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UNIVERSIDADE LUSÍADA

PORTO
GRELHA DE CORREÇÃO
Faculdade de Direito
Licenciatura em Direito (3.º ano)
Ano letivo de 2021/2022
Prova Frequência/Exame
Data: 29/06/2022
Duração: 2h

Direito Processual Penal

Ao fazer patrulhamento apeado no início da noite, em Barcelos, Alves, Bento e


Carvalho, agentes da Guarda Nacional Republicana (GNR), ouvem insultos. Dirigindo-se ao
local de onde provinha o barulho, deparam-se com Daniel que, na direção da casa de Eurico
(que se encontrava na janela), proferia vários impropérios: «ladrão, velhaco, bandido. “És um
grande vigarista!”.
Entretanto, pelo sistema de comunicação, os agentes da GNR são chamados a um
outro local onde parecia estar a decorrer um assalto à moradia de Guilherme.
Bento e Carvalho dirigiram-se ao local do assalto, ficando Alves com a incumbência de
agir relativamente à situação em que Daniel era protagonista.
Chegados ao local em que haveria um assalto, Bento e Carvalho, veem, realmente, à
distância, um sujeito a sair de da casa de Guilherme, a colocar dois enormes sacos numa
viatura e a fugir.
Tendo Carvalho reconhecido Heitor e sabendo o local onde este se costumava
esconder, deslocam-se rapidamente ao posto da GNR a fim de requisitarem uma viatura.
Chegados ao esconderijo, os agentes da GNR surpreendem Heitor com os objetos valiosos
subtraídos a Guilherme.

Responda com clareza às seguintes questões:

1. [5v] Considerando que o comportamento de Daniel configuraria crime de injúria (artigo


181.º do CP) como deveria proceder Alves?

Crime de injúria (artigo 181º CP) é de natureza particular (artigo 188º CP). Pese embora se trate de flagrante delito
(artigo 256º, nº 1), Alves não poderia deter Daniel, apenas devia pedir a sua identificação (artigo 255º, n.º 4). Devia
também lavrar auto de notícia da ocorrência, uma vez que a presenciou (artigos 243.º e 242.º), e denunciar o crime,
nos termos do artigo 242.º, n.º 1, a), ainda que esta denúncia apenas desse lugar a instauração de inquérito se
viesse a ser apresentada queixa (artigo 242.º, n.º 3).
Devia, ainda, interpelar Daniel para que cessasse as injúrias, sob cominação de crime de desobediência. Havendo
desobediência, deve proceder à detenção (artigos 256º, n.º 1, e 255º, nº 1, a)) por crime público (artigo 348º CP).

2. [5v] Considerando que o comportamento de Heitor configuraria crime de furto qualificado


(artigo 204.º do CP), como deveriam proceder Bento e Carvalho?

Furto qualificado (artigo 204º CP) é crime público. Bento e Carvalho podiam deter Heitor, nos termos do artigo 256.º,
n.º 1 e n.º 2, e 255º, n.º 1, a). Deviam, ainda, constituí-lo arguido (artigo 58.º, n.º 1, c)), lavrar TIR (artigo 196º),
denunciar o crime (artigo 242.º, n.º 1, a)) e lavrar auto de notícia (artigo 243º).
Em seguida deviam comunicar a detenção ao MP (artigo 259, a)).

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3. [5v] Tendo sido instaurado processo penal em que Heitor figura como arguido, no final
do Inquérito entendeu o Ministério Público (MP) haver indícios suficientes de furto
qualificado, deduzindo acusação por este crime, contra Heitor, nos termos do artigo
204.º, n.º 1, alínea f), e n.º 2, alínea a), do CP, por ter penetrado em habitação alheia e
subtraído objeto de valor consideravelmente elevado. Inconformado, Guilherme,
entretanto constituído assistente, requer a abertura da instrução, invocando haver
indícios de que Heitor arrombara a porta de casa, pelo que entende enquadrar-se o furto
qualificado nos termos do artigo 204.º, n.º 2, alíneas a) e e), do CP. Seria legalmente
admissível o requerimento para a abertura de instrução de Guilherme?

Sim. Após lhe ser comunicada a Acusação (artigo 277º, n.º 3, ex vi artigo 283.º, nº 5), Guilherme, enquanto
ofendido, tinha legitimidade para se constituir assistente (artigo 68º, nº 1, a)) e, enquanto tal, para requerer
abertura da instrução no prazo de 20 dias (artigo 287º, nº 1, b)). Este requerimento altera substancialmente o
objeto da Acusação do MP, pois acrescenta facto novo (arrombamento) que leva a valoração social diferente
(por si preenche alínea, a f), do artigo 204º, nº 2). Trata-se de facto novo que leva a crime diverso. Assim, é
legalmente admissível, em conformidade com interpretação restritiva do artigo 287º, nº 1, b), considerando,
nomeadamente os elementos lógico e sistemático (com referência ao artigo 284º) de interpretação
[desenvolver e explicar]

4. [5v] O Juiz de Instrução criminal pronunciou pelos mesmos factos e qualificação jurídica
constantes na Acusação do Ministério Público. Em Julgamento, o tribunal entendeu que
os objetos haviam sido subtraídos de um cofre fechado (o que não constava na
pronúncia), pois aí tinham sido colocados, uns dias antes, por Isabel, mulher de
Guilherme. O tribunal condenou Heitor por furto qualificado nos termos do artigo 204.º,
n.º 1, alínea e), f), e n.º 2, alínea a), do CP. É válida a sentença condenatória?

Terem sido os objetos retirados de um cofre aumenta a ilicitude do facto, como se comprova pela alínea e) do
nº 1 do artigo 204º. Trata-se de facto novo que não agrava os limites máximos das sanções aplicáveis, mas
leva a crime diverso (diferente valoração social). Existe alteração substancial dos factos face à pronúncia, pelo
que a sentença é nula, nos termos do artigo 379º, n.º 1, b). Deve Heitor arguir a nulidade em recurso para que
seja suprida a mesma nos termos do artigo 379º, nº 2.

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