anos subsequentes não vai ser A a exigir à sociedade a
distribuição do dividendo, cabendo isto a C.

31. A, B, C e D constituem uma sociedade por quotas com capital social e 20  000. Para a realização esse capital social,
A entregou 5  000€, B obrigou-se a prestar a sua actividade como gerente a título gratuito durante 1 ano, C cede um
crédito de 4  000€ sobre a sociedade X e D concede o gozo de um móvel seu, a título gratuito, à sociedade durante 2
anos. Pronuncie-se quanto às entradas, como à realização do capital social.

Ao criar uma sociedade, os sócios estão adstritos a determinados direitos e obrigações, tais como o direito de quinhoar
nos lucros e o direito de participar nas deliberações, bem como a obrigações de entrada, acessórias, suplementares ou
suprimento. Neste caso prático, terão de ser analisadas as obrigações que cada um dos sócios prestou aquando da
constituição da sociedade, percebendo se se serão adequadas.

A obrigação de entrada é a obrigação principal, estando prevista no 20º/1 CSC. O sócio está obrigado a entrar com bens
susceptíveis de penhora, ou então, sempre que tal seja permitido, com indústria. Distinguem-se então as entradas em
dinheiro, em espécie, e em indústria. Numa sociedade por quotas, estas poderão ser feitas em dinheiro, em espécie e em
indústria. As entradas em dinheiro são feitas, em regra, através de moeda escritural. As entradas em espécie podem ser
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bastante distintas, consistindo na transmissão ou na constituição de direito reais sobre bens, na entrega de coisas móveis,
corpóreos, máquinas, patentes, marcas, participações sociais, créditos, …, ou podem ainda entrar com a atribuição à
sociedade de um direito de utilizar um bem a título gratuito durante um determinado período de tempo. Quanto às
entradas de indústria, traduzem-se numa determinada actividade que o sócio disponibiliza à sociedade ou então o seu
trabalho.

Cada tipo societário permite algumas tipologias diferentes de entrada. Verifica-se que numa sociedade por quotas, as
entradas de indústria não são admitidas (202º/1 e 277º CSC). Havendo algum sócio que seja obrigado a desenvolver uma
determinada actividade a favor da sociedade, isso tratar-se-á de uma obrigação acessória.

Assim, sendo o capital social numa sociedade por quotas livremente fixado (201º CSC), embora o valor nominal das
quotas não deva ser inferior a 1€ (219º/3 CSC). No caso em concreto, o capital social é de 20 000€, estando cumprido
este requisito. Pelo 202º CSC, verifica-se que a entrada dada por:

- A: entrou com dinheiro (5 000€), sendo esta entrada válida;

- B: obrigou-se à prestação de serviço de sócio-gerente a título gratuito durante um ano. Esta é considerada uma
entrada de indústria, não sendo permitida nos termos do 202º/1 CSC. Numa sociedade por quota apenas
responde o património da sociedade perante os credores sociais. Se B presta apenas um serviço, não está a entrar
com património nenhum perante os credores sociais. Estas entradas de indústria são apenas permitidas em
sociedade de sócios com responsabilidade ilimitada, como sendo os sócios de sociedades em nome colectivo e
os sócios comanditados numa sociedade em comandita. Assim, a entrada de B não será válida.

- C: cedeu um crédito de 4 000€ sobre uma outra sociedade X, estando a transmitir o direito de propriedade
sobre um crédito (cessão de crédito). Sendo uma entrada diferente de dinheiro e em indústria, trata-se de uma
entrada em espécie. Uma vez que o crédito é penhorável (20º/1 CSC), esta entrada é válida. Mas não se sabendo
a situação da Sociedade X (pode estar insolvente ou não), não sabemos se este crédito é realmente penhorável,
tendo de ser verificado por um ROC (28º CSC). Contudo, temos o 179º CSC que afasta este artigo, que nos diz
que a verificação do ROC pode ser substituída se estes sócios, por expressa assunção no contrato social, se
responsabilizarem de forma solidária por este valor.

- D: a título obrigacional, D cedeu à sociedade o gozo de um móvel seu gratuitamente durante 2 anos. Não
houve a transmissão de um direito real (direito de propriedade) desse bem, mas a transmissão de um direito de
natureza obrigacional (contrato de comodato), garantindo, como contrapartida, uma quota da sociedade. Esta
situação não é pacífica na doutrina, onde se pode considerar a (im)penhorabilidade do bem móvel. A sociedade
não é titular deste bem móvel, não sendo, portanto, sujeito a penhora. Outra questão prende-se com a avaliação
da mesma; como determinar o valor desta entrada de forma a corresponder à quota que irá D ser titular? Pode-se
considerar o valor desta entrada o correspondente à renda que a sociedade teria de pagar durante 2 anos pela
utilização deste bem móvel. Tem-se outra questão a resolver que corresponde ao tempo das entradas, em que
devem ser realizadas até ao momento da celebração do contrato, não podendo ser diferidas (26º CSC). Devido a
estas questões levantadas, parte da doutrina afirma não ser possível dar como entrada um bem desta natureza.
Por sua vez, outros há que crêem que se trata de uma entrada válida, com base no 25º/4 CSC, na medida em que
o gozo do bem transmitido (o qual tem um valor económico) poderá ser muito útil para a vida da sociedade,
aproveitando, nessa medida, os próprios credores. OU até se poderá considerar que o direito de utilização é, só
por si, um crédito, podendo ser, por isso, penhorável. Desta forma, considera-se a entrada de D como sendo
válida.

32. A, B, C e D constituíram uma sociedade por quotas, tendo ficado previsto no pacto que A se obriga a garantir as
dívidas da sociedade.

a) Uma cláusula nestes termos é válida?

b) Suponha que a cláusula fixava um valor máximo de 5  000€, estabelecendo-se que a contrapartida a pagar ao
sócio seria de 8%. A disposição é válida sabendo que os juros bancários para quantias desse valor para
sociedades idênticas são 5%?

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c) Suponha que B e C se obrigam a emprestar à sociedade, cada um deles, até 5  000€ a uma taxa de juro de 2%
durante 6 meses, que se tornara necessário para cobrir perdas. Sendo a quota de B vendida a D, pode a
sociedade exigir-lhe o pagamento dos 5  000€?

d) Suponha que D não paga. Pode ser excluído da sociedade? Quais os meios de defesa desta?

a) Numa sociedade por quotas, não respondem, por regra, o património dos sócios perante os credores, mas sim, o
património da própria sociedade (197º/3 CSC). Contudo, é possível estabelecer que um ou mais sócios poderão ser
responsabilidades por essas dívidas. Trata-se de uma obrigação acessória. Estas acrescem às que são as obrigações
principais (entradas); mas isto não quer dizer que tenham uma importância diminuída face às principais. Estão previstas
para as sociedades por quotas no 209º CSC, tendo se se fixar no pacto quais os elementos essências dessas prestações
(em termos objectivos e subjectivos) e especificar se são a título gratuito ou oneroso. Contudo, temos que, para uma
sociedade por quotas, neste tipo de cláusula terá de ser fixado um montante máximo para o qual serão responsabilizados
(197º e 198º/1 CSC). Este deve-se ao facto de, sendo a responsabilidade ilimitada do sócio, estaríamos a converter a
sociedade por quotas num outro tipo de sociedade, violando, assim, o seu tipo.

Neste caso em concreto, temos um sócio, A, que se obriga a assumir as dívidas da sociedade. Poderá fazê-lo, nos termos
acima descritos, embora nada indica que se tenha estabelecido no pacto social um montante máximo para esse efeito.
Desta forma, pela violação da norma imperativa do 198º/1 CSC, esta cláusula do contrato é nula.

b) Como já foi referido, uma garantia acessória deste tipo poderá ter um carácter gratuito ou oneroso (209º/1 e 287º
CSC), em que, em qualquer circunstância, o valor da contraprestação nunca pode exceder o valor da prestação acessória.
Neste caso, sendo que A se disporia a pagar as dívidas da sociedade até um montante de 5 000€, com uma taxa de juro de
8%, trata-se de uma prestação de carácter oneroso. Tratar-se-ia de uma cláusula válida, não fosse o facto da contrapartida
de juros de 8% serem superiores ao praticados junto às entidades bancárias (5%). Ou seja, isto equivaleria a lapidar o
património social em favor de um sócio que conseguiria prestar um serviço ou ceder um bem acima do valor de mercado,
e poderia ser mais uma porta aberta a propósito da venda dos bens da sociedade aos sócios, mais uma forma de devolver
aos sócios o valor das suas entradas (209º/3, 287.º/3 CSC). Assim sendo, trata-se de uma cláusula nula.

c) Da quota do sócio, enquanto conjunto unitário de direitos e obrigações, faz parte obviamente a obrigação genérica que
ele tem para com a sociedade, não apenas ele, mas todos os sócios que estejam obrigados a esta prestação (prestar um
serviço, de ceder um bem, de emprestar dinheiro à sociedade, etc.).

Assim, na eventualidade de serem transmitidas as participações sociais, quando do pacto negocial resulta da obrigação
para esse ou para todos os outros sócios transmitentes de realizar prestação acessórias, o que adquire a participação
social também está obrigado a estas prestações acessórias; transmitindo-se a quota, o dever de realizar as prestações
acessórias também se transmite com elas. Esta característica deve-se ao carácter nominativo da participação social (299º
CSC). Isto é inerente à qualidade de sócio daquela sociedade. Excluem-se aqui aquelas prestações que são infungíveis,
ou seja, aquelas em que só aquele sócio poderá cumprir dado terem a ver com as qualidades especiais daquele sócio.

Assim, neste caso, está D obrigado, devido à transmissão da quota de B, a uma prestação acessória de carácter oneroso
de 5 000€, obtendo perante tal empréstimo, uma contrapartida na medida dos 2%.

d) Contrariamente à obrigação de entrada e à obrigação de prestações suplementares, o sócio não pode ser excluído da
sociedade nem os seus direitos sociais podem ser limitados (por exemplo, direito ao lucro, direito de voto não podem ser
limitados) apenas em função do incumprimento de uma obrigação de prestação acessória.

No que se refere à prestação acessória, se o sócio não a cumprir (209º/4 e 287º/4 CSC), não atinge a posição de sócio,
não podendo ser excluído da sociedade por isso (em princípio). Havendo o incumprimento de uma obrigação, aplica-se
aqui o regime geral do incumprimento das obrigações (790º ss CC), mas com as particularidades dos contratos a que
correspondam as prestações acessórias. Mas nada impede que os estatutos prevejam outras sanções (241º + 237º CSC),
nomeadamente, a exclusão do sócio que não realiza prestação acessória específica.

Desta forma, não tendo sido indicado no pacto social a exclusão do sócio que não realize a prestação acessória, D não
poderá ser excluído da sociedade. A sociedade poderá apenas reagir como qualquer outro credor, ou seja, sujeitar D ao

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regime civil de incumprimento das obrigações (790º ss CC), onde a sociedade, tendo um título executivo em mão,
poderá intentar uma acção de execução para pagamento de quantia certa.

33. A, B, C e D constituem a sociedade por quotas X, tendo no pacto social ficado definido que poderiam ser exigidos a
B e a C até 5  000€ a cada um deles como prestações suplementares.

a) Estando a sociedade em dificuldades financeiras, a gerência composta por A e D exigiu 4  000€ a C. Este
recusa. Poderá C vir a ser excluído da sociedade?

b) Caso a sociedade seja declarada insolvente, podem as prestações suplementares que B e C realizaram no
montante de 3 000€ cada um deles ser restituídas?

c) Suponha que se estabelece no pacto social que possam ser exigidas prestações suplementares até 15  000€.
Quanto poderá ser exigido a cada um dos sócios?

a) De acordo com o 210º CSC, as prestações suplementares são prestações em dinheiro sem juros que a sociedade exigirá
aos sócios. A realização de prestações suplementares tem de estar prevista no pacto, bem como o montante global dessas
prestações, sendo nula a cláusula que não fixar estes elementos. Para além do montante global, os estatutos têm de fixar
também os sócios que ficam obrigados e o critério da repartição dessas prestações pelos sócios (quanto poderá caber a
cada um deles). Se estes elementos não estiverem determinados, daí não decorre a nulidade. Nesse caso, todos os sócios
ficam obrigados e, se nada se disser quanto ao critério de repartição, esse critério é o do valor da quota (proporcional à
quota do capital) (210º/4 CSC). Se as prestações suplementares não estiverem originariamente previstas no estatuto, este
tem de ser alterado por maioria qualificada, e a quem não vota a favor, não podem ser exigidas essas prestações
suplementares (86º/2 CSC).

Depois, tem de haver uma deliberação social que as venha exigir, determinando o seu valor concreto (dentro do quadro
inicialmente definido) (210º e 211º CSC). Esta deliberação tem de fixar o montante global exigível (o valor exigível aos
sócios, e não necessariamente o valor geral das prestações suplementares previstas no pacto).

Se um ou mais sócios não realizarem estas prestações suplementares no prazo em que for fixado na comunicação
realizada pela gerência, o sócio está sujeito à exclusão. A gerência deve avisar o sócio, por carta registada, que a partir
do 20.º dia seguinte à recepção dessa carta fica sujeito a exclusão. Portanto, se o pagamento não for realizado nesse
período de tempo, os sócios podem deliberar que ele seja excluído da sociedade. Caso seja deliberada a exclusão, a quota
perdida a favor da sociedade será depois por esta vendida (212º/2, 204º/2 e 205º CSC).

Mas realizadas essas prestações, elas podem ser restituídas no todo ou em parte. Para isso é necessária uma deliberação
social que o autorize (213º CSC). Há limites para a deliberação de restituição de prestações suplementares: só pode ser
validamente tomada se o património social líquido não se tornar inferior à soma do capital e da reserva em consequência
da restituição.

Desta forma, tem-se que estando previsto no pacto social a exigência de um valor de até 5.000€ a B e a C, esta cláusula é
válida. O que a mesma, no entanto, não contém é o critério de repartição dessas prestações. Neste caso, deveriam ser
exigidos a B e a C o valor proporcional à quota do capital (210º/4 CSC).

Verifica-se também que não houve uma deliberação social a exigir o valor concreto da prestação (4 000€) (210º e 211º
CSC). Como tal, este valor não poderia ser exigido a C, não estando, nesse sentido, a sua posição na sociedade em risco.

b) Se for declarada insolvência da sociedade, não há lugar à restituição das prestações suplementares aos sócios (213º/3
CSC). Este valor será comparado ao valor do capital social. Desta forma, B e C perderiam os 3  000€ das prestações
suplementares já realizadas.

c) Após a deliberação social que as venha exigir, e determinando o seu valor concreto, a sociedade não terá de exigir o
valor geral das prestações suplementares previstas no pacto (210º e 211º CSC). Para além do montante global, os
estatutos têm de fixar também os sócios que ficam obrigados e o critério da repartição dessas prestações pelos sócios. Se
estes elementos não estiverem determinados, todos os sócios ficam obrigados e, esse critério é o proporcional à quota do
36
capital (210º/4 CSC). A falta desta determinação do critério de repartição não leva à nulidade desta cláusula do pacto que
estabelece o dever de realizar prestações suplementares, aplicando-se simplesmente a regra supletiva da
proporcionalidade da participação social.

34. A, B, C e D são sócios da sociedade por quotas X. Essa sociedade deliberou que A e B devem emprestar à sociedade
5  000€ cada um durante 18 meses, sem juros.

a) Pode?

b) Suponha que a mesma sociedade está com dificuldades para satisfazer as obrigações vencidas devido a
diversos incumprimentos dos seus clientes. Nesse quadro, A empresta à sociedade 10 000€. Suponha que a
sociedade venha a ser considerada insolvente, pode A reclamar o seu crédito e exigir os eu pagamento?

c) Suponha que essa sociedade foi dotada com capital social de 5 000€, apesar de, para o desenvolvimento da sua
actividade, carecer de um valor superior. Por essa razão, A e B emprestam à sociedade durante 18 meses
10 000€. Decorridos 10 meses, A compra mercadoria à sociedade, obrigação que tinha assumido no pacto
social, ficando a dever, em resultado dessa compra, 15 000€. Pode A, com receio da insolvência da sociedade
compensar esse valor com o crédito à restituição dos 5 000€ que se vence nessa data?

d) Suponha que essa quantia de 5 000€ tinha sido restituída a 01/06/2019. A 02/01/2020 E, credor da sociedade,
deduz um pedido de declaração de insolvência, que vem a ser declarada a 08/08/2020. A 02/12/2020, o
administrador da insolvência resolve essa prestação e exige a B a sua restituição. Pode? Por que motivo?

a) Os suprimentos são contratos regulados pelo direito societário e consistem num contrato pelo qual um sócio empresta
à sociedade dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a sociedade obrigada a restituir uma coisa do mesmo género e
qualidade (243º CSC). Estes suprimentos podem ser gratuitos ou onerosos. Estes suprimentos podem ser estabelecidos
por pacto social ou por deliberação dos sócios, embora não vincule os sócios que não tenham votado a favor.

Uma das características dos suprimentos é que têm de ter carácter de permanência: eles precisam desempenhar a função
do capital social e é por isso que por vezes chama aos suprimentos quase capital social. Sabe-se que efectivamente se
trata de um suprimento (e não de um simples adiantamento de tesouraria) quando esta disponibilização de meios tem
esse carácter de permanência. A lei estabelece presunções ilidíveis de permanência, sendo uma delas o estabelecimento
de um prazo de reembolso superior a um ano (243º/2 CSC).

Desta forma, tendo havido uma deliberação de empréstimo à sociedade por parte de A e B de 5 000€ cada um, verifica-
se o carácter de permanência que caracterizam os suprimentos, uma vez que este reembolso será num prazo superior a
um ano. Se A e B votaram a favor na deliberação, pode-lhes ser exigido este valor de suprimento. Caso contrário, não
lhes pode ser exigido este valor.

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Um contrato de suprimento pode ser uma prestação acessória 209 CSC. Caso os seja, e se estiverem preenchidos os
requisitos das prestações acessórias, o sócio é mesmo obrigado a fazer essa prestação não sendo necessário uma
deliberação nesse sentido. Aplicar-se-ia na mesma o regime do contrato de suprimento, porque efectivamente o contrato
entre o socio e a sociedade tem carácter de permanência.

Sendo uma prestação acessória, teriam de se verifica se estavam certificados todos os requisitos desta: valor máximo
afixado, carácter oneroso ou gratuito. Se não tivesse afixado estes elementos, a disposição era nula.

Se não fosse prestação acessória, poderia ser deliberado este empréstimo enquanto contrato de suprimento. Nesse caso
apenas vinculava o sócio que tivesse deliberado favoravelmente.

b) Face ao incumprimento de obrigações de vários clientes, A emprestou à sociedade 10 000€, sem mais nada ter dito.
Desconhece-se, assim, se tem carácter de permanência ou não, vindo a sociedade depois ser declarada insolvente. Não
está estabelecido se se trata de um suprimento ou não, dado que é muito vulgar os sócios emprestarem dinheiro à
sociedade para resolverem dificuldades de tesouraria (avanços de tesouraria). Cabe, assim, ao administrador da
insolvência qualificar o crédito.
37
O regime a ser aplicado na insolvência é muito diferente caso se trate de um suprimento ou não. Assim, terá de se
analisar se se trata de um suprimento ou de um simples empréstimo à sociedade.

Para verificar se é um suprimento, tem de se verificar se esta quantia visa suprir uma falta de capital social, coisa que os
suprimentos têm. A presunção de um ano são presunções de carácter de permanência, algo que não sabemos pelo
enunciado. Se o reembolso acordado fosse superior a um ano, assumia-se que tinha carácter de permanência. Caso
contrário, tinha de se provar que tinha carácter de permanência, ou seja, que visava substituir a falta de capital social da
sociedade. Aqui, tratar-se-iam de créditos subordinados, os quais seriam pagos em último lugar, nos termos do 48º, al. i)
CIRS.

Se nada disse fosse demonstrado e fosse um simples adiantamento para resolver problemas de tesouraria, não se visava
substituir o capital social, não sendo, logo, um suprimento. Nesse caso, são créditos comuns da insolvência.

c) Existe um empréstimo à sociedade a 18 meses por A, só que no âmbito de uma obrigação acessória, pode o sujeito
obrigar-se a adquirir mercadoria à sociedade. Esse montante não foi, no entanto, pago, e quer ver compensado esse
crédito com o valor que emprestou.

Tratando-se de um empréstimo que visa suprir a falta de capital social à sociedade, e verificando-se o seu carácter de
permanência (243º CSC), trata-se de um suprimento por parte de A. Nesse âmbito, a compensação que este pretende não
é possível nos termos do 245º/3, al. b) CSC.

d) Na eventualidade da sociedade ser declarada insolvente, em primeiro lugar e nos termos do 121º/1, al. i) CIR, o
administrador pode resolver, em benefício da massa, os reembolsos dos suprimentos realizados no ano anterior à abertura
do processo. Portanto, todos aqueles suprimentos que forem reembolsados nesse período de tempo podem ser resolvidos,
o que quer dizer que o sócio tem que entregar esse esses valores para depois serem incluídos na massa.

Assim, tendo o pedido de declaração insolvência sido deduzido a 02/01/2020, e sido declarado a 08/08/2020, poderia o
administrador da insolvência resolver esta prestação e exigi-la a B porque o reembolso foi feito depois de 1 ano da
abertura do processo (121º/1, al. i) CIR). Neste âmbito, ao resolver o pagamento, significa que este não poderia ter sido
feito a B, tendo este de devolver a quantia que foi reembolsada, a qual fará parte da massa. Depois, se B assim o desejar,
pode reclamar este crédito, embora apenas enquanto crédito subordinado (48º, al. i) CIRS).

A disposição do 245º/5 CSC é diversa da do 121º/1, al. i) CIR. Sendo o CSC mais antigo do que o CIRS, ao ser
promulgado o CIRS, irá fazer com que este 245º/5 CSC seja revogado pelo 121º/1, al. i) CIR.

35. A, B, C e D constituíram uma sociedade por quotas com um capital social de 40  000€, em que todos tem o mesmo
capital social. No decurso do segundo exercício social, a sociedade evidenciava um valor de capitais próprios positivos
de 5 000€. No final do terceiro exercício social, a sociedade apurou um lucro do exercício de 50 000€ e, com os votos
favoráveis de A e B, com a abstenção de C e com o voto contra de D, deliberou distribuir aos sócios 1  000€.

a) Identifique o valor da reserva legal da sociedade.

b) Aprecie a deliberação de distribuição descrita.

a) Tratando-se de uma sociedade unipessoal por quotas, tem-se que o capital social é livre, embora na prática acabe por
ter um limite mínimo de 1€ (219º/3 CSC). Se não for uma sociedade unipessoal, terá de ter um valor de capital social,
pelo menos, ao correspondente de 1€ por quota (se a sociedade tiver dois sócios, o valor mínimo do capital já será de 2€,
e assim sucessivamente). O mesmo não acontece nas sociedades anónimas, cujo capital mínimo é de 50 000€ (256º/5
CSC).

Quanto ao valor da reserva legal desta sociedade, tem-se a aplicação das regras das sociedades anónimas (295º e 296
CSC), nos termos do 218º CSC, com a excepção de que nas sociedades por quotas, o valor da reserva legal nunca pode
ser inferior a 2500€. Portanto, se porventura a aplicação da regra geral conduzir a uma reserva legal inferior a 2500€, há
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uma espécie de correcção op legis automática em que o valor da reserva legal passa a ser de 2500€. Independentemente
do tipo de reserva de que se estiver a falar, estas são sempre lucros que não foram distribuídos; ou porque os sócios não
quiseram, ou porque o contrato assim o determina, ou porque a lei o impõe, sendo este último o caso da reserva legal.
Não são, por qualquer uma destas razões, afectas ao seu destino natural, que é a distribuição, servindo como uma espécie
de poupança de reforço de capitais. No caso da reserva legal, a lei determina que, numa primeira fase, o lucro do
exercício, depois de afecto à cobertura dos prejuízos transitados (33º CSC) tem de servir para constituir a reserva legal.
Essa reserva legal é constituída retirando-se 5% (ou a vigésima parte) até se atingir o valor mínimo legal da reserva, o
qual corresponderá à quinta parte do capital social, ou a montante maior se o contrato assim o disser. É possível que o
contrato de sociedade redefina o montante da reserva legal, aumentando-o (e nunca baixando-o).

Desta forma, aplicando o prescrito no 295º/1 CSC, tem-se que a regra do valor mínimo da reserva é a quinta parte do
capital social, sendo, neste caso, de 8 000€.

b) O lucro que poderá ser objecto de uma operação de distribuição é o lucro de exercício, o qual corresponde apenas ao
acréscimo patrimonial ocorrido num determinado exercício decorrente da prossecução da actividade social. Nesse
âmbito, o lucro do exercício não pode ser afecto à distribuição, ou seja, não se trata de um lucro distribuível, uma vez
que se o lucro do exercício fosse desde logo um lucro distribuível, isso significava que, sem mais, os sócios podiam estar
a distribuir a título de lucros aquilo que não era, em bom rigor, lucro, violando assim o princípio da intangibilidade do
capital social do 32º CSC.

Ao constituir-se com um capital social de 40 000€, a sociedade tem como património líquido, também, 40 000€, uma vez
que o património líquido inicial corresponde necessariamente à cifra do capital social porque têm exactamente a mesma
origem – entradas dos sócios. Imaginando que no primeiro exercício a sociedade tem prejuízos de 30 000 e no segundo
exercício tem um lucro de 5 000€. Neste caso, a sociedade não teve lucros para efeitos de distribuição, estando ainda
largamente deficitária. Neste segundo exercício, nem há dinheiro para constituir reservas, porque o primeiro destino
deste lucro é cobrir os prejuízos transitados do exercício transacto. E esse lucro nem irá chegar para os cobrir. Apenas se
se fizer essa cobertura, e, se sobrar, é que se irá retirar os 5% para efeitos da constituição da reserva legal, operação a que
se está obrigado apenas até à constituição do valor mínimo da reserva. Caso sobre algum valor, esse, sim, será lucro
distribuível, que poderá ser livremente distribuído. Se até aqui a lógica do legislador era a protecção da consistência
patrimonial da sociedade, estabelecendo limites à distribuição, daqui em diante a lógica é contrária; é pro-distributiva. O
lucro distribuível neste sentido deve destinar-se essencialmente à distribuição. Daí que o 217º CSC para as sociedade por
quotas e o 294º para as sociedades anónimas tenha dizer que pelo menos do lucro apurado como distribuível deve ser
objecto de distribuição para proteger os sócios minoritários, garantindo o efectivo direito à distribuição. Há apenas duas
possibilidades de contrariar este regime supletivo, que é uma deliberação especial aprovada por votos representativos,
pelo menos, de ¾ do capital social ou, então, uma cláusula contratual que disponha em sentido diverso.

Neste caso, importa que consigamos apurar o lucro distribuível no segundo e no terceiro exercício. Assim, tendo a
sociedade 5 000€ de capitais próprios, significa que no primeiro e no segundo exercício tinham acumulado um prejuízo
de 35 000€. Contudo, no terceiro exercício houve lucros de 50 000€. Neste âmbito, o primeiro destino a que este lucro
deva ser afecto é à cobertura dos prejuízos transitados, sobrando, desta forma 15 000€. Após este passo, devem
constituir-se a reserva legal, retirando a vigésima parte para esse efeito, o que neste caso será de 750€.

Logo, o lucro distribuível no terceiro exercício social é de 14 250€. Supletivamente, 7 125€ teriam de ser distribuídos
(217º CSC), o que não sucedeu. Para os sócios terem aprovado esta deliberação, ela tinha de ser aprovada por votos
representativos de ¾ do capital social. Apenas tendo votado a favor 2 sócios, verifica-se que esta deliberação é inválida.

36. A, B e C constituíram a sociedade X, em que nos estatutos está prevista a atribuição a qualquer um deles de um
direito de preferência na alienação de quotas. A, sem informar os outros sócios, vende a sua quota a E por 10  000€.

a) Sabendo desta venda, C pretende haver para si a quota. Pode?

b) A solução seria a mesma se o direito de preferência decorresse de um contrato entre A e C?

a) É muito comum que exista nos estatutos das sociedades cláusulas, nos termos das quais, quer os sócios, quer a própria
sociedade, tenha direito de preferência na transmissão de quotas. Estas disposições do pacto social são válidas e só
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deixariam de o ser se elas fizessem condicionar a cessão de quotas face à sociedade pelo cumprimento da obrigação de
preferência. Assim, é só uma a condição a que a transmissão das quotas pode estar sujeita, que é de consentimento da
sociedade, sendo depois o sócio obrigado a conceder a preferência, mas a cessão em si não pode estar condicionada ao
cumprimento deste dever.

Aplicam-se aos direitos de preferência o regime civil da obrigação de preferência ou do pacto de preferência, conforme
está previsto no CC. Essas cláusulas, nos termos das quais há direito de preferência da sociedade, têm eficácia face a
terceiros, em que sempre que elas sejam registadas (e têm de ser porque o pacto social é registado nos termos do 168º
CSC e 14º CRegCom), elas têm eficácia real ou oponibilidade a terceiros. O relevo é que, é possível nestes casos e
depois em caso de incumprimento da obrigação da de preferência, o titular desse direito recorrer à acção de preferência
(1410º CC), substituindo-se ao adquirente.

Desta forma, para este caso prático, tendo sido estabelecido este direito de preferência aos sócios no próprio pacto social,
o qual se encontra registado, terá oponibilidade face a terceiros. Desta forma, pode C recorrer à acção de preferência
(1410º CC), substituindo-se ao E.

b) Uma coisa são os direitos de preferência previstos e registados nos estatutos; outra coisa é a atribuição recíproca ou
unilateral de direitos de preferência, mas no âmbito de acordos parassociais (os quais são contratos). Portanto, aplica-se
aqui o regime do pacto de preferência, o que significa que não há aqui eficácia real, não sendo possível depois recorrer à
acção de preferência. Para o incumprimento da obrigação de preferência num acordo parassocial, pode fixar-se uma
cláusula penal exigente.

Desta forma, para este caso prático, não tendo este acordo parassocial uma eficácia real, não se pode recorrer à acção de
preferência, havendo, no entanto, lugar a uma indemnização.

37. A, B e C constituíram a sociedade por quotas X, com um capital social de 5  000€ a 1/01/2017. A sociedade viu o seu
património aumentado em 1 000€ em 2018, mas sofreu perdas de 2  000€ em 2019. No exercício de 2020, obteve um
lucro de 500€. Pode ser o lucro distribuído aos sócios?

Em termos gerais, o lucro consiste num incremento do património da sociedade. Pode distinguir-se entre o lucro de
balanço, o qual consiste na diferença entre o património social líquido e o valor correspondente ao capital social mais as
reservas disponíveis, e o lucro do exercício, que consiste na diferença entre o património social líquido no final do
período e o património social líquido no início desse período. Este lucro é relevante a vários títulos, nomeadamente para
a constituição das reservas legais, ou seja, impostos pela lei, ou para a sua reconstituição, em que se tiver havido uma
perda é preciso depois reconstituir a reserva legal (218º e 295º CSC). É importante também para constituição das
reservas estatutárias (33º/1 CSC), bem como para definir o valor distribuível pelos sócios no final desse período. Nem
todo o lucro do exercício, em primeiro lugar, pode ser distribuído e, em segundo lugar, tem que ser distribuído. Para ser
distribuído, este lucro de exercícios tem que se conter dentro do lucro do balanço, ou seja, é possível uma sociedade ter
lucro do exercício naquele exercício, mas ter um lucro de balanço negativo.

Por sua vez, a reserva societária é uma cifra que representa um valor patrimonial da sociedade decorrente, em regra, de
lucros que os sócios não podem ou não querem distribuir. Estas servem para cobrir perdas sociais ou podem funcionar
como forma de autofinanciamento a sociedade, ficando aquela quantia que vai ser destinada ao financiamento da
sociedade. Estas reservas decorrem de lucros e, em certos casos, esses lucros não podem ser distribuídos e têm que ser
reconduzidos às reservas. Nos outros casos, são os próprios sócios que querem conduzir determinados valores a reservas
que eles constituem. Quer as reservas sejam obrigatórias ou não, elas podem ser sempre utilizadas para cobrir o prejuízo
(296º CSC). Nas sociedades por quotas e nas sociedades anónimas é obrigatória a constituição de uma reserva legal
(218º e 295º CSC, respectivamente). Estas reservas impostas pela lei servem para tutelar os interesses de credores da
sociedade, permitindo cobrir eventuais prejuízos. Para a constituição desta reserva legal, ou da sua reintegração (quando
ela tiver sofrido um decréscimo), devem ser afectados pelo menos 5% dos lucros de exercícios. Deste lucro de exercício
tem que ser descontado o valor necessário à cobertura das perdas que vêm de trás. Estas reservas têm que ir sendo
constituídas até chegarem a um máximo de 20% do capital social. A lei ter estabelece um valor absoluto para esta
reserva legal, ou seja, nas sociedades por quotas esse valor tem de ser, no mínimo, de 2 500€ nos termos do 218º/2 CSC.

Desta forma, temos:


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Ano Capital social Reserva legal Lucro Prejuízo Património social
Ano 0 5 000€ - - - 5 000€
2018 5 000€ 50€ 1 000€ - 6 000€
2019 5 000€ 50€ - 2 000€ 4 000€
2020 5 000€ 75€ 500€ - 4 500€
Total 5 075€ 4 500€

Apesar de haver um lucro do exercício de 2020 de 500€, verifica-se um lucro de balanço negativo (500€). Nesta medida,
este lucro de 2020 não pode ser distribuído pelos sócios.

38. A, B, C e D constituíram a sociedade por quotas X, tendo cada um deles quotas iguais, estabelecendo eles no pacto
social as seguintes cláusulas:

a) o lucro da sociedade só será atribuído a B e C.

b) A tem direito a quinhoar nos lucros em 35%, reduzindo-se proporcionalmente o valor a atribuir aos outros
sócios.

Estas cláusulas são válidas? Porquê?

Com o lucro, nasce o direito dos sócios a participarem desse lucro (21º/1, al. a) CSC – direitos centrais dos sócios), ou
seja, o direito de quinhoar nesses lucros. Portanto, todos os sócios têm o direito de exigir uma parte do lucro que, em
regra, é proporcional ao valor da sua participação social.

Tem-se o direito abstracto ao lucro, sendo um direito que integra a própria participação social; os sócios, pelo simples
facto de serem sócios, têm um direito em abstracto ao lucro. Por sua vez, O direito concreto ao lucro é um crédito
pecuniário dos sócios face à sociedade, direito esse que diz respeito ao lucro distribuído. Não basta que a sociedade gere
o lucro (até porque, uma coisa é o lucro de exercício e outra é o lucro do balanço); é necessário também que esse lucro
possa ser distribuído e que, efectivamente, tenha sido distribuído.

Desta forma, o direito ao lucro em abstracto não pode ser retirado ao sócio, em que este não pode ser excluído da
comunhão nos lucros em geral. Se o for, se por exemplo, houver uma cláusula do pacto social que retire ao sócio este
direito geral ao lucro, está-se no âmbito do chamado pacto leonino, o qual é proibido (22º/3 CSC). Esta exclusão tanto é
proibida se constar de uma cláusula no pacto social, como se se tratar de uma deliberação dos sócios (a assembleia ou
eventualmente, da própria administração) (56º/1, al. c) e 411º/1, al. c) CSC). Há também uma outra vertente do pacto
leonino, que visa isentar um sócio da participação nas perdas sociais. Isso significa que todos eles têm que correr o risco
de, em maior ou menor extensão, sofrer perdas. A isto chama-se a obrigação de quinhoar nas perdas; não se trata de uma
obrigação em sentido técnico, mas é um risco do sujeito perder, no todo ou em parte, aquilo que investiu na sociedade.
Portanto, essa vertente também está incluída pelo chamado pacto leonino.

Assim, têm-se estas cláusulas como pacto leonino, sendo, assim, a cláusula a) nula.

A regra dispositiva que funciona aquando d distribuição de lucros é, se nada estiver definido no pacto, os sócios têm o
direito a um lucro proporcional ao valor da sua participação social (22º/1 CSC). Agora, ainda assim, há excepções; nada
impede que o pacto social estabeleça o direito de um ou mais sócios quinhoarem num valor superior à da sua
participação social. Nestes casos, diz-se que se está perante um direito especial de um sócio, o direito especial aos lucros.
Assim, estando definido no pacto social que se pode quinhoar de forma diversa da proporcional, esta cláusula é válida.

39. Suponha que a sociedade A distribui lucros aos sócios por deliberação de 01/03/2019 no valor de 3  000€ a cada um
deles.

a) Quando é que o sócio A pode exigir o pagamento do seu crédito?


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b) Suponha que A acordou com a sociedade só exigir o seu crédito a 01/05/2020, vindo a sociedade a ser
declarada insolvente a 01/04/2020. Qual é a posição deste credor no processo insolvencial?

a) Os sócios não têm direito ao lucro de balanço, ou seja, não têm direito a que lhe seja distribuído lucro depois da
aprovação do balanço (32º CSC). Na verdade, eles essencialmente têm o direito de exigir que a administração lhes
apresente o relatório de gestão (65º/1 e /5 CSC) e lhes apresente também uma proposta de aplicação dos resultados
(66º/1, al. f) CSC). Têm também o direito de deliberar sobre a aplicação desses resultados, partindo do princípio de que
eles são positivos (189º/3, 246º/1 e 376º/1, al. b) CSC), apesar de existirem excepções (acções preferenciais sem voto -
341º/1 e 342.º CSC; e a distribuição do lucro de exercício distribuível -217º/1 e 294º/1 CSC).

Logo que for deliberada a distribuição do lucro do exercício a um sócio, a partir desse momento, eles adquirem um
direito de crédito face à sociedade e, adquirindo-o, a sociedade já não o pode mais atingir. O vencimento deste direito
não se verifica logo aquando da tomada da deliberação de distribuição. Nos termos do 217º/2 e do 294º/2 CSC esse
crédito vence decorridos 30 dias; ou seja, só pode ser exigido decorridos 30 dias da deliberação de atribuição dos lucros.
Vencido este prazo, deve a sociedade satisfazer este crédito. Não deve, contudo, fazê-lo se, apesar de deliberação válida
por parte da sociedade, houver um decréscimo acentuado da situação patrimonial da sociedade, em que naquela data, o
administrador não poderá fazer o pagamento; o direito existe, mas o administrador não o pode cumprir. Poderá fazê-lo
mais tarde, se a situação melhorar.

Desta forma, tem-se que o sócio A poderá exigir o pagamento 30 dias depois dessa deliberação, ou seja, a 31/03/2019.

b) Os suprimentos (243º ss CSC) são contratos regulados pelo direito societário e consistem num contrato pelo qual um
sócio empresta à sociedade dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a sociedade obrigada a restituir uma coisa do
mesmo género e qualidade. Em regra, fala-se de dinheiro. Também são contratos suprimento as convenções entre o sócio
e a sociedade nos termos das quais é acordado o deferimento do vencimento de um crédito do sócio sobre a sociedade.
Em qualquer destes casos, estes créditos têm de ter carácter de permanência àqueles que visam suprir a falta de capital
social.

Estes suprimentos, sendo empréstimos, são dívidas da sociedade e, portanto, os sócios depois podem “retirar” o valor dos
suprimentos quando a sociedade pagar esses valores. Desta forma, os sócios são simultaneamente sócios e credores da
sociedade. Se isso fosse assim, sem mais, significaria que eles ficariam na mesma posição que os outros credores da
sociedade. Portanto, no fundo os sócios são praticamente convidados a realizarem entradas, estabelecendo um baixo
capital social, e depois fazerem esse financiamento através suprimentos. Para evitar este resultado a lei estabelece um
regime específico que debilita estes créditos dos suprimentos relativamente aos outros créditos. Essa debilitação traduz-
se vários elementos:
1) Os credores por suprimentos não podem, em caso de incumprimento dessas obrigações da sociedade, requerer a
declaração de insolvência da sociedade, enquanto os outros podem.

2) As garantias reais prestadas aos suprimentos são nulas;

3) Na eventualidade da sociedade ser declarada insolvente, em primeiro lugar e nos termos do 121º/1, al. i) CIR, o
administrador pode resolver, em benefício da massa, os reembolsos dos suprimentos realizados no ano anterior à abertura
do processo. Portanto, todos aqueles suprimentos que forem reembolsados nesse período de tempo podem ser resolvidos,
o que quer dizer que o sócio tem que entregar esse esses valores para depois serem incluídos na massa.

4) Ainda, sendo a sociedade declarada insolvente, os créditos aos suprimentos passam a créditos subordinados e
no elenco de créditos subordinados (48º CIRS) são aqueles que são satisfeitos em último lugar.

Desta forma, dado o carácter de permanência do deferimento do vencimento do seu crédito (14 meses), retira-se que o
sócio A teria de ver satisfeitas as dívidas de todos os outros credores (comuns e subordinados) para que, face à sua
posição em último lugar enquanto crédito subordinado, possa ver o seu crédito satisfeito, se ainda sobrar património para
tal.

40. A, B, C e D constituíram a sociedade por quotas X, tendo cada um deles quotas iguais, a 01/01/2017, dotando-a de
um capital social de 5 000€. No exercício de 2017, a sociedade teve um lucro de 1 000€ e em 2018 verificou-se um
incremento patrimonial de 2  000€. Todavia, em 2019, sofreu perdas no valor de 3 000€. Se a sociedade tiver tido um
lucro do exercício de 100€ em 2020, poderia distribuí-lo aos sócios?

42
Em termos gerais, o lucro consiste num incremento do património da sociedade. Pode distinguir-se entre o lucro de
balanço, o qual consiste na diferença entre o património social líquido e o valor correspondente ao capital social mais as
reservas disponíveis, e o lucro do exercício, que consiste na diferença entre o património social líquido no final do
período e o património social líquido no início desse período. Este lucro é relevante a vários títulos, nomeadamente para
a constituição das reservas legais, ou seja, impostos pela lei, ou para a sua reconstituição, em que se tiver havido uma
perda é preciso depois reconstituir a reserva legal (218º e 295º CSC). É importante também para constituição das
reservas estatutárias (33º/1 CSC), bem como para definir o valor distribuível pelos sócios no final desse período. Nem
todo o lucro do exercício, em primeiro lugar, pode ser distribuído e, em segundo lugar, tem que ser distribuído. Para ser
distribuído, este lucro de exercícios tem que se conter dentro do lucro do balanço, ou seja, é possível uma sociedade ter
lucro do exercício naquele exercício, mas ter um lucro de balanço negativo.

Por sua vez, a reserva societária é uma cifra que representa um valor patrimonial da sociedade decorrente, em regra, de
lucros que os sócios não podem ou não querem distribuir. Estas servem para cobrir perdas sociais ou podem funcionar
como forma de autofinanciamento a sociedade, ficando aquela quantia que vai ser destinada ao financiamento da
sociedade. Estas reservas decorrem de lucros e, em certos casos, esses lucros não podem ser distribuídos e têm que ser
reconduzidos às reservas. Nos outros casos, são os próprios sócios que querem conduzir determinados valores a reservas
que eles constituem. Quer as reservas sejam obrigatórias ou não, elas podem ser sempre utilizadas para cobrir o prejuízo
(296º CSC). Nas sociedades por quotas e nas sociedades anónimas é obrigatória a constituição de uma reserva legal
(218º e 295º CSC, respectivamente). Estas reservas impostas pela lei servem para tutelar os interesses de credores da
sociedade, permitindo cobrir eventuais prejuízos. Para a constituição desta reserva legal, ou da sua reintegração (quando
ela tiver sofrido um decréscimo), devem ser afectados pelo menos 5% dos lucros de exercícios. Deste lucro de exercício
tem que ser descontado o valor necessário à cobertura das perdas que vêm de trás. Estas reservas têm que ir sendo
constituídas até chegarem a um máximo de 20% do capital social. A lei ter estabelece um valor absoluto para esta
reserva legal, ou seja, nas sociedades por quotas esse valor tem de ser, no mínimo, de 2 500€ nos termos do 218º/2 CSC.

Desta forma, temos:

Ano Capital social Reserva legal Lucro Prejuízo Património social


Ano 0 5 000€ - - - 5 000€
2017 5 000€ 50€ 1 000€ - 6 000€
2018 5 000€ 150€ 2 000€ - 8 000€
2019 5 000€ 150€ - 3 000€ 5 000€
2020 5 000€ 155€ 100€ - 5 100€
Total 5 155€ 5 100€

Apesar de haver um lucro do exercício de 2020 de 100€, verifica-se um lucro de balanço negativo (55€). Nesta medida,
este lucro de 2020 não pode ser distribuído pelos sócios.

41. A, B, e C constituíram uma sociedade por quotas X a 02/02/2018 com capital social de 5000€. Em 2019, a sociedade
obteve como lucro de exercício 3000€. Os sócios deliberam por maioria a distribuição de 1000€, sendo o valor restante
conduzido a uma reserva livre para aquisição de 3 computadores. C, que tinha votado contra, alega a invalidade da
deliberação. Tem razão?

Em termos gerais, o lucro consiste num incremento do património da sociedade. Pode distinguir-se entre o lucro de
balanço, o qual consiste na diferença entre o património social líquido e o valor correspondente ao capital social mais as
reservas disponíveis, e o lucro do exercício, que consiste na diferença entre o património social líquido no final do
período e o património social líquido no início desse período. Este lucro é relevante a vários títulos, nomeadamente para
a constituição das reservas legais, ou seja, impostos pela lei, ou para a sua reconstituição, em que se tiver havido uma
perda é preciso depois reconstituir a reserva legal (218º e 295º CSC). É importante também para constituição das
reservas estatutárias (33º/1 CSC), bem como para definir o valor distribuível pelos sócios no final desse período. Nem
todo o lucro do exercício, em primeiro lugar, pode ser distribuído e, em segundo lugar, tem que ser distribuído. Para ser
distribuído, este lucro de exercícios tem que se conter dentro do lucro do balanço, ou seja, é possível uma sociedade ter
lucro do exercício naquele exercício, mas ter um lucro de balanço negativo.

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Por sua vez, a reserva societária é uma cifra que representa um valor patrimonial da sociedade decorrente, em regra, de
lucros que os sócios não podem ou não querem distribuir. Estas servem para cobrir perdas sociais ou podem funcionar
como forma de autofinanciamento a sociedade, ficando aquela quantia que vai ser destinada ao financiamento da
sociedade. Estas reservas decorrem de lucros e, em certos casos, esses lucros não podem ser distribuídos e têm que ser
reconduzidos às reservas. Nos outros casos, são os próprios sócios que querem conduzir determinados valores a reservas
que eles constituem. Quer as reservas sejam obrigatórias ou não, elas podem ser sempre utilizadas para cobrir o prejuízo
(296º CSC). Nas sociedades por quotas e nas sociedades anónimas é obrigatória a constituição de uma reserva legal
(218º e 295º CSC, respectivamente). Estas reservas impostas pela lei servem para tutelar os interesses de credores da
sociedade, permitindo cobrir eventuais prejuízos. Para a constituição desta reserva legal, ou da sua reintegração (quando
ela tiver sofrido um decréscimo), devem ser afectados pelo menos 5% dos lucros de exercícios. Deste lucro de exercício
tem que ser descontado o valor necessário à cobertura das perdas que vêm de trás. Estas reservas têm que ir sendo
constituídas até chegarem a um máximo de 20% do capital social. A lei ter estabelece um valor absoluto para esta
reserva legal, ou seja, nas sociedades por quotas esse valor tem de ser, no mínimo, de 2 500€ nos termos do 218º/2 CSC.

As reservas livres não decorrem nem por exigência da lei, nem decorrem do pacto social. Os sócios podem livremente,
embora com aqueles limites relativos à necessidade de distribuir metade do lucro de exercício, constituir reservas com o
lucro, onde a constituição destas reservas não obsta sequer que no exercício seguinte, se os sócios assim deliberarem,
elas não possam vir a ser distribuídas

Desta forma, temos:

Ano Capital social Reserva legal Lucro Prejuízo Património social


Ano 0 5 000€ - - - 5 000€
2019 5 000€ 150€ 3 000€ - 8 000€
Total 5 150€ 8 000€

Verificou-se um lucro do exercício de 2019 de 3 000€, bem como um lucro de balanço positivo (2 850€). Também não
será necessário cobrir prejuízos transitados dos períodos anteriores nem formar ou reconstituir as reservas legais (218º e
295º CSC) ou reservas estatutárias (3º CSC). Nesta medida, este lucro de 2019 pode ser distribuído pelos sócios.

Pretendem, então os sócios A e B que sejam distribuídos lucros de 1 000€ e constituir uma reserva livre para o
remanescente do valor de forma a adquirir matéria informático.

No que respeita à criação da reserva livre, não havia qualquer impedimento quanto a isso.

Quanto à distribuição dos lucros, tendo em conta que se trata de uma sociedade por quotas, temos que a regra supletiva
do valor do lucro a distribuir é a de que, se houver uma deliberação aprovada pelos titulares de ¾ do capital social numa
assembleia geral convocada para esse efeito, será necessário distribuir pelo menos metade do exercício. Tem-se como
excepções a esta regra a existência de uma cláusula contratual que estabeleça a medida da distribuição dos lucros; ou
uma cláusula contratual que estabeleça uma maioria dos votos para a distribuição dos lucros diversa da prevista na regra
supletiva do 217º ou 294º CSC.

Verifica-se, então, que esta deliberação é inválida uma vez que não cumpre com os requisitos do 217º CSC: ter havido
uma deliberação aprovada pelos titulares de ¾ do capital social e distribuição de, pelo menos, metade do exercício
(1 500€ em vez de 1 000€), verificando-se um vício de procedimento (irregularidade no quórum constitutivo), tendo
como consequência a anulabilidade (56º/1, al. a) CSC); bem como um vício de conteúdo (distribuir menos lucros que os
estipulados supletivamente), sendo uma deliberação nula (56º/1, al. c) CSC).

42. A, B, C e D constituem a sociedade por quotas Y com capital social de 10 000€. Tendo sido as contas aprovadas a
30 de Março de 2019, foi deliberado distribuir aos sócios metade do lucro de exercício de 2 000€. Ficou também
deliberado que esse lucro se venceria decorridos 3 meses, a 30/06/2019. Na data de deliberação, a sociedade tem um
património líquido de 13  000€ e tinham sido constituídas ao longo dos anos reservas legais de 2  000€. A 01/04/2019,
em virtude de um incêndio, a sociedade sofre perdas no valor de 3  000€. Chegados a 30/06/2019, a gerência recusa-se
a pagar as quantias relativas aos juros aos sócios. Pode?

Em termos gerais, o lucro consiste num incremento do património da sociedade. Pode distinguir-se entre o lucro de
balanço, o qual consiste na diferença entre o património social líquido e o valor correspondente ao capital social mais as
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reservas disponíveis, e o lucro do exercício, que consiste na diferença entre o património social líquido no final do
período e o património social líquido no início desse período. Este lucro é relevante a vários títulos, nomeadamente para
a constituição das reservas legais, ou seja, impostos pela lei, ou para a sua reconstituição, em que se tiver havido uma
perda é preciso depois reconstituir a reserva legal (218º e 295º CSC). É importante também para constituição das
reservas estatutárias (33º/1 CSC), bem como para definir o valor distribuível pelos sócios no final desse período. Nem
todo o lucro do exercício, em primeiro lugar, pode ser distribuído e, em segundo lugar, tem que ser distribuído. Para ser
distribuído, este lucro de exercícios tem que se conter dentro do lucro do balanço, ou seja, é possível uma sociedade ter
lucro do exercício naquele exercício, mas ter um lucro de balanço negativo.

Por sua vez, a reserva societária é uma cifra que representa um valor patrimonial da sociedade decorrente, em regra, de
lucros que os sócios não podem ou não querem distribuir. Estas servem para cobrir perdas sociais ou podem funcionar
como forma de autofinanciamento a sociedade, ficando aquela quantia que vai ser destinada ao financiamento da
sociedade. Estas reservas decorrem de lucros e, em certos casos, esses lucros não podem ser distribuídos e têm que ser
reconduzidos às reservas. Nos outros casos, são os próprios sócios que querem conduzir determinados valores a reservas
que eles constituem. Quer as reservas sejam obrigatórias ou não, elas podem ser sempre utilizadas para cobrir o prejuízo
(296º CSC). Nas sociedades por quotas e nas sociedades anónimas é obrigatória a constituição de uma reserva legal
(218º e 295º CSC, respectivamente). Estas reservas impostas pela lei servem para tutelar os interesses de credores da
sociedade, permitindo cobrir eventuais prejuízos. Para a constituição desta reserva legal, ou da sua reintegração (quando
ela tiver sofrido um decréscimo), devem ser afectados pelo menos 5% dos lucros de exercícios. Deste lucro de exercício
tem que ser descontado o valor necessário à cobertura das perdas que vêm de trás. Estas reservas têm que ir sendo
constituídas até chegarem a um máximo de 20% do capital social. A lei ter estabelece um valor absoluto para esta
reserva legal, ou seja, nas sociedades por quotas esse valor tem de ser, no mínimo, de 2 500€ nos termos do 218º/2 CSC.

Com o lucro, nasce o direito dos sócios a participarem desse lucro (21º/1, al. a) CSC – direitos centrais dos sócios), ou
seja, o direito de quinhoar nesses lucros. Portanto, todos os sócios têm o direito de exigir uma parte do lucro que, em
regra, é proporcional ao valor da sua participação social.

Tem-se o direito abstracto ao lucro, sendo um direito que integra a própria participação social; os sócios, pelo simples
facto de serem sócios, têm um direito em abstracto ao lucro. Por sua vez, O direito concreto ao lucro é um crédito
pecuniário dos sócios face à sociedade, direito esse que diz respeito ao lucro distribuído. Não basta que a sociedade gere
o lucro (até porque, uma coisa é o lucro de exercício e outra é o lucro do balanço); é necessário também que esse lucro
possa ser distribuído e que, efectivamente, tenha sido distribuído. A regra dispositiva que funciona aquando da
distribuição de lucros é, se nada estiver definido no pacto, os sócios têm o direito a um lucro proporcional ao valor da
sua participação social (22º/1 CSC) (embora possam existir algumas excepções).

Desta forma, temos:

Ano Capital social Reserva legal Lucro Prejuízo Património social


30 Mar 2019 10 000€ 2 000€ 2 000€ - 12 000€
01 Abr 2019 10 000€ 2 000€ - 3 000€ 9 000€
Total 12 000€ 9 000€

Embora se tenha verificado um lucro do exercício de 2019 de 3 000€, bem como um lucro de balanço a zero, e
considerando o decorrente do 217º CSC (deliberação por ¾ do capital social para a distribuição de metade do lucro), esta
deliberação dos sócios é válida.

Contudo, face ao incêndio, verificaram-se perdas de 3 000€, fazendo com que o lucro de balanço tivesse ficado negativo
num momento anterior ao vencimento da distribuição dos lucros apurados a 30/03/2019. Havendo, então, um decréscimo
acentuado da situação patrimonial da sociedade, naquela data do vencimento dos lucros – 30/06/2019 - o administrador
não poderá fazer o pagamento, apesar desse direito dos sócios existir (31º/2, al. a) CSC). Este poderá, no entanto, fazê-lo
mais tarde, se a situação melhorar.

Assim, sendo necessário cobrir prejuízos ocorridos ainda nesse ano de 2019, tem-se que este lucro de 2019 não pode ser
distribuído pelos sócios.

45
43. A sociedade A com capital social de 10  000€ tem um património que é composto por um automóvel que vale 3  000€,
um imóvel com um valor de balanço de 50  000€, mas um valor de mercado 75 000€, e depósitos bancários de 2  000€. A
sociedade sofreu perdas de 50  000€ ao longo dos anos. A 01/03/2019 apurou-se um lucro de 2 000€, pretendendo o
sócio B que sejam distribuídos. Tem razão?

Em termos gerais, o lucro consiste num incremento do património da sociedade. Pode distinguir-se entre o lucro de
balanço, o qual consiste na diferença entre o património social líquido e o valor correspondente ao capital social mais as
reservas disponíveis, e o lucro do exercício, que consiste na diferença entre o património social líquido no final do
período e o património social líquido no início desse período. Este lucro é relevante a vários títulos, nomeadamente para
a constituição das reservas legais, ou seja, impostos pela lei, ou para a sua reconstituição, em que se tiver havido uma
perda é preciso depois reconstituir a reserva legal (218º e 295º CSC). É importante também para constituição das
reservas estatutárias (33º/1 CSC), bem como para definir o valor distribuível pelos sócios no final desse período. Nem
todo o lucro do exercício, em primeiro lugar, pode ser distribuído e, em segundo lugar, tem que ser distribuído. Para ser
distribuído, este lucro de exercícios tem que se conter dentro do lucro do balanço, ou seja, é possível uma sociedade ter
lucro do exercício naquele exercício, mas ter um lucro de balanço negativo.

Por sua vez, a reserva societária é uma cifra que representa um valor patrimonial da sociedade decorrente, em regra, de
lucros que os sócios não podem ou não querem distribuir. Estas servem para cobrir perdas sociais ou podem funcionar
como forma de autofinanciamento a sociedade, ficando aquela quantia que vai ser destinada ao financiamento da
sociedade. Estas reservas decorrem de lucros e, em certos casos, esses lucros não podem ser distribuídos e têm que ser
reconduzidos às reservas. Nos outros casos, são os próprios sócios que querem conduzir determinados valores a reservas
que eles constituem. Quer as reservas sejam obrigatórias ou não, elas podem ser sempre utilizadas para cobrir o prejuízo
(296º CSC). Nas sociedades por quotas e nas sociedades anónimas é obrigatória a constituição de uma reserva legal
(218º e 295º CSC, respectivamente). Estas reservas impostas pela lei servem para tutelar os interesses de credores da
sociedade, permitindo cobrir eventuais prejuízos. Para a constituição desta reserva legal, ou da sua reintegração (quando
ela tiver sofrido um decréscimo), devem ser afectados pelo menos 5% dos lucros de exercícios. Deste lucro de exercício
tem que ser descontado o valor necessário à cobertura das perdas que vêm de trás. Estas reservas têm que ir sendo
constituídas até chegarem a um máximo de 20% do capital social. A lei ter estabelece um valor absoluto para esta
reserva legal, ou seja, nas sociedades por quotas esse valor tem de ser, no mínimo, de 2 500€ nos termos do 218º/2 CSC.

Com o lucro, nasce o direito dos sócios a participarem desse lucro (21º/1, al. a) CSC – direitos centrais dos sócios), ou
seja, o direito de quinhoar nesses lucros. Portanto, todos os sócios têm o direito de exigir uma parte do lucro que, em
regra, é proporcional ao valor da sua participação social.

Tem-se o direito abstracto ao lucro, sendo um direito que integra a própria participação social; os sócios, pelo simples
facto de serem sócios, têm um direito em abstracto ao lucro. Por sua vez, O direito concreto ao lucro é um crédito
pecuniário dos sócios face à sociedade, direito esse que diz respeito ao lucro distribuído. Não basta que a sociedade gere
o lucro (até porque, uma coisa é o lucro de exercício e outra é o lucro do balanço); é necessário também que esse lucro
possa ser distribuído e que, efectivamente, tenha sido distribuído. A regra dispositiva que funciona aquando da
distribuição de lucros é, se nada estiver definido no pacto, os sócios têm o direito a um lucro proporcional ao valor da
sua participação social (22º/1 CSC) (embora possam existir algumas excepções).

Verifica-se aqui também uma situação de reserva oculta. Estas ocorrem quando um balanço omitir uma verba do activo,
ou então criar ou incluir uma despesa fictícia, uma vez que não correspondem ao património real e correspondem a bens
que aí não estão e a dívidas que efectivamente não existem. Também ocorrem quando haja uma subavaliação dos bens
do activo ou a uma sobrevalorização do passivo (como acontece com o valor do imóvel neste caso prático). Em qualquer
dos casos, o património líquido da sociedade é inferior ao valor do património líquido real decorrente de uma
subvalorização decorrente dos critérios de mensuração dos bens do activo, ou por causa do regime das amortizações.
Para certos casos, a lei permite, reavaliar o activo e o passivo.

Desta forma, temos:

Ano Capital social Reserva legal Lucro Prejuízo Património social


Ano 0 10 000€ - - - 55 000€
Ano X 10 000€ - - 50 000€ 5 000€
2019 10 000€ 100€ 2 000€ - 7 000€
Total 10 100€ 7 000€

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Apesar de haver um lucro do exercício de 2019 de 2 000€, verifica-se um lucro de balanço negativo (3 100€). Nesta
medida, este lucro de 2019 não pode ser distribuído pelos sócios.

44. A sociedade X realizou a assembleia geral a 01/03/2019. Nessa assembleia geral, foi aprovada uma deliberação de
venda de uma empilhadora.

a) …O gerente, todavia, executa a venda da empilhadora. é válida a venda por parte do gerente?

b)

Momento 1

Momento 2 , 1 ano exerc

Momento 3 , 2 ano exerc

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Momento 4 – 3 ano exerc

Momento 5 . 4 ano exerc

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