- No dia 14/01//2023, Afrânio, desempregado e motivado por desespero, aproveita a distração

do segurança do Supermercado Extra da Tijuca para subtrair uma cesta básica, com a finalidade de
alimentar seus filhos menores.

- A polícia percebendo a conduta de Afrânio sai em perseguição e o prende de posse da cesta

básica. Afrânio é imediatamente encaminhado à 19ª Delegacia de Polícia do RJ, onde foi lavrado o
flagrante.

- Contudo, não foi entregue a nota de culpa em 24 horas, bem como, não foi comunicada a
prisão ao Juiz, ao MP e a Defensoria Pública. Foi vedado o acesso do preso a sua família e a um
advogado. E não foi realizada a audiência de custódia.

- Afrânio, é brasileiro e divorciado, tem 20 anos de idade, primário e de bons antecedentes e

tem residência fixa na Rua da Infelicidade, nº 10, Morro dos Infortúnios, nesta Cidade. Com base
nos elementos acima informados, na qualidade de advogado constituído, analise a repercussão
jurídico-penal dos fatos acima descritos e as providências a serem adotadas considerando a fase
processual, elabore, se for o caso, a peça processual pertinente privativa de advogado.
Paralelamente, exponha de modo fundamentado, o raciocínio adotado.

1ª Etapa – Verificar a fase processual em que você se encontra ao ler o enunciado. Afrânio preso em
flagrante, não tem denúncia. Fase de inquérito policial.

Furtar cesta básica de alimentos é prisão legal ou ilegal? Relaxamento de prisão, liberdade provisória com
ou sem fiança. Famélico.

Primeira coisa é verificar o inter criminis.

1. Cogitação = não é ato punível.

2. Atos preparatórios = não são puníveis, salvo atos que constituem crimes por si mesmos. Ex: pessoa
armada vai matar alguém, mas no caminho é parada pela polícia. Porte ilegal de arma. Ato
preparatório.
3. Execução = atos inequívocos, destinados à consumação do crime, quando o agente pratica o verbo
do tipo. Ex: ao matar, inicia-se a execução. Iniciada a execução, analisar se existe:
a. Tentativa – causa obrigatória de redução de pena
b. Desistência voluntária ou arrependimento eficaz art. 15 (hipótese de tentativa abandonada, não
responde por tentativa em nenhuma hipótese)
c. Crime impossível. Ver se era possível chegar a consumação. Existência ou não da ineficácia absoluta
do meio ou do objeto. Art. 17. Fato atípico.

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 d. Consumação. Art. 14, I. Quando o agente reúne todos os elementos para a definição legal do tipo, o
crime está consumado. Se o crime está consumado, analisar art. 16 - arrependimento posterior.

OBS: Crime exaurido. Nos crimes formais, de consumação antecipada, o tipo descreve uma conduta e
um resultado. Mas no crime formal, o crime se consuma de forma antecipada com a prática da
conduta. Praticada a conduta, o crime estará consumado. A realização o resultado é mero exaurimento
do crime.

Quanto ao enunciado:

Se a prisão é ilegal, pedido de relaxamento de prisão. Se a prisão é legal, pedido de liberdade provisória
com ou sem fiança.

Preso em flagrante por furtar o supermercado = prisão legal.

Porém não foram cumpridos direitos legais e constitucionais do preso, uma vez que não recebeu a nota
de culpa em 24hs, não foi comunicada a prisão imediatamente ao juiz e MP, não permitiram acesso do
preso à família e ao advogado e após 24hs da prisão não foi encaminhada cópia integral para a
promotoria e defensoria pública.

Prisão que era legal, passou a ser ILEGAL. Petição a ser adotada é o RELAXAMENTO DE PRISÃO.

Inter Criminis utilizado para ver se há flagrante. Art. 301 CPP.

Flagrante facultativo = qualquer pessoa do povo poderá prender quem se encontra em flagrante delito.

Flagrante obrigatório = autoridade policial e agentes deverão prender quem se encontra em flagrante
delito.

Art. 302 – espécies de flagrante.

real ou próprio:

I – quem está cometendo infração

II – quem acaba de cometê-lo

Inter criminis = quem iniciou a execução está cometendo o crime

Flagrante impróprio ou quase flagrante:

III – quando o agente é percebido logo após pela autoridade, ofendido ou qualquer pessoa em situação
que faça presumir ser o autor da infração. (CASO DO AFRÂNIO)

Flagrante presumido, ou ficto:

IV – quando encontrado logo depois com instrumentos, armas objetos ou papéis que façam presumir a
prática da infração.

Petição SEMPRE será feita utilizando o art. 41 do CPC e art. 319 do CPP no que couber.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA

COMARCA DA CAPITAL

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AFRÂNIO, brasileiro, divorciado, desempregado, com vinte anos de idade, identidade
e CPF, residente na rua da infelicidade, número dez, morro dos infortúnios, nesta
cidade (qualificação art. 319, inciso II do CPC), por intermédio do seu advogado, infra
assinado vem requerer

RELAXAMENTO DE PRISÃO

com fundamento no art. 5º, inciso LXV, LXVI e LXVII da constituição federal de 88, art.
7º, número 5 do Pacto São José da Costa Rica e artigos 306 e 310, inciso I, ambos do
Código de Processo Penal, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I – DOS FATOS:

No dia quatorze de janeiro de 2023, o requerente foi preso em flagrante acusado

de subtrair uma cesta básica de alimentos no supermercado Extra da Tijuca. Assim, o
requerente foi encaminhado à 19ª Delegacia de Polícia, onde foi lavrado o auto de
prisão em flagrante.

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Contudo, o requerente não recebeu a nota de culpa em vinte e quatro horas, bem
como não foi comunicada a sua prisão ao juiz e ao ministério público, e ainda, foi
vedado o acesso do preso à família e ao advogado.

Vale ressaltar que após o prazo de vinte e quatro horas não foi enviada a cópia do
auto de prisão em flagrante à defensoria pública, e até a presente data, não foi
realizada a audiência de custódia.

Desta feita, verifica-se que ocorreu grave ofensa aos direitos do requerente, em
especial às exigências do art. 5º, incisos LXV, LXVI e LXVII da Constituição Federal de
88, art. 7º, número 5 do Pacto São José da Costa Rica e artigos 306 e 310, inciso I,
ambos do CPP, o que torna a prisão ilegal, motivo pelo qual deve ser RELAXADA.

II – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – ATIPICIDADE MATERIAL

O requerente foi preso em flagrante por furtar uma cesta básica, um valor ínfimo,
portanto, a sua conduta não atingiu o bem jurídico tutelado de forma significante.
Trata-se de crime de bagatela e, portanto, o fato é atípico por ausência de tipicidade
material.

Vale ressaltar que estão presentes os requisitos para aplicação do princípio da

insignificância, segundo o STF:

1) Mínima ofensividade da conduta do agente;

2) Nenhuma periculosidade social da ação;
3) Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
4) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Portanto, trata-se de fato atípico, configurando a prisão ilegal, motivo pelo qual
deve ser relaxada.

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III – ESTADO DE NECESSIDADE – EXCLUDENTE DE ILICITUDE

O requerente é primário, tem bons antecedentes, é um trabalhador que encontra-se

desempregado e em estado de pobreza, subtraiu uma cesta básica com a finalidade
de alimentar seus filhos menores, motivado pelo desespero.

Assim, a conduta do requerente está acobertada pelo estado de necessidade,

trata-se de furto famélico e, portanto, existe causa excludente de ilicitude nos termos
do art. 24 do CP.

IV – TESE ALTERNATIVA – LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA:

Conforme exposto acima, a prisão do requerente é ilegal e deve ser relaxada.

Entretanto, caso esse juízo entenda pela legalidade da prisão em flagrante,

alternativamente deve ser concedida liberdade provisória sem fiança, com fundamento
no artigo 310, §1º do Código de Processo Penal, uma vez que o requerente agiu em
estado de necessidade.

E ainda, o requerente é pobre, encontra-se desempregado e não tem como pagar a

fiança, sem prejuízo da sua própria mantença, motivo pelo qual tem direito à liberdade
provisória sem fiança, nos termos do artigo 350 do Código de Processo Penal.

Vale ressaltar que não estão presentes os requisitos e fundamentos da prisão

preventiva exigidos pelo artigo 312 do Código de Processo Penal, motivo pelo qual o
requerente tem direito à liberdade provisória. E uma vez que a conduta do requerente
está acobertada pelo estado de necessidade deve ser concedida a liberdade
provisória sem fiança.

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V – DO PEDIDO:

Pede que seja relaxa a prisão ilegal e expedido o alvará de soltura.

Alternativamente, caso esse juízo entenda que a prisão em flagrante é formalmente

legal, pede que seja deferida a liberdade provisória sem fiança, nos termos dos artigos
310, §1º e 350, ambos do Código de Processo Penal.

VI – DO REQUERIMENTO:

Requer a juntada dos documentos em anexo abaixo relacionados:

a) Procuração;

b) Declaração de pobreza;

c) Cópia da identidade, CPF e CTPS;

d) Certidão de nascimento dos filhos menores;

e) Comprovante de residência;

f) Declarações de idoneidade.

NESTES TERMOS,

PEDE DEFERIMENTO.

RIO DE JANEIRO, 17 DE JANEIRO DE 2023

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 ADVOGADO

OAB

São crimes inafiançáveis, conforme art. 223 CPP:

Inafiançáveis e imprescritíveis:

1 – Ação de grupos armados contra o Estado democrático de direito

2 – Crimes de racismo, previstos na lei 7716/89.

3 – A injúria racial, artigo 140, §3º.

Apenas inafiançáveis:

4 – Os crimes hediondos.

5 – Os crimes equiparados a hediondos: tráfico, terrorismo e tortura.