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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO

DIREITO
UNIVERSIDADE LUSÍADA DO NORTE
PORTO
Faculdade de Direito
Licenciaturas em Direito e Criminologia
1º ANO - 2019-2020
Prof. Doutor J. Daniel Tavares da Silva
Endereço eletrónico: 23010689@por.ulusiada.pt 1
BIBLIOGRAFIA
PRINCIPAL
 António dos Santos JUSTO, Introdução ao Estudo do Direito, 9ª Ed,
Coimbra: Coimbra Editora, 2018
 João Baptista MACHADO, Introdução ao Direito e ao Discurso
Legitimador, 21ª Reimpressão, Coimbra: Almedina, 2013.
 Miguel TEIXEIRA DE SOUSA, Introdução ao direito (Almedina /
Coimbra, 2012)
COMPLEMENTAR
 Mário BIGOTTE CHORÃO, Introdução ao direito I. O conceito de
direito (Almedina / Coimbra, 1989);
 Fernando José BRONZE, Lições de introdução ao direito2 (Coimbra
Editora / Coimbra, 2006);
 A. CASTANHEIRA NEVES, Lições de introdução ao estudo do direito
(Coimbra, 1968-1969); Metodologia jurídica. Problemas fundamentais
em Studia Iuridica 1 (1993);
OUTROS
 António dos Santos JUSTO, Nótulas de História do Pensamento
Jurídico, Coimbra, Coimbra Editora, 2005
 José de Oliveira ASCENÇÃO, O Direito-Introdução e Teoria Geral, 13ª
ed., Coimbra, Almedina, 2011
 Miguel TEIXEIRA SOUSA, Introdução ao Estudo do Direito, 1ª ed.,
Coimbra, Almedina, 2012
 Diogo FREITAS do AMARAL, Manual de Introdução ao Direito,
Coimbra: Almedina, 2012
 Miguel REALE, Lições Preliminares de Direito, 27ª edição, Coimbra:
Almedina, 2012 Prof. Doutor J. Daniel Tavares da Silva
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TESTES e DIAPOSITIVOS
DIAPOSITIVOS

Os diapositivos constituem um resumo e


guia mínimos para ajudar os alunos no
estudo.
A sua leitura não é suficiente.
Deve ser consultada a bibliografia.

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TESTES/EXAMES - CONSELHOS
Antes de começar a responder:
Ler o teste todo: (a resposta a uma pergunta pode ajudar a
responder a outras)
Apontar ideias ao lado de cada pergunta
Ler bem as perguntas. Indicar nas respostas o grupo e número
Quando usar mais que uma folha: Marcar as folhas e o total: 1/2,
2/2…
Letra cuidada.(Em concursos quem corrige não conhece os
candidatos)
Gestão do tempo: Não gaste tempo a mais nas primeiras
respostas.
Ver a cotação de cada pergunta.
Em perguntas que pedem para escolher uma entre várias, se
responder a mais que uma, só é válida a primeira.
Nos casos práticos INDICAR sempre a(s) normas legais.
Fundamentar/justificar sempre as escolhas.
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO
DIREITO
UNIVERSIDADE LUSÍADA DO NORTE
PORTO
PARTE 1ª / TÍTULO I
ORDEM SOCIAL (Tema 1)
 A. Santos JUSTO, Introdução ao Estudo do Direito, 7ª ed, 2015, pp. 15-36
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ORDEM SOCIAL / NATUREZA SOCIAL DO HOMEM /
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
Nota:
As normas indicadas sem mais referência, pertencem ao Código
Civil Português.
 Inserção do Homem no mundo: Natural (SER) e Cultural
(DEVER-SER)
 Instituição, Instituto
 Homem, Sociedade e Direito
 Leis jurídicas vs Leis naturais
 Principais ordens éticas ou normativas
 Ordem religiosa
 Ordem moral
 Ordem do trato social
 Consequências de violação
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL / NATUREZA SOCIAL DO HOMEM /
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
INSERÇÃO DO HOMEM NO MUNDO
Pertença ao mundo NATURAL (do SER): O Homem como parte
constituinte do mundo constituído pelos seres animais, vegetais e
minerais, submetido às leis físico-químicas com o objectivo de explicar
o que É.
• Exemplos: Gravidade e velocidade da luz e do som.
• Características: Inviolabilidadde, causalidade necessária e
independência dos homens.
Pertença ao mundo CULTURAL (do DEVER_SER): construído pela
inteligência e trabalho do homem e constituído pelo homem e pelos
bens por si produzidos para viverem com as melhores condições de
vida. Caracteriza a vitória do homem sobre o mundo natural. Assenta
na racionalidade humana, na convivência entre os homens submetida a
regras que guiam o Homem, disciplinam o seu comportamento e
transmitem segurança (normas sociais violáveis).

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL / NATUREZA SOCIAL DO HOMEM /
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
INSTITUIÇÃO
• Sentido etimológico. Aquilo que permanece numa sociedade em
evolução.
• Sentido corrente: Obra constituída por elementos pessoais e
patrimoniais regida por regulamentos/estatutos (Estado, universidade,
hospital).
• Sentido jurídico: Conjunto de normas subordinadas a princípios
comuns que disciplinam a sociedade e as relações sociais.
 Funções: Orientação, integração e identificação.
 Espécies:
 Fundamentais: Família, Propriedade, Estado;
 Secundárias (complementares): Parlamento, Tribunais,
Igrejas, Escolas.
INSTITUTO
Grupo menor de normas disciplinadoras de uma situação da vida.
Na propriedade: (ocupação, demarcação). Na família: (casamento,
poder paternal).
NECESSIDADE: Característica relacionada com o facto de homem
ser considerado um ser inacabado que, por isso, necessita de
instituições que o orientem nas suas relações com vista ao seu
progresso e segurança.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL / NATUREZA SOCIAL DO HOMEM /
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
 O ser humano vive em sociedade – o homem é um ser (animal)
social, que só se realiza como ser humano inserindo-se numa
comunidade – fora dela é um bruto ou um deus (Aristóteles):
 O homem vive e sempre viveu em comunidade: a tribo, a família, a
cidade, a sociedade e o Estado constituem manifestações da
sociabilidade do homem.
 Até o nascimento de um homem carece da pré-existência de dois
seres de sexo diferente.
• INSTITUIÇÕES SOCIAIS / Sociabilidade: Necessidade do homem
se organizar em comunidades, que faz parte da natureza humana.
• Mas o homem é, em simultâneo, um ser livre e um ser social.
AFORISMO LATINO:
“ubi homo, ibi societas / Onde está o homem, haverá uma sociedade”
“tudo o que é humano é, ou pode ser, jurídico”

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL / NATUREZA SOCIAL DO HOMEM /
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
SOCIEDADE …………..DIREITO
“ubi societas, ibi ius / Onde há uma sociedade, haverá um Direito”
Com dois homens, há sociedade; com três, já há poder político.
A constituição de novos grupos sociais criam, de imediato, a necessidade
de estabelecer as regras da sua organização e funcionamento.
Neste sentido: José Ferreira Borges ( 1786-†1838), Exame Critico do
Valor Politico das Expressões Soberania do Povo, e Soberania das Cortes:
e outro sim das bases da organização do poder legislativo, e da sancção
do Rei, Lisboa: Typografia Transmontana, 1837, p. 10:
 critica o erro secular de um possível estado de natureza puro, de um
homem só e de um direito natural absoluto, defendendo que sempre
terá existido um estado de sociedade, um «estado de família ou
famílias, cuja reunião forma sempre uma povoação mais ou menos
numerosa, a qual, única ou reunida a outras, carece de um governo, de
uma ordem legal para existir e conservar-se»

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL / NATUREZA SOCIAL DO HOMEM /
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
O DIREITO E O SER HUMANO
 «Omne ius hominum causa constitutum est» / Todo o Direito foi
criado por causa dos homens (Hermogeniano).
 O princípio da dignidade do ser humano é um postulado dos direitos
fundamentais e do Direito Constitucional.
 Art. 1º CRP: «Portugal é uma República soberana, baseada na
dignidade da pessoa humana…».
 Várias ordens normativas: Ordem religiosa; Ordem moral; Ordem
do trato social; Ordem jurídica;
OUTROS GRUPOS SOCIAIS ORGANIZADOS
Reino Animal
Outros seres vivos vivem em sociedade, v. g., as abelhas
DIREITO ARCAICO / PRIMITIVO:
 Existe Direito desde as mais remotas sociedades humanas.
 Primeiros textos jurídicos (Mesopotâmia):
 Código de Ur-Nammu (2040 a.C.).
 Código de Lipit-Ishtar (1934-1924 a.C.).
 Código de Hamurabi – Pedra (1792-1750 a.C.) - Direito
cuneiforme.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL / NATUREZA SOCIAL DO HOMEM /
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
 Código Ur-Nammu (2040 a.C):
Primeiro código legal autêntico da humanidade, compilado no
reinado de Ur-Nammu, ou seu filho.
Descoberto no actual Iraque, em 1952, por um Prof. da
Universidade da Pensilvânia, Samuel Noah Kramer.
 Código Lipit-Ishtar (1934-1924 a.C.):
 Outro código de Direito sumério, anterior ao de Hamurabi.
 Código Hamurabi
Uma das mais arcaicas manifestações conhecidas é o Código
Hamurabi (c. 1750 a. C.)– Descoberto pelo arqueólogo Francês
Jacques Morgan (1902) nas ruínas da acrópole de Susa (Irão).
Monumento de pedra negra e cilíndrica de diorito, que estava
partido em 8 pedaços. Tem cerca de 2,50 metros de altura por
1,60 metros de circunferência na parte superior e 1,90 na base.
Consta de 282 preceitos em linguagem cuneiforme, repartidos
por cerca de 46 colunas e 3600 linhas. Na parte superior estão
representados MARDUK, Deus da sabedoria e da prudência, e
HAMURABI (rei da Babilónia). Encontra-se no Museu do
Louvre (Paris - França).
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL E A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM
Leis jurídicas ou normas de Leis naturais ou regras fisíco-
conduta humana: matemáticas:
(v.g., “os veículos motorizados (v.g, “o ferro com o calor dilata” ou
circulam pela direita”) “a água ferve a 100 graus”)

Disciplina comportamentos Estuda os fenómenos naturais


humanos nexo de nexo de causalidade.
imputabilidade.
Fim de ordem prática Fim de ordem teórica

Dirigem-se a seres livres, que as Não são violáveis: são verdadeiras


podem violar (não afectando a sua ou falsas, conforme sejam ou não
validade, apenas a eficácia). confirmada pelos factos;
Domínio da Lógica Material: Domínio da Lógica Formal:
raciocínio indutivo, raciocínio dedutivo,
argumentação dialética. argumentação analítica.

Traduzem uma imperatividade Traduzem a realidade do


do DEVER-SER. SER.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM RELIGIOSA
As normas jurídicas não são as únicas a regular as condutas humanas
em sociedade.
ORDENS NORMATIVAS
Pertencem ao mundo cultural, com referência a valores.
Situam-se no âmbito da ética (dever-ser). São passíveis de violação.
As leis sociológicas, históricas ou económicas não disciplinam condutas
(podendo influenciar a ordenação dos comportamentos).
PRINCIPAIS ORDENS ÉTICAS OU NORMATIVAS
 Ordem religiosa
 Ordem moral
 Ordem do trato social
 Ordem jurídica
ORDEM RELIGIOSA
 As normas religiosas são criadas por um Ser superior, regulando a
conduta intima dos crentes na sua relação com Deus. Características:
 Instrumentais – preparam a vida além-terrena.
 Intra-individuais – destinam-se ao intimo do homem crente.
 Sanções do foro espiritual – falta de coercibilidade.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS/ORDEM RELIGIOSA
Nas civilizações antigas, as normas religiosas confundiam-se com as
normas jurídicas:
Faraó-Antigo Egipto
Dez Mandamentos para as religiões do Livro (Hebraica, Cristã e
Muçulmana)
Iustitia-deusa da justiça
Corão – Direito muçulmano
Ordálios ou juízos de Deus (ex: a ordália como meio de prova)

Nos países ocidentais a ordem jurídica foi-se secularizando e hoje não


se confunde com a ordem religiosa (ao contrário de alguns países
muçulmanos, com um conjunto de normas religiosas que os tribunais
devem aplicar à vida privada dos cidadãos).

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM RELIGIOSA
 Em Portugal vigoram os princípios da liberdade religiosa e da
separação entre as Igrejas e o Estado (41º/4 CRP), nomeadamente,
“as igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do
Estado”
 Lei n.º 16/2001, de 22 de Junho (Lei da Liberdade Religiosa), no seu
art. 4º/1 estabelece que o Estado é laico e “não adopta qualquer
religião nem se pronuncia sobre questões religiosas”.
RELAÇÕES DIREITO – RELIGIÃO
 Relações de indiferença – normas jurídicas cujo conteúdo é
completamente irrelevante do ponto de vista religioso.
 V.g., regra que manda conduzir pela direita.
 Relações de afinidade – há normas jurídicas de origem religiosa.
 V.g., a proibição de matar ou a fixação do dia de descanso semanal
ao domingo.
 Relações de antagonismo – normas jurídicas contrárias aos preceitos
religiosos.
 O divórcio nos casamentos católicos, o aborto, a eutanásia, o
testamento vital...
Direito canónico: Tem como fonte a hierarquia da Igreja. Destina-se à
sua organização e relação com os fiéis.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM MORAL
ORDEM MORAL
 Conjunto de preceitos que obrigam a consciência.
 Tem como sanção o remorso ou desgosto.
 A moral individual tem pouco a ver com o Direito, no entanto,
 A moral social ou colectiva coincide, em larga medida, com o campo
de aplicação do Direito.
 Critérios de separação entre a moral e o direito:
 Critério teleológico;
 Critério da perspectiva;
 Critério da imperatividade;
 Critério do motivo da acção;
 Critério da forma ou dos meios;
 Critério do mínimo ético.
 As regras da moral não estão sujeitas a juízos de valor exteriores.

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM MORAL
CRITÉRIO DIREITO MORAL
Teleológico Fim social: realização da Fim pessoal: realização
justiça, para assegurar a paz plena do homem.
social.
Perspectiva Foro externo: Incide sobre a Foro íntimo: Incide sobre a
exterioridade. interioridade.
Lado externo/Estado Pensamentos, motivações

Imperatividade Imperativo-atributivo Imperativa (unilateral) –


(bilateral) – impõe deveres e limita-se a impor deveres.
reconhece direitos.
Do motivo da acção Heterónomo: implica a Autónoma: o autor da
sujeição a um querer alheio. norma é a pessoa que lhe
deve obedecer.
Da forma / Meios Coercibilidade:possibilidade Não coercibilidade: não há
do recurso à força recurso à força. (Ninguém
pode ser bom à força)
Do mínimo ético Círculo menor: tudo o que é Círculo maior: nem tudo o
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jurídico J. Daniel Tavares da Silva que é moral é jurídico. 18
é moral.
Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM MORAL
RELAÇÕES DIREITO – MORAL
 Relações de indiferença – Há normas morais que o Direito não impõe
(dar esmola aos pobres, ajudar os cegos a atravessar a rua). Há normas
de Direito sem qualquer significado para a moral: Regra de conduzir
pela direita. Normas que estabelecem prazos processuais. Mas se o
prazo for muito excessivo, é contrário à moral.
 Relações de antagonismo – normas jurídicas contrárias aos preceitos
da moral.
 O testamento a favor de médico, enfermeiro, padre (2194).
 Relações de afinidade:
 Há normas de Direito que coincidem com a moral:
 V.g., legítima defesa (32º CP), prioridade no trânsito às
ambulâncias (65º C.Est.), revogação da doação, por ingratidão do
donatário (974º e ss. C.C.), incapacidade sucessória por
indignidade (2034º e ss. C.C.); proibição de estacionar no local
destinado a deficientes;
 Há normas jurídicas que remetem para conceitos de moral, moral
pública e bons costumes:
 O julgamento à porta fechada, “para salvaguarda da dignidade da
pessoa e da moral pública” (206º CRP).
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM MORAL
 Qualquer cidadão pode adoptar uma moral diferente daquela que
inspira o Direito, mas não pode desobedecer à lei alegando o carácter
imoral da norma jurídica (8º/2).
 Excepção – as situações previstas na lei de objecção de consciência,
nomeadamente, dos jovens ao serviço militar, do médico à prática
do aborto… (41º/6 CRP – “É garantido o direito à objecção de
consciência, nos termos da lei”).
 A possibilidade de o Estado intervir violando a esfera íntima do
pensamento. Necessidade de limitar o Estado à esfera externa.
 Natureza não absoluta de algumas características:
 Perspectiva
À moral interessa também o lado externo. Ex.: visitar um doente
Ao direito interessa também o lado interno: Ex.: apreciação da
culpa
 Forma ou meios:
Nem todo o direito é coercível (obrigações naturais – artº
402º // relações conjugais: 1672 / 1781/d)
 A superioridade da moral: fundamento do direito

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS/ORDEM DE TRATO SOCIAL
ORDEM DE TRATO SOCIAL
 Normas de trato social (também denominadas usos sociais, regras de
etiqueta, de boa educação ou de cortesia) – práticas habitualmente
seguidas com o objectivo de tornar mais agradável a convivência em
sociedade. Não têm, em regra, obrigatoriedade jurídica:
 Exemplos: ofertas de presentes em épocas festivas, forma de vestir,
dar os pêsames à família da pessoa falecida, cumprimentar…
 Impessoais – a sua origem não está numa vontade concreta, mas em
usos ou práticas sociais regularmente observadas;
 Coactivas – impõe-se através da pressão exercida pelo grupo social.
O seu não cumprimento implica a perda de prestígio e de
dignidade, a marginalização, a exclusão do grupo.
 As normas do trato social não se confundem com as da moral porque
não exigem uma boa intenção:
 V.g., alguém que chega a um grupo de amigos e cumprimenta
também o desconhecido que está no meio.

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM DE TRATO
SOCIAL / VIOLAÇÃO DAS NORMAS
RELAÇÕES DIREITO – TRATO SOCIAL
 Indiferença genérica entre os usos e o direito: Os usos, em princípio,
são práticas seguidas à margem do Direito.
 Relevância jurídica dos usos: No entanto, os usos podem tornar-se
juridicamente relevantes por força da lei (Artº 3º/1 do Código Civil).
 Diferença das normas:
 Jurídicas: Não há sanção quantificada. Não há tribunais
 Morais: irrelevância da intenção: Basta cumprimentar.
CASOS EM QUE O DIREITO ATENDE (ou retira valor) AOS USOS:
ARTIGO 3.º do Código Civil (Valor jurídico dos usos)
“1. Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são
juridicamente atendíveis quando a lei o determine.”
 Há casos em que o direito transforma em normas jurídicas os usos
sociais, costumes ou convencionalismos:
 Ex.: Uso social de dar gorjeta aos empregados de café e restaurante
transformou-se durante algum tempo em alguns países numa norma
jurídica que atribuía aos empregados 15% sobre o valor do
consumo.
 Há casos em que o direito impede os usos sociais “tiranos”,
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM SOCIAL/ORDENS NORMATIVAS / ORDEM DE TRATO
SOCIAL / VIOLAÇÃO DAS NORMAS
CASOS EM QUE O DIREITO ATENDE (ou retira valor) AOS USOS:
 Na falta de estipulação das partes, quanto à determinação do lugar em que
deve ser pago o preço (885º/2 );
 Nas vendas sobre amostra (919º);
 Nas vendas de animais defeituosos (920º);
 Na garantia de bom funcionamento da coisa vendida (921º/1-2);
 Venda a contento-feita sob reserva de a coisa agradar ao comprador
(924º/3);
 Venda sujeita a prova de idoneidade da coisa para o fim a que se destina
(925º/2)
 Colocação de escritos (anúncios) pelo senhorio até 3 meses antes da
cessação do contrato de arrendamento conforme os usos da terra: (1081/2)
Natureza da norma vs Consequências da sua violação
Norma religiosa: Sanção espiritual ou religiosa. (Censura eclesiástica.
Interdição. Excomunhão)
Norma moral: Sanção interior (remorso ou desgosto) e censura social.
Trato social: Censura social. (Exclusão, perda de prestígio e de dignidade.
Marginalização).
Jurídica: Sanção jurídica e coercibilidade (possível recurso ao uso da força
para
impor o cumprimento dessa sanção)
Direito, moral, religião e usos sociais são sistemas normativos
distintos. Tanto podem coincidir como afastar-se e que entram, por
vezes, abertamente em conflito.
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Introdução ao Estudo do Direito

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