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I - DOS FATOS
Conforme consta do auto de prisão em flagrante, a Requerente fora autuada
e presa em suposto flagrante de delito no dia 15 de maio de 2021, pela prática do crime
capitulado no Artigo 121, caput, do Código Penal Brasileiro, contra um meliante que
adentrara em sua residência e lhe apontava a arma, quando, para evitar a injusta
agressão que seria perpetrada contra sua vida, a Requerente desferiu um único tiro no
indivíduo, atingindo-lhe o peito, fato que o levou a óbito. Horas depois, quando
compareceu à delegacia, para informar o feito à autoridade policial, o delegado, diante
do fato, procedeu com o interrogatório da Requerente e acabou por prendê-la em
flagrante e, posteriormente, passou a ouvir as testemunhas mencionadas por ela, que
teriam presenciado o fato. Logo após, lavrou-se o auto de prisão em flagrante, ocasião
em que lhe foi negado o direito constitucional de entrevistar-se com advogado ou
familiares.
Em 18 de maio de 2021, a Requerente recebeu sua nota de culpa, tendo
informado, naquela oportunidade, que não possuía defensor constituído e que desejava
comunicar sua prisão ao seu marido. Ainda, logo após a homologação da prisão em
flagrante, os autos foram remetidos ao Ministério Público, entendendo que este por ser o
dominus litis, era o maior interessado na causa, comunicando, em seguida, a prisão da
Requerente ao seu esposo. O Ministério Público, por sua vez, requereu ao Juízo
competente a designação da audiência de custódia, que foi designada para o dia 23 de
maio de 2021.
Assim, ante a evidente ilegalidade da prisão em flagrante, esta deve ser
relaxada, consoante se vê a seguir.
II – DO DIREITO
II. 1 - Da ilegalidade da prisão em flagrante da Requerente
Primeiramente, considerando-se os fatos acima expostos, é possível afirmar,
que os requisitos necessários para a prisão em flagrante não foram observados no caso
em tela, motivo pelo qual justifica-se o presente. Assim, dispõe o “Artigo 5º, inciso
LXV, da Constituição Federal que: - LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada
pela autoridade judiciária”.
Conforme depreende do auto de prisão, a Requerente foi convidada a se
apresentar na Delegacia de Polícia especializada, para prestar esclarecimento sobre o
delito cometido em 15 de maio de 2021, em que figura como suspeito. Assim, a
Requerente apresentou-se imediata e espontaneamente à autoridade policial para
comunicar o ocorrido, não demonstrando qualquer intenção de fuga, motivo pela qual
não poderia ser presa em flagrante.
Com efeito, a prisão em flagrante imposta não atendeu às exigências legais.
Sabe-se que a referida modalidade de prisão só pode ser imposta diante das hipóteses
previstas no art. 302 do Código de Processo Penal. Senão vejamos:
Art. 302 – Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal;
II – acaba de cometê-la;
III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da infração;
IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Portanto, Excelência, fica evidente que, no caso em apreço, não ocorreu
estado de flagrância, nenhuma destas hipóteses ocorreram, razão pela qual o flagrante é
ilegal. Por essa razão o relaxamento da prisão é medida que se impõe, uma vez que a
permanência da Requerente em cárcere consiste em coação ilegal.
Cabe dizer, que não houve nexo entre o momento da prisão e a prática do
delito. Sendo assim, não caracterizada qualquer das hipóteses previstas no referido
dispositivo legal acima descrito, não pode subsistir a prisão efetuada pela autoridade
policial como sendo em flagrante delito.
Assim, verifica-se que, para a ocorrência da prisão em flagrante delito, é
pressuposto indispensável que o autor do ilícito ‘seja surpreendido por terceiro’ na
prática infracional ou, após sua prática, seja perseguido por esse ou pelo ofendido, ou,
ainda seja surpreendido na posse de coisas que façam presumir ser o autor da infração.
Neste mesmo entendimento segue o posicionamento de nossos tribunais,
senão vejamos:
"Prisão em flagrante - Inocorrência - Agente que não foi
surpreendido cometendo a infração penal, nem tampouco
perseguido imediatamente após sua prática, não sendo
encontrado, ademais, em situação que autorizasse presunção de
ser o seu autor." (TJSP - Câm. Crim. h.c. nº 128260, em 3.2.76,
Rel. Des. Humberto da Nova - RJTJESP 39/256)
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