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STF até Info 1059 e STJ até Info 742
DIREITO ADMINISTRATIVO 8
PODER REGULAMENTAR 8
SERVIDORES PÚBLICOS 8
SISTEMA REMUNERATÓRIO 11
DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR 12
FGTS 12
SERVIÇOS PÚBLICOS 12
PROCESSO ADMINISTRATIVO 13
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS 14
RESPONSABILIDADE CIVIL 16
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS 17
CARGOS EM COMISSÃO 18
CONCURSO PÚBLICO 18
APOSENTADORIA 19
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 20
PODER DE POLÍCIA 21
ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 22
LICENCIAMENTO AMBIENTAL 22
LICENÇAS E AFASTAMENTOS 23
DESAPROPRIAÇÃO 23
ACESSO À INFORMAÇÃO 24
DIREITO AMBIENTAL 24
SANEAMENTO BÁSICO 24
PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL 25
COMPETÊNCIAS 26
RESPONSABILIDADE CIVIL 27
COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS 27
DIREITO CIVIL 29
PESSOAS JURÍDICAS 29
BEM DE FAMÍLIA 29
AUSÊNCIA 31
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 32
CURATELA 33
PRESCRIÇÃO 33
PRISÃO CIVIL 34
CLÁUSULA PENAL 35
INFORMATIVOS 2022.1 - 2
ARBITRAGEM 36
RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET 37
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 41
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 43
PROMESSA DE COMPRA E VENDA 44
DIVÓRCIO 45
CONDOMÍNIO 46
SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO 48
ALIMENTOS 48
CONTRATOS 49
DIREITO AO ESQUECIMENTO 54
NOME 54
CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL 55
LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS 56
DIREITO AUTORAL 57
SUCESSÕES 57
COMPENSAÇÃO 58
PROPRIEDADE INTELECTUAL 59
DOAÇÃO INOFICIOSA 59
SEPARAÇÃO 61
DIREITOS REAIS 61
PREFERÊNCIA E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS 62
DIREITO CONSTITUCIONAL 63
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 63
DIREITOS SOCIAIS 65
EDUCAÇÃO 65
DIREITO À SAÚDE 66
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA 68
INTERVENÇÃO FEDERAL 72
PODER LEGISLATIVO 73
PROCESSO LEGISLATIVO 73
TRIBUNAL DE CONTAS 74
PODER EXECUTIVO 75
PODER JUDICIÁRIO 76
PRECATÓRIOS 76
DEFENSORIA PÚBLICA 77
SEGURANÇA PÚBLICA 78
CULTURA 78
ÍNDIOS 78
PAGAMENTO DE TAXAS 79
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 79
OUTROS TEMAS 80
INFORMATIVOS 2022.1 - 3
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 81
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 81
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL 81
DIREITO DO CONSUMIDOR 82
PLANOS DE SAÚDE 82
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA 84
CONCEITO DE CONSUMIDOR 85
RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO OU SERVIÇO 85
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO 86
COMPRA DE IMÓVEIS 86
SERVIÇOS BANCÁRIOS 87
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO 88
CONTRATOS BANCÁRIOS 89
SOLIDARIEDADE 90
DIREITO ELEITORAL 92
FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS 92
PROPAGANDA ELEITORAL 93
FINANCIAMENTO ELEITORAL 93
PARTIDOS POLÍTICOS 93
DIREITO EMPRESARIAL 94
MARCA 94
CHEQUE 94
SOCIEDADE ANÔNIMA 95
FALÊNCIA 95
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 97
TÍTULOS DE CRÉDITO (NOTA PROMISSÓRIA) 101
SOCIEDADES 101
INFORMATIVOS 2022.1 - 5
FRAUDE À EXECUÇÃO 128
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 129
SENTENÇA 131
TUTELA PROVISÓRIA 133
ASTREINTES 133
RECLAMAÇÃO 134
PRECATÓRIOS 135
PROCESSO COLETIVO 135
RECURSOS 138
AGRAVO DE INSTRUMENTO 140
MANDADO DE SEGURANÇA 140
CITAÇÃO 141
COISA JULGADA 142
NULIDADES 143
GRATUIDADE DA JUSTIÇA 143
AÇÃO RESCISÓRIA 144
PRAZOS 144
INFORMATIVOS 2022.1 - 6
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS 168
ISS 169
ICMS 169
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 171
IPI 171
PIS E COFINS 172
CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA – CDA 173
COMPENSAÇÃO 174
IOF 175
ITCMD 175
FATO GERADOR 175
ISSQN 176
EXECUÇÃO FISCAL 176
PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO 178
IPTU 178
DIREITO ADUANEIRO 179
MORATÓRIA 180
ITBI 180
IMPOSTO DE RENDA 180
INFORMATIVOS 2022.1 - 7
DIREITO ADMINISTRATIVO
PODER REGULAMENTAR
A Lei não pode estipular um prazo para que o chefe do Poder Executivo faça a sua regulamentação.
Ofende os arts. 2º e 84, II, da Constituição Federal norma de legislação estadual que estabelece prazo para o
chefe do Poder Executivo apresentar a regulamentação de disposições legais. Exemplo: Art. 9º O Chefe do
Poder Executivo regulamentará a matéria no âmbito da Administração Pública Estadual no prazo de 90 dias.
Essa previsão é inconstitucional. STF. Plenário. ADI 4728/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2021
(Info 1037).
SERVIDORES PÚBLICOS
É inconstitucional a vedação ao exercício provisório, de que trata o § 2º do art. 84 da Lei 8.112/90, nas
Lei nº 8.112/90 afirma que, se o servidor público federal for transferido para local diverso de onde ele
morava, o seu cônjuge/companheiro – que também for servidor público – ficará de licença de seu órgão de
origem e poderá exercer provisoriamente atividade compatível com seu cargo em órgão ou entidade da
Administração Federal no local para onde se mudou. Trata-se do chamado exercício provisório. O art. 69 da
Lei nº 11.440/2006 proibiu, nas unidades administrativas do Ministério das Relações Exteriores no exterior, o
exercício provisório. Assim, o servidor público cônjuge de diplomata, oficial ou assistente de chancelaria não
poderia ter direito à licença remunerada do § 2º do art. 84 da Lei nº 8.112/90. O STF decidiu que essa vedação
• viola a especial proteção constitucional da família; • a possibilidade de exercício provisório também gera
benefícios para a Administração Pública. STF. Plenário. ADI 5355/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10 e
municipais a índices federais de correção monetária. Caso concreto: a Lei estadual nº 8.278/2004, do
Mato Grosso, previu que um dos requisitos para que haja a revisão anual dos servidores públicos estaduais é
a constatação de que houve perdas salariais resultantes de desvalorização do poder aquisitivo da moeda,
medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), índice de inflação calculado pelo IBGE
INFORMATIVOS 2022.1 - 8
(fundação federal). Para o STF, essa previsão é inconstitucional por violar a autonomia dos entes federados e
o art. 37, XIII, da CF/88. Esse tema está pacificado pelo STF na SV 42: É inconstitucional a vinculação do
reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária. STF.
Plenário. ADI 5584/MT, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 3/12/2021 (Info 1040).
máximo estabelecido pela Lei 13.954/2019 a todos os integrantes das Forças Armadas, com
Poder Judiciário e com fundamento no princípio da isonomia, do percentual máximo previsto para o Adicional
de Compensação por Disponibilidade Militar, previsto na Lei 13.954/2019, a todos os integrantes das Forças
Armadas. STF. Plenário. ARE 1341061/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/10/2021 (Repercussão Geral -
Se o indivíduo, apesar de ser titular de serventia não estatizada, receber remuneração dos cofres
públicos, estará sujeito à aposentadoria compulsória. O STF, ao julgar o RE 647827/PR (Tema 571) fixou a
seguinte tese: Não se aplica a aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF aos titulares de
serventias judiciais não estatizadas, desde que não sejam ocupantes de cargo público efetivo e não recebam
remuneração proveniente dos cofres públicos. No caso concreto, o STJ reconheceu que o impetrante estava
sujeito à aposentadoria compulsória porque ele se enquadrava na parte final da tese acima exposta. Apesar
de o indivíduo ser titular de serventia não estatizada, ele recebia remuneração dos cofres públicos.
Desse modo, estava sujeito à aposentadoria compulsória aos 75 anos. STJ. 2ª Turma. RMS 57.258-GO, Rel.
A norma de edital que impede a participação de candidato em processo seletivo simplificado em razão
Caso concreto: em 2012, após processo seletivo, João foi contratado como servidor temporário (art. 37, IX, da
CF/88) para prestar serviços como inspetor penitenciário. Em 2014, foi exonerado por “conveniência
administrativa”, não tendo recebido, contudo, qualquer punição durante o tempo em que exerceu suas
funções. Em 2019, o Estado instaurou processo seletivo simplificado para novamente contratar servidores
temporários para exercerem as funções de inspetor penitenciário. João se inscreveu e foi aprovado. A
despeito disso, não pode ser contratado por conta da vedação constante no item 11.8 do edital, que dizia o
seguinte: “11.8. O candidato que houver sido contratado ou nomeado anteriormente pela SEJUS e que tiver
sido exonerado, ou tiver tido o contrato rescindido por conveniência administrativa e/ou ato motivado pela
Corregedoria e/ou por determinação judicial, será automaticamente eliminado do processo seletivo.” Impedir
que o candidato participe do processo seletivo simplificado porque, há alguns anos, seu contrato foi
rescindido por conveniência administrativa, equivale a impedir, hoje, a sua participação na seleção por mera
INFORMATIVOS 2022.1 - 9
conveniência administrativa, o que viola o princípio da isonomia e da impessoalidade. STJ. 2ª Turma. RMS
O servidor público reintegrado não faz jus ao recebimento das parcelas remuneratórias referentes ao
afastado do cargo público. Servidor público que havia sido demitido e que foi reintegrado, terá direito ao
recebimento retroativo dos vencimentos, férias indenizadas e auxílio-alimentação. Por outro lado, não terá
A progressão funcional não está elencada no rol de proibições do art. 22, parágrafo único, da LRF
(limite prudencial). É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de servidor público, quando
atendidos todos os requisitos legais, a despeito de superados os limites orçamentários previstos na Lei de
Responsabilidade Fiscal, referentes a gastos com pessoal de ente público, tendo em vista que a progressão é
direito subjetivo do servidor público, decorrente de determinação legal, estando compreendida na exceção
prevista no inciso I do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n. 101/2000. STJ. 1ª Seção. REsp
1.878.849-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador Convocado do TRF da 5ª região), julgado em
Servidor admitido sem concurso antes da promulgação da CF, ainda que beneficiado pela estabilidade
excepcional do art. 19 do ADCT, não pode ser reenquadrado em novo Plano de Cargos, Carreiras e
Remuneração previsto para servidores efetivos. É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos,
Carreiras e Remuneração, de servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição
Federal de 1988, mesmo que beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista
que esta regra transitória não prevê o direito à efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição
Federal e decisão proferida na ADI 3609 (Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe. 30/10/2014). STF.
Plenário. ARE 1306505/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/3/2022 (Repercussão Geral – Tema
A Lei 19.569/16, de Goiás, exigia que o servidor fizesse opção formal para ser enquadrado no novo
regime remuneratório; se o servidor não fez essa opção, não se pode dizer que o administrador tenha
praticado ato ilegal ao não reenquadrá-lo. Não havendo pleito optativo por inativos nos termos da Lei nº
19.569/2016 do Estado de Goiás, não há ilegalidade em não reposicioná-los com base nos parâmetros da
nova estrutura funcional inaugurada pela referida lei. STJ. 1ª Turma. RMS 64.121-GO, Rel. Min. Sérgio Kukina,
INFORMATIVOS 2022.1 - 10
Bolsa de desempenho é uma verba paga aos servidores do Estado da Paraíba; por ter natureza propter
laborem, não é devida aos aposentados. A bolsa de desempenho instituída pela Lei nº 9.383/2011 do
Estado da Paraíba possui natureza propter laborem não sendo, portanto, devida aos servidores
inativos. STJ. 2ª Turma. RMS 68.357-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/03/2022 (Info 730).
A indenização de campo (art. 16 da Lei 8.216/91), devida a determinados servidores públicos federais,
deve ser reajustada na mesma data e nos mesmos percentuais de reajustes aplicados às diárias. A
indenização de campo, prevista no art. 16 da Lei nº 8.216/91, deve ser reajustada pelo Poder Executivo na
mesma data e nos mesmos percentuais de reajustes aplicados às diárias, conforme determina o art. 15 da Lei
nº 8.270/91. STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 480.379-PB, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
Valores recebidos por servidores públicos por força de decisão judicial precária, posteriormente
reformada, devem ser restituídos ao erário. AREsp 1.711.065-RJ, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda
Presente a redação original do art. 87, § 2º, da Lei n. 8.112/1990, bem como a dicção do art. 7º da Lei n.
licença-prêmio por ele não fruída durante sua atividade funcional, nem contada em dobro para a
não foi gozada por necessidade do serviço. REsp 1.854.662-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por
SISTEMA REMUNERATÓRIO
subtetos diferentes da União; essa previsão não viola o princípio da isonomia. A CF/88 prevê, em seu
art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o valor máximo que os agentes públicos podem receber
no país. A EC nº 41/2003 alterou a redação desse inciso XI e permitiu que os Estados, DF e Municípios
remuneratórios com previsão de limites distintos para as entidades políticas, bem como para os
Poderes, no âmbito dos Estados e do Distrito Federal não ofende o princípio da isonomia. A isonomia,
em seu sentido material, significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. A autorização
para a instituição de tetos diferenciados para União, Estados, Distrito Federal e Municípios tem por objetivo
INFORMATIVOS 2022.1 - 11
permitir que os entes federativos limitem a remuneração do serviço público com base em suas respectivas
realidades financeiras. Existem singularidades materiais e funcionais nos diversos estratos do poder público,
de modo que é legítima a instituição de tetos de remuneração particularizados a cada situação peculiar. Essa
permissão, na verdade, prestigia a autonomia dos entes federados e a separação de poderes na medida em
que poderão solucionar – conforme a peculiaridade de cada um – os limites máximos de remuneração do seu
pessoal. STF. Plenário. ADI 3855/DF e ADI 3872/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 26/11/2021 (Info
1039).
conselheiro de Tribunal de Contas para auditor em período de substituição. ADI 6951/CE - ADI 6952/AM,
relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.6.2022. (Info 1058)
O período em que o Militar foi aluno em Curso Preparatório de Oficiais da Reserva é computado em 1
dia de trabalho a cada 8 horas de instrução. O período em que o Militar foi aluno em Curso Preparatório
de Oficiais da Reserva é computado em 1 dia de trabalho a cada 8 horas de instrução. STJ. 2ª Turma. REsp
FGTS
Não há direito adquirido à incidência de correção monetária nas contas vinculadas ao FGTS pelo IPC
de fevereiro/1991 (relativo ao Plano Collor II). Inexiste direito adquirido à diferença de correção monetária
dos saldos das contas vinculadas ao FGTS referente ao Plano Collor II (fevereiro de 1991), conforme
entendimento firmado no RE 226.855, o qual não foi superado pelo julgamento do RE 611.503 (Tema 360).
STF. Plenário. ARE 1288550/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/12/2021 (Repercussão Geral –
SERVIÇOS PÚBLICOS
INFORMATIVOS 2022.1 - 12
Em regra, não cabe ao Poder Judiciário anular cláusula de contrato de concessão de serviço público
que autoriza o reajuste de tarifa telefônica em percentual superior ao índice inflacionário. Afronta o
princípio da separação dos Poderes a anulação judicial de cláusula de contrato de concessão firmado por
Agência Reguladora e prestadora de serviço de telefonia que, em observância aos marcos regulatórios
estabelecidos pelo Legislador, autoriza a incidência de reajuste de alguns itens tarifários em percentual
superior ao do índice inflacionário fixado, quando este não é superado pela média ponderada de todos os
itens. STF. Plenário. RE 1059819/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
O Decreto Presidencial 7.777/2012 é constitucional, mas se restringe aos serviços públicos essenciais.
O Decreto Presidencial 7.777/2012 prevê a realização de convênios com os Estados, DF e Municípios para o
compartilhamento da execução de serviços públicos federais em caso de greves e paralisações. Esse Decreto
é constitucional, mas deve ficar restrito aos serviços e atividades essenciais. São constitucionais o
atividades e serviços públicos federais essenciais, e a adoção de procedimentos simplificados para a garantia
servidores públicos federais. STF. Plenário. ADI 4857/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/3/2022 (Info
1046).
prevista na Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (Lei 8.080/1990) — não recai sobre bens e/ou
serviços públicos de outro ente federativo. ADI 3454/DF, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual
PROCESSO ADMINISTRATIVO
serviço público devem obedecer ao princípio da publicidade durante toda a sua tramitação, ressalvados
eventuais atos que se enquadrem nas hipóteses de sigilo previstas em lei e na Constituição. STF. Plenário. ADI
INFORMATIVOS 2022.1 - 13
Quando o interessado poderá ser notificado por edital no processo administrativo? Em processo
administrativo, a notificação por edital reserva-se exclusivamente para as hipóteses de: a) interessado
É necessária condenação anterior na ficha funcional do servidor ou, no mínimo, anotação de fato que
o desabone, para que seus antecedentes sejam valorados como negativos na dosimetria da sanção
administração pública aplicou contra ele a pena de suspensão pelo prazo máximo (90 dias) sob o argumento
de que os seus “antecedentes funcionais” deveriam ser qualificados como negativos já que se trata de
“servidor veterano, com larga experiência” e, portanto, deveria ter conduzido com mais zelo e cuidado a
tarefa que estava sob sua responsabilidade. Invocou o art. 128 da Lei nº 8.112/90: “Na aplicação das
penalidades serão considerados (...) a os antecedentes funcionais.” Ocorre que isso não pode ser considerado
como “antecedentes funcionais” negativos. A Administração só poderia considerar como desfavorável o fato
de o servidor ter sido tão imprudente, mesmo tendo larga experiência, se a legislação autorizasse o exame da
culpabilidade do agente, tal como o art. 59 do CO permite. No entanto, a Lei nº 8.112/90 só admite
técnica própria. Nesse passo, para que os antecedentes funcionais do servidor fossem considerados
negativos, deveria constar na ficha funcional do impetrante alguma condenação anterior, ou, no mínimo,
alguma anotação de fato que desabone seu histórico funcional, o que não era o caso. STJ. 1ª Seção. MS
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
públicos, mediante anuência do poder concedente prevista no art. 27 da Lei 8.987/95. O art. 27 da Lei nº
8.987/95 permite que se transfira a concessão ou o controle societário da concessionária para uma outra
pessoa, desde que o poder público concorde e sejam respeitados os requisitos legais. Art. 27. A transferência
implicará a caducidade da concessão. Parágrafo único. Para fins de obtenção da anuência de que trata o
caput deste artigo o pretendente deverá: I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade
todas as cláusulas do contrato em vigor. O STF decidiu que esse dispositivo é constitucional. O parágrafo
único do art. 27 prevê que, mesmo com essa transferência, a base objetiva do contrato continuará intacta.
INFORMATIVOS 2022.1 - 14
Permanecem o mesmo objeto contratual, as mesmas obrigações contratuais e a mesma equação
econômico-financeira. O que ocorre é apenas a sua modificação subjetiva, seja pela substituição do
contratado, seja em razão da sua reorganização empresarial. Em nosso sistema jurídico, o que interessa à
particular contratado, ou dos atributos psicológicos ou subjetivos de que disponha. STF. Plenário. ADI
É possível cobrar um valor da concessionária de serviço público pelo fato de ela estar utilizando faixas
de domínio de uma rodovia? Tema já apreciado no Info 722-STJ. As concessionárias de serviço público
podem efetuar a cobrança pela utilização de faixas de domínio de rodovia, mesmo em face de outra
concessionária, desde que haja previsão editalícia e contratual. STJ. 1ª Turma. REsp 1.677.414-SP, Rel. Min.
As concessionárias de serviço público podem efetuar a cobrança pela utilização de faixas de domínio por
outra concessionária que explora serviço público diverso, desde que haja previsão no contrato de concessão.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.510.988-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 08/02/2022 (Info 724).
É possível cobrar um valor da concessionária de serviço público pelo fato de ela estar utilizando faixas
• Se essa cobrança é feita diretamente pelo ente público: NÃO. STF. Plenário. RE 581947, Rel. Min. Eros Grau,
• Se essa cobrança é feita por outra concessionária de serviço público: SIM, desde que haja previsão no edital
e no contrato de concessão. STJ. 1ª Seção. EREsp 985695-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
concessionária de serviço público. O art. 33 da Lei nº 8.987/95 afirma que, depois de ter sido declarada a
intervenção, o poder concedente deverá, no prazo de 30 dias, instaurar procedimento administrativo para
defesa. Desse modo, verifica-se claramente que, em se tratando de intervenção, o direito de defesa do
instaurado o procedimento administrativo para apuração das irregularidades. Isso porque a intervenção
possui finalidades investigatória e fiscalizatória, e não punitiva. STJ. 2ª Turma. RMS 66.794-AM, Rel. Min.
Nos contratos administrativos, é válida a cláusula que prevê renúncia do direito aos honorários de
sucumbência por parte de advogado contratado. Não contrariando a lei nem sendo abusivo, o contrato
administrativo pode tratar de renúncia a direito do contratado. Esta renúncia será eficaz e produzirá seus
INFORMATIVOS 2022.1 - 15
regulares efeitos na hipótese em que houver expressa concordância do contratado. Especificamente com
relação aos advogados, o Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) dispõe serem do advogado os honorários de
sucumbência. Havia previsão expressa a respeito da impossibilidade de retirar-lhes esse direito. Estava no
art. 24, § 3º. Contudo, em 2009, o STF declarou a inconstitucionalidade da regra, uma vez que se trata de
direito disponível e, por isso, negociável com o constituinte do mandato (ADI 1194, Relatora p/ Acórdão
Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 20/05/2009). Nessa linha, não se pode concluir pela
abusividade ou ilegalidade da cláusula contratual que prevê a renúncia do direito aos honorários de
sucumbência, notadamente quando a parte contratada, por livre e espontânea vontade, manifesta sua
concordância e procede ao patrocínio das causas de seu cliente mediante a remuneração acertada no
contrato. No caso em análise, a parte autora manifestou, de forma expressa e consciente, a renúncia e só
procurou discutir a cláusula após o fim do contrato. STJ. 1ª Turma. AREsp 1.825.800-SC, Rel. Min. Benedito
RESPONSABILIDADE CIVIL
O termo inicial do prazo prescricional para ajuizamento da ação de indenização contra o Estado em
público pode ser indenizado caso haja uma demora injustificada da Administração Pública em analisar o seu
requerimento de aposentadoria? SIM. Existem julgados do STJ reconhecendo ser possível: A demora
dever de indenizá-lo, considerando que, por causa disso, ele foi obrigado a continuar exercendo suas
funções por mais tempo do que o necessário. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 483398/PR, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 11/10/2016. STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1469301/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 21/10/2014. Qual é o prazo prescricional neste caso? 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto nº
20.910/1932. Qual o termo inicial do prazo prescricional? A partir de quando se inicia essa contagem? A
partir da data do deferimento da aposentadoria. STJ. 1ª Turma. REsp 1.840.570-RS, Rel. Min. Benedito
Reconhecida a responsabilidade estatal por acidente com evento morte em rodovia, é devida a
indenização por danos materiais aos filhos menores e ao cônjuge do de cujus. Caso concreto: ação de
indenização ajuizada contra o Departamento de Estradas e Rodagens de Sergipe (DER/SE), em face da morte
do pai e companheiro dos autores, decorrente de acidente de veículo em rodovia estadual, ocasionado por
buraco não sinalizado. Segundo o entendimento do STJ, a responsabilidade civil do Estado por condutas
omissivas é subjetiva, sendo necessário, dessa forma, a comprovação da conduta omissiva e culposa
INFORMATIVOS 2022.1 - 16
(negligência na atuação estatal - má prestação do serviço), o dano e o nexo causal entre ambos. No caso,
restou incontroverso que o acidente com evento morte ocorreu em rodovia estadual, mediante a queda de
estatal da via pública, não havendo quaisquer indícios de culpa exclusiva da vítima. Desse modo, é possível
concluir pela existência de omissão culposa por parte do ente público, consubstanciada na inobservância ao
dever de fiscalização e sinalização da via pública, bem como pelo nexo causal entre a referida conduta estatal
e o evento danoso, que resultou na morte do pai e marido dos recorrentes, causando-lhes, evidentemente,
prejuízos materiais e morais, os quais devem ser indenizados. Presentes os elementos necessários para
responsabilização do Estado pelo evento morte, deve-se reconhecer devida a indenização por danos
materiais, visto que a dependência econômica dos cônjuges e filhos menores do de cujus é presumida,
dispensando a demonstração por qualquer outro meio de prova. STJ. 1ª Turma. REsp 1.709.727-SE, Rel. Min.
O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança, contribuindo de forma determinante
e específica para homicídio praticado em suas dependências, responde objetivamente pela conduta
omissiva. REsp 1.708.325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
Considera-se fortuito externo a queda de passageiro em via férrea de metrô, por decorrência de mal
súbito, não ensejando o dever de reparação do dano por parte da concessionária de serviço público,
mesmo considerando que não houve adoção, por parte do transportador, de tecnologia moderna para
impedir o trágico evento. REsp 1.936.743-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por maioria,
Indivíduo foi condenado administrativamente pela CVM pela prática de insider trading; recorreu e a
decisão foi mantida pelo CRSFN; eventual ação contra essa punição deve ser proposta contra o CRSFN
(e não contra a CVM). O Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN) constitui órgão
colegiado que julga em última instância recursos contra decisões da CVM. Quando a decisão administrativa
sancionadora é submetida a recurso administrativo e substituída por acórdão do CRSFN, o órgão que aplicou
originariamente a sanção (ex: CVM, BACEN etc.) não detém legitimidade para figurar no polo passivo de ação
judicial anulatória. Em outras palavras, diante desse efeito substitutivo ocorrido no processo administrativo
no âmbito da União (órgão da Administração Direta), a CVM (autarquia, órgão da Administração Indireta) não
possui legitimidade para figurar no polo passivo da ação que visa questionar a sanção administrativa. A
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Comissão de Valores Mobiliários não possui legitimidade para figurar no polo passivo de ação que visa
questionar sanção imposta pelo cometimento de crime de uso indevido de informação privilegiada (insider
trading). STJ. 2ª Turma. AREsp 1614577-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 07/12/2012 (Info 721).
CARGOS EM COMISSÃO
indispensáveis fixados pelo STF. A Constituição Federal reservou à Administração Pública regime jurídico
formação de seus quadros de pessoal. Os cargos em comissão, por sua vez, representam exceção à regra.
Nesse contexto, a jurisprudência do STF é assertiva quanto às condições para a criação de cargos em
comissão. No julgamento do RE 1.041.210 (Tema 1010 RG), o Tribunal cuidou de consolidar os critérios
cumulativos que devem nortear o controle de constitucionalidade das leis que os criam. Com base nesses
entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, com eficácia ex nunc a contar da
publicação da ata de julgamento. STF. Plenário. ADI 6655/SE, relator Min. Edson Fachin, julgado em
CONCURSO PÚBLICO
É inconstitucional lei estadual que isenta servidores públicos da taxa de inscrição em concursos
públicos promovidos pela Administração Pública local, privilegiando, sem justificativa razoável para
tanto, um grupo mais favorecido social e economicamente. O STF compreende o concurso público como
impessoalidade, não admitindo discrímen que, ao invés de fomentar a igualdade de acesso aos cargos e
empregos públicos, amplia a desigualdade entre os possíveis candidatos. Nesse contexto, esta Corte já
proclamou a constitucionalidade de normas que, com fulcro na ideia de igualdade material, instituíram
incentivarem a permanência dos servidores públicos nessa condição, valorizando-os de modo a concretizar o
em detrimento de um grupo de pessoas que, por insuficiência de recursos, não conseguiria arcar com os
custos da inscrição, restringindo, consequentemente, o acesso à via do concurso público. Com base nesse
entendimento, o Plenário, por maioria, em julgamentos autônomos, julgou procedentes as ações diretas para
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declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 4º da Lei 11.449/1988, inserido pela Lei
11.551/1989, ambas do Estado do Ceará; e do art. 6º, III, “d”, da Lei 2.778/1989, do Estado do Sergipe. STF.
Plenário. ADI 5818/CE, relator Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
13/05/2022 e ADI 3918/SE, relator Min. Dias Toffoli, julgado em 13/05/2022 (Info 1054).
concurso público, operada em razão de ato praticado pela Administração Pública, confere-lhe o direito
público subjetivo ao provimento no cargo público, ainda que durante a vigência do ato não tenha sido
providenciada a sua nomeação e que, em seguida, o ato de que derivada a reclassificação tenha sido
posteriormente anulado. RMS 62.093-TO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por
O autor da ação civil pública dá causa à nulidade processual quando deixa de indicar no polo passivo
consequentes nomeação e posse dos aprovados. REsp 1.735.702-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 20/06/2022. (Info 742)
temporária de profissionais da área da educação sem prévio vínculo com a Administração Pública
para suprir vacância de cargo público efetivo. ADPF 915/MG, relator Min. Ricardo Lewandowski,
APOSENTADORIA
Até a edição da EC 103/2019, é admissível, aos servidores públicos, a conversão do tempo de serviço
especial em comum objetivando a contagem recíproca de tempo de serviço. Tema já apreciado no Info
992-STF. O STF, ao julgar o Tema 942, assim decidiu: Até a edição da Emenda Constitucional nº 103/2019, o
direito à conversão, em tempo comum, do prestado sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física de servidor público decorre da previsão de adoção de requisitos e critérios diferenciados
para a jubilação daquele enquadrado na hipótese prevista no então vigente inciso III do § 4º do art. 40 da
Constituição da República, devendo ser aplicadas as normas do regime geral de previdência social relativas à
aposentadoria especial contidas na Lei nº 8.213/91 para viabilizar sua concretização enquanto não sobrevier
lei complementar disciplinadora da matéria (STF. Plenário. RE 1014286, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão
Edson Fachin, julgado em 31/08/2020. Repercussão Geral – Tema 942). Antes do julgado do STF acima
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mencionado, o STJ possuía entendimento em sentido diverso (EREsp 524.267/PB, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe
24/3/2014). Com a tese fixada no Tema 942, o STJ teve que se alinhar à posição do STF e, em juízo de
retratação, decidiu que: Até a edição da EC 103/2019, é admissível, aos servidores públicos, a conversão do
tempo de serviço especial em comum objetivando a contagem recíproca de tempo de serviço. STJ. 2ª Turma.
REsp 1.592.380-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 08/02/2022 (Info 724).
O tempo de residência médica exercido na vigência da Lei 1.711/52 deve ser considerado como tempo
de serviço para aposentadoria, contanto que tenha sido remunerado pelos cofres públicos. O período
de residência médica exercido na regência da Lei nº 1.711/52 deve ser considerado como tempo de serviço
para aposentadoria, independentemente da forma de admissão, contanto que tenha sido remunerado pelos
cofres públicos. STJ. 2ª Turma. REsp 1.487.518-GO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 08/03/2022 (Info 730).
Para a aposentadoria voluntária de servidor público, o prazo mínimo de cinco anos no cargo em que se der a
aposentadoria refere-se ao cargo efetivo ocupado pelo servidor e não à classe na carreira alcançada
mediante promoção. A promoção por acesso de servidor a classe distinta na carreira não representa
ascensão a cargo diverso daquele em que já estava efetivado, de modo que, para fins de aposentadoria, o
prazo mínimo de cinco anos no cargo efetivo, exigido pelo artigo 40, § 1º, inciso III, da Constituição Federal,
Emenda Constitucional 47/2005, não recomeça a contar pela alteração de classe. STF. Plenário. RE
1322195/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/4/2022 (Repercussão Geral – Tema 1207) (Info 1049).
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Competência para julgar ação de improbidade proposta por Município contra ex-prefeito que não
de contas de valores decorrentes de convênio federal, o simples fato de as verbas estarem sujeitas à
prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União, por si só, não justifica a competência da
desviada, no âmbito civil, não pode impor de maneira absoluta a competência da Justiça Estadual. Se houver
manifestação de interesse jurídico por ente federal que justifique a presença no processo, (v.g. União ou
Ministério Público Federal) regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos termos da Súmula 150/STJ, a
competência para processar e julgar a ação civil de improbidade administrativa será da Justiça Federal. As
Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência em
matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a
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Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para
as demandas cíveis. Diante disso, é possível afirmar que a competência cível da Justiça Federal deve ser
definida em razão da presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na
relação processual, seja como autora, ré, assistente ou oponente e não em razão da natureza da verba
federal sujeita à fiscalização do TCU. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual processar e julgar agente
público acusado de desvio de verba recebida em razão de convênio firmado com o ente federal, salvo se
houver a presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação
processual. STJ. 1ª Seção. CC 174.764-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 09/02/2022 (Info
724).
O acordo de não persecução cível pode ser celebrado mesmo que a ação de improbidade
homologação judicial de acordo de não persecução cível no âmbito da ação de improbidade administrativa
em fase recursal. STJ. 1ª Seção. EAREsp 102.585-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/03/2022 (Info
728).
A contratação de servidores públicos temporários sem concurso público, mas baseada em legislação
local, por si só, não configura a improbidade administrativa prevista no art. 11 da Lei n. 8.429/1992,
por estar ausente o elemento subjetivo (dolo) necessário para a configuração do ato de improbidade
violador dos princípios da administração pública. REsp 1.913.638-MA, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira
PODER DE POLÍCIA
É ilegal a imposição de limitação métrica ao funcionamento de rádios comunitárias por meio de ato
área de execução da rádio comunitária deveria ficar limitada ao raio de 1.000 (mil) metros da antena
transmissora; e que b) os dirigentes da rádio comunitária deveriam residir dentro dessa mesma área. O STJ
concluiu que essas exigências são ilegais porque não encontram amparo na Lei nº 9.612/98, que rege as
rádios comunitárias. STJ. 2ª Turma. REsp 1.955.888-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
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ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
É inconstitucional decreto que preveja que a participação dos peritos no Mecanismo Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) será uma atividade não remunerada. São indevidos, mediante
decreto, o remanejamento dos cargos em comissão destinados aos peritos do Mecanismo Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), a exoneração de seus ocupantes e a transformação dessa atividade
trabalho dos membros do MNPTC em serviço não remunerado, exonerando-os dos cargos em comissão que
ocupavam, alterou de forma substancial a forma de execução das atividades voltadas à prevenção e ao
combate à tortura exercidas pelo órgão, que demandam dedicação, tempo e apoio logístico e que
dificilmente serão realizadas em concomitância a outras atividades remuneradas. Essas medidas esvaziam a
estrutura de pessoal técnico do órgão, na medida em que impossibilitam que o trabalho seja feito com
dedicação integral e desestimula profissionais especializados a integrarem o corpo técnico. STF. Plenário.
ADPF 607/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/3/2022 (Info 1048).
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
integração (Redesim) para o funcionamento de empresas que exerçam atividades de risco médio nos
termos da classificação estabelecida em ato do Poder Público. O licenciamento ambiental dispõe de base
constitucional (1) e não pode ser suprimido, ainda que de forma indireta, por lei. Também não pode ser
simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a norma que o excepcionar apresentar outro instrumento
apto a assegurar a proteção ao meio ambiente com igual ou maior qualidade. Nesse contexto, a simplificação
ambiental. A automaticidade, por sua vez, contraria norma específica sobre o licenciamento ambiental,
estão sujeitas ao controle estatal (2). Não possui fundamento constitucional válido a vedação da coleta
adicional, pelos órgãos competentes, de dados que não tenham sido disponibilizados na Redesim
ecologicamente equilibrado, para as presentes e futuras gerações, não pode ser comprometida por
interesses empresariais nem ser dependente de motivações exclusivamente econômicas, na medida em que
o desenvolvimento econômico deve ocorrer de forma sustentável. Com base nesses entendimentos, o
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Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para dar interpretação conforme ao art. 6º-A e
ao inciso III do art. 11-A, ambos da Lei 14.195/2021 (3), não aplicando-os às licenças em matéria ambiental.
STF. Plenário. ADI 6808/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em 28/4/2022 (Info 1052).
LICENÇAS E AFASTAMENTOS
O servidor público que seja pai solo – de família em que não há a presença materna – faz jus à licença
maternidade e ao salário maternidade pelo prazo de 180 dias, da mesma forma em que garantidos à
acompanhando os avanços da Constituição no campo da justiça social e dos direitos da dignidade da pessoa
humana, passou a legitimar e igualar as diversas configurações de família e filiação. Inclusive, esta Corte tem
reiteradamente realçado que a CF/1988 e o ECA adotaram a doutrina da proteção integral e o princípio da
prioridade absoluta das crianças e dos adolescentes enquanto pessoas em desenvolvimento, devendo-lhes
ser asseguradas todas as condições para uma convivência familiar saudável, harmônica e segura, quer seja o
vínculo familiar biológico ou estabelecido pelos institutos da guarda ou adoção. Assim, embora inexistente
previsão legal, o benefício deve ser excepcionalmente estendido ao pai de família monoparental, em respeito
aos princípios da isonomia de direitos entre o homem e a mulher e da proteção integral à criança, já que
destinado a assegurar o melhor interesse do menor, cujos laços de afetividade com o responsável por sua
criação e educação são formados ainda nos primeiros dias de vida. Com base nesse entendimento, o
Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.182 da repercussão geral, negou provimento ao recurso
extraordinário. STF. Plenário. RE 1348854/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em
DESAPROPRIAÇÃO
atualizado da causa, assim como os limites da Lei das Desapropriações. REsp 1.834.024-MG, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 10/05/2022. (Info 736)
Há violação aos limites das matérias que podem ser discutidas em ação de desapropriação direta
expropriada, ainda que vizinha. REsp 1.577.047-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
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unanimidade, julgado em 10/05/2022, DJe 25/05/2022. (Info 738)
ACESSO À INFORMAÇÃO
publicação, na internet, dos documentos ambientais detidos pela Administração não sujeitos a sigilo
(transparência ativa); ii) o direito de qualquer pessoa e entidade de requerer acesso a informações
ambientais específicas não publicadas (transparência passiva); e iii) direito a requerer a produção de
Administração justificar seu descumprimento, sempre sujeita a controle judicial, nos seguintes
não publicar; ii) na transparência passiva, de enquadramento da informação nas razões legais e
Tese C) O regime registral brasileiro admite a averbação de informações facultativas sobre o imóvel,
averbação de informações alusivas a suas funções institucionais. REsp 1.857.098-MS, Rel. Min. Og
Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 11/05/2022. (Tema IAC 13) (Info 737)
DIREITO AMBIENTAL
SANEAMENTO BÁSICO
É constitucional o novo Marco Legal do Saneamento Básico. A Lei nº 14.026/2020, fundamentada nos
arts. 21, XX, 22, XXVII, e 23, IX, da Constituição Federal, possibilitou a formação de arranjos federativos
das atividades continue sob a titularidade dos Municípios, o planejamento das políticas de saneamento é o
resultado da deliberação democrática em dois níveis, o Plano federal e o Plano estadual ou regional, não
havendo, assim, se falar em violação à autonomia municipal. Da mesma forma, não ocorre ofensa ao
princípio federativo em decorrência da nova redação do art. 50 da Lei nº 11.445/2007, a qual determina os
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requisitos de conformidade regulatória esperados dos Municípios, do Distrito Federal e dos Estados, para
que façam jus às transferências voluntárias, onerosas e não onerosas, provenientes da União. Trata-se de
voluntárias pode ocorrer, inclusive, por pactuação contratual, sendo desnecessária a existência de lei
disciplinadora das condições para a percepção das dotações. Ademais, a exclusão do contrato de programa
para a execução dos serviços públicos de saneamento básico a partir da promulgação da Lei nº 14.026/2020,
representa uma afetação proporcional à autonomia negocial dos municípios, em prol da realização de
objetivos setoriais igualmente legítimos. Essa proibição ocorre no mesmo ritmo da opção legislativa pela
delegação sob o modelo de concessão, que, além de proteger a segurança jurídica com a continuidade dos
serviços, estipula metas quanto à população atendida pela distribuição de água (99% da população) e pelo
esgotamento sanitário (90% da população), visa a fomentar a concorrência para os mercados e a aumentar a
eficiência na prestação dos serviços. STF. Plenário. ADI 6492/DF, ADI 6536/DF, ADI 6583/DF e ADI 6882/DF,
É inconstitucional a revogação da Resolução do Conama que protegia o meio ambiente sem que ela
seja substituída ou atualizada por outra que também garanta proteção. Tema já apreciado no Info
Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. STF. Plenário. ADPF 747/DF e
STF. Plenário. ADPF 749/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 13/12/2021 (Info 1041).
O poder normativo atribuído ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) pela respectiva lei
instituidora consiste em instrumento para viabilizar, ao agente regulador, a implementação das diretrizes,
No caso, a Resolução CONAMA 500/2020 revogou as Resoluções CONAMA 284/2001, 302/2002 e 303/2002, as
quais dispõem, respectivamente, sobre (i) licenciamento de empreendimentos de irrigação; (ii) parâmetros,
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entorno; e (iii) parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.
Nesse contexto, ao revogar normativa necessária e primária de proteção ambiental na seara hídrica, o ato
normativo impugnado implicou evidente retrocesso na proteção e defesa dos direitos fundamentais à vida, à
saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois revela autêntica situação de degradação de
vegetal em áreas legalmente protegidas. ADPF 748/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual
rotativos de produção de clínquer para a atividade de coprocessamento de resíduos, a Resolução atende não
apenas à exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de atividade potencialmente
causadora de degradação do meio ambiente, como também à obrigação imposta ao Poder Público de
controlar o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
Além disso, sua disciplina guarda consonância com a Lei 12.305/2020, que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, muito bem observando os critérios de razoabilidade e proporcionalidade nela positivados
como princípios setoriais. ADPF 748/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em
COMPETÊNCIAS
É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em solo urbano de área de preservação
permanente (APP) fora das situações previstas em normas gerais editadas pela União. Os arts. 2º, III; 3º,
II, “c”; e 17, da Lei nº 20.922/2013, do Estado de Minas Gerais, ampliaram os casos de ocupação antrópica em
áreas de preservação permanente previstos na norma federal vigente à época (no caso, a Lei nº 11.977/2009,
revogada pela Lei nº 13.465/2017). Com isso, essa lei estadual, além de estar em descompasso com o
conjunto normativo elaborado pela União, flexibilizou a proteção ao meio ambiente local, tornando-o mais
propenso a sofrer danos. A legislação mineira, ao flexibilizar os casos de ocupação antrópica em áreas de
Preservação Permanente, invadiu a competência da União, que já havia editado norma que tratava da
regularização e ocupação fundiária em APPs. STF. Plenário. ADI 5675/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
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RESPONSABILIDADE CIVIL
Súmula 652-STJ: A responsabilidade civil da Administração Pública por danos ao meio ambiente,
agroindustriais, desde que devidamente autorizada pelo órgão ambiental competente e com a
observância da responsabilidade civil por eventuais danos de qualquer natureza causados ao meio
ambiente ou a terceiros. REsp 1.443.290-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por
A indenização de dano ambiental deve abranger a totalidade dos danos causados, não sendo
possível ser decotadas em seu cálculo despesas referentes à atividade empresarial (impostos e
outras). REsp 1.923.855-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
A omissão na fiscalização e mitigação dos danos ambientais enseja a imposição judicial de obrigações
positivas para o Município a fim de solucionar o problema cuja extensão temporal e quantitativa
revela afronta à dimensão ecológica da dignidade humana. AREsp 2.024.982-SP, Rel. Min. Og Fernandes,
Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 24/06/2022. (Info 742)
públicas, bem como reduzem, por via de consequência, o controle e a vigilância por eles promovidos. A
Constituição Federal confere ao Poder Público e à coletividade o dever de preservar e defender o meio
execução e controle das políticas públicas ambientais, razão pela qual a Constituição também teve o cuidado
de estabelecer o dever de o Poder Público promover a educação ambiental, em todos os níveis de ensino, e a
conscientização pública para a necessidade de preservação do meio ambiente (CF, art. 225, § 1º, VI). Nesse
sociedade civil. Nesse contexto, a eliminação da presença de seus representantes na composição de órgãos
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ambientais exclui a coletividade da atuação cívica das políticas adotadas, bem como confere ao Poder
Executivo o controle exclusivo de suas decisões, neutralizando o caráter plural, crítico e diversificado da
formulação, desempenho e controle social, que, por definição constitucional, caracteriza condição inerente à
atuação desses órgãos. Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação
sociedade civil no Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente; e (ii) declarar a
governadores no Conselho. Nacional da Amazônia Legal; e do inciso CCII do art. 1º do Decreto 10.223/2020,
especificamente no ponto em que se extinguiu o Comitê Orientador do Fundo Amazônia. STF. ADPF 651/DF,
Ainda é constitucional a Resolução 491/2018 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que
dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Entretanto, nova norma deve ser editada. Mantém-se a
constitucionalidade da resolução haja vista o cotejo das teses trazidas na inicial com a jurisprudência desta
Corte. Ademais, quando editada, a regulação consistiu em avanço, de forma razoável, no tratamento da
matéria. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que, embora suas diretrizes sejam
pensadas para o uso mundial, os padrões locais podem variar de acordo com abordagens específicas para o
equilíbrio de riscos à saúde, viabilidade tecnológica, considerações econômicas e outros fatores políticos e
sociais. Apesar disso, a resolução está em trânsito para a inconstitucionalidade e precisa ser aperfeiçoada.
Logo, o Conama deve editar norma atualizada tendo em conta os novos parâmetros de qualidade do ar
recomendados pela OMS. Com esses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu de ação direta de
inconstitucionalidade e julgou improcedente o pedido nela formulado, para declarar ser ainda constitucional
Conama edite nova resolução sobre a matéria, a qual deverá levar em consideração: (i) as atuais orientações
da OMS sobre os padrões adequados da qualidade do ar; (ii) a realidade nacional e as peculiaridades locais;
bem como (iii) os primados da livre iniciativa, do desenvolvimento social, da redução da pobreza e da
promoção da saúde pública. Decorrido o prazo de vinte e quatro meses concedido, sem a edição de novo ato
que represente avanço material na política pública relacionada à qualidade do ar, passarão a vigorar os
parâmetros estabelecidos pela OMS enquanto perdurar a omissão administrativa na edição da nova
resolução. Vencidos os ministros Cármen Lúcia (relatora), Edson Fachin, Roberto Barroso e Rosa Weber. STF.
Plenário. ADI 6148/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. André Mendonça, julgado em
04/05/2022
INFORMATIVOS 2022.1 - 28
DIREITO CIVIL
PESSOAS JURÍDICAS
seus quadros. Diante do híbrido regime jurídico ao qual as Cooperativas de Trabalho Médico estão sujeitas
(Lei nº 5.764/71 e Lei nº 9.656/98), é juridicamente legítima a limitação, de forma impessoal e objetiva, do
número de médicos cooperados, tendo em vista o mercado para a especialidade e o necessário equilíbrio
financeiro da cooperativa. A interpretação harmônica das duas leis de regência consolida o interesse público
que permeia a atuação das cooperativas médicas e viabiliza a continuidade das suas atividades, mormente ao
desamparo dos beneficiários que necessitam do plano de saúde. Assim, é admissível a recusa de novos
associados se for atingida a capacidade máxima de prestação de serviços pela cooperativa, o que deve ser
aferido por critérios objetivos e verossímeis. Neste caso, a recusa é legítima porque a entrada de novos
finalidade. O princípio da porta aberta (livre adesão) não é absoluto, devendo a cooperativa de trabalho
médico, que também é uma operadora de plano de saúde, velar por sua qualidade de atendimento e
situação financeira estrutural, até porque pode ser condenada solidariamente por atos danosos de
cooperados a usuários do sistema (a exemplo de erros médicos), o que impossibilitaria a sua viabilidade de
prestação de serviços. STJ. 3ª Turma. REsp 1.901.911/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
24/8/2021. STJ. 4ª Turma. REsp 1.396.255-SE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 07/12/2021 (Info 723).
BEM DE FAMÍLIA
de locação, seja residencial, seja comercial. STF. Plenário. RE 1.307.334/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
O benefício da impenhorabilidade do bem de família deve ser concedido ainda que o imóvel tenha
sido adquirido no curso da demanda executiva, salvo na hipótese do art. 4º da Lei 8.009/90. Para o bem
de família instituído nos moldes da Lei nº 8.009/90, a proteção conferida pelo instituto alcançará todas as
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obrigações do devedor, indistintamente, ainda que o imóvel tenha sido adquirido no curso de uma demanda
executiva. STJ. 4ª Turma. REsp 1.792.265-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/12/2021 (Info 723).
Admite-se a penhora do bem de família para saldar o débito originado de contrato de empreitada
global celebrado para promover a construção do próprio imóvel. Exemplo hipotético: João tinha um
terreno vazio e contratou uma construtora para edificar uma casa no local. O contrato celebrado foi do tipo
“empreitada global”, ou seja, a empresa foi contratada para construir a casa fornecendo todo o material
necessário. A casa foi entregue, mas João deixou de pagar as últimas parcelas do contrato. Diante disso, a
empresa ajuizou execução contra o devedor e o juiz determinou a penhora da casa, mesmo sendo bem de
família. Isso é permitido com base na inciso II do art. 3º da Lei nº 8.009/90: Art. 3º A impenhorabilidade é
oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza,
salvo se movido: (...) II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; O
intuito do legislador ao prever a exceção legal ora tratada foi o de evitar que aquele que contribuiu para a
aquisição ou construção do imóvel ficasse impossibilitado de receber o seu crédito. Nesse cenário, é nítida a
preocupação do legislador no sentido de impedir a deturpação do benefício legal, vindo a ser utilizado como
artifício para viabilizar a aquisição, melhoramento, uso, gozo e/ou disposição do bem de família sem
nenhuma contrapartida, à custa de terceiros. STJ. 3ª Turma. REsp 1.976.743-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi,
É impenhorável o bem de família oferecido como caução em contrato de locação comercial. Assunto já
apreciado no Info 683-STJ. Exemplo hipotético: em um contrato de locação comercial de terceiro, Ricardo
ofereceu sua casa como caução (garantia) da relação locatícia (art. 37, I, da Lei nº 8.245/91). O terceiro
(locatário) não pagou os aluguéis e o locador executou o locatário e Ricardo pedindo a penhora da casa
objeto da caução. Ocorre que se trata de bem de família onde Ricardo reside. Será possível a penhora? Não.
As hipóteses excepcionais nas quais o bem de família pode ser penhorado estão previstas,
taxativamente, no art. 3º da Lei nº 8.009/90. Tais hipóteses não admitem interpretação extensiva. O
escopo da Lei nº 8.009/90 não é proteger o devedor contra suas dívidas, mas sim a entidade familiar no seu
conceito mais amplo, razão pela qual as hipóteses permissivas da penhora do bem de família, em virtude do
seu caráter excepcional, devem receber interpretação restritiva. A caução levada a registro, embora constitua
garantia real, não encontra previsão em qualquer das exceções contidas no art. 3º da Lei nº 8.009/90,
devendo, em regra, prevalecer a impenhorabilidade do imóvel, quando se tratar de bem de família. Assim,
não é possível a penhora do bem de família mesmo que o proprietário tenha oferecido o imóvel como caução
em contrato de locação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.789.505-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/03/2022 (Info
732).
INFORMATIVOS 2022.1 - 30
sociedade empresária e é utilizado como moradia por um dos sócios, recebe a proteção da
impenhorabilidade de bem de família. O art. 37 da Lei n. 8.245/1991 estipula as seguintes garantias que
o locatário pode prestar em contrato de locação: caução, fiança, seguro de fiança locatícia e cessão fiduciária
de quotas de fundos de investimentos. Por sua vez, o art. 3º, VII, da Lei n. 8.009/1990 afasta expressamente a
contrato de locação. Com efeito, as exceções à regra da impenhorabilidade do bem de família são taxativas,
não cabendo, portanto, interpretações extensivas (REsp 1.887.492/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 13/4/2021, DJe 15/4/2021). Assim, a jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no
sentido de que a exceção prevista no art. 3º, VII, da Lei n. 8.009/1990 não se aplica à hipótese de caução
entidade familiar por dívidas contraídas pelos "cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários
e nele residam" (art. 1º, caput). Constitui, portanto, em corolário da dignidade da pessoa humana e tem o
condão de proteger o direito fundamental à moradia (arts. 1º, III, e 6º da Constituição Federal).
Assim, o imóvel no qual reside o sócio não pode, em regra, ser objeto de penhora pelo simples fato de
pertencer à pessoa jurídica, ainda mais quando se trata de sociedades empresárias de pequeno porte. Em
tais situações, mesmo que no plano legal o patrimônio de um e outro sejam distintos - sócio e sociedade -, é
comum que tais bens, no plano fático, sejam utilizados indistintamente pelos dois.
Nesse contexto, se a lei tem por escopo a ampla proteção ao direito de moradia, o fato de o imóvel ter sido
objeto de caução, não retira a proteção somente porque pertence à pequena sociedade empresária. Caso
contrário, haveria o esvaziamento da salvaguarda legal e daria maior relevância do direito de crédito em
detrimento da utilização do bem como residência pelo sócio e por sua família. REsp 1.935.563-SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 03/05/2022. (Info 735)
É válida a penhora do bem de família de fiador apontado em contrato de locação de imóvel, seja
residencial, seja comercial, nos termos do inciso VII, do art. 3º da Lei n. 8.009/1990. REsp 1.822.040-PR,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 08/06/2022. (Tema 1091) (Info
740)
AUSÊNCIA
Se o ausente tem mais de 80 anos e há mais de 5 anos não se tem notícias dele, será possível requerer
diretamente a sucessão definitiva, sem necessidade de sucessão provisória. Exemplo: Roberto está
desaparecido há 20 anos, sem qualquer notícia sobre seu paradeiro. Se Roberto estiver vivo, ele já tem mais
de 80 anos de idade. Regina é irmã e única herdeira de Roberto. Ela ajuizou ação declaratória de ausência. O
INFORMATIVOS 2022.1 - 31
juiz deferiu o pedido, declarou que Roberto está ausente e nomeou Regina como curadora dos seus bens.
Passado 1 ano, Regina requereu a abertura da sucessão definitiva, pedindo a aplicação do art. 38 do CC/2002:
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de
idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele. O juiz indeferiu o pedido afirmando o seguinte, antes da
sucessão definitiva, o correto seria a decretação da sucessão provisória e, ultrapassado o prazo legal, pedir a
sucessão definitiva. Não seria possível requerer diretamente a sucessão definitiva. O art. 38 do CC somente
se aplica para a conversão de sucessão provisória em sucessão definitiva. O STJ não concordou com essa
interpretação. A regra do art. 38 do CC traz uma hipótese autônoma de abertura da sucessão definitiva, que
ocorre de forma direta e que não depende da existência, ou não, de sucessão provisória. É dispensável a
art. 38 do CC. Não se afigura razoável o entendimento de que o herdeiro de um octogenário desaparecido há
mais de cinco anos precisa, obrigatoriamente, passar pela fase da abertura de sucessão provisória, com
todos os seus expressivos prazos, diante de uma hipótese em que é absolutamente presumível a morte do
autor da herança. STJ. 3ª Turma. REsp 1.924.451-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/10/2021 (Info
716).
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
advocatícios, não pagos ao de cujus que renunciara ao mandato, conta-se da data da renúncia ou
revogação. Exemplo: João contratou Rui (advogado) para propor e acompanhar uma ação de indenização.
Vale ressaltar que não foi formalizado um contrato, tendo sido o ajuste verbal. O advogado elaborou e
protocolou a petição inicial da ação. Ocorre que durante a tramitação do processo, João e Dr. Rui se
desentenderam e o patrono renunciou ao mandato outorgado. Isso ocorreu em 02/02/2015. João não pagou
os honorários devidos a Rui pelo trabalho realizado. Em 03/03/2018, Rui faleceu. Os herdeiros de Rui desejam
ajuizar uma ação de arbitramento dos honorários advocatícios não pagos contra João a fim de receberem o
valor que seria devido ao seu pai. STJ. 3ª Turma. REsp 1.745.371-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel.
advogado da parte vencedora pode pedir ao juiz para que os honorários contratuais sejam “destacados”
(reservados, separados) do valor que o seu cliente irá receber da Fazenda Pública. Ex.: João (cliente) e Rui
(advogado) combinaram que o profissional, como remuneração pelo seu trabalho, teria direito a 20% do
valor que a parte fosse receber da União caso se sagrasse vencedora na lide. Essa verba constitui-se em
INFORMATIVOS 2022.1 - 32
honorários advocatícios contratuais. Em caso de procedência do pedido na ação, o advogado pode pedir que
essa quantia seja destacada do montante principal que a parte irá receber, nos termos do art. 22, § 4º, da Lei
nº 8.906/94: Art. 22. (...) § 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de
expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos
diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou. É
possível que essa combinação entre o advogado e o cliente seja feita na própria procuração, não se exigindo
um instrumento contratual autônomo. Assim, se esse ajuste constou na procuração, o advogado pode pedir
o destaque juntando apenas esse instrumento. STJ. 1ª Turma. REsp 1.818.107-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina,
CURATELA
O laudo médico, previsto no art. 750 do CPC/2015 como necessário à propositura da ação de
interdição, pode ser dispensado na hipótese em que o interditando resiste em se submeter ao exame.
Caso concreto: Regina é filha de João e cuida do seu pai idoso e enfermo. Com o objetivo de melhor gerenciar
os atos da vida civil de seu genitor, Regina propôs ação de interdição com pedido de tutela provisória de
curatela. Ocorre que o seu pai se nega a realizar tratamento com especialista. Assim, Regina não conseguiu
juntar o laudo médico necessário para a ação de interdição (art. 750). O art. 750 do CPC ressalva,
expressamente, a possibilidade de o laudo médico ser dispensado na hipótese em que for impossível
colacioná-lo à petição inicial: “O requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações
plausível. Vale ressaltar que a juntada do laudo médico na petição inicial não tem a finalidade de substituir a
prova pericial que ainda será produzida em juízo, conforme expressamente prevê o art. 753 do CPC/2015.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.933.597-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/10/2021 (Info 717).
PRESCRIÇÃO
Prescreve em 1 ano a pretensão relativa a contrato de transporte terrestre de cargas. Incide o prazo de
prescrição anual às pretensões relativas ao contrato de transporte terrestre de cargas antes e depois da
vigência do Código Civil de 2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.785-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
INFORMATIVOS 2022.1 - 33
A interrupção da prescrição ocorre somente uma única vez para a mesma relação jurídica, isto é,
independentemente de seu fundamento. Exemplo hipotético: Montago Ltda deveria pagar, em setembro
de 2012, R$ 300 mil à Galícia Comércio Ltda. Essa quantia estava materializada em três duplicatas mercantis
de R$ 100 mil cada. Não houve pagamento na data do vencimento. Logo, iniciou-se a contagem do prazo
prescricional para a credora exigir o pagamento da quantia. Em outubro de 2012, a credora (Galícia) levou as
duplicatas a protesto. Isso interrompeu a prescrição (art. 202, III, do CC). Em dezembro de 2014, a devedora
(Montago) ajuizou, contra a credora, ação declaratória de inexigibilidade dos débitos. O pedido foi julgado
improcedente. Isso, em tese, tem o condão de interromper a prescrição. No entanto, no caso concreto, essa
ação não teve o condão de interromper porque a prescrição já havia sido interrompida uma vez antes e o art.
202 do CC somente admite uma única interrupção da prescrição. Em suma: não é possível a interrupção do
prazo prescricional em razão do ajuizamento de ação declaratória de inexigibilidade dos débitos pelo
devedor quando já tenha havido anterior interrupção do prazo prescricional pelo protesto das duplicatas. STJ.
3ª Turma. REsp 1.963.067-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2022 (Info 727).
O art. 200 do CC/2002 assegura que o prazo prescricional não comece a fluir antes do trânsito em
julgado da sentença penal, independentemente do resultado da ação na esfera criminal. Art. 200.
Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição
antes da respectiva sentença definitiva. Exemplo hipotético: em 2010, “P” praticou estupro, sem violência
real, contra “T”. Em 2012, o Ministério Público ofereceu denúncia contra “P”. Em 2014, o processo penal foi
extinto sob o argumento de que o MP seria parte ilegítima porque não houve representação, conforme se
exigia antes da Lei nº 13.718/2018. Logo em seguida, “T” (a vítima) ajuizou ação de indenização por danos
morais contra “P”. Mesmo já tendo passado três anos do fato (art. 206, § 3º V, do CC), não houve prescrição.
Isso porque o prazo prescricional somente se iniciou com o trânsito em julgado da sentença do processo
penal. STJ. 3ª Turma. REsp 1.987.108-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/03/2022 (Info 732).
PRISÃO CIVIL
A prisão civil do devedor de alimentos pode ser excepcionalmente afastada, quando a técnica de
coerção não se mostrar a mais adequada e eficaz para obrigá-lo a cumprir suas obrigações. No caso
concreto, o STJ decidiu afastar a prisão civil com base nas seguintes particularidades: (i) o credor é maior de
idade, com formação superior e inscrito no respectivo conselho de classe; (ii) o devedor de alimentos está
com a saúde física e psicológica fragilizada, razão pela qual não consegue manter regularidade no exercício
de atividade laborativa; e (iii) a dívida se prolongou no tempo e se tornou gravoso exigir todo seu montante
para afastar o decreto de prisão. De acordo com o quadro fático delineado, a medida extrema da prisão civil,
INFORMATIVOS 2022.1 - 34
no caso, não vai conseguir compelir o devedor a cumprir a obrigação alimentar na medida em que, pelo
menos desde 2017, nada foi pago ao credor, mesmo com a ameaça concreta de sua constrição, com a
expedição do mandado de prisão civil em 2019, que só não foi efetivada em virtude da pandemia causada
pelo Covid-19. A medida coativa extrema, no caso concreto, revela-se desnecessária e ineficaz, pois o risco
alimentar e a própria sobrevivência do credor, não se mostram iminentes e insuperáveis, podendo ele, por si
só, como vem fazendo, afastar a hipótese pelo próprio esforço. STJ. 3ª Turma. RHC 160.368-SP, Rel. Min.
CLÁUSULA PENAL
Caso CBF e Marfrig: contrato de patrocínio da Seleção Brasileira de Futebol. Caso concreto: a CBF e a
Marfrig celebraram contrato de patrocínio que tinha previsão de anos de vigência. Ocorre que a empresa
deixou de efetuar os pagamentos, tendo ocorrido a resolução do ajuste. Havia, no contrato, cláusula penal
prevendo o pagamento de multa de 20%. O STJ não aceitou a sua redução, com base nos seguintes
fundamentos: A cláusula penal possui natureza mista, ou híbrida, agregando, a um só tempo, as funções de
STJ tem admitido o controle judicial do valor da multa compensatória pactuada, sobretudo quando esta se
mostrar abusiva, para evitar o enriquecimento sem causa de uma das partes, sendo impositiva a sua redução
quando houver adimplemento parcial da obrigação. Não é necessário que a redução da multa, na
função coercitiva da cláusula penal. No caso concreto, a cláusula penal tinha preponderantemente função
coercitiva, de modo que ela não poderia ser reduzida ao valor de uma única prestação ao fundamento de
que essa seria a quantia que mais se aproximava do prejuízo suportado pela autora. Quando na estipulação
da cláusula penal prepondera a finalidade coercitiva, a diferença entre o valor do prejuízo efetivo e o
montante da pena não pode ser novamente considerada para fins de redução da multa convencional com
fundamento na segunda parte do art. 413 do Código Civil. A preponderância da função coercitiva da cláusula
penal justifica a fixação de uma pena elevada para a hipótese de rescisão antecipada, especialmente para o
contrato de patrocínio, em que o tempo de exposição da marca do patrocinador e o prestígio a ela atribuído
acompanham o grau de desempenho da equipe patrocinada. Em tese, não se mostra excessiva a fixação da
multa convencional no patamar de 20% sobre o valor total do contrato de patrocínio, de modo a evitar que,
em situações que lhe pareçam menos favoráveis, o patrocinador opte por rescindir antecipadamente o
contrato. Deve-se considerar ainda que a cláusula penal está inserida em contrato empresarial firmado entre
empresas de grande porte, tendo por objeto valores milionários, inexistindo assimetria entre os contratantes
INFORMATIVOS 2022.1 - 35
que justifique a intervenção em seus termos, devendo prevalecer a autonomia da vontade e a força
obrigatória dos contratos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
ARBITRAGEM
Não é aceitável que a parte provoque a manifestação do juízo arbitral e, depois de obter o
pronunciamento acerca da matéria, venha a pleitear a nulidade da decisão ao argumento de que não
poderia ter enfrentado o tema. Caso concreto: foi instaurado procedimento de arbitragem no qual a
prestadora de serviços demanda valores ilíquidos que seriam devidos por uma empresa que está em
recuperação judicial. Essa empresa alegou que o juízo arbitral não seria competente para apreciar a causa
porque os créditos cobrados pela prestadora seriam concursais. O juízo arbitral refutou o argumento dizendo
que os créditos eram extraconcursais e que o juízo arbitral tinha competência. A empresa ajuizou ação de
nulidade afirmando que só o juízo estatal da recuperação judicial poderia dizer se o crédito perseguido é, ou
não, extraconcursal. O juízo arbitral não poderia ter entrado nessa discussão. A ação de nulidade foi julgada
improcedente. O juízo arbitral se manifestou sobre a natureza extraconcursal do crédito em cobrança como
resposta à arguição da própria empresa autora. Se a competência do juízo arbitral foi questionada com
fundamento na concursalidade do crédito, era óbvio que o juízo arbitral precisava enfrentar esse argumento
para decidir sobre a sua competência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.953.212-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
A impugnação ao cumprimento de sentença arbitral, devido à ocorrência dos vícios elencados no art.
32 da Lei nº 9.307/96, possui prazo decadencial de 90 dias. Tema já apreciado nos Infos 691 e 709-STJ A
declaração de nulidade da sentença arbitral pode ser pleiteada, judicialmente, por duas vias: a) ação
declaratória de nulidade de sentença arbitral (art. 33, § 1º, da Lei nº 9.307/96); ou b) impugnação ao
cumprimento de sentença arbitral (art. 33, § 3º, da Lei nº 9.307/96). O § 1º do art. 33 prevê um prazo de 90
dias para ajuizar a ação de declaração de nulidade. O § 3º do mesmo artigo não prevê prazo. Diante disso,
indaga-se: o prazo de 90 dias do § 1º do art. 33 também se aplica para a hipótese do § 3º? A impugnação ao
cumprimento de sentença arbitral também deve ser apresentada no prazo de 90 dias? Depende: • se a parte
executada quiser alegar algum dos vícios do art. 32 da Lei nº 9.307/96: ela possui o prazo de 90 dias. Assim,
se já tiver se passado 90 dias da notificação da sentença, ela não poderá apresentar impugnação alegando
um dos vícios do art. 32. A escolha entre a ação de nulidade e a impugnação ao cumprimento de sentença em
nada interfere na cristalização ou não da decadência, de modo que, escoado o prazo de 90 dias para o
ajuizamento da ação de nulidade, não poderá a parte suscitar as hipóteses de nulidade previstas no art. 32
INFORMATIVOS 2022.1 - 36
da Lei de Arbitragem pela via da impugnação. • Mesmo que já tenha se passado o prazo de 90 dias, a parte
ainda poderá alegar uma das matérias do § 1º do art. 525 do CPC. Não é cabível a impugnação ao
cumprimento da sentença arbitral, com base nas nulidades previstas no art. 32 da Lei nº 9.307/96, após o
prazo decadencial nonagesimal. STJ. 3ª Turma. REsp 1.900.136/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
06/04/2021 (Info 691). STJ. 3ª Turma. REsp 1.862.147-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
14/09/2021 (Info 709). STJ. 3ª Turma. REsp 1.928.951-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022
(Info 727).
Condomínio responde pelos danos causados por funcionário do condomínio que, em seu período de
folga, mas em razão do seu trabalho, pegou o carro do condomínio e causou danos. O condomínio
edilício responde pelos danos causados por seus empregados mesmo que fora do horário de expediente,
desde que em razão do seu trabalho. No caso concreto, o evento danoso ocorreu com a participação do
embebedou, além de ter se locupletado da informação adquirida em função de seu emprego para ingressar
no veículo e causar o dano. A situação se enquadra no art. 932, III, do Código Civil. Trata-se de
1.787.026-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/10/2021 (Info 717).
Não se pode impor a provedores de buscas a obrigação genérica de desindexar resultados obtidos a
partir do arquivo ilicitamente divulgado na internet. Não é possível impor a provedores de aplicações de
pesquisa na internet o ônus de instalar filtros ou criar mecanismos para eliminar de seu sistema a exibição de
resultados de links contendo o documento supostamente ofensivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.593.249-RJ, Rel. Min.
Provedor de e-mail não é obrigado a guardar e-mails que foram deletados Provedor de e-mail não
pode ser responsabilizado pelo fato de um hacker, ao conseguir acessar a conta de e-mail do usuário,
ter subtraído as criptomoedas que ele possuía. Provedor de e-mail não é obrigado a guardar e-mails que
foram deletados Não há previsão legal atribuindo aos provedores de aplicações que oferecem serviços de
email o dever de armazenar as mensagens recebidas ou enviadas pelo usuário e que foram deletadas. O
Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) não impõe esse dever aos provedores de email. Provedor de
e-mail não pode ser responsabilizado pelo fato de um hacker, ao conseguir acessar a conta de e-mail do
usuário, ter subtraído as criptomoedas que ele possuía O provedor de aplicações que oferece serviços de
e-mail não pode ser responsabilizado pelos danos materiais decorrentes da transferência de bitcoins
INFORMATIVOS 2022.1 - 37
realizada por hacker. O usuário teve a sua conta de e-mail invadida por um hacker, que também acessou a
sua carteira de bitcoins e transferiu as criptomoedas para a conta de outro usuário. Não se pode atribuir ao
Gmail a responsabilidade por tais danos materiais porque, ainda que a gerenciadora adote o sistema de
dupla autenticação, qual seja, digitação da senha e envio, via e-mail, do link de acesso, a simples entrada
neste é insuficiente para propiciar o ingresso na carteira virtual e, consequentemente, a transação das
criptomoedas. Logo, a ausência de nexo causal entre o dano e a conduta do Gmail obsta a atribuição a esta
da responsabilidade pelo prejuízo material experimentado pelo usuário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.885.201-SP,
Os provedores de conexão à internet devem guardar para eventualmente fornecer, mediante ordem
judicial, os dados cadastrais dos usuários. Os provedores de conexão à internet devem fornecer os dados
cadastrais (nome, endereço, RG e CPF) dos usuários responsáveis por publicação de vídeos no Youtube com
ofensas à memória de pessoa falecida. Os provedores são obrigados a guardar os DADOS PESSOAIS do
usuário? • Provedores de conexão à internet: SIM (devem guardar os dados pessoais). • Provedores de
aplicações de internet: NÃO (basta armazenarem o IP). STJ. 4ª Turma. REsp 1.914.596-RJ, Rel. Min. Luis Felipe
Não se aplica o art. 21 do Marco Civil da Internet para os casos de divulgação não autorizada de
imagens de nudez produzidas para fins comerciais. Se o provedor de aplicações (exs: Facebook,
Instagram, Youtube) disponibilizar conteúdo gerado por terceiros e a postagem feita causar prejuízos a
alguém (ex: ofensa à honra), o que deve ser feito para a remoção do material? Exige-se autorização judicial
para a remoção do conteúdo? • Regra geral: SIM (exige-se ordem judicial). É a regra do art. 19 do MCI.
● Exceção: se houver divulgação de imagens, vídeos ou outros materiais contendo cenas de nudez ou
de atos sexuais de caráter privado (exposição pornográfica não consentida). Neste caso, basta que
o provedor seja notificado extrajudicialmente. É o que prevê o art. 21. Caso concreto: “F”, modelo,
realizou ensaio fotográfico de nudez para uma revista masculina. Ocorre que ela passou a encontrar suas
fotos de nudez em blogs hospedados pela Google sem que tivesse autorizado. Ela fez então a notificação
extrajudicial da Google para a retirada dos materiais dos blogs. O STJ decidiu que, neste caso, não era
suficiente a notificação, sendo necessária a ordem judicial. Em outras palavras, não se aplica o art. 21,
sendo situação que se amolda ao art. 19. Para a aplicação do art. 21 é indiscutível que a nudez e os atos
de conteúdo sexuais envolvam inerentes à intimidade das pessoas, de modo reservado, particular e
privativo. Nem toda divulgação indevida de material de nudez ou de conteúdo sexual atrai a regra do art.
21, mas apenas aquele que apresenta, intrinsecamente, uma natureza privada. O ensaio fotográfico de
nudez realizado especificamente para sua exploração econômica por revista adulta, voltada para público
seleto mediante pagamento pelo acesso no seu website, não pode mesmo ser definido como de caráter
INFORMATIVOS 2022.1 - 38
privado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.930.256-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, relator p/ acórdão Min. Marco Aurélio
É possível, com fundamento no art. 22 do MCI, a requisição de fornecimento dos nomes ou domínios
das empresas que patrocinam links na ferramenta “Google Ads” relacionados à determinada
expressão? Tendo em vista a obrigação legal de guarda de registros de conexão e de acesso a aplicações de
internet, é possível, desde que preenchidos os requisitos legais, impor aos provedores o dever de fornecer os
nomes ou domínios das sociedades empresárias que patrocinam links na ferramenta “Google Ads”
relacionados à determinada expressão utilizada de forma isolada ou conjunta, pois tal medida representa
mero desdobramento daquelas obrigações. O provedor de internet deve manter armazenados os registros
relativos a patrocínio de links em serviços de busca pelo período de 6 (seis) meses contados do fim do
patrocínio e não da data da contratação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.961.480-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
Provedor de aplicação deve remover conteúdo ofensivo a menor na internet, mesmo sem ordem
judicial. Para atender ao princípio da proteção integral, é dever do provedor de aplicação de internet
proceder à retirada de conteúdo que viola direitos de crianças e adolescentes assim que for
foi feito um post, no Facebook, trazendo a foto de uma criança com seu pai e uma acusação, no texto, de que
este último (o genitor), teria envolvimento com pedofilia e estupro. O pai denunciou o fato à empresa, que,
no entanto, se recusou a excluir a publicação, sob o argumento de ter analisado a foto e não haver
encontrado nela nada que violasse os “padrões de comunidade” da rede social. Diante disso, foi ajuizada
ação de indenização por danos morais, tendo o Facebook sido condenado. O provedor de aplicação que se
nega a excluir publicação ofensiva a pessoa menor de idade, mesmo depois de notificado – e ainda que sem
ordem judicial –, deve ser condenado a indenizar os danos causados à vítima. A divulgação da foto do menor
sem autorização de seus representantes legais, vinculada a conteúdo impróprio, em total desacordo com a
proteção conferida pelo ECA, representou grave violação do direito à preservação da imagem e da
identidade. O ECA possui caráter “especialíssimo” e prevalece como sistema protetivo, em detrimento da lei
que rege o serviço de informação prestado pelo provedor de internet. Dessa forma, no caso julgado, não
pode haver aplicação isolada do art. 19 do Marco Civil da Internet, que condiciona a responsabilização civil do
provedor ao prévio descumprimento de ordem judicial. Em suma: responde civilmente por danos morais o
provedor de aplicação de internet que, após formalmente comunicado de publicação ofensiva a imagem de
menor, se omite na sua exclusão, independentemente de ordem judicial. STJ. 4ª Turma. REsp 1.783.269-MG,
É descabido imputar ao banco responsabilidade por reparar danos morais suportados por clientes que
tiveram seus nomes citados em reportagem feita por jornal que relatava supostas fraudes na
INFORMATIVOS 2022.1 - 39
concessão de empréstimos. Caso adaptado: João, agricultor, obteve um financiamento agrícola com o
Banco do Brasil em um programa de crédito chamado de PROAGRO. Passado algum tempo, o Jornal Diário da
Serra publicou reportagem narrando que estariam ocorrendo fraudes no PROAGRO e que João seria uma das
pessoas envolvidas porque beneficiada com um empréstimo neste programa. João ajuizou ação de
indenização contra o Banco do Brasil afirmando que a instituição seria a responsável pelos danos morais a si
causados. O STJ afirmou inexistir responsabilidade do banco nesse caso. É descabido reputar à instituição
financeira, que foi mencionada em matéria jornalística retratando fatos que lhe eram desabonadores,
responsabilidade por reparar danos morais suportados por clientes que tiveram seus nomes citados nessa
mesma reportagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1.761.078-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
Ação de indenização de Lula contra Deltan Dallagnol (entrevista do PowerPoint). O excesso no exercício
do direito de informar é capaz de gerar dano moral ao denunciado quando o membro do Ministério Público
comete abusos ao divulgar, na mídia, o oferecimento da denúncia criminal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.842.613-SP,
Montadora convidou jornalista para lançamento de seu novo veículo, tendo se comprometido a pagar
acidente e o jornalista faleceu; a montadora tem responsabilidade objetiva. A empresa que expede
convites a jornalistas para a cobertura e divulgação de seu evento, ou seja, em benefício de sua atividade
objetiva é baseada na teoria do risco prevista no parágrafo único do art. 927 do Código Civil: Art. 927 (...)
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem. STJ. 3ª Turma. REsp 1.717.114-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
Em tese, é possível que um advogado seja responsabilizado caso cometa algum excesso em sua
manifestação profissional. Excessos cometidos pelo advogado não podem ser cobertos pela imunidade
profissional, sendo em tese possível a responsabilização civil ou penal do causídico pelos danos que provocar
no exercício de sua atividade. STJ. 3ª Turma. REsp 1.731.439-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
Terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva das obrigações, haja vista que seu
prestação pelas partes, sob pena de se responsabilizar pelos danos decorrentes de sua conduta.
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Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em
São critérios que indicam a tendência de adoção excepcional do viés subjetivo da teoria da actio nata:
que o credor tinha ou deveria ter ciência do nascimento da pretensão, o que deve ser apurado a partir
responsabilidade civil por ato ilícito absoluto; e d) a expressa previsão legal a impor a aplicação do
sistema subjetivo. REsp 1.836.016-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
É imprescindível perícia técnica para quantificar dano moral, ante divulgação não autorizada de obra,
econômica do ilícito. REsp 1.983.290-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, por maioria, julgado
conjunta solidária quando inexistente previsão legal ou contratual de responsabilidade solidária dos
B) Não será possível a penhora da integralidade do saldo existente em conta conjunta solidária no
âmbito de execução movida por pessoa (física ou jurídica) distinta da instituição financeira
valores que integram o patrimônio de cada um, a fim de afastar a presunção relativa de rateio. REsp
1.610.844-BA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 15/06/2022. (Tema
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
João queria comprar um carro de R $100 mil, mas só tinha R $40 mil. Diante disso, ele procurou o banco para
obter um empréstimo de R $60 mil. A instituição financeira aceitou emprestar a quantia, no entanto, exigiu
que o negócio fosse assim materializado: i) João deveria emitir uma cédula de crédito bancário em favor da
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BV; ii) o carro adquirido deveria ficar em nome da BV como garantia em alienação fiduciária. Como João se
tornou inadimplente, o banco ajuizou ação de busca e apreensão contra ele. É indispensável que o autor
junte o original do título de crédito (no caso, a cédula de crédito bancário). Isso porque, se o bem não for
juntada do título original. Obs: a cédula de crédito pode ser emitida de forma cartular (“em papel”) ou
escritural (eletrônica). Se a CCB for escritural, por óbvio, não há que se falar em juntada do original já que não
é um documento físico. STJ. 3ª Turma. REsp 1.946.423-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2021
(Info 717).
Locatário do imóvel objeto da alienação fiduciária em garantia não tem que pagar taxa de ocupação
ao credor fiduciário que teve a propriedade consolidada em suas mãos. O locatário do imóvel cuja
propriedade foi consolidada nas mãos do credor fiduciário diante da inadimplência do devedor fiduciante
(antigo locador do bem) não é parte legítima para responder pela taxa de ocupação, prevista no art. 37-A da
Lei nº 9.514/97, por não fazer parte da relação jurídica que fundamenta a cobrança da taxa em questão.
Exemplo hipotético: Pedro (devedor fiduciante) alugou o imóvel objeto da alienação fiduciária para Carlos.
Pedro não pagou as prestações do mútuo ao banco e houve a consolidação da propriedade em nome do
credor fiduciário (instituição financeira). O banco não pode cobrar a taxa de ocupação de Carlos. STJ. 4ª
Turma. REsp 1.966.030-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 23/11/2021 (Info 720).
O atraso do banco em baixar gravame de alienação fiduciária no registro do veículo não gera dano
moral in re ipsa, sendo indispensável demonstrar que houve consequências que ultrapassem os
aborrecimentos normais. O atraso, por parte de instituição financeira, na baixa de gravame de alienação
fiduciária no registro de veículo não caracteriza, por si só, dano moral in re ipsa. STJ. 2ª Seção. REsp
1881453-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/11/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1078) (Info
721).
O credor fiduciário de bem imóvel que tem um título executivo em seu favor pode optar por propor a
execução extrajudicial da Lei 9.514/97 ou ajuizar ação de execução. Ao credor fiduciário é dada a
faculdade de executar a integralidade de seu crédito judicialmente, desde que o título que dá lastro à
execução esteja dotado de todos os atributos necessários (liquidez, certeza e exigibilidade). O credor de
dívida garantida por alienação fiduciária de imóvel não está obrigado a promover a execução extrajudicial de
seu crédito na forma determinada pela Lei nº 9.514/97. A constituição de garantia fiduciária como pacto
adjeto ao financiamento instrumentalizado por meio de Cédula de Crédito Bancário em nada modifica o
direito do credor de optar por executar o seu crédito de maneira diversa daquela estatuída na Lei nº 9.514/97
(execução extrajudicial). STJ. 3ª Turma. REsp 1.965.973-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
personalidade jurídica, sem o prévio contraditório, quando a decisão foi publicada na vigência do
CPC/1973. Caso adaptado: em 2012, a seguradora ajuizou ação de indenização por danos materiais contra
uma empresa (Arnon Ltda). O juiz julgou o pedido procedente, condenando a empresa a pagar a indenização.
Houve o trânsito em julgado em 2014. No cumprimento de sentença, sem ainda receber o pagamento e ter
tentado de todas as formas alcançar o patrimônio da executada (Arnon Ltda – “Arnon 1”), a seguradora
outra pessoa jurídica pertencente ao mesmo grupo econômico que detinha o mesmo sócio, a Arnon
Participações Ltda. (“Arnon 2”). Em 2014, ou seja, antes da entrada em vigor do CPC/2015, o Juiz, em decisão
interlocutória inaudita altera pars (sem que fosse ouvida a outra parte), acolheu o pedido e desconsiderou a
personalidade jurídica da executada Arnon 1, para alcançar o patrimônio da Arnon 2. Essa decisão foi
publicada em 2014, isto é, ainda na vigência do CPC/1973. A Arnon 2, contudo, não fazia parte do processo
anteriormente. Logo, a publicação da decisão não servia como forma de comunicação para ela da decisão
judicial. A Arnon 2 somente foi intimada da decisão acima em 2019, ou seja, depois que já estava em vigor o
CPC/2015. A Arnon 2 recorreu alegando nulidade da decisão que decretou a desconsideração porque não
houve contraditório prévio. A controvérsia jurídica pode assim ser resumida: - o juiz, por decisão
contraditório. Nem o CPC/1973 nem a jurisprudência do STJ exigiam prévio contraditório. - a parte atingida foi
intimada quando já estava em vigor o CPC/2015, que passou a exigir prévio contraditório. A decisão foi
mantida. O fato de a intimação da empresa alcançada pela desconsideração ter ocorrido depois da em vigor
do CPC/2015 não torna essa legislação aplicável a fatos processuais anteriores, sob pena de se estar
aplicando retroativamente a norma processual, o que viola o art. 14 do CPC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.954.015-PE,
personalidade jurídica. O fato de ser o Fundo de Investimento em participação (FIP) constituído sob a forma
de condomínio e de não possuir personalidade jurídica não é capaz de impedir, por si só, a aplicação do
instituto da desconsideração da personalidade jurídica em caso de comprovado abuso de direito por desvio
dívida de um único cotista, de modo que, em tese, não poderia a constrição judicial recair sobre todo o
patrimônio comum do fundo de investimento por dívidas de um só cotista, ressalvada a penhora da sua
cota-parte. As cotas dos fundos de investimento podem ser objeto de penhora em processo de execução por
INFORMATIVOS 2022.1 - 43
dívidas pessoais dos próprios cotistas, mas não podem ser penhoradas por dívidas do fundo, tampouco de
outros cotistas que não tenham nenhuma relação com o verdadeiro devedor. A impossibilidade de
normais, deve ceder diante da comprovação inequívoca de que a própria constituição do fundo de
investimento se deu de forma fraudulenta, como forma de encobrir ilegalidades e ocultar o patrimônio de
empresas pertencentes a um mesmo grupo econômico. Comprovado o abuso de direito, caracterizado pelo
desvio de finalidade (ato intencional dos sócios com intuito de fraudar terceiros), e/ou confusão patrimonial,
é possível desconsiderar a personalidade jurídica de uma empresa para atingir o patrimônio de outras
pertencentes ao mesmo grupo econômico. STJ. 3ª Turma.REsp 1.965.982-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Na rescisão de contrato de compra e venda de imóvel residencial não edificado, o adquirente não
pode ser condenado ao pagamento de taxa de ocupação. Exemplo: João celebrou contrato de promessa
de compra e venda de um lote de terreno com uma empresa (promitente-vendedora). João obrigou-se a
pagar o valor de R$ 96 mil, parcelados em 48 meses. Durante a vigência do contrato, João já ficaria na posse
do lote porque ali iria construir uma casa. Depois de 1 ano pagando as parcelas, João perdeu seu emprego.
Como não mais iria conseguir adimplir as prestações, ele ajuizou ação de resilição contratual requerendo o
desfazimento do negócio com a restituição dos valores que havia pagado. Vale ressaltar que a casa que João
pretendia edificar nem começou a ser construída no local. A empresa apresentou resposta pedindo para que
João fosse condenado ao pagamento de taxa de ocupação pelo período de 1 ano que passou na posse do
imóvel. Não é devida a taxa de ocupação. No contrato de compra e venda de imóveis residenciais, o
enriquecimento sem causa do comprador é identificado pela utilização do bem para sua moradia, a qual
deveria ser objeto de contraprestação mediante o pagamento de aluguéis ao vendedor pelo tempo de
permanência. Na presente hipótese, o terreno não está edificado, de modo que não existe possibilidade
segura e concreta de se afirmar que a empresa auferiria proveito com a cessão de seu uso e posse a
terceiros, se não o tivesse concedido ao promitente-comprador, estando, pois, ausente o requisito de seu
empobrecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.936.470-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/10/2012 (Info
718).
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DIVÓRCIO
Não se comunicam, na partilha decorrente de divórcio, os bens adquiridos por uma das partes antes
financiado em 60 prestações mensais; nessa época, Lúcia namorava Henrique. Lúcia arcou, de forma
autônoma e independente, com os valores para a aquisição do imóvel, sem qualquer ajuda financeira por
parte de Henrique. Em 2018, Lúcia e Henrique se casaram, sob o regime da comunhão parcial de bens. Em
2020, Lúcia terminou de pagar o financiamento do apartamento. Em 2021, Lúcia e Henrique se divorciaram. A
mulher arcou de forma autônoma e independente com os valores para a aquisição do bem, motivo pelo qual
o pagamento de financiamento remanescente não repercute em posterior partilha por ocasião do divórcio,
sendo considerado montante estranho à comunhão de bens. O ex-cônjuge não faz jus a nenhum benefício
enriquecimento sem causa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.841.128-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
propriedade do cônjuge varão, objeto de eventual partilha em ação de divórcio, pode afastar a
presunção do art. 1.253 do CC. Situação adaptada: João e Regina casaram-se, pelo regime da comunhão
parcial de bens, em 4/10/1997. O casal se separou em 21/5/2002. Em 01/02/2003, João comprou uma
chácara. Em 02/10/2003, o casal restabeleceu a união conjugal. Em 25/3/2014, Regina ajuizou novamente
ação de divórcio litigioso contra João. Na ação, Regina pediu a partilha das acessões e benfeitorias feitas na
chácara alegando que elas foram realizadas durante o casamento, com esforço comum. João
contra-argumentou afirmando que tais acessões e benfeitorias não foram realizadas durante o casamento.
Em regra, de quem seria o ônus de provar que a data das acessões e benfeitorias: de Regina ou de João? O
ônus seria de Regina, com base no art. 373, I, do CPC. João goza de uma presunção legal em seu favor.
Trata-se da presunção relativa prevista no art. 1.253 do CC: “Toda construção ou plantação existente em um
terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.” Diante desse cenário,
o magistrado entendeu que seria o caso de inverter o ônus da prova e determinar que João prove a data da
realização das acessões e benfeitorias já que, por ele ser o proprietário e possuidor do imóvel, teria melhores
condições de comprovar que não foram edificadas na constância do casamento. Essa inversão é possível com
base no art. 373, § 1º, do CPC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.888.242/PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
Dissolvida a sociedade conjugal, o bem imóvel comum do casal rege-se pelas regras relativas ao
condomínio, ainda que não realizada a partilha de bens, possuindo legitimidade para usucapir em
nome próprio o condômino que exerça a posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos demais
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coproprietários. O propósito da controvérsia consiste em definir a natureza da posse exercida por um dos
ex-cônjuges sobre fração ideal pertencente ao casal dos imóveis descritos na petição inicial, após a
dissolução da sociedade conjugal, mas sem que tenha havido a partilha dos bens, a ensejar a aquisição da
propriedade, pelo cônjuge possuidor, da totalidade da fração ideal por usucapião. A jurisprudência deste
Tribunal Superior assenta-se no sentido de que, dissolvida a sociedade conjugal, o bem imóvel comum do
casal rege-se pelas regras relativas ao condomínio, ainda que não realizada a partilha de bens, cessando o
estado de mancomunhão anterior. Nesse contexto, possui legitimidade para usucapir em nome próprio o
condômino que exerça a posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos demais coproprietários, tendo
sido preenchidos os demais requisitos legais. Ademais, a posse de um condômino sobre bem imóvel exercida
por si mesma, com ânimo de dono, ainda que na qualidade de possuidor indireto, sem nenhuma oposição
dos demais coproprietários, nem reivindicação dos frutos e direitos que lhes são inerentes, confere à posse o
caráter de ad usucapionem, a legitimar a procedência da usucapião em face dos demais condôminos que
resignaram do seu direito sobre o bem, desde que preenchidos os demais requisitos legais. No caso, após o
fim do matrimônio houve completo abandono pelo cônjuge da fração ideal pertencente ao casal dos imóveis
usucapidos pela ex-esposa, sendo que esta não lhe repassou nenhum valor proveniente de aluguel nem o
recorrente o exigiu, além de não ter prestado conta nenhuma por todo o período antecedente ao
Em razão disso, revela-se descabida a presunção de ter havido administração dos bens pela recorrida. O que
houve foi o exercício da posse pela ex-esposa do recorrente, com efetivo ânimo de dona, a amparar a
procedência do pedido de usucapião. REsp 1.840.561-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por
CONDOMÍNIO
O condomínio que possui destinação exclusivamente residencial pode proibir a locação de unidade
autônoma por curto período de tempo. Tema apreciado no Info 693-STJ. A exploração econômica de
unidades autônomas mediante locação por curto ou curtíssimo prazo, caracterizada pela eventualidade e
pessoas estranhas e sem compromisso duradouro com a comunidade na qual estão temporariamente
inseridas, é o que confere razoabilidade a eventuais restrições impostas com fundamento na destinação
quem explora economicamente o seu imóvel, mas sobretudo daquele que faz dele a sua moradia e que nele
almeja encontrar, além de um lugar seguro para a sua família, a paz e o sossego necessários para recompor
INFORMATIVOS 2022.1 - 46
as energias gastas ao longo do dia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.884.483-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
O promitente comprador tem direito de votar na assembleia, desde que já esteja na posse direta do
compradores têm legitimidade para participar das assembleias, ordinária ou extraordinária, desde que tenha
havido a imissão na posse da unidade imobiliária e a cientificação do condomínio acerca da transação. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.918.949-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/12/2021 (Info 722).
que, em razão de medida protetiva de urgência decretada judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo
do imóvel de cotitularidade do agressor. Em regra, a utilização ou a fruição da coisa comum indivisa com
exclusividade por um dos coproprietários, impedindo o exercício de quaisquer dos atributos da propriedade
pelos demais consortes, enseja o pagamento de indenização àqueles que foram privados do regular domínio
sobre o bem, tal como o percebimento de aluguéis. É o que prevê o art. 1.319 do Código Civil. Contudo, impor
à vítima de violência doméstica e familiar obrigação pecuniária consistente em locativo pelo uso exclusivo e
integral do bem comum constituiria proteção insuficiente aos direitos constitucionais da dignidade humana e
da igualdade, além de ir contra um dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro de promoção do bem de
todos sem preconceito de sexo, sobretudo porque serviria de desestímulo a que a mulher buscasse o
amparo do Estado para rechaçar a violência contra ela praticada, como assegura a Constituição Federal em
seu art. 226, § 8º, a revelar a desproporcionalidade da pretensão indenizatória em tais casos. A imposição
judicial de uma medida protetiva de urgência - que procure cessar a prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher e implique o afastamento do agressor do seu lar - constitui motivo legítimo a que se limite o
domínio deste sobre o imóvel utilizado como moradia conjuntamente com a vítima, não se evidenciando,
assim, eventual enriquecimento sem causa, que legitime o arbitramento de aluguel como forma de
indenização pela privação do direito de propriedade do agressor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.966.556-SP, Rel. Min.
O adquirente de imóvel deve pagar as taxas condominiais desde o recebimento das chaves ou, em
caso de recusa ilegítima, a partir do momento no qual as chaves estavam à sua disposição. O
promitente comprador passa a ser responsável pelo pagamento das despesas condominiais a partir da
entrega das chaves, tendo em vista ser o momento em que tem a posse do imóvel. A recusa em receber as
chaves constitui, em regra, comportamento contrário aos princípios contratuais, principalmente à boa-fé
objetiva, desde que não esteja respaldado em fundamento legítimo. A rejeição em tomar a posse do imóvel,
sem justificativa adequada, faz com que o adquirente das unidades imobiliárias passe a ser responsável pelas
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taxas condominiais. STJ. 3ª Turma.REsp 1.847.734-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
Não é possível usucapião de imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, ainda que em
situação de abandono. O imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque afetado à prestação
de serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível. Mesmo o eventual
abandono de imóvel público não possui o condão de alterar a natureza jurídica que o permeia, pois não é
possível confundir a usucapião de bem público com a responsabilidade da Administração pelo abandono de
bem público. Com efeito, regra geral, o bem público é indisponível. Eventual inércia dos gestores públicos, ao
longo do tempo, não pode servir de justificativa para perpetuar a ocupação ilícita de área pública, sob pena
de se chancelar ilegais situações de invasão de terras. STJ. 3ª Turma. REsp 1.874.632-AL, Rel. Min. Nancy
ALIMENTOS
O alimentante pode propor ação de exigir contas contra a guardiã do menor/alimentado para
propor ação de exigir contas contra a guardiã do menor/alimentado para obtenção de informações acerca da
4ª Turma do STJ: SIM O genitor pode propor ação de prestação de contas em face do outro genitor
relativamente aos valores decorrentes de pensão alimentícia. O Código Civil prevê que, após cessar a
coabitação dos genitores pela dissolução da sociedade conjugal, os pais continuam com o dever de sustentar
os filhos. O pai ou a mãe que não ficar na companhia dos filhos cumprirá esse dever por meio da prestação
de alimentos (art. 1.703). Por outro lado, o pai ou a mãe que não ficar com a guarda do filho tem o
direito-dever de fiscalizar a manutenção e a educação de sua prole (art. 1.589). O poder-dever fiscalizatório
do genitor que não detém a guarda com exclusividade tem por objetivo evitar que ocorram abusos e desvios
de finalidade no que tange à administração da pensão alimentícia. Para isso, esse genitor poderá verificar se
as despesas e gastos estão sendo realizados para manutenção e educação da prole. STJ. 4ª Turma. REsp
1.911.030-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/06/2021 (Info 699).
INFORMATIVOS 2022.1 - 48
3ª Turma do STJ: NÃO O alimentante não possui interesse processual em exigir contas da detentora da
crédito ou débito entre as partes. Nas obrigações alimentares, não há saldo a ser apurado em favor do
alimentante, porquanto, cumprida a obrigação, não há repetição de valores. A ação de prestação de contas
proposta pelo alimentante é via inadequada para fiscalização do uso de recursos transmitidos ao
alimentando por não gerar crédito em seu favor e não representar utilidade jurídica. O alimentante não
possui interesse processual em exigir contas da detentora da guarda do alimentando porque, uma vez
cumprida a obrigação, a verba não mais compõe o seu patrimônio, remanescendo a possibilidade de
discussão do montante em juízo com ampla instrução probatória. STJ. 3ª Turma. REsp 1.767.456-MG,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/11/2021 (Info 720).
CONTRATOS
A Lei 1.046/1950 não ampara a extinção do débito de empréstimo consignado em razão do óbito de
servidor público estadual ou municipal. O art. 16 da Lei nº 1.046/1950 previa: Art. 16. Ocorrido o
falecimento do consignante, ficará extinta a dívida do empréstimo feito mediante simples garantia da
consignação em folha. Esse dispositivo nunca se aplicou aos servidores públicos municipais ou
estaduais/distritais porque não foi pensado para eles. Ao se analisar o Projeto de Lei nº 63/1947, que deu
origem à Lei nº 1.046/1950, bem como sua respectiva exposição de motivos, é possível constatar que a
intenção do legislador era disciplinar o empréstimo consignado tão somente na esfera dos servidores
públicos da União. STJ. 2ª Turma. REsp 1.835.511-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 07/12/2021(Info 721).
Obs: a 3ª Turma do STJ entende que o art. 16 da Lei nº 1.046/1950 também não pode ser aplicado aos
Qual deve ser o valor da indenização na hipótese de perdimento total do bem segurado? Ainda que o
sinistro tenha ocasionado a perda total do bem, a indenização securitária deve ser calculada com base no
prejuízo real suportado pelo segurado, sendo o valor previsto na apólice, salvo expressa disposição em
contrário, mero teto indenizatório. A indenização a ser recebida pelo segurado no caso de sinistro deve
corresponder ao real prejuízo do interesse segurado, normalmente apurado por perícia técnica. O limite
máximo é o da garantia fixada na apólice. Se os prejuízos forem menores do que o limite máximo fixado na
apólice, o segurador só está obrigado a pagar por aquilo que realmente aconteceu. Desse modo, podemos
afirmar que, na hipótese de perda total do bem segurado, o valor da indenização só corresponderá ao
montante integral da apólice se o valor segurado, no momento do sinistro, não for menor. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.943.335-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/12/2021 (Info 722).
INFORMATIVOS 2022.1 - 49
O termo inicial dos juros de mora relativos às diferenças dos aluguéis vencidos será a data para
pagamento fixada na sentença ou a data da intimação do devedor - prevista no art. 523 do CPC - para
pagamento na fase de cumprimento de sentença. Qual será o termo inicial dos juros de mora relativos às
diferenças dos aluguéis vencidos? Depende: 1) Se, na sentença, for prevista uma data para pagamento: o
termo inicial dos juros será esse dia. Assim, se a própria sentença marcar data para pagamento das
diferenças, incorrerá em mora o devedor que não adimplir no termo estipulado, pois esta data integrará,
definitivamente, o título executivo. Trata-se de hipótese de mora ex re. 2) Se, na sentença, não for prevista
data para pagamento: os juros serão contados a partir da data em que o devedor for intimado para pagar na
fase de cumprimento de sentença. Inexistindo o referido prazo na própria sentença, o devedor deverá ser
interpelado para pagar, sob pena de incidir em mora. Trata-se, aqui, de mora ex persona. A teor do disposto
no art. 523 do CPC, deve-se considerar que essa interpelação do devedor para a sua constituição em mora
ocorre com a intimação para o cumprimento definitivo da sentença. Somente com a intimação do art. 523 do
CPC/2015 é que o devedor se verá adstrito a pagar as diferenças de aluguéis, motivo pelo qual, caso não o
faça, incorrerá em mora. STJ. 3ª Turma. REsp 1.929.806-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/12/2021
(Info 722).
contra o segurado prescreve em 1 ano. É ânuo o prazo prescricional para exercício de qualquer pretensão
(principais, secundários ou anexos) derivados do contrato de seguro, ex vi do disposto no artigo 206, § 1º, II,
"b", do Código Civil de 2002 (artigo 178, § 6º, II, do Código Civil de 1916). STJ. 2ª Seção. REsp 1.303.374-ES, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 30/11/2021 (Tema IAC 2) (Info 723).
Prazo prescricional para a seguradora cobrar do segurado prêmios inadimplidos nos seguros de
ânuo para a seguradora cobrar do segurado prêmios inadimplidos nos seguros de responsabilidade civil do
transportador rodoviário de carga (RCTR-C e RCF-DC) conta-se a partir do vencimento de cada título, ficha de
compensação ou boleto, sendo, para os prêmios calculados com base no valor dos bens ou mercadorias
averbados (apólice aberta), o vencimento de cada fatura ou conta mensal. STJ. 3ª Turma.REsp 1.947.702-SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/12/2021 (Info 723).
A contagem do prazo prescricional de 1 ano que o segurado possui para exigir a indenização da
seguradora somente se inicia na data em que o segurado toma ciência de que a seguradora se recusou
a pagar. Nos contratos de seguro em geral, a ciência do segurado acerca da recusa da cobertura securitária é
o termo inicial do prazo prescricional da pretensão do segurado em face da seguradora. STJ. 3ª Turma. REsp
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A cláusula de eleição de foro firmada entre a autora do dano e o segurado não é oponível à
segurado. Caso adaptado: José contratou transportadora para levar bens de sua propriedade em Paris
(França) para Miami (EUA). A fim de se precaver contra possíveis prejuízos decorrentes do transporte, José
celebrou um contrato de seguro com uma seguradora. Durante o transporte, houve algumas avarias nos
bens de José, o que lhe causou um prejuízo de R$ 100 mil. A seguradora pagou essa quantia em favor de José
a título de indenização. Em seguida, a seguradora ingressou com ação regressiva contra a transportadora
pedindo o reembolso. A ação de regresso foi proposta no Brasil, na vara cível da comarca do Rio Janeiro. A ré
suscitou a incompetência do juízo alegando que, no contrato firmado entre ela e José, havia uma cláusula de
eleição de foro fixando o Condado de Los Angeles, Califórnia, como competente para dirimir as questões
relacionadas com o ajuste. O STJ não concordou com a ré. O CC trata da relação jurídica obrigacional
existente entre o credor e o devedor da dívida, prevendo, com a sub-rogação, hipótese de substituição do
credor nessa relação que é de direito material. Assim, o instituto da sub-rogação transfere o crédito apenas
com suas características de direito material. Logo, a cláusula de eleição do foro estabelecida no contrato
entre segurado e transportador não opera efeitos com relação ao agente segurador sub-rogado. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.962.113-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2022 (Info 730).
O seguro de vida não pode ser instituído por pessoa casada em benefício de parceiro em relação
concubinária. A doutrina e a jurisprudência afirmam que é proibido que a concubina seja a beneficiária do
seguro de vida. Essa conclusão é baseada em uma interpretação teleológica dos arts. 550 e 793 do Código
Civil. Vale ressaltar que essa interpretação existe desde o Código Civil de 1916. Para o STJ, esse entendimento
se harmoniza com o recente julgamento pelo STF do RE 1.045.273/SE, com repercussão geral reconhecida, no
qual foi estabelecida a seguinte tese: “A preexistência de casamento ou de união estável de um dos
conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723, § 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo
vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever
1.391.954 - RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 22/03/2022 (Info 731).
Termo inicial dos juros de mora incidentes sobre as diferenças entre os valores do aluguel
estabelecido no contrato e aquele fixado na ação renovatória. Assunto já apreciado no Info 722-STJ. O
termo inicial dos juros de mora incidentes sobre as diferenças entre os valores do aluguel estabelecido no
contrato e aquele fixado na ação renovatória será: a) a data para pagamento fixada na própria sentença
transitada em julgado (mora ex re); ou b) a data da intimação do devedor para pagamento na fase de
cumprimento de sentença (mora ex persona). Deve-se perquirir se a sentença da ação renovatória fixa prazo
para o pagamento do saldo devedor, haja vista que, se o fizer, a mora do devedor se dará com o trânsito em
julgado (mora ex re), mas caso o título executivo judicial não faça referência ao prazo para adimplemento,
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caberá ao credor interpelar o devedor para pagamento (mora ex persona). STJ. 3ª Turma. REsp 1.888.401-DF,
Caso Campari. Situação adaptada: Campari é uma marca de bebida alcóolica surgida há muitos anos
na Itália. Na década de 1970, a Campari celebrou contrato de distribuição com uma empresa brasileira
(DSB), que seria a responsável pela produção, distribuição e comercialização da bebida no Brasil. Após
muitos anos de contrato, a Campari decidiu não mais renovar o contrato e constituiu uma empresa própria
para fazer as atividades que eram desenvolvidas pela contratada. A DSB ajuizou ação de indenização contra a
Campari do Brasil Ltda alegando que a ré, de forma ilícita, apropriou-se de toda a estrutura de vendas e
distribuição montada pela DSB, com vistas a criar sua própria organização de distribuição e venda do produto
Campari. Requereu indenização pela apropriação indevida de todo o seu know-how relativo à sua estrutura
de vendas e distribuição de produtos, de sua clientela, em resumo, de todo esse patrimônio incorpóreo
desenvolvido por décadas. Para o STJ, a autora não tem direito à indenização. Nos contratos de distribuição é
normal que o produtor seja amplamente informado e participe das técnicas mercadológicas usuais de venda
desenvolvidas pela distribuidora e de seu campo de atuação. Essas informações não configuram expertise
singular indenizável, ou seja, não é cabível, em regra, indenização pelo simples fato de o produtor utilizar
essas informações para continuar vendendo o produto no futuro sem a participação da empresa
distribuidora. Para que a Campari fosse condenada a indenizar seria necessário se provar que ela se utilizou
de know-how secreto e original da distribuidora, o que não é o caso. Sem essa demonstração, o que se
conclui é que a Campari utilizou-se dos conhecimentos e informações que adquiriu ao longo de todos esses
anos de contrato em função do exercício legítimo do seu poder de controle na qualidade de fornecedor sobre
o seu distribuidor exclusivo. Vale ressaltar que, por força do próprio contrato, a empresa distribuidora
deveria fornecer à Campari as informações sobre estratégias de vendas, marketing, base de consumidores
etc. Assim, aquilo que a autora afirma que a ré se apropriou são informações que, pelo contrato, já deveriam
ser fornecidas. Isso afasta o caráter original e/ou secreto desses dados. Ademais, a formação de clientela está
notoriedade da marca, e não ao esforço e à dedicação do distribuidor. Dessa feita, no caso, não se identifica
nenhum elemento ou técnica distintiva original ou protegida por sigilo, legal ou contratualmente, a indicar
apropriação indevida de know-how, sendo certo que a organização de lista de clientes ou a dinâmica de
vendas transferida contratualmente não tem o condão de embasar pedido indenizatório de danos
emergentes ou de lucros cessantes. STJ. 3ª Turma.REsp 1.727.824-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Nos contratos de seguro, o valor de indenização a ser recebido na hipótese de ocorrência do evento
segurado é estabelecido previamente no contrato e, por isso, não há a "guarda" dos prêmios.
Nos seguros de vida, o valor de indenização a ser recebido na hipótese de ocorrência do evento segurado é
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estabelecido previamente no contrato e, por isso, não há a "guarda" dos valores produtos da arrecadação, ou
Nesse cenário, de fato, falta ao segurado, bem como ao eventual beneficiário, interesse processual para
promover a ação de exigir contas decorrente do contrato de seguro porque, nessa hipótese, tratando-se de
negócio aleatório, falta à pretensão a premissa fática essencial, qual seja, a existência da administração de
Por conseguinte, não é devida a prestação de contas em relação ao valor recebido pela segurada, a título do
Em outras palavras , não é o caso de exigir a prestação de contas dos valores recebidos da seguradora, tendo
em vista que a sua obrigação jamais foi a de investir ou administrar o valor recebido, mas sim o de pagar ao
segurado, quando do evento "saúde", o valor previamente delineado na apólice. REsp 1.738.657-DF, Rel. Min.
Moura Ribeiro, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 14/06/2022. (Info 741)
A situação decorrente da pandemia pela Covid-19 não constitui fato superveniente apto a viabilizar a
valor das mensalidades. REsp 1.998.206-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade,
Nos contratos de mútuo celebrados pelas entidades fechadas de previdência complementar com seus
capitalização de juros somente na periodicidade anual, desde que pactuada, após a entrada em vigor
do Código Civil de 2002. REsp 1.854.818-DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, Quarta
É necessária a exigência geral de outorga do cônjuge para prestar fiança, sendo indiferente o fato de o
da segurança econômica familiar. REsp 1.525.638-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por
Em caso de perda total do bem segurado, a indenização securitária deve corresponder ao valor do
efetivo prejuízo experimentado no momento do sinistro, observado, contudo, o valor máximo previsto
na apólice do seguro de dano, nos termos dos arts. 778 e 781 do CC/2002. REsp 1.955.422-PR, Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por maioria, julgado em 14/06/2022. (Info 742)
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DIREITO AO ESQUECIMENTO
considerado incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro. Logo, não é capaz de justificar a atribuição
da obrigação de excluir a publicação relativa a fatos verídicos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.961.581-MS, Rel. Min.
NOME
Não é cabível, sem motivação idônea, a alteração do nome de menor para exclusão do agnome “filho”
e inclusão do sobrenome materno. Exemplo hipotético: Carlos Barbosa e Helena Garcia tiveram um filho e
deram-lhe o nome de Carlos Barbosa Filho. Vamos analisar cada uma das partes que compõem o nome desta
criança. Carlos e Helena se divorciaram. Helena ingressou com ação judicial pedindo para que fosse incluído
seu sobrenome (Garcia) no nome do filho e que, como consequência, fosse excluído o agnome “Filho”. Em
outras palavras, Helena pediu que o nome de seu filho passasse a ser Carlos Garcia Barbosa. Helena
argumentou que essa alteração teria o objetivo de atender ao melhor interesse da criança, por propiciar sua
melhor identificação e gerar um maior estreitamento de laços para com a família materna. O STJ entendeu
que o pedido não se baseava em motivo idôneo e negou a alteração. Aquele que recebe o nome de seu
genitor acrescido do agnome “filho” ou “filha” não tem nenhuma mitigação do vínculo com as famílias de seus
genitores, tampouco sofre constrangimento por não ter os mesmos sobrenomes de eventual irmão, pois não
é função do nome de família estreitar ligação afetiva. Além disso, os nomes da mãe e dos avós maternos
constam na certidão de nascimento. STJ. 4ª Turma. REsp 1.731.091-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
A discrepância entre a assinatura artística e o nome registral não consubstancia situação excepcional
e motivo justificado à alteração da grafia do apelido de família. Caso concreto: o sobrenome do artista
plástico Romero Britto, mundialmente conhecido, é grafado com apenas uma letra “t” (Brito). Sua assinatura
artística, contudo, é feita com duas letras “t” (Britto). O artista ajuizou, então, uma ação pedindo a alteração
do seu patronímico (de Brito para Britto). O pedido não foi acolhido. Como o sobrenome é também uma
característica exterior de qualificação familiar, não é possível a sua livre disposição. Assim, o indivíduo não
pode alterar o patronímico (apelido de família) para satisfazer interesse exclusivamente estético e pessoal. A
modificação pretendida alteraria a própria grafia do apelido de família e, assim, representaria violação à
regra registral que exige a preservação do sobrenome, com o objetivo de indicar a estirpe familiar, o que tem
relação com o próprio interesse público. A discrepância entre a assinatura artística e o nome registral não se
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consubstancia em situação excepcional e motivo justificado para a alteração pretendida. O nome do autor da
obra de arte, lançado por ele nos trabalhos que executa, pode ser escrito da forma como ele bem desejar,
sem que tal prática importe em consequência alguma ao autor ou a terceiros, pois se trata de uma opção de
cunho absolutamente subjetivo, sem impedimento de qualquer ordem. Todavia, a utilização de nome de
família, de modo geral, que extrapole o objeto criado pelo artista, com acréscimo de letras que não constam
do registro original, não para sanar equívoco, mas para atender a desejo pessoal, não está elencado pela lei
como um motivo que autorize a modificação do assento de nascimento. STJ. 4ª Turma. REsp 1.729.402-SP,
separação obrigatória e proíbam até mesmo a comunhão dos bens adquiridos com o esforço comum,
afastando a Súmula 377 do STF. No casamento ou na união estável regidos pelo regime da separação
estipulando o que melhor lhes aprouver em relação aos bens futuros, pactuem cláusula mais protetiva ao
regime legal, com o afastamento da Súmula 377 do STF, impedindo a comunhão dos aquestos. A mens legis
do art. 1.641, II, do Código Civil é conferir proteção ao patrimônio do idoso que está se casando e aos
interesses de sua prole, impedindo a comunicação dos aquestos. Por uma interpretação teleológica da
norma, é possível que o pacto antenupcial venha a estabelecer cláusula ainda mais protetiva aos bens do
nubente septuagenário, preservando o espírito do Código Civil de impedir a comunhão dos bens do ancião.
casamento. STJ. 4ª Turma. REsp 1.922.347-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/12/2021 (Info 723).
Os valores depositados em planos abertos de previdência privada durante a vida em comum do casal,
previdência complementar aberta equiparam-se a investimentos financeiros como outro qualquer. Deste
modo, rompida a sociedade conjugal, tais valores devem ser partilhados conforme o regime de bens. Por
outro lado, as contribuições feitas para plano de previdência fechado, em percentual do salário do
empregado, aportadas pelo beneficiário e pelo patrocinador, conforme definido pelo estatuto da entidade,
não integram o patrimônio sujeito à comunhão de bens a ser partilhado quando da extinção do vínculo
conjugal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.545.217-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 07/12/2021 (Info 723). Os valores depositados em planos de previdência privada durante a vida
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em comum do casal, integram o patrimônio comum e devem ser partilhados? • se for um plano ABERTO: SIM.
casamento realizado quando um dos contraentes está em iminente risco de vida, não houve a prévia
habilitação para o matrimônio e não se conseguiu fazer com que a autoridade que poderia presidir o
casamento estivesse presente. Neste caso, o casamento é realizado perante 6 testemunhas. O art. 1.541 do
CC afirma que, depois que o casamento for realizado, as testemunhas deverão comparecer perante o juiz, no
prazo de 10 dias, para declarar o que aconteceu. Esse prazo é absoluto ou pode ser flexibilizado? Se as
testemunhas comparecerem perante o juiz após esse prazo mesmo assim será possível reconhecer a
validade e eficácia do casamento nuncupativo? SIM. O prazo de 10 dias para que as testemunhas
compareçam à autoridade judicial é uma formalidade do ato, no entanto, não está relacionado com a sua
essência ou substância. Logo, esse prazo não está relacionado com a existência, validade ou eficácia do ato.
Desse modo, esse prazo consiste, em tese, em formalidade suscetível de flexibilização, especialmente
quando constatada a ausência de má-fé. Assim, não é adequado impedir a formalização do casamento
apenas por esse fundamento, sem perquirir, antes ou conjuntamente, se estão presentes os demais
requisitos estabelecidos pelo legislador, especialmente àqueles que digam respeito à essência do ato. O
desrespeito ao prazo deve ser contextualizado para que possa, eventualmente, ser mitigado. STJ. 3ª Turma.
Resp 1.978.121/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2022 (Info 730).
Prazo prescricional para pedir a restituição da caução prestada em contrato de locação: 3 anos. É
trienal o prazo prescricional aplicável à pretensão de restituição da caução prestada em contrato de locação,
com fundamento no art. 206, § 3º, I, do Código Civil: “Art. 206. Prescreve: § 3º Em três anos: I - a pretensão
relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;” A caução é um pacto acessório do contrato de locação.
Logo, o acessório deve seguir o mesmo prazo prescricional do contrato principal. Não há dúvidas que a
caução é uma garantia prestada ao contrato de locação, constituindo-se, portanto, um acessório ao contrato
gravitação jurídica, o acessório deve seguir a sorte do principal, isto é, a aplicação do prazo trienal à
pretensão de restituição da caução decorre da incidência do 206, § 3º, I, do CC ao contrato de locação. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.967.725-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
O prazo máximo da renovação compulsória do contrato de locação comercial será de 5 anos, ainda
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que a vigência da avença locatícia supere esse período. REsp 1.990.552-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta
DIREITO AUTORAL
É lícita a divulgação de paródia sem a indicação do autor da obra originária. Caso concreto: programa de
TV Pânico na Band fez uma paródia de determinada música. O compositor da canção ajuizou ação de
indenização por danos morais. O pedido foi julgado improcedente. A paródia é forma de expressão do
pensamento, é imitação cômica de composição literária, filme, música, obra qualquer, dotada de comicidade,
que se utiliza do deboche e da ironia para entreter. É interpretação nova, adaptação de obra já existente a
um novo contexto, com versão diferente, debochada, satírica. As paródias são permitidas e o autor da obra
musical, em regra, não pode impedir a sua veiculação. Tanto que a paródia é considerada como uma
limitação do direito de autor, conforme prevê o art. 47 da Lei nº 9.610/98. Assim, se respeitados os limites da
paródia, não é necessária prévia autorização do autor nem enseja pagamento de indenização, não se
aplicando o art. 29 da Lei nº 9.610/98. Vale ressaltar, por fim, que não há, na Lei de Direitos Autorais,
qualquer dispositivo que imponha, quando do uso da paródia, o anúncio ou a indicação do nome do autor da
obra originária. STJ. 3ª Turma. REsp 1.967.264-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
SUCESSÕES
O herdeiro que seja autor, coautor ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso
praticado contra os ascendentes fica excluído da sucessão. É juridicamente possível o pedido de exclusão
do herdeiro em virtude da prática de ato infracional análogo ao homicídio, doloso e consumado, contra os
pais, à luz da regra do art. 1.814, I, do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1.938.984-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 15/02/2022 (Info 725).Indignidade são situações previstas no Código Civil nas quais o indivíduo
que normalmente iria ter direito à herança, ficará impedido de recebê-la em virtude de ter praticado uma
conduta nociva em relação ao autor da herança ou seus familiares. Trata-se, portanto, de uma causa de
exclusão da sucessão. A indignidade é considerada uma sanção civil aplicada ao herdeiro ou legatário
acusado de atos reprováveis contra o falecido. As hipóteses de indignidade estão previstas no art. 1.814 do
Código Civil, que traz um rol taxativo, que não admite analogia nem interpretação extensiva. Veja o que diz o
inciso I: O Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I - que houverem sido autores,
co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
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seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; Imagine que o filho, adolescente de 17 anos, ceifa
dolosamente a vida dos pais. Neste caso, o filho, tecnicamente, não praticou homicídio, mas sim ato
infracional análogo a homicídio. Mesmo assim, a presente situação poderá ser enquadrada no inciso I do art.
1.814 do CC? Sim. A regra do art. 1.814, I, do CC/2002, se interpretada literalmente, induziria ao resultado de
que o uso da palavra “homicídio” possuiria um sentido único, importado diretamente da legislação penal para
a civil, razão pela qual o ato infracional análogo ao homicídio praticado pelo filho contra os pais não poderia
acarretar a exclusão da sucessão, pois, tecnicamente, homicídio não houve. Ocorre que não se pode fazer
uma mera interpretação literal. A partir de uma perspectiva teleológica-finalística conclui-se que o objetivo do
enunciado normativo do art. 1.814, I, do CC é o de proibir que tenha direito à herança quem atentar,
propositalmente, contra a vida de seus pais. Logo, apesar de existir uma diferença técnico-jurídica entre
homicídio e ato análogo a homicídio, essa distinção tem importância apenas no âmbito penal, mas não
possui a mesma relevância na esfera cível, não devendo ser levada em consideração para fins de exclusão da
herança, sob pena de ofensa aos valores e às finalidades que nortearam a criação da norma e de completo
esvaziamento de seu conteúdo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.943.848-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
Tem direito ao recebimento de aluguéis a parte que, sem vínculo de parentalidade com a cônjuge
supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de cujus. REsp 1.830.080-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 29/04/2022. (Info 734)
COMPENSAÇÃO
A prescrição somente obsta a compensação se for anterior ao momento da coexistência das dívidas.
Caso hipotético: João deve R$ 100 mil a Pedro. Essa dívida surgiu em 2018. Como não houve o pagamento,
em 2022, Pedro ajuizou ação de cobrança contra ele. Ao ser citado, João apresentou contestação admitindo
que existe a dívida. Alegou, contudo, que Pedro também lhe deve R$ 80 mil. Essa dívida surgiu em 2014.
Diante disso, João pediu a compensação das obrigações e que, ao final, só teria que pagar R$ 20 mil. Pedro se
insurgiu contra isso argumentando que esses R$ 80 mil que João está cobrando estão prescritos desde 2019.
Logo, não é mais possível exigir a quantia ainda que para fins de compensação. O argumento de Pedro deve
ser acolhido? Não. A prescrição somente obstará (impedirá) a compensação se ela for anterior ao momento
da coexistência das dívidas. Se o prazo prescricional se completou posteriormente a esse fato, tal
circunstância não constitui empecilho à compensação dos débitos. Foi justamente o exemplo dado acima. No
momento em que surgiu a dívida de João para com Pedro (2018), a dívida de Pedro para com João ainda
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existia. Logo, houve um período de coexistência de dívidas exigíveis. STJ. 3ª Turma. REsp 1.969.468-SP, Rel.
PROPRIEDADE INTELECTUAL
É legal a cláusula contratual que confere à gravadora a propriedade dos masters de obra musical. Caso
adaptado: na década de 1960, o grande cantor João Gilberto celebrou contratos com a gravadora EMI para a
gravação de discos de vinil (Long Plays – LPs). O contrato chegou ao fim e, em 2013, o cantor ajuizou ação
contra a gravadora pedindo a devolução das fitas masters dos LP´s gravados. O pedido não foi acolhido. A fita
master (também chamada apenas de master) é o resultado final do processo de criação. O master pode ser
copiado em vinil, CD ou fita magnética e constitui um fonograma, para os fins do art. 5º, IX, da Lei nº 9.610/98
(Lei de Direitos Autorais). O direito autoral distingue o corpus misticum do corpus mechanicum: a) corpus
misticum: é a criação autoral propriamente dita, ou seja, é a obra imaterial fruto do espírito criativo humano;
b) corpus mechanicum: é o meio físico no qual essa criação autoral se encontra materializada. O master,
assim como as cópias que dela podem ser extraídas, são classificadas como bens corpóreos (corpus
mechanicum) e, nessa condição, podem ser alienados. Isso significa que a gravadora comprou esses bens
corpóreos (fitas masters), sendo plenamente válida essa aquisição. Quem adquire um livro ou um vinil passa
a ser o proprietário desse objeto, desse corpus mechanicum. Se o compositor/intérprete de uma canção não
transmutação operada pelo seu direito moral de autor, tampouco pode fazê-lo em relação aos masters, uma
vez que estes são apenas uma forma diferenciada de apresentação do mesmo fonograma. Não se vislumbra,
por essa razão, nenhuma ilegalidade flagrante na cláusula contratual que conferiu a propriedade dos masters
à gravadora. STJ. 3ª Turma. REsp 1.727.950-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 08/03/2022 (Info 728).
DOAÇÃO INOFICIOSA
Na ação de nulidade de doação inoficiosa, o prazo prescricional é contado a partir do registro do ato
jurídico que se pretende anular, salvo se houver anterior ciência inequívoca do suposto prejudicado.
Doação inoficiosa é a que invade a legítima dos herdeiros necessários. A pessoa que tenha herdeiros
necessários só pode doar até o limite máximo da metade de seu patrimônio, considerando que a outra
metade é a chamada “legítima” (art. 1.846 do CC) e pertence aos herdeiros necessários. O art. 549 do CC
afirma que é nula. A ação cabível para se obter a anulação é a ação de nulidade de doação inoficiosa (ação de
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redução), que pode ser proposta pelos herdeiros necessários do doador, no prazo prescricional de 10 anos.
Quando se inicia esse prazo? Regra: conta-se a partir do registro do ato jurídico que se pretende anular.
Exceção: este prazo pode ser iniciado antes se ficar comprovado que, em momento anterior ao registro, o
suposto prejudicado já teve ciência inequívoca do ato. Caso concreto no qual o STJ aplicou a exceção acima
explicada: Rui e Sandra são irmãos. Em 09/09/2005, foi lavrada escritura pública na qual os pais doaram para
Sandra um bem imóvel muito valioso. Vale ressaltar que essa doação foi inoficiosa, pois atingiu a parte
indisponível do patrimônio dos doadores, ferindo o direito de Rui à legítima. Rui, mesmo não sendo doador
18/05/2009, essa doação foi registrada no cartório de registro de imóveis. Em 22/08/2018, Rui ajuizou ação
pedindo a nulidade dessa doação por ser inoficiosa. Sandra arguiu a prescrição da pretensão considerando
que o prazo de 10 anos teria se iniciado em 09/09/2005 (data da lavratura da escritura pública). Rui se
defendeu alegando que o termo inicial da prescrição foi 18/05/2009, quando ocorreu o registro do ato
jurídico que se pretende anular. O STJ concordou com os argumentos de Sandra. Isso porque, no momento
da lavratura da escritura pública, Rui já teve ciência inequívoca do ato. STJ. 3ª Turma. REsp 1.933.685-SP, Rel.
A condição resolutiva de doação verbal estabelecida entre pai e filho e desconhecida por terceiros não
produz efeitos jurídicos contra estes. Situação hipotética: João era sócio de uma empresa. Ele estava
enfrentando notícias negativas na imprensa e, para não comprometer a empresa, decidiu doar suas cotas
sociais para seu filho Henrique. A doação, contudo, tinha uma condição resolutiva: se João contraísse um
novo matrimônio, Henrique teria que devolver as cotas ao pai. Vale ressaltar, contudo, que essa condição
resolutiva foi verbal e não constou no documento de alteração societária. Algum tempo depois, João contraiu
novas núpcias e, portanto, ocorreu a condição resolutiva. João solicitou, então, que Henrique devolvesse as
cotas em conformidade com o negócio jurídico estabelecido entre as partes. Henrique negou-se a alegando
que já até doou as cotas sociais para a sua filha Jaqueline. Diante desse cenário, João ajuizou ação de
obrigação de fazer contra Henrique e Jaqueline pedindo para que os réus fossem condenados a devolver as
cotas sociais. Durante a instrução, foram ouvidas duas testemunhas que presenciaram a reunião na qual
João combinou de doar as cotas para Henrique e atestaram que entre eles ficou combinada a referida
condição resolutiva. Apesar disso, o pedido deve ser julgado improcedente. Não pairam dúvidas acerca da
existência da combinação entre pai e filho (doador e donatário). No entanto, não é possível o reconhecimento
de que esse arranjo estabelecido entre os dois tenha o condão de atingir terceiros, que dele não
participaram. Assim, em que pese ter ficado comprovado o ajuste feito entre João e Henrique não é possível
submeter aos demais sócios uma condição inserida num acordo verbal do qual eles não fizeram parte. Como
se sabe, o contrato faz lei entre as partes, mas não produz efeitos na esfera juridicamente protegida de
terceiros que não tomaram parte na relação jurídica de direito material. STJ. 3ª Turma.REsp 1.905.612-MA,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 29/03/2022 (Info 731).
INFORMATIVOS 2022.1 - 60
SEPARAÇÃO
Sob a égide do CPC/1973, inexiste incompatibilidade lógica entre o acordo efetuado quanto à
Caso hipotético: Soraya ajuizou ação de separação judicial litigiosa contra Ferdinando pedindo: a) separação;
danos morais e materiais. Na audiência de conciliação, as partes celebraram transação na qual houve acordo
quanto à separação (houve a conversão da separação litigiosa em consensual), guarda dos filhos e alimentos.
O juiz homologou o acordo, mas extinguiu o processo sem resolução do mérito quanto aos pedidos
condenatórios. O STJ não concordou com a decisão. A circunstância de ter sido celebrado acordo no que
tange à separação, aos alimentos, visitas e guarda da prole comum (resultado da transformação consensual
do pedido original de separação judicial), não impede a apreciação judicial das demais pretensões
inicialmente deduzidas, neste caso, de cunho condenatório. Não existe qualquer incompatibilidade lógica
entre o acordo efetuado quanto à pretensão principal (separação) e o prosseguimento do feito quanto às
pretensões conexas. STJ. 4ª Turma. REsp 1.560.520/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/03/2022 (Info
729).
DIREITOS REAIS
O indivíduo beneficiado com um imóvel do PAR (arrendatário do imóvel) pode ceder esse direito para
outra pessoa? A cessão, pelo arrendatário do imóvel, de posição contratual ou de direitos decorrentes de
contrato de arrendamento residencial no âmbito do PAR, somente será válida se forem cumpridos os
seguintes requisitos: I) atendimento, pelo novo arrendatário, dos critérios para ingresso no PAR; II) respeito
de eventual fila para ingresso no PAR; e III) consentimento prévio pela Caixa Econômica Federal, na condição
de agente operadora do Programa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.950.000-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
A qualificação da posse em de boa ou má-fé depende se o possuidor ignora ou não o vício ou obstáculo que
impede a aquisição da coisa (art. 1.201 do CC). Não há nenhuma anormalidade na transmutação da natureza
jurídica da posse, porque é instituto que não é estanque, sendo certo que, modificado o contexto de fato e de
INFORMATIVOS 2022.1 - 61
direito relacionado àquele que tem a coisa em seu poder, é natural que se altere também a qualidade da
determinado período - portanto, o direito à indenização por todas as benfeitorias levantadas nesse tempo
(art. 1.219 do CC) - e, em seguida, reconhece-se a modificação da qualidade da posse para má-fé, para,
doravante, só admitir o pagamento das benfeitorias necessárias e afastar do possuidor o direito a qualquer
retenção (art. 1.220 do CC). No caso, quando foi comprado o bem, ainda que mediante contrato de
financiamento, não havia tecnicamente nenhum impedimento para que fosse adquirida a propriedade do
imóvel, pelo que de boa-fé a posse; ao revés, no momento em que, em razão do inadimplemento das
parcelas daquele contrato, a credora hipotecária promove o leilão do bem, ao permanecer o particular de
maneira irregular no imóvel, a posse passa a se caracterizar como de má-fé. AREsp 1.013.333-MG, Rel. Min.
Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 03/05/2022. (Info 735)
autônomas adquiridas de incorporadora não titular do domínio do terreno e sem o devido registro do
memorial de incorporação no Cartório de Registro de Imóveis. REsp 1.770.095-DF, Rel. Min. Marco Aurélio
A solvência dos créditos privilegiados detidos por credores concorrentes (concurso particular)
constrito ser procedido de forma proporcional ao valor dos créditos (art. 962 do CC). O propósito
recursal consiste em definir se a anterioridade da penhora constitui critério a ser considerado para
estabelecimento da forma de satisfação dos créditos de igual privilégio em concurso particular de credores. A
norma do art. 908 do CPC/2015, segundo a qual deve ser observada a anterioridade da penhora (e que
repete, no que importa à espécie, o teor do art. 711 do CPC/1973), incide apenas e tão somente quando se
tratar de credores quirografários, não se aplicando, portanto, aos detentores de privilégio. Segundo a
doutrina, "a preferência emanada da anterioridade da penhora, porém, é condicional e eventual, visto que
apenas atua em sua plenitude quando concorrerem ao dinheiro penhorado, ou ao produto da alienação
judicial de outro bem, dois ou mais credores quirografários, não envolvendo credores pertencentes àquele
segundo grupo, cuja primazia é oriunda de direito material. Dessa forma, além de depender da solvência do
executado, pressuposto geral ao concurso particular de credores [...], para ser plenamente eficaz depende
também da inexistência de credores concorrentes com título legal à preferência". Desse modo, não havendo
necessidade de se perquirir acerca de qual credor obteve a penhora anteriormente, aplica-se ao concurso
INFORMATIVOS 2022.1 - 62
particular de credores formado por titulares de verbas privilegiadas de mesma natureza - como no particular
- a norma insculpida no art. 962 do Código Civil. STJ. REsp 1.987.941-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira
DIREITO CONSTITUCIONAL
“ADPF das favelas”. O STF determinou que: 1) o Estado do Rio de Janeiro elabore e encaminhe ao STF,
no prazo máximo de 90 dias, um plano para redução da letalidade policial e controle das violações aos
direitos humanos pelas forças de segurança, que apresente medidas objetivas, cronogramas
específicos e previsão dos recursos necessários para a sua implementação. 2) o emprego e a fiscalização
da legalidade do uso da força sejam feitos à luz dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas
de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei. 3) seja criado um grupo de trabalho sobre
Polícia Cidadã no Observatório de Direitos Humanos localizado no Conselho Nacional de Justiça; 4) nos
termos dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei, só se justifica o uso da força letal por agentes de Estado quando,
ressalvada a ineficácia da elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de risco
ou de violência, exauridos os demais meios, inclusive os de armas não-letais, e necessário para proteger a
vida ou prevenir um dano sério, decorrente de uma ameaça concreta e iminente. 5) as investigações de
incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes terão a prioridade absoluta; 6) No caso de
buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, devem ser observadas as
seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade: (i) a diligência, no caso específico de
cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada somente durante o dia, vedando-se, assim, o ingresso
forçado a domicílios à noite; (ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por base denúncia
anônima; (iii) a diligência deve ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto circunstanciado,
que deverá instruir eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por ato infracional
e ser remetido ao juízo da audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e (iv) a diligência
deve ser realizada nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina. 7) seja obrigatória a
de confrontos armados, sem prejuízo da atuação dos agentes públicos e das operações; 8) o Estado do Rio de
Janeiro, no prazo máximo de 180 dias, instale equipamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e
vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança, com o posterior armazenamento digital
INFORMATIVOS 2022.1 - 63
dos respectivos arquivos. STF. Plenário. ADPF 635 MC-ED/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2 e 3/02/2022
(Info 1042).
A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito manifestamente
aviltantes. É possível vislumbrar restrições à livre manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da
lei penal, em atos, discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos que
incitem a violência ou quando se tratar de discurso com intuito manifestamente difamatório. A garantia da
imunidade parlamentar não alcança os atos praticados sem claro nexo de vinculação recíproca entre o
discurso e o desempenho das funções parlamentares. Isso porque as garantias dos membros do Parlamento
são vislumbradas sob uma perspectiva funcional, ou seja, de proteção apenas das funções consideradas
essenciais aos integrantes do Poder Legislativo, independentemente de onde elas sejam exercidas. No caso,
os discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter injurioso e difamatório, de
forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese de prévia provocação ou retorsão imediata capaz de
excluir a tipificação, em tese, dos atos descritos nas queixas-crimes. Com base nesses entendimentos, a
Segunda Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos regimentais, recebeu queixas-crimes pelos delitos
dos arts. 139 e 140 do Código Penal. STF. 2ª Turma Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259 AgR/DF, Pet 8259 AgR/DF, Pet
8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF, Pet 8366 AgR/DF, relator Min. Celso de Mello, redator do
segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos deveres do Estado, devem operar com
estrita vinculação ao interesse público, observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e
garantias fundamentais. Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder a colheita, a
interesse privado de órgão ou de agente público. Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita
de informações de servidores com postura política contrária ao governo caracteriza desvio de finalidade e
associação, aos quais deve ser conferida máxima efetividade, pois essenciais ao regime democrático.
Ademais, os órgãos de inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do Estado, embora
sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo, submetem-se também ao crivo do Poder
Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido para confirmar a medida cautelar e declarar
informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, e as práticas cívicas de cidadãos,
servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de movimento político,
INFORMATIVOS 2022.1 - 64
professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam seus direitos
de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF. Plenário. ADPF 722/DF, relatora Min. Cármen Lúcia,
Não viola a Constituição a previsão legal de imposição das sanções administrativas ao condutor de
veículo automotor que se recuse à realização dos testes, exames clínicos ou perícias voltados a aferir
a influência de álcool ou outra substância psicoativa (art. 165-A e art. 277, §§ 2º e 3º, todos do Código
de Trânsito Brasileiro, na redação dada pela Lei 13.281/2016). RE 1224374/RS - ADI 4017/DF - ADI 4103/DF,
relator Min. Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022. (Tema 1079 RG) (Info 1055)
considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para apurar infração de sujeito
baseada em indícios concretos da prática do ato. ADI 4709/DF, relatora Min. Rosa Weber, julgamento
DIREITOS SOCIAIS
Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam
reajustes automáticos. A fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo mostra-se compatível com
o texto constitucional, desde que não ocorra vinculação a reajustes futuros. STF. Plenário. ADPF 53 Ref-MC/PI,
ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171 Ref-MC/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 18/02/2022 (Info 1044). No
mesmo sentido é a OJ 71, da SBDI-2 do TST: “A estipulação do salário profissional em múltiplos do salário
mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em vulneração do
referido preceito constitucional a fixação de correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo.”
EDUCAÇÃO
eclosão da pandemia de Covid-19 e no respectivo efeito de transposição de aulas presenciais para ambientes
virtuais, determinam às instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas
contraprestações dos contratos educacionais, sem considerar as peculiaridades dos efeitos da crise
INFORMATIVOS 2022.1 - 65
pandêmica em ambas as partes contratuais envolvidas na lide. Tese fixada pelo STF: É inconstitucional
decisão judicial que, sem considerar as circunstâncias fáticas efetivamente demonstradas, deixa de sopesar
os reais efeitos da pandemia em ambas as partes contratuais, e determina a concessão de descontos lineares
em mensalidades de cursos prestados por instituições de ensino superior. STF. Plenário. ADPF 706/DF e ADPF
condenação judicial, ele não precisa aplicar a quantia recebida na forma do art. 60, XII, do ADCT. O
caráter extraordinário dos valores de complementação do FUNDEB pagos pela União aos estados e aos
municípios, por força de condenação judicial, justifica o afastamento da subvinculação prevista nos arts. 60,
contratuais com recursos destinados ao FUNDEB, o que representaria indevido desvio de verbas
constitucionalmente vinculadas à educação. STF. Plenário. ADPF 528/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
DIREITO À SAÚDE
STF determinou à União o restabelecimento dos leitos de UTI destinados ao tratamento da Covid-19
que estavam custeados pelo Ministério da Saúde até dezembro de 2020, e que foram reduzidos nos
meses de janeiro e fevereiro de 2021. A União deve prestar suporte técnico e apoio financeiro para a
expansão da rede de UTI’s nos estados durante o período de emergência sanitária. STF. Plenário. ACO
3473/DF, ACO 3474/SP, ACO 3475/DF, ACO 3478/PI e ACO 3483/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em
Não se pode utilizar verbas do Fundeb para combater a pandemia da Covid-19. É vedada a utilização,
ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao Fundeb para ações de combate à pandemia do
novo coronavírus (Covid-19). Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus
impactos na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba constitucionalmente
vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico para fins diversos do que ela se destina. STF.
Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info 1044).
compulsoriedade da vacinação, conforme decidiu o STF; disque denúncia não pode ser utilizado para
queixas contra a obrigatoriedade da vacinação e das medidas restritivas contra a Covid. As notas
INFORMATIVOS 2022.1 - 66
concernente à compulsoriedade da imunização, podem desinformar a população, desestimulando a
vacinação contra a Covid-19. É vedado ao governo federal a utilização do canal de denúncias “Disque 100” do
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) para recebimento de queixas relacionadas à
vacinação contra a Covid-19, bem como para o recebimento de queixas relacionadas a restrições de direitos
consideradas legítimas pelo STF. Resumo do caso concreto: o MMFDH produziu uma nota técnica em que se
Saúde divulgou em seu site uma nota técnica dedicada unicamente a fornecer argumentos jurídicos para
sustentar que a vacinação de crianças não é obrigatória. MMFDH estava disponibilizando canal de denúncia
para que a população apresentasse queixas contra a vacinação e restrições da Covid. STF considerou que
essas práticas seriam ilegítimas, devendo as notas técnicas serem retificadas para que seja esclarecida a
validade da compulsoriedade da vacinação. Além disso, foi proibida a utilização do disque denúncia para a
finalidade com a qual estava sendo usada. STF. Plenário. ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo
É possível obrigar o Estado a fornecer medicamento off label? • Em regra, não é possível que o paciente
exija do poder público o fornecimento de medicamento para uso off label. Excepcionalmente, será
possível que o paciente exija o medicamento caso esse determinado uso fora da bula (off label) tenha
sido autorizado pela ANVISA. O Estado não é obrigado a fornecer medicamento para utilização off label,
salvo autorização da ANVISA. STJ. 1ª Seção. PUIL 2.101-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021
(Info 717).
É obrigatória a inclusão da União no polo passivo de demanda na qual se pede o fornecimento gratuito
de medicamento registrado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não incorporado aos
autoridade judicial no sentido de que a União deve necessariamente compor o polo passivo da lide está em
consonância com a tese fixada por este Tribunal em sede de embargos de declaração no RE 855.178 (Tema
793 da repercussão geral). Com base nesse entendimento, a Primeira Turma deu provimento a agravo
interno para negar seguimento a recurso extraordinário, mantendo a remessa à Justiça Federal determinada
na origem, bem como a medida liminar deferida, até que o juízo competente analise a causa. STF. RE 1286407
INFORMATIVOS 2022.1 - 67
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
É inconstitucional lei estadual que preveja que os serviços privados de educação são obrigados a
realizadas.
É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino a obrigação de
estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes. Lei fluminense dizia que os serviços
privados de educação prestados de forma contínua no Estado do Rio de Janeiro seriam obrigados a conceder,
declarou a inconstitucionalidade dessa previsão. A norma estadual, ao impor aos prestadores de serviços de
ensino a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes, promove
ingerência indevida em relações contratuais estabelecidas, sem que exista conduta abusiva por parte do
prestador. Logo, afronta o art. 22, I, da CF/88. STF. Plenário. ADI 6614/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, redator do
É inconstitucional a lei estadual que proíbe a cobrança de juros, multas e parcelas vencidas de
Paraíba, que previa o seguinte: Art. 1º Fica vedada a cobrança de juros, multas e demais encargos financeiros,
além da inscrição do consumidor junto aos órgãos de proteção ao crédito, em razão do inadimplemento de
consumidor no cumprimento de legislação vigente a época do inadimplemento. STF. Plenário. ADI 6938/PB,
É inconstitucional lei estadual que imponha obrigações às empresas seguradoras, sendo também
inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha obrigações ao DETRAN. Tema já
apreciado no Info 934-STF. É inconstitucional a lei estadual que disciplina, no âmbito do ente federado,
aspectos das relações entre seguradoras e segurados Esta lei estadual viola a competência privativa da União
para legislar sobre direito civil, seguros, trânsito e transporte (art. 22, I, VII e XI, da CF/88). São
inconstitucionais normas estaduais que disponham sobre relações contratuais securitárias, por
consubstanciarem tema de direito civil e seguros, afetos à competência legislativa privativa da União (art. 22, I
e VII, CF/88). É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que atribua competências ao
Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) Aplica-se, em âmbito estadual, o art. 61, § 1º, da Constituição
Federal, que consagra reserva de iniciativa do Chefe do Poder Executivo para iniciar o processo legislativo das
matérias nele constantes. A criação de atribuições, por meio de lei oriunda de projeto de iniciativa
parlamentar, a órgão vinculado à estrutura do Poder Executivo revela-se colidente com a reserva de iniciativa
INFORMATIVOS 2022.1 - 68
do Governador do Estado (arts. 61, § 1º, II, e, 84, VI, “a”, CF/88). STF. Plenário. ADI 6132/GO, Rel. Min. Rosa
MPTC não possui iniciativa legislativa, sua organização não é tratada por lei complementar e a CF/88
não autoriza que seus vencimentos e vantagens sejam equiparados aos do MP comum. O Ministério
Público junto ao Tribunal de Contas encontra-se estritamente vinculado à estrutura da Corte de Contas e não
detém autonomia jurídica e iniciativa legislativa para as leis que definem sua estrutura organizacional. É
inconstitucional a exigência de lei complementar para regular a organização do Ministério Público especial. A
Público especial e membros do Ministério Público comum. STF. Plenário. ADI 3804/AL, Rel. Min. Dias Toffoli,
É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em solo urbano de área de preservação
permanente (APP) fora das situações previstas em normas gerais editadas pela União. Os arts. 2º, III; 3º,
II, “c”; e 17, da Lei nº 20.922/2013, do Estado de Minas Gerais, ampliaram os casos de ocupação antrópica em
áreas de preservação permanente previstos na norma federal vigente à época (no caso, a Lei nº 11.977/2009,
revogada pela Lei nº 13.465/2017). Com isso, essa lei estadual, além de estar em descompasso com o
conjunto normativo elaborado pela União, flexibilizou a proteção ao meio ambiente local, tornando-o mais
propenso a sofrer danos. A legislação mineira, ao flexibilizar os casos de ocupação antrópica em áreas de
Preservação Permanente, invadiu a competência da União, que já havia editado norma que tratava da
regularização e ocupação fundiária em APPs. STF. Plenário. ADI 5675/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Lei estadual não pode proibir que os prestadores de serviço público de abastecimento de água e de
estadual que vede a inscrição em cadastro de proteção ao crédito de usuário inadimplente dos serviços de
abastecimento de água e esgotamento sanitário. STF. Plenário. ADI 6668/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Lei estadual pode obrigar empresas de TV por assinatura e estabelecimentos comerciais de venda a
fornecerem atendimento telefônico gratuito aos clientes. É válida lei estadual que obrigue empresas
telefônico gratuito a seus clientes. STF. Plenário. ADI 4118/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/2/2022
(Info 1045).
INFORMATIVOS 2022.1 - 69
A lei estadual não pode conceder porte de arma para Procuradores do Estado. A concessão de porte de
arma a procuradores estaduais, por lei estadual, é incompatível com a Constituição Federal. STF. Plenário. ADI
Análise da inconstitucionalidade de lei estadual que trouxe regras para a inclusão e exclusão de
consumidores dos cadastros de proteção ao crédito (ex: SPC/Serasa). 1) Lei estadual não pode exigir que
o consumidor, antes de ser inserido no cadastro restritivo, seja comunicado por meio de AR A adoção de
sistema de comunicação prévia a consumidor inadimplente por carta registrada com aviso de recebimento
configura desrespeito à Constituição Federal. 2) Lei estadual não pode exigir que seja dado ao consumidor
um prazo de tolerância antes da sua inserção no cadastro restritivo É inconstitucional a previsão, por lei
estadual, de “prazo de tolerância” a impedir que o nome do consumidor inadimplente seja imediatamente
consumidores não se qualificam como entidades certificadoras da certeza, liquidez e exigibilidade dos títulos
inadimplência do devedor não caracteriza violação do princípio da vedação ao retrocesso. STF. Plenário. ADI
5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 8/3/2022 (Info 1046).
É inconstitucional lei estadual que fixe a obrigatoriedade de divulgação diária de fotos de crianças
Catarina, previa “a obrigatoriedade diária de divulgação de fotos de crianças desaparecidas nos noticiários de
TV e jornais sediados” no Estado. Essa lei é inconstitucional sob os pontos de vista formal e material. A lei
estadual invadiu a competência privativa da União para legislar sobre radiodifusão de sons e imagens (art. 22,
IV, da CF/88). No que tange ao aspecto material, a lei estadual viola o princípio da livre iniciativa e a liberdade
de informação jornalística dos veículos de comunicação social (art. 220 da CF/88). Além disso, disciplina o
tema de forma diferente daquilo que prevê a Lei federal nº 12.127/2009, que criou o Cadastro Nacional de
Crianças e Adolescentes Desaparecidos. STF. Plenário. ADI 5292/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
Não há vício de iniciativa de lei na edição de norma de origem parlamentar que proíba a substituição
de trabalhador privado em greve por servidor público. Dispositivo legal, de iniciativa parlamentar, que foi
considerado constitucional: “ao servidor público do Distrito Federal é proibido substituir, sob qualquer
pretexto, trabalhadores de empresas privadas em greve”. A proibição de que o trabalhador privado em greve
seja substituído por servidor público não inibe a iniciativa do Governador do Distrito Federal para propor leis
sobre organização administrativa, servidores públicos e regime jurídico destes. STF. Plenário. ADI 1164/DF,
INFORMATIVOS 2022.1 - 70
Compete aos estados-membros a definição do prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário
rodoviário interestadual e internacional (art. 21, XII, “e”, da CF/88). Logo, compete à União privativamente
competência do Município (art. 30, V, da CF/88). Logo, como consequência, compete aos Municípios legislar
sobre o transporte coletivo intramunicipal. A Constituição Federal não trouxe uma regra expressa
dizendo de quem seria a competência para explorar os serviços de transporte intermunicipal. Diante
disso, a competência será dos Estados-membros, que possuem competência residual, na forma do art. 25, §
1º, da CF/88. O prazo de validade pode influenciar na política tarifária e, por consequência, impactar o
mais elastecido ou não, corresponde a um benefício que, por sua natureza, tem um custo. Logo, incumbe aos
respectiva política tarifária, à luz dos elementos que possam influenciá-la, como o prazo de validade do
bilhete, nos termos do art. 175 da Constituição. A União, ao dispor acerca do prazo de validade dos bilhetes
Estado-membro. STF. Plenário. ADI 4289/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 8/4/2022 (Info 1050).
É constitucional lei estadual que concede aos professores das redes públicas estadual e municipais de
edita lei concedendo meia-entrada para os professores das redes públicas estadual e municipais de ensino
atua no exercício da competência suplementar prevista no art. 24, § 2º, da Constituição Federal. Ao não
unidades federais de ensino, a legislação atacada não atuou de forma anti-isonômica. Os professores da rede
privada estão sob influência de outros mecanismos de incentivo e os professores da rede pública federal
estão dedicados quase exclusivamente ao ensino superior e à educação profissional e tecnológica. STF.
Plenário. ADI 3753/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/4/2022 (Info 1050).
operadoras de planos de saúde e seus usuários. Esses temas são relativos a direito civil e concernem à
política de seguros, matérias conferidas constitucionalmente à competência legislativa privativa da União, nos
termos do art. 22, I e VII, da CF (2). Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou
procedente o pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei
11.782/2020 do Estado da Paraíba. STF. Plenário. ADI 7029/PB, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual
finalizado em 06/05/2022.
É inconstitucional lei federal, de iniciativa parlamentar, que veda medida privativa e restritiva de
INFORMATIVOS 2022.1 - 71
liberdade a policiais e bombeiros militares dos estados, dos territórios e do Distrito Federal. ADI
6595/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022. (Info 1055)
É formalmente inconstitucional norma federal que concede anistia a policiais e bombeiros militares
melhorias de vencimentos e de condições de trabalho. ADI 4869/DF, relatora Min. Cármen Lúcia,
Tribunal de Contas estadual que veicule regras sobre prescrição e decadência a ele aplicáveis. ADI
5384/MG, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022. (Info 1056)
Não cabe à Constituição estadual instituir a figura das programações orçamentárias impositivas fora das
hipóteses previstas no regramento nacional. ADI 6308/RR, Min. Roberto Barroso, julgamento virtual
É inconstitucional, por ofensa ao princípio da separação dos Poderes, norma estadual que submete as
despesas com pessoal do Ministério Público de Contas aos limites orçamentários fixados para o Poder
Executivo. ADI 5563/RR, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022. (Info 1057)
É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino e de
telefonia celular a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes.
ADI 5399/SP - ADI 6191/SP,, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 9.6.2022. (Info 1058)
INTERVENÇÃO FEDERAL
Juiz prolatou sentença determinando a reintegração de posse em imóvel rural ocupado pelo MST;
apesar de a decisão ter sido proferida há muitos anos, a ordem nunca foi cumprida; deverá ser
interesse particular dos proprietários do imóvel. Na hipótese em análise, não há como reconhecer tenha o
ente estatal se mantido inerte, em afronta à decisão judicial, não havendo que se falar em recusa ilícita, a
ponto de justificar a intervenção, porquanto a situação fática comprovada nos autos revela questão de cunho
INFORMATIVOS 2022.1 - 72
social e coletivo, desbordando da esfera individual da parte autora. STJ. Corte Especial. IF 113-PR, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 06/04/2022 (Info 732). Obs: existem decisões mais antigas deferindo a intervenção:
STJ. Corte Especial. IF 115/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 21/6/2017.
PODER LEGISLATIVO
requisitar informações ao Poder Executivo. O art. 101 da CE/RJ estabelecia que “a qualquer Deputado”
responsabilidade, nos termos da lei, o não atendimento no prazo de trinta dias, ou a prestação de
caput desse dispositivo. O art. 49, X, da CF/88 é taxativo ao conferir exclusivamente às Casas do Poder
Legislativo a competência para fiscalizar os atos do Poder Executivo. Não se admite que norma estadual crie
outras modalidades de controle ou inovem a forma de exercício desse controle ultrapassando aquilo que foi
previsto na Constituição Federal, sob pena de violação ao princípio da separação dos poderes (art. 2º). STF.
Plenário. ADI 4700/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2021 (Info 1041).
PROCESSO LEGISLATIVO
O Poder Legislativo pode emendar projeto de lei de conversão de medida provisória quando a emenda
estiver associada ao tema e à finalidade original da medida provisória. O Poder Legislativo pode
emendar projeto de lei de conversão de medida provisória quando a emenda estiver associada ao tema e à
finalidade original da medida provisória. É constitucional o art. 6º da Lei 14.131/2021, que simplificou o
processo de concessão de benefício de auxílio por incapacidade temporária. STF. Plenário. ADI 6928/DF, Rel.
É inconstitucional norma de Constituição estadual que preveja quórum diverso de 3/5 dos membros
estabeleceu que, para a aprovação de emendas à Constituição estadual seria necessário o voto de 2/3 dos
Deputados Estaduais. Ocorre que a Constituição Federal diz que, para uma emenda alterar seu texto, é
necessário o voto de 3/5 dos Deputados Federais e Senadores (art. 60, § 2º). Logo, a CE/RO não seguiu o
modelo previsto na Constituição Federal. As regras básicas do processo legislativo previstas na Constituição
Federal são de observância obrigatória pelos Estados-membros por força do princípio da simetria (art. 25 da
INFORMATIVOS 2022.1 - 73
CF/88 c/c o art. 11 do ADCT). STF. Plenário. ADI 6453/RO, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/2/2022 (Info
1043).
É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que tramitam na Câmara
razões que justificam sua adoção. A previsão regimental de um regime de urgência que reduza as
formalidades processuais em casos específicos, reconhecidos pela maioria legislativa, não ofende o devido
interna corporis, não cabendo ao STF adentrar tal seara. Precedente. Quando não caracterizado o
meramente regimentais das Casas Legislativas. STF. Plenário. ADI 6968/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
A atribuição de iniciativa privativa ao Governador do Estado para leis que disponham sobre a
organização do Ministério Público estadual contraria o modelo delineado pela Constituição Federal
É inconstitucional a atribuição de iniciativa privativa a governador de estado para leis que disponham sobre a
organização do Ministério Público estadual. ADI 400/ES, relator Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min.
O poder de veto previsto no art. 66, § 1º, da Constituição não pode ser exercido após o decurso do
A prerrogativa do poder de veto presidencial somente pode ser exercida dentro do prazo expressamente
previsto na Constituição, não se admitindo exercê-la após a sua expiração. ADPF 893/DF, relatora Min.
Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022. (Info
1059)
TRIBUNAL DE CONTAS
O conselheiro do TCE não está sujeito a notificação ou intimação para comparecimento como
testemunha perante comissão parlamentar de investigação, podendo apenas ser convidado. Caso
concreto: Câmara Municipal instaurou Comissão de Investigação para apurar possível quebra de decoro
parlamentar envolvendo Vereadores. Dois conselheiros do TCE foram intimados para depor como
INFORMATIVOS 2022.1 - 74
testemunhas de defesa. O STJ não concordou com essa intimação. Os Conselheiros do TCE são equiparados a
magistrados (equiparados a Desembargador do TJ). Logo, não podem ser notificados ou intimados pela
comissão, podendo ser convidados a comparecer. Aplicam-se aos Conselheiros do TCE as garantias do art.
33, I e IV, da LOMAN (LC 35/79). STJ. Corte Especial. HC 590.436-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
De quem é a legitimidade para a execução de crédito decorrente de multa aplicada por Tribunal de
Contas estadual a agente público municipal? Atualize o Info 1029-STF. Os Estados não têm legitimidade
ativa para a execução de multas aplicadas, por Tribunais de Contas estaduais, em face de agentes públicos
municipais, que, por seus atos, tenham causado prejuízos a municípios. O Município prejudicado é o
legitimado para a execução de crédito decorrente de multa aplicada por Tribunal de Contas estadual a agente
público municipal, em razão de danos causados ao erário municipal. STF. Plenário. RE 1003433/RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/9/2021 (Repercussão Geral –
Tema 642) (Info 1029). STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 926.189-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
PODER EXECUTIVO
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque a competência
para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja a competência da Assembleia Legislativa para
autorizar a instauração do processo e para julgar o Governador e o Vice-Governador do Estado por crimes de
Governador será suspenso de suas funções nos crimes de responsabilidade, se admitida a acusação e
instaurado o processo, pela Assembleia Legislativa. STF. Plenário. ADI 4811/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes,
INFORMATIVOS 2022.1 - 75
PODER JUDICIÁRIO
Se, após elaborar a lista sêxtupla para o quinto constitucional, a OAB perceber que um dos indicados
não preencheu os requisitos, ela poderá pedir a desconsideração da lista ainda que já tenha havido a
nomeação do indicado. A Ordem dos Advogados do Brasil possui autonomia para elaborar e revisar lista
sêxtupla para indicação de advogados para concorrer à vaga do quinto constitucional. STJ. Corte Especial.
AgInt na SS 3.262-SC, Rel. Presidente Min. Humberto Martins, julgado em 20/10/2021 (Info 716).
Catarina na escala de plantão dos oficiais gerais. Segundo a legislação do Estado de Santa Catarina (LC nº
501/2010), todas as atribuições dos oficiais da infância e juventude estão associadas à atuação nessa área
específica e encontram-se vinculadas ao juízo da infância e juventude. Desse modo, não há margem de
discricionariedade para que o administrador, neste caso, inclua os oficiais de infância e juventude no plantão
geral, por mais razoável que pareça a ideia. Essa inclusão contraria a lei estadual. STJ. 1ª Turma. RMS
Magistrado que está de licença para estudar no exterior não tem direito à retribuição por direção de
fórum nem à gratificação pelo exercício cumulado de jurisdição. O magistrado em gozo de licença para
capacitação no exterior não faz jus ao pagamento das vantagens de Retribuição por Direção de Fórum e
Gratificação pelo Exercício Cumulado de Jurisdição ou Acumulação de Acervo Processual. STJ. 1ª Turma. RMS
É constitucional a Resolução 184/2013 do CNJ no que determina aos tribunais de justiça estaduais o
encaminhamento, para eventual elaboração de nota técnica, de cópia dos anteprojetos de lei de
criação de cargos, funções comissionadas e unidades judiciárias. ADI 5119/DF, relatora Min. Rosa Weber,
PRECATÓRIOS
Caesb – Companhia de Saneamento do Distrito Federal (sociedade de economia mista) está sujeita ao
regime de precatórios e não pode ter seus bens penhorados para pagamento de verbas trabalhistas.
São inconstitucionais os pronunciamentos judiciais que determinam bloqueios e outros atos de constrição
sobre bens e valores da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) para o pagamento
INFORMATIVOS 2022.1 - 76
de verbas trabalhistas. STF. Plenário. ADPF 890 MC-Ref/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/11/2021 (Info
1039).
DEFENSORIA PÚBLICA
Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus agentes,
demais providências necessárias à sua atuação. STF. Plenário. ADI 6852/DF e ADI 6862/PR, Rel. Min. Edson
Fachin, julgados em 18/2/2022 (Info 1045). STF. Plenário. ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI
6871/CE, ADI 6872/AP, ADI 6873/AM e ADI 6875/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 18/2/2022
(Info 1045).
É inconstitucional norma estadual que restabeleça, no âmbito do Poder Judiciário local, cargos de
Advogado da Justiça Militar vocacionados a patrocinar a defesa gratuita de praças da Polícia Militar.
Esse modelo não se coaduna com aquele implementado pela ordem constitucional inaugurada em 1988, o
qual dispõe que a função de defesa dos necessitados, quando desempenhada pelo Estado, é própria à
Defensoria Pública (CF, art. 134; LC 80/1994). Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade,
julgou procedente o pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei
12.832/1998 do Estado do Ceará. STF. Plenário. ADI 3152/CE, relatora Min. Rosa Weber, julgado em
União atuou conforme sua competência legislativa, pois se limitou a instituir diretrizes gerais sobre a
organização e a estrutura da Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais, sem prever qualquer
instituir um órgão composto por agentes que satisfaçam determinados requisitos de capacidade técnica e
caso, as atribuições que a lei conferiu aos seus membros estão em consonância com as que a Constituição
previu para a criação de cargos em comissão. Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade,
julgou improcedente o pedido formulado. STF. Plenário. ADI 4608/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgado em
INFORMATIVOS 2022.1 - 77
SEGURANÇA PÚBLICA
É inconstitucional norma estadual que assegure a independência funcional aos delegados de polícia,
bem como que atribua à polícia civil o caráter de função essencial ao exercício da jurisdição e à defesa
da ordem jurídica. A Constituição Federal, ao tratar dos órgãos de Administração Pública, escolheu aqueles
que deveriam ter assegurada autonomia. Além de não assegurar autonomia à Polícia Civil, a Constituição
Federal afirmou expressamente, no seu art. 144, § 6º, que ela deveria estar subordinada ao Governador do
Estado. A norma do poder constituinte decorrente que venha a atribuir autonomia funcional, administrativa
ou financeira a outros órgãos ou instituições que não aquelas especificamente constantes da Constituição
Federal, padece de vício de inconstitucionalidade material, por violação ao princípio da separação dos
poderes. STF. Plenário. ADI 5522/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/2/2022 (Info 1044).
CULTURA
Entidades estudantis municipais e estaduais podem emitir a carteira estudantil mesmo sem estarem
padronizado da carteira. É inconstitucional exigir das entidades estudantis locais e regionais, legitimadas
para a expedição da carteira de identidade estudantil (CIE), filiação às entidades de abrangência nacional.
Admite-se a definição de um modelo único nacionalmente padronizado da CIE, desde que publicamente
disponibilizado e fixados parâmetros razoáveis que não obstem o acesso pelas entidades com prerrogativa
legal para sua emissão. STF. Plenário. ADI 5108/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/3/2022 (Info 1048).
ÍNDIOS
É necessário que a União e a FUNAI executem e implementem atividade de proteção territorial nas
terras indígenas, independentemente de sua homologação. Nos termos do art. 231 da Constituição
Federal, a União tem o dever (e não a escolha) de demarcar as terras indígenas. Tais demarcações deveriam
estar concluídas no prazo de 5 anos, contados da promulgação da Constituição, conforme art. 67 do ADCT. A
não homologação das demarcações dessas terras deriva de inércia deliberada do Poder Público, em afronta
ao direito originário dos índios. Ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a FUNAI sinaliza
a invasores que a União se absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um
convite à invasão de terras que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática
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de ilícitos de toda ordem. Além disso, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros
passem a ali transitar, o que põe em risco a saúde dessas comunidades, expondo-as a eventual contágio por
COVID-19 e outras enfermidades. STF. Plenário. ADPF 709-MC-Segunda-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,
PAGAMENTO DE TAXAS
demonstre sua condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência. O estrangeiro que
desejar regularizar sua situação no Brasil, pode fazê-lo por meio de um procedimento chamado de
“regularização migratória”. Exige-se o pagamento de uma taxa. Ocorre que muitos estrangeiros são
hipossuficientes e não conseguem pagar o valor exigido. Diante disso, indaga-se: é possível a dispensa do
pagamento dessa taxa caso o estrangeiro seja hipossuficiente? SIM. O STF decidiu que o estrangeiro com
cobradas para o processo de regularização migratória. Não se mostra condizente com a CF a exigência de
taxas em face de sujeito passivo evidentemente hipossuficiente. Fundamento: art. 5º, LXXVI e LXXVII, da
CF/88. Tese fixada pelo STF: É imune ao pagamento de taxas para registro da regularização migratória o
estrangeiro que demonstre sua condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência. STF.
Plenário. RE 1018911/RR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/11/2021 (Repercussão Geral – Tema 988) (Info
1037).
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Condenação do ex-Deputado Federal Daniel Silveira. A liberdade de expressão existe para a manifestação
de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso
liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de expressão não pode ser usada para a prática
de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio, contra a democracia ou contra as instituições.
Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a abolição do
Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes constituídos e de
INFORMATIVOS 2022.1 - 79
em razão desta, não sendo possível utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades
ilícitas. Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei
nº 7.170/83). Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal,
democracia, ao Estado de Direito e ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto
democrático, a defesa do Estado, de suas instituições e de seus poderes. Observa-se, assim, a ocorrência de
continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos arts. 18 e 23, IV, da Lei nº 7.170/83 e a conduta
prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela Lei nº 14.197/2021), bem como entre a conduta prevista
no art. 23, II, da Lei nº 7.170/83 e a conduta típica prevista no art. 286, parágrafo único, do CP, com redação
dada pela Lei nº 14.197/2021. STF. Plenário. AP 1044/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
Manifestações por parte da imprensa de natureza crítica, satírica, agressiva, grosseira ou deselegante
não autorizam, por si sós, o uso do direito penal para, mesmo que de forma indireta, silenciar a
atividade jornalística. AgRg no HC 691.897-DF, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do
TRF 1ª Região), Rel. Acd. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 17/05/2022, DJe 26/05/2022.
(Info 738)
OUTROS TEMAS
A Medida Provisória 144/2003, convertida na Lei nº 10.848/2004, que dispõe sobre a comercialização de
energia elétrica, não viola o art. 246 da Constituição Federal. O autor da ADI alegava que, como a MP
144/2003 estipulou um novo modelo para o setor elétrico após a EC 06/95, o que essa MP fez foi
regulamentar o § 1º do art. 176 da CF/88 (alterado pela EC 06/95). Logo, a MP teria violado o art. 246 da
CF/88: Art. 246. É vedada a adoção de medida provisória na regulamentação de artigo da Constituição cuja
redação tenha sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1º de janeiro de 1995 até a promulgação
desta emenda, inclusive. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32/2001) O STF não concordou. A EC
6/95 não promoveu alteração substancial na disciplina constitucional do setor elétrico. O que a EC 06/95 fez
foi tão somente substituir a expressão “empresa brasileira de capital nacional” pela expressão “empresa
constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no país”, que foi incluída no § 1º do
art. 176 da CF/88. O setor elétrico já estava, antes dessa alteração, aberto ao capital privado. Houve apenas
ampliação colateral em relação às empresas que poderiam ser destinatárias de autorização ou concessão
para explorar o serviço. Além disso, a MP 144/2003 não se destinou a dar eficácia às modificações
INFORMATIVOS 2022.1 - 80
introduzidas pela EC 6/1995. O que ela fez foi regulamentar o art. 175 da CF/88, que dispõe sobre o regime de
prestação de serviços públicos no setor elétrico. Logo, não houve violação ao art. 246 da CF/88. STF. Plenário.
ADI 3090/DF e ADI 3100/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 20/4/2022 (Info 1051).
É inconstitucional norma que prevê a concentração excessiva do poder decisório nas mãos de só um
dos entes públicos integrantes de região metropolitana. ADI 6573/AL - ADI 6911/AL - ADPF 863/AL, relator
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
prazo de 3 anos para a duração máxima da medida de internação, nos termos do art. 121, § 3º, do ECA.
O art. 121, § 3º do ECA afirma que “em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três
anos”. Se o adolescente está cumprindo medida socioeducativa de internação e sobrevém transtorno mental,
ele será submetido a tratamento médico. O período de tratamento deverá ser somado ao tempo em que ele
ficou cumprindo a medida de internação, não podendo ultrapassar 3 anos, nos termos do art. 121, § 3º do
ECA. A medida de segurança imposta ao apenado adulto que desenvolve transtorno mental no curso da
execução, com espeque no art. 183 da LEP, tem sua duração limitada ao tempo remanescente da pena
privativa de liberdade. Esse mesmo raciocínio deve ser aplicado aos adolescentes, por força do art. 35, I, da
Lei nº 12.594/2012. Se a contagem do prazo trienal previsto no art. 121, § 3º, do ECA fosse suspensa durante
o tratamento médico referido no art. 64 da Lei 12.594/2012 e até a alta hospitalar, a restrição da liberdade do
jovem seria potencialmente perpétua, hipótese inadmissível em nosso sistema processual. STJ. 5ª Turma.
REsp 1.956.497-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022 (Info 732).
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL
O risco real de contaminação pelo coronavírus (covid-19) em casa de abrigo justifica a manutenção de
criança de tenra idade com a família substituta, apesar da suposta irregularidade/ilegalidade dos
meios empregados para a obtenção da guarda da infante. Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 21/06/2022, DJe 23/06/2022. (Info 742)
INFORMATIVOS 2022.1 - 81
DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANOS DE SAÚDE
A operadora do plano de saúde deve custear medicamentos importados, o qual, apesar de não
registrado pela ANVISA, possui autorização para importação em caráter excepcional. Como regra geral:
as operadoras de plano de saúde não estão obrigadas a fornecer medicamento não registrado pela
ANVISA(STJ. 2ª Seção. REsp 1.712.163-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 08/11/2018. Recurso Repetitivo
– Tema 990). No entanto, se o medicamento prescrito pelo médico, embora se trate de fármaco importado
ainda não registrado pela ANVISA, teve a sua importação excepcionalmente autorizada pela referida Agência
Nacional, neste caso, ele será considerado como de cobertura obrigatória pela operadora de plano de saúde.
Trata-se, portanto, de uma exceção ao que o STJ decidiu no Tema 990 acima exposto. Resumindo: é de
cobertura obrigatória pela operadora de plano de saúde, o medicamento que, apesar de não registrado pela
ANVISA, teve a sua importação excepcionalmente autorizada pela referida Agência Nacional. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.943.628-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/10/2021 (Info 717).
Após o prazo de 30 dias do nascimento, o neonato submetido a tratamento terapêutico e não inscrito
no plano de saúde deve ser considerado usuário por equiparação, o que acarreta para ele o direito de
manter a cobertura recolhendo as mensalidades. Caso hipotético: Regina é cliente de um plano de saúde.
Vale ressaltar que seu contrato oferece cobertura inclusive para tratamento obstétrico. Regina ficou grávida e
deu à luz a Lucas. Ocorre que o bebê apresentou problema cardíaco ao nascer e necessitou de cirurgia.
Assim, logo após o parto, o neonato foi submetido à cirurgia cardíaca. O plano custeou o procedimento.
Ocorre que Lucas necessitou de internação hospitalar por período superior a 30 dias. Diante daquele cenário
de desespero por conta da internação, os pais de Lucas nem o inscreveram como dependente no plano de
saúde da genitora. Logo, após o 30º dia, o plano não mais aceitou custear as despesas de internação de
Lucas. Então, se, de um lado, a lei exime a operadora da obrigação de custear o tratamento médico prescrito
para o neonato, após o 30º dia do parto, se ele não foi inscrito como beneficiário do plano de saúde, impede,
de outro lado, que se interrompa o tratamento ainda em curso, assegurando, pois, a cobertura assistencial
até a sua alta hospitalar. Nesse contexto, após o prazo de 30 (trinta) dias do nascimento, o neonato
submetido a tratamento terapêutico e não inscrito no plano de saúde deve ser considerado usuário por
equiparação. Em outras palavras, deve ser considerado como se inscrito fosse, ainda que provisoriamente, o
que lhe acarreta não o ressarcimento de despesas conforme os valores de tabela da operadora, mas o
acontece aos beneficiários sob tratamento assistencial em planos extintos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.953.191-SP,
INFORMATIVOS 2022.1 - 82
É ilegal a cobrança, pelo plano de saúde, de coparticipação em forma de percentual no caso de
tratamento de saúde, seja em percentual ou seja em montante fixo, desde que não inviabilize o acesso ao
serviço de saúde é legal (válida). Todavia, em regra, é vedada a cobrança de coparticipação apenas em forma
de percentual nos casos de internação. A exceção são os eventos relacionados à saúde mental. Nos contratos
consumidor, à razão máxima de 50% do valor das despesas, nos casos de internação superior a 30 dias por
concreto, foi estabelecida, contratualmente, a coparticipação da consumidora sobre o total das despesas
arcadas pelo plano de saúde no caso de internação domiciliar em forma de percentual, razão pela qual se
conclui pela sua ilegalidade, até mesmo porque substituta da internação hospitalar não relacionada à saúde
mental. STJ. 3ª Turma. REsp 1.947.036-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2022 (Info 727).
Se for uma situação de urgência, o plano de saúde é obrigado a custear o parto mesmo que, no caso
concreto, o plano da mãe não inclua serviços de obstetrícia. A operadora de plano de saúde tem o dever
de cobrir parto de urgência, por complicações no processo gestacional, ainda que o plano tenha sido
contratado na segmentação hospitalar sem obstetrícia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.947.757-RJ, Rel. Min. Nancy
Usuário do plano de saúde fez o procedimento em um hospital não credenciado; o ressarcimento dos
gastos efetuados pelo usuário ocorrerá segundo o preço de tabela previsto pelo plano de saúde. É
devida a limitação do reembolso, pelo preço de tabela, ao usuário que utilizar para o tratamento de terapia
coberta, os profissionais e estabelecimentos não credenciados, estejam eles dentro ou fora da área de
urgência. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.933.552-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi,
Apesar de o Tema 952/STJ ter sido firmado para os planos individuais e familiares, ele também se
aplica para os planos coletivos. (a) Aplicabilidade das teses firmadas no Tema 952/STJ aos planos coletivos,
enunciado normativo do art. 3°, II, da Resolução n. 63/2003, da ANS, é aquela que observa o sentido
matemático da expressão "variação acumulada", referente ao aumento real de preço verificado em cada
intervalo, devendo-se aplicar, para sua apuração, a respectiva fórmula matemática, estando incorreta a
simples soma aritmética de percentuais de reajuste ou o cálculo de média dos percentuais aplicados em
todas as faixas etárias. STJ. 2ª Seção. REsp 1.716.113-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
INFORMATIVOS 2022.1 - 83
1 - O rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar é, em regra, taxativo;
2 - A operadora de plano ou seguro de saúde não é obrigada a arcar com tratamento não constante do
rol da ANS se existe, para a cura do paciente, outro procedimento eficaz, efetivo e seguro já
incorporado ao rol;
4 - Não havendo substituto terapêutico ou esgotados os procedimentos do rol da ANS, pode haver, a
título excepcional, a cobertura do tratamento indicado pelo médico ou odontólogo assistente, desde
que (i) não tenha sido indeferido expressamente, pela ANS, a incorporação do procedimento ao rol da
Saúde Suplementar; (ii) haja comprovação da eficácia do tratamento à luz da medicina baseada em
evidências; (iii) haja recomendações de órgãos técnicos de renome nacionais (como CONITEC e
magistrado com entes ou pessoas com expertise técnica na área da saúde, incluída a Comissão de
competência do julgamento do feito para a Justiça Federal, ante a ilegitimidade passiva ad causam da
ANS. EREsp 1.886.929-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por maioria, julgado em 08/06/2022.
(Info 740)
A operadora, mesmo após o exercício regular do direito à rescisão unilateral de plano coletivo, deverá
tratamento médico garantidor de sua sobrevivência ou de sua incolumidade física, até a efetiva alta,
desde que o titular arque integralmente com a contraprestação devida. REsp 1.846.123-SP, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022. (Tema 1082) (Info 742)
É abusiva a exclusão unilateral do usuário, quando seu direito de manutenção tem amparo
seria admitido nas hipóteses previstas na RN ANS n. 195/2008. REsp 1.940.391-MG, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 21/06/2022, DJe de 23/06/2022. (Info 742)
Se o consumidor alega que a assinatura do contrato bancário é falsa, a instituição financeira é quem
terá o ônus de provar que é autêntica. Na hipótese em que o consumidor/autor impugnar a autenticidade
da assinatura constante em contrato bancário juntado ao processo pela instituição financeira, caberá a esta o
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ônus de provar a autenticidade (arts. 6º, 369 e 429, II, do CPC). STJ. 2ª Seção. REsp 1.846.649-MA, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo - Tema 1061) (Info 720).
CONCEITO DE CONSUMIDOR
O seguro contratado por pessoa jurídica para proteção do seu patrimônio está submetido às regras
protetivas do CDC. A pessoa jurídica que firma contrato de seguro visando à proteção de seu próprio
patrimônio é considerada destinatária final dos serviços securitários, incidindo, assim, as normas do Código
de Defesa do Consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.943.335-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/12/2021
(Info 722). STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.392.636/SP, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 29/4/2019.
Não tem legitimidade ativa para propor ação indenizatória por danos morais a mãe de pessoa
impossibilitada de usar cartão de crédito em viagem internacional. Caso adaptado: Priscila e sua mãe
Regina fizeram uma viagem internacional. Priscila tentou utilizar o cartão de crédito que foi indevidamente
bloqueado por uma falha da operadora do cartão. Regina ajuizou ação contra a operadora do cartão
alegando que a sua filha é quem iria pagar todas as despesas durante a viagem. Logo, como o cartão de
crédito de Priscila não funcionou, ela (Regina) passou por constrangimentos e pela angústia de não saber se
conseguiria pagar as despesas. O STJ afirmou que Regina – que não era a titular do cartão – não era
destinatária dos serviços e, portanto, não possuía legitimidade ativa para propor a respectiva ação
indenizatória. Vale ressaltar que, por se tratar de vício do produto, Regina não pode ser considerada
consumidora por equiparação (bystander), sendo essa figura restrita aos casos de fato do produto ou serviço.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.967.728-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2022 (Info 730).
Em caso de vício no veículo comprado, o banco no qual foi realizado o financiamento terá
financeiros (“bancos de varejo”) que financiam a compra e venda de automóvel não respondem pelos vícios
venda, exceto no caso dos bancos integrantes do grupo econômico da montadora (“bancos da montadora”).
Em caso de vício no veículo comprado, o banco no qual foi realizado o financiamento terá responsabilidade
civil e o contrato de arrendamento mercantil poderá ser rescindido? • Se foi feito com um “banco de varejo”:
INFORMATIVOS 2022.1 - 85
NÃO. • Se foi feito com um “banco de montadora”: SIM. STJ. 3ª Turma. REsp 1.946.388-SP, Rel. Min. Paulo de
consumo impede a extensão do acordo feito por um réu em benefício do outro. Exemplo: Marina
adquiriu um suco de caixinha industrializado no supermercado e, depois de tomar o primeiro gole, percebeu
que o produto estava contaminado com um corpo estranho. A consumidora ajuizou ação de indenização por
danos morais contra a fabricante do suco e o supermercado. O comerciante (supermercado) resolveu fazer
um acordo com a consumidora e pagou R$ 4 mil à autora. A fabricante, por sua vez, não participou da
transação. O juiz, ao homologar a transação, irá extinguir o processo apenas no que tange ao supermercado,
prosseguindo o feito com relação à fabricante. A ingestão parcial de produto contaminado configura hipótese
de fato do produto, situação na qual o comerciante não possui responsabilidade solidária, mas sim
subsidiária (art. 13 do CDC). Sendo a responsabilidade do supermercado subsidiária, o acordo por ele
firmado não se estende necessariamente à fabricante porque não se aplica o § 3º do art. 844 do CC (este
dispositivo afirma que se a transação foi feita entre um dos devedores solidários e seu credor, ela extingue a
dívida em relação aos codevedores). STJ. 3ª Turma. REsp 1.968.143-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
COMPRA DE IMÓVEIS
corretora está limitada a eventual falha na prestação do serviço de corretagem. Caso concreto: o
obrigações contratuais. Diante disso, o consumidor ajuizou ação pedindo a restituição de todas as quantias
pagas e indenização por danos morais. Ocorre que a ação foi proposta não apenas contra a incorporadora,
mas também contra a corretora. Indaga-se: a corretora possui responsabilidade neste caso? Não. A
responsabilidade da corretora de imóveis está associada ao serviço por ela ofertado, qual seja, o de
necessárias sobre o negócio jurídico a ser celebrado. Eventual inadimplemento ou falha na prestação do
INFORMATIVOS 2022.1 - 86
serviço relacionada ao imóvel em si, ao menos em regra, não pode ser imputada à corretora, pois, do
contrário, ela seria responsável pelo cumprimento de todos os negócios por ela intermediados. Isso
corretora pode responder solidariamente com a incorporadora se ficarem constatadas eventuais distorções
que originalmente não seria sua função. Neste caso, poderia ser reconhecida a sua responsabilidade
solidária. STJ. 3ª Turma. REsp 1.811.153-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
Nos contratos firmados na vigência da Lei 13.786/2018, é indevida a intervenção judicial para vedar o
abatimento das despesas de corretagem, desde que esteja especificada no contrato, inclusive no
quadro-resumo. É comum que os contratos das empresas de incorporação imobiliária prevejam que o
cláusula é válida? Antes da Lei nº 13.786/2018: O STJ havia decidido que: É válida a cláusula contratual que
promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que
previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da
comissão de corretagem. STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
24/8/2016 (Recurso Repetitivo – Tema 938) (Info 589). Depois da Lei nº 13.786/2018: As empresas continuam
podendo transferir esse encargo para o consumidor/promitente comprador. Além disso, a Lei nº 13.786/2018
incluiu o art. 67-A na Lei nº 4.591/64, cujo inciso I dispõe expressamente que, em caso de desfazimento do
comissão de corretagem. Em palavras mais simples, o valor da comissão de corretagem – que foi pago pelo
promitente comprador – não será devolvido. STJ. 4ª Turma. REsp 1.947.698-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
SERVIÇOS BANCÁRIOS
Banco que tem muitos caixas eletrônicos inoperantes, com falta de numerário nos caixas e muito
tempo de espera nas filas é condenado a pagar indenização por danos morais coletivos. A inadequada
prestação de serviços bancários, caracterizada pela reiterada existência de caixas eletrônicos inoperantes,
sobretudo por falta de numerário, e pelo consequente excesso de espera em filas por tempo superior ao
estabelecido em legislação municipal, é apta a caracterizar danos morais coletivos. STJ. 3ª Turma. REsp
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RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO
responsabilizada? A empresa patrocinadora de evento, que não participou da sua organização, não pode
ser enquadrada no conceito de fornecedor para fins de responsabilização por acidente de consumo ocorrido
no local. STJ. 3ª Turma. REsp 1.955.083-BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 727).
O médico é civilmente responsável por falha no dever de informação acerca dos riscos de morte em
cirurgia. Todo paciente possui, como expressão do princípio da autonomia da vontade (autodeterminação),
o direito de saber dos possíveis riscos, benefícios e alternativas de um determinado procedimento médico,
possibilitando, assim, manifestar, de forma livre e consciente, o seu interesse ou não na realização da
terapêutica envolvida, por meio do consentimento informado. Esse dever de informação decorre do art. 22
do Código de Ética Médica e dos arts. 6º, III, e 14 do CDC. Além disso, o Código Civil também disciplinou sobre
o assunto no art. 15. Justamente por isso, é indispensável o consentimento informado do paciente acerca dos
riscos inerentes ao procedimento cirúrgico. O médico que deixa de informar o paciente acerca dos riscos
da cirurgia incorre em negligência, e responde civilmente pelos danos resultantes da operação. Vale
ressaltar, ainda, que a informação prestada pelo médico ao paciente, acerca dos riscos, benefícios e
alternativas ao procedimento indicado, deve ser clara e precisa, não bastando que o profissional de saúde
informe, de maneira genérica ou com termos técnicos, as eventuais repercussões no tratamento, o que
Com efeito, não se admite o chamado “blanket consente”, isto é, o consentimento genérico, em que não há
individualização das informações prestadas ao paciente, dificultando, assim, o exercício de seu direito
fundamental à autodeterminação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.848.862-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
A sociedade empresária que comercializa ingressos no sistema on-line responde civilmente pela falha
na prestação do serviço. A venda de ingresso para um determinado espetáculo cultural é parte típica do
negócio. Logo, trata-se de um risco da própria atividade empresarial que visa ao lucro e que integra o
investimento do fornecedor, compondo, portanto, o custo básico embutido no preço. Desse modo, as
local integram a mesma cadeia de fornecimento e, portanto, são solidariamente responsáveis pelos danos,
em virtude da falha na prestação do serviço, ao não prestar informação adequada, prévia e eficaz acerca do
consumerista, também são responsáveis pelos danos gerados ao consumidor, não cabendo a alegação de
que o dano foi gerado por culpa exclusiva de um dos seus integrantes. Caso concreto: ação de indenização
proposta pelos consumidores em razão dos custos advindos da compra de ingresso para o evento Pretty
INFORMATIVOS 2022.1 - 88
Little Weekend, a ser sediado na cidade do Rio de Janeiro-RJ, cancelado, contudo, sem qualquer satisfação
aos consumidores. A sociedade empresária que comercializou os ingressos no sistema on-line possui
responsabilidade pela falha na prestação do serviço, a ensejar a reparação por danos materiais e a
compensação dos danos morais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.985.198-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
CONTRATOS BANCÁRIOS
O limite de desconto do empréstimo consignado não se aplica aos contratos de mútuo bancário em
que o cliente autoriza o débito das prestações em conta-corrente. Tema já apreciado no Info 612-STJ.
São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-corrente, ainda que
utilizada para recebimento de salários, desde que previamente autorizados pelo mutuário e enquanto esta
autorização perdurar, não sendo aplicável, por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei nº
10.820/2003, que disciplina os empréstimos consignados em folha de pagamento. STJ. 2ª Seção. REsp
1.863.973-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/03/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1085) (Info
728).
A declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução dos valores cobrados
indevidamente, em ação ajuizada anteriormente, faz coisa julgada em relação ao pedido de repetição
de indébito dos juros remuneratórios incidentes sobre as tarifas. Caso concreto: a parte autora ajuizou a
primeira ação pedindo a devolução em dobro de todos os valores pagos com as tarifas declaradas nulas.
Nessa ação é possível concluir que o pleito abarcou também os encargos incidentes sobre as respectivas
tarifas. Se a parte eventualmente esqueceu de deduzir, de forma expressa, a pretensão de ressarcimento dos
juros remuneratórios que incidiram sobre as tarifas declaradas nulas na primeira ação, não poderá propor
nova demanda com essa finalidade, sob pena de violação à coisa julgada. O acessório (juros remuneratórios
incidentes sobre a tarifa) segue o principal (valor correspondente à própria tarifa), razão pela qual o pedido
de devolução de todos os valores pagos referentes à tarifa nula abrange, por dedução lógica, a restituição
também dos respectivos encargos, sendo incabível, portanto, nova ação para rediscutir essa matéria. Desse
modo, a declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução dos valores cobrados
indevidamente, em ação ajuizada anteriormente com pedido de forma ampla, faz coisa julgada em relação ao
pedido de repetição de indébito dos juros remuneratórios incidentes sobre as referidas tarifas. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.899.115-PB, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
INFORMATIVOS 2022.1 - 89
SOLIDARIEDADE
A previsão de solidariedade prevista no art. 25, §1º, do CDC deve ser interpretada restritivamente.
REsp 1.647.238-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 17/05/2022. (Info
737)
Não se aplica a Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária de débitos trabalhistas. I - É
trabalhistas, devendo ser aplicados, até que sobrevenha solução legislativa, os mesmos índices de
correção monetária e de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, quais sejam a incidência
do IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do
Código Civil), à exceção das dívidas da Fazenda Pública, que possuem regramento específico. A
incidência de juros moratórios com base na variação da taxa SELIC não pode ser cumulada com a aplicação
de outros índices de atualização monetária, cumulação que representaria bis in idem; II - A fim de garantir
segurança jurídica e isonomia na aplicação desta tese, devem ser observados os marcos para modulação dos
efeitos da decisão fixados no julgamento conjunto da ADI 5.867, ADI 6.021, ADC 58 e ADC 59, como segue: (i)
são reputados válidos e não ensejarão qualquer rediscussão, em ação em curso ou em nova demanda,
incluindo ação rescisória, todos os pagamentos realizados utilizando a TR (IPCA-E ou qualquer outro índice),
no tempo e modo oportunos (de forma extrajudicial ou judicial, inclusive depósitos judiciais) e os juros de
mora de 1% ao mês, assim como devem ser mantidas e executadas as sentenças transitadas em julgado que
independentemente de estarem com ou sem sentença, inclusive na fase recursal, devem ter aplicação, de
forma retroativa, da taxa Selic (juros e correção monetária), sob pena de alegação futura de inexigibilidade de
título judicial fundado em interpretação contrária ao posicionamento do STF (art. 525, §§ 12 e 14, ou art. 535,
§§ 5º e 7º, do CPC e (iii) os parâmetros fixados neste julgamento aplicam-se aos processos, ainda que
transitados em julgado, em que a sentença não tenha consignado manifestação expressa quanto aos índices
de correção monetária e taxa de juros (omissão expressa ou simples consideração de seguir os critérios
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legais). STF. Plenário. RE 1269353/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/12/2021 (Repercussão Geral – Tema
COMPETÊNCIA
Compete à Justiça do Trabalho julgar ação proposta contra o empregador nas quais se pretenda o
entidade de previdência privada a ele vinculada. Caso concreto: ação proposta em face da CEF e da
FUNCEF na qual o autor pretende a inclusão da verba salarial denominada CTVA - Complemento Temporário
Variável Ajuste de Mercado na composição de salário de participação, com os devidos reflexos no cálculo de
distintas, havendo a necessidade de prévio julgamento da controvérsia trabalhista pois, somente em caso de
procedência desta, haverá possibilidade de análise do pleito relacionado ao plano previdenciário. Ou seja, a
causa de pedir originária (exclusão da parcela denominada CTVA do salário de contribuição) desdobra-se em
dois pedidos, de natureza diversa: (a) na seara trabalhista, pugna-se pelo reconhecimento da natureza
salarial, com o respectivo recolhimento das contribuições devidas; e, (b) no âmbito previdenciário, busca-se a
revisão do benefício complementar. Logo, em razão desta cumulação de pedidos, não incide - ao menos não
de forma direta - o entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (Tema 190/STF), no sentido da
competência da Justiça Comum para “o processamento de demandas ajuizadas contra entidades privadas de
enfrentamento da controvérsia laboral. Ademais, em recente julgamento, a Suprema Corte fixou nova tese,
em repercussão geral, no sentido de que “compete à Justiça do Trabalho processar e julgar causas ajuizadas
reflexos nas respectivas contribuições para a entidade de previdência privada a ele vinculada” (Tema 1.166 -
RE 1.265.564-SC). STJ. 4ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.547.767-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
direitos fixados em cláusulas coletivas com prazo já expirado até que novo acordo ou convenção
coletiva seja firmado. ADPF 323/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em
INFORMATIVOS 2022.1 - 91
27.5.2022. (Info 1056)
absolutamente indisponíveis.
É constitucional norma oriunda de negociação coletiva que, apesar de limitar ou afastar direitos trabalhistas,
assegura aos trabalhadores os direitos absolutamente indisponíveis. ARE 1121633/GO, relator Min. Gilmar
trabalhadores, que não se confunde com autorização prévia por parte da entidade sindical ou
A dispensa em massa de empregados deve ser precedida da tentativa de diálogo entre a empresa e o
sindicato dos trabalhadores. RE 999435/SP, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson
DIREITO ELEITORAL
FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS
entanto, o prazo para a sua constituição deve ser o mesmo aplicável para a criação dos partidos
políticos. A federação partidária, instituto trazido pela Lei nº 14.208/2021, não é uma tentativa de se recriar
as coligações partidárias nas eleições proporcionais, que foram proibidas pela EC 97/2017, que deu nova
redação ao art. 17, § 1º, da CF/88. A Lei nº 14.208/2021 criou mecanismos para impedir que as federações
partidária é compatível com a Constituição Federal. Vale ressaltar, contudo, que a previsão legal que permite
que as federações partidárias possuam prazo superior ao dos partidos políticos para se constituírem viola o
princípio da isonomia. A fim de participarem das eleições, as federações partidárias devem estar constituídas
INFORMATIVOS 2022.1 - 92
como pessoa jurídica e obter o registro de seu estatuto perante o TSE no mesmo prazo aplicável aos partidos
políticos. Excepcionalmente, nas eleições de 2022, o prazo para constituição de federações partidárias fica
estendido até 31 de maio do mesmo ano. STF. Plenário. ADI 7021/DF MC-Ref, Rel. Min. Roberto Barroso,
PROPAGANDA ELEITORAL
na Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997, arts. 43, caput, e 57-C, caput e § 1º), à veiculação de propaganda
eleitoral em meios de comunicação impressos e na internet. STF. Plenário. ADI 6281/DF, Rel. Min. Luiz Fux,
redator do acórdão Min. Nunes Marques, julgado em 10, 16 e 17/2/2022 (Info 1044).
FINANCIAMENTO ELEITORAL
STF mantém nova fórmula de cálculo do valor do FEFC imposta pela Lei 14.192/2021. Não cabe ao
Supremo Tribunal Federal adentrar o mérito da opção legislativa para redesenhar a forma de cálculo do valor
do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) (Lei 14.194/2021, art. 12, XXVII). STF. Plenário. ADI
7058 MC/DF, Rel. Min. André Mendonça, redator do acórdão Min. Nunes Marques, julgado em 3/3/2022 (Info
1045).
PARTIDOS POLÍTICOS
Estatuto previa que o partido poderia cobrar multa do ocupante de mandato que saísse da legenda;
ocorre que o estatuto exigia que o filiado assinasse um formulário concordando; logo, sem essa
aquiescência, a multa não é devida. A multa estatutária por desfiliação partidária não decorre
documento de aquiescência assinado pelo candidato. O Estatuto dizia: “Todos os candidatos às Eleições
Gerais, majoritárias ou proporcionais, que disputam cargos eletivos pelo PRTB, deverão assinar formulário de
autorização de concordância com pagamento de 10% (dez por cento) sobre suas futuras remunerações
como também multas de 12 (doze) meses sobre seus salários caso venham a desfiliar-se do Partido, no
INFORMATIVOS 2022.1 - 93
decurso de seus respectivos mandatos.” STJ. 3ª Turma. REsp 1.796.737-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
DIREITO EMPRESARIAL
MARCA
Impossibilidade de cumulação de ação de nulidade de registro com indenização por danos. É indevida a
de reparação de danos causados por particular que teria utilizado indevidamente marca de outro particular.
STJ. 4ª Turma. REsp 1188105-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2013 (Info 519). Não é possível
a cumulação dos pedidos de nulidade de registro de marca e abstenção de uso com o pedido de indenização
por danos materiais e morais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.848.033-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
O marco inicial e o prazo de vigência previstos no parágrafo único do art. 40 da LPI não são
aplicáveis às patentes depositadas na forma estipulada pelo art. 229, parágrafo único, dessa mesma
lei (patentes mailbox). REsp 1.869.959-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 27/04/2022. (Tema 1065) (Info 734)
CHEQUE
O protesto de título de crédito realizado enquanto ainda existe a possibilidade de cobrança relativa ao
crédito referente ao negócio jurídico subjacente não gera danos morais ao devedor. Situação hipotética:
João emitiu um cheque em 27/9/2005 em favor de Pedro. Pedro protestou o cheque em 09/10/2009. Esse
protesto foi regular? Não. Isso porque o cheque já estava prescrito. Não é possível o protesto de cheques
após ter transcorrido o lapso prescricional de 6 meses para a execução (cambial), que flui após o prazo
de apresentação. Diante disso, João ajuizou ação de indenização por danos morais contra Pedro alegando
que o réu lhe causou abalo extrapatrimonial porque fez um protesto indevido. Pedro contestou a demanda
afirmando que, realmente, o cheque está prescrito, no entanto, mesmo assim, ele ainda poderá cobrar o
valor da cártula por outros meios, como a ação monitória (Súmula 503 do STJ). Logo, não deveria haver
condenação em danos morais. O que o STJ decidiu? Cabe condenação em danos morais neste caso? Não. O
protesto de título de crédito realizado enquanto ainda existe a possibilidade (pretensão) de cobrança relativa
INFORMATIVOS 2022.1 - 94
ao crédito referente ao negócio jurídico subjacente não gera danos morais ao devedor. Cuidando-se de
protesto irregular de título de crédito, o reconhecimento do dano moral está atrelado à ideia do abalo do
crédito causado pela publicidade do ato notarial, que, naturalmente, faz associar ao devedor a pecha de
“mau pagador” perante a praça. Todavia, na hipótese em que o protesto é irregular por estar prescrita a
pretensão executória do credor, havendo, porém, vias alternativas para a cobrança da dívida
consubstanciada no título, não há se falar em abalo de crédito, na medida em que o emitente permanece na
condição de devedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1713130/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020. STJ.
4ª Turma. REsp 1.536.035-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/10/2021 (Info 717).
SOCIEDADE ANÔNIMA
No cálculo para emissão de novas ações é possível considerar a rentabilidade futura da companhia? O
valor fixado das ações a serem subscritas, com base na perspectiva de rentabilidade, deve ser aferido com
base em elementos disponíveis na época do aumento de capital e não a partir do efetivo desempenho da
empresa no futuro. STJ. 4ª Turma. REsp 1.838.870-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/09/2021
(Info 718).
FALÊNCIA
É possível que a Fazenda Pública habilite na falência o crédito tributário que já está sendo cobrado em
uma execução fiscal em curso? É possível a Fazenda Pública habilitar em processo de falência crédito
tributário objeto de execução fiscal em curso, mesmo antes da vigência da Lei nº 14.112/2020, e desde que
não haja pedido de constrição de bens no feito executivo. STJ. 1ª Seção. REsp 1.872.759-SP, Rel. Min. Gurgel
É possível que a Fazenda Pública habilite na falência o crédito tributário que já está sendo cobrado em
uma execução fiscal em curso? É cabível o pedido de habilitação de crédito da Fazenda Pública na falência,
desde que suspensa a execução fiscal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.872.153-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
É possível a submissão de cooperativa de crédito ao processo de falência. O art. 2º, II, da Lei nº
11.101/2005, afirma que esta Lei não se aplica à cooperativa de crédito. Existe, porém, regra específica na Lei
nº 6.024/74 prevendo que as instituições financeiras e equiparadas (como as cooperativas de crédito) podem
INFORMATIVOS 2022.1 - 95
ir à falência após liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Essa possibilidade foi reafirmada pela Lei nº
13.506/2017, que alterou a Lei nº 6.024/74. Desse modo, a doutrina, ao interpretar o art. 2º, II, da Lei nº
11.101/2005 afirma que as instituições financeiras e cooperativas de crédito apenas não ingressam, de
imediato, no processo judicial de execução coletiva empresarial, passando antes por intervenção e liquidação
extrajudicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.878.653-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/12/2021
(Info 722).
Na hipótese de autofalência, inexistindo protestos contra a devedora, o termo legal deve ser fixado
em até 90 (noventa) dias antes da distribuição do pedido. Quando o juiz decreta a falência, ele deverá
tratar sobre diversos assuntos nesse pronunciamento. Um dos temas que é definido pelo juiz é o termo legal
da falência. O termo legal de falência é o dia que se considera – por presunção – que se tenha iniciado o
estado de insolvência do empresário devedor. O objetivo de fixar o termo legal de falência está no fato de
que investigar se, neste período, o devedor praticou atos ilegítimos que prejudicaram seus credores. Assim, a
finalidade é definir o período que será “investigado”. Caso o devedor tenha praticado determinadas condutas
ilegítimas, isso será considerado ineficaz porque a lei presume que tenham sido feitas para se furtar ao
pagamento dos credores. Segundo o art. 99, II, da Lei nº 11.101/2005, no caso de autofalência, inexistindo
protestos contra a devedora, o termo legal deve ser fixado em até 90 dias antes da distribuição do pedido O
juiz não pode ampliar esse prazo, utilizando como marco o ajuizamento de ação de despejo e cobrança
contra o devedor. STJ. 3ª Turma.REsp 1.890.290-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
outras empresas. Uma vez verificada a ocorrência de fraude e confusão patrimonial entre a falida e outras
arrecadar bens das sociedades empresariais envolvidas na fraude reconhecida pelas instâncias ordinárias.
Precedentes. A desconsideração da personalidade jurídica, quando preenchidos os seus requisitos, pode ser
requerida a qualquer tempo, não se submetendo, à míngua de previsão legal, a prazos decadenciais ou
prescricionais. STJ. 3ª Turma.REsp 1.686.123-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/03/2022
(Info 730).
INFORMATIVOS 2022.1 - 96
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
É possível a aplicação do art. 83, I, da Lei nº 11.101/2005 para a recuperação judicial? Em se tratando de
crédito trabalhista por equiparação (honorários advocatícios de alta monta), é possível a aplicação do limite
previsto no art. 83, I, da Lei nº 11.101/2005 por deliberação da Assembleia Geral de Credores, desde que
devido e expressamente previsto no plano de recuperação judicial. Art. 83. A classificação dos créditos na
falência obedece à seguinte ordem: I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e
cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho; STJ. 4ª Turma. REsp
Se os bens alienados em garantia não pertencem ao avalista que está em recuperação judicial, o
credor não pode invocar o art. 49, § 3º para alegar que o crédito é extraconcursal e querer expropriar
os bens do avalista sem respeitar o plano de recuperação. Exemplo hipotético: Gatron S/A celebrou
contrato de mútuo com o banco, que exigiu duas garantias: • que 10 caminhões da Gatron ficassem
alienados em garantia ao banco; • que outra empresa (Artecola S/A) figurasse como avalista. Algum tempo
depois, a Gatron entrou em recuperação judicial. Como não recebeu a quantia devida, o banco ingressou
com execução de título executivo extrajudicial cobrando a dívida. Vale ressaltar, contudo, que a instituição
financeira propôs a execução unicamente contra a Artecola (avalista). Nessa execução foram penhorados
bens da Artecola (salas comerciais). Antes que a execução terminasse, a Artecola também ingressou em
recuperação judicial. O banco argumentou que poderia expropriar os bens penhorados porque seu crédito é
extraconcursal e não se submete aos efeitos da recuperação judicial da avalista, nos termos do art. 49, § 3º
da Lei nº 11.101/2005. O STJ não aceitou a tese do banco porque os bens dados em garantia não são da
avalista. Logo, isso não interfere na recuperação judicial da avalista. Não pertencendo os bens alienados em
garantia ao avalista em recuperação judicial, não podem ser expropriados outros bens de sua titularidade,
pois devem servir ao pagamento de todos os credores. Isso se justifica porque os credores fiduciários estão
excluídos dos efeitos da recuperação judicial somente em relação ao montante alcançado pelos bens
alienados em garantia. Se a alienação do bem dado em garantia for suficiente para quitar o débito,
extingue-se a obrigação. Ex: vendidos os 10 caminhões, todo o dinheiro será destinado ao pagamento da
dívida com o banco. Se cobrir todo o débito, extingue-se a obrigação. Por outro lado, se o valor apurado com
a venda do bem não for bastante para extinguir a obrigação, o restante do crédito em aberto não mais
poderá ser exigido fora da recuperação judicial do devedor, pois não mais existirá a característica que
diferenciava o credor titular da posição de proprietário fiduciário dos demais. Ex: se, mesmo com a venda dos
10 caminhões, pagou-se parcialmente o banco, restando ainda uma dívida de R$ 200 mil. Esse valor
remanescente não é considerado crédito extraconcursal e deverá estar sujeito às regras da recuperação
judicial. Logo, não faz sentido pretender excluir da recuperação judicial bens da avalista que não são os que
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estão em alienação fiduciária. STJ. 3ª Turma. REsp 1.953.180-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
registro em cartório. Ex: a empresa recebeu mútuo bancário de R$2 milhões. Como garantia, a empresa
cedeu ao banco títulos e direitos que ela possuía para receber (operações de desconto de recebíveis de
cartões de crédito). Em outras palavras, a empresa tinha valores para receber no futuro (daqui a alguns dias,
meses ou anos) de alguns devedores e cedeu fiduciariamente tais créditos para o banco. Se ela pagasse o
definitivo, proprietário dos valores. Alguns meses após a assinatura desse contrato, a referida empresa
entrou em recuperação judicial. Estes créditos cedidos ao banco fiduciariamente como garantia da dívida não
deverão entrar na recuperação judicial porque se enquadram na exceção à regra do caput do art. 49, nos
termos do § 3º do mesmo artigo. Não é necessário que a cessão de crédito realizada tenha sido registrada em
cartório. A cessão fiduciária de título de crédito não depende de registro em RTD para ser constituída, não se
lhe aplicando a regra do art. §1º do art. 1.361 do Código Civil, regente da cessão fiduciária de coisa móvel
infungível. STJ. 2ª Seção. REsp 1.629.470-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 30/11/2021 (Info 721).
concreta do Juízo da execução fiscal à efetiva deliberação do Juízo da recuperação judicial a respeito
do ato constritivo. A Lei nº 14.112/2020 alterou a Lei nº 11.101/2005 e deixou expressamente consignado
que: - a execução fiscal não se suspende pelo deferimento da recuperação judicial); e que - o juízo da
execução fiscal possui competência para determinar os atos de constrição judicial sobre os bens da empresa
recuperanda. Além disso, a Lei nº 14.112/2020 afirmou que o Juízo da recuperação judicial possui
competência para substituir os atos de constrição decretados pelo Juízo da execução fiscal caso eles tenham
recaído sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial. A partir da Lei nº
14.112/2020 não se pode mais falar que exista conflito de competência pelo simples fato de o juízo da
execução fiscal ter determinado a constrição de um bem e o juízo da recuperação judicial ainda não ter
decidido se irá, ou não, substituir essa constrição. Para que se configure o conflito é necessário que o Juízo da
respeito da constrição judicial. STJ. 2ª Seção. CC 181.190-AC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
Possibilidade de uma associação civil sem fins lucrativos se submeter a recuperação judicial.
Associações civis sem fins lucrativos com finalidade e atividades econômicas detêm legitimidade para
requerer recuperação judicial. STJ. 4ª Turma. AgInt no TP 3.654-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. Acd. Min. Luis
INFORMATIVOS 2022.1 - 98
Cram down é a possibilidade de o magistrado conceder a recuperação judicial mesmo tendo o plano
sido recusado pela assembleia (art. 58, § 1º da Lei 11.101/2005). É cabível a homologação pelo juízo do
plano de recuperação judicial rejeitado pelos credores em assembleia (cram down), cumpridos os requisitos
legais previstos no art. 58 da Lei nº 11.101/2005. STJ. 3ª Turma.REsp 1.788.216-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso
recuperação judicial da devedora. Assunto já apreciado no Info 661-STJ. O crédito referente ao efetivo
adiantamento do contrato de câmbio deve ser objeto de pedido de restituição nos autos da recuperação
judicial e os respectivos encargos reclamam habilitação no quadro geral de credores, por estarem sujeitos ao
regime especial, mostrando-se inadequada a execução direta. STJ. 3ª Turma. REsp 1.723.978-PR, Rel. Min.
judicial deve se submeter ao juízo universal. No caso, o crédito foi constituído até a data do pedido da
recuperação se deu posteriormente. Mesmo que a empresa não estivesse no conglomerado de empresas
que tiveram o pedido de recuperação judicial deferido, deve prevalecer o princípio da preservação da
empresa, razão pela qual o juízo universal deve ser o único a gerir os atos de constrição e alienação dos bens
do grupo de empresas em recuperação. Sendo assim, o juízo universal deve exercer o controle sobre os atos
atividade empresarial, independente da data em que a empresa foi incorporada à outra, já em plano de
recuperação judicial. Nessa esteira, mesmo que a incorporação tenha ocorrido após a constituição do crédito
e ao pedido de recuperação judicial, deve se operar a força atrativa do juízo universal como forma de manter
a higidez do fluxo de caixa das empresas e, assim, gerenciar de forma exclusiva o plano de recuperação. STJ.
3ª Turma. REsp 1.972.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/03/2022 (Info 733).
O credor que não foi citado na relação inicial de que trata o artigo 51, III e IX, da Lei n.
11.101/2005 não está obrigado a se habilitar, pois o direito de crédito é disponível, porém não terá
como receber seu crédito fora da recuperação, salvo quando a decisão que reconhece estar o crédito
recuperação judicial. REsp 1.655.705-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por
Produtos agrícolas - soja e milho - não são bens de capital essenciais à atividade empresarial, não
incidindo a norma contida na parte final do § 3º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005.STJ. REsp 1.991.989-MA,
Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 03/05/2022, DJe 05/05/2022 (info
INFORMATIVOS 2022.1 - 99
735).
As sociedades de propósito específico que atuam na atividade de incorporação imobiliária e que não
administram patrimônio de afetação podem se valer dos benefícios da recuperação judicial, desde
que não utilizem a consolidação substancial como forma de soerguimento e a incorporadora não
tenha sido destituída pelos adquirentes na forma do art. 43, VI, da Lei n. 4.591/1964. REsp 1.975.067-SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 17/05/2022. (Info 737)
O credor não indicado na relação inicial de que trata o art. 51, III e IX, da Lei n. 11.101/2005 não está
obrigado a se habilitar, mas não terá o direito de receber seu crédito pelo valor integral, devendo se
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 27/04/2022, DJe
O prazo de 10 (dez) dias, previsto no art. 8º da Lei n. 11.101/2005, para apresentar impugnação à
Esta Corte Superior possui entendimento no sentido de ser inaplicável a forma de contagem em dias úteis
prevista no CPC/2015 para o âmbito da Lei n. 11.101/2005. Tal entendimento se estende não apenas aos
lapsos relacionados ao stay period de que trata o art. 6º, § 4º, da referida lei, mas também aos demais prazos,
tendo em vista a lógica temporal estabelecida pela lei especial de recuperação judicial.
Nesse sentido, de acordo com os fundamentos adotados pela Quarta Turma no julgamento do REsp 1.699.
528/MG, da relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, a contagem em dias corridos dos prazos é a que
melhor se coaduna com a especialização do procedimento disposto na Lei n. 11.101/2005, conferindo maior
concretude às suas finalidades. Confira-se: "a adoção da forma de contagem prevista no Novo Código de
Processo Civil, em dias úteis, para o âmbito da Lei 11.101/05, com base na distinção entre prazos processuais
e materiais, revelar-se-á árdua e complexa, não existindo entendimento teórico satisfatório, com critério
seguro e científico para tais discriminações. Além disso, acabaria por trazer perplexidades ao regime especial,
com riscos a harmonia sistêmica da LRF, notadamente quando se pensar na velocidade exigida para a prática
de alguns atos e na morosidade de outros, inclusive colocando em xeque a isonomia dos seus participantes,
Tem-se, ademais, questão que ora se encontra resolvida pela Lei n. 14.112/2020, que alterou o disposto no
art. 189 da Lei n. 11.101/2005, adotando a previsão de que "todos os prazos nela previstos ou que dela
decorram serão contados em dias corridos". AgInt no REsp 1.830.738-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 07/06/2022, DJe
Na aposição de datas de vencimentos distintas em nota promissória, sendo uma coincidente com a
emissão do título, deve prevalecer, por presunção de que se trata da efetiva manifestação de vontade
do devedor, a data posterior. Caso concreto: João emitiu nota promissória em favor de uma empresa,
comprometendo-se a pagar R$ 100 mil. O emitente não pagou o débito e a empresa ajuizou execução de
título extrajudicial contra ele. O devedor apresentou exceção de pré-executividade suscitando vício formal do
título. Isso porque, na nota promissória, constaram duas informações diferentes sobre a data de vencimento
do título: • no cabeçalho constou o dia 01/07/2012 como sendo a data de vencimento da nota promissória; •
Ocorre que, mais abaixo, foi anotado, por extenso, como o dia 1º de julho de 2009 como sendo a data de
vencimento do título. Vale ressaltar que a referida nota promissória foi assinada em 01/07/2009, ou seja, essa
foi a data de emissão do título. Esse título é válido. Deve-se considerar que a data correta é a posterior
(vencimento para uma data posterior ao da emissão). Isso porque a nota promissória consiste em título de
crédito próprio, de modo que, como tal, se destina à concessão de um prazo para pagamento do valor nela
estampado. A vontade presumida do emitente de um título dessa espécie, então, é que seu pagamento
ocorra em data futura, não fazendo sentido lógico que a data de sua emissão coincida com a data do
vencimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.964.321-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
SOCIEDADES
A interposição de agravo de instrumento contra decisão que, em ação de exclusão de sócio, homologa
transação quanto à saída da sociedade e fixa critérios para apuração dos haveres constitui erro
grosseiro, inviabilizando a aplicação da fungibilidade recursal. Caso adaptado: João era sócio de uma
sociedade de advogados. Essa sociedade de advogados ajuizou ação pedindo para que João fosse excluído e
que fossem fixados os critérios de liquidação parcial da sociedade (apuração dos haveres). As partes fizeram
um acordo em audiência, o que foi homologado pelo juiz. As partes concordaram com a retirada do sócio e
se determinou a aplicação do contrato social para a apuração dos haveres, que seria realizado em liquidação
de sentença. João interpôs agravo de instrumento contra a decisão do juiz que homologou a transação
instrumento. Isso porque o pronunciamento judicial que homologa a transação (art. 487, III, “b” do CPC/2015),
pondo fim à fase cognitiva do processo com resolução de mérito, possui natureza jurídica de sentença,
conforme disposto expressamente no art. 203, § 1º, do CPC. Não existia dúvida razoável quanto ao recurso
cabível. Houve, na visão do STJ, erro grosseiro do agravante. Logo, afigura-se inviável a aplicação do princípio
da fungibilidade recursal, cuja incidência não admite a ocorrência de erro grosseiro quando da interposição
do recurso. STJ. 3ª Turma. REsp 1.954.643-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
transferência de bens, direitos e obrigações à nova sociedade, admitindo-se sua presunção quando os
mesmo endereço e com o mesmo objeto social. AgInt no REsp 1.837.435-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
DIREITO FINANCEIRO
ORÇAMENTO
liberado a execução da execução das emendas do relator (identificadas pela sigla RP9) relativas ao
transparência no uso dos recursos financeiros do Estado. Na decisão monocrática do dia 05/11/2021,
referendada pelo Plenário, determinou-se: (a) quanto ao orçamento dos exercícios de 2020 e de 2021, que
seja dada ampla publicidade, em plataforma centralizada de acesso público, aos documentos encaminhados
aos órgãos e entidades federais que embasaram as demandas e/ou resultaram na distribuição de recursos
das emendas de relator geral (RP-9); (b) quanto à execução das despesas indicadas pelo classificador RP 9
(despesas decorrentes de emendas do relator do projeto de lei orçamentária anual), que sejam adotadas as
providências necessárias para que todas as demandas de parlamentares voltadas à distribuição de emendas
eletrônica centralizada mantida pelo órgão central do Sistema de Planejamento e Orçamento Federal previsto
nos arts. 3º e 4º da Lei 10.180/2001, à qual assegurado amplo acesso público, com medidas de fomento à
transparência ativa, assim como sejam garantidas a comparabilidade e a rastreabilidade dos dados
Federal, com o art. 3º da Lei 12.527/2011 e art. 48 da Lei Complementar 101/2000, também no prazo de 30
(trinta) dias corridos; e (c) quanto ao orçamento do exercício de 2021, que seja suspensa integral e
(RP 9), até final julgamento de mérito desta arguição de descumprimento. STF. Plenário. ADPF 854 MC-Ref/DF,
ADPF 850 MC-Ref/DF e ADPF 851 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 10/11/2021 (Info 1037). No
dia 06/12/2021, a Min. Rosa Weber atendeu pedido da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e
revogou a suspensão da execução das emendas do relator (identificadas pela sigla RP9) relativas ao
orçamento de 2021. A medida havia sido determinada na liminar deferida pela Ministra e referendada pelo
Plenário, conforme vimos acima. Em outras palavras, por meio dessa decisão do dia 06/12/2021, a Ministra
suspendeu o comando que ela havia dado no item “c” da liminar concedida no dia 05/11/2021. Explicando
melhor: Na decisão do dia 05/11/2021 a Ministra havia dito que os valores alocados por meio das emendas
do relator (RP9) relacionadas com o orçamento de 2021 não deveriam ser executados (não deveriam ser
gastos esses valores). Na decisão do dia 06/12/2021, ela voltou atrás quanto a esse ponto e disse que tais
emendas podem ser executadas (o dinheiro pode ser gasto). Por quê? Segundo a Ministra, há risco de
Ministra considerou, também, que o Congresso Nacional adotou providências para cumprir a decisão
retomada da execução das despesas. A relatora determinou que a execução das despesas classificadas sob o
indicador RP 9 observe, no que couber, as regras do Ato Conjunto 1/2021 da Câmara e do Senado e da
Resolução 2/2021 do Congresso Nacional, editados para assegurar maior publicidade e transparência à
execução orçamentárias das emendas do relator. Essa segunda decisão monocrática também foi
referendada pelo Plenário do STF. STF. Plenário. ADPF 854 MC-Ref/DF, ADPF 850 MC-Ref/DF e ADPF 851
liberado a execução da execução das emendas do relator (identificadas pela sigla RP9) relativas ao
orçamento de 2021. Diante dos riscos de paralisação de serviços essenciais à coletividade, deve-se dar, em
juízo cautelar, continuidade à execução das despesas classificadas sob o identificador de Resultado Primário
9 (RP 9). STF. Plenário. ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, ADPF 851 MC-Ref-Ref/DF e ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF, Rel.
É inconstitucional lei estadual que concede benefício fiscal sem a prévia estimativa de impacto
orçamentário e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT. O art. 113 do ADCT é aplicável a todos os entes
gestão fiscal, sobretudo na concessão de benefícios tributários que ensejam renúncia de receita. Tese fixada
pelo STF:“É inconstitucional lei estadual que concede benefício fiscal sem a prévia estimativa de impacto
orçamentário e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT”. STF. Plenário. ADI 6303/RR, Rel. Min. Roberto
FINANÇAS PÚBLICAS
Não podem ser realizadas junto a instituições financeiras estatais operações financeiras com a
finalidade de obtenção de crédito para pagamento de pessoal ativo, inativo e pensionista, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios. Observa-se que a “regra de ouro” das finanças públicas
versada no art. 167, III, da CF/88, segundo a qual o ente público não deve se endividar mais que o necessário
para realizar suas despesas de capital, não impede a contratação de operações de crédito para o custeio de
despesas correntes. O estado pode financiar suas despesas de capital mediante receitas de operações de
crédito, desde que estas não excedam o montante das despesas de capital. Isso deverá ser observado pelo
chefe do Poder Executivo quando fizer a operação financeira autorizada por lei. Ademais, o art. 167, X, da
CF/88 não proíbe a concessão de empréstimos para pagamento de pessoal. O dispositivo veda, contudo, que
os empréstimos realizados junto a instituições financeiras dos governos federal e estaduais sejam utilizados
para aquele fim. Impede-se, portanto, a alocação das receitas obtidas com instituições financeiras estatais
para o custeio de pessoal ativo e inativo. Por oportuno, nada impede a realização de empréstimos com
instituições financeiras privadas para pagamento de despesas com pessoal, porquanto a proibição não as
alcança. STF. Plenário. ADI 5683/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).
Não é possível, por ofensa ao princípio da anualidade, a aplicação imediata, em meio ao exercício
financeiro, de novos coeficientes individuais de participação no FPM. Não é possível a adoção de novo
critério do coeficiente no Fundo de Participação dos Municípios, com aplicação imediata, em meio ao
dados do IBGE. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.749.966-PR, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 27/10/2021 (Info
716).
DIREITO INTERNACIONAL
EXPULSÃO
É proibida a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou
dependência socioafetiva, o que pode ser comprovado por uma declaração da mãe da criança. É
inviável a expulsão de estrangeiro visitante ou migrante do território nacional quando comprovado tratar-se
de pai de criança brasileira que se encontre sob sua dependência socioafetiva. Vale ressaltar que, no caso
concreto, a única prova trazida aos autos foi uma declaração fornecida pela genitora da criança, na qual ela
afirma que o paciente, em vias de ser expulso do Brasil, sempre assistiu, afetiva e materialmente, o infante.
STJ. 1ª Seção. HC 666.247-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021 (Info 719).
A mera pendência de ação judicial no Brasil não impede a homologação da sentença estrangeira, mas
impede a sua homologação. AgInt na SEC 6.362-EX, Rel. Min. Jorge Mussi, Corte Especial, por unanimidade,
JUÍZO DE RETRATAÇÃO
Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação a direitos humanos não gozam de
imunidade de jurisdição. RO 109-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade, julgado
TABELIONATO DE PROTESTO
É possível o protesto da CDA desde a entrada em vigor da Lei 9.492/97. Desde que a Lei nº 9.492/97 foi
editada, algumas Fazendas Públicas começaram a protestar CDA. Isso, contudo, era polêmico. Assim,
algumas pessoas que foram protestadas, ingressaram com ações discutindo a validade desses protestos.
Quando a Lei nº 12.767/2012 entrou em vigor, vários desses processos ainda estavam tramitando. Logo, é
preciso que se dê uma resposta a esses processos. Diante disso, indaga-se: mesmo antes da Lei nº
12.767/2012, já era válida a realização de protesto de CDA? SIM. É possível o protesto da CDA desde a entrada
em vigor da Lei nº 9.492/97. A Lei nº 12.767/2012 veio apenas reforçar a possibilidade de protesto de CDA,
sendo que isso já era permitido desde a entrada em vigor da Lei nº 9.492/97 que mencionou expressamente
a possibilidade de protesto de “outros documentos de dívida”. Assim, a Lei nº 12.767/2012 foi uma norma
meramente interpretativa. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.109.579-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
REGIME JURÍDICO
A remuneração do interventor de Cartório de Registro de Imóveis, com base no art. 36, §§ 2º e 3º, da Lei
8.935/94, não se submete ao teto previsto no art. 37, XI, da Constituição. Os §§ 2º e 3º do art. 36 da Lei nº
8.935/94 deixam claro que ao interventor caberá depositar em conta bancária especial metade da renda
líquida da serventia, sendo certo que esse montante, em caso de condenação do cartorário titular, caberá ao
próprio interventor, que terá indiscutível direito ao seu levantamento. No caso, não há controvérsia quanto a
ter o titular da serventia sido condenado administrativamente, com o que perdeu a delegação. Assim, nos
expressos termos da legislação vigente, aquela metade arrecadada durante o afastamento do titular deverá
ser paga ao interventor. Vale ressaltar que o STF decidiu que: “Os substitutos ou interinos designados para o
exercício de função delegada não se equiparam aos titulares de serventias extrajudiciais, visto não
atenderem aos requisitos estabelecidos nos arts. 37, inciso II; e 236, § 3º, da Constituição Federal para o
provimento originário da função, inserindo-se na categoria dos agentes estatais, razão pela qual se aplica a
eles o teto remuneratório do art. 37, inciso XI, da Carta da República.” (STF. Plenário. RE 808202 RS, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 24/08/2020. Repercussão Geral – Tema 779). Ocorre que a hipótese dos autos diz
respeito a interventor e é distinta, em princípio, da situação que envolve “substitutos ou interinos”. Ademais,
ainda que se aplique o precedente referido, o STF – na apreciação dos declaratórios – modulou os efeitos do
aludido acórdão “a partir da data em que foi encerrada a sessão de julgamento virtual (21/8/20)”, sendo certo
PENA DE MULTA
da pena de multa impede a extinção da punibilidade mesmo que já tenha sido cumprida a pena privativa de
• Regra: SIM Se o indivíduo for condenado a pena privativa de liberdade e multa, o inadimplemento da
somente haverá a extinção da punibilidade se, além do cumprimento da pena privativa de liberdade, houver
o pagamento da multa.
• Exceção: se o condenado comprovar que não tem como pagar a multa. Se o condenado comprovar a
impossibilidade de pagar a sanção pecuniária, neste caso, será possível a extinção da punibilidade mesmo
sem a quitação da multa. Bastará cumprir a pena privativa de liberdade e comprovar que não tem condições
de pagar a multa. Foi a tese fixada pelo STJ: Na hipótese de condenação concomitante a pena privativa de
liberdade e multa, o inadimplemento da sanção pecuniária, pelo condenado que comprovar impossibilidade
de fazê-lo, não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade. STJ. 3ª Seção. REsp 1.785.383-SP e REsp
1.785.861/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgados em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo - Tema 931) (Info
720).
DOSIMETRIA DA PENA
O roubo em transporte coletivo vazio é circunstância concreta que não justifica a elevação da
pena-base. Imagine que o sujeito pratica roubo dentro de um ônibus repleto de passageiros. O juiz poderá
aumentar a pena-base sob o argumento de que o crime foi praticado no interior de um meio de transporte
coletivo? Sim. A prática do crime de roubo no interior de transporte coletivo autoriza o aumento da
pena-base por revelar maior gravidade do delito, tendo em conta a exposição de maior número de pessoas. E
se o ônibus estiver vazio, neste caso, também será possível aumentar a pena-base? Não. A prática de roubo
dentro de um transporte coletivo autoriza a elevação da pena-base em razão do fato de que neste local há
justifica o aumento da pena-base. Contudo, se o ônibus está vazio, o argumento utilizado para justificar o
aumento da pena não existe. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 693.887-ES, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
Ameaçar a vítima na presença de seu filho menor de idade justifica a valoração negativa da
culpabilidade do agente. A pena-base do réu foi exasperada em razão do maior desvalor da vetorial
culpabilidade. A culpabilidade, para fins do art. 59 do Código Penal, deve ser compreendida como juízo de
reprovabilidade da conduta, apontando maior ou menor censura do comportamento do réu. Não se trata de
verificação da ocorrência dos elementos da culpabilidade, para que se possa concluir pela prática ou não de
delito, mas, sim, do grau de reprovação penal da conduta do agente, mediante demonstração de elementos
concretos do delito. O magistrado apresentou argumento válido no sentido de que as ameaças foram
lançadas quando a vítima se encontrava com seu filho menor de idade, o que revela maior desvalor e
censura na conduta do acusado, tratando-se de fundamento idôneo para análise negativa da culpabilidade.
STJ. 5ª Turma. AREsp 1.964.508-MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 29/03/2022 (Info 731).
pena-base quanto para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei n.
11.343/2006, neste último caso ainda que sejam os únicos elementos aferidos, desde que não
tenham sidos considerados na primeira fase do cálculo da pena. HC 725.534-SP, Rel. Min. Ribeiro
gravoso em até o triplo, nos termos do art. 71, parágrafo único, in fine , do Código Penal. AgRg
no HC 301.882-RJ, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
Dadas as peculiaridades do caso concreto, admite-se que ao réu primário, condenado à pena igual ou
inferior a 4 (quatro) anos de reclusão, seja fixado o regime inicial aberto, ainda que negativada
circunstância judicial. A despeito de o § 3º do art. 33 do Código Penal dispor que para a escolha do modo
inicial de cumprimento da pena deverão ser observados os critérios do art. 59, não fica o julgador compelido
a fixar regime mais gravoso do que o cabível em razão do quantitativo da sanção imposta, ainda que
Assim, embora a definição da pena-base acima do mínimo legalmente previsto autorize, nos termos do art.
33, § 3º, do Código Penal, a fixação do regime inicial imediatamente mais grave do que o estabelecido em
razão do quantum da pena aplicada, nada impede que o julgador deixe de recrudescer o modo prisional se
possível, portanto, concluir que a negativação de circunstâncias judiciais, ao contrário do que ocorre quando
recrudescer o regime prisional. REsp 1.970.578-SC, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do
TRF1ª Região), Sexta Turma, por maioria, julgado em 03/05/2022 (info 735).
incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 327, § 2º, do Código Penal. AgRg na APn 970-DF,
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 04/05/2022. (Info 736)
1. Em razão da novatio legis in mellius engendrada pela Lei n. 13.654/2018, o emprego de arma branca,
embora não configure mais causa de aumento do crime de roubo, poderá ser utilizado como
justificarem.
3. Não cabe a esta Corte Superior a transposição valorativa da circunstância para a primeira fase da
dosimetria ou mesmo compelir que o Tribunal de origem assim o faça, em razão da discricionariedade
do julgador ao aplicar a novatio legis in mellius. REsp 1.921.190-MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Terceira
Seção, por unanimidade, julgado em 25/05/2022, DJe 26/05/2022. (Tema 1110) (Info 738)
espontânea com a agravante da reincidência, seja ela específica ou não. Todavia, nos casos de
Código Penal, sendo admissível a sua compensação proporcional com a atenuante da confissão
proporcionalidade. REsp 1.931.145-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade,
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
O reconhecimento de que o réu, condenado pelo crime de corrupção de testemunha, praticou ato
incompatível com o cargo de policial militar, é fundamento válido para a decretação da perda do cargo
público. No caso concreto, o STJ reconheceu que o juízo apresentou fundamentação válida para a aplicação
Pública por parte do sentenciado, que restou condenado por corromper testemunha que iria depor em
processo penal no qual figurava como réu, ato que, de fato, é incompatível com o cargo de policial militar. O
reconhecimento de que o réu praticou ato incompatível com o cargo por ele ocupado é fundamento
suficiente para a decretação do efeito extrapenal de perda do cargo público. STJ. 6ª Turma. HC 710.966-SE,
não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação a todos os fatos que estavam
enquadrados na referida infração penal. A Lei nº 14.132/2021 acrescentou o art. 147-A ao Código Penal,
para prever o crime de perseguição, também conhecido como stalking: Art. 147-A. Perseguir alguém,
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Antes da Lei nº 14.132/2021, a
conduta acima explicada era fato atípico? NÃO. Antes da criação do crime do art. 147-A, a conduta era punida
como contravenção penal pelo art. 65 do Decreto-lei 3.688/41, que tinha a seguinte redação: Art. 65. Molestar
alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena – prisão simples, de
quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. A Lei nº 14.132/2021 revogou a
contravenção de molestamento (art. 65 do DL 3.688/41), punindo de forma mais severa essa conduta, que
tranquilidade pela Lei nº 14.132/2021 não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação a todos os
fatos que estavam enquadrados na referida infração penal. De fato, a parte final do art. 147-A do Código
Penal prevê a conduta de perseguir alguém, reiteradamente, por qualquer meio e “de qualquer forma,
invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade”, circunstância que, a toda evidência, já
estava contida na ação de “molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo
reprovável”, quando cometida de forma reiterada, porquanto a tutela da liberdade também abrange a
tranquilidade. No caso concreto apreciado pelo STJ, o acusado, mesmo depois de processado e condenado
em primeira instância pela contravenção penal do art. 65 da LCP, voltou a tentar contato com a mesma vítima
ao lhe enviar três e-mails e um presente. Desse modo, houve reiteração. Com a entrada em vigor da Lei nº
14.132/2021, ele pediu o reconhecimento de que teria havido abolitio criminis. O STJ, contudo, não aceitou.
147-A do CP, inserido pela Lei nº 14.132/2021. Logo, houve evidente continuidade normativo-típica. Vale
ressaltar, contudo, que o STJ afirmou que esse réu deveria continuar respondendo pelas sanções da
contravenção do art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688/1941 (e não pelo art. 147-A do CP). Isso porque a lei anterior
era mais benéfica. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.863.977-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
O crime de injúria praticado pela internet por mensagens privadas, as quais somente o autor e o
destinatário têm acesso ao seu conteúdo, consuma-se no local em que a vítima tomou conhecimento
do conteúdo ofensivo. Caso concreto: um indivíduo, residente em Município do interior da Paraíba, enviou
mensagem de áudio com palavras injuriosas contra uma Senadora da República. Esta mensagem de áudio foi
enviada por meio do Instagram direct. A parlamentar tomou conhecimento da ofensa em Brasília (DF). A
competência para julgar a injúria será da Justiça Federal do DF ou da Paraíba? Do Distrito Federal. No caso de
delitos contra a honra praticados por meio da internet, o local da consumação do delito é aquele onde
incluído o conteúdo ofensivo na rede mundial de computadores. Contudo, tal entendimento diz respeito aos
casos em que a publicação é possível de ser visualizada por terceiros, indistintamente, a partir do momento
em que veiculada por seu autor. Na situação em análise, embora tenha sido utilizada a internet para a
suposta prática do crime de injúria, o envio da mensagem de áudio com o conteúdo ofensivo à vítima
ocorreu por meio de aplicativo de troca de mensagens entre usuários em caráter privado, denominado
Instagram direct, no qual somente o autor e o destinatário têm acesso ao seu conteúdo, não sendo acessível
para visualização por terceiros, após a sua inserção na rede de computadores. Portanto, no caso, aplica-se o
entendimento geral de que o crime de injúria se consuma no local onde a vítima tomou conhecimento do
conteúdo ofensivo. STJ. 3ª Seção. CC 184.269-PB, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/02/2022 (Info 724).
ABANDONO DE INCAPAZ
Não há falar em trancamento da ação penal quando a complexidade dos fatos e da adequação típica
denúncia, implicam a conveniência da instrução probatória. STJ. 5ª Turma. RHC 150.707-PE, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
A qualificadora prevista no art. 129, § 2º, IV, do Código Penal (deformidade permanente) abrange
somente lesões corporais que resultam em danos físicos. Se a lesão corporal praticada resultou em
“deformidade permanente” na vítima, incide a qualificadora prevista no art. 129, § 2º, IV, do CP. A “alteração
permanente da personalidade” pode ser considerada como uma “deformidade permanente”? Não. Quando o
art. 129, § 2º, IV, do CP fala em “deformidade permanente” ele está se referindo a lesões estéticas de grande
monta, capazes de causar desconforto a quem a vê ou ao seu portador. Logo, o art. 129, § 2º, IV, do CP
abrange apenas lesões corporais que resultam em danos físicos. STJ. 6ª Turma. HC 689.921-SP, Rel. Min.
ESTELIONATO
Cheque fraudado e competência para julgar o estelionato. O crime de estelionato praticado por meio de
saque de cheque fraudado compete ao Juízo do local da agência bancária da vítima. STJ. 3ª Seção. CC
DESOBEDIÊNCIA
Comete o delito de desobediência o condutor do veículo que não cumpre a ordem de parada dada pela
desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de policiamento
ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui conduta penalmente típica, prevista no art. 330
do Código Penal Brasileiro. STJ. 3ª Seção. REsp 1.859.933-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
tráfico de drogas, inviável o revolvimento probatório em sede de habeas corpus visando a modificação
associação criminosa, tendo em vista, em especial, a prova oral colhida contida nos autos e as conversas
extraídas do aparelho celular apreendido, evidenciando que a prática do crime de tráfico de drogas não era
eventual, pelo contrário, representava atividade organizada, estável e em função da qual todos os corréus
estavam vinculados subjetivamente. A revisão da conclusão alcançada pelo Tribunal de origem, de sorte a
confirmar-se a versão defensiva de que não há comprovação da associação estável a outros corréus para o
tráfico de entorpecentes, somente poderia ser feita por meio do exame aprofundado da prova, providência
inadmissível na via do habeas corpus. STJ. 5ª Turma. HC 721.055-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
FURTO NOTURNO
A causa de aumento prevista no § 1° do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto no período
noturno) não incide no crime de furto na sua forma qualificada (§ 4°). REsp 1.890.981-SP, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 25/05/2022 (Tema 1087) (Info 738)
1. Nos termos do § 1º do art. 155 do Código Penal, se o crime de furto é praticado durante o repouso
2. O repouso noturno compreende o período em que a população se recolhe para descansar, devendo
período da noite, caso em que, em razão da diminuição ou precariedade de vigilância dos bens, ou,
4. São irrelevantes os fatos das vítimas estarem, ou não, dormindo no momento do crime, ou o local
bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em situação de repouso. REsp 1.979.989-RS,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022. (Tema 1144) (Info 742)
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso
desclassificação para o delito de importunação sexual (art. 215-A do CP). REsp 1.959.697-SC, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 08/06/2022. (Tema 1121) (Info 740)
CORRUPÇÃO ATIVA
Configura o crime de corrupção ativa o oferecimento de vantagem indevida a funcionário público para
determiná-lo a omitir ou retardar ato de ofício relacionado com o cometimento do crime de posse de
Para a configuração do delito de corrupção ativa, a norma penal sequer exige que o ato de ofício tenha
sido efetivamente praticado, até porque, em se constatando que o funcionário retardou ou omitiu ato de
ofício, ou o praticou infringindo dever funcional, incidirá a causa de aumento de pena prevista no
parágrafo único do artigo 333 do Código Penal. AREsp 2.007.599-RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato
(Desembargador convocado do TJDFT), Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 03/05/2022 (info 735).
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
O crime de porte de arma de fogo, na modalidade transportar, admite participação. O crime de porte
de arma de fogo, seja de uso permitido ou restrito, na modalidade transportar, admite participação. STJ. 6ª
Turma. REsp 1.887.992-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/12/2021 (Info 721).
Para a configuração do crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/93, agora disposto no art. 337-E do CP, é
indispensável a comprovação do dolo específico de causar danos ao erário e o efetivo prejuízo aos
cofres públicos. A consumação do crime descrito no art. 89 da Lei nº 8.666/93, agora disposto no art. 337-E
do CP (Lei nº 14.133/2021), exige a demonstração do dolo específico de causar dano ao erário, bem como
efetivo prejuízo aos cofres públicos. O crime previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/93 é norma penal em branco,
de dispensa e inexigibilidade de licitações, agora previstas na nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021).
Dado o princípio da tipicidade estrita, se o objeto a ser contratado estiver entre as hipóteses de dispensa ou
de inexigibilidade de licitação, não há falar em crime, por atipicidade da conduta. Conforme disposto no art.
74, III, da Lei n. 14.133/2021 e no art. 3º-A do Estatuto da Advocacia, o requisito da singularidade do serviço
advocatício foi suprimido pelo legislador, devendo ser demonstrada a notória especialização do agente
contratado e a natureza intelectual do trabalho a ser prestado. A mera existência de corpo jurídico próprio,
por si só, não inviabiliza a contratação de advogado externo para a prestação de serviço específico para o
ente público. Se estão ausentes o dolo específico e o efetivo prejuízo aos cofres públicos, impõe-se a
absolvição do réu da prática prevista no art. 89 da Lei nº 8.666/93. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 669.347-SP, Rel.
Min. Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado
O momento consumativo do crime de formação de cartel deve ser analisado conforme o caso
concreto, sendo errônea a sua classificação como eventualmente permanente. Caso concreto: o
Ministério Público denunciou várias pessoas porque elas teriam mantido de 2004 a 2014, um cartel
envolvendo a fabricação e comercialização de resinas. A defesa argumentou que o delito estaria prescrito
considerando que o acordo para a fixação artificial dos preços teria ocorrido em 2004. Logo, neste momento
houve a consumação do crime e se iniciou o prazo prescricional. Assim, a defesa sustentou a tese de que o
delito de formação de cartel seria crime instantâneo, consumado no ano de 2004. O TJ entendeu que o delito
seria “eventualmente permanente”, diante da situação fática, porque a vontade dos agentes e a consumação
anticompetitivos protraídos ano após ano. Qual foi a posição adotada pelo STJ? Qual é a natureza do
momento consumativo do crime de formação de cartel (art. 4º, II, da Lei 8.137/90)? O STJ disse que isso deve
ser analisado no caso concreto. O momento consumativo do crime de formação de cartel deve ser analisado
conforme o caso concreto. No caso concreto, o STJ considerou que houve a celebração sucessiva de acordos
econômicos anticompetitivos entre os agentes até 2014. Logo, o crime de formação de cartel no mercado de
resinas fez-se permanente até 2014. Vale ressaltar, contudo, que o STJ afirmou que é equivocada a
nomenclatura “eventualmente permanente”, não podendo dizer que o crime de cartel seja “eventualmente
permanente”. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.800.334-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 09/11/2021 (Info
718).
É constitucional o art. 83 da Lei nº 9.430/96. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes de
ministério público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do
crédito tributário correspondente. STF. Plenário. ADI 4980/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em
Para a configuração do delito previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, deve ser comprovado o
elemento subjetivo especial. Para a configuração do delito previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, deve ser
comprovado o dolo específico. Entendimento que segue a posição do STF que exige dolo de apropriação: O
contribuinte que deixa de recolher, de forma contumaz e com dolo de apropriação, o ICMS cobrado do
adquirente da mercadoria ou serviço incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (STF. Plenário. RHC
163334, Rel. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2019). STJ. 6ª Turma. HC 675.289-SC, Rel. Min. Olindo
que, em razão de medida protetiva de urgência decretada judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo
do imóvel de cotitularidade do agressor. Em regra, a utilização ou a fruição da coisa comum indivisa com
exclusividade por um dos coproprietários, impedindo o exercício de quaisquer dos atributos da propriedade
pelos demais consortes, enseja o pagamento de indenização àqueles que foram privados do regular domínio
sobre o bem, tal como o percebimento de aluguéis. É o que prevê o art. 1.319 do Código Civil. Contudo, impor
à vítima de violência doméstica e familiar obrigação pecuniária consistente em locativo pelo uso exclusivo e
integral do bem comum constituiria proteção insuficiente aos direitos constitucionais da dignidade humana e
da igualdade, além de ir contra um dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro de promoção do bem de
todos sem preconceito de sexo, sobretudo porque serviria de desestímulo a que a mulher buscasse o
amparo do Estado para rechaçar a violência contra ela praticada, como assegura a Constituição Federal em
seu art. 226, § 8º, a revelar a desproporcionalidade da pretensão indenizatória em tais casos. A imposição
contra a mulher e implique o afastamento do agressor do seu lar - constitui motivo legítimo a que se limite o
domínio deste sobre o imóvel utilizado como moradia conjuntamente com a vítima, não se evidenciando,
assim, eventual enriquecimento sem causa, que legitime o arbitramento de aluguel como forma de
indenização pela privação do direito de propriedade do agressor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.966.556-SP, Rel. Min.
É constitucional o art. 12-C da Lei Maria da Penha que autoriza, em algumas hipóteses, a aplicação,
pela autoridade policial, de medida protetiva de urgência em favor da mulher. É válida a atuação
supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a fim de afastar o agressor do lar, domicílio ou
local de convivência com a ofendida, quando constatado risco atual ou iminente à vida ou à integridade da
mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, conforme o art. 12-C inserido
na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). STF. Plenário. ADI 6138/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
A Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é aplicável às mulheres trans em situação de violência
doméstica. Uma mulher trans é uma pessoa que nasceu com o sexo físico masculino, mas que se identifica
como uma pessoa do gênero feminino. O conceito de sexo está relacionado aos aspectos biológicos que
servem como base para a classificação de indivíduos entre machos, fêmeas e intersexuais. Utilizamos a
palavra gênero quando queremos tratar do conjunto de características socialmente atribuídas aos diferentes
sexos. Muitas vezes, uma pessoa pode se identificar com um conjunto de características não alinhado ao seu
sexo designado. Ou seja, é possível nascer do sexo masculino, mas se identificar com características
tradicionalmente associadas ao que culturalmente se atribuiu ao sexo feminino e vice-versa, ou então, não se
identificar com gênero algum. STJ. 6ª Turma. REsp 1.977.124/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
LAVAGEM DE DINHEIRO
Na autolavagem não ocorre a consunção entre a corrupção passiva e a lavagem de dinheiro. Embora a
tipificação da lavagem de capitais dependa da existência de uma infração penal antecedente, é possível a
autolavagem, isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, do delito antecedente e do crime de lavagem,
desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que compõe a realização do primeiro
antecedente, já com a posse do proveito do crime, poderia simplesmente utilizar-se dos bens e valores à sua
recurso obtido com a prática da infração penal anterior. Dessa forma, se for confirmado, a partir do devido
processo legal, que o indivíduo deu ares de legalidade ao dinheiro indevidamente recebido, estará
configurado o crime de lavagem de capitais. STJ. Corte Especial. APn 989-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
CRIMES NO ECA
Mesmo que a genitália da criança ou adolescente não esteja desnuda, é possível enquadrar a imagem
como ‘cena de sexo explícito ou pornográfica’ para os fins do art. 241-E do ECA. O art. 241-E do ECA
prevê o seguinte: Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou
pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais
explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins
primordialmente sexuais. Esse art. 241-E, ao falar em “cena de sexo explícito ou pornográfica” não restringe
tal conceito apenas às imagens em que a genitália de crianças e adolescentes esteja desnuda. STJ. 6ª Turma.
REsp 1.899.266/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/03/2022 (Info 729).
LEI DE DROGAS
A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) não configura
condenação anterior pelo delito do art. 28 da Lei nº 11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”,
para fins de reincidência. STF. 2ª Turma. RHC 178512 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/3/2022
(Info 1048).
diminuição de pena por presunção de que o agente se dedica a atividades criminosas, derivada
da droga devem ser valoradas na primeira etapa da dosimetria da pena. Isso porque o art. 42 da Lei nº
11.343/2006 afirma que esses dois vetores preponderam sobre as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP
(que são analisados na primeira fase da dosimetria). A natureza e a quantidade da droga não podem ser
descaracterizar o tráfico privilegiado ou modular a fração diminuição de pena. Não há margem, na redação
transferência da análise dos vetores “natureza e quantidade de drogas apreendidas” para etapas posteriores,
já que erigidos ao status de circunstâncias judiciais preponderantes, sem natureza residual. Apenas
circunstâncias judiciais não preponderantes, previstas no art. 59 do Código Penal, podem ser utilizadas para
modulação da fração de diminuição de pena do tráfico privilegiado, desde que não utilizadas para fixação da
pena-base. STJ. 5ª Turma. REsp 1.985.297-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 29/03/2022 (Info
731).
quanto ao preenchimento dos requisitos da autorização do cultivo e colheita de cannabis sativa para
A autorização para cultivo, colheita, preparo e porte de cannabis sativa e de seus derivados para fins
medicinais depende da análise de critérios específicos e técnicos, cuja competência é da Agência Nacional de
técnica quanto ao preenchimento dos requisitos da autorização do cultivo e colheita de cannabis sativa para
fins medicinais (art. 2º da Lei n. 11.343/2006) não pode ser suprida pelo Poder Judiciário.
submeter a questão ao Poder Judiciário por meio da via própria na jurisdição cível. AgRg no RHC 155.610-CE,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 10/05/2022, DJe 13/05/2022.
(Info 736)
A semi-imputabilidade, por si só, não afasta o tráfico de drogas e o seu caráter hediondo, tal como a
forma privilegiada. AgRg no HC 716.210-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade,
incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006. AgRg no HC 728.750-DF, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, Julgado em 17/05/2022, DJe de 19/05/2022.
É cabível a concessão de salvo-conduto para o plantio e o transporte de Cannabis Sativa para fins
exclusivamente terapêuticos, com base em receituário e laudo subscrito por profissional médico
especializado, e chancelado pela Anvisa. Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
AUXÍLIO-DOENÇA
auxílio por incapacidade temporária. O art. 6º da Lei nº 14.131/2021 previu, em seu art. 6º, a
necessidade de perícia médica presencial: Art. 6º Fica o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
autorizado, até 31 de dezembro de 2021, a conceder o benefício de auxílio por incapacidade temporária de
que trata o art. 59 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, mediante apresentação pelo requerente de
atestado médico e de documentos complementares que comprovem a doença informada no atestado como
causa da incapacidade. O STF afirmou que esse dispositivo é constitucional, tanto do ponto de vista formal,
como material. STF. Plenário. ADI 6928/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/11/2021 (Info 1038).
APOSENTADORIA
O critério do pico de ruído pode ser adotado para a concessão de aposentadoria especial. O
reconhecimento do exercício de atividade sob condições especiais pela exposição ao agente nocivo ruído,
quando constatados diferentes níveis de efeitos sonoros, deve ser aferido através do Nível de Exposição
Normalizado (NEN). Ausente tal informação, deverá ser adotado como critério o nível máximo de ruído (pico
de ruído), desde que perícia técnica judicial comprove a habitualidade e a permanência da exposição ao
agente nocivo na produção do bem ou na prestação do serviço. STJ. 1ª Seção. REsp 1.886.795-RS, Rel. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 18/11/2021 (Recurso Repetitivo - Tema 1083) (Info 719).
previdenciários, nos casos em que o caráter socioeducativo da atividade é desvirtuado, por meio da
guarda-mirim tem caráter socioeducativo e visa à aprendizagem profissional para futura inserção no
mercado de trabalho. Logo, em regra, não é considerada como uma relação empregatícia e, portanto, em
regra, não deve ser reconhecida para fins previdenciários. A atividade de guarda-mirim pode ser desvirtuada,
configurando, em determinados casos, relação assemelhada à de natureza empregatícia, nos termos do art.
3º da CLT. Se houver esse desvirtuamento da atividade, o guarda-mirim poderá ser enquadrado como
segurado obrigatório da Previdência Social, na qualidade de empregado, como dispõe o art. 11, I, “a”, da Lei
nº 8.213/91. STJ. 1ª Turma. AREsp 1.921.941-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
seguro-desemprego, nos períodos coincidentes, seja abatido do montante devido nos casos em que o
benefício previdenciário foi equivocadamente indeferido pelo INSS. Caso concreto: João requereu
administrativamente a aposentadoria. O INSS indeferiu o pedido. Como não teve direito ao benefício, João
continuou trabalhando. Ele, no entanto, ajuizou ação pedindo a concessão da aposentadoria. O Poder
Judiciário reconheceu que deveria ter recebido a aposentadoria e concedeu o benefício determinando o
pagamento retroativo das parcelas desde o requerimento administrativo. Ocorre que João havia sido
demitido sem justa causa e estava recebendo seguro-desemprego. Assim, durante alguns meses João
receberia seguro-desemprego mais aposentadoria. Isso é possível? Não. Há vedação no art. 124, parágrafo
único, da Lei nº 8.213/91: Art. 124 (...) Parágrafo único. É vedado o recebimento conjunto do
seguro-desemprego com qualquer benefício de prestação continuada da Previdência Social, exceto pensão
por morte ou auxílio-acidente. O que fazer nesse caso? Deverão ser pagos os valores atrasados da
se ele tinha R$ 10 mil para receber de aposentadoria atrasada, mas recebeu R$ 2 mil de seguro-desemprego,
ficará com R$ 8 mil. STJ. 1ª Turma. REsp 1.982.937-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado
aposentadoria por força de decisão judicial transitada em julgado, mesmo que ela seja
posteriormente desconstituída.
Objetivamente, no presente caso, observa-se que a fruição do que foi recebido indevidamente a título de
complementação de aposentadoria está acobertada pela boa-fé, que, por sua vez, é consequência da
de terem sido recebidos por força de execução definitiva de quantum fixado em liquidação de sentença
transitada em julgado e, somente muito posteriormente, reformada em virtude de erro material. AREsp
1.775.987-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 03/05/2022.
(info 735).
Após o advento da Lei n. 9.876/1999, e para fins de cálculo do benefício de aposentadoria, no caso do
da soma de todas as contribuições previdenciárias por ele vertidas ao sistema, respeitado o teto
previdenciário. REsp 1.870.793-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
ajuizamento de demanda com pedido de aposentadoria rural configura documento novo apto a
O segurado tem direito de opção pelo benefício mais vantajoso concedido administrativamente, no
benefício reconhecido na via judicial, limitadas à data de implantação daquele conferido na via
administrativa. REsp 1.767.789-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
É constitucional o art. 10 da Lei 10.666/2003 que permite a redução ou majoração da alíquota do SAT
por decreto. É constitucional a delegação prevista no art. 10 da Lei nº 10.666/2003 para que norma infralegal
fixe a alíquota individual de forma variável da contribuição previdenciária destinada ao custeio do Seguro de
Acidente do Trabalho (SAT). STF. Plenário. ADI 4397/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/11/2021 (Info
1037).
contribuição para o Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), conforme disposto no art. 10 da Lei 10.666/2003 e
no art. 202-A do Decreto 3.048/99. O Fator Acidentário de Prevenção (FAP), previsto no art. 10 da Lei nº
10.666/2003, nos moldes do regulamento promovido pelo Decreto 3.048/99 (RPS), atende ao princípio da
legalidade tributária (art. 150, I, CF/88). STF. Plenário. RE 677725/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/11/2021
e de juros apenas quando o período a ser indenizado for posterior à edição da Medida Provisória n.
1.523/1996 (convertida na Lei n. 9.528/1997). REsp 1.914.019-SC, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção,
terceiros e ao RAT. AgInt no REsp 1.951.995-RS, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF
da 5ª Região), Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 17/05/2022, DJe 26/05/2022. (Info 739)
966/1947 do Banco do Brasil configura pretensão de outro benefício previdenciário, sendo hipótese de
reconhecimento da prescrição do fundo de direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.668.676-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro,
AUXÍLIO-ACIDENTE
incapacitante e a concessão da aposentadoria forem anteriores à alteração do art. 86, §§ 2º e 3º, da Lei
e a concessão da aposentadoria sejam anteriores à alteração do art. 86, §§ 2º e 3º, da Lei n. 8.213/1991,
9.528/1997, sendo irrelevante a data do termo inicial do benefício. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.907.861-RJ,
Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 22/03/2022 (Info 731). Obs: existe
uma súmula aprovada em 26/03/2014, que diz isso: Súmula 507-STJ: A acumulação de auxílio-acidente com
observado o critério do artigo 23 da Lei 8.213/91 para definição do momento da lesão nos casos de doença
profissional ou do trabalho.
BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS
A reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os
valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por meio de
desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que
ainda lhe estiver sendo pago. Pet 12.482-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade,
prescricional. AgInt no REsp 1.805.428-PB, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF5),
COMPETÊNCIA
Se uma ação contra o INSS estava tramitando na justiça estadual por força da competência federal
delegada (art. 109, § 3º, da CF), as alterações promovidas pela Lei 13.876/2019 não irão influenciar
julgamento dos processos que tramitam na Justiça Estadual no exercício da competência federal delegada
insculpido no art. 109, § 3º, da Constituição Federal, após as alterações promovidas pela Emenda
Constitucional nº 103/2019, aplicar-se-ão aos feitos ajuizados após 1º de janeiro de 2020. As ações, em fase
no juízo estadual, nos termos em que previsto pelo § 3º do art. 109 da Constituição Federal, pelo inciso III do
art. 15 da Lei nº 5.010/65, em sua redação original. STJ. 1ª Seção. CC 170.051-RS, Rel. Min. Mauro Campbell
É ilegal e inaplicável Resolução do Tribunal de Justiça que atribui competência exclusiva para as ações
legislação federal.
Tese A) Prevalecem sobre quaisquer outras normas locais, primárias ou secundárias, legislativas ou
administrativas, as seguintes competências de foro: i) em regra, do local do dano, para ação civil pública (art.
2º da Lei nº 7.347/85); ii) ressalvada a competência da Justiça Federal, em ações coletivas, do local onde
ocorreu ou deva ocorrer o dano de impacto restrito, ou da capital do estado, se os danos forem regionais ou
nacionais, submetendo-se ainda os casos à regra geral do CPC, em havendo competência concorrente (art.
Tese B) São absolutas as competências: i) da Vara da Infância e da Juventude do local onde ocorreu ou deva
ocorrer a ação ou a omissão, para as causas individuais ou coletivas arroladas no ECA, inclusive sobre
educação e saúde, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais
superiores (arts. 148, IV, e 209 da Lei nº 8.069/90 e Tese nº 1.058/STJ); ii) do local de domicílio do idoso nas
causas individuais ou coletivas versando sobre serviços de saúde, assistência social ou atendimento
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores (arts. 79 e
80 da Lei nº 10.741/2003 e 53, III, e, do CPC/2015); iii) do Juizado Especial da Fazenda Pública, nos foros em
que tenha sido instalado, para as causas da sua alçada e matéria (art. 2º, § 4º, da Lei nº 12.153/2009); iv) nas
hipóteses do item (iii), faculta-se ao autor optar livremente pelo manejo de seu pleito contra o estado no foro
de seu domicílio, no do fato ou ato ensejador da demanda, no de situação da coisa litigiosa ou, ainda, na
capital do estado, observada a competência absoluta do Juizado, se existente no local de opção (art. 52,
Tese C) A instalação de vara especializada não altera a competência prevista em lei ou na Constituição
Federal, nos termos da Súmula n. 206/STJ (“A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não
altera a competência territorial resultante das leis de processo.”). A previsão se estende às competências
redistribuição desses feitos, se ajuizados em comarcas diversas da 1ª Vara Especializada da Fazenda Pública
Fazenda Pública da Comarca de Várzea Grande/MT dos feitos propostos ou em tramitação em comarcas
diversas ou em juizados especiais da referida comarca ou de outra comarca, cujo fundamento, expresso ou
implícito, seja a Resolução n. 9/2019/TJMT ou normativo similar; ii) os feitos já redistribuídos à 1ª Vara
Especializada de Várzea Grande/MT com fundamento nesta norma deverão ser devolvidos aos juízos de
processamento do feito no referido foro; iii) no que tange aos processos já ajuizados - ou que venham a ser
ajuizados - pelas partes originariamente na 1ª Vara Especializada da Fazenda Pública da Comarca de Várzea
Grande/MT, poderão prosseguir normalmente no referido juízo; iv) não se aplicam as previsões dos itens (ii) e
(iii) aos feitos de competência absoluta, ou seja: de competência dos Juizados Especiais da Fazenda, das Varas
da Infância e da Juventude ou do domicílio do idoso, nos termos da Tese B deste IAC n. 10/STJ. STJ. 1ª Seção.
REsp 1.896.379-MT, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/10/2021 (Tema IAC 10) (Info 718).
Compete à Primeira Seção do STJ julgar recurso envolvendo ação regressiva proposta pela seguradora
contra a concessionária por danos causados no veículo segurado. Compete à Primeira Seção do STJ o
julgamento de ação regressiva por sub-rogação da seguradora nos direitos do segurado movida por aquela
contra concessionária de rodovia estadual, em razão de acidente de trânsito. Caso concreto: Sul América
Seguros ajuizou ação contra a concessionária de rodovias pedindo o ressarcimento do valor por ela
despendido no conserto do veículo segurado, em razão de acidente ocorrido por suposta falha na prestação
de serviço da ré. O recurso interposto no STJ envolvendo esse processo deverá ser julgado por uma das
A competência para julgar mandado de segurança contra ato do ato do Controlador-Geral do Distrito
Federal é do juízo de 1ª instância (Vara da Fazenda Pública). O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios não tem competência para processar e julgar mandado de segurança impetrado contra ato do
Controlador-Geral do Distrito Federal. Compete ao TJDFT julgar mandado de segurança contra atos dos
Secretários de Governo do Distrito Federal e dos Territórios. Ocorre que o Controlador-Geral do Distrito
Federal não é considerado Secretário de Governo, para fins de competência do TJDFT. STJ. 2ª Turma. RMS
A parte interpôs recurso especial contra acórdão do TJ; no STJ, a União pede e é admitida como
assistente simples da recorrente; o STJ determina o retorno dos autos ao Tribunal de origem para
novo julgamento; o processo deverá ser remetido para o TRF (e não para o TJ). Existindo interesse
jurídico da União no feito, na condição de assistente simples, a competência afigura-se da Justiça Federal,
conforme prevê o art. 109, I, da Constituição da República, motivo pelo qual compete ao Tribunal Regional
Federal o julgamento de embargos de declaração opostos contra acórdão proferido pela Justiça Estadual. STJ.
Corte Especial. EREsp 1.265.625-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 30/03/2022 (Info 731).
INTIMAÇÕES
Os entes públicos devem ser intimados pessoalmente pelo Portal Eletrônico; contudo, se eles não
fizeram o cadastramento, será válida a intimação pelo Diário de Justiça Eletrônico. Não há ofensa à
prerrogativa de intimação pessoal prevista no art. 183 do CPC, quando o ente público deixa de realizar o
necessário cadastramento no Sistema de Intimação Eletrônica do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do
art. 1.050 do CPC, sendo válida a intimação pela publicação no Diário de Justiça Eletrônico. STJ. 1ª Seção. AR
EXECUÇÃO
Na execução para cobrança das cotas condominiais, o exequente pode pedir a cobrança não apenas
das parcelas vencidas como também das vincendas, ou seja, daquelas que forem vencendo no curso
curso do processo. Isso porque é possível aplicar o art. 323 do CPC/2015 ao processo de execução. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.756.791-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/08/2019 (Info 653). É possível a inclusão
condomínio edilício, desde que homogêneas, contínuas e da mesma natureza. STJ. 4ª Turma. REsp
1.835.998-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/10/2021 (Info 716).
Se o débito está garantido apenas parcialmente, não há óbice à determinação judicial de inclusão do
nome do executado em cadastro de inadimplentes, nos termos do art. 782, § 3º, do CPC. Na hipótese de
haver garantia parcial do débito, o juiz pode determinar, mediante requerimento do exequente, a inscrição
do nome do executado em cadastros de inadimplentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1953667-SP, Rel. Min. Nancy
obrigação de pagar. Exemplo hipotético: o sindicato dos servidores públicos federais ajuizou ação coletiva
contra a FUNASA pedindo que: a) fosse incluída determinada gratificação nos proventos de todos os
servidores da FUNASA que se aposentaram antes da EC 41/2003; b) que fossem pagas as parcelas dessa
gratificação desde a data em que ela foi criada. O juiz julgou procedentes os pedidos. Houve o trânsito em
julgado em 01/06/2012. Repare que a FUNASA foi condenada a duas obrigações: • uma obrigação de fazer
(incluir a gratificação nos vencimentos pagos mensalmente ao servidor); • uma obrigação de pagar (pagar as
parcelas pretéritas). Em 01/06/2013, Pedro, servidor aposentado da FUNSA e um dos beneficiários com a
decisão, ingressou com pedido de execução individual de sentença coletiva. Ocorre que, nessa execução,
Pedro somente pediu a inclusão da GACEN em seu contracheque. Desse modo, a execução limitou-se à
obrigação de fazer. A gratificação foi incluída nos vencimentos. Em 29/07/2017, Pedro, alertado pelos colegas,
ingressou com nova execução individual pedindo agora o pagamento das parcelas atrasadas. Assim, nessa
segunda execução Pedro requereu o cumprimento da obrigação de pagar. Essa pretensão de pagar está
prescrita. Isso porque o prazo prescricional é de 5 anos contados do trânsito em julgado. Como a sentença
transitou em julgado em 01/06/2012, Pedro teria até 01/06/2017 para executá-la.O fato de ele ter ingressado
com a execução da obrigação de fazer não acarretou a interrupção da prescrição. STJ. 1ª Turma.AgInt no
AREsp 1.804.754-RN, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 15/03/2022 (Info 729).
Cabe ao magistrado determinar o regime fechado para cumprimento da prisão civil de acordo com o
alimentares judicialmente reconhecidas, o Conselho Nacional de Justiça editou a Recomendação CNJ n. 122,
de 3/11/2021, trazendo novas variáveis a serem consideradas na análise dos pedidos de prisão civil, quais
sejam: a) o contexto epidemiológico local e a situação concreta dos casos no município e da população
foi ofertada a dose única ou todas as doses da vacina; c) a eventual recusa do devedor em vacinar-se como
forma de postergar o cumprimento da obrigação alimentícia. Assim, cabe, ao magistrado, de acordo com as
condições pessoais do devedor e com a observância do contexto epidemiológico local, definir se é ou não o
caso de determinar, no presente momento, o regime fechado para cumprimento da prisão civil. STJ. 4ª
Turma. HC 705.213/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 5/4/2022 (Info 732).
Não é cabível extinção da execução pela ausência de juntada das avenças anteriores e subjacentes ao
contrato de confissão de dívida.STJ. REsp 1.805.898-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma,
FRAUDE À EXECUÇÃO
alienações sucessivas. A fraude à execução atua no plano da eficácia, de modo que conduz à ineficácia da
alienação ou oneração do bem em relação ao exequente. É como se o ato fraudulento não tivesse existido
para o credor. O STJ entende que a inscrição da penhora no registro do bem não constitui elemento
integrativo do ato, mas sim requisito de eficácia perante terceiros. Por essa razão, o prévio registro da
penhora do bem constrito gera presunção absoluta (juris et de jure) de conhecimento para terceiros e,
portanto, de fraude à execução caso o bem seja alienado ou onerado após a averbação. Essa presunção
pendência de ação de execução. Por outro lado, se o bem se sujeitar a registro e a penhora ou a ação de
execução não tiver sido averbada no respectivo registro, tal circunstância não obsta, prima facie, o
reconhecimento da fraude à execução. Nesse caso, entretanto, caberá ao credor comprovar a má-fé do
terceiro; vale dizer, de que o adquirente tinha conhecimento acerca da pendência do processo. Essa
Tema 243: Súmula 375-STJ: O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do
bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. Tema 243: (...) 1.4. Inexistindo registro da
penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus da prova de que o terceiro adquirente tinha
conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à insolvência (...) STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR,
Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (Recurso Repetitivo – Tema 243) (Info
552). Em caso de alienações sucessivas, inicialmente, não existe processo pendente contra o alienante do
qual o atual proprietário adquiriu o imóvel. Por outro lado, existe processo pendente contra o primeiro
alienante (o executado que vendeu o bem mesmo sem poder fazê-lo). Se não houver registro da ação ou da
adquirente sucessivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.863.952-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/10/2021 (Info
716).
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Os honorários advocatícios devem ser fixados com base em equidade se a situação estiver fora das
hipóteses do art. 85, § 2º, do CPC/2015. Nos casos em que o acolhimento da pretensão não tenha
correlação com o valor da causa ou não permita estimar eventual proveito econômico, os honorários de
sucumbência devem ser arbitrados, por apreciação equitativa (§ 8º do art. 85) porque a situação não se
enquadra nas hipóteses do § 2º do art. 85 do CPC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.885.691-RS, Rel. Min. Ricardo Villas
Os critérios, os percentuais e a base de cálculo da verba honorária não podem ser modificados
modificação na fase de cumprimento da sentença, sob pena de indevida ofensa à coisa julgada. A
advocatícios - de valor da condenação para proveito econômico - ofende a coisa julgada. STJ. 2ª Seção. AR
5869-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 30/11/2021 (Info 721).
Mesmo que o valor da condenação, o valor da causa ou o valor do proveito econômico sejam elevados,
os honorários advocatícios devem ser fixados segundo os percentuais dos §§ 2º e 3º do art. 85 do CPC,
não sendo caso de fixação por equidade. I) A fixação dos honorários por apreciação equitativa não é
permitida quando os valores da condenação, da causa ou o proveito econômico da demanda forem elevados.
É obrigatória nesses casos a observância dos percentuais previstos nos §§ 2º ou 3º do art. 85 do CPC - a
depender da presença da Fazenda Pública na lide -, os quais serão subsequentemente calculados sobre o
valor: a) da condenação; ou b) do proveito econômico obtido; ou c) do valor atualizado da causa. II) Apenas se
admite arbitramento de honorários por equidade quando, havendo ou não condenação: a) o proveito
econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou b) o valor da causa for muito baixo. STJ. Corte
Especial. REsp 1.850.512-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/03/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1076)
(Info 730).
O termo inicial dos juros de mora incidentes sobre os honorários sucumbenciais dá-se no dia seguinte
ao transcurso do prazo recursal, ainda que interposto recurso manifestamente intempestivo. Caso
hipotético: “L” ajuizou ação contra “S”. O juiz prolatou sentença que extinguiu o feito sem resolução de mérito,
especial contra o acórdão do TJ esgotou-se em 23/05/2019, tanto que em 24/04/2019 foi lavrada certidão de
trânsito em julgado. A despeito disso, em 15/06/2019 “L” interpôs recurso especial. O recurso especial foi
inadmitido em 16/12/2019 pelo fato de ter sido intempestivo, tendo sido lavrada nova certidão de trânsito
em julgado. Qual será o termo inicial dos juros de mora dos honorários? 24/04/2019. Na hipótese de
intempestividade do recurso, a coisa julgada forma-se no dia seguinte ao transcurso do prazo recursal, sendo
esse o termo inicial dos juros de mora incidentes sobre os honorários sucumbenciais. STJ. 3ª Turma. REsp
Nas hipóteses de julgamento parcial, como ocorre na decisão que exclui um dos litisconsortes
passivos sem por fim a demanda, os honorários devem observar proporcionalmente a matéria
efetivamente apreciada. REsp 1.760.538-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, por unanimidade,
condenações ao pagamento de quantia certa e à obrigação de fazer. EAREsp 198.124-RS, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 27/04/2022, DJe 11/05/2022. (Info
739)
dos envolvidos, bem como os parâmetros dispostos no art. 85, § 2º, do CPC/2015.
A jurisprudência do STJ, à luz da previsão contida no art. 85, § 2º, do CPC/2015, dispõe que a fixação dos
honorários advocatícios deve seguir a seguinte ordem de preferência: (I) quando houver condenação, devem
ser fixados entre 10% e 20% sobre o montante desta (art. 85, § 2º); (II) não havendo condenação, serão
também fixados entre 10% e 20%, das seguintes bases de cálculo: (II.a) sobre o proveito econômico obtido
pelo vencedor (art. 85, § 2º); ou (II.b) não sendo possível mensurar o proveito econômico obtido, sobre o valor
atualizado da causa (art. 85, § 2º); por fim, (III) havendo ou não condenação, nas causas em que for
inestimável ou irrisório o proveito econômico ou em que o valor da causa for muito baixo, deverão, só então,
Destaca-se, que, nas hipóteses de sucumbência recíproca, os ônus sucumbenciais devem ser distribuídos de
modo proporcional ao grau de vitória de cada uma das partes, a partir dos parâmetros de cálculo listados no
art. 85, § 2º, do CPC/2015 que se mostrem compatíveis com o êxito obtido por cada um dos agentes
litigantes. Não se mostra adequado, para fins de fixação da verba honorária, aferir o proveito econômico
obtido por embargante com lastro no valor da condenação imposta contra si. Em verdade, o montante que
Logo, é adequado, diante das particularidades da causa, bem como da proporção em que cada polo da
demanda restar vencedor e vencido, que a verba honorária seja estabelecida com bases de cálculo distintas
em relação aos litigantes, as quais melhor refletem o sucesso de cada parte, à luz do texto do art. 85, § 2º, do
CPC/2015. EDcl no AgInt nos EDcl no AREsp 1.553.027-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por
É constitucional, desde que observado o teto remuneratório, norma estadual que destina aos
5910/RO, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022. (Info 1056)
SENTENÇA
Juiz pode, mesmo no cumprimento de sentença de dívidas de natureza cível, deferir consulta ao
Sistema Financeiro Nacional (CSS) é um sistema informatizado, mantido pelo Banco Central, que mostra onde
os clientes das instituições financeiras possuem contas correntes, poupanças, depósitos e outros bens,
direitos e valores. O CSS está previsto no art. 10-A da Lei de Lavagem de Dinheiro. É possível a determinação
de consulta ao CCS-Bacen em cumprimento de sentença de natureza cível com o fim de apurar a existência
de patrimônio do devedor. O CCS-Bacen ostenta natureza meramente cadastral. Não implica constrição, mas
sim subsídio à eventual constrição, e funciona como meio para o atingimento de um fim, que poderá ser a
penhora de ativos financeiros por meio do BacenJud. Dessa forma, não há qualquer impedimento à consulta
ao CCS-Bacen nos procedimentos cíveis, devendo ser considerado como apenas mais um mecanismo à
disposição do credor na busca para satisfazer o seu crédito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.938.665-SP, Rel. Min. Nancy
Na liquidação de sentença, sendo omisso o título exequendo acerca dos critérios a serem aplicados
Manual de Cálculos na Justiça Federal. Nas liquidações de sentença, no âmbito da Justiça Federal, a
correção monetária deve ser calculada segundo os índices indicados no Manual de Orientação de
Procedimentos para os Cálculos da Justiça Federal para os meses nos quais houve expurgos inflacionários,
A regra do prazo em dobro do art. 191 do CPC/1973 (art. 229 do CPC/2015) pode ser aplicada para o
prazo de impugnação? A regra do art. 191 do CPC/1973 - que prevê a contagem em dobro dos prazos
impugnação ao cumprimento de sentença previsto no art. 475-J, § 1º, do CPC/1973. O mesmo entendimento
vale para o CPC/2015, havendo regra expressa nesse sentido no art. 525, § 3º do atual Código. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.964.438-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 07/12/2021 (Info 723).
sentença. Caso hipotético: uma empresa de comércio de petróleo ajuizou ação contra a Petrobrás pedindo a
reparação por diversos aspectos do contrato que teriam sido descumpridos pela companhia. O juiz julgou os
pedidos procedentes. No que tange a determinado pleito da autora, o magistrado consignou: “Julgo
procedente o pedido para condenar a Petrobras ao pagamento dos fretes realizados, cujos valores deverão
ser calculados na fase de liquidação.” Houve o trânsito em julgado. Na liquidação de sentença, foi realizada
perícia que apontou que a Petrobras deveria pagar R$ 2 milhões à empresa, considerando fretes realizados
desde 1987 e que não teriam sido adimplidos. No cumprimento de sentença, a Petrobrás apresentou
1993. Afirmou que a prescrição é matéria de ordem pública, que pode ser reconhecida em qualquer tempo
ou grau de jurisdição. O pedido da Petrobrás não foi acolhido pelo STJ. A prescrição não pode ser alegada
depois do trânsito em julgado do título exequendo, com exceção daquela superveniente à sentença. Na
hipótese, o período da cobrança foi definido na sentença transitada em julgado e não no laudo pericial, que
apenas determinou os valores devidos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.931.969-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Promitente comprador havia ajuizado ação pedindo direitos relacionados ao imóvel, no entanto, em
outro processo foi desconstituída a promessa de compra e venda; logo, o autor tornou-se parte
ilegítima. Deve ser reconhecida a ilegitimidade ativa da parte para ajuizar demanda de resolução contratual
de arrendamento rural quando se forma coisa julgada em processo em trâmite, no qual se reconhece a
resolução do compromisso de compra e venda do imóvel no qual se fundava o alegado direito. Havendo
posterior decisão judicial, com trânsito em julgado, reconhecendo a resolução do compromisso de compra e
venda de imóvel rural - título no qual se fundava o alegado direito do autor -, evidente sua ilegitimidade ativa
para ajuizar demanda de resolução de contrato de arrendamento rural, relativo ao bem em questão. O
julgamento deve refletir o estado de fato da lide no momento da entrega da prestação jurisdicional, de modo
que a ocorrência de fato/circunstância jurídica superveniente deve ser considerada quando da apreciação da
controvérsia, inclusive no âmbito dos recursos extraordinários, a fim de evitar decisões contraditórias ou
TUTELA PROVISÓRIA
Qual é o termo inicial para a contagem do prazo de 30 dias previsto no art. 308 do CPC para
formulação do pedido principal na hipótese em que a tutela cautelar é cumprida de forma parcial? A
contagem do prazo de 30 (trinta) dias previsto no art. 308 do CPC/2015 para formulação do pedido principal
se inicia na data em que for totalmente efetivada a tutela cautelar. Art. 308 Efetivada a tutela cautelar, o
pedido principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 dias, caso em que será apresentado nos
mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar, não dependendo do adiantamento de novas
custas processuais. Exemplo: a Agrex S/A celebrou contrato com uma cooperativa para que ela fornecesse
250 mil sacas de soja. A contratante pagou o valor devido, no entanto, a cooperativa não entregou a soja.
Diante disso, a Agrex formulou pedido de tutela cautelar antecedente contra a cooperativa, objetivando o
sequestro das 250 mil sacas de soja contratadas. O magistrado deferiu a tutela pleiteada, determinando o
sequestro da soja mencionada. Ocorre que somente se conseguiu a apreensão de 150 mil sacas de soja. Em
outras palavras, a tutela cautelar foi parcialmente efetivada. O prazo de 30 dias para a autora formular o
pedido principal não se iniciou. Isso porque só houve a efetivação parcial da tutela cautelar. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.954.457-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 9/11/2021 (Info 718).
ASTREINTES
Para se iniciar a execução provisória da multa cominatória não é mais necessário aguardar a prolação
provisória da multa cominatória fixada em tutela provisória de urgência? CPC/1973: a multa cominatória
fixada em antecipação de tutela somente podia ser objeto de execução provisória • após a sua confirmação
pela sentença de mérito e; • desde que o recurso eventualmente interposto não fosse recebido com efeito
suspensivo. STJ REsp 1.200.856-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 1º/7/2014 (Tema 743). CPC/2015: Art. 537 (...) § 3º
A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido
o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte. Desse modo, à luz do
CPC/2015, não se aplica a tese firmada no julgamento do REsp 1.200.856/RS, considerando que o novo CPC
inovou na matéria, permitindo a execução provisória da multa cominatória mesmo antes da prolação da
719).
RECLAMAÇÃO
A Reclamação com base na alegação de descumprimento de decisão proferida pelo STJ em caso
retratação previsto no art. 1.030, II, do CPC. Situação adaptada: o STJ, ao julgar o recurso especial
interposto pela autora em um caso concreto, reconheceu o nexo causal entre a conduta da ré e dano e
determinou que o processo retornasse ao TJ para julgar a ação de indenização com base nessa premissa. OTJ,
contudo, voltou a dizer que não havia nexo de causalidade. Cabe reclamação contra essa decisão, sem que
seja necessário interpor outro recurso especial, sem necessidade de garantir a possibilidade de juízo de
retratação por parte do TJ e mesmo antes do acórdão do TJ ser publicado. STJ. 1ª Seção. Rcl 41.894-SP, Rel.
liminarmente na qual a parte comparece espontaneamente para apresentar defesa. A parte ingressou
com reclamação e o relator indeferiu liminarmente a petição inicial. Neste caso, não caberia honorários
advocatícios considerando que não houve angularização. Ocorre que o reclamante decidiu recorrer contra a
decisão. Foi aí que o reclamado (beneficiário) compareceu espontaneamente nos autos apresentando
contrarrazões. Sendo a decisão de indeferimento mantida, o reclamante deverá ser condenado a pagar
honorários? SIM. Com a vigência do CPC/2015, a jurisprudência se firmou no sentido de que a reclamação
possui natureza de ação, prevendo o art. 989, III, a angularização da relação processual, com a citação do
beneficiário, que passou a ter um tratamento semelhante ao da parte, podendo promover a defesa de seus
que a relação processual não se aperfeiçoou, não sendo cabível a condenação em honorários. É preciso
diferenciar, porém, o simples indeferimento da inicial daquelas situações em que o reclamante ingressa com
recurso contra a decisão que indefere a petição inicial ou contra a que julga o pedido improcedente
liminarmente. Uma vez interposto recurso contra decisão que liminarmente indeferiu a petição inicial, não
sendo o caso de reconsideração, o beneficiário que comparecer aos autos, apresentando contrarrazões, faz
jus ao recebimento de honorários advocatícios. STJ. 2ª Seção. Rcl 41.569-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Para a cessão de crédito em precatório, em regra, não há obrigatoriedade que se realize por escritura
pública. No ordenamento jurídico pátrio, vigora o princípio da liberdade de forma (art. 107 do CC). Assim, a
não ser que a lei expressamente exija forma especial, a regra é no sentido de que a declaração de vontade
não depende de forma especial. No caso da cessão de crédito, o art. 288 do Código Civil afirma que: • Em
regra, não se trata de contrato solene. No entanto, para valer perante terceiros, é necessário que seja
celebrado por instrumento público ou por instrumento particular inscrito no Registro Público. STJ. 1ª Turma.
RMS 67.005-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/11/2021 (Info 720).
Os juros de mora incidentes sobre o valor do precatório devido pela União em ações propostas em
favor dos Estados e dos Municípios relativos às verbas destinadas ao FUNDEF/FUNDEB podem ser
utilizadas para pagamento de honorários advocatícios contratuais. AgInt no REsp 1.880.972-AL, Rel.
Min. Og Fernandes, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 19/04/2022, DJe 03/05/2022. (Info
735)
PROCESSO COLETIVO
É desnecessária a apresentação nominal do rol de filiados para o ajuizamento de Ação Civil Pública por
associação. Quando a associação ajuíza ação coletiva, ela precisa juntar aos autos autorização expressa dos
associados para a propositura dessa ação e uma lista com os nomes de todas as pessoas que estão
associadas naquele momento? 1) em caso de ação coletiva de rito ordinário proposta pela associação na
defesa dos interesses de seus associados: SIM. A associação, quando ajuíza ação na defesa dos interesses de
seus associados, atua como REPRESENTANTE PROCESSUAL e, por isso, é obrigatória a autorização individual
ou assemblear dos associados. 2) em caso de ação civil pública (ação coletiva proposta na defesa de direitos
difusos, coletivos ou individuais homogêneos): NÃO. A associação, quando ajuíza ação na defesa de direitos
difusos, coletivos ou individuais homogêneos, atua como SUBSTITUTA PROCESSUAL e não precisa dessa
demandas coletivas em que as Associações autoras atuam por representação processual, não tendo
aplicação aos casos em que agem em substituição. STJ. 2ª Seção. REsp 1.325.857-RS, Rel. Min. Luis Felipe
O MP não possui legitimidade para promover a execução coletiva prevista no art. 98 do CDC. O
Ministério Público não possui legitimidade para promover a execução coletiva do art. 98 do CDC por ausência
promovida pelos legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tenham sido
fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. Nessa execução do
art. 98, o que se tem é a perseguição de direitos puramente individuais. O objetivo é o ressarcimento do dano
individualmente experimentado, de modo que a indivisibilidade do objeto cede lugar à sua individualização.
Essa particularidade da fase de execução constitui óbice à atuação do Ministério Público, pois o interesse
social, que justificaria a atuação do Parquet, à luz do art. 129, III, da Constituição Federal, era a
homogeneidade do direito que, no caso, não mais existe. STJ. 4ª Turma. REsp 869.583-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 05/06/2012. STJ. 3ª Turma. REsp 1.801.518-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Para que a associação tenha legitimidade para promover a execução de sentença coletiva envolvendo
direitos individuais homogêneos é necessário que esteja presente a situação descrita no art. 100 do
CDC. A legitimidade subsidiária da associação e dos demais sujeitos previstos no art. 82 do CDC em
cumprimento de sentença coletiva fica condicionada, passado um ano do trânsito em julgado, a não haver
habilitação por parte dos beneficiários ou haver em número desproporcional ao prejuízo, nos termos do art.
100 do CDC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.955.899-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado 15/03/2022 (Info 729).
Se a ação coletiva foi proposta pela associação antes do RE 573.232/SC, é possível determinar a
dos associados e a lista de representados. Em ação coletiva proposta por associação, é imprescindível a
autorização expressa dos associados e a juntada da lista de representados à inicial, mostrando-se razoável
permitir que a parte autora regularize sua representação processual no caso de ajuizamento de ação coletiva
Não se aplica às ações civil públicas propostas por associações e fundações privadas o princípio da
simetria na condenação do réu nas custas e nos honorários advocatícios. A parte que foi vencida em
ação civil pública não tem o dever de pagar honorários advocatícios em favor do autor da ação. A justificativa
para isso está no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP perder a demanda, ele não irá pagar
honorários advocatícios, salvo se estiver de má-fé (art. 18 da Lei nº 7.347/85). Logo, pelo princípio da simetria,
se o autor vencer a ação, também não deve ter direito de receber a verba. Desse modo, em razão da
simetria, descabe a condenação em honorários advocatícios da parte requerida em ação civil pública, quando
inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre com a parte autora. Foi o que restou decidido pela Corte
Especial do STJ no EAREsp 962250/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/08/2018. EXCEÇÃO: se a ação
tiver sido proposta associações e fundações privadas e a demanda tiver sido julgada procedente, neste caso,
o demandado terá sim que pagar honorários advocatícios. O entendimento do STJ manifestado no EAREsp
contrário, barrado de fato estaria um dos objetivos mais nobres da Lei 7.347/85, qual seja, o viabilizar e
ampliar o acesso à justiça para a sociedade civil organizada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.974.436-RJ, Rel. Min. Nancy
O MP não tem legitimidade ativa para ajuizar ACP objetivando a restituição de valores indevidamente
O Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação em que se discute a cobrança (ou não) de
tributo, assumindo a defesa dos interesses do contribuinte, deduzindo pretensão referente a direito
individual homogêneo disponível. Foi o que decidiu o STF, tendo sido fixada a seguinte tese: O Ministério
Público não possui legitimidade ativa ad causam para, em ação civil pública, deduzir em juízo pretensão de
tributo (ARE 694294 RG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/04/2013. Repercussão Geral – Tema 645). Com base
na tese acima, o STJ reconheceu a ilegitimidade ativa do Ministério Público para ajuizar ação civil pública
aquisição de automóveis de passeio e utilitários, nos termos do Decreto-Lei nº 2.288/1986. STJ. 1ª Turma.
REsp 1.709.093-ES, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 29/03/2022 (Info 731).
A legitimidade ativa na ação civil pública das pessoas jurídicas da administração pública indireta
formos analisar apenas o texto literal, o art. 5º da Lei nº 7.347/85 apenas exige expressamente da associação
a comprovação de pertinência temática para propositura de ação civil pública. Assim, em uma interpretação
literal, as autarquias, empresas públicas, fundações públicas e sociedades de economia mista não
precisariam comprovar a pertinência temática para ajuizarem ações coletivas. Ocorre que o STJ não adota
essa interpretação literal. Isso porque não se pode esquecer que as autarquias, empresas públicas,
fundações públicas e sociedades de economia mista possuem competências legais e estatutárias, as quais
delimitam o seu campo de atuação. Justamente por isso, a doutrina defende e o STJ encampou a tese de que
as entidades da administração pública indireta somente poderão ingressar com ACP se demonstrarem a
pertinência temática. STJ. 4ª Turma. REsp 1.978.138-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
O estacionamento de veículo em vaga reservada à pessoa com deficiência não configura dano moral
coletivo. No caso concreto, o condutor estacionou, indevidamente, em vaga reservada à pessoa com
deficiência e, por conta disso, foi multado pela autoridade de trânsito. A despeito da relevância da tutela
coletiva dos direitos da pessoa com deficiência ou idosa, não há como se afirmar que a conduta em tela
tenha agredido, de modo intolerável, os valores essenciais da sociedade. No caso concreto, não há outros
elementos que permitam dizer que a conduta do motorista tenha atributos de gravidade e intolerabilidade. A
dano moral coletivo. STJ. 2ª Turma. AREsp 1.927.324-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 05/04/2022
(Info 732).
A liquidação da sentença coletiva, promovida pelo Ministério Público, não tem o condão de
pelas vítimas e seus sucessores. REsp 1.758.708-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, por
O início da execução de sentença proferida em ação coletiva referente à obrigação de fazer, em regra,
dependência na decisão transitada em julgado ou no juízo da execução. REsp 1.687.306-PB, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por maioria, julgado em 08/03/2022, DJe
RECURSOS
intimar previamente o recorrente para sanar o vício porque se trata de irregularidade formal. A
torna inexistente, mas revela irregularidade formal que pode ser sanada pela parte peticionante, nos termos
do art. 13 do CPC/1973. STJ. 1ª Turma. REsp 1.712.851-PA, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/12/2021
(Info 723).
administrativo, subscrita por servidor desprovido de poder jurisdicional, sirva como integrante do
acórdão para aferição dos fundamentos do julgado. No caso concreto, o acórdão recorrido apenas fez
referência a um julgamento de outra Turma do Tribunal, em processo diverso, que deveria ser “acostado” a
estes autos. Tal assertiva, porém, constou apenas da certidão de julgamento. Logo, neste caso, não se pode
dizer que o Tribunal tenha enfrentado a questão. Não houve, portanto, prequestionamento. Não se pode
dizer sequer que o Tribunal tenha enfrentado a questão mediante motivação per relationem. A técnica de
fundamentação por referência é legítima quando o julgador se reportar a documento anteriormente lançado
nos autos tecendo considerações próprias minimamente justificadoras da conexão entre os provimentos. No
caso em tela, a referência é afirmada em ato administrativo, reporta-se a decisão externa aos autos e não
teve nenhuma consideração própria justificadora da suposta incorporação. Não se preenche, assim, nenhum
O erro do sistema eletrônico do Tribunal de origem na indicação do término do prazo recursal é apto a
configurar justa causa para afastar a intempestividade do recurso. A falha induzida por informação
equivocada prestada por sistema eletrônico de tribunal deve ser levada em consideração, em homenagem
aos princípios da boa-fé e da confiança, para a aferição da tempestividade do recurso. STJ. Corte Especial.
EAREsp 1.759.860-PI, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/03/2022 (Info 730).
Para a prorrogação do prazo recursal é necessária a configuração da justa causa, que deve ser
demonstrada de maneira efetiva. A Corte Especial do STJ firmou o entendimento de que o equívoco na
indicação do término do prazo recursal contido no sistema eletrônico mantido exclusivamente pelo Tribunal
não pode ser imputado ao recorrente (EREsp 1805589/MT, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Corte
Especial, DJe de 25/11/2020). Entretanto, também conforme o entendimento deste Tribunal Superior, para a
prorrogação do prazo é necessária a configuração da justa causa, que deve ser demonstrada de maneira
efetiva. O STJ também já reconheceu que apenas o “print” do sistema não serve para efetivamente
demonstrar justa causa (AgInt no AREsp 1.640.644/MT, Rel. Ministro Gurgel de faria, Primeira Turma, julgado
em 31/08/2020). Diante desse cenário, tem-se exigido que a parte recorrente demonstre, de maneira efetiva,
a justa causa para obter o excepcional afastamento da intempestividade recursal. STJ. 4ª Turma. AgInt nos
EDcl no AREsp 1.837.057/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/3/2022 (Info 733).
especial (alíneas e do inciso III do art. 105 da CF) implica o seu não conhecimento pela
incidência da Súmula 284 do STF, salvo, em caráter excepcional, se as razões recursais conseguem
demonstrar, de forma inequívoca, a hipótese de seu cabimento. EAREsp 1.672.966-MG, Rel. Min.
Laurita Vaz, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 20/04/2022. (Info 734)
A ausência de expediente forense no dia de Corpus Christi deve ser comprovada pela parte, no
A juntada de calendário extraído de página da Corte de origem mantida em rede mundial de computadores
não se revela como documento idôneo a ensejar a comprovação da existência do aludido feriado, na
medida em que, para tanto, é necessária a juntada de cópia de lei ou de ato administrativo que
1.779.552-GO, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe
Não cabe recurso especial contra acórdão proferido pelo Tribunal de origem que fixa tese jurídica em
decidida", mas apenas naquele que aplique a tese fixada, que resolve a lide, desde que observados os
demais requisitos constitucionais do art. 105, III, da Constituição Federal e dos dispositivos do Código
de Processo Civil que regem o tema. REsp 1.798.374-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Corte Especial,
O STJ é pacífico quanto à impossibilidade de manifestação, em sede de Recurso Especial, ainda que
EDcl no AgInt no RMS 66.940-RJ, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
AGRAVO DE INSTRUMENTO
Se a parte pede a expedição de ofício para que sejam requisitados documentos e o juiz nega o
requerimento, cabe agravo de instrumento com base no art. 1.105, VI, do CPC. É cabível a interposição
de agravo de instrumento contra decisões que versem sobre o mero requerimento de expedição de ofício
“exibição” ou aos arts. 396 a 404 do CPC/2015. STJ. 1ª Turma. REsp 1.853.458-SP, Rel. Min. Regina Helena
MANDADO DE SEGURANÇA
Não cabe mandado de segurança contra ato de dirigente de federação esportiva. É inviável a subsunção
pública ou exercício de função pública, sobressaindo o caráter privado dessas atividades, declarando-se a
ilegitimidade passiva a obstar o exame de mérito do mandado de segurança. STJ. 4ª Turma. REsp
adaptada: João impetrou MS na 1ª instância.O juiz julgou procedente o pedido. O ente público interpôs
apelação. O TRF deu provimento à apelação. João não se conformou e quer recorrer. Qual é o recurso cabível
neste caso? Recurso especial (art. 105, III, da CF/88). Não cabe recurso ordinário (art. 105, II, da CF/88). Não
cabe mandado de segurança porque, no caso concreto, o TRF não decidiu o mandado de segurança em única
portanto, confundir: • se o mandado de segurança foi impetrado diretamente no TJ ou TRF e o Tribunal julgou
contra o impetrante: cabe recurso ordinário para o STJ. • se o mandado de segurança foi impetrado em 1ª
instância e o TJ ou TRF julgou contra o impetrante em grau de recurso: cabe recurso especial para o STJ. Vale
ressaltar que a jurisprudência do STJ é no sentido de que constitui erro grosseiro interpor recurso
ordinário, em vez de recurso especial, contra acórdão de apelação e remessa necessária em mandado
de segurança. STJ. 2ª Turma. RMS 66.905-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/03/2022 (Info 731).
O Ministério Público possui legitimidade ativa para impetrar Mandado de Segurança a fim de
promover a defesa dos interesses transindividuais e do patrimônio público material ou imaterial. Caso
alienação de um imóvel público para um particular. O Ministério Público impetrou mandado de segurança
alegando que esse ato seria ilegal. O TJ entendeu que o Ministério Público não teria legitimidade para
impetrar mandado de segurança neste caso e que deveria ter proposto ação civil pública. O STJ não
concordou. O fato de o art. 129, III, da CF/88 indicar que o Ministério Público deve promover a ação civil
pública na defesa do patrimônio público, obviamente, não o impossibilita de se utilizar de outros meios para
indisponíveis, especialmente diante do princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais. STJ. 2ª
Turma. RMS 67.108-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/04/2022 (Info 732).
O Defensor Público, atuando em nome da Defensoria Pública, possui legitimidade para impetrar
execução, atribuição não conferida exclusivamente ao Defensor Público-Geral. Processo sob segredo
judicial, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 07/06/2022, DJe
CITAÇÃO
A juntada nos autos de simples manifestação da União informando o envio de ofício, antes de
despacho determinando a sua citação para responder a ação, não configura comparecimento
espontâneo apto a suprir a falta de citação. Caso concreto: a autora ajuizou ação contra a União, o
tratamento de uma doença. O Juiz Federal deferiu o pedido de tutela provisória de urgência (“deferiu a
liminar”), determinando primeiramente, a intimação dos réus para o cumprimento da decisão e, em seguida,
a citação. O magistrado determinou, ainda, a intimação da autora para juntar aos autos três orçamentos do
mandado de citação). A União foi intimada da liminar e, alguns dias depois, peticionou ao juízo informando
que foi enviado ofício ao Ministério da Saúde para fins de cumprimento da decisão antecipatória. A autora
juntou aos autos o orçamento do suplemento. O Juiz proferiu novo despacho determinando o
prosseguimento do feito com a citação dos réus. Ocorre que esse comando não foi cumprido pela Secretaria.
O Estado e o Município apresentaram contestação, mas a União não o fez. O Juiz proferiu sentença julgando
procedente o pedido. O STJ considerou que não houve citação válida da União. De igual modo, não se pode
dizer que tenha havido comparecimento espontaneamente aos autos, apto a suprir a falta de citação, nos
termos do art. 239, § 1º, do CPC. Houve quebra de legítima expectativa da União de que seria citada para
oferta da contestação. Isso porque depois de a União ter informado sobre a expedição do ofício, o
magistrado determinou a expedição de mandado de citação, o que não aconteceu. STJ. 2ª Turma. REsp
Não é possível considerar válida a citação de pessoa jurídica em seu antigo endereço, cuja
mudança fora comunicada à Junta Comercial, mas sem alteração no sítio eletrônico da
empresa. REsp 1.976.741-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em
COISA JULGADA
Nos casos em que já executado o título formado na primeira coisa julgada, ou se iniciada sua
execução, deve prevalecer a primeira coisa julgada em detrimento daquela formada em momento
posterior. Em regra, se houver conflito entre sentenças transitadas em julgado deve valer a coisa julgada
formada por último, enquanto não invalidada por ação rescisória (STJ. Corte Especial. EAREsp 600811/SP, Rel.
Min. Og Fernandes, julgado em 04/12/2019). Exceção: nos casos em que já executado o título formado na
primeira coisa julgada, ou se iniciada sua execução, deve prevalecer a primeira coisa julgada em
detrimento daquela formada em momento posterior. STJ. 2ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1.930.955-ES,
jurisdição, apesar da presença de parte com enfermidade psíquica grave e cujos legitimados para
pedir a interdição possuem conflitos de interesses. Caso adaptado: Maria padece de enfermidade
psíquica grave (esquizofrenia). Ela ajuizou ação de obrigação de fazer contra seu ex-cônjuge Eduardo e seus
filhos Jeferson, Daniel e Michele pedindo que os réus fossem condenados a arcar com os custos de sua
internação em um estabelecimento adequado. O Ministério Público não foi intimado para intervir no
processo. A sentença julgou improcedente o pedido. A autora interpôs apelação. O MP foi intimado para
intervir em 2º grau e o TJ/SP manteve a sentença. Três conclusões importantes: 1) O art. 178, II, do CPC, ao
prever a necessidade de intervenção no processo que envolva interesse de incapaz, não se refere apenas ao
juridicamente incapaz (legal ou judicialmente declarado como tal). Essa regra abrange, igualmente, o
faticamente incapaz. Assim, ainda que a autora não estivesse declarada formalmente como incapaz, como
isso já era alegado na petição inicial, era indispensável a intimação do MP. 2) A ausência de intimação do MP
em 1º grau de jurisdição causou prejuízo concreto porque o Parquet poderá ter promovido pedido para a
interdição da autora. 3) Em regra, se houve a intervenção do Ministério Público em 2º grau, essa participação
já supre a falta de intimação do Parquet no 1º grau de jurisdição. No entanto, caso concreto, a intervenção
desde o início se fazia necessária não apenas para a efetiva participação do Parquet na fase instrutória (por
exemplo, requerendo diligências para melhor elucidar a situação econômica dos filhos e a suposta
impossibilidade de prestar auxílio à mãe), mas também para, se necessário, propor a ação de interdição apta
a, em tese, influenciar decisivamente o desfecho desta ação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.969.217-SP, Rel. Min.
GRATUIDADE DA JUSTIÇA
individual prescinde de comprovação da hipossuficiência financeira. REsp 1.899.342-SP, Rel. Min. Marco
Buzzi, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 29/04/2022. (Info 734)
É inconstitucional norma estadual que institui sanções processuais diversas da legislação federal para
litigantes que abusem do seu direito à prestação jurisdicional e um procedimento mais restritivo para
requerer o benefício da gratuidade de justiça. ADI 7063/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual
por força de decisão judicial transitada em julgado, mesmo que ela seja posteriormente
desconstituída. STJ. AREsp 1.775.987-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade,
PRAZOS
Na contagem realizada conforme o disposto no art. 219 do CPC/2015, não se deve computar o dia em
que, por força de ato administrativo editado pela presidência do Tribunal local, os prazos processuais
estavam suspensos. A cópia de página do Diário de Justiça Eletrônico, editado na forma do disposto no
art. 4º, da Lei n. 11.419/2006, é documento idôneo para comprovar a tempestividade recursal. AgInt no
AREsp 1.788.341-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por
A prerrogativa de prazo em dobro para as manifestações processuais também se aplica aos escritórios
de prática jurídica de instituições privadas de ensino superior. REsp 1.986.064-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 01/06/2022, DJe 08/06/2022. (Info 740)
procedimento investigatório em face de autoridade com foro por prerrogativa de função em Tribunal
de Justiça. Caso concreto: o COAF elaborou relatório de inteligência financeira (RIF) apontando
movimentações atípicas entre as contas de um Deputado Estadual e servidores de seu gabinete na ALE. Esse
relatório foi encaminhado ao MPE, que instaurou procedimento de investigação criminal (PIC). Em seguida, o
MPE solicitou a produção de quatro RIFs complementares sobre as operações financeiras realizadas. Ao final
da investigação, o MP ofereceu denúncia contra o parlamentar, imputando-lhe a prática, em tese, dos crimes
de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O STF declarou a nulidade dos RIFs, bem como
âmbito do PIC. Para o colegiado, o compartilhamento desses dados foi ilegítimo, porque realizado a partir de
comunicação direta entre o MPE e o Coaf, antes mesmo que houvesse autorização do Tribunal de Justiça para
instaurar procedimento investigatório criminal contra o parlamentar estadual. STF. 2ª Turma. HC 201965/RJ,
Beneficiário do auxílio emergencial transferiu o dinheiro para a conta de terceiro que deveria sacar a
quantia e entregar ao beneficiário; compete à Justiça Estadual julgar a conduta do terceiro que
decidiu não mais entregar o valor. Não compete à Justiça Federal processar e julgar o desvio de valores do
auxílio emergencial pagos durante a pandemia da covid-19, por meio de violação do sistema de segurança de
instituição privada, sem que haja fraude direcionada à instituição financeira federal. Caso concreto: Regina
era beneficiária do auxílio emergencial. O dinheiro do benefício foi transferido da Caixa para a conta de
Regina no Mercado Pago. Foi então que Regina combinou de transferir a parcela do auxílio emergencial (R$
600,00) para a conta de Pedro, um conhecido. O objetivo da transferência seria possibilitar o recebimento
antecipado do auxílio emergencial. O combinado seria Pedro sacar o dinheiro e repassá-lo para Regina.
Ocorre que Pedro não cumpriu e ficou com o dinheiro. Foi instaurado inquérito policial para apurar o crime
de furto mediante fraude que teria sido praticado por Pedro. A Justiça Estadual é competente para julgar esse
delito. STJ. 3ª Seção. CC 182.940-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/10/2021 (Info 716).
Se um Senador, que responde ação penal no STF, foi eleito Deputado Federal, sem solução de continuidade,
o STF permanece sendo competente para a causa (mantem-se a competência do STF nos casos de mandatos
cruzados de parlamentar federal). A competência penal originária do STF para processar e julgar
daquela em que consumada a hipotética conduta delitiva, desde que não haja solução de continuidade.
Desse modo, mantem-se a competência criminal originária do STF nos casos de “mandatos cruzados”
exclusivamente de parlamentar federal. STF. Plenário. Inq. 4342 QO/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
COMPETÊNCIA
É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito policial
quando autorizadas por juízo aparentemente competente. A jurisprudência do STJ tem entendido, de
maneira ampla, que o desvio de verbas do SUS atrai a competência da Justiça Federal, tendo em vista o dever
de fiscalização e supervisão do governo federal. No caso concreto, as decisões foram proferidas pelo Juízo
estadual. Assim, deve-se reconhecer a incompetência do Juízo estadual. No entanto, os atos processuais
pacífica a aplicabilidade da teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito
policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente. As provas colhidas ou autorizadas por
juízo aparentemente competente à época da autorização ou produção podem ser ratificadas a posteriori,
mesmo que venha aquele a ser considerado incompetente, ante a aplicação no processo investigativo da
teoria do juízo aparente. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156.413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
A eventual incidência da causa de aumento descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei de Lavagem
de Dinheiro, na redação dada pela Lei n. 12.683/2012, não constituiu empecilho para o juiz manter a
A eventual incidência da causa de aumento descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei de Lavagem de
Dinheiro, na redação dada pela Lei n. 12.683/2012, não constituiu empecilho para o juiz manter a
Outrossim, após fixada a causa de aumento de pena para cada crime de lavagem de dinheiro, caberá
ao Juízo da Vara de Execuções a ulterior soma ou unificação das penas eventualmente impostas em
cada uma das ações penais. RHC 157.077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade,
competência deve ser fixada no local onde o agente delituoso obteve, mediante fraude, em benefício
próprio e de terceiros, os serviços custeados pela vítima. CC 185.983-DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 11/05/2022, DJe 13/05/2022. (Info 736)
A imputação de dois crimes de organização criminosa ao agente não revela, por si só, a litispendência
das ações penais, se não ficar demonstrado o liame entre as condutas praticadas por ambas as
organizações criminosas. RHC 158.083-RO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por
PRISÃO TEMPORÁRIA
Requisitos estipulados pelo STF para a validade da decretação da prisão temporária. A decretação de
prisão temporária somente é cabível quando: (i) for imprescindível para as investigações do inquérito policial;
(ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado; (iii) for justificada em fatos novos ou
pessoais do indiciado; e (v) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas. STF. Plenário. ADI
3360/DF e ADI 4109/DF, Rel. Min. Carmen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin, julgados em
PRISÃO DOMICILIAR
domiciliar à mãe de filho menor de 12 anos se não demonstrada situação excepcional de prática de
delito com violência ou grave ameaça ou contra seus filhos (art. 318-A do CPP). O afastamento da prisão
domiciliar para mulher gestante ou mãe de criança menor de 12 anos exige fundamentação idônea e
cuidados ao filho, sob pena de infringência ao art. 318, V, do CPP. O art. 318-A, do CPP, com a redação dada
pela Lei nº 13.769/2018, dispõe que a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que: I) não
tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa e que II) não tenha cometido o crime contra
seu filho ou dependente. No caso, sendo a ré mãe de criança de 6 anos de idade, deve ser aplicada a regra
geral de proteção da primeira infância, considerando que o juízo não apresentou fundamentação idônea
para a mitigação da referida garantia constitucional. O fato de se ter apreendido grande quantidade e
variedade de entorpecentes não impede a concessão da prisão domiciliar se não demonstrados outros
motivos que evidenciam que a conduta praticada representa risco à ordem pública, como indícios de
comércio ilícito no local em que a agente cria os menores. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 712.258-SP, Rel. Min.
Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 29/03/2022 (Info 733).
A concessão de prisão domiciliar às genitoras de menores de até 12 anos incompletos não está
presumida. AgRg no HC 731.648-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha,
Quinta Turma, por maioria, julgado em 07/06/2022, DJe 23/06/2022. (Info 742)
O descumprimento das formalidades exigidas para o reconhecimento de pessoas (art. 226 do CPP)
gera a nulidade do ato; o réu condenado será absolvido, salvo se houver provas da autoria que sejam
acarretar a nulidade do ato e sua desconsideração para fins decisórios, justificando-se eventual condenação
somente se houver elementos independentes para superar a presunção de inocência. STF. 2ª Turma. RHC
Não configura cerceamento de defesa o fato de não se permitir que o réu que está preso
preventivamente tenha acesso a um notebook na unidade prisional a fim de examinar as provas que
estão nos autos. Se a defesa técnica teve pleno acesso aos autos da ação penal, anexos e mídias eletrônicas,
a negativa de ingresso de notebook na unidade prisional para que o custodiado visualize as peças eletrônicas
não configura violação do princípio da ampla defesa. A garantia constitucional à ampla defesa, prevista no
art. 5º, LV, da CF/88, envolve a defesa em sentido técnico (defesa técnica), realizada pelo advogado, e a defesa
em sentido material (autodefesa), por meio de qualquer atividade defensiva desenvolvida pelo próprio
acusado, em especial durante seu interrogatório. Contudo, no caso, a restrição ao ingresso de notebook na
unidade prisional justificava-se pelo risco de ofensa à segregação prisional. Essa restrição não representou
obstáculo à ampla defesa, pois as peças processuais mais relevantes poderiam ter sido impressas e levadas
ao preso. No caso concreto, embora o custodiado tenha formação jurídica, sua defesa técnica está sendo
patrocinada por advogados habilitados nos autos, os quais tiveram pleno acesso aos autos da ação penal,
anexos e mídias eletrônicas. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 631.960-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo Ministério Público. Ao julgar o Tema
990, o STF afirmou que é legítimo que a Receita Federal compartilhe o procedimento fiscalizatório que ela
realizou para apuração do débito tributário com os órgãos de persecução penal para fins criminais (Polícia
Federal, Ministério Público etc.), não sendo necessário, para isso, prévia autorização judicial (STF. Plenário. RE
1.055.941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019). Por outro lado, neste julgado, o STF não
autorizou que o Ministério Público faça a requisição direta (sem autorização judicial) de dados fiscais,
para fins criminais. Ex: requisição da declaração de imposto de renda. A requisição ou o requerimento, de
forma direta, pelo órgão da acusação à Receita Federal, com o fim de coletar indícios para subsidiar
investigação ou instrução criminal, além de não ter sido satisfatoriamente enfrentada no julgamento do RE
1.055.941/SP, não se encontra abarcada pela tese firmada no âmbito da repercussão geral em questão. Em
um estado de direito não é possível se admitir que órgãos de investigação, em procedimentos informais e
não urgentes, solicitem informações detalhadas sobre indivíduos ou empresas, informações essas
dentro de suas atribuições, identificar indícios de crime e comunicar suas suspeitas aos órgãos de
investigação para que, dentro da legalidade e de suas atribuições, investiguem a procedência de tais
suspeitas. Outra, é o órgão de investigação, a polícia ou o Ministério Público, sem qualquer tipo de controle,
alegando a possibilidade de ocorrência de algum crime, solicitar ao COAF ou à Receita Federal informações
financeiras sigilosas detalhadas sobre determinada pessoa, física ou jurídica, sem a prévia autorização
judicial. STJ. 3ª Seção. RHC 83.233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 09/02/2022 (Info 724).
O MP pode requerer diretamente que a Apple, Google etc guardem os registros de acesso a aplicações
de sigilo de dados. O requerimento de simples guarda dos registros de acesso a aplicações de internet ou
registros de conexão por prazo superior ao legal, feito por autoridade policial, administrativa ou Ministério
investigação criminal. O Promotor enviou ofícios à Apple e a Google requerendo que tais empresas
preservassem os dados telemáticos dos investigados enquanto o Poder Judiciário não aprecia os pedidos de
quebra do sigilo. Não há ilegalidade nesse pedido, não sendo necessária prévia autorização judicial. STJ. 6ª
Turma. HC 626.983-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF da 1ª Região), julgado
manifestação de vontade e, por consequência, contamina toda a busca e apreensão. Caso adaptado: os
policiais se deslocaram para o bairro Bom Jesus para verificar “denúncias anônimas”, recebidas pelo “disque
denúncia”, de que estaria sendo praticado tráfico de drogas em determinada casa. Ao chegarem no local,
encontraram João na frente da casa. Os policiais fizeram busca pessoal em João, mas não encontraram
substância entorpecente. Em seguida, os policiais alegaram que explicaram a João que estavam procurando
drogas, tendo ele confessado que possuía a substância e autorizado que os agentes ingressassem em sua
residência. Ao entrarem na casa, os policiais encontraram grande quantidade de droga e outras pessoas
preparando a substância para comercialização. João e os demais foram presos em flagrante e denunciados
por tráfico de drogas. Quando interrogado em juízo, João trouxe uma narrativa diferente e afirmou que foi
surpreendido pelos policiais militares na porta de sua casa e que eles alegaram que estavam procurando
uma pessoa que havia cometido um roubo, razão pela qual solicitaram que ele abrisse o portão para verificar
se o ladrão havia se escondido ali. Para o STJ, essa apreensão foi lícita? Não. O STJ entendeu que a busca foi
ilícita, assim como todas as provas dela derivadas. Isso porque não houve comprovação de consentimento
válido para o ingresso no domicílio do réu. Diante dessa dúvida sobre o que de fato ocorreu, pode-se afirmar
que é inverossímil a versão policial, segundo a qual o suspeito, abordado na rua, espontaneamente havia
confessado possuir entorpecentes dentro de casa e permitido que os agentes de segurança ingressassem no
ressaltou que o fez apenas porque informado sobre a necessidade de perseguirem um potencial criminoso
em fuga, e não para que fossem procuradas e apreendidas drogas em seu desfavor. Partindo dessa
premissa, isto é, de que a autorização foi obtida mediante indução do acusado a erro pelos policiais militares,
não pode ser considerada válida a apreensão das drogas, porquanto viciada a manifestação volitiva do réu.
STJ. 6ª Turma. HC 674.139-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
A violação de domicílio com base no comportamento suspeito do acusado, que empreendeu fuga ao
ver a viatura policial, não autoriza a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para a
entrada dos agentes públicos na residência. Para que os policiais façam o ingresso forçado em domicílio,
resultando na apreensão de material apto a configurar o crime de tráfico de drogas, isso deve estar
justificado com base em elementos prévios que indiquem que havia um estado de flagrância ocorrendo no
local. No caso em tela, a violação de domicílio teve como justificativa o comportamento suspeito do acusado –
que empreendeu fuga ao ver a viatura policial –, circunstância fática que não autoriza a dispensa de
investigações prévias ou do mandado judicial para a entrada dos agentes públicos na residência, acarretando
a nulidade da diligência policial. Além disso, a alegação de que a entrada dos policiais teria sido autorizada
pelo agente não merece acolhimento. Isso porque não há outro elemento probatório no mesmo sentido,
salvo o depoimento dos policiais que realizaram o flagrante, tendo tal autorização sido negada em juízo pelo
réu. Segundo entende o STJ, é do estado acusador o ônus de comprovar que houve consentimento válido do
morador para que os policiais entrem na casa. Assim, o estado acusador é quem deve provar que o morador
autorizou a entrada, não sendo suficiente a mera palavra dos policiais. STJ. 6ª Turma. HC 695.980-GO, Rel.
É inválido o reconhecimento pessoal realizado em desacordo com o modelo do art. 226 do CPP, o que
implica a impossibilidade de seu uso para lastrear juízo de certeza da autoria do crime, mesmo que de
forma suplementar. No caso concreto, o réu foi condenado, exclusivamente, com base em reconhecimento
fotográfico realizado pela vítima e sem que nenhuma outra prova (apreensão de bens em seu poder,
confissão, relatos indiretos etc.) autorizasse o juízo condenatório. Além disso, a autoridade policial induziu a
comparsa (adolescente), de modo a reforçar sua crença de que teriam sido eles os autores do roubo. Tal
comportamento, por óbvio, acabou por comprometer a mínima aproveitabilidade desse reconhecimento.
Estudos sobre a epistemologia jurídica e a psicologia do testemunho alertam que é contraindicado o show-up
(conduta que consiste em exibir apenas a pessoa suspeita, ou sua fotografia, e solicitar que a vítima ou a
testemunha reconheça se essa pessoa suspeita é, ou não, autora do crime), por incrementar o risco de falso
reconhecimento. O maior problema dessa dinâmica adotada pela autoridade policial está no seu efeito
indutor, porquanto se estabelece uma percepção precedente, ou seja, um pré-juízo acerca de quem seria o
ou a vítima reconhece alguém como o autor do delito, há tendência, por um viés de confirmação, a repetir a
mesma resposta em reconhecimentos futuros, pois sua memória estará mais ativa e predisposta a tanto. STJ.
6ª Turma. HC 712.781-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/03/2022 (Info 730).
Não é possível a quebra de sigilo de dados informáticos estáticos (registros de geolocalização) nos
casos em que haja a possibilidade de violação da intimidade e vida privada de pessoas não
diretamente relacionadas à investigação criminal. Em regra, é possível que o juiz determine a quebra de
sigilo de dados informáticos estáticos (registros), relacionados à identificação de usuários que operaram em
determinada área geográfica, suficientemente fundamentada. Isso não ofende a proteção constitucional à
privacidade e à intimidade. Ex: determinação ao Google a identificação dos IPs ou Device IDs que tenham se
utilizado do Google Maps e/ou do Waze no dia do crime, no período das 19h até as 23h, para realizar
consulta do endereço onde ocorreu o delito. Isso é, em tese, válido. No entanto, não é possível que se
informações íntimas (como o acesso irrestrito a fotos e conteúdo de conversas). Assim, será inválida a ordem
se o juiz determinou que o Google fornecesse o acesso aos seguintes dados das pessoas estiveram no local:
conteúdo dos e-mails do Gmail; conteúdo do Google Fotos e do Google Drive; listas de contatos; históricos de
localização, incluindo os trajetos pesquisados; pesquisas feitas no Google; e listas de aplicativos baixados. STJ.
5ª Turma. RMS 68.119-RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), julgado em
Se a polícia entra na residência especificamente para efetuar uma prisão, ela não pode vasculhar
indistintamente o interior da casa porque isso seria “pescaria probatória”, com desvio de finalidade.
Admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa conceder um
salvo-conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente, em verdadeira pescaria
probatória (fishing expedition), sob pena de nulidade das provas colhidas por desvio de finalidade. STJ. 6ª
Turma. HC 663.055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/03/2022 (Info 731).
Policiais não podem fazer a revista pessoal unicamente pelo fato de acharem que o suspeito
demonstrou nervosismo ao avistá-los. De acordo com o art. 244 do CPP, a execução da busca pessoal sem
mandado, como medida autônoma, depende da presença de fundada suspeita da posse de objetos que
constituam corpo de delito. Como a lei exige fundada suspeita, não é suficiente a mera conjectura ou
desconfiança. Assim, não é possível realizar busca pessoal apenas com base no fato de que o acusado,
que estava em local conhecido como ponto de venda de drogas, ao avistar a viatura policial,
demonstrou nervosismo. A percepção de nervosismo por parte de agentes públicos é dotada de excesso de
6ª Turma. REsp 1.961.459-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 05/04/2022 (Info 732).
do juiz instrutor antes de oportunizar as indagações pela defesa. Caso concreto: Vitor era réu em um
acusação a respeito dos fatos imputados. O acusado afirmou que só responderia às perguntas formuladas
por seu advogado. O juiz, contudo, disse que isso não seria possível e impediu Vitor de responder aos
questionamentos da defesa. Para o juízo, o fato de o acusado ter se negado a responder perguntas feitas
pelo magistrado excluiria a possibilidade de outros esclarecimentos de qualquer das partes, inclusive da
defesa. Essa conduta foi ilícita. O art. 186 do CPP estipula que, depois de devidamente qualificado e
cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório,
do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. O
interrogatório, como meio de defesa, implica ao imputado a possibilidade de responder a todas, nenhuma ou
a apenas algumas perguntas direcionadas ao acusado, que tem direito de poder escolher a estratégia que
melhor lhe aprouver à sua defesa. Verifica-se a ilegalidade diante do precoce encerramento do interrogatório
do réu, após manifestação do desejo de não responder às perguntas do juízo condutor do processo, senão
do seu advogado, sendo excluída a possibilidade de ser questionado pelo seu defensor técnico. STJ. 6ª Turma.
HC 703.978-SC, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em
226 do CPP. O art. 226 do CPP trata sobre o procedimento para reconhecimento de pessoa. Vale ressaltar
que esse dispositivo diz que o reconhecimento de pessoa somente será realizado “quando houver
necessidade”, ou seja, quando houver dúvida sobre a identificação do suposto autor. Isso porque a prova de
autoria não é tarifada pelo Código de Processo Penal, podendo ser comprovada por outros meios. No caso
concreto, houve um reconhecimento sem observância das formalidades do art. 226 do CPP. No entanto,
apesar disso, a condenação foi mantida porque havia outras provas e a autoria delitiva não estava em dúvida
mesmo antes desse reconhecimento. STJ. 6ª Turma. HC 721.963-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
Excepcionalmente, presentes nos autos elementos aptos a comprovar a escalada de forma inconteste,
No caso, a circunstância qualificadora foi comprovada pela prova oral, inclusive pela confissão do próprio réu,
além da existência de laudo papiloscópico que identificou impressões digitais no local apontado pela vítima
como sendo o local onde o réu pulou o muro. AgRg no REsp 1.895.487-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha
A mera alegação genérica de "atitude suspeita" é insuficiente para a licitude da busca pessoal.
Há três razões principais para que se exijam elementos sólidos, objetivos e concretos para a
realização de busca pessoal - vulgarmente conhecida como "dura", "geral", "revista", "enquadro" ou
a) evitar o uso excessivo desse expediente e, por consequência, a restrição desnecessária e abusiva
dos direitos fundamentais à intimidade, à privacidade e à liberdade (art. 5º, caput, e X, da Constituição
Federal), porquanto, além de se tratar de conduta invasiva e constrangedora - mesmo se realizada com
urbanidade, o que infelizmente nem sempre ocorre -, também implica a detenção do indivíduo, ainda que
b) garantir a sindicabilidade da abordagem, isto é, permitir que tanto possa ser contrastada e questionada
pelas partes, quanto ter sua validade controlada a posteriori por um terceiro imparcial (Poder Judiciário), o
que se inviabiliza quando a medida tem por base apenas aspectos subjetivos, intangíveis e não
demonstráveis;
c) evitar a repetição - ainda que nem sempre consciente - de práticas que reproduzem preconceitos
estruturais arraigados na sociedade, como é o caso do perfilamento racial, reflexo direto do racismo
estrutural.
Em um país marcado por alta desigualdade social e racial, o policiamento ostensivo tende a se concentrar em
grupos marginalizados e considerados potenciais criminosos ou usuais suspeitos, assim definidos por fatores
subjetivos, como idade, cor da pele, gênero, classe social, local da residência, vestimentas etc. Sob essa
perspectiva, a ausência de justificativas e de elementos seguros a legitimar a ação dos agentes públicos -
No caso, a guarnição policial "deparou com um indivíduo desconhecido em atitude suspeita" e, ao abordá-lo
e revistar sua mochila, encontrou porções de maconha e cocaína em seu interior, do que resultou a prisão
em flagrante do recorrente. Não foi apresentada nenhuma justificativa concreta para a revista no recorrente
além da vaga menção a uma suposta "atitude suspeita", algo insuficiente para tal medida invasiva, conforme
a jurisprudência deste Superior Tribunal, do Supremo Tribunal Federal e da Corte Interamericana de Direitos
Humanos. RHC 158.580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
ainda que clandestina ou inadvertida, realizada por um dos interlocutores, não configura crime,
estabelecida no art. 396-A do Código de Processo Penal. AgRg no RHC 161.330-RS, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 05/04/2022, DJe 08/04/2022. (Info 738)
diligências prévias que redunda em acesso à residência do acusado configura exercício regular da
O ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial para busca e apreensão é legítimo se amparado em
fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, especialmente nos crimes
de natureza permanente, como são o tráfico de entorpecentes e a posse ilegal de arma de fogo.
Afere-se a justa causa para o ingresso forçado em domicílio mediante a análise objetiva e satisfatória do
contexto fático anterior à invasão, considerando-se a existência ou não de indícios mínimos de situação de
Com efeito, a investigação policial originada de informações obtidas por inteligência policial e mediante
diligências prévias que redunda em acesso à residência do acusado não se traduz em constrangimento ilegal,
mas sim em exercício regular da atividade investigativa promovida pelas autoridades policiais. AgRg no HC
734.423-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe
TERMO CIRCUNSTANCIADO
Lei estadual pode autorizar que policiais militares e bombeiros militares lavrem TCO. É constitucional
norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura de termos circunstanciados pela Polícia Militar e pelo
Corpo de Bombeiros Militar. O art. 69 da Lei dos Juizados Especiais, ao dispor que “a autoridade policial que
tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado” não se refere exclusivamente à polícia
instrumento legal que se limita a constatar a ocorrência de crimes de menor potencial ofensivo, motivo pelo
qual não configura atividade investigativa e, por via de consequência, não se revela como função privativa de
polícia judiciária. STF. Plenário. ADI 5637/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11/3/2022 (Info 1046).
O descumprimento do prazo do parágrafo único do art. 316 do CPP não acarreta automaticamente a
liberdade do preso. Esse dispositivo se aplica também aos Tribunais? Mudança de entendimento! O
transcurso do prazo previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo Penal não acarreta,
aplica-se até o final dos processos de conhecimento. O parágrafo único do art. 316 do CPP se aplica para:
• o juízo em 1ª instância: SIM • o TJ ou TRF: SIM (tanto nos processos de competência originária do TJ/TRF –
foro por prerrogativa de função – como também durante o tempo em que se aguarda o julgamento de
• o STJ/STF: em regra, não. Encerrado o julgamento de segunda instância, não se aplica o art. 316, parágrafo
único, do CPP. Exceção: caso se trate de uma ação penal de competência originária do STJ/STF. Em conclusão,
o art. 316, parágrafo único, do CPP aplica-se: a) até o final dos processos de conhecimento, onde há o
encerramento da cognição plena pelo Tribunal de segundo grau; b) nos processos onde houver previsão de
prerrogativa de foro. Por outro lado, o art. 316, parágrafo único, do CPP não se aplica para as prisões
cautelares decorrentes de sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado. STF.
Plenário. ADI 6581/DF e ADI 6582/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
A mera circunstância de o agente ter sido denunciado em razão dos delitos descritos na Lei
12.850/2013 não justifica a imposição automática da prisão preventiva, devendo-se avaliar a presença
de elementos concretos, previstos no art. 312 do CPP. Conquanto os tribunais superiores admitam a
circunstância de o agente ter sido denunciado pelos delitos descritos na Lei n. 12.850/2013 não
justifica a imposição automática da custódia prisional. Com efeito, deve-se avaliar a presença de
elementos concretos, previstos no art. 312 do CPP, como o risco de reiteração delituosa ou indícios de que o
grupo criminoso continua em atividade, colocando em risco à ordem pública. STJ. 5ª Turma. HC 708.148-SP,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 05/04/2022 (Info 732).
prorrogações forem fundamentadas, com justificativa legítima, mesmo que sucinta, a embasar a
continuidade das investigações. São lícitas as sucessivas renovações de interceptação telefônica, desde
que, verificados os requisitos do art. 2º da Lei nº 9.296/96 e demonstrada a necessidade da medida diante de
devidamente motivadas, com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das
investigações. São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação
com o caso concreto. STF. Plenário. RE 625263/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, redator do acórdão Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2021 (Repercussão Geral – Tema 661) (Info 1047).
É válida a decisão judicial que se utiliza de fundamentação per relationem para decretar a
interceptação telefônica? Admite-se o uso da motivação per relationem para justificar a quebra do sigilo
das comunicações telefônicas. No entanto, as decisões que deferem a interceptação telefônica e respectiva
prorrogação devem prever, expressamente, os fundamentos da representação que deram suporte à decisão
- o que constituiria meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório, da motivação reportada
como razão de decidir - sob pena de ausência de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar. STJ. 6ª
Turma. HC 654.131-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/11/2021 (Info 723).
A conversão do conteúdo das interceptações telefônicas em formato escolhido pela defesa não é ônus
atribuído ao Estado. Caso concreto: o juízo disponibilizou acesso integral aos arquivos digitais com os
áudios das interceptações telefônicas. Ocorre que a defesa pediu para ter acesso aos arquivos do sistema
Vigia, software utilizado pelas companhias de telefonia para viabilizar os procedimentos de interceptação
telefônica autorizados pela Justiça no curso de investigações criminais. O pedido se fundou em alegada
quebra de cadeia de custódia da prova, cuja comprovação, segundo a defesa, depende de acesso aos dados
armazenados pelas operadoras de telefonia no mencionado sistema. A Lei nº 9.296/96 exige apenas que se
confira às partes acesso aos diálogos interceptados. No caso concreto, os elementos de prova estão
disponíveis para a defesa, de maneira que não se pode falar em vício por ser um formato de arquivo
preferível a outro. A disponibilização dos arquivos com os diálogos interceptados supre a demanda da defesa
processo penal democrático, não sendo viável a imposição de ônus ao Estado quanto à conversão dos
arquivos digitais contendo os elementos de prova para o formato mais conveniente para a defesa. O
reconhecimento do vício depende de demonstração concreta do prejuízo suportado pela parte, o que não
ocorreu no caso sob exame. A alegação de quebra de cadeia de custódia é feita de forma genérica e,
portanto, não traz elementos que permitam vislumbrar qualquer ocorrência que comprometa a idoneidade
NULIDADES
O ajuizamento de duas ações penais referentes aos mesmos fatos, uma na Justiça Comum Estadual e
outra na Justiça Eleitoral, viola a garantia contra a dupla incriminação. O réu foi absolvido pela Justiça
Eleitoral. Ocorre que, logo em seguida, foi denunciado, pelos mesmos fatos, na Justiça Estadual. Isso não é
possível. A sentença da Justiça Eleitoral foi proferida no exercício de verdadeira jurisdição criminal, de modo
que o prosseguimento da ação penal na Justiça Estadual pelos mesmos fatos encontra óbice no princípio da
vedação à dupla incriminação, também conhecido como double jeopardy clause ou, como é mais comum no
direito brasileiro, o postulado do ne bis in idem (proibição da dupla persecução penal). Embora não tenha
previsão expressa na Constituição Federal de 1988, a garantia do ne bis in idem é um limite implícito ao
poder estatal, derivada da própria coisa julgada e decorrente de compromissos internacionais assumidos
pelo Brasil. A Convenção Americana de Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos, incorporados ao direito brasileiro com status supralegal, tratam da vedação à dupla incriminação.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.847.488-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/04/2021 (Info 719).
julgamento contra a honra do jurisdicionado que está sendo julgado, podem configurar causa
de nulidade absoluta, haja vista que ofendem a garantia constitucional da imparcialidade, que
deve, como componente do devido processo legal, ser observada em todo e qualquer julgamento em
um sistema acusatório. HC 718.525-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF
TRIBUNAL DO JÚRI
Juiz não pode unilateralmente alterar os prazos dos debates orais no Júri previstos no CPP; no
entanto, isso pode ser feito mediante acordo entre as partes. Considerado o rigor formal do
procedimento do júri, não é possível que o juiz, unilateralmente, estabeleça prazos diversos daqueles
definidos pelo legislador (art. 477 do CPP) para os debates orais, seja para mais ou para menos, sob pena de
chancelar uma decisão contra legem. Por outro lado, é possível que, no início da sessão de julgamento,
mediante acordo entre as partes, seja estabelecida uma divisão de tempo que melhor se ajuste às
O art. 155 do CPP, ao proibir que a condenação se fundamente apenas em elementos colhidos durante
a fase inquisitorial, tem aplicação também para as sentenças proferidas no Júri. Os jurados não
precisam motivar sua decisão (sistema da íntima convicção), no entanto, o Tribunal de 2ª instância precisa
fazê-lo. Por isso, ao julgar a apelação da defesa, cabe ao Tribunal de Justiça (ou TRF) a tarefa de identificar
quais foram as provas produzidas nos autos que demonstram a autoridade e a materialidade delitivas, bem
como eventuais qualificadoras, sob pena de, não o fazendo, incorrer em negativa de prestação jurisdicional.
Se o Tribunal encontrar prova judicializada idônea, deverá manter a condenação e/ou a qualificadora. Por
outro lado, se não houver provas produzidas na forma do art. 155 do CPP, o Tribunal deverá dar provimento
ao recurso, cassando a condenação. Caso concreto: as qualificadoras foram baseadas apenas no depoimento
prestado no inquérito policial por uma testemunha que ouviu dizer. Diante disso, o STJ decidiu cassar a
sentença e submeter o réu a novo júri. Isso porque: As qualificadoras de homicídio fundadas exclusivamente
em depoimento indireto (Hearsay Testimony), violam o art. 155 do CPP, que deve ser aplicado aos veredictos
condenatórios do Tribunal do Júri. STJ. 5ª Turma. REsp 1.916.733-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
Quesitos complexos, com má redação ou com formulação deficiente, geram a nulidade do julgamento
do Tribunal do Júri, por violação ao art. 482, parágrafo único, do CPP. No caso concreto, o 2º quesito,
relacionado à autoria, foi redigido nos seguintes termos: “2º quesito: O acusado xxxxx, maior interessado na
desocupação do imóvel, de igual sorte, tendo determinado a morte da vítima, contribuiu decisivamente para
a prática do crime?” A intenção do legislador ao prever o parágrafo único do art. 482 do CPP é prevenir os
chamados “vícios de complexidade”. Assim, os quesitos devem ser redigidos em fórmula “simples”, não
compostas, não complexas, sem conotações, sobretudo, porque as respostas serão binárias, na base do
“sim” ou “não”. Ademais, em atenção ao direito penal do fato, o juiz presidente do tribunal do júri, ao
formular quesitos relativos à autoria delitiva, deve evitar inferências, pressuposições, adjetivações e
estereotipagem, concentrando-se apenas nos fatos concretos em julgamento. O caráter do agente e motivos
do crime não devem ser considerados para fins de formulação de quesitos do júri, sob pena de ofensa aos
princípios da presunção de inocência e do devido processo legal. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.883.043-DF, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/03/2022 (Info 730).
Apesar da alteração promovida pela Lei 13.964/2019 no art. 492 do CPP, é ilegal a execução provisória
da pena como decorrência automática da condenação proferida pelo Tribunal do Júri. Pendente de
julgamento no STF o Tema n. 1.068, em que se discute a constitucionalidade do art. 492, I, do CPP, deve ser
condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou superior a 15 anos de reclusão. STJ. 5ª Turma.
CADEIA DE CUSTÓDIA
cadeia de custódia devem ser sopesadas pelo magistrado com todos os elementos produzidos na instrução,
a fim de aferir se a prova é confiável. STJ. 6ª Turma. HC 653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Rogerio
HABEAS CORPUS
Se o habeas corpus discutia a quebra na cadeia de custódia da prova da materialidade, o que teria
ocorrido no momento do flagrante, a superveniência da sentença condenatória não faz com que esse
habeas corpus perca o objeto. A superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar
habeas corpus que analisa tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia da prova,
ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como justa causa para a própria ação penal. STJ. 6ª Turma.
HC 653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 720).
Não cabe habeas corpus para questionar passaporte vacinal/sanitário. O Habeas corpus não constitui
via própria para impugnar Decreto de governador de Estado sobre adoção de medidas acerca da
apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19 para que as pessoas possam circular e
permanecer em locais públicos e privados. STJ. 2ª Turma. RDC no HC 700.487-RS, Rel. Min. Francisco Falcão,
INDULTO
É possível computar o tempo de prisão provisória para fins de cálculo do indulto natalino do Decreto
9.246/96. Para concessão do indulto previsto no Decreto Presidencial nº 9.246/2017, pode ser computado o
tempo de prisão cautelar cumprido anteriormente à sua publicação, cuja condenação transitou em julgado
PRISÃO
A determinação do magistrado pela cautelar máxima, em sentido diverso do requerido pelo Ministério
Público, pela autoridade policial ou pelo ofendido, não pode ser considerada como atuação ex officio.
Caso adaptado: João praticou lesão corporal e proferiu ameaças de morte contra a sua esposa Regina. Ele foi
preso em flagrante. No dia seguinte, foi realizada audiência de custódia. Na audiência, o Promotor de Justiça
pugnou pela homologação do auto de prisão em flagrante e pela aplicação de medidas cautelares diversas da
prisão (art. 319 do CPP). O juiz decretou a prisão preventiva (cautelar máxima). Essa situação envolve três
interessantes temas: 1) É possível atualmente que o juiz decrete, de ofício, a prisão preventiva? Não. Após o
advento da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível a conversão da prisão em flagrante em
Ministério Público. 2) É possível que o juiz decrete, de ofício, a prisão preventiva do indivíduo nos casos de
violência doméstica com base art. 20 da Lei Maria da Penha? Não. O art. 20 da Lei Maria da Penha não é uma
exceção à regra acima exposta. A proibição de decretação da prisão preventiva de ofício também se estende
para o art. 20 da Lei Maria da Penha. Se você reparar o art. 20 da Lei nº 11.340/2006 ele continua dizendo,
textualmente, que o juiz pode decretar a prisão preventiva de ofício nos casos envolvendo violência
doméstica. Ocorre que esse art. 20 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) destoa do atual regime
jurídico. A atuação do juiz de ofício é vedada independentemente do delito praticado ou de sua gravidade,
ainda que seja de natureza hedionda, e deve repercutir no âmbito da violência doméstica e familiar. 3) Se o
MP pediu a aplicação de medida cautelar diversa da prisão, o juiz está autorizado a decretar a prisão? Sim. A
decisão que decreta a prisão preventiva, desde que precedida da necessária e prévia provocação do
Ministério Público, formalmente dirigida ao Poder Judiciário, mesmo que o magistrado decida pela cautelar
pessoal máxima, por entender que apenas medidas alternativas seriam insuficientes para garantia da ordem
pública, não deve ser considerada como de ofício. Isso porque uma vez provocado pelo órgão ministerial a
determinar uma medida que restrinja a liberdade do acusado em alguma medida, deve o juiz poder agir de
acordo com o seu convencimento motivado e analisar qual medida cautelar pessoal melhor se adequa ao
caso. Impor ou não cautelas pessoais, de fato, depende de prévia e indispensável provocação. Entretanto, a
escolha de qual delas melhor se ajusta ao caso concreto há de ser feita pelo juiz da causa. Entender de
forma diversa seria vincular a decisão do Poder Judiciário ao pedido formulado pelo Ministério Público, de
modo a transformar o julgador em mero chancelador de suas manifestações, ou de lhe transferir a escolha
Réu que, aproveitando-se de sua condição de médico, praticou crimes sexuais; prisão preventiva pode
ser substituída por proibição do exercício da medicina e suspensão da inscrição médica. Não se justifica
a prisão preventiva se, considerando o modus operandi dos delitos, a imposição da cautelar de proibição do
exercício da medicina e de suspensão da inscrição médica, e outras que o Juízo de origem entender
necessárias, forem suficientes para prevenção da reiteração criminosa e preservação da ordem pública. STJ.
5ª Turma. HC 699.362-PA, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João
Não existe o dever de revisão previsto no art. 316, parágrafo único, do CPP, caso o acusado esteja
foragido. Quando o acusado encontra-se foragido, não há o dever de revisão ex officio da prisão preventiva,
a cada 90 dias, exigida pelo art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal. A finalidade do
dispositivo é a de evitar o gravíssimo constrangimento experimentado por quem está com efetiva restrição à
sua liberdade. Somente o gravíssimo constrangimento causado pela efetiva prisão justifica o elevado custo
despendido pela máquina pública com a promoção desses numerosos reexames impostos pela lei. Não seria
razoável ou proporcional obrigar todos os Juízos criminais do país a revisar, de ofício, a cada 90 dias, todas as
prisões preventivas decretadas e não cumpridas, tendo em vista que, na prática, há réus que permanecem
foragidos por anos. Soma-se a isso o fato de que, se o acusado – que tem ciência da investigação ou processo
e contra quem foi decretada a prisão preventiva – encontra-se foragido, já se vislumbram, antes mesmo de
qualquer reexame da prisão, fundamentos para mantê-la – quais sejam, a necessidade de assegurar a
aplicação da lei penal e a garantia da instrução criminal –, os quais, aliás, conservar-se-ão enquanto perdurar
a condição de foragido do acusado. Assim, pragmaticamente, parece pouco efetivo para a proteção do
acusado, obrigar o Juízo processante a reexaminar a prisão, de ofício, a cada 90 dias, nada impedindo,
contudo, que a defesa protocole pedidos de revogação ou relaxamento da custódia, quando entender
necessário. STJ. 5ª Turma. RHC 153.528-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 29/03/2022 (Info 731).
A escolha pelo Magistrado de medidas cautelares pessoais, em sentido diverso das requeridas pelo
Ministério Público, pela autoridade policial ou pelo ofendido, não pode ser considerada como atuação
ex officio.
devidamente provocado é o juízo que tem a responsabilidade de analisar a suficiência das medidas
cautelares à luz do caso concreto, sempre com vistas à garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, como
outros interesses legítimos que precisam ser protegidos na relação processual, além dos relativos ao
acusado, e, portanto, cabe-lhe, eventualmente, adotar providência cautelar mais gravosa do que a
Como recentemente concluiu esta Sexta Turma, o fundamento de não vinculação do julgador ao pedido
formulado pelo órgão ministerial deve prevalecer, sob pena de se transformar o magistrado em mero
chancelador de manifestações do parquet ou de transferir a este a escolha do teor de uma decisão judicial,
em total desapreço à função jurisdicional estatal. AgRg no HC 626.529-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 03/05/2022. (Info 735)
É ilegal a utilização, por parte do MP, de peça sigilosa obtida em procedimento em curso no STF para
mesmos fatos já investigados naquela Corte. Caso adaptado: a Procuradoria da República no Paraná, com
base na colaboração premiada celebrada por Bruno, instaurou Procedimento Investigatório Criminal (PIC)
com o fim de investigar o possível cometimento de crimes de corrupção, de lavagem de capitais e de fraude à
Procedimento aberto, impetrou habeas corpus alegando que os fatos tratados neste PIC são idênticos aos
que foram investigados no Inquérito 4.978, que tramitou no STF em razão do suposto envolvimento de
Deputados Federais. A defesa de Maurício argumentou que Min. Edson Fachin, relator do Inquérito 4.978 no
STF, após a realização de diversos atos de investigação, teria determinado o arquivamento do inquérito com
relação a todos os investigados, entre os quais o próprio Maurício, por não estar demonstrada a
materialidade das infrações penais. Logo, para a defesa, seria ilegal a instauração do procedimento de
investigação pelo Ministério Público. Além disso, a defesa argumentou que o PIC foi instaurado com base nas
declarações prestadas pelo colaborador no STF, sendo esse documento sigiloso. O STJ concordou com a
defesa. É ilegal a utilização, por parte do Ministério Público, de peça sigilosa obtida em procedimento em
curso no Supremo Tribunal Federal para abertura de procedimento investigatório criminal autônomo com
objetivo de apuração dos mesmos fatos já investigados naquela Corte. STJ. 5ª Turma. RHC 149.836-RS, Rel.
Min. Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado
constitucional que determina o foro específico, sujeitando investigações contra determinadas autoridades a
maior controle judicial, pela importância das funções que exercem. Quanto à necessidade de supervisão
judicial dos atos investigatórios, tem-se, pela interpretação sistemática da CF/88 e com fulcro na
jurisprudência consolidada desta Corte, que o mesmo tratamento conferido às autoridades com foro por
prerrogativa de função no STF deve ser aplicado, por simetria, àquelas com foro em outros tribunais, em
observância ao princípio da isonomia, que garante o mesmo tratamento aos que estejam em situação igual
(1). Ademais, inexiste usurpação das funções institucionais conferidas constitucionalmente ao Ministério
Público, pois o órgão mantém a titularidade da ação penal e as prerrogativas investigatórias, devendo apenas
submeter suas atividades ao controle judicial. Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade,
improcedente a ação direta para declarar a constitucionalidade do dispositivo impugnado. STF. Plenário. ADI
7083/AP, relatora Min. Cármen Lúcia, julgado finalizado em 13/05/2022 (Info 1054).
A denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada das diligências para a
constatação da veracidade das informações prévias podem caracterizar as fundadas razões para o
ingresso dos policiais na residência do investigado. AgRg nos EDcl no RHC 143.066-RJ, Rel. Min. Joel
Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 19/04/2022, DJe 22/04/2022. (Info 734)
É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão colegiado do tribunal
autorizar o prosseguimento de investigações contra magistrados, por criar prerrogativa não prevista
na Lei Orgânica da Magistratura Nacional e não extensível a outras autoridades com foro por
prerrogativa de função.
É inconstitucional norma estadual que impõe a necessidade de prévia autorização do órgão colegiado do
tribunal competente para prosseguir com investigações que objetivam apurar suposta prática de crime
cometido por magistrado. ADI 5331/MG, relatora Min. Rosa Weber, redator do acórdão Min. Roberto Barroso,
EXECUÇÃO PENAL
É possível aplicar a decisão do STF no HC 143641/SP o art. 318-A do CPP para os casos de cumprimento
definitivo da pena em que a acusada foi condenada aos regimes fechado ou semiaberto? É possível
aplicar a decisão do STF no HC 143641/SP ou o art. 318-A do CPP para os casos de cumprimento definitivo da
pena em que a acusada foi condenada aos regimes fechado ou semiaberto? A jurisprudência está dividida:
responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em
julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. Em caso de execução definitiva da pena, a
prisão domiciliar deve observar o que dispõe o art. 117 da LEP. Não se aplica o que o STF decidiu no HC
143.641/SP nem tampouco o art. 318-A do CPP, que se refere exclusivamente a prisão cautelar. STF. 1ª
Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967). STF. 1ª Turma. HC 185404
• STJ: sim, em casos excepcionais. Excepcionalmente, admite-se a concessão da prisão domiciliar às presas
dos regimes fechado ou semiaberto quando verificado pelo juízo da execução penal, no caso concreto, a
proporcionalidade, adequação e necessidade da medida, e que a presença da mãe seja imprescindível para
os cuidados da criança ou pessoa com deficiência, não sendo caso de crimes praticados por ela mediante
violência ou grave ameaça contra seus descendentes. STJ. 3ª Seção. RHC 145.931-MG, Rel. Min. Sebastião Reis
O TJ/PE instaurou IRDR para dirimir as divergências na aplicação da Resolução da CIDH de 22/11/2018
(cômputo da pena em dobro para os presos do Complexo do Curado); enquanto não julgado o IRDR, os
processos envolvendo o tema estão suspensos. Compare com o Info 701-STJ. Não há como se reconhecer
prazo estipulado no art. 980 do CPC, assim como não há ilegalidade na suspensão dos recursos que versam
sobre o cômputo em dobro de pena dos presos no Complexo do Curado até a resolução do Incidente. A
assim como a suspensão dos recursos que versam sobre o cômputo em dobro de pena dos presos no
entendimento exarado pelo STJ no HC 136.961/RJ. Existindo divergência entre as Varas de Execuções Penais
Humanos - CIDH em relação a temas relacionados a aspectos práticos da forma cômputo do prazo em dobro,
a futura deliberação a ser exarada no IRDR garantirá tratamento isonômico aos presos no Complexo do
Curado, assim como segurança jurídica que deflui da prolação de decisões harmônicas sobre o tema. STJ. 5ª
Turma. AgRg no HC 708.653-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/03/2022 (Info 731).
Sobrevindo condenação por pena privativa de liberdade no curso da execução de pena restritiva de
direitos, as penas serão objeto de unificação, com a reconversão da pena alternativa em privativa de
vedada a unificação automática nos casos em que a condenação substituída por pena alternativa é
A pena restritiva de direitos serve como uma alternativa ao cárcere. Logo, se o julgador reputou adequada a
concessão do benefício, a situação do condenado não pode ser agravada por meio de interpretação que
amplia o alcance do § 5º do art. 44 do Código Penal em seu prejuízo, notadamente à vista da possibilidade de
cumprimento sucessivo das penas. REsp 1.918.287-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita
Vaz, Terceira Seção, por maioria, julgado em 27/04/2022. (Tema 1106) (Info 736)
O histórico prisional conturbado do apenado, somado ao crime praticado com violência ou grave
ameaça (uma condição legal do atual art. 83, parágrafo único, do Código Penal), afasta a constatação
inequívoca do requisito subjetivo para a concessão do livramento condicional. STJ. HC 734.064-SP, Rel.
Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Quinta Turma, por unanimidade, julgado
AÇÃO PENAL
pessoas por diversos crimes contra a administração pública, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Dentre as pessoas denunciadas estavam João e sua filha Carla. João seria o líder da organização criminosa e
teria praticado, dentre outros delitos, peculato, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Carla também foi
denunciada, mas apenas por lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, uma das empreiteiras beneficiadas
com o esquema, teria reformado a casa de Carla. Em nenhum momento, contudo, é descrita qual teria sido a
conduta praticada por Carla ou se ela realmente saberia da origem ilícita dos recursos. Para o STJ, a partir do
exame da denúncia, não se consegue inferir que a conduta supostamente praticada pela denunciada
efetivamente tenha contribuído para o êxito da empreitada criminosa. Contra ela é imputada a prática de
ocultação de valores oriundos de suposta prática ilícita. Ocorre que, diferentemente dos demais acusados,
não resta claro da denúncia que delito antecedente teria a acusada cometido. STJ. 6ª Turma. RHC 154.162-DF,
A hipótese excepcional do art. 256 do CPP somente pode ser reconhecida se o magistrado ou o
excipiente provocou dolosamente a suspeição. AREsp 2.026.528-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta
Não há ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em razão do compartilhamento
houve violação ilícita do sigilo de dados bancários. Isso porque não eram informações bancárias sigilosas
relativas à pessoa do investigado, mas sim movimentações financeiras da própria instituição. Além disso,
após o recebimento da notícia-crime, o Ministério Público requereu ao juízo de primeiro grau a quebra do
sigilo bancário e o compartilhamento pelo Banco de todos os documentos relativos à apuração, o que foi
deferido, havendo, portanto, autorização judicial. Desse modo, as alegadas informações sigilosas não são os
dados bancários do investigado, e sim as informações e registros relacionados à sua atividade laboral como
funcionário do Banco. STJ. 6ª Turma. RHC 147.307-PE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado
pela Constituição Federal de 1988, continua sendo aplicável e não foi revogado pelo Código de Processo
Penal. Essa medida pode recair sobre quaisquer bens investigados e não apenas sobre aqueles que sejam
produtos ou proveito do crime. Para que o juiz decrete o sequestro não é necessária a prévia comprovação
do periculum in mora, bastando indícios da prática criminosa. Esse sequestro, assim como outras medidas
constritivas, pode ser decretado não apenas para garantir o ressarcimento do prejuízo causado pelo réu,
podendo também abarcar o pagamento de eventuais multas e das custas processuais. STJ. 5ª Turma. AgRg no
RMS 67.164-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 29/03/2022 (Info 732).
Não há disposição legal que restrinja o prazo das medidas cautelares diversas da prisão, as quais
podem perdurar enquanto presentes os requisitos do art. 282 do Código de Processo Penal,
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 14/06/2022.(Info 741)
161.251-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 10/05/2022, DJe
DIREITO TRIBUTÁRIO
É constitucional a exclusão dos bens de informática dos incentivos fiscais previstos para a Zona Franca
de Manaus, promovida pela Lei nº 8.387/91. Na época da promulgação da CF/88, os bens de informática
não se submetiam às regras do DL 288/67. A Lei nº 7.232/84 tratou sobre a Política Nacional de Informática,
cujo objetivo era a capacitação nacional nas atividades de informática. Essa lei previa, dentre as medidas
importação, ao imposto de exportação, ao IPI, ao IOF e ao Imposto de Renda. Para a obtenção dos benefícios
previstos na lei, era necessário que as empresas cumprissem uma série de condições. Logo, era essa lei (e
não o DL 288/67) que tratava dos bens de informática quando do advento da CF/88. Operou-se, no caso,
revogação implícita do DL 288/67 pela Lei nº 7.232/84 no que tange aos bens de informática. Dessa forma,
quando do advento da Constituição Federal de 1988, os bens de informática, inclusive os produzidos na Zona
Franca de Manaus, estavam sujeitos unicamente à Lei nº 7.232/84 (Lei de Informática), não sendo a eles
aplicáveis as disposições do DL 288/67. Nesse sentido, não foram eles abrangidos pelo comando do art. 40 do
ADCT. STF. Plenário. ADI 2399/AM, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
O benefício do § 2º do art. 63 da Lei 9.430/96 é aplicável ao contribuinte que renuncia ao direito sobre o
qual se funda a ação. O art. 63, § 2º da Lei nº 9.430/96 prevê o seguinte: § 2º A interposição da ação judicial
favorecida com a medida liminar interrompe a incidência da multa de mora, desde a concessão da medida
judicial, até 30 dias após a data da publicação da decisão judicial que considerar devido o tributo ou
contribuição. O que enseja a suspensão da exigibilidade do tributo - e da multa de mora, de que trata o § 2º
do referido art. 63 da Lei nº 9.430/96 - é a obtenção da medida liminar. Se o contribuinte obteve a medida
liminar na ação por ele proposta, mas depois renunciou ao direito sobre o qual se funda a ação, o
tributo ou contribuição será considerado devido, mas a incidência da multa de mora ficará interrompida
homologar a renúncia, ficarão cessados os efeitos da liminar e o contribuinte terá restabelecida a sua
condição de devedor, devendo recolher o tributo em até 30 dias, sem incidência da multa de mora. STJ. 2ª
Turma. AgInt no AREsp 955.896-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 19/04/2022 (Info 733).
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS
É legítima a inclusão do IPI na base de cálculo presumida do PIS e da Cofins, a ser considerada pelos
do valor do IPI incidente nas operações de venda feitas por fabricantes ou importadores de veículos na base
o PIS e da Cofins devidas pelos comerciantes varejistas. STF. Plenário. RE 605506/RS, Rel. Min. Rosa Weber,
A base de cálculo da contribuição prevista pelo art. 1º da LC 110/2001 é compatível com o texto
Complementar 110/2001 foi recepcionada pela Emenda Constitucional 33/2001. STF. Plenário. RE
1317786/PE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/2/2022 (Repercussão Geral – Tema 1193) (Info 1042).
Observação importante: No fim de 2019, foi editada a Lei nº 13.932/2019, que acabou com a contribuição do
art. 1º da LC 110/2001. Veja o que disse o art. 12 da Lei nº 13.932/2019: Art. 12. A partir de 1º de janeiro de
2020, fica extinta a contribuição social instituída por meio do art. 1º da Lei Complementar nº 110, de 29 de
junho de 2001.
Os valores da interconexão do roaming não são receita da empresa que prestou o serviço ao cliente,
sendo mero repasse; logo, tais quantias não podem ser consideradas como faturamento das
operadoras e, portanto, não integram a base de cálculo do PIS e da Cofins. Configura ilegalidade exigir
das empresas prestadoras de serviços de telefonia a base de cálculo da Contribuição ao PIS e da Cofins
integrada com os montantes concernentes ao uso da estrutura de terceiros - interconexão e roaming. STJ. 1ª
Turma. REsp 1.599.065-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 09/11/2021 (Info 717).
À luz da EC 53/2006, é incompatível com a ordem constitucional vigente a adoção, para fins de
unidade federada em que realizada a arrecadação desse tributo, devendo-se observar unicamente o
parâmetro quantitativo de alunos matriculados no sistema de educação básica. ADPF 188/DF, relator
ISS
Incide o ISS no licenciamento ou na cessão de direito de uso de softwares desenvolvidos para clientes
de forma personalizada, mesmo quando o serviço seja proveniente do exterior ou sua prestação
de uso de programas de computação desenvolvidos para clientes de forma personalizada, nos termos do
subitem 1.05 da lista anexa à LC 116/2003. STF. Plenário. RE 688223/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
tributação por ISS (e não ICMS). A inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e
radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita) é passível de tributação por ISS. Tese
fixada pelo STF: “É constitucional o subitem 17.25 da lista anexa à LC nº 116/03, incluído pela LC nº 157/16, no
que propicia a incidência do ISS, afastando a do ICMS, sobre a prestação de serviço de inserção de textos,
desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em qualquer meio (exceto em livros, jornais,
periódicos e nas modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e
gratuita)”. STF. Plenário. ADI 6034/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2022 (Info 1046).
ICMS
É cabível a concessão de remissão, com amparo em convênios CONFAZ, de créditos de ICMS oriundos
de benefícios fiscais declarados inconstitucionais. É constitucional a lei estadual ou distrital que, com
amparo em convênio do CONFAZ, conceda remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais
anteriormente julgados inconstitucionais. STF. Plenário. RE 851421/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
satélites prestam serviços para as empresas de televisão, telefonia, internet etc. As operadoras cedem parte
dessa capacidade de satélite. As operadoras permitem que tais empresas se utilizem dos satélites para que
as TVs façam suas transmissões ao vivo, para que as concessionárias de telefonia viabilizem as ligações e
ICMS-Comunicação. STJ. 1ª Turma. REsp 1.473.550-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 14/12/2021
(Info 723).
O incentivo fiscal outorgado por Estado-membro por meio de desoneração relativa ao ICMS não
integra a base de cálculo do IRPJ e CSLL. A Constituição da República atribuiu aos Estados-membros e ao
Distrito Federal a competência para instituir o ICMS (art. 155, XII, “g”). Se eles têm a competência para
instituir, significa que possuem também, por via de consequência, a competência para outorgar isenções,
incentivo por ente federado, observados os requisitos legais, configura instrumento legítimo de política fiscal
para materialização da autonomia consagrada pelo modelo federativo. Embora represente renúncia à
parcela da arrecadação, a concessão de incentivos fiscais tem por objetivo estimular a promoção de
interesses estratégicos para aquela unidade federativa atendendo a prioridades e necessidades locais
coletivas. A tributação, pela União, dos valores correspondentes aos incentivos fiscais estimula uma
ICMS possui um caráter extrafiscal, consistindo a medida em instrumento tributário para o atingimento de
finalidade não arrecadatória, mas, sim, incentivadora de comportamento, com vista à realização de valores
empresarial, é inegável que o ressurgimento do encargo, ainda que sob outro figurino (cobrado pela União),
resultará no repasse dos custos adicionais às mercadorias, frustrando os objetivos buscados. STJ. 1ª Turma.
REsp 1.222.547-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 08/03/2022 (Info 728).
atividade econômica. É possível a imposição de regime especial de fiscalização, desde que haja previsão
legal, inadimplemento reiterado de obrigações tributárias e tal regime não configure obstáculo desarrazoado
à atividade empresarial, a ponto de coagir o contribuinte ao pagamento de seus débitos tributários, tendo em
vista que, para esse mister, possui o Fisco meios próprios. STJ. 2ª Turma. RMS 65.714-SE, Rel. Min. Assusete
cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB. REsp 1.638.772-SC, Rel. Min.
Regina Helena Costa, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 27/04/2022. (Tema 994) (Info 734).
Suspenso o regime de substituição tributária por determinação judicial deferida em favor da empresa
recolhido enquanto vigente essa decisão. AREsp 1.423.187-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
As organizações assistenciais religiosas podem ser abrangidas pela imunidade tributária prevista no
art. 150, VI, “c”, da CF/88. As entidades religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência
social a fim de se beneficiarem da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição, que
abrangerá não só os impostos sobre o seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos sobre a
importação de bens a serem utilizados na consecução de seus objetivos estatutários. STF. Plenário. RE
630790/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/3/2022 (Repercussão Geral – Tema 336) (Info 1047).
água potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca.
Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento de água
potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca sobre impostos
federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços. Para a extensão da imunidade tributária recíproca da
Fazenda Pública a sociedades de economia mista e empresas públicas, é necessário preencher 3 (três)
exclusividade, ou seja, sem concorrência. STF. Plenário. ACO 3410/SE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
IPI
Não possui repercussão geral, diante de sua natureza infraconstitucional, a discussão sobre a
incidência de IPI sobre o bacalhau seco e salgado vindo de país signatário do GATT. É infraconstitucional,
a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a controvérsia relativa à incidência de IPI
sobre o bacalhau seco e salgado oriundo de país signatário do GATT. STF. Plenário. RE 627280/RJ, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 18/3/2022 (Repercussão Geral – Tema 502) (Info 1047).
O benefício da suspensão do IPI previsto no art. 5º, da Lei 9.826/99 e no art. 29 da Lei 10.637/2002 não
a industrial”. A equiparação somente existe para determinadas finalidades expressas em lei. O próprio CTN
faz distinção entre estabelecimento industrial e equiparado a industrial. A equiparação ali é realizada apenas
para fins de sujeição passiva em relação ao IPI. Se é a lei que equipara, a mesma lei pode desequiparar ou
definir as situações onde a equiparação deve se dar e quais os seus efeitos. Todas as vezes que o legislador
quer conceder determinado benefício fiscal também aos estabelecimentos equiparados a industrial ele o faz
expressamente, em atenção ao disposto no art. 111, do CTN e no art. 150, §6º, da CF/88. Não se pode,
portanto, presumir que todas as vezes que a legislação tributária mencione o estabelecimento industrial
tornar o sistema tributário, no que diz respeito ao IPI, imprevisível e inadministrável, especialmente diante da
função extrafiscal do tributo que exige intervenções calculadas e pontuais nos custos incorridos em cada
etapa da cadeia econômica. Tanto o art. 5º, da Lei nº 9.826/99, quanto o art. 29, da Lei nº 10.637/2002, são
industrial, sem estender ao equiparado, de modo que o art. 23, da Instrução Normativa da SRF nº 296/2003
não limitou o pretendido direito, mas apenas explicitou aquilo que a lei e o sistema já haviam determinado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.587.197-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/04/2022 (Info 733)
PIS E COFINS
O valor total recebido por empresa, mediante venda por meio de cartão de crédito ou débito, ainda
que uma parte desse montante seja repassado à administradora do cartão, se insere na base de
cálculo das contribuições para o PIS e para a COFINS. É constitucional a inclusão dos valores retidos pelas
administradoras de cartões na base de cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS devidas por empresa
que recebe pagamentos por meio de cartões de crédito e débito. STF. Plenário. RE 1049811/SE, Rel. Min.
Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2022 (Repercussão Geral –
de insumos sujeitos à alíquota zero, quando ocorrerem saídas tributadas. No regime não cumulativo da
consignados na lei, de modo que se apresenta incabível a pretensão de aproveitamento dos créditos
decorrentes de aquisição de insumos sujeitos à alíquota zero, quando ocorrerem saídas tributadas, tendo em
vista o disposto nos arts. 3º, § 2º, II, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003: Art. 3º (...) § 2º Não dará direito a
crédito o valor: II - da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, inclusive no
à alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela contribuição. STJ. 1ª Turma. REsp 1.423.000-PR, Rel. Min.
(ii) O benefício instituído no art. 17, da Lei 11.033/2004, não se restringe somente às empresas que se
(iii) O art. 17, da Lei 11.033/2004, diz respeito apenas à manutenção de créditos cuja constituição não
foi vedada pela legislação em vigor, portanto não permite a constituição de créditos da
Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS sobre o custo de aquisição (art. 13, do Decreto-Lei n.
1.598/77) de bens sujeitos à tributação monofásica, já que vedada pelos arts. 3º, I, "b" da Lei
(iv) Apesar de não constituir créditos, a incidência monofásica da Contribuição para o PIS/PASEP e da
COFINS não é incompatível com a técnica do creditamento, visto que se prende aos bens e não à
pessoa jurídica que os comercializa que pode adquirir e revender conjuntamente bens sujeitos à não
(v) O art. 17, da Lei 11.033/2004, apenas autoriza que os créditos gerados na aquisição de bens sujeitos
à não cumulatividade (incidência plurifásica) não sejam estornados (sejam mantidos) quando as
respectivas vendas forem efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência
sobre o custo de aquisição (art. 13, do Decreto-Lei n. 1.598/77) de bens sujeitos à tributação
monofásica. REsp 1.894.741-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por maioria,
É possível o protesto da CDA desde a entrada em vigor da Lei 9.492/97. Desde que a Lei nº 9.492/97 foi
editada, algumas Fazendas Públicas começaram a protestar CDA. Isso, contudo, era polêmico. Assim,
algumas pessoas que foram protestadas, ingressaram com ações discutindo a validade desses protestos.
Quando a Lei nº 12.767/2012 entrou em vigor, vários desses processos ainda estavam tramitando. Logo, é
preciso que se dê uma resposta a esses processos. Diante disso, indaga-se: mesmo antes da Lei nº
12.767/2012, já era válida a realização de protesto de CDA? SIM. É possível o protesto da CDA desde a entrada
sendo que isso já era permitido desde a entrada em vigor da Lei nº 9.492/97 que mencionou expressamente
a possibilidade de protesto de “outros documentos de dívida”. Assim, a Lei nº 12.767/2012 foi uma norma
meramente interpretativa. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.109.579-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
COMPENSAÇÃO
compensação de tributos indevidamente pagos nos 5 anos anteriores ao ajuizamento, sem que isso
implique ofensa à Súmula 271 do STF. A pretensão em mandado de segurança que visa exclusivamente à
não atingidos pela prescrição, não importa em produção de efeito patrimonial pretérito, aproveitando
apenas o valor referente a indébitos recolhidos nos cinco anos anteriores ao manejo da ação mandamental.
Caso concreto: determinada Indústria forneceu a seus clientes diversas mercadorias a título de bonificações
(brindes). O Fisco cobrou ICMS em relação a essas mercadorias e a indústria pagou. Depois disso, a indústria
impetrou mandado de segurança pedindo para que se reconheça que ela não deveria ter pagado ICMS sobre
esses brindes e que se declare que ela tem direito de compensar o que pagou indevidamente nos últimos
cinco anos. O simples fato de se declarar que o contribuinte tem direito à compensação tributária dos
créditos referentes aos últimos cinco anos não significa concessão de efeitos patrimoniais pretéritos. A
situação não se enquadra na Súmula 271 do STF porque pretende simplesmente a declaração em abstrato do
direito de compensar (créditos de ICMS bonificação, não atingidos pela prescrição), para realizar o
produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.770.495-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria,
IOF
de sociedade estrangeira no aumento do capital social de empresas brasileiras. Do mesmo modo que a
CPMF, o IOF incide nas movimentações decorrentes das operações de “conferência internacional de ações”
de sociedade estrangeira no aumento do capital social de empresas brasileiras. STJ. 2ª Turma. REsp
1.671.357-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 09/11/2021 (Info 717).
ITCMD
O seguro de vida VGBL não integra a base de cálculo do ITCM. O fato gerador do ITCMD é a transmissão,
por causa mortis (herança ou legado) ou por doação, de quaisquer bens ou direitos. O VGBL, segundo a
SUSEP e a jurisprudência do STJ, possui natureza jurídica de seguro. O Código Civil afirma expressamente que
no seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às
dívidas do segurado, nem se considera herança (art. 794). STJ. 2ª Turma. REsp 1.961.488-RS, Rel. Min.
FATO GERADOR
O parágrafo único do art. 116 do CTN, incluído pela LC 104/2001, é constitucional. Art. 116 (…) Parágrafo
único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a
finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da
contida no parágrafo único do art. 116 do CTN não viola o texto constitucional. Esse dispositivo não
separação dos Poderes. Em verdade, ele confere máxima efetividade a esses preceitos, objetivando,
primordialmente, combater a evasão fiscal, sem que isso represente permissão para a autoridade fiscal de
cobrar tributo por analogia ou fora das hipóteses descritas em lei, mediante interpretação econômica. O
dispositivo apenas viabiliza que a autoridade tributária aplique base de cálculo e alíquota a uma hipótese de
incidência estabelecida em lei e que tenha efetivamente se realizado. STF. Plenário. ADI 2446/DF, Rel. Min.
ISSQN
bandeira estrangeira em águas marítimas no território nacional. Exemplo: “M” é uma empresa brasileira,
localizada em Santos (SP), que tem por atividade principal a prestação de serviços de reparo e manutenção
de navios e outras embarcações. Vale ressaltar que a empresa detém tecnologia para fazer os consertos nas
embarcações sem que elas precisem atracar. Assim, os serviços podem ser realizados em alto mar. “M” foi
contratada para fazer reparos em um navio de bandeira estrangeira, que estava nas águas marítimas do
Brasil.O serviço foi executado e a empresa paga por isso.“M” deverá pagar ISSQN sobre esse serviço
realizado. No caso, os serviços são prestados em território nacional porque as embarcações estrangeiras se
encontram em águas marítimas brasileiras. Não se pode falar que seja no exterior. Nesse sentido: LC
116/2003: Art. 3º (...) § 3º Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no local do estabelecimento
prestador nos serviços executados em águas marítimas, excetuados os serviços descritos no subitem 20.01.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.805.226-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/11/2021 (Info 719).
O recolhimento do tributo a município diverso daquele a quem seria efetivamente devido não afasta a
aplicação da regra da decadência prevista no art. 173, I do CTN. Situação hipotética: determinada
empresa prestou um serviço previsto no anexo da LC 116/2003. Essa empresa efetuou o pagamento do ISS
ao Município de São Paulo (SP), local onde está situada a matriz. Ocorre que, anos mais tarde, o Município de
Itapevi (SP) lavrou auto de infração contra a empresa afirmando que, como esse serviço foi executado na filial
de Itapevi, o ISS deveria ter sido pago ao Município do interior. A empresa alegou que houve decadência do
direito de lançar alegando que se aplicaria, ao caso, a regra do art. 150, § 4º, do CTN (contagem do prazo
decadencial a partir do fato gerador). O Fisco, por sua vez, afirmou que o prazo decadencial deveria ser
contado na forma do art. 173, I, do CTN (prazo contado do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que
o lançamento poderia ter sido efetuado). O STJ concordou com o Fisco. Para a aplicação da regra do art. 150,
§ 4º, do CTN seria necessário que a empresa tivesse recolhido, ainda que parcialmente, o imposto ao
Município que lavrou o auto de infração. STJ. 1ª Turma. AREsp 1.904.780-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
EXECUÇÃO FISCAL
O sócio só pode ser atingido pelo redirecionamento fundado na dissolução irregular se ele era
administrador no momento dessa dissolução; se havia saído antes, em regra, não poderá ser
pessoa jurídica executada ou na presunção de sua ocorrência, não pode ser autorizado contra o sócio ou o
terceiro não sócio que, embora exercessem poderes de gerência ao tempo do fato gerador, sem incorrer em
regularmente se retirou e não deu causa à sua posterior dissolução irregular, conforme art. 135, III do CTN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.019-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo -
inadimplemento do tributo, com base no art. 134, VII, do CTN, cabendo-lhes demonstrar a
débitos. REsp 1.876.549-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade,
executada ou na presunção de sua ocorrência, pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não
irregular, ainda que não tenha exercido poderes de gerência quando ocorrido o fato gerador do
tributo não adimplido, conforme art. 135, III, do CTN. REsp 1.645.333-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães,
Primeira Seção, por maioria, julgado em 25/05/2022. (Tema 981) (Info 738)
A apólice de seguro-garantia com prazo de vigência determinado é inidônea para fins de garantia da
execução fiscal.
fiscal. Em que pese o entendimento desta Corte pela possibilidade de oferecimento da citada garantia,
observa-se que o Tribunal de origem entendeu pela sua inidoneidade na espécie, por apresentar prazo de
validade determinado: "A Lei nº 6.830/90 (lei de execuções fiscais), em seu art. 9º, II, com as alterações
trazidas pela Lei nº 13.043/14, prevê a possibilidade de oferecimento do seguro garantia para assegurar a
execução fiscal: [...] Assim, a princípio, apresenta-se possível o oferecimento de caução, na modalidade
seguro garantia, para suspender a exigibilidade do crédito exequendo, desde que se trate de caução idônea,
ou seja, capaz de assegurar o pagamento do valor integral da dívida e com validade indeterminada ou até a
extinção do processo". Assim, percebe-se que o acórdão de origem adotou entendimento em conformidade
com a jurisprudência desta Corte de que a apólice de seguro-garantia com prazo de vigência determinado é
inidônea para fins de garantia da execução fiscal. AgInt no REsp 1.924.099-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
parcelamento fiscal, seguirá a seguinte orientação: (i) será levantado o bloqueio se a concessão é
anterior à constrição; e (ii) fica mantido o bloqueio se a concessão ocorre em momento posterior à
onerosidade. REsp 1.696.270-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por unanimidade,
PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO
Súmula 653-STJ: O pedido de parcelamento fiscal, ainda que indeferido, interrompe o prazo
O parcelamento tributário requerido por um dos devedores solidários não importa em renúncia à
solidariedade em relação aos demais coobrigados. Caso adaptado: João e a incorporadora celebraram
contrato de promessa de compra e venda de imóvel. João passou a morar no imóvel, mas o instrumento
translativo da propriedade não foi levado a registro. Isso significa que o imóvel continuou pertencendo à
imobiliária. João não pagou o IPTU. O Fisco ajuizou execução fiscal contra João e a incorporadora porque são
devedores solidários, conforme tese do STJ: Tanto o promitente comprador (possuidor a qualquer título)
do imóvel quanto seu proprietário/promitente vendedor (aquele que tem a propriedade registrada no
Registro de Imóveis) são contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU (REsp 1.111.202/SP, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/6/2009. Recurso Repetitivo – Tema 122). No curso do
processo, João faz um parcelamento do IPTU. Isso não significa que tenha havido renúncia à solidariedade. A
incorporadora continua sendo responsável solidária. STJ. 2ª Turma. REsp 1.978.780-SP, Rel. Min. Assusete
IPTU
O credor fiduciário somente responde pelo IPTU incidente sobre o imóvel se consolidar a propriedade
para si, tornando-se o possuidor direto do bem. Compare com o Info 638-STJ. O credor fiduciário, antes
da consolidação da propriedade e da imissão na posse no imóvel objeto da alienação fiduciária, não pode ser
considerado sujeito passivo do IPTU, uma vez que não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no
art. 34 do CTN. Além disso, o § 8º do art. 27 da Lei nº 9.514/97 afirma expressamente que o credor fiduciário
só responde pelo pagamento dos impostos relacionados com o bem se houver a consolidação da
realizados sem consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos.
Município resultante de desmembramento realizado em desacordo com o art. 18, § 4º, da CF/1988 não
detém legitimidade ativa para a cobrança de IPTU de imóvel situado em território a ele acrescido. Na
linha da jurisprudência da Corte, ao acrescentar o art. 96 ao ADCT (3), a EC 57/2008 aludiu à inexistência de
lei complementar federal à qual se refere o texto constitucional, sem dispensar, entretanto, a observância do
plebiscito da população dos municípios envolvidos. Verifica-se, ademais, que a conclusão adotada pelo
Tribunal de origem está de acordo com a orientação fixada pelo STF no julgamento do RE 1171699 (Tema 400
da repercussão geral). Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 559 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário. STF. Plenário. RE 614384/SE, relator Min.
DIREITO ADUANEIRO
aplica-se a multa art. 72, I, da Lei 10.833/2003 (e não o art. 106, II, “b”, do DL nº 37/66). A multa por
descumprimento do prazo para reexportação no regime de admissão temporária deve ser calculada sobre o
valor aduaneiro da mercadoria, em razão da licitude da revogação do art. 106, inciso II, "b", do Decreto-Lei nº
37/1966 pelo art. 709, pelo Decreto nº 6.759/2009 (RA-2009) e o ADI/SRF n. 4/2004. STJ. 2ª Turma. REsp
1.671.362-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 07/12/2021 (Info 721).
O REINTEGRA não pode ser estendido de forma automática para as vendas destinadas a toda e
qualquer Área de Livre Comércio - ALC. Muito embora o STJ tenha posicionamento pacificado no sentido de
que a venda de mercadorias para empresas situadas na Zona Franca de Manaus - ZFM equivale, para efeitos
fiscais, à exportação de produto brasileiro para o estrangeiro, segundo interpretação do Decreto-lei nº 288/67
(Súmula 640-STJ), permitindo a fruição do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as
Empresas Exportadoras - REINTEGRA, tal entendimento não pode ser estendido de forma automática para as
vendas destinadas a toda e qualquer Área de Livre Comércio - ALC. Isto porque cada ALC possui legislação
própria, havendo que ser analisada tal possibilidade e compatibilidade caso a caso. STJ. 2ª Turma. REsp
Não é possível conceder, por via judicial, a suspensão da exigibilidade de parcelamento tributário sob
o argumento dos efeitos deletérios da Covid-19. Na ausência de legislação estadual específica que
parcelamentos de tributos estaduais, não há como se estender os efeitos de normas aplicáveis no âmbito dos
tributos federais ou do Simples Nacional, ou mesmo benefícios concedidos por outro Estado da Federação,
aos tributos devidos em razão da pandemia (Covid-19). STJ. 2ª Turma. RMS 67.443-ES, Rel. Min. Assusete
ITBI
Teses sobre a base de cálculo do ITBI. a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em
condições normais de mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser
utilizada como piso de tributação; b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de
que é condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular
instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN); c) o Município não pode arbitrar
previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido
unilateralmente. STJ. 1ª Seção. REsp 1.937.821-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/02/2022 (Recurso
imóvel, mesmo no caso de cisão de empresa. AREsp 1.760.009-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
IMPOSTO DE RENDA
Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de
remuneração por exercício de emprego, cargo ou função. AgRg no REsp 1.494.279-RS, Rel. Min.
Francisco Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 28/04/2022. (Info 734)
É inconstitucional norma que prevê a incidência do imposto de renda sobre valores percebidos pelo
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS, deve o contribuinte ser abrangido pela isenção
do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física - IRPF. REsp 1.808.546-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda
O art. 4º, 'b', do Decreto-Lei n. 1.510/1976 concedeu isenção apenas para transmissão da participação
acionária 'mortis causa', não ampliando a sua abrangência para momento posterior - ressalvada,
exclusivamente, a hipótese em que a própria aquisição por herança se desse durante a vigência do
Decreto-Lei n. 1.510/1976 e o sucessor permanecesse na respectiva posse pelo período de cinco anos,
sua alienação onerosa. REsp 1.650.844-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. Herman
Material extraído dos informativos (versão resumida), disponibilizados pelo prof. Márcio Cavalcante no site
https://www.dizerodireito.com.br, bem como do site do STF e STJ, e destacados nas partes mais importantes