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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DO

TRIBUNAL DO JÚRI DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE CEILÂNDIA –


DISTRITO FEDERAL
Distribuição por dependência ao ato de prisão em flagrante.
Elenilde Maridélia, brasileira, casada, com ... anos na data do fato, policial
civil, portadora do RG sob o nº..., devidamente inscrita no CPF sob o nº ..., residente e
domiciliada na QSD 315, Bloco W, Apartamento 301, Ceilândia - DF, com endereço
eletrônico ..., vem à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado
infra constituído, conforme instrumento de procuração em anexo, com fulcro nos
Artigos 5º, LXV, da Constituição Federal - CF/88 e 310, I, do Código de Processo Penal
- CPP, requerer
RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE
consoante os fundamentos fáticos e jurídicos a seguir aduzidos:

I - DOS FATOS
Conforme consta do auto de prisão em flagrante, a Requerente fora autuada
e presa em suposto flagrante de delito no dia 15 de maio de 2021, pela prática do crime
capitulado no Artigo 121, caput, do Código Penal Brasileiro, contra um meliante que
adentrara em sua residência e lhe apontava a arma, quando, para evitar a injusta
agressão que seria perpetrada contra sua vida, a Requerente desferiu um único tiro no
indivíduo, atingindo-lhe o peito, fato que o levou a óbito. Horas depois, quando
compareceu à delegacia, para informar o feito à autoridade policial, o delegado, diante
do fato, procedeu com o interrogatório da Requerente e acabou por prendê-la em
flagrante e, posteriormente, passou a ouvir as testemunhas mencionadas por ela, que
teriam presenciado o fato. Logo após, lavrou-se o auto de prisão em flagrante, ocasião
em que lhe foi negado o direito constitucional de entrevistar-se com advogado ou
familiares.
Em 18 de maio de 2021, a Requerente recebeu sua nota de culpa, tendo
informado, naquela oportunidade, que não possuía defensor constituído e que desejava
comunicar sua prisão ao seu marido. Ainda, logo após a homologação da prisão em
flagrante, os autos foram remetidos ao Ministério Público, entendendo que este por ser o
dominus litis, era o maior interessado na causa, comunicando, em seguida, a prisão da
Requerente ao seu esposo. O Ministério Público, por sua vez, requereu ao Juízo
competente a designação da audiência de custódia, que foi designada para o dia 23 de
maio de 2021.
Assim, ante a evidente ilegalidade da prisão em flagrante, esta deve ser
relaxada, consoante se vê a seguir.

II – DO DIREITO
II. 1 - Da ilegalidade da prisão em flagrante da Requerente
Primeiramente, considerando-se os fatos acima expostos, é possível afirmar,
que os requisitos necessários para a prisão em flagrante não foram observados no caso
em tela, motivo pelo qual justifica-se o presente. Assim, dispõe o “Artigo 5º, inciso
LXV, da Constituição Federal que: - LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada
pela autoridade judiciária”.
Conforme depreende do auto de prisão, a Requerente foi convidada a se
apresentar na Delegacia de Polícia especializada, para prestar esclarecimento sobre o
delito cometido em 15 de maio de 2021, em que figura como suspeito. Assim, a
Requerente apresentou-se imediata e espontaneamente à autoridade policial para
comunicar o ocorrido, não demonstrando qualquer intenção de fuga, motivo pela qual
não poderia ser presa em flagrante.
Com efeito, a prisão em flagrante imposta não atendeu às exigências legais.
Sabe-se que a referida modalidade de prisão só pode ser imposta diante das hipóteses
previstas no art. 302 do Código de Processo Penal. Senão vejamos:
Art. 302 – Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal;
II – acaba de cometê-la;
III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da infração;
IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Portanto, Excelência, fica evidente que, no caso em apreço, não ocorreu
estado de flagrância, nenhuma destas hipóteses ocorreram, razão pela qual o flagrante é
ilegal. Por essa razão o relaxamento da prisão é medida que se impõe, uma vez que a
permanência da Requerente em cárcere consiste em coação ilegal.
Cabe dizer, que não houve nexo entre o momento da prisão e a prática do
delito. Sendo assim, não caracterizada qualquer das hipóteses previstas no referido
dispositivo legal acima descrito, não pode subsistir a prisão efetuada pela autoridade
policial como sendo em flagrante delito.
Assim, verifica-se que, para a ocorrência da prisão em flagrante delito, é
pressuposto indispensável que o autor do ilícito ‘seja surpreendido por terceiro’ na
prática infracional ou, após sua prática, seja perseguido por esse ou pelo ofendido, ou,
ainda seja surpreendido na posse de coisas que façam presumir ser o autor da infração.
Neste mesmo entendimento segue o posicionamento de nossos tribunais,
senão vejamos:
"Prisão em flagrante - Inocorrência - Agente que não foi
surpreendido cometendo a infração penal, nem tampouco
perseguido imediatamente após sua prática, não sendo
encontrado, ademais, em situação que autorizasse presunção de
ser o seu autor." (TJSP - Câm. Crim. h.c. nº 128260, em 3.2.76,
Rel. Des. Humberto da Nova - RJTJESP 39/256)

"Prisão em flagrante - Inocorrência - Inteligência dos arts. 302


e 317 do CPP - O caráter de flagrante não se coaduna com a
apresentação espontânea do acusado à autoridade policial.
Inexiste prisão em tais circunstâncias." (TJSP _ Câm. Crim.
h.c. nº 126351, em 22.7.75, Rel. Des. Márcio Bonilha - RT
82/296)
Na mesma linhagem, segue o julgado do Tribunal de Justiça de Roraima
TJ-RR - Habeas Corpus: HC 0010070087449:
Ementa
HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO QUALIFICADO –
APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA DO ACUSADO À
AUTORIDADE POLICIAL – PRISÃO EM FLAGRANTE –
INADMISSIBILIDADE.
1. Não tem cabimento prender em flagrante o agente que, horas
depois do crime, entrega-se à polícia, que não o perseguia, e
confessa a autoria do delito. Precedentes do STF e do STJ.
2. Ordem concedida, para relaxar o flagrante, sem prejuízo de
eventual decretação da prisão preventiva, desde que
devidamente fundamentada.
Em verdade, a apresentação espontânea do requerente, confessando a
autoria e a existência do delito, desfigura, por imprópria, a lavratura do auto de prisão
em flagrante.
Nesse mesmo sentido, a doutrina de Magalhães Noronha, nos ensina que:
"Apresentando-se o acusado, nem por isso a autoridade poderá
prendê-lo: deverá mandar lavrar o Auto de Apresentação, ouvi-
lo-á e representará ao Juiz quanto à necessidade de decretar a
custódia preventiva, seja facultativa, seja compulsória. Inexiste
prisão por apresentação." (in Curso de Direito Processual
Penal).
Cabe salientar ainda, que a Requerente agiu em estado de legítima defesa
para proteger o seu bem maior, “a vida”, vez que o meliante foi invasivo adentrando em
sua residência munido de uma arma, pistola semiautomática e apontava para a
Requerente em sentido de alvejá-la. Nesse momento, a Requerente em posse de sua
arma, um revólver calibre 38, para evitar a injusta agressão que seria perpetrada contra
sua vida, desferiu um único tiro no indivíduo, atingindo-lhe o peito, fato que levou o
meliante a óbito.
Em conformidade com o disposto nos termos do Art. 25 do Código Penal:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente
dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem.
Como se extrai do Art. 23, II, do Código Penal, a legítima defesa é causa de
exclusão da ilicitude. Destarte, o fato típico praticado em legítima defesa é lícito. Não
configura crime.
No caso em apreço, pode se verificar que a Requerente agiu em legitima
defesa e de forma moderada, desferindo um único tiro no indivíduo, atingindo-lhe o
peito, fato que o levou a óbito. Condição essa, que cabe a extinção da punibilidade e o
relaxamento da prisão da Requerente.
Nesse sentido, corrobora o julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul TJ-RS - Apelação Crime: ACR 0067501-68.2017.8.21.7000 RS
Ementa
APELAÇÃO CRIME. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE.
LEGÍTIMA DEFESA RECONHECIDA. REFORMA DA
SENTENÇA.
Houve a moderação na conduta do réu para deter as agressões,
evidenciada pelo desferimento de apenas um golpe, que foi praticado
com o intento de afastar a vítima, a demonstrar o intuito da autodefesa.
Ainda, os relatos existentes nos autos são no sentido de que o ofendido
agrediu o réu e, no contexto de luta corporal, para repelir as agressões,
o apelante utilizou-se do meio necessário, no caso, uma arma branca.
Portanto, imperiosa a absolvição do réu, fulcro no artigo 386, inciso
VI, do Código de Processo Penal. RECURSO DA DEFESA PROVIDO.
PREJUDICADO O RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
II. 2 - Da ilegalidade da prisão em flagrante por infringência do direito
Constitucional da Requerente
Sequentemente, é oportuno relatar que, somente em 18 de maio de 2021,
depois de transcorrido 03 (três) dias do prazo legal, a Requerente recebeu sua nota de
culpa, tendo informado, naquela oportunidade, que não possuía defensor constituído e
que desejava comunicar sua prisão ao seu marido, além do que, os autos foram
remetidos diretamente ao Ministério Público, sem a devida observação dos requisitos
legais de procedimento. Por sua vez, o membro do Parquet requereu ao Juízo
competente a designação da audiência de custódia, que foi designada para o dia 23 de
maio de 2021, 08 (oito) dias após a lavratura do auto de prisão em flagrante.
Deste modo, verifica-se a ilegalidade de referida prisão em flagrante por não
respeitar o direito Constitucional da Flagranciada, de entrevistar-se com seu advogado e
comunicar-se com familiar, além do que, não foi comunicada a Autoridade Judiciária do
flagrante dentro do prazo legal e nem foi comunicada a Defensoria Pública. Sendo que o
prazo máximo para tal ato é de 24 (vinte e quatro) horas, como expresso no artigo 306,
§ 1º do CPP:
“Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente,
ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da
prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão
em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.”
Dessa forma, a prisão em flagrante da Requerente é manifestamente ilegal,
sendo imperioso o imediato relaxamento, nos termos do artigo 5º, LXV, da Constituição
Federal, com a consequente expedição de alvará de soltura.

III – DOS PEDIDOS


Por todo o exposto, pugna o Requerente pelo Relaxamento da Prisão em
Flagrante, ante as ilegalidades que recaem sobre o procedimento, conforme Artigo 310,
I, do CPP, com a consequente expedição de Alvará de Soltura em seu favor, como
medida da mais lídima justiça.
Termos em que,
Pede deferimento.
Ceilândia/DF, 24 de maio de 2021.

Advogado...
OAB...

Existe prazo para pedido de relaxamento da prisão em flagrante?


Segundo a doutrina, não há prazo para o pedido de relaxamento da prisão em flagrante.
Contudo, a meu ver, ele somente poderá ser feito até a decisão prolatada pelo juiz em
audiência de custódia uma vez que, a partir daí, a prisão em flagrante deixa de existir.
Portanto, depois disso, o pedido pode até ser de relaxamento da prisão, mas não mais da
prisão em flagrante.

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