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Eva Moreira 340118209

DECISÃO

Procuradoria da República da Comarca do Porto

DIAP – 3ª secção do Porto

Processo n.º 3/23UCP

I. Factos objetivos

1. No dia 21 de março de 2023, pelas 2 horas, na Rua de Cima, freguesia de Lordelo


do Ouro, na cidade do Porto, o arguido, Paulo Miguel Sousa, foi detido em flagrante
delito por Manuel Silva Correia, agente principal da Esquadra da Foz do Douro que
se encontrava de patrulha.
2. O arguido encontrava-se na posse de dois brinquedos, sendo um, uma boneca, com
cabelo, vestido e laço branco, modelo Susy, no valor de 30€, e o outro, um carro
dos bombeiros, em plástico, modelo 425, no valor de 40€.
3. O valor total do furto era de 70€, e o estabelecimento comercial furtado, a Loja dos
Brinquedos, sito no n.º 123 na rua referida.
4. Para o efeito, com recurso a um paralelo, partiu o vidro da montra lateral, com
dimensão de cerca de 1 metro, por 50 centímetros.
5. O valor dos danos é desconhecido.
6. O arguido, ao notar a presença do agente da PSP, entrou em fuga, atirando os bens
furtados supramencionados para o solo.
7. A fuga foi neutralizada pelo agente principal após cerca de 200 metros, já na Rua
Pedro Escobar.
8. Das diligências efetuadas não foi possível localizar o responsável pelo
estabelecimento, pelo que se desconhece se foram furtados outros artigos.
9. Consultada a secção de informações da PSP, consta-se que o arguido é
toxicodependente e já tem outras detenções por furto.
10. Os referidos factos foram testemunhados por Pedro Oliveira Nunes, agente da
esquadra da Foz do Douro, no Porto.
11. Atuando da forma mencionada anteriormente, o arguido apropriou-se de coisa
móvel alheia, mesmo estando ciente da ilegalidade da sua conduta, e que estava a
cometer um crime.
12. O arguido agiu de forma livre, deliberada, e consciente, justificando a sua ação
dizendo que não tinha dinheiro para comprar brinquedos para os seus dois filhos,
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nem uma boa relação com a mãe dos mesmos e, ia partir para a Austrália no dia
seguinte e queria deixar-lhes uma memória.
13. Os factos que lhe são imputados são suscetíveis de integrar a prática de um crime de
furto qualificado, previsto e punido pelos artigos 203.º e 204.º, n.º 2, al. e) do
Código Penal.
14. O crime de furto qualificado é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos.

II. Factos subjetivos

O arguido encontra-se desempregado, é toxicodependente, alega que vai partir em breve


para a Austrália porque teve uma proposta de trabalho lá, e já tem outras detenções por furto.
Para além de haver a possibilidade de fuga, existe também o perigo de continuação de atividade
criminosa, nos termos dos artigos 203.º, 204.º, n.º 4 e 194.º, n.º 2 do Código de Processo Penal.

III. Do direito

A detenção de uma pessoa visa preencher as finalidades do artigo 254.º do Código de


Processo Penal. Dado que o arguido tinha acabado de cometer o crime quando foi encontrado
pelo agente da PSP na posse de dois brinquedos, uma boneca e um carro dos bombeiros, o
arguido foi detido em flagrante delito. Assim sendo, Manuel Silva Correia, agente da PSP,
procedeu à detenção do arguido, consoante o artigo 255.º, n.º 1 do Código Penal. Sendo, então,
a detenção foi válida.

Havendo perigo de fuga, seria preferencial aplicar uma medida de coação mais grave de
modo a neutralizar essa ameaça – artigo 194.º, n.º 2 do Código de Processo Penal.

No sistema judicial português, vigora o princípio da subsidiariedade — artigo 193.º, n.º


2 do Código de Processo Penal — ou seja, a prisão preventiva deve ser aplicada apenas em
última ratio, primando a análise de outra medidas de coação de possível aplicação.

Começando pela medida de obrigação de apresentação periódica, os respetivos


pressupostos encontram-se preenchidos — artigo 198.º, n.º 1 do Código de Processo Penal. No
entanto, esta medida é insuficiente, tendo em conta que o arguido tem intenções de sair do país
em breve.
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Relativamente à medida de proibição e imposição de condutas, no tratamento da


toxicodependência do arguido — artigo 200.º, n.º 1, alínea f) do Código de Processo Penal —
encontram-se preenchidos os pressupostos, dado que existem fortes indícios de prática de crime
doloso punível com pena de prisão de máximo superior a 3 anos. Esta medida, novamente,
prova-se insuficiente dado que não reduz o risco de fuga do arguido.
Perante a inadequação e insuficiência das medidas de coação supramencionadas, deve
dar-se primazia à aplicação da obrigação de permanência na habitação ao invés da prisão
preventiva, desde que, segundo o princípio da subsidiariedade, a primeira seja suficiente para
satisfazer as exigências cautelares — artigo 193.º, n.º 2 e 3 do Código de Processo Penal.

Apesar de estarem preenchidos os pressupostos para a aplicação da obrigação de


permanência na habitação, dado que existem fortes indícios de prática de crime doloso punível
com pena de prisão de máximo superior a 3 anos, esta medida prova-se insuficiente pois padece
de meios para evitar a fuga do arguido.

Assim sendo, a prisão preventiva é a medida de coação suficiente e adequada ao caso


em análise – artigos 191.º, 192.º, 193.º, 194.º, 202.º, n.º 1 alíneas a) e d) e 204.º, n.º 1 alínea c)
do Código de Processo Penal.

Contudo, o crime de furto simples é um crime semipúblico, estando o procedimento


criminal dependente de queixa. Perante a impossibilidade da localização do responsável pelo
estabelecimento, não existiu queixa, pelo que o processo não foi instaurado. Logo, é impossível
a aplicação da medida de coação devido à inexistência do processo.

IV. Meios de prova

1. Auto de notícia.
2. Declarações do arguido prestadas no interrogatório.
3. Declarações das testemunhas: Manuel Silva Correia e Pedro Oliveira Nunes.

V. Decisão

Pelo exposto, e segundo o artigo 261.º do CPP, ordeno


a libertação imediata do arguido.

A Exma. Sra. Juíza de Instrução Criminal,


Eva Moreira
Aqui, aplicávamos o n.º 4 do 204, portanto aplicávamos o art. 203.º
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