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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL 1
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 1
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 5
ACESSO À INFORMAÇÃO 5
DIREITO À INFORMAÇÃO 6
PUBLICIDADE 6
DIREITOS SOCIAIS 6
DIREITO À EDUCAÇÃO 6
DIREITO À SAÚDE 7
AUTONOMIA DOS ENTES 7
INTERVENÇÃO 7
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 7
PODER LEGISLATIVO 13
IMUNIDADE PARLAMENTAR 13
PROCESSO LEGISLATIVO 14
MEDIDAS PROVISÓRIAS 14
TRIBUNAIS DE CONTAS 14
PODER JUDICIÁRIO 15
CNJ 16
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 16
CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO 19
ADVOCACIA PÚBLICA 20
DEFENSORIA PÚBLICA 21
MINISTÉRIO PÚBLICO 22
SEGURANÇA PÚBLICA 25
SEGURIDADE SOCIAL 26
ÍNDIOS 26
TEMAS DIVERSOS 26
ENTIDADES DESPORTIVAS 26
LIBERDADE PROFISSIONAL 27

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário voltadas para a defesa de direitos ou o
esclarecimento de situação de interesse pessoal.
O STF julgou parcialmente procedente a ADIN 2259, realizando uma interpretação conforme à Constituição da
Tabela IV da Lei nº 9.289/96, para:
Reconhecer a imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário que forem voltadas para a
defesa de direitos ou o esclarecimento de situação de interesse pessoal, presumindo essas finalidades

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quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio requerente, sendo desnecessária, nessa
hipótese, expressa e fundamentada demonstração dos fins e das razões do pedido.
Por outro lado, para a concessão da gratuidade da certidão quando o pedido tiver objeto interesse indireto
ou de terceiros, mostra-se imprescindível a demonstração da finalidade.
STF. Plenário. ADI 2259, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2020.

É constitucional o art. 52 da Lei 13.146/2015, que prevê que as locadoras deverão manter uma cota de
veículos adaptados para pessoas com deficiência.
A Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com deficiência) prevê que as locadoras deverão manter uma cota de
veículos adaptados para pessoas com deficiência:
Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com
deficiência, a cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota.
Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros
elétricos e comandos manuais de freio e de embreagem.

Essa previsão é constitucional.


O STF considera constitucionais medidas legislativas objetivando a inclusão social das pessoas com deficiência,
como é o caso.
O princípio da livre iniciativa, fundamento da ordem econômica brasileira, tem de ser ponderado com outros
valores constitucionais, como a função social da propriedade, a defesa do consumidor, a proteção do meio
ambiente e a redução das desigualdades sociais, para se “assegurar a todos a existência digna, conforme os
ditames da justiça social” (art. 170 da Constituição).
A determinação legal de disponibilidade de veículo adaptado a cada conjunto de vinte automóveis da frota não
inviabiliza a atividade econômica de locadoras nem impõe às empresas ônus excessivo, atendendo-se ao
princípio da proporcionalidade.
STF. Plenário. ADI 5452, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2020.

Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada).
O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, III, “d”,
da Lei nº 13.979/2020. Ao fazer isso, o STF disse que o Poder Público pode determinar aos cidadãos que se
submetam, compulsoriamente, à vacinação contra a Covid-19, prevista na Lei nº 13.979/2020.
O Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação as medidas restritivas previstas em lei
(multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer matrícula em escola), mas não pode
fazer a imunização à força. Também ficou definido que os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios
têm autonomia para realizar campanhas locais de vacinação.
A tese fixada foi a seguinte:
(A) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário,
podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a
restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei,
ou dela decorrentes, e
(i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes,
(ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos
imunizantes,
(iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas;
(iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e

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(v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e

(B) tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos
Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência.
STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2020. (Info 1003)

É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica.
É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância
sanitária,
(i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou
(ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei ou
(iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com base em consenso
médico-científico.
Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou
responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.
STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 1103) (Info 1003).

O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º, XVI, da CF/88?
O art. 5º, XVI, da CF/88 prevê o direito de reunião nos seguintes termos:
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas
exigido prévio aviso à autoridade competente;

Qual é o sentido de “prévio aviso” mencionado pelo dispositivo constitucional?


O STF fixou a seguinte tese:
A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de
informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para
que não frustre outra reunião no mesmo local.
STF. Plenário. RE 806339/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 855) (Info 1003).

A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos


estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia. A determinação de que o Estado
forneça banho quente aos presos está relacionada com a dignidade da pessoa humana, naquilo que concerne à
integridade física e mental a todos garantida. O Estado tem a obrigação inafastável e imprescritível de tratar
prisioneiros como pessoas, e não como animais. O encarceramento configura pena de restrição do direito
de liberdade, e não salvo-conduto para a aplicação de sanções extralegais e extrajudiciais, diretas ou
indiretas. Em presídios e lugares similares de confinamento, ampliam-se os deveres estatais de proteção
da saúde pública e de exercício de medidas de assepsia pessoal e do ambiente, em razão do risco
agravado de enfermidades, consequência da natureza fechada dos estabelecimentos, propícia à
disseminação de patologias. STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
27/04/2017 (Info 666)

No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da República e os
Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo em favor dos
mais necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana.

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Alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício semelhante
ao que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício financeiro no
valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI),
autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às
pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus.
Diante disso, o STF decidiu:
a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por
omissão para discutir o tema);
b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado uma vez que foi aprovado o auxílio emergencial (Lei nº
13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975).

A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as empresas de


telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de
telefone e endereços. Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas
oficial, com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. As informações
disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas
constitucionais que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da
personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os limites
estabelecidos pela Constituição. A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que
os dados serão utilizados exclusivamente para a produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da
estatística a ser produzida, nem a finalidade específica ou a sua amplitude. A MP 954/2020 não apresenta
também mecanismos técnico ou administrativo para proteger os dados pessoais de acessos não autorizados,
vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso, constata-se que a MP violou a garantia do devido
processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva (princípio da proporcionalidade). STF. Plenário.
ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e 7/5/2020
(Info 976)

Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, da
CF), de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de material
com referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há
também inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação viola:
• a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, CF/88); e
• o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III).
Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que é a promoção do
bem de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88).
Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo
para a manutenção da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF. Plenário. ADPF
457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020 (Info 980 – clipping).

O parágrafo único do art. 4º da Lei 9.883/99 prevê que os órgãos que compõem o SISBIN deverão fornecer
informações para a ABIN: Art. 4º (...) Parágrafo único. Os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de
Inteligência fornecerão à ABIN, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato presidencial, para fins
de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses
nacionais.

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O Plenário do STF afirmou que esse dispositivo é constitucional desde que seja interpretado com base em
quatro critérios definidos pela Corte. Assim, o STF conferiu interpretação conforme à Constituição Federal ao
parágrafo único do art. 4º da Lei 9.883/99, para estabelecer que:
a) os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) somente podem fornecer dados e
conhecimentos específicos à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) quando comprovado o interesse público da
medida, afastada qualquer possibilidade de esses dados atenderem interesses pessoais ou privados;
b) toda e qualquer decisão que solicitar os dados deverá ser devidamente motivada para eventual controle de
legalidade pelo Poder Judiciário;
c) mesmo quando presente o interesse público, os dados referentes a comunicações telefônicas ou dados
sujeitos à reserva de jurisdição não podem ser compartilhados na forma do dispositivo em razão daquela
limitação, decorrente do respeito aos direitos fundamentais; e d) nas hipóteses cabíveis de fornecimento de
informações e dados à Abin, é imprescindível procedimento formalmente instaurado e existência de sistemas
eletrônicos de segurança e registro de acesso, inclusive para efeito de responsabilização, em caso de eventuais
omissões, desvios ou abusos. STF. Plenário. ADI 6529 MC/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/8/2020 (Info
986).

É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate empresa cujo diretor,
gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de
atos discriminatórios. Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal
e do devido processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 –
clipping).

Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que previsto ser do farmacêutico a
responsabilidade técnica por drogaria. STF. Plenário. RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em 24/08/2020
(Repercussão Geral – Tema 1.049) (Info 991 – clipping).

É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF/88), a
exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores
públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da CF/88). STF.
Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 457) (Info
994).

Os arts. 6º a 8º do Decreto nº 21.981/1932 exigem que o indivíduo que quiser exercer a profissão de leiloeiro
preste uma garantia (caução). A exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro, prevista nos arts.
6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII, da Constituição Federal de 1988. Isso porque o
leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição
para o exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que reforça o interesse social
da norma protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. STF. Plenário. RE 1263641/RS,
rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral –
Tema 455) (Info 994).

As disposições da Lei nº 9.656/98, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente incidem sobre os
contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos que, firmados anteriormente, foram
adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos beneficiários que, exercendo sua
autonomia de vontade, optaram por manter os planos antigos inalterados. STF. Plenário. RE 948634, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 123) (Info 995).

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A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as
pessoas que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de
proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a ordem judicial para quebra
do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por período de
tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos
crimes, não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente atingidos
por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678)

É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas
do Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal.
Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III,
da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que a
inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas
sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de
outros Estados da Federação. STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro,
não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não
configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei de
Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as investigações e
evitar possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a
decisão teve como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade
mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de “transtorno
delirante persistente”. STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info
973).

A imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos contra um
grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os principais alvos
da investigação seriam professores e policiais autointitulados de “antifascistas”. Determinado partido político
ajuizou ADPF para que o STF declare que essa investigação viola os preceitos fundamentais da liberdade de
expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra. O STF deferiu medida
cautelar para suspender todo e qualquer ato do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) de produção ou
compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, as práticas cívicas de
cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de movimento
político antifascista, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade,
exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF. Plenário. ADPF 722 MC/DF, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 19 e 20/8/2020 (Info 987)

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” apenas porque


seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma
sociedade democrática e pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 3/11/2020 (Info 998)

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ACESSO À INFORMAÇÃO

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma série
de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e
concretas impeditivas de acesso à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e
transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao livre acesso de informações a
toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info 975).

DIREITO À INFORMAÇÃO

Jornal poderá acessar dados sobre mortes registradas em ocorrências policiais. Caso concreto: o jornal
Folha de São Paulo pediu para que o Governo do Estado fornecesse informações relacionadas a mortes
registradas pela polícia em boletins de ocorrência. O pedido foi negado sob o fundamento de que, apesar de
terem natureza pública, esses dados deveriam ser divulgados com cautela e não seriam indispensáveis para o
trabalho jornalístico. O STJ não concordou e afirmou que não cabe à administração pública ou ao Poder
Judiciário discutir o uso que se pretende dar à informação de natureza pública. A informação, por ser
pública, deve estar disponível ao público, independentemente de justificações ou considerações quanto
aos interesses a que se destina. Não se pode vedar o exercício de um direito – acessar a informação pública –
pelo mero receio do abuso no exercício de um outro e distinto direito – o de livre comunicar. Em suma: veículo
de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados públicos sobre óbitos relacionados a
ocorrências policiais. STJ. 2ª Turma. REsp 1.852.629-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/10/2020 (Info 682).

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A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-19 representa violação a preceitos
fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os princípios da
publicidade e transparência da Administração Pública e o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF,
ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)

DIREITOS SOCIAIS

O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos, salvo se cometerem falta
grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim que a
CF/88 foi promulgada, alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não teria
sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º da Constituição prevê que a
liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não
concordaram com essa tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter
absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego
não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da
entidade sindical, mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a
razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo, o art. 522 da CLT foi
recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em
15/05/2020 (Info 980 – clipping)

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A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe deu a Emenda Constitucional
20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso
de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal
previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como
referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF
afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o
valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso,
mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir
como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual
seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos
anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será
necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices econômicos. STF. Plenário. ADI
4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

DIREITO À EDUCAÇÃO

A Constituição prevê o dever de aplicação de percentual mínimo para investimentos na manutenção e


desenvolvimento do ensino. A definição de quais despesas podem ou não ser consideradas como manutenção e
desenvolvimento de ensino é feita por meio de lei editada pela União. A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional), em seus arts. 70 e 71, definiu quais despesas podem ser consideradas como sendo
destinadas à manutenção e desenvolvimento do ensino. As despesas com encargos previdenciários de
servidores inativos e os repasses efetuados pelo Estado para cobrir o déficit no regime próprio de
previdência não podem ser computados como aplicação de recursos na manutenção e desenvolvimento
de ensino, para os fins do art. 212 da CF/88. Logo, é inconstitucional lei estadual que faça essa previsão. STF.
Plenário. ADI 5719, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Info 990 – clipping).

DIREITO À SAÚDE

É inconstitucional a Lei nº 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética ("pílula do


câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna mesmo sem que existam estudos
conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem que haja registro sanitário da
substância perante a ANVISA. Ante o postulado da separação de Poderes, o Congresso Nacional não pode
autorizar, atuando de forma abstrata e genérica, a distribuição de medicamento. Compete à ANVISA
permitir a distribuição de substâncias químicas, segundo protocolos cientificamente validados. O controle dos
medicamentos fornecidos à população leva em conta a imprescindibilidade de aparato técnico especializado,
supervisionado pelo Poder Executivo. O direito à saúde não será plenamente concretizado se o Estado
deixar de cumprir a obrigação de assegurar a qualidade de droga mediante rigoroso crivo científico, apto
a afastar desengano, charlatanismo e efeito prejudicial. STF. Plenário. ADI 5501/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 23/10/2020 (Info 996).

AUTONOMIA DOS ENTES

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Compete ao Ministro da Justiça determinar a ida da Força Nacional de Segurança Pública para atuar em
determinado Estado-membro ou Distrito Federal. Segundo a redação do art. 4º do Decreto nº 5.289/2004 a
determinação do emprego da Força Nacional pode ocorrer de duas formas:
1) mediante solicitação expressa do Governador formulada ao Ministro da Justiça;
2) mediante iniciativa do próprio Ministro da Justiça, mesmo sem solicitação do Governador.
Se o próprio Governador solicita o auxílio, não há qualquer problema ou questionamento.

No entanto, e se o Ministro da Justiça determina o envio da Força Nacional mesmo sem pedido do Governador?
Essa atuação seria constitucionalmente válida?
NÃO. Isso viola o princípio da autonomia estadual. Foi o que decidiu o STF, em juízo de delibação, ao apreciar
medida liminar em ação cível originária. Afirmou a Corte: É plausível a alegação de que a norma inscrita no art. 4º
do Decreto 5.289/2004, naquilo em que dispensa a anuência do governador de estado no emprego da Força
Nacional de Segurança Pública, viole o princípio da autonomia estadual. STF. Plenário. ACO 3427 Ref-MC/BA, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 24/9/2020 (Info 992)

INTERVENÇÃO

A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que são
previstas no art. 35 da Constituição Federal. As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da
CF/88 são taxativas. Caso concreto: STF julgou inconstitucional dispositivo da Constituição de Pernambuco que
previa que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios caso ali ocorressem atos de corrupção e
improbidade administrativa. STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020

Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos Tribunais de Contas a
competência para requerer ou decretar intervenção em Município. Essa previsão não encontra amparo nos arts.
34 e 36 da CF/88. STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

É constitucional norma local voltada a coibir fraude considerado o serviço público de transporte coletivo.
É inconstitucional norma local que condiciona a liberação de veículo aprendido ao pagamento de multas, preços
públicos e demais encargos decorrentes de infração.
STF. Plenário. RE 661702, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 546)

É constitucional lei distrital (ou lei municipal) que trate sobre fraude à prestação do serviço de transporte
coletivo de passageiros, de forma remunerada, sem prévia concessão, permissão ou autorização do Governo do
Distrito Federal. Isso porque essa lei se insere na competência prevista no art. 30, V, da CF/88.
Por outro lado, é inconstitucional norma local que estabelece que os veículos apreendidos somente poderão
ser liberados após o pagamento das multas, preços públicos e demais encargos devidos ao DETRAN.

Lei estadual não pode impor investimentos em preservação ambiental a concessionárias de energia.
A norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a promoção de investimentos, com
recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à preservação de mananciais
hídricos, é inconstitucional por configurar intervenção indevida do Estado no contrato de concessão da

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exploração do aproveitamento energético dos cursos de água, atividade de competência da União,
conforme art. 21, XII, b, da Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 827538, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão Luiz Fux, julgado em 11/05/2020
(Repercussão Geral - Tema 774)

CE não pode prever que o Governador (ou o Vice) precisará de autorização para se ausentar do país "em
qualquer tempo"; a autorização só pode ser exigida se o período afastamento for superior a 15 dias.
A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o governador e o vice-governador do Estado
ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território nacional mostra-se incompatível com os postulados da
simetria e da separação dos Poderes.
A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é da competência do Congresso Nacional
autorizar o Presidente e o Vice-presidente da República a se ausentarem do País quando a ausência for por
período superior a 15 dias.
Logo, afronta os princípios da separação dos Poderes e da simetria a norma da Constituição estadual que
exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o Governador e o Vice-governador se ausentem
do País por qualquer prazo.
Os Estados-membros não podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de outro que não derivem
explícita ou implicitamente de regra ou princípio previsto na Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5373, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24/08/2020.

É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias ou permissionárias façam o
corte do fornecimento de água, energia elétrica e dos serviços de telefonia, por falta de pagamento, em
determinados dias (ex: sextas-feiras, vésperas de feriados etc.).
STF. Plenário. ADI 3824/MS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 02/10/2020.

NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº 14.015/2020


Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é possível a interrupção do serviço
público em caso de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado.

Confira os dispositivos inseridos na Lei nº 13.460/2017:


Art. 5º O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, devendo os agentes públicos
e prestadores de serviços públicos observar as seguintes diretrizes:
(...)
XVI – comunicação prévia ao consumidor de que o serviço será desligado em virtude de inadimplemento, bem
como do dia a partir do qual será realizado o desligamento, necessariamente durante horário comercial.
Parágrafo único. A taxa de religação de serviços não será devida se houver descumprimento da exigência de
notificação prévia ao consumidor prevista no inciso XVI do caput deste artigo, o que ensejará a aplicação de
multa à concessionária, conforme regulamentação.

Art. 6º São direitos básicos do usuário:


(...)
VII – comunicação prévia da suspensão da prestação de serviço.
Parágrafo único. É vedada a suspensão da prestação de serviço em virtude de inadimplemento por parte do
usuário que se inicie na sexta-feira, no sábado ou no domingo, bem como em feriado ou no dia anterior a
feriado.

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O entendimento acima foi positivado em nível nacional. A Lei nº 14.015/2020 inseriu o § 4º ao art. 6º da Lei nº
8.987/95 com a seguinte redação:
Art. 6º (...)
§ 4º A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo não poderá iniciar-se na
sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou no dia anterior a feriado.

É constitucional lei estadual que disponha sobre o serviço público de loteria?


A exploração de loterias ostenta natureza jurídica de serviço público (art. 175, caput, da CF/88), dada a existência
de previsão legal expressa.
Os arts. 1º e 32 do Decreto-Lei 204/1967, ao estabelecerem a exclusividade da União sobre a prestação dos
serviços de loteria, não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988, pois colidem frontalmente com
o art. 25, § 1º, da CF/88, ao esvaziarem a competência constitucional subsidiária dos Estados-membros para a
prestação de serviços públicos que não foram expressamente reservados pelo texto constitucional à exploração
pela União (art. 21 da CF/88).
A competência privativa da União para legislar sobre sistemas de consórcios e sorteios (art. 22, XX, da CF/88) não
preclui a competência material dos Estados para explorar as atividades lotéricas nem a competência
regulamentar dessa exploração. Por esse motivo, a Súmula Vinculante 2 não trata da competência material
dos Estados de instituir loterias dentro das balizas federais, ainda que tal materialização tenha
expressão através de decretos ou leis estaduais, distritais ou municipais.
Por outro lado, as legislações estaduais instituidoras de loterias, seja via lei estadual ou por meio de decreto,
devem simplesmente viabilizar o exercício de sua competência material de instituição de serviço público
titularizado pelo Estado-membro, de modo que somente a União pode definir as modalidades de atividades
lotéricas passíveis de exploração pelos Estados.
STF. Plenário. ADI 3050, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020.

É inconstitucional lei estadual que institui cadastro estadual de usuários de drogas.


A Lei 3.528/2019, do Estado de Tocantins, instituiu o Cadastro Estadual de Usuários e Dependentes de Drogas.
Essa norma é formalmente inconstitucional, uma vez que, ao criar o Cadastro Estadual de Usuários e
Dependentes de Drogas, no âmbito da Secretaria Estadual de Segurança Pública, com informações relacionadas
com o registro de ocorrência policial, inclusive sobre reincidência, a lei invadiu competência privativa da União
para legislar sobre matéria penal e processual penal (art. 22, I, da CF/88).
Além disso, o exercício da competência concorrente em matéria de direito sanitário (art. 24, XII), no federalismo
cooperativo, deve maximizar direitos fundamentais e não pode ir de encontro à norma federal. No caso, nos
termos da Lei federal n.º 11.343/2006, a sistematização de informações é competência da União (art. 8º-A, XII).
Materialmente, também há inconstitucionalidade. A seletividade social do cadastro é incompatível com o
Estado de Direito e os direitos fundamentais que a Constituição de 1988 protege, especialmente, a
igualdade (art. 5º, caput ), a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), o direito à intimidade e à vida
privada (art. 5º, X) e o devido processo legal (art. 5º, LIV).
STF. Plenário. ADI 6561 MC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/10/2020.

É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviço público de fornecimento de
energia elétrica e água a notificarem, com aviso de recebimento, a realização de vistoria técnica em
medidor localizado nas residências de usuários, ante a competência concorrente dos Estados para legislar
sobre proteção aos consumidores.
STF. Plenário. ADI 4914, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/12/2020.

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É inconstitucional a legislação estadual que estabelece a redução obrigatória das mensalidades da rede
privada de ensino durante a vigência das medidas restritivas para o enfrentamento da emergência de
saúde pública decorrente do novo Coronavírus.
Essa lei viola a competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil (art. 22, I, da CF/88).
Ao estabelecer uma redução geral dos preços fixados nos contratos para os serviços educacionais, a leis alterou,
de forma geral e abstrata, o conteúdo dos negócios jurídicos, o que as caracteriza como norma de Direito Civil.
Os efeitos da pandemia sobre os negócios jurídicos privados, inclusive decorrentes de relações de consumo,
foram tratados pela Lei federal nº 14.010/2020. Ao estabelecer o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das
relações jurídicas de Direito Privado (RJET) para o período, a norma reduziu o espaço de competência
complementar dos estados para legislar e não contém previsão geral de modificação dos contratos de prestação
de serviços educacionais.
STF. ADI 6575, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).

É formalmente inconstitucional lei estadual que concede descontos aos idosos para aquisição de
medicamentos em farmácias localizadas no respectivo estado.
STF. Plenário. ADI 2435/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
18/12/2020 (Info 1003).

É inconstitucional lei estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino Fundamental diferente
do estabelecido pelo legislador federal e regulamentado pelo Ministério da Educação.
STF. Plenário. ADI 6312, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).

A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para enfrentamento da emergência
de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. A MP 926/2020 alterou o caput e o
inciso VI do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020. Foi ajuizada
uma ADI contra esta MP. O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu:
• confirmar a medida acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar explícita, no campo
pedagógico e na dicção do Supremo, a competência concorrente.” Em outras palavras, as providências
adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por Estado, o Distrito Federal e
Município considerada a competência concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.”
• dar interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de explicitar que o
Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades
essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a atribuição de cada esfera de governo, nos termos
do inciso I do art. 198 da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 15/4/2020 (Info 973).

É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas
e nos estádios. Trata-se de legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art. 24, V, da
CF/88). O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica como “condições de acesso e
permanência do torcedor no recinto esportivo”, entre outras, “não portar objetos, bebidas ou substâncias
proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”. Não há, contudo, uma vedação
geral e absoluta por parte do Estatuto do Torcedor, de modo que o legislador estadual, no exercício de sua
competência concorrente complementar, observadas as especificidades locais, pode regulamentar a matéria,
autorizando, por exemplo, a venda de cerveja e chope (bebidas de baixo teor alcoólico) nos estádios. Vale
lembrar que isso já é autorizado nos grandes eventos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na Copa
do mundo organizada pela FIFA e nas Olimpíadas. STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 27/03/2020

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Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem de
documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Esse tema envolve registros públicos e
responsabilidade civil dos notários e registros, matéria que é de competência privativa da União, nos termos do
art. 22, XXV, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é
matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma
natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde
que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou
atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei
estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas
mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de
seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info
975).

A Lei nº 13.979/2020 previu, em seu art. 3º, um rol exemplificativo de oito medidas que podem ser adotadas pelo
poder público para o combate ao coronavírus. O art. 3º, VI, “b”, e os §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020
estabeleceram que os Estados e Municípios somente poderia adotar algumas medidas se houvesse autorização
da União. O STF, ao apreciar ADI contra a Lei, decidiu:
a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº
13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios da necessidade de autorização ou de observância ao ente
federal; e b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no sentido de que as medidas neles
previstas devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a
locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre
respeitadas as definições no âmbito da competência constitucional de cada ente federativo. Assim, os
Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem autorização da União, adotar medidas como isolamento,
quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver e restrição à locomoção interestadual e
intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos. Vale ressaltar que Estados e Municípios não podem fechar
fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais. A adoção de medidas restritivas relativas à
locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deve estar embasada em recomendação técnica
fundamentada de órgãos da vigilância sanitária e tem de preservar o transporte de produtos e serviços
essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade federativa competente. STF. Plenário. ADI 6343
MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).

Padece de inconstitucionalidade formal lei de iniciativa parlamentar que disponha sobre atribuições de órgãos
da Administração Pública (art. 61, § 1º, II, "e" e art. 84, VI, da Constituição Federal). STF. Plenário. ADI 3981, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

É inconstitucional lei estadual que afasta as exigências de revalidação de diploma obtido em instituições
de ensino superior de outros países para a concessão de benefícios e progressões a servidores públicos.
Essa lei invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art.
22, XXIV, CF/88). STF. Plenário. ADI 6073, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/03/2020.

É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de ensino superior privada são obrigadas a
devolver o valor da taxa de matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, caso o aluno, antes do início

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das aulas, desista do curso ou solicite transferência. STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado em
16/06/2020 (Info 985 – clipping).

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja que os serviços públicos de


saneamento e de abastecimento de água serão prestados por pessoas jurídicas de direito público ou por
sociedade de economia mista sob controle acionário e administrativo, do Poder Público Estadual ou
Municipal. Compete aos Municípios a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico. Assim, a
eles cabe escolher a forma da prestação desses serviços, se diretamente ou por delegação à iniciativa privada
mediante prévia licitação. Isso é garantido pelo art. 30, I e IV, da CF/88. Além disso, essa previsão da Constituição
Estadual também viola o art. 175 da Constituição Federal, que atribui ao poder público a escolha da prestação de
serviços públicos de forma direta ou sob regime de concessão ou permissão mediante prévia licitação. STF.
Plenário. ADI 4454, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 988 – clipping).

O art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020 autoriza que os gestores locais de saúde (secretarias
estaduais e municipais, p. ex.), mesmo sem autorização do Ministério da Saúde, façam a requisição de bens e
serviços. O STF afirmou que esses dispositivos são constitucionais. Não se exige autorização do Ministério da
Saúde para que os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios decretem a requisição administrativa
prevista no art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020, no exercício de suas competências
constitucionais. STF. Plenário. ADI 6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989).

A segurança pública é de competência comum dos Estados-membros (art. 144 da CF/88), sendo também sua
competência remanescente a prerrogativa de legislar sobre transporte intermunicipal (art. 25, § 1º). A concessão
de dois assentos a policiais militares devidamente fardados nos transportes coletivos intermunicipais vai
ao encontro da melhoria das condições de segurança pública nesse meio de locomoção, em benefício de
toda a Sociedade, questão flagrantemente de competência dos Estados-membros (art. 144 da CF/88) e
afasta qualquer alegação de desrespeito ao princípio da igualdade, uma vez que o discrímen adotado é
legítimo e razoável, pois destinado àqueles que exercem atividade de polícia ostensiva e visam à
preservação da ordem pública. Essa lei estadual não representa indevida interferência no contrato de
concessão firmado com a concessionária, uma vez que não há alteração na equação do equilíbrio
financeiro-econômico do contrato administrativo. STF. Plenário. ADI 1052, Rel. Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão:
Alexandre de Moraes, julgado em 24/08/2020 (Info 991).

É constitucional lei estadual que proíba, no âmbito estadual, a inserção de cláusulas que exijam a
fidelização nos contratos prestação de serviços. A fidelização contratual consiste em contrapartida exigida do
consumidor, em razão de benefícios oferecidos pela prestadora na formação do contrato de prestação de
serviços, todavia, não se confunde com esse. A cláusula de fidelidade contratual é autônoma e agregativa ao
contrato de prestação de serviço, inserindo-se no espaço comercial das prestadoras, e não no campo regulatório
das atividades de caráter público. O objeto da norma estadual impugnada em nada interfere no regime de
exploração ou na estrutura remuneratória da prestação do serviço. Essa lei busca apenas a proteção do
consumidor, ainda que realizada paralelamente a contrato de prestação de serviço. STF. Plenário. ADI 5963, Rel.
Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Info 992 – clipping)

A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos
entes estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração. Os arts. 1º e 32, caput
e § 1º, do Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF
492/RJ, ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020 (Info 993).

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É inconstitucional Lei estadual que, a pretexto de proteger a saúde da população, estabelece limites de
radiação para a instalação de antenas transmissoras de telefonia celular. Essa lei adentra na esfera de
competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. A União, no exercício de suas
competências (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88), editou a Lei nº 9.472/97, que, de forma nítida, atribui à ANATEL a
definição de limites para a tolerância da radiação emitida por antenas transmissoras. A União, por meio da Lei nº
11.934/2009, fixou limites proporcionalmente adequados à exposição humana a campos elétricos, magnéticos e
eletromagnéticos. Dessa forma, a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos de interesse
comum e concorrente, legislarem sobre seus respectivos interesses (presumption against preemption) foi
nitidamente afastada por norma federal expressa (clear statement rule)
É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre a implantação de instalações industriais destinadas à
produção de energia nuclear no âmbito espacial do território estadual. STF. Plenário. ADI 330/RS, Rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

É constitucional norma estadual que dispõe sobre a obrigatoriedade de rotulagem em produtos de


gêneros alimentícios destinados ao consumo humano e animal, que sejam constituídos ou produzidos a
partir de organismos geneticamente modificados, no percentual igual ou superior a 1%, no âmbito do Estado
federado. É o caso, por exemplo, da Lei nº 14.274/2010, do Estado de São Paulo. STF. Plenário. ADI 4619/SP, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 9/10/2020 (Info 994)

São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com
órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência
privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). STF. Plenário. ADI
5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997)

É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em


estabelecimentos comerciais. STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info
997).

É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre a
responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos
políticos. STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997)

É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa parlamentar que prevê a criação de órgão público e
organização administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do Executivo – arts. 25 e 61, §
1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88. STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info
998)

Os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras de


postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas. STF.
Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
13/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 491) (Info 999).

É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e fixa
disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços
utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”. Trata-se de norma sobre direito do consumidor que
admite regulamentação concorrente pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição
Federal. STF. Plenário. ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

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É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento de
obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos consignados. Ao interferir nas
relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito e os tomadores de empréstimos, a lei adentrou em
matéria relacionada com direito civil e com política de crédito, assuntos que são de competência legislativa
privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88. STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)

É inconstitucional lei estadual que determina a suspensão temporária da cobrança das consignações
voluntárias contratadas por servidores públicos estaduais. STF. Plenário. ADI 6484, Rel. Roberto Barroso,
julgado em 05/10/2020

PODER LEGISLATIVO

Não é possível a recondução dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para o
mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente, dentro da mesma legislatura.
Por outro lado, é possível a reeleição dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal em caso
de nova legislatura.
Ex: o mandato de Presidente da Câmara e de Presidente do Senado é de 2 anos. Cada legislatura tem a duração
de 4 anos. Imagine que João foi eleito Deputado Federal para a legislatura de 2013 a 2016. Suponhamos que ele
foi escolhido para ser Presidente da Câmara no período de 2013-2014. Significa que João não poderá ser reeleito
como Presidente da Câmara para o biênio de 2015-2016. Isso porque seria uma reeleição dentro da mesma
legislatura.
Ex2: Pedro foi eleito Deputado Federal para a legislatura de 2013 a 2016. Suponhamos que ele foi escolhido para
ser Presidente da Câmara no período de 2015-2016. Em 2016, ele foi reeleito Deputado Federal para a
legislatura de 2017 a 2020. Significa que Pedro poderá ser novamente Presidente da Câmara para no biênio de
2017-2018. Isso porque seria uma reeleição para nova legislatura.
O fundamento para isso está no art. 57, § 4º da CF/88:
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da
legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos,
vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.
Foi proposta uma ADI com o objetivo de dar interpretação conforme e dizer que esse dispositivo foi derrogado
pela Emenda Constitucional nº 16/97, que permitiu uma reeleição para os cargos do Poder Executivo. O STF,
contudo, não concordou com a alegação e manteve a literalidade do art. 57, § 4º.
STF. Plenário. ADI 6524, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2020.

É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja a possibilidade de a Assembleia


Legislativa convocar o Presidente do Tribunal de Justiça ou o Procurador-Geral de Justiça para prestar
informações na Casa, afirmando que a sua ausência configura crime de responsabilidade. O art. 50 da
CF/88, norma de reprodução obrigatória, somente autoriza que o Poder Legislativo convoque autoridades do
Poder Executivo, e não do Poder Judiciário ou do Ministério Público. Não podem os Estados-membros ampliar o
rol de autoridades sujeitas à convocação pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade, por
violação ao princípio da simetria e à competência privativa da União para legislar sobre o tema. STF. Plenário.
ADI 2911, Rel. Carlos Britto, julgado em 10/08/2006. STF. Plenário. ADI 5416, Rel. Gilmar Mendes, julgado em
03/04/2020 (Info 977).

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IMUNIDADE PARLAMENTAR

O então Deputado Federal Wladimir Costa (SD-PA) proferiu discurso no Plenário da Câmara dos Deputados no
qual afirmou que determinados artistas seriam “bandidos”, “membros de quadrilha”, “verdadeiros ladrões”,
“verdadeiros vagabundos da Lei Rouanet”. Esses artistas ingressaram com queixa-crime contra o então
Deputado afirmando que ele teria cometido os crimes de difamação (art. 139) e injúria (art. 140 do Código
Penal). O STF recebeu esta queixa-crime. O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em
que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de cometimento de crimes contra a honra, porque
ele depois divulgou essas ofensas na Internet. Outro argumento está no fato de que a inviolabilidade material
somente abarca as declarações que apresentem nexo direto e evidente com o exercício das funções
parlamentares. No caso concreto, embora tenha feito alusão à Lei Rouanet, o parlamentar nada acrescentou ao
debate público sobre a melhor forma de distribuição dos recursos destinados à cultura, limitando-se a proferir
palavras ofensivas à dignidade dos querelantes. A liberdade de expressão política dos parlamentares, ainda que
vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade. STF. 1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes,
red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/3/2020 (Info 969).

PROCESSO LEGISLATIVO

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trate sobre isenção de custas judiciais.
Isso porque, os órgãos superiores do Poder Judiciário possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para
apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre redução das custas judiciais (artigos 98, § 2º,
e 99, caput e § 1º da CF).
STF. Plenário. ADI 3629, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/03/2020.

É possível o Chefe do Poder Executivo promulgar a parte incontroversa de projeto de lei que não foi
vetada.
É constitucional a promulgação, pelo Chefe do Poder Executivo, de parte incontroversa de projeto da lei que não
foi vetada, antes da manifestação do Poder Legislativo pela manutenção ou pela rejeição do veto, inexistindo
vício de inconstitucionalidade dessa parte inicialmente publicada pela ausência de promulgação da derrubada
dos vetos.
STF. Plenário. ARE RE 706103, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 595).

Surge constitucional lei de iniciativa parlamentar a criar conselho de representantes da sociedade civil,
integrante da estrutura do Poder Legislativo, com atribuição de acompanhar ações do Executivo. STF.
Plenário. RE 626946/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 1040) (Info
994).

MEDIDAS PROVISÓRIAS

Inexistindo comprovação da ausência de urgência, não há espaço para atuação do Poder Judiciário no
controle dos requisitos de edição de medida provisória pelo chefe do Poder Executivo. STF. Plenário. ADI
5599/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/10/2020 (Info 996)

TRIBUNAIS DE CONTAS

A competência técnica do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal, não se
subordina à revisão pelo Poder Legislativo respectivo.

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No complexo feixe de atribuições fixadas ao controle externo, a competência desempenhada pelo Tribunal de
Contas não é, necessariamente, a de mero auxiliar do poder legislativo. A Constituição Federal lhes atribui
competência para fiscalizar atos do próprio poder legislativo.
A Câmara Municipal não detém competência para rever o ato do Tribunal de Contas do Estado que nega o
registro de admissão de pessoal.
A competência técnica do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal, não se
subordina à revisão pelo Poder Legislativo respectivo.
Se fosse aceito que os Municípios, por meio de suas Câmaras Municipais, pudessem simplesmente rejeitar a
decisão do Tribunal de Contas, isso acabaria por subordinar a competência técnica das cortes de
contas ao poder legislativo que é também por elas fiscalizado.
STF. Plenário. RE 576920, Rel. Edson Fachin, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 47).

É constitucional norma do Estado a fixar prazo para que o Tribunal de Contas atue nos processos
administrativos a ele submetidos.
STF. Plenário. ADI 5259, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/12/2020.

É inconstitucional emenda à Constituição estadual que retira competência do Tribunal de Contas do


Estado para apreciar contas dos demais Poderes e órgãos autônomos.
Isso não impede que o Poder Legislativo possa fiscalizar as contas dos órgãos que o auxiliam. Em outras
palavras, isso não impede de o Poder Legislativo fiscalizar o Tribunal de Contas.
STF. Plenário. ADI 4978, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 07/12/2020.

A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra:


Art. 151. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo será composto por cinco Conselheiros e obedecerá, no
que couber, aos princípios da Constituição Federal e desta Constituição.
Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Município de São Paulo as normas
pertinentes aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.
Para o STF, essa previsão não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria. Se a
Constituição Federal prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para composição dos tribunais
de contas dos estados, é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número inferior de
conselheiros. Desse modo, não se vislumbra nenhuma ofensa ao princípio da simetria. Vale ressaltar que essa
norma da Constituição Estadual não equipara os vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas do
Município aos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. A fixação da remuneração dos conselheiros
cabe ao Município (mesmo que em valor diverso do fixado para os conselheiros estaduais). STF. Plenário. ADI
346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/6/2020 (Info 980).

É inconstitucional lei estadual, de origem (iniciativa) parlamentar, que discipline a organização e o


funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE). Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de
iniciativa (competência privativa) para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua
organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88)
Os Tribunais de Contas, conforme reconhecido pela CF/88 e pelo STF, gozam das prerrogativas da autonomia e
do autogoverno, o que inclui, essencialmente, a iniciativa privativa para instaurar processo legislativo que
pretenda alterar sua organização e funcionamento. STF. Plenário. ADI 4191, Rel. Roberto Barroso, julgado em
22/05/2020 (Info 986 – clipping).

O TCU, por força do art. 71, VI, da CF/88, tem competência para fiscalizar o uso dos recursos federais
repassados a outros entes federados, como no caso de verbas federais repassadas ao Distrito Federal.

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Vale ressaltar, contudo, que, diante da autonomia própria dos entes federados, a fiscalização, pelo TCU, dos
recursos federais repassados ao Distrito Federal não impede que o TCDF também faça a fiscalização da
aplicação desses mesmos recursos, até porque ele tem pleno e legítimo interesse na regular prestação dos
serviços de saúde no seu território. Assim, por força dos arts. 71 e 75 da Constituição Federal e do art. 78 da Lei
Orgânica do Distrito Federal, o Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para fiscalizar a aplicação
de recursos federais repassados ao Distrito Federal. STJ. 1ª Turma. RMS 61.997-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 16/06/2020 (Info 674)

PODER JUDICIÁRIO

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor exonerado não possui o direito de
reingresso no cargo. Isso porque o atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em concurso
público como condição para o provimento em cargo efetivo da Administração Pública. O STF já declarou a
inconstitucionalidade de lei estadual que previa a possibilidade de o magistrado exonerado reingressar
nos quadros da magistratura: ADI 2983, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 23/02/2005. O CNJ também já
expediu orientação normativa vinculante afirmando que não são possíveis formas de provimentos dos cargos
relacionados à carreira da Magistratura que não estejam explicitamente previstas na Constituição Federal nem
na LOMAN. Assim, o magistrado que pediu exoneração não tem direito de readmissão no cargo mesmo que
essa possibilidade esteja prevista em lei estadual. STJ. 2ª Turma. RMS 61.880-MT, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 03/03/2020 (Info 666)

Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro da Comarca de Sete Quedas que restringiu o
ingresso de pessoas portando arma de fogo nas dependências do Fórum. STJ. 1ª Turma. RMS 38.090-MS, Rel.
Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

A promoção na magistratura por antiguidade precede a mediante remoção. STF. Plenário. RE 1037926, Rel.
Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 964) (Info 994).

O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos possíveis candidatos aos órgãos de
cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão especial, é inconstitucional porque desrespeitou a autonomia
administrativa dos tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN (LC 35/79)
não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível com a Constituição Federal a regra
segundo a qual apenas os Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos tribunais.
Essa matéria, em razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser remetida à
disciplina regimental de cada tribunal. STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS 32451/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgados em 25/6/2020 (Info 983).

É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os serviços
de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

Não é possível o estabelecimento de subteto remuneratório para a magistratura estadual inferior ao


teto remuneratório da magistratura federal. A correta interpretação do art. 37, XI e § 12, da Constituição
Federal exclui a submissão dos membros da magistratura estadual ao subteto de remuneração. STF.
Plenário.ADI 3854/DF e ADI 4014/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 4/12/2020 (Info 1001)

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A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da magistratura
viola o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5329/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
rel. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/12/2020 (Info 1002)

CNJ

O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais
desde que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B,
§ 4º, V, da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o
procedimento. A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para
propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício.
As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê
que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei. Se o Tribunal aplica a pena de censura
para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao
texto expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se a
infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
17/3/2020 (Info 970)

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar,
originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º,
da CF/88. STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). STF.
Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). STF. Plenário.
ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte: Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante,
sob as cominações do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando
impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal.
O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído
constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional. Assim, o CNJ pode
determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que impugnadas perante
a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária do STF. STF.
Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

É possível a intervenção de amicus curiae em processos subjetivos?


SIM, no entanto, de forma excepcional.
O ingresso de amicus curiae é previsto para as ações de natureza objetiva, sendo excepcional a admissão no
processo subjetivo quando a multiplicidade de demandas similares indicar a generalização do julgado a ser
proferido.
STJ. 2ª Turma. AgInt na PET no REsp 1700197/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/06/2018.

É imprescindível a demonstração, pela entidade pretendente a colaborar com a Corte, de que não está a
defender interesse privado, mas, isto sim, relevante interesse público

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Isso porque, não se trata de uma intervenção de terceiros, e sim de um ato de admissão informal de um
colaborador da corte.
STJ. 4ª Turma. EDcl no REsp 1733013/PR, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 29/06/2020.

Cabe ADPF contra súmula.


É viável Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental em face de enunciado de Súmula de
Jurisprudência predominante editada pelo Tribunal Superior do Trabalho.
STF. Plenário ADPF 501-AgR, Rel. para acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/09/2020.

É possível aplicar a teoria do desvio de poder no plano das atividades legislativas a fim de declarar
inconstitucional lei imoderada e arbitraria.
A teoria do desvio de poder, quando aplicada ao plano das atividades legislativas, permite que se contenham
eventuais excessos decorrentes do exercício imoderado e arbitrário da competência institucional outorgada ao
Poder Público, pois o Estado não pode, no desempenho de suas atribuições, dar causa à instauração de
situações normativas que comprometam e afetem os fins que regem a prática da função de legislar.
Assim, dentro da perspectiva da extensão da teoria do desvio de poder ao plano das atividades legislativas,
deve-se reconhecer que o Estado não dispõe de competência para legislar ilimitadamente, de forma imoderada
e irresponsável, gerando, com o seu comportamento institucional, situações normativas de absoluta distorção e,
até mesmo, de subversão dos fins que regem o desempenho da função estatal.
STF. Plenário. ADI 2667, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 05/10/2020.

É cabível ação direta de inconstitucionalidade contra deliberação administrativa do Tribunal que determina o
pagamento de reajuste decorrente da conversão da URV em reais (“plano real”) aos magistrados e servidores.
Depois que a ADI foi proposta, e antes que fosse julgada, o TRT decidiu revogar essa deliberação administrativa.
Diante disso, indaga-se: o mérito da ação foi julgado? NÃO. Em decorrência da revogação da deliberação, o STF
julgou prejudicada a ADI, por perda superveniente de objeto. STF. Plenário. ADI 1244 QO-QO/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 19/12/2019 (Info 964).

Exige-se quórum de MAIORIA ABSOLUTA dos membros do STF para modular os efeitos de decisão proferida
em julgamento de recurso extraordinário repetitivo, com repercussão geral, no caso em que NÃO tenha
havido declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo.

Qual é o quórum para que o STF, no julgamento de recurso extraordinário repetitivo, com repercussão geral
reconhecida, faça a modulação dos efeitos da decisão?
• Se o STF declarou a lei ou ato inconstitucional: 2/3 dos membros.
• Se o STF não declarou a lei ou ato inconstitucional: maioria absoluta.
STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/12/2019 (Info 964)

Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a
interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade. STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel.
orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/2/2020 (Info 965).
Novo julgado sobre o tema: "desde que o legitimado tenha outorgado poderes" (tal requisito não havia sido
exigido pela 2ª Turma do STF - RE 1126828 AgR/SP).
Procurador público possui capacidade postulatória para interpor recurso extraordinário em ação de controle
concentrado de constitucionalidade, desde que o legitimado tenha outorgado poderes.
STF. Plenário. RE 1068600 AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980).

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Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar. O amicus curiae não tem legitimidade para
propor ação direta; logo, também não possui legitimidade para pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que
foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem legitimidade para, no curso do processo, formular
pedido para a concessão de medida cautelar. STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info 970)

Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios,
determinar medidas para proteger os presos do Covid-19. A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na
ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional no sistema prisional, determina medidas para proteger
os presos do Covid19 amplia indevidamente o objeto da ação. É certo que no controle abstrato de
constitucionalidade, a causa de pedir é aberta. No entanto, o pedido é específico. Nenhum dos pedidos da ADPF
347 está relacionado com as questões inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios. Não é possível,
portanto, a ampliação do pedido cautelar já apreciado anteriormente. A Corte está limitada ao pedido.
Aceitar a sua ampliação equivale a agir de ofício, sem observar a legitimidade constitucional para
propositura da ação. Ademais, em que pese a preocupação de todos em relação ao Covid-19 nas
penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de execução, determina, fora do objeto da ADPF, a
realização de megaoperação para analisar detalhadamente, em um único momento, todas essas possibilidades
e não caso a caso, como recomenda o Conselho Nacional de Justiça. O STF entendeu que, neste momento, o
Poder Judiciário deve seguir as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho Nacional de Justiça CNJ e
por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Para evitar a disseminação do novo coronavírus nas
prisões, o CNJ recomendou a análise de situações de risco caso a caso.

A Recomendação 62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e aos magistrados quanto à adoção de medidas
preventivas contra a propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo. STF.
Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
18/3/2020 (Info 970).

O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração com
poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação.
Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o
ato contra o qual se insurge. Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida. Vale ressaltar,
contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua regularização antes que seja
reconhecida a carência da ação. STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.

Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios possui
natureza normativa e abstrata, desafiando o controle concentrado. STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra
acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em
que o legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. STF. Plenário. RE 1068600
AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980)

O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos
dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação:
a) dispense a requisição de novas informações e manifestações; e
b) não prejudique o cerne da ação.

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Assim, por exemplo, se o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de
novos dispositivos legais que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso
exigiria que novos pedidos de informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas
manifestações da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da República, o que violaria os princípios da
economia e da celeridade processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação direta,
na medida em que ampliaria o seu escopo. STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020
(Info 980 – clipping).

Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de constrição judicial em desfavor
do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação UDEs e
que recaiam sobre verbas destinadas à educação. STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
4/6/2020 (Info 980).

É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae. É possível a impugnação
recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na qualidade de amicus curiae. STF. Plenário.
ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).

Vale ressaltar que existem decisões em sentido contrário e que o tema não está pacificado. Nesse sentido:
Tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível
(STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018.
Info 920).

A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da Corte em ação
direta. STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).

A CF/88 e a lei preveem que a “entidade de classe de âmbito nacional” possui legitimidade para propor ADI, ADC
e ADPF. A jurisprudência do STF, contudo, afirma que apenas as entidades de classe com associados ou
membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação
de controle abstrato de constitucionalidade. Assim, não basta que a entidade declare no seu estatuto ou ato
constitutivo que possui caráter nacional. É necessário que existam associados ou membros em pelo menos 9
(nove) Estados da Federação. Isso representa 1/3 dos Estados-membros/DF. Trata-se de um critério objetivo
construído pelo STF com base na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da Lei nº
9.096/95). STF. Plenário. ADI 3287, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ricardo Lewandowski, julgado em
05/08/2020 (Info 988 – clipping)

Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos de ações de controle concentrado,
exceto se o próprio ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não participação. STF. Plenário. ADI
6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989)

A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui legitimidade ativa
para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade. Por esse motivo, a Federação
Nacional do Fisco Estadual e Distrital - FENAFISCO não tem legitimidade para a propositura de ADI na medida em
que constitui entidade representativa de apenas parte de categoria profissional, já que não abrange os auditores
fiscais federais e municipais. STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
19/10/2020 (Info 995)

Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte


reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido

23
processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade
administrativa e fragilizam a democracia representativa. Caso concreto: ADEPOL ajuizou ADI pedindo a
declaração de inconstitucionalidade formal da EC 41/2003 e da EC 47/2005 sob o argumento de que elas foram
aprovadas com votos “comprados” de Deputados Federais condenados no esquema do “Mensalão” (AP 470). O
STF afirmou que, sob o aspecto formal, as emendas constitucionais devem respeitar o devido processo
legislativo, que inclui, entre outros requisitos, a observância dos princípios da moralidade e da probidade. Assim,
é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo de reforma constituinte quando
houver vício de manifestação de vontade do parlamentar, pela prática de ilícitos. Porém, para tanto, é necessária
a demonstração inequívoca de que, sem os votos viciados pela ilicitude, o resultado teria sido outro. No caso,
apenas sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470, por ficar comprovado que eles
participaram do esquema de compra e venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão. Portanto, o
número comprovado de “votos comprados” não é suficiente para comprometer as votações das ECs 41/2003 e
47/2005. Ainda que retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum estabelecido na
Constituição Federal para aprovação de emendas constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso
Nacional. STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020
(Info 998).

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO

O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do
preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula
Vinculante.
Caso concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação,
permitiu que uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às
regras do Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade do
Decreto, a 4ª Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170,
IV, da CF/88. Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da
livre iniciativa, o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido feito
respeitando-se a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

ADVOCACIA PÚBLICA

As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de autonomia
funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a criação
de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição
Federal. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020

A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do
Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (arts. 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo
único) não pode ser estendida aos procuradores de estado. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em
15/04/2020.

24
Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública
não podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado
– sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos
membros daquelas outras instituições. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

A Procuradoria-Geral do Estado é o órgão constitucional e permanente ao qual se confiou o exercício da


advocacia (representação judicial e consultoria jurídica) do Estado-membro (art. 132 da CF/88). A parcialidade é
inerente às suas funções, sendo, por isso, inadequado cogitar-se independência funcional, nos moldes da
Magistratura, do Ministério Público ou da Defensoria Pública (art. 95, II; art. 128, § 5º, I, b; e art. 134, § 1º, da
CF/88). STF. Plenário. ADI 1246, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/04/2019.

É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico Superior do DETRAN)
será responsável por:
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da autarquia”.
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas
funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil OAB”. Tais
previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”,
insculpido no art. 132 da CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao cargo de Técnico
Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de advogado. Ao assim agir,
conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da
Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88. O STF decidiu modular os efeitos da
decisão para:
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às procuradorias;
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do julgamento, com base na
teoria do funcionário de fato.
ATENÇÃO. Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no âmbito interno da
autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e soluções de
otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre
questões jurídicas que envolvam as atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas
atribuições podem sim ser exercidas* pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio da
unicidade da representação judicial. O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica
da autarquia para a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas
atividades inviabilizadas. STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/12/2018 (Info 927).

No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração opostos neste processo e fez os seguintes acréscimos:
• também são inconstitucionais os dispositivos da lei que preveem que o Técnico Superior do DETRAN possa
“apresentar recursos em qualquer instância”, “comparecer às audiências e outros atos para defender os direitos
do órgão” e “promover medidas administrativas e judiciais para proteção dos bens e patrimônio do DETRAN-ES”;
• a declaração de inconstitucionalidade parcial do ato normativo abrange as atribuições jurídicas consultivas do
cargo de Técnico Superior que sejam privativas de Procurador do Estado. Assim, as atribuições de “elaborar
estudos de pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais,
contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela autarquia, com a emissão de parecer” devem ser
exercidas sob supervisão de Procurador do Estado do Espírito Santo. * Com base no que foi completado no
julgamento dos embargos, conclui-se que as atribuições jurídicas consultivas dos ocupantes do cargo de Técnico
Superior devem ser obrigatoriamente exercidas sob a supervisão de Procurador do Estado, por ser esta a

25
interpretação que melhor prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência do STF. STF. Plenário. ADI 5109
ED-segundos/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980).

A percepção de honorários de sucumbência pelos advogados públicos não representa ofensa à


determinação constitucional de remuneração exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 135 da CF/88).

O art. 39, § 4º, da Constituição Federal, não constitui vedação absoluta de pagamento de outras verbas além do
subsídio. Os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais, mas, como eles recebem os
valores em função do exercício do cargo, esse recebimento precisa se sujeitar ao regime jurídico de
direito público. Por essa razão, mesmo sendo compatível com o regime de subsídio, sobretudo quando
estruturado como um modelo de remuneração por performance, com vistas à eficiência do serviço público, a
possibilidade de advogados públicos perceberem verbas honorárias sucumbenciais não afasta a incidência
do teto remuneratório estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6053, Rel.
Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 22/06/2020 (Info 985 – clipping).

O entendimento acima vale tanto para os advogados públicos federais como também para os Procuradores do
Estado, do DF e do Município. Nesse sentido: É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais
aos advogados públicos, observando-se, porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da
Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.

Para que o Procurador do Estado possa propor ação civil pública (ex: ação civil pública de improbidade
administrativa), não é necessária autorização do Governador do Estado. No entanto, é indispensável a
anuência do Procurador-Geral do Estado. STF. 1ª Turma. ARE 1165456 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).

É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se,


porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.

É constitucional a percepção de honorários de sucumbência por procuradores de estados-membros,


observado o teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal no somatório total às demais verbas
remuneratórias recebidas mensalmente. STF. Plenário. ADI 6135/GO, ADI 6160/AP, ADI 6161/AC, ADI 6169/MS,
ADI 6177/PR e ADI 6182/RO, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 19/10/2020 (Info 995).

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para
Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa
de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,
ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
20/11/2020 (Info 1000)

DEFENSORIA PÚBLICA

É inviável o acolhimento do requerimento formulado pela DPU para assistir parte em processo que
tramita no STJ nas hipóteses em que a Defensoria Pública Estadual atuante possui representação em
Brasília ou aderiu ao portal de intimações eletrônicas. O STJ indeferiu pedido da DPU para, em substituição à
Defensoria Pública de Alagoas, atuar em recurso especial sob o argumento de que a Defensoria Estadual não

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possui representação em Brasília. Isso porque, embora a DPE/AL não possua espaço físico em Brasília, ela aderiu
ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ e, portanto, pode atuar normalmente no processo a partir de sua
sede local.
A DPU só pode atuar nos processos das Defensorias Públicas estaduais se a respectiva Defensoria Pública
estadual:
• não tiver representação em Brasília; e
• não tiver aderido ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ. STJ. 5ª Turma. PET no AREsp 1.513.956-AL, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/12/2019 (Info 664)

As Constituições estaduais não podem ampliar a excepcionalidade admitida pelo art. 22 do ADCT da
CF/88. O art. 15 do ADCT da CE/SE ampliou o limite temporal de excepcionalidade previsto pelo art. 22 do ADCT
da CF/88 e, por essa razão, feriu a regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição Federal). O art. 22 do
ADCT criou, de modo excepcional, uma forma derivada de investidura em cargo público. Trata-se de uma
exceção à regra geral do concurso público e, portanto, não pode ser ampliada pelo constituinte estadual.
STF. Plenário. ADI 5011, Rel. Edson Fachin, julgado em 08/06/2020 (Info 984)

Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88. O
Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada
mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública estadual pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro, inclusive quanto às parcelas já vencidas, assim
também em relação a eventuais créditos adicionais destinados à instituição. STF. Plenário. ADPF 384 Ref-MC/MG,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2020 (Info 985).

É dever constitucional do Poder Executivo o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada
mês (art. 168 da CRFB/88), da integralidade dos recursos orçamentários destinados a outros Poderes e
órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público e a Defensoria Pública, conforme previsão da
respectiva Lei Orçamentária Anual. STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info
826).

Havendo convênio entre a Defensoria e a OAB possibilitando a atuação dos causídicos quando não
houver defensor público para a causa, os honorários podem ser executados nos próprios autos, mesmo
se o Estado não tiver participado da ação de conhecimento. Caso concreto: advogado atuou como defensor
dativo em ação de alimentos. Esse advogado atuou porque na localidade não há Defensoria Pública e existe um
convênio com a OAB para que esse serviço seja realizado por advogados que receberão honorários pagos pelo
Estado. Na sentença, o magistrado arbitrou a verba honorária conforme disposto na tabela do convênio. Porém,
o Estado pagou só uma parte. Neste caso, o STJ afirmou que o advogado poderá executar (cobrar) os honorários
do Estado, nos próprios autos, mesmo o Estado não tendo participado da ação de conhecimento. Se for exigido
que os advogados promovam uma ação específica contra a Fazenda Pública para poderem receber seus
honorários, isso fará com que eles sejam muito resistentes em aceitar a função de advogado dativo,
porque terão de trabalhar não só na ação para a qual foram designados, mas também em outra ação que
terão de propor contra a Fazenda Pública. O fato de o Estado não ter participado da lide na ação de
conhecimento não impede que ele seja intimado a pagar os honorários, que são de sua responsabilidade
em razão de convênio celebrado entre a Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil, em
cumprimento de sentença. STJ. Corte Especial. EREsp 1.698.526-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 05/02/2020 (Info 673).

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É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para
Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa
de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,
ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
20/11/2020 (Info 1000)

MINISTÉRIO PÚBLICO

Se o membro do MP ingressou na instituição após a CF/88, ele não pode exercer atividade político
partidária mesmo que o ingresso tenha ocorrido antes da EC 45/2004.
Não há possibilidade de filiação político-partidária, de exercício de cargo eletivo e de função no âmbito do Poder
Executivo, por membros do Ministério Público que ingressaram na carreira após o regime jurídico instaurado
pela Constituição Federal de 1988.
A vedação ao exercício de atividade político partidária aos membros do Ministério Público constitui causa
absoluta de inelegibilidade, impedindo a filiação a partidos políticos e a disputa de qualquer cargo eletivo, salvo
se estiverem aposentados ou exonerados, independentemente de o ingresso ter sido após a EC 45/04 ou entre
essa e a promulgação do texto constitucional.
Ao membro do Ministério Público é vedado exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função
pública, salvo uma de magistério.
STF. Plenário. ADI 2534, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em
24/08/2020.

O membro do Ministério Público pode participar de Conselhos da Administração Pública (órgãos com
atribuição legal para se manifestar, em caráter deliberativo ou consultivo, sobre a formulação de políticas
públicas de interesse social)?
A participação em Conselhos da Administração Pública – órgãos com atribuição legal para se manifestar, em
caráter deliberativo ou consultivo, sobre a formulação de políticas públicas de interesse social – é compatível
com as atribuições previstas pela Constituição Federal e pela Lei nº 8.625/93 para o Ministério Público, desde
que:
a) a representação do Ministério Público seja exercida por membro nato, indicado pelo Procurador-Geral de
Justiça;
b) a participação desse membro ocorra a título de exercício das atribuições institucionais do Ministério Público; e
c) vedada a percepção de remuneração adicional. 4. Ação Direta julgada parcialmente procedente.
STF. Plenário. ADI 3161, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020.

A avocação, pelo Procurador-Geral de Justiça, de funções afetas a outro membro do Ministério Público,
prevista no art. 10, IX, “g”, da LONMP, depende da concordância deste e da deliberação (prévia à
avocação e posterior à aceitação pelo promotor natural) do Conselho Superior respectivo.
STF. Plenário. ADI 2854, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em
13/10/2020.

São constitucionais os arts. 44, 77, caput e parágrafo único, e 80 da Lei 8.625/93 – LONMP.
1) Funções diretivas no próprio órgão, em entidades de representação de classe e a constitucionalidade do art.
44, parágrafo único, da LONMP:

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O artigo 128, § 5º, II, d, da Constituição da República veda o exercício, ainda que em disponibilidade, de qualquer
outra função pública, salvo uma de magistério. Ressalva à atividade desenvolvida no âmbito de abrangência da
própria Instituição. Em sendo assim, é possível o membro do Parquet manter vínculos de confiança, desde que
na própria administração superior da Instituição.
O art. 44, parágrafo único, da LONMP ressalvou a vedação de atividade desenvolvida no âmbito da própria
instituição, ou seja, na sua administração superior, nos centros de estudo e nas entidades de representação. A
contrario sensu, vedado é o desempenho de atividades em cargos externos ao próprio Ministério Público. Logo,
o art. 44, parágrafo único, da LONMP é constitucional.

2) Afastamento da carreira e a constitucionalidade do art. 75, caput e parágrafo único, da LONMP:


REGRA: não há qualquer possibilidade de que um membro do Ministério Público sujeito à proibição do art. 128,
§ 5°, II, “d”, da Constituição Federal venha a ocupar cargo, emprego ou função de nível equivalente ou maior na
Administração Direta ou Indireta:
EXCEÇÃO: a referida regra constitucional é excepcionada apenas no caso
a) do exercício de uma função de magistério, ou
b) na hipótese de que o membro do Ministério Público, admitido antes da promulgação da Constituição de 1988,
tenha feito a opção pelo regime jurídico anterior, conforme o art. 29, § 3º, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias – ADCT.

3) Autonomia federativa e a constitucionalidade do art. 80 da LONMP:


O artigo 80 da LONMP, ao prever que “Aplicam-se aos Ministérios Públicos dos Estados, subsidiariamente, as
normas da Lei Orgânica do Ministério Público da União”, manteve plena a competência legislativa dos Estados.
Disposição da LONMP, como norma geral para os Estados, que determina apenas subsidiariamente a aplicação a
Lei Orgânica do Ministério Público da União.
STF. Plenário. ADI 2612, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/11/2020.

Ação Civil de perda de cargo de Promotor de Justiça cuja causa de pedir não esteja vinculada a ilícito
capitulado na Lei nº 8.429/92 deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça. STJ. 2ª Turma. REsp 1.737.900-SP, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 19/11/2019 (Info 662).

O art. 227, VIII, da LC 75/93 prevê que os membros do MPU terão direito ao pagamento de auxílio-moradia,
desde que estejam em uma lotação considerada particularmente difícil ou onerosa. Esse dispositivo legal
autoriza que ato do PGR imponha outras restrições ao recebimento do auxílio-moradia, como é o caso de prazo
máximo de duração do benefício. Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento do
auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em harmonia com o regime de subsídio, em
parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88. A fixação de restrição temporal para
o recebimento do auxílio-moradia está de acordo com o princípio da razoabilidade, pois o auxílio-moradia tem
caráter provisório e precário, não devendo se dilatar eternamente no tempo. O recebimento do aludido
benefício sem limitação temporal configuraria verdadeira parcela remuneratória. STF. 2ª Turma. MS
26415/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970)

Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir privativamente ao Procurador-Geral de Justiça
a competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ. Não há inconstitucionalidade formal nessa
previsão. Isso porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não
pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por
expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é
exaustivo, de forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente ampliar tais

29
atribuições. Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional
dos membros do Parquet, uma vez que:
• se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei;
• e não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam
plena autonomia no exercício de seus misteres legais. STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em
15/04/2020.

É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público exerçam
advocacia. O CNMP possui capacidade para a expedição de atos normativos autônomos (art. 130-A, § 2º, I, da
CF/88), desde que o conteúdo disciplinado na norma editada se insira no seu âmbito de atribuições
constitucionais. A Resolução 27/2008 do CNMP tem por objetivo assegurar a observância dos princípios
constitucionais da isonomia, da moralidade e da eficiência no Ministério Público, estando, portanto, abrangida
pelo escopo de atuação do CNMP (art. 130-A, § 2º, II). A liberdade de exercício profissional não é um direito
absoluto, devendo ser interpretada dentro do sistema constitucional como um todo. STF. Plenário. ADI 5454, Rel.
Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

Os Ministérios Públicos dos Estados podem atuar, diretamente, na condição de partes, perante os
Tribunais Superiores, em razão da não existência de vinculação ou subordinação entre o Parquet
Estadual e o Ministério Público da União. Tal conclusão, entretanto, não pode ser aplicada ao Ministério
Público do Trabalho, considerando que o MPT é sim órgão vinculado ao Ministério Público da União, conforme
dispõe o art. 128, I, “b”, da Constituição Federal. O MPT integra a estrutura do MPU, atuando perante o Tribunal
Superior do Trabalho, não tendo legitimidade para funcionar no âmbito do STJ, tendo em vista que esta
atribuição é reservada aos Subprocuradores-gerais da República integrantes do quadro do Ministério Público
Federal. STJ. 1ª Seção. AgRg no CC 122.940-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/04/2020 (Info 670).

A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de banca de concurso
público relacionado com cargos externos aos quadros da instituição. Essa não é uma atribuição compatível com
as finalidades constitucionais do Ministério Público. Assim, não pode o ato impugnado exigir a participação do
Ministério Público nas bancas de concursos para os cargos e empregos públicos do Estado. STF. Plenário. ADI
3841, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. STF.
Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info 985
– clipping).

Cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como tempo de
atividade jurídica para fins de concurso público?
• Para os concursos da Magistratura: NÃO. Isso porque a Resolução nº 75/2009-CNJ não prevê.
• Para os concursos do Ministério Público: SIM. Existe previsão nesse sentido na Resolução nº 40/2009-CNMP.
É constitucional a previsão contida na Resolução nº 40/2009, do CNMP, no sentido de que os cursos de
pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como tempo de atividade
jurídica para fins de concurso público no âmbito do Ministério Público. Se o bacharel em Direito concluir uma
especialização, mestrado ou doutorado, ele terá adquirido um conhecimento que extrapola os limites
curriculares da graduação em Direito. Em sua atividade regulamentadora, o Conselho Nacional do Ministério
Público está, portanto, autorizado a densificar o comando constitucional de exigência de “atividade jurídica” com

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cursos de pós-graduação. STF. Plenário. ADI 4219, Rel. Cármen Lúcia, Relator p/ Acórdão Edson Fachin, julgado
em 05/08/2020 (Info 993 – clipping).

SEGURANÇA PÚBLICA

É inconstitucional lei estadual que criou a figura de policial militar temporário.


O Programa de militares estaduais temporários da brigada militar, criado por lei estadual, não tem amparo na
legislação nacional que cuida da organização das Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos
Estados, dos Território e do Distrito Federal (Decreto-lei nº 667/69, Decreto nº 88.777/86 e Lei nº 10.029/2000).
Ao cuidar de matéria de competência privativa da União a Lei estadual afrontou o art. 22, inc. XXI, da
Constituição da República:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXI - normas gerais de organização, efetivos, material
bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de
bombeiros militares;

A falta de contingente policial para combater a violência não viabiliza a contratação temporária prevista no art.
37, IX, da Constituição porque a demanda não tem contornos de temporariedade, tampouco decorre de
interesse público é excepcional.
Privilegiar soluções provisórias para problemas permanentes desatende o comando constitucional e agrava as
dificuldades enfrentadas pela sociedade.
As atividades a serem desenvolvidas pelos policiais temporários assemelham-se àquelas exercidas pelos policiais
de carreira.
A exigência de concurso público para o preenchimento de cargos e funções nos quadros da Brigada Militar do
Estado é medida que viabilizará o acesso democrático ao serviço público, em cumprimento aos princípios da
legalidade, da igualdade, da impessoalidade, da eficiência e, também, da moralidade.
STF. Plenário. ADI 3222, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/08/2020.

Não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança pública diverso daqueles que estão
previstos no art. 144 da CF/88. Os Estados-membros e o Distrito Federal devem seguir o modelo federal. O art.
144 da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública, sendo esse rol taxativo.
Assim, a Constituição Estadual não pode prever a criação de Polícia Científica como órgão integrante da
segurança pública. Vale ressaltar que nada impede que a Polícia Científica, criada pelo Estado-membro para ser
o órgão responsável pelas perícias, continue a existir e a desempenhar suas funções, sem estar,
necessariamente, vinculada à Polícia Civil. No entanto, deve-se afastar qualquer interpretação que lhe outorgue
caráter de órgão de segurança pública. STF. Plenário. ADI 2575/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/6/2020
(Info 983).

A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública. Esse rol é
taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Como consequência, os
Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos
daqueles previstos na Constituição Federal. Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito
exercem atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol
taxativo dos órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88. Compete aos órgãos e
agentes de trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a
educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao

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cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não
se confundem com “segurança pública”. Compete à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a
definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito,
inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da
regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional. Desse
modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não
previstas na legislação federal de regência, notadamente a Lei federal nº 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987 – clipping).

SEGURIDADE SOCIAL

Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte ajuizaram ação cível
originária, em face da União, com pedido de tutela provisória, questionando a redução de recursos do Programa
Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar
determinando que:
a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família
na Região Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento isonômico em relação
aos beneficiários dos demais entes da Federação.
b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública;
c) a liberação de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da Federação.
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 5/8/2020 (Info 985)

ÍNDIOS

A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos ajuizaram arguição de
descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público estava falhando na proteção dos povos
indígenas com relação à pandemia da Covid-19. Os autores apontaram uma série de atos comissivos e omissivos
do Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto risco de contágio e de extermínio dos povos
indígenas. Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88),
o direito à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais povos a viverem em seu
território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). Na ação, os autores pedem a realização de diversas
medidas necessárias para a proteção dos povos indígenas. O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente
a medida cautelar para que a União implemente, em resumo, as seguintes providências:
Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato:
1. Criação de barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios;
2. Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas em
Isolamento e de Contato Recente.
Quanto aos povos indígenas em geral:
1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dos invasores em relação às comunidades
indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato.
2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde.

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3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros
pela União.
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985).

TEMAS DIVERSOS

ENTIDADES DESPORTIVAS

A Lei 13.155/2015 institui o PROFUT (Programa de modernização da gestão e de responsabilidade fiscal do


futebol brasileiro). Essa lei alterou o Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/2003) para incluir entre os critérios
técnicos, além da colocação obtida em campeonato anterior, a apresentação de Certidão Negativa de Débitos
Federais, de certificado de regularidade de contribuição ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e
comprovação de pagamentos de obrigações previstas nos contratos de trabalho e nos contratos de imagem dos
atletas. Assim, por força da Lei nº 13.155/2015, um clube de futebol da série “A” (“1ª divisão”) do Campeonato
Brasileiro caso não cumprisse os requisitos de regularidade fiscal, regularidade com o FGTS e com os salários
dos atletas seria rebaixado para a série “B”. Para o STF, a exigência da regularidade fiscal fere a autonomia das
entidades desportivas em relação à sua organização e seu funcionamento (art. 217 da CF/88) e constitui forma
indireta de coerção estatal ao pagamento de tributos. A retirada do clube do campeonato pelo não pagamento
de tributos ou do FGTS é medida gravíssima, que demonstra falta de proporcionalidade e razoabilidade, além de
configurar uma sanção política. Com a exclusão automática do campeonato, o clube jamais conseguiria pagar
tributos e refinanciamentos, trazendo prejuízos à União, aos atletas, aos funcionários e à ideia de fomentar o
desporto. Resultado: foi declarada a inconstitucionalidade do art. 40 da Lei nº 13.155/2015, na parte em que
altera o art. 10, §§ 1º, 3º e 5º da Lei nº 10.671/2003, mantendo-se a vigência e eficácia de todos os demais
dispositivos impugnados. STF. Plenário. ADI 5450 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
18/12/2019 (Info 964).

LIBERDADE PROFISSIONAL

São constitucionais as restrições impostas aos auditores independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM). STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
10/11/2020 (Info 998).

Material extraído dos informativos (versão resumida), disponibilizados pelo prof. Márcio Cavalcante no site
https://www.dizerodireito.com.br, e destacados nas partes mais importantes pela equipe da Legislação Destacada.

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