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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 748026 - GO (2022/0175738-6)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : THAMERA CAROLAINE ALVES LEMOS (PRESO)
ADVOGADO : PRICILLA FABIANE ALVES SOUZA TELES - GO042898
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO.


PRISÃO PREVENTIVA. CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA NA
OCASIÃO DO FLAGRANTE. IMPOSIÇÃO DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR
APÓS, APROXIMADAMENTE, UM ANO. INDICAÇÃO DE ELEMENTOS
NOVOS E CONCRETOS. AUSÊNCIA. FALTA DE
CONTEMPORANEIDADE EVIDENCIADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
VERIFICADO.
1. A prisão preventiva pode ser decretada, desde que haja prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria, como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou
para assegurar a aplicação da lei penal, em decisão motivada e
fundamentada acerca do receio de perigo gerado pelo estado de liberdade
do imputado e da contemporaneidade da necessidade da medida extrema
(arts. 311 a 316 do CPP).
2. Ainda que relevante e concreto o elemento indicado pelo Juízo de
primeiro grau, a respeito da violência desnecessária praticada, em tese,
pela acusada contra a vítima, a prisão foi decretada quase um ano após a
concessão da liberdade provisória, não tendo o Juízo indicado nenhum fato
superveniente desde então, o que denota a ausência de
contemporaneidade na imposição da segregação cautelar.
3. Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, negar provimento ao agravo
regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha Palheiro, Olindo
Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) e Laurita Vaz votaram com o
Sr. Ministro Relator.
Brasília, 02 de agosto de 2022.

Ministro Sebastião Reis Júnior


Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 748026 - GO (2022/0175738-6)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : THAMERA CAROLAINE ALVES LEMOS (PRESO)
ADVOGADO : PRICILLA FABIANE ALVES SOUZA TELES - GO042898
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO.


PRISÃO PREVENTIVA. CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA NA
OCASIÃO DO FLAGRANTE. IMPOSIÇÃO DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR
APÓS, APROXIMADAMENTE, UM ANO. INDICAÇÃO DE ELEMENTOS
NOVOS E CONCRETOS. AUSÊNCIA. FALTA DE
CONTEMPORANEIDADE EVIDENCIADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
VERIFICADO.
1. A prisão preventiva pode ser decretada, desde que haja prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria, como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou
para assegurar a aplicação da lei penal, em decisão motivada e
fundamentada acerca do receio de perigo gerado pelo estado de liberdade
do imputado e da contemporaneidade da necessidade da medida extrema
(arts. 311 a 316 do CPP).
2. Ainda que relevante e concreto o elemento indicado pelo Juízo de
primeiro grau, a respeito da violência desnecessária praticada, em tese,
pela acusada contra a vítima, a prisão foi decretada quase um ano após a
concessão da liberdade provisória, não tendo o Juízo indicado nenhum fato
superveniente desde então, o que denota a ausência de
contemporaneidade na imposição da segregação cautelar.
3. Agravo regimental improvido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto pelo Ministério Público Federal


contra a decisão, da minha lavra, em que concedi liminarmente a ordem em favor de
Thamera Carolaine Alves Lemos, assim ementada (fl. 178):

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. PRISÃO


PREVENTIVA. CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA NA OCASIÃO DO
FLAGRANTE. IMPOSIÇÃO DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR APÓS,
APROXIMADAMENTE, UM ANO. INDICAÇÃO DE ELEMENTOS NOVOS E
CONCRETOS. AUSÊNCIA. FALTA DE CONTEMPORANEIDADE EVIDENCIADA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL VERIFICADO.
Ordem liminarmente concedida nos termos do dispositivo.

Alega o agravante, em síntese, que a prisão preventiva justifica-se na


gravidade concreta da imputação, na periculosidade da agravada e na possibilidade de
reiteração delitiva, notadamente pela violência empregada na empreitada criminosa,
haja vista que, utilizando-se de um capacete, desferiu um golpe na cabeça da vítima (fl.
193).

Postula, então, a reconsideração da decisão que concedeu liminarmente a


ordem ou a submissão do julgamento do recurso à Sexta Turma.

É o relatório.

VOTO

Apesar das alegações do agravante, a decisão não comporta reparos.

Confiram-se, no que interessa, trechos da decisão que concedeu a liberdade


provisória à paciente em 24/5/2021 (fls. 52/53 - grifo nosso):

[...]
Passo, doravante, a analisar a possibilidade de conceder o benefício da
liberdade provisória aos flagrados, ou de decretar a sua prisão preventiva, em
obediência a nova redação do artigo 310 do CPP.
A prisão cautelar preventiva - prisão processual, medida excepcional
restritiva do direito de liberdade do indivíduo, antes de eventual decisão
penal condenatória definitiva - poderá ser decretada se presentes os requisitos e
fundamentos legais necessários e indispensáveis para a hipótese.
Trata-se, portanto, de medida extrema e excepcional, eis que a regra é a de
que os réus devem responder em liberdade aos termos da ação penal - e não o
contrário. Ou seja, somente se presentes a prova da existência do crime (fato) e os
indícios suficientes da autoria, os quais caracterizam e consubstanciam o
denominado fumus comissi delicti, bem como, um fundamento ético necessário e
indispensável, que caracteriza o periculum libertatis, poderá ser decretada ou
mantida a custódia cautelar preventiva.
Entendo que, no caso em comento, resta configurado o fumus comissi delicti,
comprovado pelos consideráveis indícios de materialidade e autoria do delito (foi
encontrado em poder dos autuados objetos que foram produto de crime anterior).
Passo à análise do periculum libertatis.
Em consulta à certidão de antecedentes dos flagrados, verifica-se que são
primários e não possuem nenhum procedimento lavrado em seu desfavor.
Do exposto, conclui-se que não se perfazem nos autos quaisquer dos
requisitos legais previstos no art. 312 do Código de Processo Penal para a
decretação da prisão preventiva. Não há perigo à ordem pública ou econômica no
fato; a conveniência da instrução criminal muito menos exige a prisão, já que não
há relato de que tenham buscado resistir ou evadir-se da prisão em flagrante.
Por ultimo, também não há qualquer demonstração de que os autuados vão
se furtar à aplicação da lei penal.
Desta forma, a princípio, denoto estarem satisfeitos os requisitos legais
autorizadores da concessão de liberdade provisória, com a imposição de outras
medidas cautelares diversas da prisão, consoante art. 321 c/c artigo 319, ambos
do Código de Processo Penal. Ante o exposto, nos termos dos arts. 310, III, c/c
319, I e IV, todos do Código de Processo Penal, CONCEDO LIBERDADE
PROVISÓRIA SEM FIANÇA AOS AUTUADOS THAMERA CAROLAINE ALVES
[...]

Agora, veja-se o teor da decisão que decretou a prisão preventiva da


acusada em 19/4/2022 (fl. 138 - grifo nosso):

[...]
É o caso de averiguar, então, se está presente algum dos requisitos do art.
312 do referido diploma legal. Analisando detidamente o caso, entendo que a
liberdade da denunciada representa risco à ordem pública e ao sucesso da
persecução penal.
O fato apresenta considerável gravidade concreta.
Consta que a acusada, na companhia de terceira pessoa não identificada,
abordou a vítima em via pública, no amanhecer do dia, e subtraiu uma bolsa, uma
mochila térmica e vários objetos pessoais, incluindo celular e cartões bancários.
Consta, ainda, que além de proferir ameaças e dizeres de baixo calão,
utilizando-se de um capacete, a acusada desferiu um golpe na cabeça da
vítima, que chegou a cair no chão em razão da violência empregada.
Ressalto que o aparelho celular subtraído, fora apreendido na possa da
acusada e que a vítima reconhecera THAMERA como sendo uma das autoras do
crime.
Nesse quadro, penso estarem nítidos o perigo gerado pelo estado de
liberdade e a insuficiência de medidas constritivas menos gravosas para
resguardar o bem jurídico em apreço. Ante o exposto, com base nos arts. 312,
caput, e 313, I, do CPP, defiro a representação da Órgão Ministerial e DECRETO A
PRISÃO PREVENTIVA de THAMERA CAROLAINE ALVESLEMOS.
[...]

Da análise dos trechos transcritos, observo que, ainda que relevante


o elemento indicado pelo Juízo de primeiro grau, a respeito da violência desnecessária
praticada, em tese, pela acusada contra a vítima, a prisão foi decretada quase um ano
após a concessão da liberdade provisória, não tendo o Juízo indicado nenhum fato
superveniente desde então. Assim, considero carente de contemporaneidade a
imposição da segregação cautelar.

A propósito:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES.


PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE CONTEMPORANEIDADE. AUSÊNCIADE
FATOSNOVOS. IMPOSSIBILIDADE.
1. "Em hipóteses nas quais o acusado responde ao processo em liberdade, a
Sexta Turma deste Superior Tribunal tem decidido que a decretação da prisão
cautelar na sentença pressupõe a existência de fatos novos capazes de comprovar
a imprescindibilidade do recolhimento ao cárcere" (RHC n. 60.565/SP, relator
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 6/8/2015, DJe
26/8/2015).
2. No caso, foi negado o direito de apelar em liberdade, apesar de o paciente
ter respondido solto ao processo que se iniciou em 22/8/2020. Destacou-se na
sentença condenatória que a gravidade em concreto do crime praticado bem como
o fato de o agente ser reincidente e portador de maus antecedentes e haver
tentado se esquivar da abordagem policial seriam motivos suficientes para se
decretar a custódia cautelar.
3. Contudo, verifica-se que o paciente respondeu solto ao processo por fato
praticado 11 meses antes da prolação da sentença que o condenou a 7 anos de
reclusão, no regime inicial fechado, por ter sido flagrado em posse de 8 g de crack
e 0,4 g de cocaína.
4. Portanto, os fundamentos invocados para a decretação da prisão não
apresentam relação de contemporaneidade com a fase em que se encontra o feito.
Ou seja, não se trata de fato novo, conforme exige a jurisprudência firmada por
esta Corte, porquanto os argumentos utilizados para a decretação da prisão já
eram de conhecimento do magistrado quando do início da persecutio criminis.
5. Ordem concedida.
(HC n. 705.886/SP, Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, DJe
14/3/2022 – grifo nosso)

Em face do exposto, nego provimento ao agravo regimental.


Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2022/0175738-6 HC 748.026 / G O
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 52303535020228090100 52539317620218090100


EM MESA JULGADO: 02/08/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PAULO DE SOUZA QUEIROZ
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : PRICILLA FABIANE ALVES SOUZA
ADVOGADO : PRICILLA FABIANE ALVES SOUZA TELES - GO042898
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS
PACIENTE : THAMERA CAROLAINE ALVES LEMOS (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Roubo Majorado

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : THAMERA CAROLAINE ALVES LEMOS (PRESO)
ADVOGADO : PRICILLA FABIANE ALVES SOUZA TELES - GO042898
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha Palheiro, Olindo
Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) e Laurita Vaz votaram com o Sr.
Ministro Relator.

C542524515=40<14344452@ 2022/0175738-6 - HC 748026 Petição : 2022/0051503-5 (AgRg)

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