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DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

2a EDIÇÃO/2023

1. INTRODUÇÃO 3

2. MINISTÉRIO PÚBLICO 3
2.1. INTRODUÇÃO 3
2.2. NATUREZA JURÍDICA 4
2.3. PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS 4
2.3.1. PRINCÍPIO DA UNIDADE 4
2.3.2. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE 5
2.3.3. PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL 5
2.3.4. PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL 5
2.4. INGRESSO NA CARREIRA 7
2.5. GARANTIAS E VEDAÇÕES AOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 8
2.5.1. GARANTIAS AOS MEMBROS DO MP 8
2.5.2. VEDAÇÕES AOS MEMBROS DO MP 10
2.6. ORGANIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 11
2.6.1. MP ELEITORAL 12
2.7. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA 14
2.8. PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA 14
2.9. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO 15
2.9.1. ESTRUTURA 15
2.9.2. COMPETÊNCIA 17
2.10. FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 19
2.10.1. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E TEORIA DOS “PODERES IMPLÍCITOS” 20
2.11. MINISTÉRIO PÚBLICO NOS TRIBUNAIS DE CONTAS 22

3. ADVOCACIA PÚBLICA 22
3.1. INTRODUÇÃO 22
3.2. ORGANIZAÇÃO DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO 23
3.3. O ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO 25
3.4. OS PROCURADORES DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL 26
3.4.1. PROCURADORIA GERAL DOS MUNICÍPIOS 28
3.5. PAGAMENTO DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA AOS ADVOGADOS PÚBLICOS 29
3.6. ASSESSORAMENTO, AMPLITUDE VINCULATIVA DOS PARECERES JURÍDICOS E A RESPONSABILIZAÇÃO DOS
ADVOGADOS PÚBLICOS 32

4. ADVOCACIA PRIVADA 33
4.1. INTRODUÇÃO 33
4.2. HABILITAÇÃO PARA A PROFISSÃO DE ADVOGADO 34
4.3. A INVIOLABILIDADE DO ADVOGADO 34
4.4. DIREITOS DO ADVOGADO 35

5. DEFENSORIA PÚBLICA 36
5.1. INTRODUÇÃO 36
5.2. PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA 37
5.2.1. PRINCÍPIO DO DEFENSOR PÚBLICO NATURAL 37
5.3. ESTRUTURA DA DEFENSORIA PÚBLICA 37

1
5.4. GARANTIAS E PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA 37
5.4.1. VEDAÇÃO AOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA 39
5.5. DESTINATÁRIOS DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELA DEFENSORIA PÚBLICA 40
5.6. LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA 41

2
1. INTRODUÇÃO

Utilizando as palavras do professor Pedro Lenza1: Com o objetivo de dinamizar (ou viabilizar) a atividade
jurisdicional, a Constituição institucionalizou atividades profissionais (públicas e privadas), atribuindo-lhes o status
de funções essenciais à Justiça, tendo estabelecido suas regras nos arts. 127 a 135 da CF/88 e que serão estudadas
a seguir:
● Ministério Público (arts. 127 a 130);
● Advocacia Pública (arts. 131 e 132);
● Advocacia (art. 133);
● Defensoria Pública (art. 134).

2. MINISTÉRIO PÚBLICO

2.1. INTRODUÇÃO
“Há muita divergência doutrinária sobre o surgimento do Ministério Público, chegando alguns a apontar a
sua forma inicial há mais de quatro mil anos, na figura do magiaí, funcionário real no Egito Antigo, que tinha o
dever de proteger os cidadãos do bem e reprimir, castigando, os “rebeldes”. Outros, ainda, identificam o
surgimento do Ministério Público na Antiguidade Clássica, na Idade Média ou até no direito canônico.2”
A Ministério Público, no direito brasileiro, por sua vez, surgiu de forma gradativa:

Nesse ano foi editado o Alvará que criou o Tribunal de Relação da Bahia, em que constava a figura
1609
do procurador dos feitos da Coroa e do Promotor de Justiça.

1824 Na Constituição de 1824 não houve previsão quanto a este essencial órgão estatal.

Foi editado o Código de Processo Penal, que trouxe pequena referência no tocante ao “promotor na
1832 ação penal”, regulamentado pelo Decreto 120, de 21.01.1843, estabelecendo os critérios de
nomeação dos promotores.

1891 Na primeira Constituição republicana o Procurador-Geral da República foi citado no art. 58, § 2.º

Somente a partir da Constituição deste ano houve previsão mais elaborada sobre o Ministério
1934
Público.

1988 Com a redemocratização, foi editada a Constituição Federal atual e, com ela, um Ministério Público

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Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
2
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

3
mais forte, de difícil paralelo no direito comparado.

*Informações extraídas do Livro do Rodrigo Padilha3.

Atualmente, o Ministério Público pode ser conceituado como, instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais
e individuais indisponíveis. É o que dispõe o art. 127, caput, da CF/88.

2.2. NATUREZA JURÍDICA


Em relação à natureza jurídica do Ministério Público, há conhecida divergência. Para uma parcela da
doutrina, “o Parquet é revestido da natureza jurídica de órgão independente, que se posta ao lado dos Poderes do
Estado, com elevado status constitucional, a exemplo do Tribunal de Contas”, conforme ensina o doutrinador
Guilherme Peña de Moraes.
Outra parcela da doutrina, segue orientação do Supremo Tribunal Federal, e entende que o Ministério
Público possui natureza executiva, tendo função vinculada ao Poder Executivo, funcionalmente independente. Essa
é a percepção de José Afonso da Silva:

"Não é aceitável a tese de alguns que querem ver na instituição um quarto poder do Estado, porque suas
atribuições, mesmo ampliadas aos níveis acima apontados, são ontologicamente de natureza executiva, sendo,
pois, uma instituição vinculada ao Poder Executivo, funcionalmente independente, cujos membros integram
a categoria dos agentes políticos, e, como, tal, hão de atuar com plena liberdade funcional, desempenhando suas
atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais.4 ”

2.3. PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe
a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência


funcional.

2.3.1. PRINCÍPIO DA UNIDADE


O princípio da unidade, remete a ideia de que as divisões existentes em relação ao Ministério Público são
meramente funcionais, pois, o MP deve ser visto como uma única instituição. Nas palavras de Sylvio Motta5:

“O princípio da unidade (...) significa que todos os membros do Ministério Público fazem parte de um só
órgão, sob chefia de um Procurador-Geral, não sendo, pois, admissível sua subdivisão em diversos Ministérios

3
Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Grupo GEN, 2019.
4
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo cit., p. 582.
5
Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.

4
Públicos autônomos, cada um desvinculado dos demais. Não, há, pois, múltiplas instâncias de atuação, mas
unicidade hierárquica do órgão na figura do respectivo Procurador-Geral.”

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Santa Catarina (CESPE - 2021), em prova do tipo
certo/errado foi apresentada a afirmativa: “Pelo princípio institucional da unidade do Ministério Público, não há
unidade entre os Ministérios Públicos de diferentes estados nem entre eles e os vários ramos do Ministério Público
da União.” tendo sido considerada CORRETA.

2.3.2. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE


Conforme explica Pedro Lenza6, o princípio da indivisibilidade, “corolário do princípio da unidade, em
verdadeira relação de logicidade, é possível que um membro do Ministério Público substitua outro, dentro da
mesma função, sem que, com isso, exista alguma implicação prática. Isso porque quem exerce os atos, em
essência, é a instituição “Ministério Público”, e não a pessoa do Promotor de Justiça ou Procurador”.

2.3.3. PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL


O princípio da independência funcional significa que o membro do MP, no desempenho de suas funções
típicas, não se subordina a nenhuma autoridade, nem mesmo ao chefe do ramo do Ministério Público que integra.
Como ressalta Pedro Lenza7, a “independência funcional trata-se de autonomia de convicção, na medida
em que os membros do Ministério Público não se submetem a nenhum poder hierárquico no exercício de seu
mister, podendo agir, no processo, da maneira que melhor entenderem. A hierarquia existente restringe-se às
questões de caráter administrativo, materializada pelo Chefe da Instituição, mas nunca, como dito, de caráter
funcional. Tanto é que o art. 85, II, da CF/88 considera crime de responsabilidade qualquer ato do Presidente da
República que atentarem contra o livre exercício do Ministério Público”.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado do Ceará (CESPE - 2020), perguntou-se: “Um membro do
Ministério Público que atua em tribunal de justiça discorda do decidido em um acórdão da corte e pretende
recorrer. Percebe, contudo, que o tribunal acolhera integralmente o que fora preconizado para o caso pelo
promotor com atuação no primeiro grau. Nesse caso, o membro do parquet”, tendo sido considerada CORRETA a
alternativa que trouxe: “poderá recorrer, devido ao princípio institucional da independência funcional”.

2.3.4. PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL


Ao contrário dos demais princípios, expressamente enunciados no texto constitucional, o princípio do

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Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
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Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

5
promotor natural está implícito no ordenamento pátrio.
Conforme expresso no livro do professor Pedro Lenza8, a Suprema Corte aceitou a ideia de promotor
natural, recomendando-se a discussão no leading case, que foi o HC 67.759.
Em referido julgamento, o Min. Celso de Mello estabeleceu que “o postulado do Promotor Natural, que se
revela imanente ao sistema constitucional brasileiro, repele, a partir da vedação de designações casuísticas
efetuadas pela Chefia da Instituição, a figura do acusador de exceção. Esse princípio consagra uma garantia de
ordem jurídica, destinada tanto a proteger o membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o
exercício pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece o
direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios
abstratos e predeterminados, estabelecidos em lei. A matriz constitucional desse princípio assenta-se nas cláusulas
da independência funcional e da inamovibilidade dos membros da Instituição. O postulado do Promotor Natural
limita, por isso mesmo, o poder do Procurador-Geral que, embora expressão visível da unidade institucional, não
deve exercer a Chefia do Ministério Público de modo hegemônico e incontrastável” (HC 67.759, Rel. Min. Celso de
Mello, j. 06.08.92, Plenário, DJ de 1.º.07.93).

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Goiás (FGV - 2022) foi apresentado o texto que segue:
“O promotor de justiça João, do Ministério Público do Estado Alfa, que não responde nem nunca respondeu a
processo administrativo disciplinar, acabou de se remover de uma Promotoria de Família e assumiu a titularidade
de uma Promotoria Criminal. Após dois meses de exercício no novo órgão de execução, João foi surpreendido com
publicação no Diário Oficial de ato do Procurador-Geral de Justiça (PGJ) designando as promotoras Joana e Maria
para exercerem as funções processuais que são originariamente afetas ao órgão de execução de que João é titular,
em determinada ação penal de repercussão social, que envolve a maior organização criminosa mapeada do
Estado. A decisão da chefia institucional ocorreu por meio de ato excepcional e fundamentado, que foi submetido
e aprovado previamente pelo Conselho Superior do Ministério Público. O ato foi embasado na larga experiência
prática e teórica das promotoras Joana e Maria, haja vista que estão lotadas em Promotoria Criminal há quinze
anos e possuem doutorado em combate a organizações criminosas. A citada designação feita pelo PGJ está
lastreada em dispositivo da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado Alfa que tem a seguinte redação:
“Compete ao Procurador-Geral de Justiça designar membros do Ministério Público para, por ato excepcional e
fundamentado, exercer as funções processuais afetas a outro membro da instituição, submetendo sua decisão
previamente ao Conselho Superior do Ministério Público”.
Diante do texto questionou-se: “Após estudar as medidas legais possíveis para impugnar o ato do PGJ, o promotor
de justiça João verificou que, de acordo com jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o ato: ” tendo sido
considerada CORRETA a alternativa que completou: “está viciado, por violação à garantia da inamovibilidade e aos
princípios da independência funcional e do promotor natural, haja vista que deve ser conferida interpretação
conforme a Constituição à norma citada estadual, de maneira que o ato praticado pelo PGJ dependeria da
concordância de João e da deliberação (prévia à avocação e posterior à aceitação pelo promotor natural) do

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Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

6
Conselho Superior”.

2.4. INGRESSO NA CARREIRA


Nos termos do art. 129, § 3º, da CF/88:

Art. 129. § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos,
assegurada a participação da OAB em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, 3 anos
de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.

Como demonstrado no artigo acima, o ingresso na carreira do Ministério Público depende do


preenchimento dos seguintes requisitos:
a) Bacharelado em Direito, uma vez que a carreira é privativa para estes bacharéis;
b) Comprovação de três anos, no mínimo, de atividade jurídica, condição imposta no texto constitucional
pela EC n° 45/2004;

⚠️ ATENÇÃO
O CNMP alinhou-se ao decidido pelo STF no RE n. 655.265:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO PARA CARGO DE JUIZ DO TRABALHO SUBSTITUTO.


COMPROVAÇÃO DE EXERCÍCIO DE ATIVIDADE JURÍDICA (PRÁTICA FORENSE) DE 3 (TRÊS) ANOS. MOMENTO DA
EXIGÊNCIA DO PREENCHIMENTO DA CONDIÇÃO. EDITAL DO CONCURSO OMISSO QUANTO À DATA DA
INSCRIÇÃO DEFINITIVA. CONCURSO SUSPENSO POR ATO DA ADMINISTRAÇÃO. ATENDIMENTO SUPERVENIENTE
DO REQUISITO. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. (STF - RE: 655265 DF, Relator: LUIZ FUX, Data de Julgamento:
15/12/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 03/12/2012)

⚠️ ATENÇÃO
A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do Ministério
Público e da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito possua, no
mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º). A referência a “três anos de atividade jurídica”,
contida na CF/88, não se limita à atividade privativa de bacharel em Direito. Em outras palavras, os três anos de
atividade jurídica não precisam ter sido exercidos em um cargo privativo de bacharel em Direito. Assim, por
exemplo, se uma pessoa desempenhou por mais de três anos o cargo de técnico judiciário (nível médio), mas nele
realizava atividades de cunho jurídico, ele terá cumprido o referido requisito. STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800)9.

c) aprovação em concurso público de provas e títulos, com a obrigatória participação da Ordem dos

9
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Concurso público para ingresso no MP e três anos de atividade jurídica. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f340f1b1f65b6df5b5e3f94d95b11daf>. Acesso em: 23/08/2022

7
Advogados do Brasil em sua realização e observância, nas nomeações, da ordem de classificação no
certame (art. 129, §3° CF/88).

2.5. GARANTIAS E VEDAÇÕES AOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO


2.5.1. GARANTIAS AOS MEMBROS DO MP
Com o intuito de assegurar que o MP possa atuar de forma autônoma e independente, sem ingerências de
qualquer natureza, a Constituição Federal enunciou algumas garantias institucionais:
a. Autonomia funcional da instituição: o Ministério Público não se sujeita a controle engendrado por
qualquer dos Poderes;
b. Autonomia administrativa: de forma a reconhecer à instituição a capacidade de autogestão, que se
reflete na escolha de seus órgãos diretivos, na autorização para realizar seus próprios concursos públicos,
no exercício da iniciativa de apresentação de projetos de lei para organização de sua estrutura interna,
etc.;
c. Autonomia financeira: traduzida na capacidade de elaborar sua proposta orçamentária, dentro dos
limites estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias.10

⚠️ ATENÇÃO
É constitucional dispositivo da Constituição Estadual que assegura ao Ministério Público autonomia
financeira e a iniciativa ao Procurador-Geral de Justiça para propor ao Poder Legislativo a criação e a extinção dos
cargos e serviços auxiliares e a fixação dos vencimentos dos membros e dos servidores de seus órgãos auxiliares.
Também é constitucional a previsão de que o Ministério Público elaborará a sua proposta orçamentária dentro dos
limites estabelecidos pela LDO. STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907)11.

Além dessas garantias, que são institucionais, existem as garantias próprias aos membros do Ministério
Público. Conforme esclarece Sylvio Motta12: “O art. 128, § 5º, da Constituição, (em seu inciso I) confere aos membros
do MP certas garantias, a fim de assegurar-lhes condições para um exercício imparcial e independente de suas
funções, tendo por limites somente os preceitos constitucionais e as disposições legais que lhes sejam aplicáveis.
Tais garantias não devem, pois, serem vistas como privilégios pessoais dos membros do MP, mas como
instrumentos indispensáveis ao pleno e adequado desempenho de suas atribuições e funções, nos termos postos
pela Constituição.” In litteris:

Art. 128. § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público,
observadas, relativamente a seus membros:

10
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.
11
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O art. 127 da CF/88 assegura ao MP autonomia financeira. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/75877cb75154206c4e65e76b88a12712>. Acesso em: 23/08/2022
12
Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.

8
I - as seguintes GARANTIAS:

a) vitaliciedade, após 2 anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em
julgado;

b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do
Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;

c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150,
II, 153, III, 153, § 2º, I;

⚠️ ATENÇÃO
O que significa cada garantia?

Adquire-se a vitaliciedade após a transcorrência do período probatório, ou seja, 2


anos de efetivo exercício do cargo, tendo sido admitido na carreira mediante
VITALICIEDADE aprovação em concurso de provas e títulos (art. 128, § 5.º, I, “a”). A garantia da
vitaliciedade assegura ao membro do Ministério Público a perda do cargo somente
por sentença judicial transitada em julgado.

Em razão da garantia da inamovibilidade, o membro do Ministério Público não


poderá ser removido ou promovido, unilateralmente, sem a sua autorização ou
solicitação. Excepcionalmente, contudo, por motivo de interesse público, mediante
INAMOVIBILIDADE decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público (no caso, o Conselho
Superior do Ministério Público), por voto da maioria absoluta de seus membros,
desde que lhe seja assegurada ampla defesa, poderá vir a ser removido do cargo
ou função (art. 128, § 5.º, I, “b”, modificado pela EC n. 45/2004).

É assegurada ao membro do Ministério Público (art. 128, § 5.º, I, “c”, da CF/88)a


garantia da irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4.º, e
IRREDUTIBILIDADE DE ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI; 150, II; 153, III; 153, § 2.º, I. Como vimos
SUBSÍDIO ao comentar a irredutibilidade dos magistrados, o subsídio dos membros do
Ministério Público não poderá ser reduzido, lembrando que está assegurada a
irredutibilidade nominal, não se garantindo a corrosão inflacionária.

* Tabela elaborada em conformidade com os ensinamentos do professor Pedro Lenza13

GARANTIAS INSTITUCIONAIS GARANTIAS DOS MEMBROS DO MP

● Autonomia funcional; ● Vitaliciedade;


● Autonomia administrativa; ● Inamovibilidade;
● Autonomia financeira. ● Irredutibilidade de subsídio.

13
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

9
2.5.2. VEDAÇÕES AOS MEMBROS DO MP
O inciso II do § 5º do art. 128 da Constituição veda aos membros do MP:

§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais,
estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a
seus membros:

II - as seguintes VEDAÇÕES:

a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;

b) exercer a advocacia;

c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;

d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;

e) exercer atividade político-partidária;

f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de São Paulo (Banca Própria - 2022) foi considerada
correta a alternativa que trouxe: “É inconstitucional o exercício de qualquer outra função pública por membro do
Ministério Público, ainda que em disponibilidade, salvo uma de magistério, sendo também inconstitucional o
exercício de cargo em comissão fora da instituição”.
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Sergipe (CESPE - 2022) foram apresentadas as
afirmativas que seguem:
I O Ministério Público possui autonomia funcional e administrativa, sendo regido pelos princípios da unidade, da
indivisibilidade e da independência funcional.
II É vedado ao Ministério Público defender os direitos e interesses de populações indígenas.
III É vedado ao Ministério Público representar judicialmente entidades públicas.
Tendo sido consideradas CORRETAS as alternativas “I e III”.
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Tocantins (CESPE - 2022) foi perguntado: “Os membros
do Ministério Público dos estados e os procuradores do Ministério Público junto aos tribunais de contas” tendo
sido considerada CORRETA a alternativa que completou: “submetem-se às mesmas vedações previstas na
Constituição Federal de 1988”.
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (FUNDEP - 2021) foram apresentadas as
afirmativas que seguem:
I. É vedado aos membros do Ministério Público que ingressaram na instituição após a Constituição de 1988 o
exercício de cargos comissionados no Poder Executivo, ainda que com funções inerentes às funções institucionais
do Parquet.
II. A filiação político-partidária de membros do Ministério Público é vedada, ressalvada a hipótese de prévio

10
licenciamento, exoneração ou aposentadoria.
III. As garantias da inamovibilidade e independência funcional impedem que o Procurador-Geral de Justiça realize
designações, ainda que excepcionais, de membro do Ministério Público para acompanhar inquérito policial ou
diligência investigatória.
V. Os dois primeiros anos de efetivo exercício na carreira são considerados de estágio probatório, durante os quais
será examinada pelo Conselho Superior do Ministério Público, pela Corregedoria-Geral do Ministério Público e pelo
Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional a conveniência da permanência na carreira e do vitaliciamento do
membro da instituição.
Tendo sido consideradas CORRETAS as alternativas “I e IV”.

2.6. ORGANIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Segundo o art. 128, o Ministério Público abrange dois órgãos: os Ministérios Públicos dos Estados e o
Ministério Público da União:

Art. 128. O Ministério Público abrange:

I - o Ministério Público da União, que compreende:

a) o Ministério Público Federal;

b) o Ministério Público do Trabalho;

c) o Ministério Público Militar;

d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;

II - os Ministérios Públicos dos Estados.

11
Conforme ensina Nathalia Masson14: “As normas gerais do Ministério Público da União são estabelecidas
pela Constituição Federal, bem como pela Lei Complementar n° 75/ 1993.Os Ministérios Públicos dos Estados, por
sua vez, são regidos pela Constituição Federal e pela Lei Orgânica n° 8.625/1993, com aplicação subsidiária das
normas da Lei Complementar n° 75/1993. O Ministério Público possui a prerrogativa de deflagrar o processo
legislativo por meio da apresentação do projeto de lei complementar que regulamentará sua organização. A
iniciativa, como se pode concluir da análise global da Constituição, será do Procurador-Geral em concorrência com
o chefe do Poder Executivo.”

⚠️ ATENÇÃO
Rodrigo Padilha15 ensina:
● O Ministério Público do Tribunal de Contas não é órgão do Ministério Público, e sim órgão vinculado ao
próprio tribunal que lhe empresta o nome.
● O Ministério Público eleitoral é órgão do Ministério Público, apesar da omissão constitucional. Entretanto,
não há concurso para ocupar cargo, pois é composto por membros do Ministério Público Federal e dos
Estados.

Formação do MP eleitoral:

GRAU DE MATÉRIA DE COMPETÊNCIA


ÓRGÃOS DO MPE
JURISDIÇÃO ORIGINÁRIA

Procurador-Geral Eleitoral (PGR) TSE. Eleição presidencial.


Vice-Procurador-Geral Eleitoral (integram o
MPF)

Procuradores Regionais Eleitorais (integram o TREs; Eleições federais, estaduais e distritais.


MPF) Juízes auxiliares.

Promotores Eleitorais (integram o MP Estadual) Juízes eleitorais; Eleições municipais.


Juntas eleitorais.

* Tabela elaborada conforme ensinamentos do professor Pedro Lenza16

2.6.1. MP ELEITORAL
O Ministério Público Eleitoral não possui estrutura própria, seus postos são ocupados por membros do
MPF e do MP estadual, como vemos na tabela a seguir17:

14
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.
15
Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2019.
16
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
17
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.

12
MATÉRIA DE COMPETÊNCIA
ÓRGÃOS DO MPE GRAU DE JURISDIÇÃO
ORIGINÁRIA

■ Procurador-Geral Eleitoral (PGR) ■ TSE ■ Eleição presidencial


■ Vice-Procurador-Geral Eleitoral
(integram o MPF)

■ Procuradores Regionais Eleitorais ■ TREs ■ Eleições federais, estaduais e


(integram o MPF) ■ Juízes auxiliares* distritais

■ Promotores Eleitorais (integram o ■ Juízes eleitorais ■ Eleições municipais


MP Estadual) ■ Juntas eleitorais**

*Nos termos do art. 96, § 3.º, da Lei n. 9.504/97 (que estabelece normas para as eleições), os Tribunais Eleitorais
designarão 3 juízes auxiliares para a apreciação das reclamações ou representações que lhes forem dirigidas.
Como referidas medidas são dirigidas aos Tribunais Eleitorais, a atuação ministerial se implementa pelo
Procurador Regional Eleitoral. Os recursos contra as decisões dos juízes auxiliares serão julgados pelo Plenário do
Tribunal.

**Nos termos do art. 118, IV, da CF/88, as Juntas Eleitorais são órgãos da Justiça Eleitoral. De acordo com o art. 36
do Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65), compor-se-ão as Juntas Eleitorais de 1 juiz de direito, que será o presidente, e
de 2 ou 4 cidadãos de notória idoneidade, devendo os seus membros ser nomeados 60 dias antes da eleição,
depois de aprovação do Tribunal Regional, pelo presidente deste, a quem cumpre também designar-lhes a sede.
Ainda, estabelece o art. 40 do Código Eleitoral ser competência das Juntas Eleitorais: I — apurar, no prazo de 10
dias, as eleições realizadas nas zonas eleitorais sob a sua jurisdição; II — resolver as impugnações e demais
incidentes verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração; III — expedir os boletins de apuração
mencionados no art. 178; IV — expedir diploma aos eleitos para cargos municipais. Assim, defendendo o regime
democrático, em todos esses atos, temos a participação do MP Eleitoral (trata-se de função do MPF, portanto,
federal, exercida pelo MP Estadual).
Apesar de diversas controvérsias que circundam o Ministério Público Eleitoral, tendo em vista a ausência
de previsão específica na Constituição, há quem defenda que pertenceria ao MPU, visto que ao exercer função
eleitoral estaria agindo sob natureza federal.
Neste sentido conclui Gonçalves que, “quando atuam como órgãos eleitorais, os Promotores de Justiça o
fazem como Ministério Público Federal, estando sujeitos à legislação que rege o parquet federal”. Dessa forma o
art. 72 da LC n. 75/93 estabeleceu ser competência do Ministério Público Federal o exercício, no que couber,
perante a Justiça Eleitoral, das funções do Ministério Público, atuando em todas as fases e instâncias do processo
eleitoral.

13
Nesse sentido, o art. 79 da LC n. 75/93 (regra declarada constitucional pelo STF no julgamento da ADI
3.802) estabelece que o Promotor Eleitoral será o membro do Ministério Público local que oficie junto ao Juízo
incumbido do serviço eleitoral de cada Zona. Na inexistência de Promotor que oficie perante a Zona Eleitoral, ou
havendo impedimento ou recusa justificada, o Chefe do Ministério Público local indicará ao Procurador Regional
Eleitoral o substituto a ser designado.
Conforme interpretou o STF, “o fato de o promotor eleitoral (membro do MP Estadual) ser designado pelo
Procurador Regional Eleitoral (membro do MPF) não viola a autonomia administrativa do Ministério Público
estadual. Apesar de haver a participação do Ministério Público dos Estados na composição do Ministério Público
Eleitoral — cumulando o membro da instituição as duas funções —, ambas não se confundem, haja vista
possuírem conjuntos diversos de atribuições, cada qual na esfera delimitada pela Constituição Federal e pelos
demais atos normativos de regência. A subordinação hierárquico-administrativa — não funcional — do promotor
eleitoral é estabelecida em relação ao Procurador Regional Eleitoral, e não em relação ao Procurador-Geral de
Justiça. Ante tal fato, nada mais lógico que o ato formal de ‘designação’ do promotor eleitoral seja feito pelo
superior na função eleitoral, e não pelo superior nas funções comuns”.18

2.7. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA


“O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente
da República (art. 84, XIV), dentre integrantes da carreira, maiores de 35 anos, após a aprovação prévia, por voto
secreto, em arguição pública, de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal (art. 52, III, “e”),
para mandato de 2 anos,10 permitida mais de uma recondução, sem qualquer limite (art. 128, § 1.º). Para cada
nova recondução o procedimento e os requisitos deverão ser observados, já que a recondução é uma nova
nomeação.19”

⚠️ ATENÇÃO
É possível a destituição do PGR antes do término do mandato?
Sim, conforme explica Nathalia Masson20: “A destituição do PGR antes do término do mandato é possível, e
ocorrerá por iniciativa do Presidente da República, sendo precedida de autorização da maioria absoluta do Senado
Federal.”

2.8. PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA


“Os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre
integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seus Procuradores-Gerais, que serão nomeados
pelo Chefe do Poder Executivo (Governador para os Estados e Presidente da República para o chefe do MP do DF e
Territórios) para mandato de 2 anos, permitida uma única recondução. O Chefe do Ministério Público, nesta

18
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.
19
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022
20
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.

14
hipótese, designa-se Procurador-Geral de Justiça — PGJ (art. 128, § 3.º)21”.

Art. 128. § 3º Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre
integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo
Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma recondução.

Nathalia Masson22 apresenta o seguinte quadro comparativo em relação à escolha, nomeação, recondução
e destituição dos Procuradores-Gerais:

PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA

Escolha: feita pelo Presidente da República Escolha: feita pelo Governador

Inexistência de lista: todos os integrantes da carreira Existência de lista tríplice


que preencherem os demais requisitos constitucionais
estão, em rese, habilitados a ocupar o cargo

Recondução ilimitada Admissibilidade de uma única recondução

Exigência de aprovação da escolha pela maioria Inexistência de participação do Poder Legislativo na


absoluta dos membros do Senado Federal. nomeação do PGJ

A destituição exige prévia autorização do poder A destituição exige prévia autorização do Poder
legislativo (Senado Federal) Legislativo (Assembleia Legislativa)

⚠️ ATENÇÃO 23

É inconstitucional dispositivo de CE que permite a recondução ao cargo de Procurador-Geral de Justiça sem


limite de mandatos. Essa previsão contraria o art. 128, § 3º da CF/88, que autoriza uma única recondução. STF.
Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/11/2016 (Info 847).
● Chefe do MPU: Procurador-Geral da República. Não há limites de recondução (art. 128, § 1º).
● Chefe do MPE: Procurador-Geral de Justiça. Só é permitida uma recondução (art. 128, § 3º).

2.9. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO


2.9.1. ESTRUTURA
“O Conselho Nacional do Ministério Público, criação da reforma do Judiciário (EC 45/2004), está
estabelecido no art. 130-A e é composto de 14 (quatorze) membros nomeados pelo Presidente da República,

21
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
22
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.
23
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O PGJ somente pode ser reconduzido uma única vez. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/71f07bf95f0113eefab12552181dd832>. Acesso em: 24/08/2022

15
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida
uma recondução24”

Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) compõe-se de 14 membros nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um
mandato de 2 anos, admitida 1 recondução, sendo:

I o Procurador-Geral da República, que o preside;

II 4 membros do MPU, assegurada a representação de cada uma de suas carreiras;

III 3 membros do MPE’s;

IV 2 juízes, indicados um pelo STF e outro pelo STJ;

V 2 advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VI 2 cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo
Senado Federal.

§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público serão indicados pelos respectivos Ministérios
Públicos, na forma da lei.

Iremos nos render ao resumo elaborado pelo professor Pedro Lenza para melhor visualizar a sistemática
de indicação:25

PGR Procurador-Geral da República Presidente

PGR Membro do MP oriundo do MPF

PGMPT Membro do MP oriundo do MPT

PGMPM Membro do MP oriundo do MPM


Corregedor Nacional (escolhido
PGJMPDFT Membro do MP oriundo do MPDFT
dentre os Membros do MP)
PGJs Membro do MP Estadual

Membro do MP Estadual

Membro do MP Estadual

STF Juiz de Direito

STJ Juiz de Direito

CFOAB Advogado

Advogado

CD Cidadão

SF Cidadão

24
Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2019.
25
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.

16
2.9.2. COMPETÊNCIA

Art. 130-A. § 2º Compete ao CNMP o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e
do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo lhe:

I zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos
regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;

II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;

III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos
Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da
instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e
aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa (EC 103/19)

IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público da


União ou dos Estados julgados há menos de 1 ano;

V elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do Ministério Público
no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no art. 84, XI.

JURISPRUDÊNCIA

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. STF.
Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 –
clipping)26.

É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público exerçam
advocacia. O CNMP possui capacidade para a expedição de atos normativos autônomos (art. 130-A, § 2º, I,
da CF/88), desde que o conteúdo disciplinado na norma editada se insira no seu âmbito de atribuições
constitucionais. A Resolução 27/2008 do CNMP tem por objetivo assegurar a observância dos princípios
constitucionais da isonomia, da moralidade e da eficiência no Ministério Público, estando, portanto, abrangida
pelo escopo de atuação do CNMP (art. 130-A, § 2º, II). A liberdade de exercício profissional não é um direito
absoluto, devendo ser interpretada dentro do sistema constitucional como um todo. STF. Plenário. ADI 5454, Rel.
Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 978)27.

Determinado Promotor de Justiça foi considerado aprovado no estágio probatório pelo Colégio de Procuradores

26
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo CNMP. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/21be992eb8016e541a15953eee90760e>. Acesso em: 24/08/2022
27
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público exerçam
advocacia. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/73efcfe5fedd98e5b1008f456d2a8197>. Acesso em: 24/08/2022

17
do MP. O CNMP, de ofício, reformou esta decisão e negou o vitaliciamento do Promotor, determinando a sua
exoneração. O STF considerou legítima a atuação do CNMP. O ato de vitaliciamento tem natureza de ato
administrativo, e, assim, se sujeita ao controle de legalidade do CNMP, por força do art. 130-A, § 2º, II, da
CF/88, cuja previsão se harmoniza perfeitamente com o art. 128, § 5º, I, "a", do texto constitucional. Vale ressaltar
que, quando o CNMP tomou esta decisão, o referido Promotor já estava suspenso do exercício de suas funções e
não chegou a completar 2 anos de efetivo exercício. Logo, como o Promotor ainda não havia acabado seu estágio
probatório, poderia perder o cargo por decisão administrativa, não sendo necessária sentença judicial transitada
em julgado (art. 128, § 5º, I, "a", da CF/88). STF. 2ª Turma. MS 27542/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
04/10/2016 (Info 842)28.

O CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei, considerando que se
trata de órgão de natureza administrativa, cuja atribuição se resume a fazer o controle da legitimidade dos
atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público federal e estadual (art. 130-A, § 2º,
da CF/88). Assim, se o CNMP, julgando procedimento de controle administrativo, declara a inconstitucionalidade
de artigo da Lei estadual, ele exorbita de suas funções. STF. 1ª Turma. MS 27744/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
14/4/2015 (Info 781)29.

Finaliza o art. 130-A da CF/88:

§ 3º O Conselho escolherá, em VOTAÇÃO SECRETA, 1 Corregedor nacional, dentre os membros do Ministério


Público que o integram, VEDADA A RECONDUÇÃO, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem
conferidas pela lei, as seguintes:

I receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros do Ministério Público e dos
seus serviços auxiliares;

II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral;

III requisitar e designar membros do Ministério Público, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de
órgãos do Ministério Público.

§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho.

§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério Público, competentes para receber reclamações
e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério Público, inclusive contra seus
serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Defensor Público do Estado de Santa Catarina (FCC - 2021), sobre competência do CNMP, foi
considerada CORRETA a alternativa que trouxe: “receber e conhecer das reclamações apenas contra membros ou
órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, ou seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência
disciplinar e correcional da instituição”.

28
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao controle de legalidade do CNMP.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5c645cc19a53ac1dfb155840d886050c>. Acesso em: 24/08/2022
29
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/289dff07669d7a23de0ef88d2f7129e7>. Acesso em:
24/08/2022

18
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Goiás (FGV - 2022) foi apresentado o texto que segue:
“Durante a pandemia do novo coronavírus, o Estado Alfa contratou determinada organização social (OS) para a
construção e manutenção de um hospital de campanha. A Promotoria de Justiça com atribuição para tutela
coletiva no local dos fatos recebeu representação, narrando que houve direcionamento e superfaturamento na
contratação da OS. Assim, o órgão de execução estadual instaurou inquérito civil e, no curso da investigação, em
razão da origem da verba pública que custeou o contrato, declinou de atribuição para a Procuradoria da República
local. Ao receber os autos do inquérito civil, o Parquet federal entendeu que a atribuição é do Ministério Público
Estadual, pois não existe interesse da União.”
Diante do texto questionou-se: “No caso em tela, de acordo com a jurisprudência atual do Supremo Tribunal
Federal, é competente para dirimir conflito de atribuição entre Ministério Público do Estado Alfa e Ministério
Público Federal:” tendo sido considerada CORRETA a alternativa que completou: “o Conselho Nacional do
Ministério Público, pois se deve reforçar o mandamento constitucional que lhe atribuiu o controle da legalidade
das ações administrativas dos membros e órgãos dos diversos ramos ministeriais, sem ingressar ou ferir a
independência funcional”.
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado do Ceará (CESPE - 2020), perguntou-se: “Segundo a CF, o
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP),” tendo sido considerada CORRETA a alternativa que trouxe: “é
competente para exercer o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público”.

2.10. FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO


O art. 127, caput, apresenta as macro finalidades do Ministério Público. Esse termo significa que todas as
atribuições do órgão se resumem em quatro funções:
a. defesa da ordem jurídica;
b. defesa do regime democrático;
c. defesa dos interesses sociais;
d. defesa dos interesses individuais indisponíveis.

“As diversas formas de exercício das quatro macro finalidades são exemplificadas no art. 129. Dizemos
“exemplificadas” porque o próprio art. 129, IX, autoriza o Ministério Público a exercer “outras funções que lhe
forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a
consultoria jurídica de entidades públicas”. Assim, constitui rol exemplificativo das funções institucionais do
Ministério Público30”:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, PRIVATIVAMENTE, a ação penal pública, na forma da lei;

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos

30
Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2019.

19
assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos


Estados, nos casos previstos nesta Constituição;

V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;

VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e


documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;

VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo
anterior;

VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos


jurídicos de suas manifestações processuais;

IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe
vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.

§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na
comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição.

§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos,
assegurada a participação da OAB em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, 3 anos
de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.

§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93.

§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Pernambuco (FCC - 2022) foi perguntado: “De acordo
com a Constituição Federal e o entendimento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, em
matérias atinentes à disciplina constitucional de órgãos e competências do Ministério Público,” tendo sido
considerada CORRETA a alternativa que completou: “é competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal
processar e julgar todas as ações contra decisões do Conselho Nacional do Ministério Público proferidas no
exercício de suas competências constitucionais”.
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Santa Catarina (CESPE - 2021), na modalidade
certo/errado, fora apresentada a afirmativa que segue: “O Ministério Público estadual tem legitimidade para ajuizar
ação civil pública que vise à defesa de bem da União.” tendo sido considerada ERRADA.
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Santa Catarina (CESPE - 2021), na modalidade
certo/errado, afirmou-se: “Nas ações coletivas para as quais é legitimado, o Ministério Público tem legitimidade
para a execução independentemente de ter sido autor no processo em que foi formado o título executivo.” Tendo
a afirmativa sido considerada CERTA.

20
2.10.1. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E TEORIA DOS “PODERES IMPLÍCITOS”
“A teoria dos poderes implícitos tem sua origem na Suprema Corte dos EUA, no ano de 1819, no
precedente McCulloch vs. Maryland. De acordo com a teoria, a Constituição, ao conceder uma função a
determinado órgão ou instituição, também lhe confere, implicitamente, os meios necessários para a consecução
desta atividade. Nesse contexto, os defensores da investigação Ministerial argumentam que, ainda que a
Constituição da República não tenha conferido expressamente ao Parquet a possibilidade de investigar infrações
penais, tal prerrogativa estaria inserida de maneira implícita no dispositivo que confere ao Ministério Público a
titularidade da Ação Penal (artigo 129, inciso I). Em outras palavras, se a opinio delicti fica a cargo do promotor
público, deve-se outorgar a ele os meios necessários para melhor exercer a sua função, o que, segundo os
defensores da tese, incluiria a possibilidade de realizar as investigações31”.
Dessa forma, fica o questionamento: o poder de investigação seria exclusivo da polícia? Pedro Lenza32
explica: “Em julgado pioneiro, a 2.ª Turma do STF, ao analisar a temática dos poderes investigatórios do MP,
entendeu que a denúncia poderia ser fundamentada em peças de informação obtidas pelo próprio Parquet, não
havendo necessidade de prévio inquérito policial”.
Sendo assim, o Ministério Público pode realizar diretamente a investigação de crimes, conforme explica
Márcio Cavalcante33:

“O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para promover, por autoridade própria,
investigações de natureza penal, mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar alguns parâmetros que
podem ser a seguir listados:

1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados;

2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e praticados por membros do MP;

3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou seja, determinadas diligências
somente podem ser autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir (ex: interceptação
telefônica, quebra de sigilo bancário etc.);

4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos advogados;

5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF (“É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”);

6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;

7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao permanente controle do Poder Judiciário.

A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte: “O Ministério Público dispõe de competência para
promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que
respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob
investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os
advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da

31
https://www.conjur.com.br/2013-abr-09/poder-investigatorio-ministerio-publico-nao-amparo-legal
32
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
33
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ministério Público pode realizar diretamente a investigação de crimes. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/05a5cf06982ba7892ed2a6d38fe832d6>. Acesso em: 24/08/2022

21
possibilidade — sempre presente no Estado democrático de Direito — do permanente controle
jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados
pelos membros dessa Instituição.”

STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
14/5/2015 (repercussão geral) (Info 785)”.

2.11. MINISTÉRIO PÚBLICO NOS TRIBUNAIS DE CONTAS


“O art. 130 estatui que aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as
disposições pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura estabelecidas para o Ministério Público, como
instituição.34”

Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta seção
pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura.

Pedro Lenza35 faz a seguinte ressalva: “A Constituição, conforme se observa pela leitura do art. 130, não
autorizou a equiparação de vencimentos e vantagens entre membros do Ministério Público especial e
membros do Ministério Público comum. “Ademais, a equiparação automática de vencimentos e vantagens dos
membros do Ministério Público comum aos membros do Parquet especial implica vinculação de vencimentos, o
que é vedado pelo artigo 37, XIII, da CF” (ADI 3.804, Pleno, julgamento virtual finalizado em 03.12.2021, Rel. Min.
Dias Toffoli, Inf. 1.040/STF).”
Por fim, vale firmar a inadmissibilidade de transmigração para o Ministério Público especial de membros
de outras carreiras do Ministério Público comum, afinal as instituições não se confundem, dada a identidade muito
peculiar e especial do MP que oficia junto à Corte de Contas, é o explica Nathalia Masson36.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Membro do Ministério Público do Estado de Santa Catarina (CESPE - 2021), na modalidade
certo/errado, fora apresentada a afirmativa que segue: “Ao Ministério Público da União compete a atuação como
custos legis perante o Tribunal de Contas da União.” tendo sido considerada ERRADA.

3. ADVOCACIA PÚBLICA

3.1. INTRODUÇÃO
“O constituinte originário denominou equivocadamente a Seção II do Capítulo IV do Título IV, em sua

34
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
35
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
36
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.

22
redação original, ao se referir apenas à Advocacia-Geral da União. (...) Essa distorção veio a ser corrigida pela EC n.
19/98, que alterou o nome da referida Seção para Advocacia Pública, de maneira acertada, agora.37”
A advocacia pública é exercida por instituições constituídas para defender os interesses do próprio Estado
judicial ou extrajudicialmente. Segundo ensina Rodrigo Padilha38, esta carreira é composta:

Instituição que, diretamente ou por meio de órgão vinculado, representa a


União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei
ADVOCACIA-GERAL DA
complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as
UNIÃO
atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo (art.
131 da CR).

PROCURADORIA-GERAL Instituição que possui a função de representar a União na execução da dívida


DA FAZENDA NACIONAL ativa de natureza tributária (art. 131, § 3.º).

A Procuradoria Federal exerce a representação judicial e extrajudicial e


atividades de consultoria e assessoramento jurídicos de autarquias como
PROCURADORIA FEDERAL
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e Instituto Nacional de
Seguro Social (INSS).

PROCURADORIA DOS Exercem a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas


ESTADOS E DO DF unidades federadas.

PROCURADORIA DO Assim como a União, Estados e Distrito Federal, os Municípios também


MUNICÍPIO possuem um órgão de representação judicial e consultoria jurídica.

3.2. ORGANIZAÇÃO DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO


Conforme estabelece o art. 131, caput da Constituição Federal, a Advocacia-Geral da União é a instituição
que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe,
nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de
consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.
“Com a promulgação da Constituição de 1988, a Advocacia-Geral da União (AGU), cujo ingresso nas classes
iniciais das carreiras far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, passou a ser a instituição que,
diretamente ou por meio de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe,
nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de
consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo39”
É certo que houve especial timidez no trato desta carreira quando comparada com as previsões
relacionadas ao Ministério Público na Constituição, assim a legislação infraconstitucional tem especial relevância na

37
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
38
Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2019.
39
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

23
matéria.
O capítulo XV da Lei n. 13.327/2016 (arts. 27 a 39), de leitura obrigatória para os que prestam os
concursos públicos para as carreiras jurídicas da advocacia ­pública, estabeleceu importantes conquistas sobre
subsídio, recebimento de honorários advocatícios de sucumbência, atribuições e prerrogativas, fortalecendo-as
institucionalmente.40

⚠️ ATENÇÃO
Sobre prerrogativas do Advogado da União temos previsão no art. 38 da Lei 13.327/16, vejamos:

Art. 38. São prerrogativas dos ocupantes dos cargos de que trata este Capítulo, sem prejuízo daquelas previstas
em outras normas:

I - receber intimação pessoalmente, mediante carga ou remessa dos autos, em qualquer processo e grau de
jurisdição, nos feitos em que tiver que oficiar, admitido o encaminhamento eletrônico na forma de lei;

II - requisitar às autoridades de segurança auxílio para sua própria proteção e para a proteção de testemunhas, de
patrimônio e de instalações federais, no exercício de suas funções, sempre que caracterizada ameaça, na forma
estabelecida em portaria do Advogado-Geral da União;

III - não ser preso ou responsabilizado pelo descumprimento de determinação judicial no exercício de suas
funções;

IV - somente ser preso ou detido por ordem escrita do juízo criminal competente, ou em flagrante de crime
inafiançável, caso em que a autoridade policial lavrará o auto respectivo e fará imediata comunicação ao juízo
competente e ao Advogado-Geral da União, sob pena de nulidade;

V - ser recolhido a prisão especial ou a sala especial de Estado Maior, com direito a privacidade, e ser recolhido em
dependência separada em estabelecimento de cumprimento de pena após sentença condenatória transitada em
julgado;

VI - ser ouvido, como testemunha, em dia, hora e local previamente ajustados com o magistrado ou a autoridade
competente;

VII - ter o mesmo tratamento protocolar reservado aos magistrados e aos demais titulares dos cargos das funções
essenciais à justiça;

VIII - ter ingresso e trânsito livres, em razão de serviço, em qualquer recinto ou órgão público, sendo-lhe exigida
somente a apresentação da carteira de identidade funcional;

IX - usar as insígnias privativas do cargo.

⚠️ ATENÇÃO
■ A representação judicial e extrajudicial é da União, englobando, assim, os seus diversos órgãos, em
quaisquer dos Poderes.
■ As atividades de consultoria e assessoramento jurídico foram previstas apenas para o Poder Executivo.

A LC n. 73/93, em seu art. 2º prevê quais são os Órgãos da Advocacia-Geral da União:

Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
40

24
▸ Advogado-Geral da União
▸ Procuradoria-Geral da União
▸ Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
ÓRGÃOS DE DIREÇÃO SUPERIOR
▸ Consultoria-Geral da União
▸ Conselho Superior da Advocacia-Geral da União
▸ Corregedoria-Geral da Advocacia da União

▸ Procuradorias Regionais da União


▸ Procuradorias Regionais da Fazenda Nacional
▸ Procuradorias da União nos Estados e no Distrito Federal
e as Procuradorias Seccionais destas
ÓRGÃOS DE EXECUÇÃO
▸ Procuradorias da Fazenda Nacional nos Estados e no
Distrito Federal e as Procuradorias Seccionais destas
▸ Consultoria da União
▸ Consultorias Jurídicas dos Ministérios

ÓRGÃO DE ASSISTÊNCIA DIRETA E IMEDIATA ▸ Gabinete do Advogado-Geral da União


AO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

▸ Procuradorias e Departamentos Jurídicos das autarquias e


ÓRGÃOS VINCULADOS
fundações públicas

* Tabela elaborada com base no livro do Pedro Lenza41

⚠️ ATENÇÃO
Não há na Constituição qualquer previsão que impeça ao advogado público, seja da união ou de outros
entes, a exercer conjuntamente a advocacia privada, motivo pelo qual eventual impedimento fica a cargo das leis
de organização de cada carreira.

3.3. O ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO


“Em conformidade com o que prevê o texto constitucional (art. 131, §1°), a Advocacia-Geral da União é
chefiada pelo Advogado-Geral da União (AGU). Este é livremente nomeado pelo Presidente da República (ou
seja, a escolha não há de ser confirmada pelo Senado Federal), dentre advogados maiores de 35 anos,
possuidores de notável saber jurídico e de reputação ilibada. Nota-se, pois, que o AGU não precisa integrar os
quadros da Advocacia-Geral da União para ser nomeado para a função.42 ”

41
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
42
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.

25
⚠️ ATENÇÃO
NOMEAÇÃO Livre nomeação pelo Presidente da República (art. 84, XVI)

Trata-se de cargo de confiança e, portanto, também de livre


EXONERAÇÃO exoneração. Assim, pode-se afirmar que o AGU é demissível ad
nutum.

O AGU será escolhido dentre cidadãos maiores de 35 anos, de


REQUISITOS notável saber jurídico e reputação ilibada; Vale enfatizar que o AGU
poderá ser estranho à carreira da advocacia pública.

Crimes de responsabilidade: no Senado Federal (art. 52, II, CF/88),


PROCESSO E JULGAMENTO
Crimes comuns: no STF (art. 102, I, "c", CF/88).

O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas


nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte (art. 84, parágrafo único, CF),
DELEGAÇÃO DE ATRIBUIÇÕES DO
além dos Ministros de Estado e do Procurador-Geral da República,
CHEFE DO EXECUTIVO
para o Advogado-Geral da União, devendo ser observados os limites
traçados nas respectivas delegações.

O art. 3.º, § 1.º, da LC n. 73/93 estabelece que o Advogado-Geral da


SUPERVISÃO DO PRESIDENTE DA União é o mais elevado órgão de assessoramento jurídico do Poder
REPÚBLICA Executivo, submetido à direta, pessoal e imediata supervisão do
Presidente da República.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Delegado da Polícia Federal (CESPE - 2021) na modalidade certo/errado, foi apresentada a assertiva:
“Compete à Advocacia-Geral da União exercer as atividades de consultoria e assessoramento jurídico à Polícia
Federal.” Tendo sido considerada CORRETA.

3.4. OS PROCURADORES DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL


“A representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas serão exercidas pelos
Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, cujo ingresso dependerá de concurso

26
público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases43”
É o que dispõe o art. 132 da CF/88:

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso
dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da OAB em todas as suas fases, exercerão
a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.

Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada ESTABILIDADE após 3 anos de efetivo
exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das
corregedorias.

“A chefia da Procuradoria-Geral é desempenhada pelo Procurador-Geral, cuja nomeação e destituição são


efetivadas livremente pelo Governador, que pode escolher dentre membros que integrem (ou não) a carreira. É
possível, todavia, que o poder derivado decorrente, quando da elaboração do texto constitucional estadual, opte
por exigir que o Procurador-Geral do Estado seja escolhido necessariamente dentre componentes da própria
carreira. Conforme se pronunciou o STF: "Mostra-se harmônico com a Constituição Federal preceito da Carta
estadual prevendo a escolha do Procurador-Geral do Estado entre os integrantes da carreira".44”

⚠️ ATENÇÃO
Informações sobre o PGE:

NOMEAÇÃO Livre nomeação pelo Governador.

Trata-se de cargo de confiança e, portanto, também de livre


EXONERAÇÃO
exoneração.

É possível, que o texto constitucional estadual, opte por exigir que o


REQUISITOS Procurador-Geral do Estado seja escolhido necessariamente dentre
componentes da própria carreira.

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere


foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos e
Procuradores do Estado. A Constituição estadual não pode atribuir
PROCESSO E JULGAMENTO foro por prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas
arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,
ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-MC/AL, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgados em 20/11/2020 (Info 1000)45

43
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.
44
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.
45
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional o foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e2a7555f7cabd6e31aef45cb8cda4999>. Acesso em: 24/08/2022

27
Ocorre mediante concurso público, de provas e títulos, com a
INGRESSO NA CARREIRA
participação da OAB em todas as suas fases.

Após 3 anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho


ESTABILIDADE perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das
corregedorias

É feita por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de


REMUNERAÇÃO qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Procurador do Estado do Mato Grosso do Sul (CESPE - 2021), considerando a jurisprudência do STF,
foi tida como CORRETA a alternativa que disse: “As atribuições da procuradoria-geral do estado não incluem a
representação judicial e a consultoria jurídica de empresas públicas e sociedades de economia mista”.
Na prova para Procurador do Estado de Tocantins (FCC - 2021) foi apresentado o seguinte texto: “ A Constituição de
determinado Estado determina que as Secretarias de Estado serão assessoradas juridicamente por advogados de
livre nomeação e exoneração, cabendo-lhes o desempenho de atividade de consultoria jurídica, ao passo que a
representação judicial da unidade federada será exercida por Procuradores do Estado admitidos por concurso
público e organizados em carreira.” Diante do texto foi considerada CORRETA a alternativa que disse: “Trata-se de
norma estadual que se mostra incompatível com a Constituição Federal, uma vez que a consultoria jurídica e a
representação judicial referidas devem ser exercidas por Procuradores do Estado admitidos por concurso público e
organizados em carreira.”

3.4.1. PROCURADORIA GERAL DOS MUNICÍPIOS


“Não houve previsão explícita de Procuradorias Municipais, podendo, naturalmente e desde que
observadas as regras constitucionais, a matéria ser tratada nas Constituições Estaduais, Leis Orgânicas e legislação
própria.46”
Apesar dessa falta de previsão explícita, o STF entendeu que os Procuradores Municipais estão sujeitos ao
teto do funcionalismo, tendo sido fixada a seguinte tese da repercussão geral (tema 510):

1. Os procuradores municipais integram a categoria da Advocacia Pública inserida pela Constituição da


República dentre as cognominadas funções essenciais à Justiça, na medida em que também atuam para a
preservação dos direitos fundamentais e do Estado de Direito. 2. O teto de remuneração fixado no texto
constitucional teve como escopo, no que se refere ao thema decidendum, preservar as funções essenciais à
Justiça de qualquer contingência política a que o Chefe do Poder Executivo está sujeito, razão que orientou a
aproximação dessas carreiras do teto de remuneração previsto para o Poder Judiciário. 3. Os Procuradores do

46
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

28
Município, consectariamente, devem se submeter, no que concerne ao teto remuneratório, ao subsídio
dos desembargadores dos Tribunais de Justiça estaduais, como impõe a parte final do art. 37, XI, da
Constituição da República. 4. A hermenêutica que exclui da categoria “Procuradores” - prevista no art. 37, XI, parte
final, da CRFB/88 – os defensores dos Municípios é inconstitucional, haja vista que ubi lex non distinguit, nec
interpres distinguere debet. 5. O termo “Procuradores”, na axiologia desta Corte, compreende os procuradores
autárquicos, além dos procuradores da Administração Direta, o que conduz que a mesma ratio legítima, por seu
turno, a compreensão de que os procuradores municipais, também, estão abrangidos pela referida locução.
Precedentes de ambas as Turmas desta Corte: RE 562.238 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe
17.04.2013; RE 558.258, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe 18.03.2011. 6. O texto constitucional
não compele os Prefeitos a assegurarem aos Procuradores municipais vencimentos que superem o seu subsídio,
porquanto a lei de subsídio dos procuradores é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo municipal, ex vi
do art. 61, §1º, II, “c”, da Carta Magna. 7. O Prefeito é a autoridade com atribuição para avaliar politicamente,
diante do cenário orçamentário e da sua gestão de recursos humanos, a conveniência de permitir que um
Procurador do Município receba efetivamente mais do que o Chefe do Executivo municipal. 8. As premissas da
presente conclusão não impõem que os procuradores municipais recebam o mesmo que um Desembargador
estadual, e, nem mesmo, que tenham, necessariamente, subsídios superiores aos do Prefeito. 9. O Chefe do
Executivo municipal está, apenas, autorizado a implementar, no seu respectivo âmbito, a mesma política
remuneratória já adotada na esfera estadual, em que os vencimentos dos Procuradores dos Estados têm, como
regra, superado o subsídio dos governadores. 10. In casu, (a) o Tribunal de Justiça de Minas Gerais reformou a
sentença favorável à associação autora para julgar improcedentes os pedidos, considerando que o art. 37, XI, da
Constituição da República, na redação conferida pela Emenda Constitucional 41/03, fixaria a impossibilidade de
superação do subsídio do Prefeito no âmbito do Município; (b) adaptando-se o acórdão recorrido integralmente à
tese fixada neste Recurso Extraordinário, resta inequívoco o direito da Recorrente de ver confirmada a garantia de
seus associados de terem, como teto remuneratório, noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. 11. Recurso extraordinário PROVIDO.
Tese da Repercussão Geral: A expressão ‘Procuradores’, contida na parte final do inciso XI do art. 37 da
Constituição da República, compreende os Procuradores Municipais, uma vez que estes se inserem nas
funções essenciais à Justiça, estando, portanto, submetidos ao teto de noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. (RE
663696, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 28/02/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-183 DIVULG 21-08-2019 PUBLIC 22-08-2019)

3.5. PAGAMENTO DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA AOS ADVOGADOS PÚBLICOS


O art. 85, § 19, do CPC/2015, dispõe que os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência,
nos termos da lei. O STF, por sua vez, entendeu ser constitucional tal percepção de honorários por advogados
públicos devendo, contudo, ser observado o teto remuneratório estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição.

É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se, porém, o limite
remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgados em 25/08/2020.

É constitucional a percepção de honorários de sucumbência por procuradores de estados-membros, observado o

29
teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal no somatório total às demais verbas remuneratórias recebidas
mensalmente. STF. Plenário. ADI 6135/GO, ADI 6160/AP, ADI 6161/AC, ADI 6169/MS, ADI 6177/PR e ADI 6182/RO, Rel.
Min. Rosa Weber, julgados em 19/10/2020 (Info 995).

O entendimento do STF acima exposto está fundamentado em cinco razões de decidir47:


1. Os honorários de sucumbência constituem vantagem de natureza remuneratória, por serviços
prestados com eficiência no desempenho da função pública.
O pagamento de honorários de sucumbência aos advogados públicos está relacionado ao princípio da
eficiência (art. 37, caput, da CF/88), considerando que esse servidor irá receber de acordo com a natureza e a
qualidade dos serviços efetivamente prestados por ele.

Trata-se daquilo que se chama de “remuneração por performance”, modelo este, inclusive, reconhecido
como uma boa prática pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE.
Quanto mais exitosa a atuação dos advogados públicos, mais se beneficia a Fazenda Pública e, por
consequência, toda a coletividade.

2. Os titulares dos honorários sucumbenciais são os profissionais da advocacia, seja pública ou


privada.
Nesse sentido, vale a pena relembrar o art. 23 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB) e o art. 85, § 19 do
CPC/2015:

Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado,
tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando
necessário, seja expedido em seu favor.

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. (...) § 19. Os advogados
públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei.

3. O art. 135 da CF/88, ao estabelecer que a remuneração dos procuradores estaduais se dá mediante
subsídio, é compatível com o regramento constitucional referente à advocacia pública.
Os advogados públicos são remunerados por subsídio. Isso decorre do art. 39, § 4º e do art. 135 da CF/88:

Art. 39 (...) § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o
acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados
na forma do art. 39, § 4º.

47
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos Procuradores dos Estados, observando-se, porém, o
limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4efc9e02abdab6b6166251918570a307>. Acesso em: 24/08/2022

30
A percepção de honorários de sucumbência pelos advogados públicos não representa ofensa à
determinação constitucional de remuneração exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 135 da CF/88).
Ao contrário do que uma leitura isolada do art. 39, § 4º, da Constituição Federal pudesse sugerir, o conceito
de “parcela única” previsto nesse dispositivo constitucional proíbe apenas o acréscimo injustificável de espécies
remuneratórias ordinárias, devidas em decorrência do trabalho normal do servidor submetido a regime de
subsídio.
O art. 39, § 4º não impede a percepção de outras verbas pecuniárias que tenham fundamento diverso, a
exemplo das verbas honorárias sucumbenciais. Isso porque os honorários estão fundados em outra causa, ou seja,
no fato objetivo do resultado da demanda.
Assim, o art. 39, § 4º, da Constituição Federal não constitui vedação absoluta de pagamento de outras
verbas além do subsídio (STF. Plenário. ADI 4941/AL, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux,
julgado 14/8/2019).

4. A CF não institui incompatibilidade relevante que justifique vedação ao recebimento de honorários


por advogados públicos, à exceção da magistratura e do Ministério Público.
Nas hipóteses em que a Constituição Federal pretendeu vedar o recebimento de honorários em razão de
alguma incompatibilidade relevante, proibiu-o expressamente, como no caso dos membros da Magistratura (art.
95, parágrafo único, II, da CF/88) e do Ministério Público (art. 128, § 5º, II, “a”, da CF/88). No caso da advocacia
pública, não há essa proibição.

5. A percepção cumulativa de honorários sucumbenciais com outras parcelas remuneratórias impõe a


observância do teto remuneratório estabelecido constitucionalmente no art. 37, XI.
Os honorários advocatícios sucumbenciais devidos aos advogados públicos, devidamente previstos em lei,
ostentam caráter remuneratório e de contraprestação de serviços realizados no curso do processo. Assim, esses
honorários devem ser considerados como parcela remuneratória devida em razão do serviço prestado. Isso
significa que esses honorários recebem tratamento equivalente aos vencimentos e subsídios, sendo, inclusive,
reconhecido o seu caráter alimentar.
Desse modo, os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais, mas, como eles recebem
os valores em função do exercício do cargo, esse recebimento precisa se sujeitar ao regime jurídico de direito
público.
Por essa razão, mesmo sendo compatível com o regime de subsídio, a possibilidade de advogados públicos
perceberem verbas honorárias sucumbenciais não afasta a incidência do teto remuneratório estabelecido pelo art.
37, XI, da Constituição Federal.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Procurador do Estado do Mato Grosso do Sul (CESPE - 2021) foi apresentado o texto a seguir:
“Determinado estado da Federação pretende editar lei complementar por meio do qual prevê que os procuradores

31
do estado, em decorrência do desempenho da função pública, perceberão honorários sucumbenciais, os quais
deverão ser somados às demais parcelas remuneratórias.” Diante do texto, considerando a jurisprudência do STF,
foi considerada CORRETA a alternativa que disse: “será constitucional o recebimento de honorários sucumbenciais
por advogados públicos, ante sua compatibilidade com o regime de subsídios, mas, ao serem somados às demais
verbas remuneratórias, tais honorários não poderão exceder o subsídio mensal dos ministros do STF”.
Na prova para Procurador do Estado de Pernambuco (CESPE - 2018) foi considerada CORRETA a alternativa que
disse: “A remuneração do procurador consiste exclusivamente em subsídio fixado em parcela única.”

3.6. ASSESSORAMENTO, AMPLITUDE VINCULATIVA DOS PARECERES JURÍDICOS E A


RESPONSABILIZAÇÃO DOS ADVOGADOS PÚBLICOS
O professor Pedro Lenza apresenta os conceitos de pareceres facultativos, obrigatórios e vinculantes
trazidos na obra de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, conforme vemos:

“■ parecer facultativo: “consiste em opinião emitida por solicitação de órgão ativo ou de controle, sem que
qualquer norma jurídica determine sua solicitação, como preliminar à emanação do ato que lhe é próprio. Por
outro lado, fica a seu critério adotar, ou não, o pensamento do órgão consultivo. Consiste, destarte, em exercício
de poder discricionário quanto ao pedido, e à efetivação do ato relativamente ao parecer. Este, portanto,
externamente, não tem relevância jurídica, salvo se o ato a ele se reportar”. Ou seja, o parecer só integrará a
decisão se for indicado como seu fundamento, passando, então, a corresponder à própria motivação;

■ parecer obrigatório: “consiste em opinião emitida por solicitação de órgão ativo ou de controle, em virtude de
preceito normativo que prescreve sua solicitação, como preliminar à emanação do ato que lhe é próprio.
Constituem a consulta e o parecer fases necessárias do procedimento administrativo. (...). O ato praticado sem
dito pronunciamento estará eivado de vício de nulidade, por desrespeito a solenidade essencial. A obrigação,
entretanto, é só de pedir o parecer, jamais de segui-lo, de emanar o ato ativo ou de controle segundo sua
manifestação. O desrespeito ao parecer não invalida o ato; poderá, quando muito, se injustificável a orientação
em contrário, sujeitar o órgão ativo ou de controle às consequências de responsabilidade administrativa, após
regular apuração”;

■ parecer conforme ou vinculante: “é o que a Administração Pública não só deve pedir ao órgão consultivo, como
deve segui-lo ao praticar ato ativo ou de controle. Encerra regime de exceção, e só se admite quando
expressamente a lei ou o regulamento dispõem nesse sentido. O ato levado a efeito em desconformidade com o
parecer se tem como nulo”. Como exemplo, podemos citar a decisão da administração sobre o pedido de
aposentadoria por incapacidade permanente para o trabalho (antes da EC n. 103/2019 – Reforma da Previdência –
era denominada aposentadoria por invalidez), no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de
readaptação, que tem de seguir exatamente a conclusão do médico oficial. (A nova redação dada ao art. 40, § 1.º,
I, CF/88, pela EC n. 103/2019, na hipótese de incapacidade permanente para o trabalho, estabelece ser obrigatória
a realização de avaliações periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão
da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo, o que fortalece ainda mais a importância do
parecer conforme ou vinculante).”48

48
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

32
O professor Lenza ainda traz ensinamentos sobre a responsabilização extraídos do MS 24.631 julgado pelo
STF tendo como Relator o Ministro Joaquim Barbosa, julgado em 09/08/2007, veja:

“(...) II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo impetrante não tinha caráter vinculante. Sua
aprovação pelo superior hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato
administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário, mas apenas incorpora sua
fundamentação ao ato. III. Controle externo: É lícito concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz
de uma alargada relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha resultado dano ao
erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro, submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou
jurisdicionais próprias, não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer de
natureza meramente opinativa...”

.
Em conclusão, de acordo com o julgado, entende-se que o parecer tem caráter opinativo não vinculando o
advogado público; no entanto, o julgado se aprofunda no sentido de que se o parecer for vinculante há “partilha do
poder decisório” e, assim, o advogado atuaria também como administrador, dividindo a responsabilidade.
Com o máximo respeito, na linha da manifestação de Carlos Britto no mesmo acórdão, não concordamos
que o parecerista, pelo simples fato de atuar no processo administrativo, se transforme em administrador. Ainda,
em razão das garantias de independência que devem ser asseguradas aos advogados públicos para que não
sofram pressões políticas, a nosso ver essa responsabilização não pode ser automática. Em nosso entender, e a
matéria precisa ser mais bem definida pelo STF, a responsabilização dependeria de demonstração de erro
grosseiro, falta grave, má-fé, sob pena de se esvaziar a amplitude que devem ter os pareceres jurídicos das
consultorias.49
Nesse sentido, existe importante precedente do STF, anterior ao julgamento do referido MS 24.631, pelo
qual a Corte não admite a automática responsabilização solidária do advogado público ao emitir parecer jurídico, o
que parece ser, naturalmente, o melhor entendimento (matéria pendente de aprofundamento pelo STF):

“EMENTA: (...). Advogado de empresa estatal que, chamado a opinar, oferece parecer sugerindo contratação
direta, sem licitação, mediante interpretação da lei das licitações. Pretensão do Tribunal de Contas da União em
responsabilizar o advogado solidariamente com o administrador que decidiu pela contratação direta:
impossibilidade, dado que o parecer não é ato administrativo, sendo, quando muito, ato de administração
consultiva, que visa a informar, elucidar, sugerir providências administrativas a serem estabelecidas nos atos de
administração ativa (...). II — O advogado somente será civilmente responsável pelos danos causados a seus
clientes ou a terceiros, se decorrentes de erro grave, inescusável, ou de ato ou omissão praticado com culpa, em
sentido largo: Cód. Civil, art. 159; Lei 8.906/94, art. 32. III — Mandado de Segurança deferido” (MS 24.073, Rel. Min.
Carlos Velloso, j. 06.11.2002, Plenário, DJ de 31.10.2003).

4. ADVOCACIA PRIVADA

49
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

33
4.1. INTRODUÇÃO
“A advocacia é profissão liberal mencionada expressamente pela Constituição (art. 133), apostando na
importância da atividade não só para a administração da Justiça mas também como instrumento de acesso do
cidadão à Justiça e de defesa dos direitos e garantias individuais. É ele, o advogado, quem em geral intermedeia o
contato do povo com o Estado, em especial no Judiciário, servindo para dar amparo técnico especializado no que
se refere às leis e normas jurídicas. A advocacia está regulamentada pela Lei no 8.906/1994, o Estatuto da Ordem
dos Advogados do Brasil, que se complementa com o Código de Ética e Disciplina.50 ”
O art. 133 da Constituição Federal dispõe que o advogado é indispensável à administração da justiça,
sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.
Pedro Lenza51 extrai 2 regras do art. 133:
● Indispensabilidade do advogado, que, contudo, não é absoluta. Vejamos alguns exemplos de dispensa
de advogado: impetração de habeas corpus; revisão criminal; ajuizamento de ação nos denominados
Juizados de “Pequenas Causas” — Juizados Especiais Cíveis e Criminais (em âmbito estadual, nas causas
com valor de até 20 salários mínimos — art. 9.º, caput, da Lei n. 9.099/95 e, conforme a Lei n. 10.259, de
12.07.2001, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, nas causas
cíveis de até 60 salários mínimos, de acordo com a possibilidade de dispensa prevista no art. 10 da referida
lei); na Justiça do Trabalho etc.;
● Imunidade do advogado, que também não é irrestrita, devendo obedecer aos limites definidos na lei
(Estatuto da OAB — Lei n. 8.906/94) e restringe-se, como prerrogativa, às manifestações durante o
exercício da atividade profissional de advogado.

4.2. HABILITAÇÃO PARA A PROFISSÃO DE ADVOGADO


Para o exercício profissional da advocacia o bacharel em direito tem de estar habilitado perante a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), são necessários os seguintes requisitos para a inscrição na OAB, como advogado:
a. capacidade civil;
b. diploma ou certidão de graduação em Direito, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e
credenciada;
c. título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro;
d. aprovação em Exame de Ordem;
e. não exercer atividade incompatível com a advocacia;
f. idoneidade moral; e
g. prestar compromisso perante o Conselho (cf. art. 8.º do Estatuto da OAB).

4.3. A INVIOLABILIDADE DO ADVOGADO

50
Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
51
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Editora Saraiva, 2022.

34
A inviolabilidade do advogado, prevista no art. 133 da CF, é uma prerrogativa vinculada ao exercício
profissional, que tem a finalidade de resguardar o exercício do direito de defesa.
Nas palavras de Nathalia Masson52:

O advogado dispõe, pois, de imunidade material relativa às suas manifestações e atos no exercício da atividade
laboral, estando protegido quando suas palavras ou atos possam ser ofensivos às pessoas, vez que não haverá a
incidência dos crimes de injúria e difamação. Ressalte-se, todavia, que o advogado não goza de imunidade quanto
aos crimes de desacato à autoridade e calúnia. Quanto à justificativa de a imunidade profissional do advogado
não compreender o desacato, vale frisar que sua concessão conflitaria com a autoridade do magistrado na
condução da atividade jurisdicional.

4.4. DIREITOS DO ADVOGADO


Conforme dispõe o art. 7º do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), são direitos
do advogado:
1. Exercer livremente a profissão em qualquer lugar do país;
● Lembrando que cada advogado só pode atuar em até 5 processo por ano fora do estado no qual
está inscrito;
● Caso precise de um número superior, poderá ter uma inscrição suplementar e para tanto basta
pagar a taxa estipulada por cada OAB.
2. O escritório e objetivos utilizados para o trabalho (agendas, computadores, arquivos, celulares etc.) que
tenham relação direta com a profissão não podem ser violados, salvo por determinação legal;
3. Se for preso em flagrante por algum motivo relacionado a profissão, é obrigatório a presença de um
representante da OAB;
● Se não houver representante, a prisão poderá ser anulada;
● Uma vez preso, deverá ficar em sala especial até o trânsito em julgado da sentença.
4. Livre acesso:
● Nas salas de sessões dos tribunais;
● Nas salas de audiência, secretarias, cartórios;
● Nas delegacias e prisões (mesmo fora do horário de expediente: 09:00 às 18:00);
● Nos prédios que funcionem órgãos do judiciário (mesmo fora do horário de expediente: 09:00 às
18:00);
● Em qualquer reunião para representar seus clientes.
5. Independentemente de autorização, poderá em qualquer órgão do judiciário:
● Se manter sentado;
● Se manter em pé;
● Se retirar;

52
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.

35
● Falar sentado ou em pé.
6. Mesmo sem hora marcada despachar diretamente com qualquer juíz;
● Nesse caso, cabe o bom senso. Por questões de educação, pergunte se o magistrado pode
atendê-lo, mas caso ele se recuse, poderá exigir seu direito.
7. Sempre que precisar fazer alguma intervenção em juízo ou tribunal, poderá usar “pela ordem” para:
● Esclarecer um equívoco ou dúvida quanto aos fatos, documentos ou afirmações;
● Replicar censura ou acusação que lhe for feita.
8. Reclamar por escrito ou oralmente contra inobservância de lei, regulamento ou regimento;
9. Mesmo sem procuração:
● Examinar e tirar cópias de processos (ativo ou arquivado);
● Examinar autos de flagrante ou investigação;
● Fazer carga de processos arquivados pelo prazo de 10 dias.
● Se tiver algum cliente preso, poderá conversar pessoalmente e de maneira reservada.
10. Fazer carga de processos judiciais ou administrativos pelo prazo concedido;
11. Receber desculpas públicas quando for ofendido por sua profissão;
12. Usar imagens exclusivas da advocacia (malhete, deusa da justiça etc.);
13. Recusar a testemunhar contra seus atuais ou antigos clientes;
14. Caso a audiência não se inicie em até trinta minutos do horário marcado, poderá se retirar após protocolar
uma comunicação;
15. Acompanhar seus clientes durante interrogatórios, depoimentos ou qualquer outra fase de investigação,
sob pena de nulidade absoluta do ato.

5. DEFENSORIA PÚBLICA

5.1. INTRODUÇÃO
O art. 134 da Constituição Federal dispõe que a Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial
e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do
inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.
“O supracitado art. 5º, LXXIV, instituiu como direito fundamental à assistência jurídica integral aos
hipossuficientes economicamente. Os termos “jurídica e integral” significam que a assistência não se limita ao
campo judicial, devendo antecedê-lo e ser de boa qualidade. O art. 134 da Constituição determina que a instituição
que tem a atribuição de cumprir tais funções é a Defensoria Pública. É inconstitucional qualquer outra forma de
defesa dos necessitados, salvo nos casos de advocacia dativa e gratuita. São princípios institucionais da Defensoria
Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto

36
no art. 93 e no inciso II do art. 96 da Constituição.53”
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente (competência concorrente)
sobre assistência jurídica e defensoria pública (art. 24, XIII). Isso significa que a União legislará sobre normas gerais
e os Estados, bem como o Distrito Federal, sobre regras específicas.54

5.2. PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA


De acordo com o art. 134, § 4.º, da CF/88, introduzido pela EC n. 80/2014, constitucionalizando o que já
constava do art. 3.º, da LC n. 80/94, são princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade
e a independência funcional:

Art. 134. § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência
funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição
Federal.

5.2.1. PRINCÍPIO DO DEFENSOR PÚBLICO NATURAL


Utilizando as palavras do professor e doutrinador Pedro Lenza55:

“Além de as partes serem julgadas por órgão independente e pré-constituído, o acusado tem o direito e a garantia
constitucional de somente ser processado por um órgão independente do Estado, vedando-se, por consequência,
a designação arbitrária, inclusive, de promotores ad hoc ou por encomenda (art. 5.º, LIII, e art. 129, I, c/c o art. 129,
§ 2.º).

Nesse sentido, de maneira bastante adequada, assegura-se aos necessitados, assim considerados na forma do
inciso LXXIV do art. 5.º da Constituição Federal, o direito de serem patrocinados por defensor público natural
(art. 4.º-A, IV, da LC n. 80/94, introduzido pela LC n. 132/2009), investido na carreira por concurso público de
provas e títulos.”

5.3. ESTRUTURA DA DEFENSORIA PÚBLICA


Em consonância com os ensinamentos do professor Rodrigo Padilha56, no que diz respeito à estrutura, a
Defensoria Pública se divide em:
● Defensoria Pública da União: atua na defesa dos hipossuficientes econômicos junto ao Supremo Tribunal
Federal, Superior Tribunal de Justiça, Justiça Federal comum, Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça
Militar Federal e órgãos administrativos da União.
● Defensoria Pública do Distrito Federal e Territórios: órgão que atua em prol dos necessitados
econômicos perante a Justiça e instâncias administrativas do Distrito Federal.

53
Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
54
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.
55
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.
56
Padilha, Rodrigo. Direito Constitucional . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2019.

37
● Defensoria Pública dos Estados: tutela o interesse de portadores de necessidades econômicas perante
os órgãos administrativos e judiciais dos Estados e órgãos administrativos municipais.

5.4. GARANTIAS E PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA


Aos defensores públicos foram asseguradas as seguintes garantias, fundamentadas nos arts. 43, 88 e 127
da LC n. 80/94, ampliando a regra constitucional explícita estabelecida no art. 134, § 1º:
a. Independência funcional no desempenho de suas atribuições: ”significando que a formação do
convencimento técnico-jurídico dos defensores será exercida de forma livre e independente”
b. Inamovibilidade: “consiste na vedação da remoção do Defensor Público do órgão de atuação onde ele
esteja lotado para qualquer outro independentemente de sua vontade, ou seja, de modo compulsório”
c. Irredutibilidade de vencimentos: ”comum a todos os servidores públicos, nos termos do art. 37, inciso
XV, CF/88”
d. Estabilidade: “na qualidade de ocupante de cargo público, o Defensor Público é estável após três anos de
efetivo exercício”
* Conceitos extraídos do Livro da Nathalia Masson57

Quanto às prerrogativas enunciadas para os integrantes da carreira, deve-se dar destaque às seguintes:
● Todos os membros da Defensoria são detentores do direito à prisão especial ou em sala especial de Estado
Maior, com direito a privacidade e, após sentença condenatória transitada em julgado, ser recolhido em
dependência separada, no estabelecimento em que tiver de ser cumprida a pena;
● Os defensores não serão presos, senão por ordem judicial escrita, salvo em flagrante, caso em que a
autoridade fará imediata comunicação ao Defensor Público-Geral;
● Os defensores serão intimados pessoalmente em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância
administrativa, mediante entrega dos autos com vista, contando-se-lhes em dobro todos os prazos;

⚠️ ATENÇÃO
"A Defensoria Pública goza de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, tendo
início com a intimação pessoal do defensor público por carga, remessa ou meio eletrônico (art. 183, § 1.º).
Importante inovação está prevista no art. 186, § 4.º, ao estabelecer, sob a perspectiva da isonomia, que a
prerrogativa do prazo em dobro aplica-se também aos escritórios de prática jurídica das faculdades de direito
reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios
firmados com a Defensoria Pública.58”

● Os órgãos da Defensoria são destinatários de honorários advocatícios se houver vencedores na causa


mesmo que a atuação tenha ocorrido em face da pessoa jurídica de direito público à qual pertence.

57
Masson, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8. ed Salvador: JusPODIVM, 2020.
58
Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.

38
⚠️ ATENÇÃO
“A Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus
agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações,
esclarecimentos e demais providências necessárias à sua atuação. STF. Plenário. ADI 6852/DF e ADI 6862/PR,
Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 18/2/2022 (Info 1045). STF. Plenário. ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF,
ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI 6873/AM e ADI 6875/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 18/2/2022
(Info 1045).59”

5.4.1. VEDAÇÃO AOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA


De acordo com Pedro Lenza:

“De acordo com o art. 134, § 1.º, lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e
dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na
classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da
inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

Resumindo, o defensor público só pode advogar para cumprir a sua missão constitucional, que é a prestação da
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovem insuficiência de recursos.”

⚠️ ATENÇÃO 60

O Defensor Público precisa ser inscrito na OAB para exercer suas funções?
Segundo a tese fixada pelo STF: “É inconstitucional a exigência de inscrição do Defensor Público nos
quadros da Ordem dos Advogados do Brasil.” STF. Plenário. RE 1240999/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 3/11/2021 (Repercussão Geral – Tema 1074) (Info 1036).
Segundo explica Márcio Cavalcante com base na decisão do STF:

“A Defensoria Pública é disciplinada pela Constituição Federal dentro das “Funções Essenciais à Justiça”, ao lado do
Ministério Público, da Advocacia e da Advocacia Pública. A Defensoria Pública não deve ser considerada como
Advocacia Pública, dada a nítida separação entre as funções realizada pela Carta de 1988.

Os Defensores Públicos exercem atividades de representação judicial e extrajudicial, de advocacia contenciosa e


consultiva, o que se assemelha bastante à Advocacia, tratada em Seção à parte no texto constitucional. Apesar
disso, não se pode dizer que os Defensores Públicos sejam advogados. Há inúmeras peculiaridades que fazem
com que a Defensoria Pública seja distinta da advocacia privada e, portanto, merecem tratamento diverso. Alguns
pontos que diferenciam a carreira da Defensoria Pública:

• está sujeita a regime próprio e a estatutos específicos;

• submete-se à fiscalização disciplinar por órgãos próprios (e não pela OAB);

59
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A prerrogativa de requisição conferida aos membros da Defensoria Pública é constitucional. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d0f82e1046ccbd597c7f2a7bfba9e7dd>. Acesso em:
24/08/2022
60
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Defensor Público não precisa ser inscrito na OAB para exercer suas funções. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3b036b877a6a074d7dbfc706fe868c1d>. Acesso em: 24/08/2022

39
• necessita de aprovação prévia em concurso público, sem a qual, ainda que possua inscrição na Ordem, não é
possível exercer as funções do cargo;

• não precisa apresentar procuração para atuar.”

Resumo:

Não se harmoniza com a Constituição Federal o art. 3º da Lei 8.906/1994 ao estatuir a dupla sujeição ao regime
jurídico da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ao da Defensoria Pública, federal ou estadual.

Tese fixada pelo STF: É inconstitucional a exigência de inscrição do Defensor Público nos quadros da Ordem dos
Advogados do Brasil. STF. Plenário. RE 1240999/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/11/2021
(Repercussão Geral – Tema 1074) (Info 1036).

Os Defensores Públicos não precisam estar inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para desempenhar
suas funções institucionais. STF. Plenário. ADI 4636/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2021 (Info
1036).

5.5. DESTINATÁRIOS DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELA DEFENSORIA PÚBLICA61


A Defensoria Pública, por obrigação, deve prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos. Todavia, suas funções não se restringem ao aspecto econômico.
A Defensoria Pública deve zelar pelos direitos e interesses de todos os necessitados, não apenas sob o viés
financeiro, mas também sob o prisma da hipossuficiência e vulnerabilidade decorrentes de razões outras (idade,
gênero, etnia, condição física ou mental etc.).
Conclui-se que a Defensoria Pública, agente de transformação social, tem por tarefa assistir aqueles que,
de alguma forma, encontram barreiras para exercitar seus direitos. Naturalmente, sua atribuição precípua é o
resguardo dos interesses dos carentes vistos sob o prisma financeiro. Todavia não é a única. Isso porque, como
sabemos, as desigualdades responsáveis pela intensa instabilidade social não são apenas de ordem econômica.
Não há, em princípio, impedimento insuperável a que pessoas jurídicas venham, também, a ser
consideradas titulares de direitos fundamentais, não obstante estes, originalmente, terem por referência a pessoa
física.
As pessoas jurídicas são titulares do direito à inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV) e dos direitos do
tipo procedimental, como o direito a ser ouvido em juízo e o direito ao juiz predeterminado por lei, o direito à
igualdade de armas e o direito à ampla defesa.
A jurisprudência pátria é firme no sentido de admitir, por exemplo, a obtenção da gratuidade de justiça por
parte das pessoas jurídicas, desde que a insuficiência de recursos seja devidamente comprovada.
As expressões “insuficiência de recursos” e “necessitados” podem ser aplicadas tanto às pessoas físicas
quanto às pessoas jurídicas.Portanto, há a possibilidade de que pessoas jurídicas sejam, de fato, hipossuficientes e,
portanto, sejam assistidas pela Defensoria Pública.

61
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A Defensoria Pública pode prestar assistência jurídica às pessoas jurídicas que preencham os requisitos
constitucionais. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/818cdcf067c824a4e34f9293de3b15a9>. Acesso em: 24/08/2022

40
Conforme muito bem explicou o Min. Gilmar Mendes:

“Como não enxergar, por exemplo, as microempresas, as empresas de pequeno porte, as individuais? Quando se
fala em pessoa jurídica, aqui, devemos ir além dos bancos, grandes lojas, redes de supermercado. Trata- se, sim,
do padeiro que abriu seu estabelecimento comercial com recursos da adesão ao Programa de Demissão
Voluntária, da costureira que organizou oficina na garagem de sua casa, do sapateiro que atende em uma
pequena banca de bairro. Enfim, as possibilidades são infindáveis. E mais: não podemos esquecer que as
entidades civis sem fins lucrativos e associações beneficentes também são pessoas jurídicas. Ora, podemos
rejeitar a possibilidade de serem hipossuficientes? Me parece que não.”

Dessa forma, conclui-se: “A Defensoria Pública pode sim prestar assistência jurídica às pessoas jurídicas,
desde que preencham os requisitos constitucionais. STF. Plenário. ADI 4636/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 3/11/2021 (Info 1036).”

5.6. LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA


A Lei n. 11.448, de 15.01.2007, ao alterar o art. 5.º da Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública — LACP),
legitimou a Defensoria Pública para o ajuizamento da ação civil pública.

“A Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em ordem a promover a
tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese, as pessoas necessitadas. STF.
Plenário. RE 733433/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/11/2015 (repercussão geral - Tema 607) (Info 806).”

O professor Márcio Cavalcante62 aprofunda um pouco mais o tema:


● A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP em todo
e qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO. Assim, a Defensoria
Pública, ao ajuizar uma ACP, deverá provar que os interesses discutidos na ação têm pertinência com as suas
finalidades institucionais.

● Por que se diz que a legitimidade da Defensoria não é irrestrita?


Porque a legitimidade de nenhum dos legitimados do art. 5º é irrestrita, nem mesmo do Ministério Público.
O STJ já decidiu, por exemplo, que “o Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na
qual busca a suposta defesa de um pequeno grupo de pessoas - no caso, dos associados de um clube, numa óptica
predominantemente individual.” (REsp 1109335/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2011).
A Defensoria só tem adequada representação se estiver defendendo interesses relacionados com seus
objetivos institucionais e que se encontram previstos no art. 134 da CF.

62
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Legitimidade da Defensoria Pública para propor ACP na tutela de direitos difusos e coletivos de pessoas necessitadas.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fc79250f8c5b804390e8da280b4cf06e>. Acesso em: 24/08/2022

41
Em outras palavras, a Defensoria Pública somente poderia propor uma ACP se os direitos nela veiculados,
de algum modo, estiverem relacionados à proteção dos interesses dos hipossuficientes (“necessitados”, ou seja,
indivíduos com “insuficiência de recursos”). Esse é o entendimento tanto do STF (RE 733433/MG, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 4/11/2015).
Segundo a jurisprudência, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se elas
estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou seja, se tiverem por objetivo
beneficiar os necessitados que não tiverem suficiência de recursos (CF/88, art. 5º, LXXIV).
A própria Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar n.° 80/94) nos faz concluir dessa forma:

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: (...)

VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de
pessoas hipossuficientes;

VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos
direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal;

X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela;

XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa
portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros
grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado;

No julgamento da ADI 3943, acima explicada, diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.
A Min. Cármen Lúcia, em determinado trecho de seu voto, afirmou:

“Não se está a afirmar a desnecessidade de a Defensoria Pública observar o preceito do art. 5º, LXXIV, da CF,
reiterado no art. 134 — antes e depois da EC 80/2014. No exercício de sua atribuição constitucional, é necessário
averiguar a compatibilidade dos interesses e direitos que a instituição protege com os possíveis beneficiários de
quaisquer das ações ajuizadas, mesmo em ação civil pública.” (...)

● Se o interesse defendido beneficiar pessoas economicamente abastadas e também


hipossuficientes, a Defensoria terá legitimidade para a ACP?
SIM, considerando que, no processo coletivo, vigoram os princípios do máximo benefício, da máxima
efetividade e da máxima amplitude. Desta feita, podendo haver hipossuficientes beneficiados pelo resultado da
demanda deve-se admitir a legitimidade da Defensoria Pública.
É o caso, por exemplo, de consumidores de energia elétrica, que tanto podem abranger pessoas com alto
poder aquisitivo como hipossuficientes:

LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA.

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A Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu que a Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar ação civil
coletiva em benefício dos consumidores de energia elétrica, conforme dispõe o art. 5º, II, da Lei nº 7.347/1985,
com redação dada pela Lei nº 11.448/2007. (...) REsp 912.849-RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/2/2008
(Info 346).

Sobre o tema:

Ainda que a competência da Defensoria Pública para a defesa de interesses e direitos transindividuais esteja
vinculada à interpretação das expressões "necessitados" e "insuficiência de recursos", constantes,
respectivamente, no texto dos arts. 134 e 5º, LXXXIV, da CF, essa interpretação deve se dar de forma ampla e
abstrata, bastando que possa haver a existência de um grupo de hipossuficientes, independentemente de
alcançar de forma indireta e eventuais outros grupos mais favorecidos economicamente. STJ. 3ª Turma. AgInt no
REsp 1418091/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/09/2019.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Defensor Público do Estado da Paraíba (FCC - 2022) foi questionado sobre as mudanças relevantes
apresentadas pela EC 45/04 (reforma do judiciário), especialmente quanto à Defensoria Pública, tendo sido
considerada correta a alternativa que trouxe: “A Emenda Constitucional n° 45/2004, que ficou conhecida como
Reforma do Judiciário, promoveu diversas alterações constitucionais que tiveram por objetivo o aperfeiçoamento
do sistema de justiça, inclusive da Defensoria Pública, dentre as quais se destaca a entrega em duodécimos, até o
dia 20 de cada mês, dos recursos correspondentes à dotação orçamentária da Defensoria Pública.”
Na prova para Defensor Público do Estado de Sergipe (CESPE - 2022) foi correta, segundo a jurisprudência do
STF, a alternativa que trouxe: “a Defensoria Pública Estadual, para receber intimações das decisões proferidas pelo
STJ, deve ter aderido ao Portal de Intimações Eletrônicas do Tribunal ou manter representação em Brasília.”
Na mesma prova, considerando a jurisprudência do STF, foi tida como correta a alternativa que apresentou: “é
inconstitucional proposta de emenda à Constituição Federal que disponha sobre a Defensoria Pública e cuja
iniciativa do processo legislativo tenha competido a parlamentar federal.”
Ainda seguindo a jurisprudência do STF foi assinalado como correta a alternativa que trouxe: “ a Defensoria
Pública tem legitimidade para a propositura da ação civil pública, ainda que esta vise promover a tutela judicial de
direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese, pessoas necessitadas.”
Na prova para Defensor Público do Estado do Paraná (Instituto AOCP - 2022) foram apresentadas quatro
afirmativas, determinando que fossem assinaladas as alternativas corretas, vejamos estas alternativas:
I. A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa de interesses individuais
homogêneos, desde que adstrito ao critério da hipossuficiência socioeconômica dos titulares.
II. É inconstitucional a Lei Orçamentária Anual na qual Governador do Estado, ao encaminhar o projeto para a
Assembleia Legislativa, reduziu a proposta orçamentária elaborada pela Defensoria Pública e que estava de acordo
com a Lei de Diretrizes Orçamentárias.
III. A Defensoria Pública detém exclusividade na prestação de assistência jurídica integral e gratuita aos
necessitados, sendo inconstitucional qualquer iniciativa de Executivo Municipal nesse sentido.

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IV. Fere a autonomia funcional e administrativa da Defensoria Pública a ordem judicial para a implementação de
determinadas unidades/sedes.
Foram consideradas corretas apenas as alternativas II e IV.
Na prova para Delegado de Polícia do Estado da Paraíba (CESPE - 2022), relacionando o Ministério Público e a
Defensoria Pública, considerou-se correta a alternativa que como princípios expressos na Constituição: “a unidade,
a indivisibilidade e a independência funcional.”
Na prova para Defensor Público do Estado do Piauí (CESPE - 2022), considerando a Constituição e a jurisprudência
do STF e STJ, foi considerada correta a alternativa que disse: “À Defensoria Pública é atribuída a função de
promoção dos direitos humanos e defesa do regime democrático, com a orientação jurídica dos necessitados,
sendo cabível, inclusive, a celebração de convênios para esse mister constitucional.”
Na prova para Defensor Público do Estado do Rio Grande do Sul (CESPE - 2022), foi considerada ERRADA a
assertiva que disse: “A Constituição Federal de 1988 define que a Defensoria Pública, enquanto instituição essencial
à função jurisdicional do Estado, é responsável pela defesa e orientação jurídica dos necessitados, prevendo a
assistência jurídica integral e gratuita como direito fundamental autoaplicável e adotando, como regra, o modelo
judicare.”
Na prova para Defensor Público do Estado de Santa Catarina (FCC - 2021), foi considerada correta a alternativa que
disse ser uma das inovações apresentadas pela EC nº 80/14: “a constitucionalização dos princípios institucionais da
Defensoria Pública.”

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