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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA

COMARCA DE ORIXIMINÁ/PA.

Processo nº. 0801269-60.2023.8.14.0037

RAIMUNDO JOSÉ TAVARES NETO, já qualificado nos autos do processo em


epígrafe, vem, através de sua advogada subscritora, à presença de V. Exa. com fundamento no
art. 403 do CPP, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS em forma de MEMORIAIS, pelos motivos
e fundamentos que passa a expor.

I. DA SÍNTESE DOS FATOS

O réu RAIMUNDO JOSÉ TAVARES NETO está sendo processado pela suposta
prática do delito de roubo circunstanciado tentado, tipificado no art. 157 § 2º, II, §2º- A, I, c/c
art. 14, inciso II, todos do Código Penal Brasileiro.

Nos termos da denúncia apresentada pelo Parquet, no dia 10/07/2023, por volta das
20h30min, em frente à uma residência do município de Oriximiná-PA, em concorrência com
terceiros não identificados e, no uso de arma de fogo, supostamente tentou roubar as vítimas
Amuri Almeida Sarubbi e Sueny de Souza Lima.

Segundo narrou a inicial acusatória, no dia dos fatos, as supostas vítimas estavam na
frente de sua residência conversando com seu funcionário, quando um carro FIAT UNO, COR
PRATA, parou e dois indivíduos, mediante união de desígnios desceram e anunciaram um
assalto, ambos armados. Os indivíduos mandaram a vítima, seu funcionário e sua namorada
SUENY, entrarem para o interior da residência e a deitarem no chão. A todo instante ficavam
perguntando onde estava o dinheiro, mas a vítima alegava que não possuía dinheiro em casa e
que o dinheiro estava no banco.

Em seguida, os indivíduos foram embora sem levar nada. Ainda segundo a vítima
AMAURI, um dos que lhe abordou era moreno e estava com um pano cobrindo parte do rosto,
sendo que o outra estava com uma máscara de proteção descartável no rosto. Consta, ainda, que
SUENY reconheceu o terceiro indivíduo, o ora acusado, como o condutor do veículo.

Ocorrendo o oferecimento da denúncia, restou determinada a citação de


RAIMUNDO para a apresentação de resposta à acusação, o que foi devidamente realizada pela
defesa (ID 98816476), sendo que, no ID 101821846, o magistrado recebeu a denúncia e designou
audiência de instrução e julgamento.

Em Juízo (ID 104034749), foram ouvidas as vítimas e as testemunhas de acusação,


bem como foi realizada a qualificação e o interrogatório do réu RAIMUNDO NETO, sendo os
depoimentos registrados em sistema audiovisual, conforme prevê o art. 405 do Código de
Processo Penal.

Em suas Alegações Finais (ID 105131529), o Órgão Ministerial requereu a


CONDENAÇÃO do acusado RAIMUNDO, pela prática do crime previsto no art. 157 § 2º, II,
§2º- A, I, do Código Penal Brasileiro.

É a síntese do que interessa.

II. DO MÉRITO

• Do reconhecimento da circunstância atenuante da Confissão

Nobre Julgador, conforme se observa nos autos, RAIMUNDO, desde a ocasião da


abordagem policial, em momento nenhum tentou se furtar da lei penal ou negou a prática
delitiva.
De forma harmônica, o acusado, em sede instrutória, também confessou a prática do
delito de tentativa de roubo, inclusive, destacou seu grande arrependimento de infringir as
normas brasileiras, como forma de colaborar com a elucidação fática.

A confissão, segundo nosso ordenamento jurídico, é considerada como um estímulo


à verdade processual, não se exigindo, como na lei anterior, que o ilícito seja de autoria ignorada
ou imputada a outrem. Conforme se observou nos autos, a auto incriminação ocorreu por
vontade livre do denunciado, sem qualquer interferência externa ou intimidações dos agentes
policiais.

Sobre o tema, Fernando Capez discorre:

"(...) o agente que confessa a autoria, quando já desenvolvidas todas as


diligências e existindo fortes indícios, ao final confirmados, não faz jus à
atenuante. Para a incidência desta, é necessária a admissão da autoria, quando
esta ainda não era conhecida (...) A confissão em segunda instância, após a
sentença condenatória, não produz efeitos, uma vez que neste caso não se pode
falar em cooperação espontânea quando a versão do acusado já foi repudiada
pela sentença de primeiro grau." (CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal:
Parte Geral. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 1. p. 494).

Sabe-se que a confissão que poderá ser reconhecida com fundamento no artigo 65,
inciso III, alínea 'd', do Código Penal é tão somente a espontânea, por expressa disposição legal.
Não existe previsão legal para a confissão voluntária. Nesse sentido, colhe-se o seguinte julgado:

APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.


TRÁFICO DE ENTORPECENTES. ART. 33, CAPUT, DA LEI
N.11.343/06. PENA-BASE. REEXAME DE CIRCUNSTÂNCIAS
JUDICIAIS. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. CONFISSÃO
ESPONTÂNEA NA FASE POLICIAL. RETRATAÇÃO EM JUÍZO.
INCIDÊNCIA DA ATENUANTE. EXCLUSÃO DA CAUSA ESPECIAL
DE REDUÇÃO DA PENA. ART. 33, §4º, DA LEI N.11.343/06. NÃO
CABIMENTO. 1. A dosimetria da pena é matéria de ordem pública e pode ser
apreciada de ofício a qualquer tempo e grau de jurisdição, impondo-se a redução
da pena-base, ainda que em recurso exclusivo da acusação, se a fundamentação
adotada na sentença é inidônea. 2. A confissão extrajudicial que serve como
fundamento da condenação, ainda que retratada em Juízo, autoriza a aplicação
da atenuante da confissão espontânea. 3. Se o réu é primário e possui bons
antecedentes, e se não há nos autos provas de que ele se dedicava à atividade
criminosa ou pertencia à organização criminosa, mantém-se a aplicação da
causa especial de redução da pena prevista no artigo 33, §4º, da Lei 11.343/06.
4. Recurso do Ministério Público conhecido e não provido. De ofício, reduzida
a pena imposta ao réu. (Acórdão 937464, 20150110601313APR, Relator:
HUMBERTO ULHÔA, Revisor: NILSONI DE FREITAS CUSTODIO, 3ª
TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 28/4/2016, publicado no DJE:
3/5/2016. Pág.: 211/220). g.n.

Portanto, diante dos argumentos acima expendidos, a defesa pugna, em caso de


condenação, pelo reconhecimento da circunstância atenuante da confissão, ex vi do art. 65,
inciso III, alínea ‘d’, do Código Penal, como forma de reduzir a pena futuramente imposta ao
acusado Raimundo José Tavares Neto.

• Da Tentativa

Para a consumação do crime de roubo é imprescindível que o bem, injustamente


apropriado pelo agente, saia da esfera de vigilância da vítima e, ao mesmo tempo, que aquele
tenha a sua posse tranquila.

Pois bem, consoante as declarações das próprias vítimas, o acusado em momento


algum subtraiu qualquer bem, senão vejamos o depoimento de Amauri Almeida Sarubi (ID
104034757) in verbis:

“(...) Que no momento do fato tinham vizinhos pela frente da casa,


oportunidade em que eles perguntaram: cadê o dinheiro? O depoente afirmou
que o valor ficava no banco e que se quisessem poderiam entrar na casa para
revistar. Afirmou também que as pessoas que estavam na frente tinham os visto
entrando na casa e que provavelmente chamaram a polícia. Nesse determinado
momento eles ficaram nervosos e imediatamente foram embora sem levar
nada.

Como se percebe no depoimento das vítimas e das testemunhas, sequer houve a


consumação do delito, por forças alheias à vontade do acusado, motivo pelo qual, em caso de
condenação, não deve ser responsabilizado pela prática do crime consumado.

Nesse sentido, o Egrégio SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL dispõe:

" Se o agente foi imediatamente perseguido e preso em flagrante, retomado o


bem, não se efetivou a subtração da coisa à esfera de vigilância do dono,
tratando-se, pois, de crime tentado "(RT 592/448).

No mesmo diapasão, a posição do Superior Tribunal de Justiça, senão vejamos:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ROUBO


TENTADO MAJORADO. MOMENTO CONSUMATIVO DO ROUBO.
INVERSÃO DA POSSE E CESSAÇÃO DA VIOLÊNCIA OU GRAVE
AMEAÇA. CAUSA DE REDUÇÃO DA TENTATIVA. FRAÇÃO DE 1/3.
ITER CRIMINIS PERCORRIDO. CRITÉRIO IDÔNEO. MANUTENÇÃO.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. - Quanto à fração aplicada para a
redução da pena, em razão do delito tentado, sua modulação é inversamente
proporcional ao iter criminis percorrido. É dizer: quanto maior o caminho
percorrido pela conduta do agente, antes de efetivamente violar o bem
juridicamente tutelado pela norma, maior o perigo ao qual o bem jurídico
resultou exposto e maior será o desvalor da conduta, a ensejar uma menor
redução da pena - A jurisprudência deste Superior Tribunal firmou que
consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada,
sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada (Súmula 582/STJ)-
Na hipótese, o ora agravante e os corréus, como ficou bem delimitado no quadro
fático-probatório fixado pelas instâncias ordinárias, chegaram muito perto da
inversão da posse da res acompanhada da cessação da violência e da grave
ameaça, "somente não logrando a subtração do objeto, último ato antes da
consumação do roubo próprio, porque foram flagrados pelo policial militar José
Antônio" (fl. 366), de modo que o iter criminis foi percorrido quase na
integralidade, autorizando uma redução mínima da reprimenda - A reforma do
quadro fático-probatório firmado na origem é tarefa inviável em sede de habeas
corpus - Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no HC: 604895 SC
2020/0202345-0, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
Data de Julgamento: 22/09/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 28/09/2020). g.n.

No caso, percebe-se que não houve subtração de qualquer bem das vítimas, motivo
pelo qual deve ser aplicada a redução prevista no art. 14, inciso II, do Código Penal, dada a não
consumação do delito.

Portanto, se há que se falar em violação de regra jurídica, e somente por amor aos
debates, seguramente não ultrapassou os limites de tentativa. Devendo, destarte, ser
desclassificada a imputação prescrita na peça exordial para a sua forma tentada.

• Da Dosimetria da Pena Eventualmente Aplicada

Seguidamente, em caso de condenação, requer que a pena base seja fixada no


mínimo legal, posto que nos autos não há elementos concretos que fundamentem
posicionamento diverso.

Inicialmente, o réu RAIMUND NETO é primário.

A culpabilidade é dimensionada pelo grau de intensidade da reprovação penal. No


caso em tela, tem-se que a culpabilidade é regular não denotando uma conduta de maior
desaprovação social.

A conduta social do acusado é percebida através do seu bom relacionamento perante


a sociedade em que está integrado, o qual, inclusive, trabalhava como servidor público
municipal, não tendo qualquer mancha perante a comunidade.
A personalidade do agente é caracterizada por sua maneira de agir e de sentir, seu
grau de senso de moral, o que de fato é muito difícil de provar nos autos tendo em vista a
ausência de conhecimentos técnicos por parte dos juristas. Além disso, não havendo no processo
elementos suficientes para o exame desta circunstância (laudo psiquiátrico, depoimentos
testemunhais) deve o julgador se abster de qualquer valoração negativa.

Os motivos constituem a fonte da vontade criminosa e somente aqueles diversos dos


normais à espécie delitiva é que devem ser valorados. No caso em tela, tem-se que os motivos
são comuns para o crime em questão, visto que o acusado se envolveu com más companhias,
não havendo a necessidade de qualquer valoração prejudicial.

Por circunstâncias do delito, entendem-se todos os elementos do fato delitivo, desde


que não configure os previstos no tipo penal, tais como a maior ou menor sensibilidade do agente
e o seu arrependimento. No caso em questão resta caracterizada que as circunstâncias do crime
são comuns, não ensejando maiores agravamentos.

As consequências do crime são medidas pelo grau de intensidade da lesão jurídica


causada, podendo ser material ou moral, desde que não contidas no próprio tipo penal. Na
situação em análise constata-se que não houve sequer consequências relevantes, dada a
irrelevância da conduta do acusado para o meio em que estava inserido.

Diante dos argumentos acima expostos e, em caso de condenação, pugna a defesa


pela fixação da pena-base no patamar mínimo, por serem as circunstâncias judiciais do art. 59
do Código Penal amplamente favoráveis ao acusado.

III. DOS PEDIDOS

Diante dos fundamentos e fatos apresentados, REQUER:


1. Diante do preenchimento das condições favoráveis, seja reconhecida a
circunstância atenuante da CONFISSÃO do réu RAIMUNDO JOSÉ
TAVARES NETO;

2. Em caso de condenação, requer a REDUÇÃO DA PENA por se tratar de crime


tentado, conforme comprovado nos autos, nos termos do art. 14, inciso II, do
Código Penal Brasileiro;

3. A fixação da pena-base no PATAMAR MÍNIMO, por serem as circunstâncias


judiciais do art. 59 do Código Penal amplamente favoráveis ao acusado;

4. Seja realizada a DETRAÇÃO PENAL da pena cumprida provisoriamente pelo


acusado, de 04 (quatro) meses, nos termos do art. 387, § 2º, do Código de
Processo Penal.

6. Por fim, seja concedido o direito do réu de RECORRER EM LIBERDADE.

Nesses termos, pede deferimento.

ROSIANE BALIEIRO DE SOUZA

OAB/PA nº 31.170

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