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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem

Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

2ª FASE CIVIL 35º EXAME

Direito Civil
Direito de Família

Prof.ª Maitê Damé

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

2ª FASE OAB | CIVIL | 35º EXAME

Direito de Família
Prof.ª Maitê Damé

SUMÁRIO

01. Direito das famílias .......................................................................................... 3


02. Direito Matrimonial ........................................................................................... 5
03. Regime de bens ............................................................................................. 31
04. Bem de família ............................................................................................... 60
05. União estável ................................................................................................. 61
06. Dissolução do vínculo conjugal...................................................................... 74
07. Proteção da pessoa dos filhos – Guarda ....................................................... 91
08. Parentesco..................................................................................................... 98
09. Filiação e reconhecimento dos filhos ........................................................... 101
10. Alimentos ..................................................................................................... 118

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso
preparatório para a 2ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as
respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas
acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em junho de 2022.

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01. Direito das famílias


Prof.ª Maitê Damé
@maitedame

* Para todos verem: esquema

Ramo do direito
Direito de família
privado – direito civil.

Em razão da importância, indisponibilidade, dentre outras características, o direito de


família, embora sendo ramo do direito privado, possui viés público, já que seus institutos são
considerados de ordem pública, sendo, inclusive, protegidos pela Constituição Federal, de
maneira a assegurar o mínimo de condições indispensáveis à existência de todos os membros
da sociedade, conferindo-lhes maior proteção. O viés público que o direito de família possui se
dá em razão do especial interesse que o Estado tem na proteção da família como célula básica,
de especial importância na sociedade e para que o próprio Estado se mantenha.
Formas de família: atentar para a existência de diferentes formas de família. Tradicional
(matrimônio), informal (união estável), monoparental (um dos pais e sua prole), homoafetiva
(casais homossexuais), mosaico (fruto de divórcios e novos casamentos = “os meus, os teus e
os nossos filhos”), multiespécie (modelo de família constituída pelos donos e animais de
estimação – membros não humanos), etc.
Existem diferentes tipos de família:
* Para todos verem: esquema

Família consanguínea

• Onde há laços genéticos e sanguíneos, relação de ascendência e descendência

Família afetiva

• Não há laços genéticos, mas de afeto

Família por afinidade

• Em razão do matrimônio ou da união estável, parentesco entre o cônjuge ou


companheiro e os parentes do outro: sogro/a, cunhado/a, enteado/a

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1.1 Características do Direito de família


É um direito personalíssimo, por ser voltado à tutela da pessoa, aderindo à sua
personalidade em virtude de sua posição na família durante toda a vida, isto é, são
intransferíveis, intransmissíveis (não se transfere por ato jurídico, nem inter vivos, nem causa
mortis), irrenunciáveis (os alimentos, por exemplo. Ninguém pode despojar-se por vontade
própria, só pode haver transação com relação ao valor. Também não pode haver renúncia ao
poder familiar). São indisponíveis, ou seja, ninguém pode cedê-los ou renunciá-los;
irrevogáveis (o reconhecimento de filho, por exemplo), indisponíveis e imprescritíveis (em
decorrência de ser personalíssimo, não prescreve.
Ex.: o direito de investigar a paternidade e pedir alimentos). Além disso, o direito de família
ainda possui as características da universalidade (compreende todas as relações jurídico-
familiares); indivisibilidade (não se admite que uma pessoa seja considerada casada para
determinadas relações e solteira para outras); correlatividade (é recíproco, ou seja, ao estado
de marido, corresponde o estado de esposa; ao de pai, o de filho,...) e oponibilidade (oponível
contra todas as demais pessoas. Ex.: a pessoa casada é casada perante toda a sociedade).

ATENÇÃO

Muitas questões podem ser resolvidas lembrando das características do Direito de


Família. Já tivemos questões do Exame de Ordem que envolviam estas características.
Exemplo: irrenunciabilidade do direito de alimentos; imprescritibilidade do reconhecimento e da
investigação de paternidade, irrevogabilidade do reconhecimento de filiação (pode ser anulado,
mas apenas em casos de comprovação de erro ou coação).

1.2 O direito de família atual – família constitucionalizada


Apesar de ser ramo do direito privado, o direito de família deve ser interpretado de maneira
constitucionalizada. A Constituição Federal prevê muitas normas de proteção à família,
especialmente no art. 226 e seguintes.

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ATENÇÃO

Nas peças e questões, a FGV costuma pontuar sempre a indicação dos outros
dispositivos constitucionais que possam estar relacionados. Procure estudar, também, a
Constituição.

Observar os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, CF), através do qual
há uma valorização da família como núcleo pelo qual há o desenvolvimento e a promoção da
dignidade dos integrantes (exemplo de aplicação deste princípio é o abandono da discussão da
culpa nos términos de matrimônios ou, ainda, as indenizações por abandono afetivo);
solidariedade familiar (art. 3.º, I, CF), o que justifica o pagamento de alimentos em razão da
necessidade (art. 1.694, CC); igualdade entre os filhos, independentemente da origem:
biológica, afetiva ou adotiva, todos os direitos e deveres são os mesmos, sem distinções;
igualdade entre cônjuges e companheiros (art. 226, §5.º, CF e art. 1.511, CC), tanto o homem,
quanto a mulher podem adotar o sobrenome do outro com o matrimônio, podem pedir alimentos
um ao outro, etc.; igualdade na chefia familiar (art. 1.566, III e IV, 1.631 e 1.634, CC), não há
hierarquia na condução da família, tanto o homem quanto a mulher são chefes da família e
detentores (em igualdade de condições) do poder familiar; melhor interesse da criança (art.
1.583 e ss., CC; art. 227, CF), no estabelecimento da guarda, por exemplo, através da alteração
da lei 13.058, haverá o compartilhamento da mesma, mesmo se os genitores estiverem em litígio,
pois visa o melhor interesse da criança, possibilitando que tenha convivência com ambos os
genitores; afetividade, com a possibilidade de reconhecimento de filiação afetiva, manutenção
da filiação afetiva em detrimento da biológica, etc.

02. Direito Matrimonial

Até a Proclamação da República, em 1889 – apenas casamento religioso.


Em 1.891 surge o casamento civil.
Código Civil de 1916 – casamento como única forma de constituição de família, não
havendo outra forma de convívio que fosse aceitável. O casamento era indissolúvel.

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Desquite – possibilidade de romper com o casamento, mas que não dissolvia o vínculo
matrimonial, impedindo, portanto, novo casamento. Em razão do desquite e da impossibilidade
de constituição de novo casamento, diversas famílias informais passaram a ser constituídas, sem
que houvesse regulamentação do Estado nesse sentido.
Lei do Divórcio (lei 6.515/1977) – estabeleceu o divórcio e a separação judicial. (O
desquite foi transformado em separação e, ainda, criado o instituto do divórcio, que dissolvia o
vínculo matrimonial, possibilitando, então, novo casamento). A separação rompia com a relação
matrimonial e o divórcio, com o vínculo matrimonial.
CF/88 – Passou a considerar como entidades familiares relacionamentos outros, que não
a família formada pelo casamento. Assim, foram reconhecidas as famílias constituídas pela união
estável e as famílias monoparentais, aquelas que são formadas por um dos pais e seus filhos.
Código Civil de 2002 – não inovou na redação, copiando as disposições do Código de
1916, disciplinando, apenas, situações relativas à união estável e às famílias monoparentais.
EC 66/2010 – alterou o § 6.º do art. 226 da CF e o sistema de dissolução do matrimônio,
deixando de contemplar a separação judicial ou fática como requisito para a extinção do vínculo
conjugal. Assim, tal Emenda Constitucional estabeleceu que o casamento pode ser dissolvido
pelo divórcio, sem a necessidade de implementação de qualquer prazo para tato (tanto
consensual quanto litigioso).

ATENÇÃO
Em termos de divórcio cuidado para o que a questão solicita: ou a visão do Código
Civil (deve-se considerar os prazos) ou a chamada “visão moderna” ou “visão
constitucional” (neste caso, considera-se apenas o divórcio).

ATENÇÃO
O STJ decidiu recentemente que a EC 66/2010 não revogou, expressa ou
tacitamente, parte do Código Civil que trata da separação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017
(info 610). STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
14/3/2017 (Info 604).

2.1 Conceito e natureza jurídica do casamento

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O casamento é a união de duas pessoas que objetivam a formação de uma família,


baseando-se no vínculo de afeto, com reconhecimento e tutela do Estado, ou seja, é um

[...] contrato especial de Direito de Família, por meio do qual os cônjuges formam uma
comunidade de afeto e existência, mediante a instituição de direitos e deveres, recíprocos
e em face dos filhos, permitindo, assim, a realização dos seus projetos de vida 1.

A partir daí surge a questão: o casamento é um contrato? Quando se pretende definir a


natureza jurídica de algum instituto do Direito, é preciso que se respondam alguns
questionamentos: o que é isso para o Direito? Em que categoria do Direito se enquadra esse
ente?

Existem três correntes para explicar a natureza jurídica do casamento:

* Para todos verem: esquema

Contratualista:

• Contrato especial de direito de família, com regras próprias de formação, um contrato de


vontades convergentes para a obtenção de fins jurídicos. Contrato civil regido pelas normas
comuns aos contratos. Aperfeiçoa-se pelo simples consentimento das partes. Adeptos: Silvio
Rodrigues, Caio Mário Pereira, Orlando Gomes, Pablo Stolze Gagliano.

Institucionalista:

• O casamento é uma instituição social, um estado no qual os nubentes ingressam. Trata-se de


uma instituição social que reflete a situação jurídica emergente da vontade dos contraentes,
mas que possui um conjunto de normas imperativas e preestabelecidas pela lei (são livres para
escolher o cônjuge, mas não podem discutir sobre o conteúdo dos direitos de deveres, não
sendo possível alterar a disciplina legal de suas relações). Não se trata de contrato, mas de um
estatuto, ou seja, há uma adesão a normas já estabelecidas, sem poder adotar outras normas.
Adeptos: Arnoldo Wald; Maria Helena Diniz.

Mista:

• Ato complexo, um contrato quando de sua formação e uma instituição no que diz respeito ao
seu conteúdo, existência e efeitos. O casamento-ato é um negócio jurídico e o casamento-
estado é uma instituição. Adeptos: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Flávio Tartuce.
Esta teoria é a que conta com mais adeptos na atualidade.

2.2 Esponsais ou promessa de casamento –


responsabilidade pré-negocial

1GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Direito de Família – as famílias
em perspectiva constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 118-119.

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É a promessa de casamento entre os nubentes. São atitudes tomadas pelos nubentes


que indicam que pretendem casar-se. Ex.: noivado, confecção dos convites, habilitação. É um
negócio preliminar, uma promessa de contratar.
Neste aspecto, Dias2 afirma que pelo nome de esponsais era considerado o noivado, tido
como um contrato escrito no qual os noivos assumiam o compromisso de casar. Esta previsão
encontrava-se explícita na Consolidação das Leis Civis (arts. 76 e seguintes). Atualmente não
existe regulamentação dos esponsais.
Os esponsais servem para comprovar o compromisso assumido entre os nubentes, que
demonstre a intenção de casar, pois quando algum deles desiste do casamento, cabe
indenização (arts. 186 e 927, CC).
O rompimento imotivado ou injustificado (não tem mais vontade de casar), por si só, não
dá direito a indenização moral. Cabe, no entanto, indenização por danos materiais, já que, com
base no art. 186 do Código Civil, aquele que causa dano a alguém tem o dever de indenizar.
Toda e qualquer promessa de contrato, no caso de ser frustrada, gera efeitos na
inexecução culposa. Quando um dos nubentes quebra a promessa séria de casamento e o outro
já fez preparativos para o ato e para a futura vida em comum, é fato gerador do dever de
indenizar. Essa responsabilidade é subjetiva, devendo ser demonstrada a culpa do
nubente desistente. As situações de caso fortuito ou força maior, bem como a culpa do outro
nubente afastam o dever de indenizar.
Assim, são requisitos a serem provados (IMPORTANTE OBSERVAR):
* Para todos verem: esquema

Requisitos a serem provados


• Existência da promessa de casamento feita pelos noivos e não por
terceiros
• Recusa injustificada de contraí-lo, de forma que é necessário que essa
recusa chegue ao conhecimento do outro noivo
• Existência de dano (material ou moral)
• Nexo causal

O dano pode ser: moral e/ou material. A desistência injustificada de casar por um dos
nubentes gera o dever de indenizar ao outro se este comprovar que teve despesas com o
casamento (DANO MATERIAL). Mas a ruptura de noivado por si só não determina a

2 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 98.

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responsabilidade do desistente, o que pode ensejar a reparação moral são as circunstâncias em


que a outra parte foi comunicada de seu intento. Isto porque o não cumprimento da promessa
de casamento não enseja reparação, pois o relacionamento entre duas pessoas é espontâneo,
livre de coação.
O DANO MORAL vem sendo reconhecido pelos Tribunais quando o comportamento
atinge bens imateriais caros e importantes, como a dor, a humilhação, o desprezo, a angústia e
agressão à honra e à imagem da pessoa, casos em que, em qualquer outra hipótese, diversa
daquela aqui tratada, a reparação se imporia. IMPORTANTE: Meros dissabores x humilhação
pública. EXEMPLO: chegar no altar e dizer: aceita fulana como sua legítima esposa? “Bem, pra
ser franco, não!”. O noivo vai embora e deixa a noiva na frente do padre e dos convidados.
O dano moral está sendo deferido apenas em casos excepcionais, quando reste
evidente a humilhação e exposição de um dos nubentes a situações vexatórias.

2.3 Espécies de casamento


São admitidas duas formas de casamento (art. 226, § 1.º e § 2.º, CF): o civil (art. 1.512,
CC) e o religioso com efeitos civis (art. 1.515 e 1.516, CC). Existem ainda outras modalidades
especiais de casamento: o casamento por procuração, o nuncupativo, o putativo, o homossexual,
o consular, o de estrangeiros.

Civil:

Realizado perante o oficial do Cartório do Registro Civil, pelo juiz de paz. É ato solene
levado a efeito por um celebrante e na presença de testemunhas. Pode ser realizado nas
dependências do Cartório ou em outro local. É previsto pela Constituição no art. 226, § 1.º e no
art. 1.512, CC. A celebração é gratuita para as pessoas cuja pobreza for declarada, incluindo a
habilitação, o registro e a primeira certidão de casamento (art. 1.512, § único, CC).

Religioso com efeitos civis:

O casamento religioso com efeitos civis foi reconhecido, no Brasil, com a Constituição de
1934, que estabeleceu que o casamento religioso, celebrado perante um ministro de qualquer

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religião, produzirá os mesmos efeitos do casamento civil, desde que fosse procedida a
habilitação. A CF/88 também faz esta previsão (art. 226, § 2.º), desde que preenchidos certos
requisitos (arts. 1.515 e 1.516, CC). Não é necessária a celebração do ato civil, basta que o
matrimônio realizado pelo ministro de Deus (de qualquer religião, não só o casamento católico)
seja registrado no Cartório de Registro Civil. Para tanto devem ser obedecidos os requisitos da
habilitação (antes ou depois do ato religioso).
Os efeitos civis são admitidos a partir do registro e a qualquer tempo, retroagindo a data
da celebração da solenidade religiosa (art. 1.515, CC). No caso de prévia habilitação, o prazo
para registro é de 90 dias. Depois desse prazo é possível o registro, desde que efetuada nova
habilitação. Portanto, realizado o casamento religioso, poderá ser inscrito no registro civil,
bastando que seja feita a devida habilitação junto a autoridade competente (art. 1.516, CC). Se
o casamento religioso for anulado, em tendo sido procedido o registro civil do mesmo, tal não
afeta a validade deste. Se entre a celebração do casamento religioso e o registro um dos
cônjuges casar no civil com terceiro, há impedimento para efetuar o registro (art. 1.516, § 3.º,
CC), pois haveria bigamia, neste caso.

* Para todos verem: esquema

Não incidem as
Puramente religioso
normas civis

Habilitação +
Puramente civil celebração (juiz de
Espécies de paz) + registro
casamento

Habilitação +
Habilitação prévia (Art. celebração (minsitro de
1.515, CC) confissão religiosa) +
Religioso com efeitos registro
civis (Lei 1.110/1.950 +
Art. 71 e ss. da Lei
6.015/73) Celebração (ministro
Habilitação posterior de confissão religiosa)
(Art. 1.516, §2º, CC) + habilitação +
registro)

Religioso com efeitos civis


* Para todos verem: esquema

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O que difere do
Habilitação +
puramente civil é o Habilitação
Habilitação prévia Art. 1.515 e 1.516 celebração
fato da celebração posterior
religiosa + registro
ser religiosa

Celebração
religiosa +
Art, 1.516, §2º habilitação +
registro

Casamento puramente civil

Realizada no Registro Civil

Documentação do art. 1.525 do


CC

Deve ser publicado no CRCPN


Expedição do edital de
Habilitação + imprensa local - comarca de
proclamas
domicílio dos nubentes

Parecer do MP

Emissão do certificado de
Validade de 90 dias
Obecede a legislação civil

habilitação

Juiz de paz

Momento em que produz efeitos


o matrimônio

Celebração No cartório 2 testemunhas

Fora do cartório

Também se um dos nubentes


Portas abertas 4 testemunhas
não puder assinar

Registro Ato contínuo a celebração

*
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Por procuração:

▪ Art. 1.542, CC.

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O instrumento procuratório deve ser público e com poderes especiais (constar


expressamente que é para casar com Fulano de Tal). A procuração é válida por 90 dias. A
revogação da procuração também é por instrumento público. Se a revogação não chegar ao
conhecimento do mandatário e o casamento for celebrado o mandante responde por perdas e
danos. Revogado o mandato a lei determina que o casamento é anulável (art. 1.550, V, CC). Há
a possibilidade de o casamento ter validade na hipótese de, mesmo sendo revogado o mandato,
ocorrer a coabitação entre os cônjuges. O contato sexual entre os cônjuges é que dá a validade
ao casamento (não significa que o casamento se consuma na noite de núpcias, mas quer evitar
que exista o uso malicioso desse expediente, conseguindo favores sexuais do cônjuge).

Nuncupativo:

É o casamento quando um dos nubentes está em iminente risco de vida (arts. 1.540 ao
1.542, CC). Esta modalidade de casamento é realizada sem nenhum requisito legal (celebração
sem juiz de paz, sem prévia habilitação), bastando a presença de seis testemunhas que não
tenham parentesco (em linha reta ou colateral, até segundo grau) com os nubentes. Dentro de
10 dias a contar da celebração as testemunhas tem de confirmar o casamento perante a
autoridade judicial que, antes de mandar registrar o casamento, fará uma investigação. Não
existe previsão de ouvir o cônjuge sobrevivente. Se o nubente que estava em risco de vida
sobreviver poderá ratificar o casamento, retroagindo os efeitos a data da celebração.

Putativo:

É o casamento que reputa verdadeiro, mas não o é. Trata-se de casamento nulo ou anulável
contraído de boa-fé (art. 1.561, CC). Neste caso, o casamento produz efeitos com relação ao
cônjuge de boa-fé, no período entre a celebração e o trânsito em julgado da sentença que o
desconstitui. Com relação aos filhos todos os efeitos se operam. Havendo a boa-fé, sendo o
casamento nulo ou anulável, a sociedade conjugal dissolve-se, como se tivesse ocorrido a morte
de um dos cônjuges (o de má-fé), se partilhando os bens. No caso de ambos estarem de boa-fé,
o pacto antenupcial deve ser observado na partilha. Se a nulidade for decretada após a morte
de um dos cônjuges, o outro herda normalmente. Em caso de morte: a) decretada a nulidade
antes da morte, o sobrevivente não herda, pois o término do casamento e do regime de bens

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ocorreu com a sentença que declarou a nulidade ou anulação do matrimônio; b) se a nulidade


for decretada após a morte de um dos cônjuges, o outro herda normalmente. Se o cônjuge morre
após a anulação, não herdará. Se o casamento putativo for de um bígamo, morrendo este, ambos
os cônjuges serão herdeiros e a meação será dividida entre ambos (25% para cada um).

Consular:

É o casamento de brasileiro, realizado no estrangeiro, perante a autoridade consular


brasileira, sujeitando-se, assim, as leis brasileiras e não à legislação local. O registro deve ser
procedido dentre do prazo de 180 dias a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao
Brasil, no Cartório de seu domicílio ou, em não possuindo domicílio certo, no 1.º Ofício da Capital
do Estado em que passem a residir (art. 1.544, CC). Se o registro não for feito dentro desse
prazo, o casamento não produzirá os efeitos jurídicos pela lei brasileira. Ver art. 18, LINDB. No
mesmo sentido, o art. 32 da Lei dos Registros Públicos. Aplica-se apenas em casos de ambos
os nubentes serem brasileiros e estarem casando no exterior. Se um dos nubentes não for
brasileiro, a autoridade consular não possui competência para celebrar o casamento.

Casamento realizado no estrangeiro:

Para que o casamento de brasileiros ou estrangeiros, realizado no exterior, tenha validade


no Brasil, deve ocorrer o registro do matrimônio no Brasil. A certidão de casamento deve ser
traduzida por tradutor juramentado e autenticada pelo agente consular brasileiro para, então, ser
registrada. Nestes termos, ver art. 32, Lei dos Registros Públicos.

Casamento de casais homoafetivos:

Em razão da Resolução 175 CNJ é possível que casais homoafetivos celebrem casamento
no Brasil – tanto por processo de habilitação, como, também, por processo de conversão de
união estável em casamento.

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2.4 Capacidade para o casamento

Diz respeito a idade reconhecida para que as pessoas estejam aptas a casar.
Art. 1.517, CC = 16 anos.
16 a 18 anos: com autorização dos pais (de ambos os pais, salvo quando um deles não
existir ou não puder emanar o consentimento. Se um não concordar → juiz decide. Autorização
pode ser revogada até o momento da celebração do casamento (art. 1.518, CC), mas deve ser
fundada em fato novo e grave. A negativa da licença para casar deve ser baseada em
fundamentos sérios e justificáveis, de maneira que se for diferente, poderá o juiz conceder a
licença (art. 1.519, CC).
Indivíduo emancipado → não precisa da autorização dos genitores.

ATENÇÃO
Enunciado n. 512 da V Jornada de Direito Civil: O art. 1517 do Código Civil, que
exige autorização dos pais ou responsáveis para casamento, enquanto não atingida a
maioridade civil, não se aplica ao emancipado.

A lei 13.811/2019 alterou o art. 1.520, CC que passou a vedar o casamento do menor de
16 anos:

Art. 1.520 do CC. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não
atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código.

Mas, e há uma idade limite para o casamento? O CC não estabelece idade limite, mas,
estabelece que aquele que tiver mais de 70 anos terá de casar sob o regime da separação
obrigatória de bens (art. 1.641, II, CC).

2.6 Habilitação para o casamento

A habilitação é um procedimento administrativo, processo que corre perante o Oficial do


Registro Civil do domicílio dos nubentes com o fim de demonstrar que estes estão legalmente

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aptos para o matrimônio. O Oficial, através da habilitação, verifica a concorrência dos


pressupostos de existência e validade do ato matrimonial. Visa justamente o exame da
capacidade e da aptidão, a fim de conferir validade à celebração.
Para aquelas pessoas que tiverem a pobreza declarada na forma da lei, o processo de
habilitação, o registro e a primeira certidão de casamento estarão isentos de custos,
emolumentos e selos, nos termos do art. 1.512, § único, CC.
A habilitação é feita em um só documento (requerimento), contendo os dados dos
nubentes e declarações (Art. 1.525, CC):
▪ Certidão de nascimento dos nubentes ou outro documento que a supra (carteira de
identidade, passaporte...).
▪ Autorização dos pais, curador ou tutor Art. 1.517, CC. A necessidade de
consentimento é para nubentes entre 16 e 18 anos (quando atinge a maioridade civil). Se o
menor for emancipado, não precisa de autorização dos pais para casar. O interdito precisa de
autorização do curador. Até a celebração do casamento a autorização emitida pelos
responsáveis pode ser revogada (Art. 1.518, CC).
▪ Declarações de duas testemunhas sobre a identidade dos nubentes e a inexistência
de impedimento para a realização do casamento. As testemunhas podem ser parentes ou não;
▪ Declaração firmada pelos nubentes (ou por procurador com poderes especiais), com
o fim de esclarecer o estado civil, profissão, filiação e domicílio (seu e de seus pais). No caso de
os nubentes residirem em locais diferentes, a publicação dos editais deve ocorrer em ambos os
lugares;
▪ Se um dos nubentes for viúvo, anulou ou obteve declaração de nulidade do
casamento ou se divorciou, precisa provar que o vínculo matrimonial anterior foi
dissolvido. No caso do viúvo, deve apresentar certidão de óbito do cônjuge anterior. No caso
de casamento nulo ou anulado, deve apresentar a sentença, com trânsito em julgado, que anulou
ou declarou nulo o casamento anterior. O divorciado deve apresentar o registro da sentença de
divórcio.
▪ Os nubentes deverão indicar o regime de bens. Em não indicando, prevalece a
comunhão parcial.

2.6.1 Processo de habilitação

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A habilitação ocorre no Registro Civil, com a audiência do Ministério Público – não há


mais a necessidade de homologação pelo juiz.
Uma vez apresentados ao Oficial o requerimento de habilitação, instruído com os
documentos, será extraído edital, que se publicará pela imprensa se houver (Art. 1.527, CC, Art.
67, § 1.º, Lei 6.015/73). Se os nubentes residirem em circunscrições diversas, o edital deverá ser
publicado em ambas (Art. 67, § 4.º, Lei 6.015/73). Este edital ficará afixado, durante 15 dias, no
mural do Cartório (ou Cartórios) da circunscrição de residência dos nubentes. Poderá haver
dispensa do edital em caso de urgência (art. 1.527, § único, CC).
Função do edital: conhecimento aos terceiros para oposição de impedimento, que devem
ser opostos através de um documento escrito e assinado (Art. 1.529, CC). Esta oportunidade
perdurará até o momento da celebração do casamento.
* Para todos verem: esquema

Documentação Lavram-se os Edital afixado em


apresentada proclamas local ostensivo

Estando em Publicam-se Prazo de 15 dias


ordem mediante edital (art. 1.527, CC +
art. 67, § 1.º, Lei
6.015/73)

Oficial do Registro, no processo de habilitação, esclarecer aos nubentes sobre os fatos


que podem invalidar o casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens (Art. 1.528,
CC).
Havendo oposição: Oficial cientificará os nubentes da nota de oposição, indicando os
fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu (Art. 1.530, CC). Os nubentes terão direito
ao contraditório e a ampla defesa, tendo prazo razoável para fazer contraprova, bem como
promover ações civis e criminais contra o oponente de má-fé (Art. 67, § 5.º, Lei 6.015/73). A
decisão final será do juiz, com a oitiva dos interessados e do Ministério Público.
Se ninguém opuser impedimento o Oficial certificará que os pretendentes estão
habilitados para se casar (Art. 1.531, CC, Art. 67, § 1.º§ 3.º, Lei 6.015/73) dentro dos três meses
imediatos – 90 dias (prazo da habilitação) (Art. 1.532, CC). Não se realizando o casamento nesse
prazo, a habilitação deverá ser renovada.
Apresentados os documentos ao oficial, estando em ordem, publicado o edital, os
pretendentes requererão certidão de que estão habilitados para o casamento (Art. 1.517, CC,
Art. 67, caput, Lei 6.015/73).

16
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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2.7 Celebração do casamento

Processada a habilitação, estão os nubentes em condições de casar.


A celebração é pública, de maneira que qualquer pessoa pode participar da solenidade.
O procedimento de celebração inicia-se pelo requerimento dos nubentes indicando dia, hora e
local onde deverá ser realizado o matrimônio (Art. 1.533, CC).
Via de regra realiza-se o casamento no Cartório. Entretanto pode ocorrer em local diverso,
desde que às portas abertas, para que seja público (Art. 1.534 e § 1.º, CC). No Cartório – 2
testemunhas; Fora do Cartório (ou quando um dos nubentes for analfabeto - Art. 1.534, § 2.º,
CC) – 4 testemunhas.
A cerimônia é celebrada pelo juiz de paz, pessoa escolhida e designada segundo as leis
do Estado, não podendo haver substituição por qualquer outra autoridade.
Juiz de paz pergunta aos nubentes se pretendem casar por livre e espontânea vontade →
sim, declarará o celebrante formalizado o casamento, nos termos da segunda parte do Art. 1.535,
CC. Neste momento o casamento passa a produzir os efeitos. Maria Berenice Dias defende que
a perfectibilização do ato depende de um duplo requisito: manifestação da vontade das partes e
a declaração do celebrante de que estão casados3.
Se responderem não, manifestarem dúvida (ainda que de brincadeira), a celebração será
suspensa (Art. 1.538, CC).
O registro do casamento deverá conter os dados constantes no Art. 1.536, CC.
Igualdade constitucional: qualquer dos cônjuges pode adotar o sobrenome do outro,
conforme art. 1.565, § 1.º, CC.

2.8 Provas do casamento

Prova de casamento celebrado no Brasil: certidão do registro (Art. 1.543, CC);


Casamento celebrado no exterior: documento emanado pelo país estrangeiro,
devidamente autenticado pelas autoridades consulares (prazo de 180 dias, a contar da volta para

3 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 166.

17
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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o Brasil, para fazer o registro do casamento, que deverá ser feito no domicílio do casal ou no 1.º
Ofício de Registro Civil da Capital do Estado (Art. 1.544, CC) – prova direta.
Inexistindo o registro: prova indireta – admitida qualquer outra espécie de prova (Art.
1.543, § único, CC) → ação judicial (ação declaratória ou justificação judicial) que visa declarar
o estado de casado.

EXEMPLO: Carteira de Identidade onde conste o estado civil de casado. Também pode
ser feita a prova do estado de casado por testemunhas. No caso da ação declaratória, sua
sentença deve ser inscrita no registro civil, que produzirá seus efeitos quanto aos cônjuges e
quanto a seus filhos, desde a data do casamento (Art. 1.546, CC).

Posse do estado de casados

Aquelas pessoas que não possam manifestar vontade (por morte ou outra circunstância –
doença mental, por exemplo) e que vivam na posse do estado de casadas – como se casadas
fossem – poderão ter o reconhecimento do casamento, sendo a posse do estado de casadas um
início de prova.

Requisitos:
* Para todos verem: esquema

a) nomen: b) tractatus: c) fama:

• a mulher usa o • ambos tratam-se, • a sociedade dever


nome do marido ou ostensivamente, reconhecer esta
vice-versa; como marido e condição dos
mulher; cônjuges.

2.9 Impedimentos para o Casamento

Impedimento é a falta de condições impostas por lei para que o casamento seja celebrado
sem vícios passíveis de nulidade ou sem penalidade para os nubentes, o oficial do registro e o
juiz.
Art. 1.521. Não podem casar.
* Para todos verem: esquema

18
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Se realizado o
Casamento nulo.
matrimônio

Impedimento Incapacidade
• Priva que o casamento • Impede a realização de
seja celebrado entre casamento com quem
determinadas pessoas quer que seja

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil – O


parentesco em linha reta consanguínea persiste ao infinito, independente do grau. Visa
impedir o incesto e, também, problemas congênitos. Avô e neta,...
II - os afins em linha reta – Afinidade – parentesco advindo do casamento ou união
estável. Limita-se a linha reta em primeiro grau, pois afinidade não gera afinidade. Assim,
só são parentes em linha reta que tem impedimento para casar: sogro e nora, sogra e
genro, padrasto e enteada, madrasta e enteado. Este impedimento, contudo, não ocorre
na linha colateral, de maneira que os cunhados não estão impedidos de casar.
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do
adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau
inclusive – Não podem se casar os irmãos (unilaterais ou bilaterais). Os
impedimentos relativos a linha colateral vão até o terceiro grau, ou seja, tios
e sobrinhos, hipótese que está autorizada mediante parecer médico (art.
2.º, Decreto-lei n.º 3.200/41 , CC) que ateste não existir inconveniente do
ponto de vista da saúde dos cônjuges e da prole (este casamento chama-
se AVUNCULAR).

ATENÇÃO
Enunciado n. 98 da Jornada de Direito Civil: O inciso IV do art. 1.521 do Código Civil
deve ser interpretado à luz do Decreto-lei n. 3.200/41, no que se refere à possibilidade de
casamento entre colaterais de 3º grau.

V - o adotado com o filho do adotante – filho adotivo se iguala ao biológico, de maneira


que também surgem os impedimentos, iguais aos da consanguinidade. O impedimento só
surge se houver adoção regularizada.
VI - as pessoas casadas – Aqueles que já são casados não podem se casar outra vez, o
que configuraria a bigamia (crime previsto no art. 235 do Código Penal).
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte – Deve haver sentença penal condenatória transitada
em julgado e o crime não deve estar prescrito para que configure a nulidade. Esse
impedimento vale para homicídio doloso, não para o culposo.

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Matrimônio realizado com inobservância de impedimento: NULO (art. 1.548, II, CC).
Interessados ou MP poderão, a qualquer tempo, buscar a nulidade (art. 1.549, CC).

2.10 Causas suspensivas do Casamento

As causas suspensivas visam impedir a realização do casamento. NÃO DEVEM CASAR


(art. 1.523, CC). Se realizado, o matrimônio é válido, impondo a lei apenas sanções de natureza
econômica (o regime de bens será obrigatoriamente o da separação – arts. 1.550 + 1.641, I, CC).

I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros – visa evitar a confusão de
patrimônios. A existência de casamento entre essas pessoas poderia causar dificuldades
para a identificação do patrimônio das distintas proles por dificuldade na identificação.
Poderá ser solicitado ao juiz que não aplique a causa suspensiva se comprovado que não
houvera prejuízo aos herdeiros, como no caso de não haver patrimônio a ser partilhado.
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado,
até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal
– evitar a confusão sanguínea, de maneira que possa nascer um filho nesse período e,
caso a mulher tenha casado novamente, não se saiba qual é o pai. Na verdade, nascendo
um filho nesse período, presume-se seja do primeiro marido. Ver art. 1.597 e 1.598, CC.
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos
bens do casal – evitar a confusão patrimonial.
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados
ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela
ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas –evitar que o incapaz
case para isentar o administrador de seus bens da prestação de contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam
aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo,
provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-
cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente
deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo.

ATENÇÃO

O matrimônio realizado com inobservância de causa suspensiva acarreta na imposição


do regime de separação obrigatória de bens (art. 1.641, I, CC)

* Para todos verem: quadro comparativo

Momento da oposição Legitimados

Oposição (em Juiz e oficial do registro


No processo de
declaração escrita, (de ofício), Ministério
Impedimentos habilitação e até o
assinada e com provas) Público e qualquer
momento da celebração
– 1.529 interessado (1.522)

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Parentes em linha reta e


Só no processo de
colateral até 2.º grau
Causas suspensivas habilitação, até 15 dias
(consanguíneos ou afins)
após os proclamas
(1.524)

* Para todos verem: esquema

Não podem Art. 1.521 do


Impedimento
casar CC

Causa Não devem Art. 1.523 do


suspensiva casar CC

2.11 Existência do Casamento e casamento inexistente

Negócio jurídico → dois planos = plano da existência e plano da validade.


* Para todos verem: esquema

Existência Validade

• cumprimento dos • quando é considerado


requisitos mínimos. perfeito e produz efeitos

Considera-se inexistente o casamento “quando lhe faltam um ou mais elementos


essenciais, como o consentimento, ou o congraçamento de duas pessoas, ou a união de seres
humanos de sexo diferente”4.
No ato inexistente há, quando muito, aparência de ato jurídico. Não é um ato jurídico, pois
não possui os pressupostos para tanto. No caso do casamento, há uma mera aparência de
matrimônio, pois não possui qualquer conteúdo jurídico, de maneira que o ato não se formou
para o Direito. Os atos inexistentes são um nada jurídico, não devem gerar qualquer efeito.
NÃO HÁ A PRODUÇÃO DE EFEITOS!
Requisitos de existência do casamento – Art. 1.514, CC
CUIDADO com a questão de pessoas de sexos diferentes (não se pode mais considerar
este requisito, pois é permitido o casamento entre pessoas de mesmo sexo – Resolução 175

4 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei n.º 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 104.

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CNJ); Manifestação da vontade – consentimento de ambas as partes (Art. 1.535, CC) – o


consentimento, a concordância, o “sim” é da essência do ato, integrando a solenidade de
celebração. Celebração perante autoridade legalmente investida de poderes para tanto
(Art. 1.533, CC) – falta de celebração ou celebração feita sem o juiz de paz. No caso da
celebração ser feita por juiz de paz incompetente (de outra circunscrição, p. ex.), por um
equívoco, não será caso de inexistência, mas sim, causa de anulabilidade (Art. 1.550, VI, CC).

ATENÇÃO
A capacidade matrimonial não é requisito. O casamento de menores de 16 anos
que for celebrado não é inexistente, mas, sim, anulável, conforme termos do art. 1.550 do
Código Civil.

Para a existência do casamento são necessários os requisitos. Não se confunde


com o casamento nulo ou anulável, pois o ato nunca existiu. Foi uma materialidade de
fato, mas sem qualquer significação jurídica.
Declaração de inexistência: pode ser declarada de ofício. Simplesmente averba-se a
inexistência do ato. Em havendo ação judicial, esta será declaratória (declara a inexistência do
matrimônio) e os efeitos práticos serão os mesmos da nulidade (a seguir veremos).

2.12 Casamento nulo e anulável

Os planos da validade e da eficácia do casamento não podem ser confundidos. A validade


depende da manifestação da vontade das partes e da declaração, pelo juiz de paz, de que os
nubentes estão casados. A eficácia depende do registro público do casamento 5.
Tanto a nulidade, quanto a anulação do casamento dependem de declaração judicial.
Enquanto não declaradas por sentença, o casamento produz efeitos – arts. 1.561 e 1.563, CC.
O matrimônio, quando celebrado com inobservância a um impedimento de ordem pública,
DEVE ser desconstituído, não havendo prazos para a declaração de nulidade (imprescritível).
Quando celebrado com inobservância de uma norma de interesse individual, PODE ser

5 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 189.

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desconstituído, desde que dentro dos prazos estabelecidos (prazos prescricionais exíguos). A
nulidade não se convalida6.
Uma vez que seja declarado nulo ou anulado o matrimônio, os efeitos são retroativos à
data da celebração. O casamento é considerado putativo (reputa-se verdadeiro mas não é),
produzindo todos os efeitos para aquele que estiver de boa-fé e para os filhos (art. 1.561, CC).

2.12.1 Casamento nulo

O casamento que for celebrado com a violação dos impedimentos previstos no art. 1.521,
CC será eivado de nulidade. Nesse sentido, o art. 1.548, CC traz as causas de nulidade do
casamento: violação dos impedimentos.

CUIDADO
O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) retirou do rol de
situações de nulidade o casamento contraído por enfermo mental desprovido de
discernimento. A referida lei incluiu um parágrafo no art. 1.550 que permite que a pessoa
com deficiência mental ou intelectual em idade núbil possa casar, expressando sua
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.

Quando os nubentes não forem capazes de manifestar de modo inequívoco sua


vontade/consentimento, trata-se de casamento anulável (art. 1.550, IV, CC).
Revela-se nulo o casamento: contraído com inobservância a impedimento (art. 1.521)
No caso de o casamento ser celebrado por alguém que não esteja investido na função de
juiz de casamento e, embora com essa falta de investidura, desempenha publicamente tal
função, efetuando o registro do casamento, embora, a rigor o ato fosse nulo, a lei sobreleva a
nulidade, nos termos do Art. 1.554, CC.

2.12.2 Ação de nulidade do casamento

6 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 189.

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Para a declaração de nulidade do casamento é necessária ação judicial para tanto,


proposta pelo interessado (Art. 1.549, CC) ou o Ministério Público poderão ingressar com a ação
de nulidade.
A ação é IMPRESCRITÍVEL.

* Para todos verem: esquema

Competência:

• art. 53, I, CPC: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho
incapaz; ou c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal. OBSERVAÇÃO:
Cuidado com o que disser no enunciado. Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no
enunciado. Lembre-se que nem todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se
utilizar “... Vara...”

Autor:

• MP, primeiro cônjuge, cônjuge bígamo, colaterais sucessíveis e credores dos cônjuges. Art. 1.549, CC

Fundamento legal:

• artigos 1.548 e art. 1.521, do Código Civil + art. 318 e ss. CPC (procedimento comum).

Nome da ação

• Ação de Nulidade do casamento

Requerido

• são os cônjuges daquele casamento em que se busca a nulidade ou, apenas um deles, caso o outro seja autor

Tutela de urgência

• Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido de tutela provisória (art. 300 do CPC).

Pedidos

• intimação do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698 do CPC (se for o caso) e
art. 178, II, do CPC (se for o caso); que seja julgada procedente a presente ação, com a nulidade do casamento
ocorrido entre as partes, expedindo-se competente mandado de registro para o Cartório de Registro Civil desta
Comarca. De resto, os pedidos tradicionais das iniciais.

Valor da causa

• havendo questões patrimoniais, é o valor desses bens. Em não havendo, como é de natureza pessoal, sugere-se
usar: “Nos termos do art. 291 do Código de Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

CUIDADO
Efeitos Ex Tunc: art. 1.563 do CC: retroagindo até a data da celebração do
casamento, sem que, contudo, prejudique a aquisição de direitos por terceiros de boa-fé.

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2.12.3 Casamento anulável

O casamento é anulável quando celebrado em ferimento apenas do interesse de pessoas


que o legislador quer proteger por considerá-las hipossuficientes. A lei não quer o matrimônio e,
se foi contraído, autoriza a dissolução. O silêncio das partes permite que um ato jurídico
defeituoso convalesça, o que equivale a uma ratificação tácita, ou melhor, a uma ratificação
presumida. Art. 1.550, CC. É anulável o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar – casos dos menores de 16
anos. Não se anulará, todavia o casamento, por motivo de idade, se dele resultou gravidez (Art.
1.551, CC). O menor poderá confirmar seu casamento quando alcançar os 16 anos, com a
autorização de seus representantes legais ou com suprimento judicial (Art. 1.553, CC). É uma
ratificação do ato, que ocorre com um termo, constando a assinatura do ratificante, duas
testemunhas e os representantes legais, perante o Oficial do Registro Civil e o juiz de paz, sem
necessidade da convalidação judicial. Esse ato não importa em nova celebração do casamento.
Mesmo que não tenha sido ratificado o ato, quando atingida a maioridade, o ato segue gerando
seus efeitos, pois trata-se de ato anulável. Também poderá ser confirmado o matrimônio quando
atingida a maioridade.
Para que haja a anulação do casamento de menores de 16 anos o requerimento deve
partir do próprio cônjuge, por seus representantes legais ou por seus ascendentes (Art. 1.552,
CC).

ATENÇÃO
Prazo: art. 1.560, §1º do CC: 180 dias, contado o prazo do dia em que o menor
completou 16 anos para ele, e da data do casamento para seus representantes legais ou
ascendentes.

II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal –
entre 16 e 18 anos deve haver anuência de seus responsáveis (pais) para poderem casar. Se o
menor tiver sido emancipado não é necessário tal consentimento. PRAZO = 180 dias, por
iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais, a partir do casamento,
ou de seus herdeiros necessários, a partir da morte do incapaz. Não poderá haver anulação se
os representantes legais do incapaz tiverem assistido ao ato de celebração do casamento ou
manifestado, de qualquer modo, sua concordância (Art. 1.555, CC).

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III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558 – Sem o consentimento o
casamento inexiste, pois é requisito essencial. Mas é necessário que o ato seja livre e
espontâneo, não viciado, a fim de que tenha eficácia.

Art. 1.556, CC
Erro essencial quanto a pessoa do outro: falta de conhecimento da identidade ou de uma
qualidade essencial do outro cônjuge. Ao ser dado o consentimento, um dos cônjuges o faz
imbuído por falso conceito, ou uma idéia equivocada em relação à pessoa com quem se casou
(art. 1.557, CC).

▪ Identidade, honra e boa fama: pensava ser uma pessoa e era outra. Ex.: nome e
identidade falsos; transexual; pessoa que se descobre depois do casamento ser de conduta
devassa, com envolvimento com traficantes de drogas, etc. IMPORTANTE (JÁ CAIU NO EXAME
DA OAB): esse fato deve ser conhecido após o matrimônio, tornando insuportável a vida em
comum.
▪ Ignorância de crime: são requisitos: a) a prática de crime; b) que seja anterior ao
casamento; c) que seja fato ignorado pelo outro cônjuge ao casar-se; d) que torne insuportável
a vida em comum. Ex.: cometimento de estupro anterior ao casamento.
▪ Ignorância de defeito físico irremediável: O Estatuto da Pessoa com Deficiência
introduziu esse inciso, não sendo cabível a anulação do casamento em caso de pessoas com
deficiência. Como forma de erro essencial, capaz de levar à anulação do matrimônio, encontram-
se, então: defeitos irremediáveis como hermadroditismo; deformações genitais; ulcerações no
pênis e impotência coeundi (para o ato sexual)7 ou instrumental (não é esterilidade, é
impotência).

Com relação às moléstias graves e transmissíveis, tais devem ser transmissíveis por
contágio ou herança, capaz de colocar em risco a saúde do outro cônjuge e sua prole. A moléstia
deve ser anterior ao casamento e não desconhecida do outro cônjuge. EXEMPLO: AIDS,
hepatite, sífilis, epilepsia, hemofilia, etc. Não é discriminação. O portador de HIV, por exemplo,

7TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016,
p. 95.

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merece proteção e respeito e tem todo o direito de constituir família, mas seu futuro cônjuge deve
saber da situação.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/15) revogou o inciso IV do art.


1.557 do Código Civil, que mencionava a ignorância de doença mental grave, que fosse
anterior ao casamento, grave e desconhecida pelo outro cônjuge. Agora este casamento
é válido, visando a inclusão social das pessoas com deficiência.

ATENÇÃO
Prazo: Nos casos acima mencionados, o prazo é de 03 anos (art. 1560, III, do
Código Civil), contado da data da celebração do casamento.

Art. 1.558, CC – Coação: a coação é a pressão física ou moral, ou o constrangimento que


sofre uma pessoa, com o fim de ser obrigada a realizar um ato ou negócio. Ocorre no momento
da celebração do casamento. Somente o cônjuge que sofreu a coação pode demandar a
anulação de casamento, mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato. A coação,
para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens ou temor de morte.
PRAZO: 4 anos a contar da celebração do ato (art. 1.560, IV, CC).
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento –
Em razão do Estatuto da pessoa portadora de deficiência, a previsão do inciso IV incide apenas
sobre os alcoólatras e viciados em tóxicos (art. 4.º, II, CC). As pessoas com capacidade reduzida
podem contrair matrimônio, manifestando sua vontade pessoalmente ou por responsável (art.
1.550, §2.º, CC).
O prazo para revogação é de 180 dias a contar da celebração do casamento (Art. 1.560,
I, CC).
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges – Uma vez
ocorrendo a coabitação, naturalmente se depreende a renúncia da revogação do mandato,
porquanto o mandante, indo coabitar com o outro cônjuge, naturalmente aceitou o casamento,

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além de lhe competir a comunicação ao outro cônjuge da revogação do mandato. Cabe ao


mandante tomar todas as providencias necessárias para cientificar o mandatário ou o outro
contraente da revogação da procuração. No caso disso não ocorrer, o mandante responde por
perdas e danos. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada (Art.
1.550, § único, CC). PRAZO = 180 dias a contar da ciência pelo mandante da celebração do
casamento (Art. 1.560, § 2.º, CC).
VI - por incompetência da autoridade celebrante – Tal infração refere-se a
incompetência relativa ou em razão do lugar do juiz de casamentos.
Só tem validade, em princípio, o casamento realizado pelo juiz do distrito onde se
processou a habilitação para o casamento. Contudo o Art. 1.554, CC protege o estado de
aparência, quando o casamento é celebrado pro quem, sem possuir a competência exigida na
lei, exercer publicamente as funções de juiz de paz e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no
Registro Civil. Mas só na hipótese de juiz de paz incompetente o casamento se convalida. Se for
outra pessoa (delegado, ministro, prefeito...) o casamento é inexistente.

ATENÇÃO
Prazo: O prazo é de 02 anos (art. 1560, II, do Código Civil) contado da data da
celebração.
Efeitos da anulação: EX TUNC, retroagindo até a data da sua celebração, de forma que os
cônjuges voltem a ser solteiros. Verificar o art. 1.563 do Código Civil – Boa-fé.

ANULAÇÃO X DIVÓRCIO – efeitos são diferentes – o objetivo na anulação é voltar ao


status quo, ou seja, voltar a ser solteiro, com o aproveitamento dos efeitos no caso da boa-fé
(art. 1.561, CC). No divórcio, o estado civil passa a ser divorciado (não volta a ser solteiro). O
enunciado deixará claro se será caso de anulação ou divórcio. Para ser situação de anulação, o
fato que conduz a invalidade deve ter ocorrido antes do casamento, ser descoberto após o
casamento e, ainda ter tornado insuportável a vida em comum.

Invalidade do casamento
* Para todos verem: esquemas

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180 dias - ao fazer 16


Quem não completou a anos (para o menor) e da
idade núbil - 16 anos celebração (para os pais)
- 1.560

180 dias - 1.555 - para o


Menor em idade núbil,
incapaz ao deixar de sê-
sem autorização dos pais
lo e para os pais da
(16 a 18 anos)
celebração

Sob coação (1.558) 4 anos - 1.560, IV

Anulabilidade - 1.550, Por erro essencial


CC - produz efeitos até a quanto a pessoa do outro 3 anos - 1.560, III
declaração de nulidade
(1.561) (1.556 + 1.557

Pelo incapaz de
consenstir e manifestar
de modo inequívoco sua 180 dias - 1.560,
vontade

Por procuração cujo


mandato tenha sido 180 dias - 1560, §2º
revogado

Celebrado por autoridade


relativamente 2 anos - 1.560, II + 1.554
incompetente

2.12.4 Ação de anulação de casamento

A maioria das ações de anulação de casamento têm como fundamento o erro essencial
quanto a pessoa do outro (art. 1.557, CC). Com a anulação do matrimônio, o indivíduo volta ao
estado civil que detinha antes do casamento. Os prazos para a propositura da ação estão nos
arts. 1.555 e 1.560, CC.
Competência: art. 53, I, CPC: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último
domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; ou c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes
residir no antigo domicílio do casal. OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado.
Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem
todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Autor: o próprio cônjuge, representantes legais do menor de idade, ascendentes,
herdeiros necessários. Art. 1.552, 1.555, CC
Fundamento legal: artigos 1.550 (ou art. 1.557 ou 1.558 – conforme mencionado no
enunciado), CC + art. 318 e ss. CPC (procedimento comum).

29
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

Nome da ação: Ação de Anulação do casamento


Requerido: são os cônjuges daquele casamento em que se busca a anulação ou, apenas
um deles, caso o outro seja autor
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Tempestividade: Como essa ação deve obedecer ao prazo, sugere-se incluir tópico para
demonstrar a tempestividade da propositura da inicial. Ver arts. 1560 e 1555, CC que indica os
prazos (lembre-se que no esquema acima estão as hipóteses de anulação e os prazos, com os
dispositivos legais correspondentes)
Pedidos: intimação do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do
art. 698 do CPC (se for o caso) e art. 178, II, do CPC (se for o caso); que seja julgada procedente
a presente ação, com a anulação do casamento ocorrido entre as partes, expedindo-se
competente mandado de registro para o Cartório de Registro Civil desta Comarca. De resto, os
pedidos tradicionais das iniciais.
Valor da causa: havendo questões patrimoniais, é o valor desses bens. Em não havendo,
como é de natureza pessoal, sugere-se usar: “Nos termos do art. 291 do Código de Processo
Civil. dá à causa o valor de R$...”

ATENÇÃO
Efeitos EX TUNC: art. 1.563, CC: retroagindo até a data da celebração do casamento,
sem que, contudo, prejudique a aquisição de direitos por terceiros de boa-fé.

2.12.5 Consequências da nulidade ou da anulação do casamento

Até a nulidade/anulação: produz todos os efeitos se contraído de boa-fé (Art. 1.561, CC).
Depois da nulidade/anulação: considera-se o casamento como inexistente (volta ao
status quo ante). Se for o caso, perde o cônjuge o estado de casado e de capaz, tornando à
menoridade. O pacto antenupcial também desaparece.
Efeitos: Os efeitos da sentença transitada em julgado retroagem a data do casamento,
como se ele nunca tivesse existido. Contudo, os direitos de terceiros de boa-fé são preservados,
ou seja, as vendas feitas a terceiros permanecem inalteradas. Aos filhos os efeitos aproveitam

30
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

sempre. Havendo patrimônio – obedecer ao regime de bens. Quando a nulidade/anulabilidade


decorrer de culpa de um dos cônjuges, o culpado deverá devolver ao outro todas as vantagens
e benefícios que deste recebeu (art. 1.564, I, CC). Também fica obrigado o cônjuge culpado a
cumprir com as promessas feitas no contrato antenupcial, de maneira que se fez promessa de
fazer uma doação, a anulação não lhe retira o dever de cumprir com tal obrigação.

03. Regime de bens

Maneira pela qual se estabelece, no casamento, as formas de contribuição e cada um


para o lar, a titularidade e administração dos bens comuns e particulares e em que medida esses
bens respondem por obrigações de terceiros. É uma das consequências jurídicas do casamento.
Assim, o casamento não subsiste sem um regime de bens, de maneira que se os cônjuges não
se manifestarem, a lei supre sua omissão, disciplinando o regime de bens de seu casamento.

ATENÇÃO
Regime legal: até 1.977 o regime legal era a comunhão universal de bens (não havia
pacto antenupcial). Após 1.977, Lei do Divórcio (Lei n. 6.515/77) o regime legal é a comunhão
parcial de bens.

Regra: liberdade dos pactos e escolha do regime de bens – art. 1.639, CC.
Início do regime de bens: data do casamento – momento do “sim” (art. 1.639, § 1.º, CC).
Fim do regime de bens: separação de fato.
Possibilidade de mesclar diversos regimes de bens, ou seja, adotarem um regime e, com
referência, a certos bens, elegerem outro. Ex.: adotar o regime da separação total de bens,
estipulando que com relação ao bem X vigorará o regime da comunhão de bens.

ATENÇÃO
A possibilidade de mesclar entre diversos regimes de bens tem como fundamento o art.
1.639 do Código Civil: “É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular quanto

31
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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aos seus bens, o que lhes aprouver. Neste caso, é estabelecido um regime de bens como base
para o casamento e, querendo, poderá estabelecer outro regime a determinado bem.

3.1 Princípios

1. Variedade do regime de bens: a lei oferece uma multiplicidade de regimes de bens: 4


diferentes regimes de bens para que os consortes possam optar pelo que mais lhes convier:
comunhão universal, comunhão parcial, separação e participação final dos aquestos.
2. Liberdade dos pactos antenupciais: é decorrência do primeiro. É a liberdade de escolha
dentre os vários regimes de bens existentes, podendo ainda, criar um regime novo, mesclando
partes de um regime e elementos de outro (art. 1.639, CC). O Estado não pode, salvo havendo
motivo relevante e norma específica, intervir demasiadamente e coativamente na relação
matrimonial, de forma a impor o regime de bens.
* Para todos verem: esquema

Ficar em silêncio e ser aplicado o


regime de comunhão parcial

Escolher um dos regimes


Podem os cônjuges
previstos em lei

Criarem, através do pacto


antenupcial, o regime que
entenderem, podendo, dessa
forma, mesclar diversos regimes

Existem, contudo, casos em que a liberdade de escolha dos nubentes é relativizada (ou
podada!), ou seja, existem casos em que a lei determina um regime obrigatório – o da separação
de bens – seja por precaução ou para punir os nubentes. Nesses casos, se eles regularem
diferentemente, via pacto antenupcial, seus interesses econômicos, as cláusulas serão nulas,
prevalecendo a determinação legal (art. 1.655, CC).
3. Mutabilidade do regime de bens: o art. 1.639, § 2.º, CC (+ art. 734, CPC/2015) veio
admitir a mutabilidade do regime matrimonial adotado, desde que haja, em jurisdição voluntária,
autorização judicial, atendendo a um pedido motivado de ambos os cônjuges, após a verificação

32
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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da procedência das razões por eles invocadas e da certeza de que tal modificação não causará
qualquer gravame a direitos de terceiros.
4. Imediata vigência do regime de bens: a vigência do regime de bens é imediata a
celebração do ato nupcial.
5. Comunicabilidade: a partir do momento em que é celebrado o casamento, passa a viger
o princípio da comunicabilidade do patrimônio que for amealhado após as núpcias.

3.2 Pacto antenupcial

Quando o regime não for o legal dispositivo (CPB), a escolha do regime de bens é feita
através de um negócio jurídico solene: o pacto antenupcial, realizado mediante escritura pública,
no Tabelionato de Notas (art. 1.653, CC).
CPB8 – regra: sem pacto, contudo, havendo alteração deve haver pacto;
CUB – sempre com pacto;
PFA – sempre com pacto;
SOB – sempre sem pacto – imposição legal;
SCB (SAB) – sempre com pacto. Separação consensual = absoluta.
* Para todos verem: esquema

Não havendo convenção ou sendo ela nula ou ineficaz (pelo estabelecimento de cláusulas que não sejam
possíveis) > Regime de Comunhã Parcial de Bens - art. 1.640 do Código Civil

Regime legal dispositivo: comunhão parcial de bens (não existe separação parcial - apenas comunhão parcial

Regime legal obrigatório: Separaçaõ obrigatória de bens (incide a súmula 377 do STF

Regime de separação convencional/absoluta/total: regime convencional (sempre exige pacto antenupcial)

Regime de comunhão universal de bens: regime convencional (sempre exige pacto antenupcial)

Regime de participação final nos aquestos: regime convencional (sempre exige pacto antenupcial)

Atenção: O art. 1.640 mencinoa que se o casal não usar um regime convencional (CUB - SCB - PFA), o regime
será o de comunhão parcial de bens (regime legal dispositivo)

8CPB – Comunhão parcial de bens; CUB – Comunhão universal de bens; PFA – Participação final nos aquestos;
SOB – Separação obrigatória de bens; SCB – Separação convencional de bens (também conhecido como SAB –
separação absoluta de bens).

33
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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- Pode ser por procuração pública, com poderes especiais;


- Menores de idade = o representante legal deverá assistir no ato de lavratura do pacto
antenupcial, salvo no caso do regime obrigatório de bens (art. 1.654, CC).
- MOMENTO DE ELABORAÇÃO = antes da habilitação, pois tal escritura pública deve ser
anexada na documentação exigida para habilitação do casamento.
- Não pode haver qualquer cláusula que ofenda os bons costumes e a ordem pública. Ex.:
é proibido cláusula no pacto antenupcial que altere a ordem de vocação hereditária ou que ajuste
a comunhão de bens, quando o casamento só podia realizar-se pelo regime da separação total.
Em havendo cláusulas nesse sentido, serão nulas (art. 1.655, CC).
- Após a celebração do casamento o pacto antenupcial deverá ser registrado no Cartório
de Registro de Imóveis, em livro especial, para ter validade contra terceiros (art. 1.657, CC; art.
167, I, n.12 e II, n.1, Lei 6.015/73). Se o nubente for empresário, o pacto deverá ser arquivado e
averbado no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 979, CC).
- Pelo pacto os nubentes podem fundir os regimes de bens, criando seu próprio regime.

3.3 Outorga conjugal – outorga uxória e outorga marital

Autorização conjugal é a manifestação do consentimento entre os cônjuges para que


determinados atos possam ser praticados, sob pena de invalidade (art. 1.647, CC). Ex.: compra
e venda de imóvel.
* Para todos verem: esquema

Autorização
Uxória
da esposa
Outorga
Autorização
Marital
do marido

Essa autorização é exigida quando um dos cônjuges praticar ato que afeta o patrimônio
do casal (alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis, litigar em juízo acerca desses bens,
prestar fiança ou aval, etc).

* Para todos verem: esquema

34
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

No regime de separação
convencional de bens
(art. 1.647 do Código
Civil)
Regra: necessidade de
Exceções
outorga
No regime de
participação final dos
aquestos, quando o casal
convencionar a livre
disposição de bens

Caso o cônjuge não possa dar a autorização (por estar doente ou incapaz) ou não queira,
o suprimento será dado pelo juiz – art. 1.648, CC.
Observar que caso o ato seja praticado sem a autorização, conduzirá à sua invalidação.
Contudo, o enunciado 114, das Jornadas de Direito Civil determina que conduzirá apenas à
inoponibilidade do título, no caso de aval, ao cônjuge que não consentiu.

ATENÇÃO
Enunciado n. 114 da Jornada de Direito Civil: O aval não pode ser anulado por falta de
vênia conjugal, de modo que o inciso III do art. 1647 do Código Civil, apenas caracteriza a
inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu.

3.4 Regime Legal

3.4.1 Regime Legal Dispositivo

Determinado pelo Estado: Comunhão parcial de bens.


Se os nubentes não escolherem o regime de bens ➔ CPB (regime legal dispositivo).

3.4.2 Regime Legal Obrigatório

Em razão de certas circunstâncias os nubentes não podem escolher livremente o regime


de bens: quando ocorrer alguma causa suspensiva, quando o nubente for maior de 70 anos,

35
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

quando o nubente necessitar de suprimento judicial para casar (art. 1.641). Nesses casos o
regime passa a ser obrigatório – separação de bens –, não se aplicando nem o regime legal
dispositivo, nem outro escolhido via pacto antenupcial.
Neste caso, incide a súmula 377 do STF, permitindo a comunicabilidade dos bens
aquestados:

ATENÇÃO
Súmula 377 do STF: No regime de separação legal de bens comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento.

Esta súmula passou por reinterpretação, por parte dos Tribunais Superiores. O STJ tem
posição formada, no sentido de que para existir a comunicabilidade, há que se ter prova do
esforço comum na aquisição:

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça uniformizou o entendimento que


encontrava dissonância no âmbito da Terceira e da Quarta Turma. De início, cumpre
informar que a Súmula 377/STF dispõe que "no regime de separação legal de bens,
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento". Esse enunciado pode ser
interpretado de duas formas: 1) no regime de separação legal de bens, comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento, sendo presumido o esforço comum na aquisição
do acervo; e 2) no regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na
constância do casamento, desde que comprovado o esforço comum para sua aquisição.
No entanto, a adoção da compreensão de que o esforço comum deve ser presumido (por
ser a regra) conduz à ineficácia do regime da separação obrigatória (ou legal) de bens,
pois, para afastar a presunção, deverá o interessado fazer prova negativa, comprovar que
o ex-cônjuge ou ex-companheiro em nada contribuiu para a aquisição onerosa de
determinado bem, conquanto tenha sido a coisa adquirida na constância da união. Torna,
portanto, praticamente impossível a separação dos aquestos. Por sua vez, o
entendimento de que a comunhão dos bens adquiridos pode ocorrer, desde que
comprovado o esforço comum, parece mais consentânea com o sistema legal de
regime de bens do casamento, recentemente adotado no Código Civil de 2002, pois
prestigia a eficácia do regime de separação legal de bens. Caberá ao interessado
comprovar que teve efetiva e relevante (ainda que não financeira) participação no
esforço para aquisição onerosa de determinado bem a ser partilhado com a
dissolução da união (prova positiva). (STJ, EREsp 1623858/MG, Rel. Ministro LÁZARO
GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 23/05/2018, DJe 30/05/2018)

IMPORTANTE
Há possibilidade de modificação do regime legal obrigatório quando a hipótese que lhe
deu causa tiver sido superada. Só não é possível no caso de maiores de 70 anos de idade.

3.5 Regime Convencional

36
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Os nubentes poderão escolher o regime de bens que mais lhe aprouver, dentre os
previstos no Código Civil ou mesclá-los. Art. 1.639, CC.

3.6 Mutabilidade

Possibilidade de alterar o regime de bens escolhido para a celebração do casamento.


Também é permitida nos casos de união estável, bastando um singelo acordo, podendo retroagir
a data do início da união estável.
Vedação de alteração nas hipóteses do art. 1.641, CC, salvo se a causa que deu origem
tiver cessado!

IMPORTANTE
Enunciado n. 262 da III Jornada de Direito Civil: A obrigatoriedade da separação
de bens nas hipóteses previstas no art. 1.641, I e III, do Código Civil, não impede a
alteração do regime, desde que superada a causa que o impôs.

Contudo, esse enunciado não abrange as hipóteses do art. 1.641, II, ou seja, quando os
cônjuges tiverem mais de 70 anos quando da celebração do casamento. Neste caso, não poderá
haver a modificação.

REQUISITOS: deverão estar presentes três requisitos, cumulativamente:


a) Autorização judicial: deve ser feita petição conjunta, por advogado, ao juiz
competente. O pedido só pode prosseguir se ambos os cônjuges forem autores, ou seja, ambos
devem ter a intenção de alterar o regime de bens. A alteração só produz efeitos a partir do trânsito
em julgado da decisão judicial, mas a eficácia perante terceiros depende do registro imobiliário.
A eficácia da mudança pode ser ex nunc ou ex tunc, dependendo da vontade das partes, já que
não existe qualquer óbice legal quanto a isso. Para isso, contudo, deve haver pedido expresso
do casal, pois sem isso o efeito é a partir da sentença.
b) Motivação relevante: a alteração não pode estar baseada apenas no desejo dos
cônjuges. Entre os motivos relevantes está a alteração do regime de comunhão parcial para o
de separação de bens, em razão de os cônjuges passarem a ter vidas econômicas e profissionais

37
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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próprias, sendo conveniente a existência de patrimônios próprios para garantirem obrigações


que necessitam profissionalmente ou para incorporação em capital social de empresa.
c) Ressalva dos direitos de terceiros: terceiros são os que estejam de boa-fé e possam
ser atingidos em seus patrimônios ou créditos com a alteração do regime de bens. A regra é que
a mudança de regime apenas valerá para o futuro, não prejudicando os atos jurídicos perfeitos.
A mudança só alcançará oi passado se o regime adotado beneficiar os terceiros credores, pela
ampliação das garantias patrimoniais.
Não é necessária a lavratura de pacto antenupcial para a mutação do regime de bens.

É exigida ampla publicidade para a autorização da mudança.


Efeitos: entre os cônjuges o efeito é EX TUNC, ou seja, retroage a data das núpcias. Com
relação a terceiros, o efeito é EX NUNC, visto que poderá prejudicar credores.

IMPORTANTE
Enunciado n. 113 da Jornada de Direito Civil: É admissível a alteração do regime de
bens entre os cônjuges, quando então o pedido, devidamente motivado e assinado por ambos
cônjuges, será objeto de autorização judicial, com ressalva de direitos de terceiros, inclusive dos
entes públicos, após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida ampla
publicidade.

Mesmo os casamentos celebrados na vigência do Código de 1916 poderão ter a


modificação do regime. O art. 2.039, CC dispõe que a modificação não será possível, mas o STJ
está autorizando a mudança, em razão da aplicação da lei mais benéfica.

CIVIL - CASAMENTO - REGIME DE BENS - ALTERAÇÃO JUDICIAL – CASAMENTO


CELEBRADO SOB A ÉGIDE DO CC/1916 (LEI Nº 3.071) - POSSIBILIDADE - ART. 2.039
DO CC/2002 (LEI Nº 10.406) - PRECEDENTES - ART. 1.639, § 2º, CC/2002. I.
Precedentes recentes de ambas as Turmas da 2ª Seção desta Corte uniformizaram o
entendimento no sentido da possibilidade de alteração de regime de bens de casamento
celebrado sob a égide do Código Civil de 1916, por força do § 2º do artigo 1.639 do Código
Civil atual. II. Recurso Especial provido, determinando-se o retorno dos autos às instâncias
ordinárias, para que, observada a possibilidade, em tese, de alteração do regime de bens,
sejam examinados, no caso, os requisitos constantes do § 2º do artigo 1.639 do Código
Civil atual. (STJ, 3.ª Turma, REsp 1112123, j. em 24-7-2009, rel. Min. Sidnei Beneti).

IMPORTANTE

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Enunciado n. 260 da Jornada de Direito Civil: A alteração do regime de bens


prevista no §2º do art. 1.639 do Código Civil também é permitida nos casamentos
realizados na vigência de legislação anterior.

3.7 Ação de alteração do regime de bens

Competência: art. 46, CPC: domicílio do casal. OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que
disser no enunciado. Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no enunciado.
Lembre-se que nem todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-
se utilizar “... Vara...”
Autores: ambos os cônjuges. Art. 1.639, § 2.º, CC + 734, CPC
Fundamento legal: Art. 1.639, § 2.º, CC + art. 719 a 725 e 734, CPC – JURISDIÇÃO
VOLUNTÁRIA (não há réu)
Nome da ação: Ação de alteração do regime de bens
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Pedidos: intimação do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do
art. 734, §1º, do CPC; a publicação de editais para conhecimento da pretendida alteração,
também nos termos do § 1º do art. 734; a procedência do pedido com a homologação da
alteração do regime de bens do casamento para o regime de... pelas razões expostas nesta
exordial, atribuindo-se efeito retroativo (ex tunc) excepcionalmente, pela vontade das partes
(conforme enunciado); com a procedência, após o trânsito em julgado da sentença, a expedição
dos mandados de averbação aos cartórios de registro civil e de imóveis. De resto, os pedidos
tradicionais das iniciais.
Valor da causa: havendo questões patrimoniais (no caso de haver partilha), é o valor
desses bens. Em não havendo, como é de natureza pessoal, sugere-se usar: “Nos termos do
art. 291 do Código de Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

3.8 Administração dos bens no casamento

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Independentemente do regime de bens escolhido para vigorar no casamento, existem atos


que os cônjuges podem praticar sem depender da autorização do outro. Nesse sentido, o art.
1.642 é claro:

Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem
livremente:
I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho
de sua profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647;
II - administrar os bens próprios;
III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o
seu consentimento ou sem suprimento judicial;
IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval,
realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647;
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro
cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço
comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos;
VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.

O art. 1.643, CC traz as permissões para que os cônjuges possam atuar de forma
individual. Tratam-se de situações necessárias à manutenção da vida doméstica, onde não
haveria a necessidade de autorização expressa do outro para que tais despesas fossem
assumidas.

Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:


I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.

Com relação às dívidas, contudo, a responsabilidade patrimonial é solidária – art. 1.644,


CC:

Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam


solidariamente ambos os cônjuges.

O art. 1.647, CC traz os atos que nenhum dos cônjuges pode praticar sem autorização do
outro, exceto no regime de separação absoluta:

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar
futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou
estabelecerem economia separada.

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3.9 Regime da Comunhão Parcial de Bens

O regime da comunhão parcial de bens é o que advém da falta, ineficácia ou nulidade


de pacto antenupcial ou por convenção dos nubentes, que optam pelo regime da comunhão
de aquestos.
Basicamente: afasta da comunhão os bens que os consortes possuíam ao casar ou que
venham a adquirir por causa anterior e alheia ao casamento; e inclui na comunhão os bens
adquiridos posteriormente a união. Dividem-se os bens adquiridos na constância da união.
Ainda que o regime seja o da comunhão parcial de bens, que dispensa o pacto
antenupcial, é possível que se estabeleça, por pacto, cláusulas sobre a administração dos bens
particulares (art. 1.665).

Art. 1.665. A administração e a disposição dos bens constitutivos do patrimônio particular


competem ao cônjuge proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial.

3.9.1 Bens que não se comunicam

O art. 1.661 prevê que são incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título causa
anterior ao casamento. Dessa forma, não faz parte do patrimônio o bem reivindicado pelo marido
solteiro, sendo que a ação julgada procedente quando já casado, nem o dinheiro recebido após
o casamento pela venda anterior de um bem.
Também são INCOMUNICÁVEIS, conforme o art. 1.659, CC:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na
constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
Aqueles bens que o consorte leva consigo para o casamento, que lhe pertencem antes da
realização do ato nupcial não se comunicam no regime da comunhão parcial de bens.
No caso de doações ou testamento, caso o doador/testador pretendesse que o bem fosse
de propriedade do casal, faria a doação em favor de ambos e não de apenas um deles. Dessa
maneira, a doação ou o testamento em benefício de um dos cônjuges, só a este aproveita, não
se comunicando ao outro cônjuge.
Da mesma maneira ocorre com os bens que forem adquiridos no lugar dos recebidos em
doação, testamento ou daqueles que já eram de propriedade de um dos cônjuges antes do

41
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casamento. Isto se denomina sub-rogação, ou seja, os bens que forem colocados no lugar dos
já existentes.
EXEMPLO: Carlos possuía um carro, no valor de R$ 20.000,00 antes de casar. Casa-se
com Joana. Após o casamento, Carlos vende o carro por R$20.000,00 e compra outro de mesmo
valor. Joana não terá direito sobre o carro, pois se trata de sub-rogação. Contudo, se Carlos
comprar um carro no valor de R$ 50.000,00 Joana terá direito a receber a diferença, ou seja, R$
30.000,00.
Também não se comunica a herança que um dos cônjuges vier a receber, mesmo que
depois da celebração do casamento, nem os produtos que dela resultarem (no caso de herança
em dinheiro).
Contudo, os frutos dos bens particulares percebidos na constância da união se
comunicam (art. 1.660, V, CC). Nesse caso, o bem em si não se comunica, mas os aluguéis
recebidos ou os juros, sim.
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges
em sub-rogação dos bens particulares;
Se os bens possuídos por ocasião do ato nupcial não se comunicam, é óbvio que também
não devem comunicar-se os adquiridos com o produto da venda dos primeiros. É uma sub-
rogação real.
Pode ser sub-rogação de dinheiro, quando, por exemplo, um dos consortes possuía
poupança anterior ao matrimônio e, depois da realização deste, adquire um imóvel. O imóvel não
se comunica, pois proveniente de valor pertencente exclusivamente a um dos consortes.
Conforme já afirmado, se o bem sub-rogado é mais valioso, a diferença do valor, se não
tiver sido coberta com recursos próprios e particulares do cônjuge, integrará o acervo comum.
Ex.: carro de R$ 30.000 → carro de R$ 50.000 = a diferença (R$20.000,00) integrará o patrimônio
comum.
III - as obrigações anteriores ao casamento;
A responsabilidade é pessoal de quem contraiu a obrigação. Dessa maneira, o cônjuge
que arcou com responsabilidade anterior ao casamento, ainda que venha a se perfectibilizar
após a celebração deste, deverá arcar exclusivamente com seus bens particulares.
Ex.: dívida de cheque especial contraída antes do matrimônio. Só pertence àquele que
contraiu a dívida. Seu patrimônio exclusivo é que arcará.
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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O cônjuge faltoso é responsável pelos atos ilícitos que praticar (com seu patrimônio
particular), salvo se ambos os cônjuges vierem a tirar proveito de tal ato, quando então o
patrimônio comum do casal responderá pelos prejuízos causados com o ilícito.
EXEMPLO: o marido pratica uma fraude tributária, sonegando a receita, para comprar
uma casa na praia para que a família desfrute. Neste caso, haverá a comunicação da dívida.

Súmula 251 do STJ:


A menção só responde pelo ato ilícito quando o credor, na execução fiscal, provar que o
enriquecimento dele resultante aproveitou ao casal.

V - os bens de uso pessoal, os livros e in strumentos de profissão;


Em razão do cunho nitidamente pessoal, não há comunicação desses bens. Assim, estão
excluídos os bens pessoais: roupas, sapatos, etc.
Também se excluem da comunhão os livros utilizados para o exercício da profissão: livros
profissionais do advogado, por exemplo; os instrumentos profissionais: violino de um concertista.
Isto porque desses instrumentos dependem a sobrevivência do consorte. O entendimento dos
Tribunais é no sentido de ser possível, contudo, que, demonstrado o esforço comum, o valor do
instrumento profissional seja partilhado.
Questão complicada é a das joias. Algumas possuem valor altíssimo. Sendo assim, a
doutrina se divide. Dias9 afirma que há que se reparar na forma de aquisição de tais bens. Se
forem recebidos por presente de um cônjuge ao outro, serão incomunicáveis, pois configura-se
doação. No entanto, se comprados no intuito de investir algum dinheiro (situação bastante difícil
de ocorrer), deverão ser partilhados.
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
Significa dizer que cada cônjuge tem direito aos proventos relativos ao seu salário.
Em regra, os bens adquiridos com o valor recebido do trabalho pessoal de um dos
cônjuges não se comunicam, bem como o próprio provento.
Contudo, existe posicionamento entendendo que no caso de o valor do provento ser
utilizado para adquirir imóvel poderá ser partilhado, pois ambos os cônjuges, no direito de família
atual, contribuem com seus proventos para o sustento da família, de maneira que deve o bem
proveniente ser partilhado.

9 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 317.

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Se os ganhos do trabalho pessoal não se comunicam, praticamente tudo será


incomunicável, pois na grande maioria das vezes, as pessoas sobrevivem e constituem
patrimônio como fruto do trabalho pessoal e das economias. Assim, não é justo que um dos
cônjuges, com os frutos de seu trabalho pessoal, pague as despesas do casal e, o outro, guarde
os frutos fazendo uma economia (poupança). Nesse caso, se formos pela letra fria da lei, não
haveria partilha desse patrimônio (poupança).
Mas o STJ já entendeu pela partilha dos bens:

Direito civil e processual civil. Família e Sucessões. Inventário.


Bens frutos do trabalho do cônjuge inventariado integram a meação da viúva
inventariante.
- No regime de comunhão universal de bens, os honorários advocatícios, provenientes do
trabalho do cônjuge inventariado, percebidos no decorrer do casamento, ingressam no
patrimônio comum do casal, porquanto lhes guarneceram do necessário para seu
sustento, devendo, portanto, integrar a meação da viúva inventariante.
- Muito embora as relações intrafamiliares tenham adquirido matizes diversos, com as
mais inusitadas roupagens, há de se ressaltar a peculiaridade que se reproduz
infindavelmente nos lares mais tradicionais não só brasileiros, como no mundo todo, em
que o marido exerce profissão, dela auferindo renda, e a mulher, mesmo que outrora
inserida no mercado de trabalho, abandonou a profissão que exercia antes do casamento,
por opção ou até mesmo por imposição das circunstâncias, para se dedicar de corpo e
alma à criação dos filhos do casal e à administração do lar, sem o que o falecido não teria
a tranqüilidade e serenidade necessárias para ascender profissionalmente e,
conseqüentemente, acrescer o patrimônio, fruto, portanto, do trabalho e empenho de
ambos.
Recurso especial conhecido e provido. (REsp 895344/RS, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJe 13/05/2008)
Direito civil e família. Recurso especial. Ação de divórcio. Partilha dos direitos trabalhistas.
Regime de comunhão parcial de bens. Possibilidade. - Ao cônjuge casado pelo regime de
comunhão parcial de bens é devida à meação das verbas trabalhistas pleiteadas
judicialmente durante a constância do casamento. - As verbas indenizatórias decorrentes
da rescisão de contrato de trabalho só devem ser excluídas da comunhão quando o direito
trabalhista tenha nascido ou tenha sido pleiteado após a separação do casal. Recurso
especial conhecido e provido. (REsp 646.529/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 20.06.2005)

Isto quer dizer que o salário (provento) não é partilhado, mas o bem adquirido com este
poderá (e deverá) o ser. Isto porque nada justifica que um cônjuge tenha ingerência sobre o
salário do outro. Além disso, se o salário for depositado em uma poupança, previdência privada,
enfim, algum tipo de investimento, os rendimentos advindos daí serão comunicáveis.
O STJ entende que também se incluem na partilha os bens adquiridos, em sua maior
parte, com o produto do levantamento do FGTS de um dos cônjuges.
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
Pensões: valor pago periodicamente e em virtude de lei, decisão judicial ou ato jurídico
para assegurar a sobrevivência de alguém.

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Meio-soldo: é a metade do soldo pago pelo Estado ao militar reformado.


Montepios: pensão devida a herdeiro de funcionário falecido.
Tenças: pensão alimentícia devida pelo Estado ou por outra pessoa de direito privado,
para subsistência do beneficiário.
Deve-se destacar que, neste caso, não se comunica o direito ao recebimento desses
benefícios. O valor recebido deve ser partilhado.

Art. 1.661 - Também são incomunicáveis os bens adquiridos por causa anterior ao
casamento.

EXEMPLO: se a moça solteira vender um imóvel antes do casamento e só após vier a


receber o valor devido, o dinheiro apurado com a venda não se comunica, pois existente em
razão de causa anterior ao casamento.
Mostra-se sem razão a incomunicabilidade dos proventos do trabalho pessoal de cada
cônjuge, já que a maior parte das famílias sobrevive da contraprestação pecuniária de quem
trabalha. Assim, se alguém transforma suas economias em patrimônio, torna-se incomunicável
e isto é injusto com aquele que também trabalha e transforma suas economias em alimentos,
vestuário para a família, etc.,

3.9.2 Bens que se comunicam

São COMUNICÁVEIS, conforme o art. 1.660, CC:


I - Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só
em nome de um dos cônjuges;
Quanto a bens imóveis, bastará verificar o Registro Imobiliário para verificar se a aquisição
se deu antes ou após o casamento.
Se se tratar de bem móvel, há presunção de que são de propriedade comum, adquiridos
na constância da união, salvo se for possível provar por documento autêntico (fatura, nota fiscal)
ou outro meio admitido em direito, que foram adquiridos em data anterior ao ato nupcial. Art.
1.662.
II - Os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou
despesa anterior;
EXEMPLO: jogo, aposta, loteria, bingo. Os bens advindos do valor recebido nessas
loterias.

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III - Os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os


cônjuges;
Herança ou testamento só se comunicam se forem em favor de ambos os cônjuges.
IV - As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
Tudo que for acrescido aos bens particulares dos cônjuges entra na divisão do patrimônio
comum, desde que haja a presunção de que foram feitas com o produto do esforço comum, para
evitar o enriquecimento indevido.
V - Os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na
constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.
Isto porque são ganhos posteriores ao casamento e esse regime visa a composição de
um patrimônio comum após a união.
EXEMPLO: se um dos cônjuges for acionista de uma sociedade anônima na qual hajam
ganhos periódicos em razão dos lucros. O valor percebido integra o patrimônio comum.
EXEMPLO: os aluguéis, ainda que de imóvel particular de um dos cônjuges também
passa a integrar o patrimônio comum.
Os rendimentos resultantes da exploração dos direitos patrimoniais do autor.
Os direitos patrimoniais do autor não se comunicam, mas os rendimentos resultantes da
exploração desses direitos, sim.
Nesse sentido, ver a Lei 9.610/98:

Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária,
artística ou científica.
[...]
Art. 39. Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua
exploração, não se comunicam, salvo pacto antenupcial em contrário.

3.9.3 Administração dos bens

A administração do patrimônio comum cabe a qualquer dos cônjuges. Art. 1.663.


Contudo, será necessária a anuência de ambos para prática de atos que impliquem, a
título gratuito, em cessão do uso ou gozo desses bens (art. 1.663, § 2.º). Também é necessária
a anuência para alienar ou gravar os bens imóveis (art. 1.647, I).
Se ficar comprovada a má administração dos bens comuns, o magistrado poderá atribuir
a administração a apenas um dos cônjuges (art. 1.663, § 3.º), ou seja, o que solicitou ao juiz, em

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razão de ter sido prejudicado. Com o deferimento desse pedido, os atos praticados pelo outro
cônjuge serão nulos.
A administração dos bens particulares competirá ao cônjuge proprietário, exceto se houver
convenção contrária estabelecida no pacto antenupcial (art. 1.665), mas para alienar imóvel,
dependerá da anuência do outro (art. 1.647, I). O cônjuge que administra o patrimônio particular
do outro age como seu representante, apenas.

3.9.4 Dívidas

Cada consorte responde pelos próprios débitos anteriores ao casamento, pois se


constituem patrimônios separados.
Se o débito for subsequente ao casamento, contraídas no exercício da administração do
patrimônio comum, obrigam aos bens comuns e aos particulares do cônjuge que o administra e
aos do outro na proporção do proveito que houver auferido (art. 1.663, § 1.º).
O débito contraído por qualquer dos consortes na administração dos bens particulares e
em benefício destes não obrigam os bens comuns (art. 1.666).
Quando a dívida for para atender aos encargos da família (contas de água, luz,
alimentação), despesas de administração dos bens comuns (reparos) e decorrentes de
imposição legal (impostos) os bens comuns irão responder, para resguardar direitos dos
credores (art. 1.664).

3.9.5 Dissolução

Dissolve-se pela morte de um dos cônjuges, separação, divórcio, nulidade ou anulação


de casamento. No caso de morte, o patrimônio particular do falecido transmite-se aos filhos, sem
que haja meação. Quanto ao patrimônio comum, deverá ser partilhado entre o viúvo/viúva meeira
e os herdeiros.

3.10 Regime da Comunhão Universal de Bens

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Importa na comunhão de todos os bens dos cônjuges, presentes e futuros, bem como de
suas dívidas. Cada cônjuge passa a ter direito a metade ideal do patrimônio comum, de maneira
que não poderão constituir sociedade entre si (art. 977).
Antes da dissolução e partilha não há meação, mas a metade ideal de bens e dívidas (art.
1.667). Não há propriedade sobre metade de cada bem, pois há uma indivisão. O que há é a
propriedade sobre a metade ideal do patrimônio comum, ou seja, não se sabe quem é
proprietário do que, pois ambos o são de todo o patrimônio.
Assim, tudo o que entra para o acervo subordina-se a comunhão, de modo que se torna
comum tudo o que cada consorte adquire, no momento da aquisição. Os cônjuges são meeiros
em todos os bens do casal, mesmo que não tenha trazido nada ou nada adquirido na constância
do casamento.

3.10.1 Bens excluídos da comunhão universal

Mesmo que o regime da comunhão universal implique na comunhão de todos os bens


presentes e futuros, existem alguns que, em razão de sua natureza ficam EXCLUÍDOS da
comunhão (art. 1.668):
I - Os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-
rogados em seu lugar;
Para que esta exclusão ocorra deve haver o gravame da cláusula de incomunicabilidade.
EXEMPLO: se um imóvel doado com cláusula de incomunicabilidade for desapropriado,
a indenização é paga ao donatário, sem que se comunique ao seu cônjuge.
II - Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes
de realizada a condição suspensiva;
O fideicomisso é um ato de disposição de vontade expressa em testamento, pelo qual
uma pessoa pode deixar um bem imóvel para o sucessor do seu herdeiro. O herdeiro ou legatário
que recebe em primeiro grau o imóvel denomina-se fiduciário, ficando ele com o encargo de
transmitir a propriedade para aquele que será o proprietário final do bem, designado
fideicomissário. O Código Civil de 2002, no seu art. 1.951, assim define o fideicomisso: “Pode o
testador instituir herdeiros ou legatários, estabelecendo que, por ocasião de sua morte, a herança
ou o legado se transmita ao fiduciário, resolvendo-se o direito deste, por sua morte, a certo tempo
ou sob certa condição, em favor de outrem, que se qualifica de fideicomissário”.

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EXEMPLO: José deixa em testamento, gravado com fideicomisso, um bem x para Carlos,
seu filho, durante 10 anos. Este será o fiduciário. José estabelece no testamento que passados
os 10 anos, o bem passará para o patrimônio de Marcus, filho de Carlos. Este será o
fideicomissário.
* Para todos verem: quadro
Fideicomitente Fiduciário Fideicomissário
➔ 1.º herdeiro ➔ 2.º herdeiro
Testador
Incomunicabilidade Comunica-se

Neste caso, o bem não se comunica com o cônjuge do fiduciário. Os bens só passam a
se comunicar a partir do momento em que se implementar a condição (apenas com o cônjuge
do fideicomissário, se for o caso).
É lógico que essa propriedade deve ser incomunicável, para que o fiduciário possa, a certo
tempo ou em certa condição, transmitir o bem ao fideicomissário. Assim, a propriedade só
ingressa no patrimônio comum se ocorrer a condição antes do falecimento do fideicomissário,
pois se isto ocorrer antes, caduca o fideicomisso, consolidando-se a propriedade nas mãos do
fiduciário (art. 1.958).

III - As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus


aprestos, ou reverterem em proveito comum;
As dívidas anteriores ao matrimônio não se comunicam e o devedor responde por elas
com seu patrimônio particular ou com o que tiver trazido para a comunhão, ou seja, os bens do
outro cônjuge não respondem por dívidas anteriores a união.
Só se houver a dissolução do casamento é que o patrimônio comum (sua meação),
responderá pelos débitos contraídos antes das núpcias.
Se as dívidas forem oriundas dos aprestos com o casamento (enxoval, imóvel, etc.) ou se
reverterem em proveito do casal, haverá a comunicabilidade.
É diferente do que ocorre na comunhão parcial (art. 1.659, III), quando nenhuma dívida
pretérita se comunica, nem as pessoais, nem as feitas em proveito do casamento.
IV - As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula
de incomunicabilidade;
A fim de proteger o donatário, ainda que o doador seja o seu consorte.
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
Bens de uso pessoal: pela própria natureza pessoal.

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Proventos do trabalho: porque um cônjuge não tem direito ao salário do outro, a não ser
que o valor passe a pertencer ao casal. Ex.: conta conjunta, quando todos os valores são
depositados lá e de lá sai o sustento da família e são adquiridos os bens do casal.
Pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas: também pela natureza personalíssima.
Os bens de herança necessária a que se impuser a cláusula de incomunicabilidade.
A legítima de um consorte não se comunica ao outro pela redação do art. 1.848 – caso de
haver causa legítima.
Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua
exploração, salvo pacto antenupcial em contrário (art. 39, Lei 9.610/98)

Art. 39. Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua


exploração, não se comunicam, salvo pacto antenupcial em contrário.

EXEMPLO: se um dos nubentes antes de casar tinha direito a uma pensão, esse direito
não se comunica pelo casamento. Mas o dinheiro que receber após as núpcias se comunica a
partir do vencimento da prestação.
Contudo, estas incomunicabilidades não se estendem aos frutos percebidos ou vencidos
durante a constância do casamento.

Art. 1.669. A incomunicabilidade dos bens enumerados no artigo antecedente não se


estende aos frutos, quando se percebam ou vençam durante o casamento.

3.10.2 Administração dos bens

A administração do patrimônio, na constância da sociedade conjugal, é comum. Essa


administração segue as regras dos arts. 1.663, 1.665, 1.666 (art. 1.670).
Para ceder gratuitamente o uso e gozo dos bens, bem como para aliená-los ou gravá-los,
dependerá de anuência de ambos os cônjuges.
A administração dos bens excluídos da comunhão caberá ao proprietário, salvo
estipulação em contrário.
Havendo morte de um dos cônjuges, o outro administrará os bens até que seja efetivada
a partilha entre eles e os herdeiros do falecido.

3.10.3 Dívidas

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Pelas dívidas contraídas na gestão da administração dos bens, respondem os bens


comuns e os particulares do cônjuge administrador. Os bens particulares do outro cônjuge só
responderão se provado que ele obteve algum proveito.
Quanto aos débitos oriundos da administração do patrimônio particular não serão
responsáveis os bens comuns.

3.10.4 Extinção

A extinção do regime se dá com a dissolução da sociedade conjugal pela morte de um


dos cônjuges, sentença de nulidade ou anulação ou pela separação ou divórcio ou, ainda, com
a separação de fato.
Com a ocorrência de um desses fatos, deverá ser operada a partilha para que seja posta
fim à indivisão.
Se houver separação de fato, os bens ou dívidas adquiridas posteriormente, ainda que
não tenha se operado a partilha, não serão partilhados, pois a separação de fato põe fim ao
regime de bens.
Com a morte, caso o cônjuge supérstite tiver realizado aumento no patrimônio, esse fica
excluído da partilha. Partilha-se 50% para o cônjuge sobrevivente e 50% entre os herdeiros. Se
houverem bens incomunicáveis estes só serão partilhados entre os herdeiros.
No caso de nulidade, não se tem comunhão de bens, pois o casamento não existiu, de
maneira que cada cônjuge retira o que trouxe para o casamento. Se houve, nesse período,
aquisição de bens em conjunto, esse será partilhado na proporção da colaboração financeira.
Caso de casamento anulável, se tiver sido considerado putativo, haverá a partilha dos
bens. Se um dos cônjuges for culpado, perderá as vantagens que obteve e não terá direito a
meação quanto ao patrimônio que o outro trouxe para o casamento. Contudo, o inocente terá
direito de exigir sua meação sobre tudo.
Extinta a comunhão e efetuada a divisão do ativo e passivo, cessará a responsabilidade
de cada um dos cônjuges para com os credores do outro por dívidas que este houver contraído
(art. 1.671).

3.11 Regime da Participação Final nos Aquestos

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O regime da participação final nos aquestos foi introduzido pelo Código de 2002 no
sistema brasileiro, que não mais contempla o regime dotal (que há muito já não era utilizado).
Esse regime tem maior aplicabilidade quando os cônjuges exercem atividades
empresariais distintas, para que possam manusear com maior liberdade seus pertences.
Ainda assim, é pouco procurado.
Por este regime, cada cônjuge conserva como de seu domínio os haveres que trouxe para
o casamento, e os conseguidos ao longo de sua duração, administrando-os e aproveitando os
seus frutos. Mas, na época da dissolução do vínculo conjugal procede-se a divisão do acervo
adquirido a título oneroso. Para Tartuce10 a divisão dos bens, ao final, é feita somente dos bens
adquiridos, de forma onerosa, e nos quais tenha havido a participação. Não se trata de uma
meação, mas de uma participação no patrimônio.
“Basicamente, durante o casamento há uma separação total de bens, e no caso de
dissolução do casamento e da sociedade conjugal, algo próximo de uma comunhão parcial. Cada
cônjuge terá direito a uma participação daqueles bens para os quais colaborou para a aquisição,
devendo provar o esforço para tanto”11.
Nesse regime, formam-se massas de bens particulares incomunicáveis durante o
casamento, mas que se tornam comuns no momento da dissolução do matrimônio.
Cada cônjuge tem a expectativa da meação, sendo credor da metade do que o outro
adquiriu a título oneroso durante o matrimônio, se houver dissolução da sociedade conjugal (art.
1.672).
Existem dois patrimônios: o inicial, que é o conjunto de bens que cada cônjuge adquire
durante a vigência matrimonial e o patrimônio final, que é o patrimônio verificável no momento
da dissolução do casamento.
Dias12 afirma existirem cinco universalidades de patrimônios: 1. Os bens particulares que
cada um possuía antes de casar; 2. Os bens que o outro já possuía; 3. O patrimônio adquirido
por um dos cônjuges, em nome próprio, após o matrimônio; 4. Os adquiridos pelo outro, em seu
nome, após o casamento; 5. Os bens comuns, adquiridos pelo casal.
Trata-se de um regime misto: durante o casamento assemelha-se a separação de bens
e, na dissolução, assemelha-se à comunhão parcial.

10 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 180.
11 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 181.
12 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 304.

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Contudo, a participação ocorrerá sobre o patrimônio adquirido, de forma onerosa, pelo


outro, mas através de um crédito e não pela constituição de condomínio sobre o patrimônio.
Significa dizer que o direito não é sobre o patrimônio, mas sim sobre eventual saldo após as
compensações dos acréscimos de cada um13.

3.11.1 Administração dos bens

A administração do patrimônio inicial é exclusiva de cada cônjuge, que administrará os


bens que possuía ao casar, os adquiridos por doação e herança e os obtidos onerosamente,
durante a constância do casamento.
Em princípio nenhum dos cônjuges pode alienar ou gravar os bens sem a anuência do
outro (art. 1.647, I). Contudo, pode ser estabelecido no pacto antenupcial a livre disposição dos
bens imóveis, quando não será necessária qualquer anuência do outro cônjuge para alienar ou
gravar (art. 1.656).

3.11.2 Dívidas

Pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges antes do matrimônio, responde seu
patrimônio particular. Quanto aos débitos posteriores ao casamento, contraídos por um dos
cônjuges, em princípio, o patrimônio particular deste é que responderá, salvo de comprovado o
proveito comum, quando o patrimônio do outro consorte responderá na proporção do seu
proveito (art. 1.677).
No caso de um dos cônjuges pagar dívida do outro, com bens de seu patrimônio, o valor
deverá ser atualizado e imputado na meação do devedor, na data da dissolução (art. 1.678).
Quando as dívidas de um dos cônjuges forem superiores a sua meação, não obrigam o
outro, ou a seus herdeiros (art. 1.686). Assim, se falecer o cônjuge devedor, seus credores só
terão direito a sua meação e, se não for suficiente para saldar a dívida, não poderão cobrar do
outro cônjuge ou dos herdeiros, pois estes só têm responsabilidade no exato teor do que lhes
couber na herança.

13 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 322.

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No caso de direito de terceiros, presume-se como sendo do cônjuge devedor os bens


móveis (art. 1680).

3.11.3 Dissolução

Com a dissolução da sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, invalidade,


separação ou divórcio apura-se o montante dos aquestos, excluindo-se da soma o patrimônio
próprio dos cônjuges: bens anteriores ao casamento, os sub-rogados em seu lugar e os obtidos
pelos cônjuges por herança, legado ou doação, bem como os débitos relativos a esses bens (art.
1.674). Incluem-se na partilha os frutos dos bens particulares. Os bens móveis, salvo prova em
contrário, presumem-se adquiridos na constância do casamento (art. 1.674, parágrafo único).
Por ocasião da partilha, para a apuração do montante dos aquestos, ficam excluídos:

Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos


aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios próprios:
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento
os bens móveis.

No caso de bens adquiridos com o esforço comum dos cônjuges, ambos terão direito a
quota igual no condomínio (50% para cada cônjuge) (art. 1.679).
EXEMPLO: se uma casa foi construída em conjunto (esforço comum), sobre o terreno de
um deles, o cônjuge que contribuiu para a construção da casa terá direito apenas a indenização,
pois o imóvel pertencerá ao dono do solo, pois se operou a acessão artificial.
Se houver doação feita por um cônjuge sem a autorização do outro, este poderá ser, ao
final do matrimônio, indenizado em sua meação (art. 1.675). Pode haver a reivindicação desse
bem. Contudo, também se pode optar por fazer integrar o monte partilhável o valor equivalente
ao bem (art. 1.676).
No caso de separação ou divórcio o montante a ser apurado com os aquestos será o da
data que cessou a convivência (art. 1.683). Neste caso, utiliza-se da contabilidade para realizar
a divisão, pois se levanta o acréscimo patrimonial de cada cônjuge no período da vigência do
casamento. Faz-se o balanço e aquele que tiver enriquecido menos terá direito à metade do
saldo encontrado.
EXEMPLO:

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* Para todos verem: quadro comparativo

ITEM MARIDO MULHER

PATRIMÔNIO FINAL 1.000.000,00 500.000,00

BENS EXCLUÍDOS 500.000,00 300.000,00

GANHO OU AQUESTOS
500.000,00 200.000,00
ENRIQUECIMENTO

Cálculo → 500.000,00 (enriquecimento do marido) – 200.000,00 (enriquecimento da mulher)


= 300.000,00.

R$ 300.000,00 é o valor que o marido enriqueceu a mais que a mulher. Este valor deverá ser
partilhado (50% para cada um).

Assim, a mulher terá um crédito de R$ 150.000,00, que o marido deverá pagar.

Assim, os bens adquiridos durante a separação de fato ou na pendência da separação


judicial ou do divórcio não entrarão na partilha. Contudo, se houver reconciliação antes do fim da
ação, haverá a comunicação desses bens.
Como já dito, é um regime misto, pois durante a vigência é separação de bens e, na
dissolução, comunhão parcial, devendo haver partilha dos bens amealhados a título oneroso ou
por esforço comum, desde que durante a união.
O direito a meação é irrenunciável, incessível ou impenhorável na vigência do regime
patrimonial (art. 1.682). No entanto, é possível a penhora da meação do devedor sobre
determinado bem comum. Se a penhora ocorrer sobre a totalidade do bem, o outro consorte
poderá resguardar sua meação via embargos de terceiro.
Pode ocorrer de que não seja possível a divisão dos bens em natureza. Neste caso, será
calculado o valor da meação, para que este receba sua parte (art. 1.684).
EXEMPLO: um carro – não é possível sua divisão. Dessa forma, haverá a avaliação do
bem para que o cônjuge não proprietário receba sua meação em dinheiro.
No caso de não poder ser feita a reposição do direito a meação em dinheiro, em razão de
poucos recursos do cônjuge proprietário, será feita avaliação e alienação judicial de tantos bens
quantos bastem para o ressarcimento da meação (art. 1684, parágrafo único).

3.12 Regime de Separação de Bens

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O regime da separação de bens é aquele em que cada consorte conserva, com


exclusividade, o domínio, a posse e administração de seus bens presentes e futuros e a
responsabilidade pelos débitos anteriores e posteriores ao matrimônio.
Existem dois patrimônios bem separados: o do marido e o da mulher.
Não há qualquer comunicação de bens. Tanto os adquiridos antes do matrimônio, quanto
aqueles que venham a possuir depois do casamento, em nenhum deles há comunicação.
Cada um conserva o domínio, a posse e a administração de seus bens, assim como a
responsabilidade por dívidas anteriores ou posteriores ao casamento.
Qualquer dos cônjuges pode alienar ou gravar seus bens sem anuência do outro cônjuge
(caso seja separação convencional). Poderá, também, qualquer dos cônjuges, prestar fiança,
aval, pleitear direitos acerca de bens ou direitos imobiliários, sem autorização do outro (art.
1.647).
O art. 1.647, CC deve ser interpretado no sentido de que quando trata da “separação
absoluta”, refere-se a separação convencional e não na separação obrigatória. Isto porque na
separação convencional os cônjuges podem, no pacto antenupcial dispor aquilo que
pretenderem e, no caso da separação obrigatória, não.
* Para todos verem: esquema

Separação Separação
absoluta obrigatória
• É a separação • Não é absoluta,
convencional, com incidência da súmula
pacto antenupcial 377 do STF.
No pacto antenupcial tudo pode ser disposto, desde que não seja contrário a lei.
Ativo e passivo são separados, de maneira que nenhuma dívida se comunica, seja ela
anterior ou posterior ao matrimônio.
Quanto às despesas da família, ambos os cônjuges possuem obrigação com elas, na
proporção de seus bens ou de seus rendimentos, salvo se houver alguma estipulação em
contrário no pacto antenupcial. Ex.: estabelecer que só ao marido compete o sustento da família.
O regime da separação de bens tanto pode provir de imposição legal (art. 1.641), quanto
de convenção (art. 1.687).

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - Das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da
celebração do casamento;

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As causas suspensivas são as previstas no art. 1.523. Deve-se observar que em qualquer
das causas, se comprovado que não há prejuízos, poderá ser requerido ao juiz que não
imponha a separação de bens.
II - Da pessoa maior de setenta anos;

Contudo, nessa hipótese, se houver existido união estável há mais de dez anos
consecutivos ou tiver resultado filhos, não seria aplicada a regra, podendo os nubentes escolher
livremente o regime de bens. É nesse sentido o Enunciado 261 do Conselho da Justiça Federal,
na III Jornada de Direito Civil:

ATENÇÃO
Enunciado n. 261 da Jornada de Direito Civil: A obrigatoriedade do regime de
separação de bens não se aplica a pessoa maior de sessenta anos quando o casamento
for precedido de união estável iniciada antes dessa idade.

A imposição do regime de bens é unicamente para evitar casamentos por interesse


econômico.
Deve-se destacar que para todos os outros casos de imposição do regime da separação
obrigatória, a lei permite que seja requerida ao juiz a exclusão dessa pena (art. 1.523, § único).
Mas essa chance não é concedida aos noivos maiores de 70 anos. Assim, como na união estável
não vigora essa “pena”, se pretenderem outro regime de bens, que o façam através de união
estável.
Aliás, demonstra Maria Berenice Dias14 que tal imposição é descabida, pois no caso dos
noivos menores de 18 anos, quando os pais não consentem com o casamento, há o suprimento
judicial. Em havendo, há a imposição do regime da separação obrigatória de bens. Contudo, o
juiz pode, a requerimento das partes, não aplicar essa penalidade. Então, se o juiz não aplica
aos menores de 18 anos, quando os pais não concordam com o casamento, porque não liberar
os maiores de 70 anos? Qual é a justificativa para essa limitação? Na verdade, não há
explicação: é assim porque é!

III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial;

Fora esses casos, os nubentes que quiserem instituir o regime da separação de bens
como convenção, terão de realizar pacto antenupcial (art. 1.639). Nesse sentido, poderá ser
estabelecido que alguns bens se comunicarão, por exemplo, ou que a mulher fica isenta das

14 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 7.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 243.

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responsabilidades do lar (art. 1.688). Nestes casos, quando o regime é o da separação


convencional, a súmula 377 do STF não surte efeitos. Contudo, basta a comprovação do esforço
comum na aquisição do patrimônio para que tenha de ocorrer a divisão.
A separação de bens pode ser pura ou absoluta, que é quando estabelece a
incomunicabilidade de todos os bens; ou limitada ou relativa, que é quando podem ser
estabelecidas certas comunicabilidades, relativas a determinados bens.
Não se pode esquecer, contudo, a súmula 377 do STF, que determina que os bens
adquiridos na constância do casamento se comunicam, podendo ser partilhados. Desde que
esses bens sejam adquiridos a título oneroso e com esforço comum dos cônjuges.

3.12.1 Dívidas

Pelas dívidas contraídas antes ou depois do casamento não responde o patrimônio do


outro cônjuge, só o patrimônio daquele que é devedor. Contudo, as dívidas que forem contraídas,
ainda que sem a autorização do outro cônjuge, em proveito de ambos, ou seja, para o bem da
família, se comunicarão ao outro cônjuge.

3.12.2 Administração

Cada consorte terá a administração e fruição do que lhe pertence, sem necessidade de
anuência um do outro para alienar ou gravar seus bens (art. 1.687).

3.12.3 Dissolução

Na dissolução cada um dos consortes retira seu patrimônio próprio. No caso de óbito de
um dos consortes, o outro entrega aos herdeiros o patrimônio do falecido, e, se houver bens
comuns, o administrará até a partilha.

3.13 Partilha de Bens15

15 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 335-358.

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A partilha de bens decorre do modelo de regime escolhido. Contudo, algumas questões


especiais têm aparecido nas decisões.
Animais: O casal que tiver animais de estimação pode estabelecer não só a
guarda/custódia do bichinho, como também o direito de convivência e o pagamento de alimentos.
Mancomunhão: Cada cônjuge é proprietário de metade do patrimônio, estando em
condomínio sobre os bens comuns.
Diferença de partilha: Havendo diferença de partilha, incide ITCD, pois entende-se que
houve transmissão gratuita de patrimônio entre os ex-cônjuges.
Uso exclusivo de bem comum: Ao final do relacionamento, se um dos cônjuges ficar
usando, sozinho, bem que é comum, deverá fazer o pagamento pelo uso (sobre a metade do
valor, já que a outra metade lhe pertence) – espécie de indenização.
Sub-rogação: Se um dos cônjuges tiver bens particulares recebidos por doação ou
herança, estes são incomunicáveis. Caso efetue a venda destes e aquisição de outro, com o
produto da venda, também ficará incomunicável, ainda que a aquisição tenha ocorrido durante o
matrimônio. Trata-se de sub-rogação. No caso de a aquisição ocorrer por valor superior ao valor
da venda dos bens particulares, ocorre sub-rogação parcial, devendo haver a partilha do valor
que foi acrescido ao patrimônio.
Dívidas e encargos: As dívidas também são comuns do casal, sempre que contraídas
em benefício da família. No caso de financiamento, deve-se verificar o número de prestações
quitadas durante o matrimônio e o percentual do bem que o valor se refere. A partilha será do
percentual do imóvel que foi quitado durante o relacionamento.
FGTS, verbas rescisórias e créditos trabalhistas: Com relação ao FGTS, deve-se
atentar para a polêmica existente, pois trata-se de frutos civis, rendimentos do trabalho pessoal,
estando excluído da comunhão, nos termos do art. 1.659, VI, CC. Contudo, a jurisprudência tem
entendido que se os valores, no momento do divórcio, permanecem depositados, são
incomunicáveis. Contudo, se foram levantados para aquisição de algum bem, o imóvel deverá
ser partilhado. Da mesma forma ocorre com as verbas rescisórias e créditos trabalhistas:
transformado em patrimônio = dever de partilhar.
Ativos financeiros: Embora os frutos do trabalho pessoal sejam excluídos da comunhão,
uma vez que tenham sido aplicados em instituições financeiras, deverão ser partilhados. Ex.:
depósito do salário em conta conjunta = partilha desse valor.

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Edificação em imóvel de terceiro: Pode ocorrer de o casal construir casa sobre terreno
alheio (normalmente do pai de um deles). No momento da separação, o filho do dono do terreno
permanece com o imóvel. Contudo, terá de indenizar o outro sobre metade do valor do que a
casa agregou sobre o terreno.

Teses do STJ sobre regime de bens

As verbas de natureza trabalhista nascidas e pleiteadas na constância da união estável ou do


casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial ou universal de bens integram o
patrimônio comum do casal e, portanto, devem ser objeto da partilha no momento da separação.
Deve ser reconhecido o direito à meação dos valores depositados em conta vinculada ao Fundo
de Garantia de Tempo de Serviço FGTS auferidos durante a constância da união estável ou do
casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial ou universal de bens, ainda que não
sejam sacados imediatamente após a separação do casal ou que tenham sido utilizados para
aquisição de imóvel pelo casal durante a vigência da relação.
A valorização patrimonial dos imóveis ou das cotas sociais de sociedade limitada, adquiridos
antes do casamento ou da união estável, não deve integrar o patrimônio comum a ser partilhado
quando do término do relacionamento, visto que essa valorização é decorrência de um fenômeno
econômico que dispensa a comunhão de esforços do casal.
Os valores investidos em previdência privada fechada se inserem, por analogia, na exceção
prevista no art. 1.659, VII, do Código Civil de 2002, consequentemente, não integram o
patrimônio comum do casal e, portanto, não devem ser objeto da partilha.

04. Bem de família

Este conteúdo é trabalhando e está no material de apoio da parte geral do direito civil.

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05. União estável

Houve diferentes fases na evolução histórica da união estável:


1. REJEIÇÃO: até o início do século XX as relações não matrimoniais eram
repugnadas pela sociedade, não sendo aceita como família e associada ao adultério. A ainda
chamada concubina não tinha direito a nada.
2. TOLERÂNCIA (tutela de natureza previdenciária): o quadro anterior começou a se
modificar, sendo a união estável (ainda chamada de concubinato) tolerada como fato da vida.
Surgiram os primeiros direitos dos concubinos: a tutela previdenciária, previsto no art. 3.º, d, da
Lei 4.297/63 (esta lei foi revogada pela lei 5.698/71).
3. ACEITAÇÃO COMO FATO SOCIAL (tutela de natureza obrigacional): No princípio
as decisões eram tão somente relacionadas ao patrimônio. Concessão de alimentos “de forma
camuflada”, sob o nome de indenização por serviços domésticos. O objetivo maior era a vedação
do enriquecimento ilícito pelo homem, por se aproveitar do trabalho e da dedicação da mulher,
não podendo abandoná-la sem indenização.
Com o tempo, a justiça passou a reconhecer a existência de sociedade de fato, permitindo
a partilha dos bens, mas exigindo a comprovação de efetiva participação financeira de cada parte
na aquisição dos bens, para que pudessem ser partilhados. Os consortes eram considerados
sócios e a divisão era, portanto, dos lucros, ou seja, dos bens adquiridos durante a “sociedade”.

ATENÇÃO
Súmula 380 do STF: Comprovada a existência da sociedade de fato entre os
concubinos é cabível a sua dissolução judicial com partilha do patrimônio adquirido pelo
esforço comum.

Esses subterfúgios eram utilizados para efetivar a partilha do patrimônio e evitar o


enriquecimento ilícito de qualquer dos companheiros.
4. VALORIZAÇÃO (prestígio constitucional): A Constituição Federal introduziu o
nome união estável e incluiu este tipo de relacionamento como entidade familiar. A partir daí
outros relacionamentos passaram a ser protegidos, não só os decorrentes do casamento.
Contudo, nenhum reflexo quanto a direitos foi trazido, já que os litígios relativos às uniões

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estáveis continuaram a ser julgados pelas varas cíveis e não pelas de família. Persistia a vedação
de conceder herança ao cônjuge sobrevivente e a negativa de assegurar direito real de habitação
ou usufruto de parte dos bens. Duas leis vieram regulamentar o novo instituto.
Lei 8.971/94 – assegurou o direito a alimentos e à sucessão ao companheiro, exigindo
prazo de 5 anos de convivência ou prole.
Lei 9278/96 – não previu prazo; reconheceu o direito real de habitação e fixou a
competência para julgar litígios dessa natureza nas varas de família. Os bens adquiridos a título
oneroso durante a relação de convivência, passaram a ser entendidos como fruto do esforço
comum, sem necessidade de prova de participação efetiva para que pudesse haver a partilha
igualitária dos bens.
Código Civil de 2002 – sistematizou a matéria relativa a união estável, revogando a
legislação anterior. A união estável passou a ser entendida como aquela sem impedimentos para
o matrimônio. Concubinato não é mais sinônimo de união estável, mas se refere àquelas
situações do passado, tratadas como concubinato impuro ou adulterino (quando um dos
parceiros é casado e vive uma outra união fora do casamento).

5.1 Conceito

Considerando a decisão do STF na ADIN 4277, o conceito de União estável se modificou,


de forma que GAGLIANO e PAMPLONA FILHO afirmam que é possível se conceituar a “união
estável como uma relação afetiva de convivência pública e duradoura entre duas pessoas, do
mesmo sexo ou não, com o objetivo imediato de constituição de família”.

5.2 Requisitos e aspectos controvertidos

São requisitos da união estável, por força do art. 226, § 3.º da CF e do art. 1.723 do CC:
ESTABILIDADE: não é qualquer relacionamento fugaz e transitório que configura a união
estável. A proteção é para aquelas uniões que se apresentam com os elementos do casamento,
ou seja, que tenham por objetivo a constituição de família.
DURADOURA: Assim que deriva da estabilidade a característica de ser DURADOURA.
Não há a estipulação de um prazo, mas a convivência, com intuito de constituir família, por um

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período mais ou menos longo é o retrato da estabilidade e da duração da união. Assim, o prazo
é importante, mas não absoluto, eis que podem existir uniões que não possuindo prazo (podem
ser inferiores a 1 ano), possuem o intuito de constituir família, sendo que podem, inclusive, ter
gerado filhos.
CONTINUIDADE: é complemento da estabilidade, de maneira que a união deve ser
contínua, sem interrupções, com ânimo de permanência e definitividade. Contudo, depende de
prova, pois nem sempre um rompimento afasta o conceito de união estável.
DIVERSIDADE DE SEXOS: Em razão da decisão do STF na ADIN 4.277 não mais se
exige a diversidade de sexos.
PUBLICIDADE: é importante a notoriedade da união, ou seja, deve ser uma relação onde
o casal se apresenta como se marido e mulher fossem perante a sociedade.
OBJETIVO DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA: esse é o objetivo principal da união
estável: constituir família. Para tanto, não é necessária a existência de prole, mas a união com o
objetivo de constituir família é aquela que se traduz na comunhão de vida e interesses. Aqui
entra, por exemplo, a questão da fidelidade, pois sem ela cai por terra a comunhão de vida, de
interesses e sentimentos.
COABITAÇÃO: tal elemento não é obrigatório, pois existem casos em que existe união
sólida, duradoura e notória, mas onde o casal não reside na mesma casa, sem que, contudo,
desconfigure a união estável. Assim, a estabilidade da relação não é afetada por essa
circunstância, quando os companheiros se comportarem, nos espaços públicos e sociais, como
se casados fossem.

ATENÇÃO
Súmula 382 do STF: A vida em comum sob o mesmo teto “more uxório” não o é
indispensável para caracterização do concubinato.

Por ser ato-fato jurídico, a união estável não necessita de qualquer manifestação de
vontade para que produza seus efeitos jurídicos. Basta sua configuração fática. Assim, o
CONTRATO DE NAMORO não tem efeitos, pois não importa o que venha a dispor, se os
requisitos da união estável restarem configurados, poderá haver o reconhecimento (espontâneo
ou judicial), pois ser um ato-fato jurídico, não necessita da vontade das partes para a
configuração. Quanto ao contrato de namoro, segundo Flávio Tartuce e José Fernando Simão,
“é nulo o contrato de namoro nos casos em que existe entre as partes envolvidas uma união

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estável, eis que a parte renuncia por esse contrato e de forma indireta a alguns direitos
essencialmente pessoais, como é o caso do direito a alimentos. Esse contrato é nulo por fraude
à lei imperativa (art. 166, VI, do CC), e também por ser o seu objeto ilícito (art. 166, II, do CC)” 16.
Mas qual, então, a diferença entre a união estável e o namoro? Tartuce e Simão (p. 269)
afirmam que a constituição de família é que estabelece esta diferença. Se a constituição de
família é um projeto para o futuro, trata-se de namoro. Se a família já está constituída,
independentemente da existência ou não de filhos, trata-se de união estável.

RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO


ESTÁVEL - IMPROCEDÊNCIA - RELAÇÃO DE NAMORO QUE NÃO SE TRANSMUDOU
EM UNIÃO ESTÁVEL EM RAZÃO DA DEDICAÇÃO E SOLIDARIEDADE PRESTADA
PELA RECORRENTE AO NAMORADO, DURANTE O TRATAMENTO DA DOENÇA QUE
ACARRETOU SUA MORTE - AUSÊNCIA DO INTUITO DE CONSTITUIR FAMÍLIA -
MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS FÁTICOS-PROBATÓRIOS - IMPOSSIBILIDADE -
INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7/STJ - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - Na
hipótese dos autos, as Instâncias ordinárias, com esteio nos elementos fáticos-
probatórios, concluíram, de forma uníssona, que o relacionamento vivido entre a ora
recorrente, F. F., e o de cujus, L., não consubstanciou entidade familiar, na modalidade
união estável, não ultrapassando, na verdade, do estágio de namoro, que se estreitou,
tão-somente, em razão da doença que acometeu L.; II - Efetivamente, no tocante ao
período compreendido entre 1998 e final de 1999, não se infere do comportamento destes,
tal como delineado pelas Instâncias ordinárias, qualquer projeção no meio social de que a
relação por eles vivida conservava contornos (sequer resquícios, na verdade), de uma
entidade familiar. Não se pode compreender como entidade familiar uma relação em que
não se denota posse do estado de casado, qualquer comunhão de esforços, solidariedade,
lealdade (conceito que abrange "franqueza, consideração, sinceridade, informação e, sem
dúvida, fidelidade", ut REsp 1157273/RN, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe
07/06/2010), além do exíguo tempo, o qual também não se pode reputar de duradouro,
tampouco, de contínuo; III - Após o conhecimento da doença (final de 1999 e julho de
2001), L. e F. F. passaram a residir, em São Paulo, na casa do pai de L., sem que a relação
transmudasse para uma união estável, já que ausente, ainda, a intenção de constituir
família. Na verdade, ainda que a habitação comum revele um indício caracterizador da
affectio maritalis, sua ausência ou presença não consubstancia fator decisivo ao
reconhecimento da citada entidade familiar, devendo encontrar-se presentes,
necessariamente, outros relevantes elementos que denotem o imprescindível intuito de
constituir uma família; IV - No ponto, segundo as razões veiculadas no presente recurso
especial, o plano de constituir família encontrar-se-ia evidenciado na prova testemunhal,
bem como pelo armazenamento de sêmen com a finalidade única de, com a recorrente,
procriar. Entretanto, tal assertiva não encontrou qualquer respaldo na prova produzida nos
autos, tomada em seu conjunto, sendo certo, inclusive, conforme deixaram assente as
Instâncias ordinárias, de forma uníssona, que tal procedimento (armazenamento de
sêmen) é inerente ao tratamento daqueles que se submetem à quimioterapia, ante o risco
subseqüente da infertilidade. Não houve, portanto, qualquer declaração por parte de L. ou
indicação (ou mesmo indícios) de que tal material fosse, em alguma oportunidade,
destinado à inseminação da ora recorrente, como sugere em suas razões. Bem de ver,
assim, que as razões recursais, em confronto com a fundamentação do acórdão recorrido,
prendem-se a uma perspectiva de reexame de matéria de fato e prova, providência
inadmissível na via eleita, a teor do enunciado 7 da Súmula desta Corte; V - Efetivamente,

16 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013,
p. 2.

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a dedicação e a solidariedade prestadas pela ora recorrente ao namorado L., ponto


incontroverso nos autos, por si só, não tem o condão de transmudar a relação de namoro
para a de união estável, assim compreendida como unidade familiar. Revela-se
imprescindível, para tanto, a presença inequívoca do intuito de constituir uma família, de
ambas as partes, desiderato, contudo, que não se infere das condutas e dos
comportamentos exteriorizados por L., bem como pela própria recorrente, devidamente
delineados pelas Instâncias ordinárias; VI - Recurso Especial improvido. (REsp
1257819/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em
01/12/2011, DJe 15/12/2011)

Aplicam-se à união estável os mesmos impedimentos legais para o casamento. Contudo,


o fato de um dos conviventes estar casado, mas separado de fato ou judicialmente, não obsta a
configuração da união estável.
E quanto às uniões estáveis paralelas ou uniões plúrimas ou múltiplas, ou seja,
quando houver mais de uma união estável, duas famílias paralelas? Neste caso, considerando
a comprovação do início de cada relação, a segunda união não configura união estável, somente
a primeira.
EXEMPLO: (Tartuce17)
Tício, reside na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, vive em união estável,
nesta cidade, com Maria Antônia, desde o ano de 2002. A união apresenta todos os requisitos
constantes na lei civil. Toda a sociedade local reconhece a existência da entidade familiar,
tratando os companheiros como se casados fossem.
Todavia, Tício é viajante e, desde o ano de 2003, encontra-se com Maria Figueiredo todas
as segundas-feiras, na cidade de Franca, onde mantém um escritório. A relação também se
enquadra nos termos do art. 1.723, CC. Tício e Maria Figueiredo têm um filho comum: João
Henrique, de um ano de idade.
Tício mantém ainda uma união pública, notória e contínua com Maria Augusta, na cidade
de Batatais, para onde vai todas as quintas-feiras vender seus produtos. Aliás, Maria Augusta é
dona de um estabelecimento comercial em que Tício consta como sócio. Ambos têm um negócio
lucrativo naquela cidade do interior paulista. O relacionamento amoroso existe desde 2004.
Por fim, Tício tem um apartamento montado na cidade de São Paulo, onde vai
ocasionalmente, de quinze em quinze dias, a fim de comprar produtos para vender no interior
paulista. Nesse apartamento reside Maria Carmem, com quem Tício tem um relacionamento
desde o final do ano de 2004. Essa sua convivente está grávida e espera um filho seu.

17 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 341-342.

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No caso hipotético, uma Maria não sabe da existência da outra como convivente de seu
companheiro, até que, um dia, o pior acontece e o mundo desaba.
A partir daí, como ficam os direitos das conviventes? Segundo Tartuce18 existem três
posicionamentos diferentes a esse respeito.
1. Nenhum dos relacionamentos constitui união estável. Como não há lealdade na
relação, não constitui um dos seus requisitos, sem o qual não há a entidade familiar
(posicionamento de Maria Helena Diniz). As conviventes poderão pleitear indenização por danos
morais e materiais, em razão da boa-fé.
2. Aplicação das regras do casamento putativo. Neste caso, como as Marias estavam
de boa-fé e não sabia da existência uma das outras, devem pedir a aplicação analógica do art.
1.561, CC.
Se não houver filhos em comum o segundo parceiro terá pretensão contra o primeiro no
campo das relações patrimoniais, segundo o modelo do direito das obrigações, quando à partilha
dos bens adquiridos com esforço comum ou à indenização por serviços prestados. Os filhos
comuns terão direito tanto a pretensão de natureza patrimonial, quanto pessoal.
Nesse sentido a jurisprudência do STJ:

União estável. Reconhecimento de duas uniões concomitantes. Equiparação ao


casamento putativo. Lei nº 9.728/96.
1. Mantendo o autor da herança união estável com uma mulher, o posterior relacionamento
com outra, sem que se haja desvinculado da primeira, com quem continuou a viver como
se fossem marido e mulher, não há como configurar união estável concomitante, incabível
a equiparação ao casamento putativo.
2. Recurso especial conhecido e provido. (STJ. REsp 789.293/RJ. Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito. j. 15/02/2006).

No mesmo sentido tem ocorrido quando há um casamento e uma união estável paralelas.
Os Tribunais Superiores não têm reconhecido o direito da segunda companheira, não
reconhecendo, nesta relação, uma união estável, mas sim, o concubinato.

DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. HOMEM CASADO. OCORRÊNCIA DE
CONCUBINATO. INDAGAÇÕES ACERCA DA VIDA ÍNTIMA DOS CÔNJUGES.
IMPERTINÊNCIA. INVIOLABILIDADE DA VIDA PRIVADA. SEPARAÇÃO DE FATO NÃO
PROVADA. ÔNUS DA PROVA QUE RECAI SOBRE A AUTORA DA AÇÃO.
1. A jurisprudência do STJ e do STF é sólida em não reconhecer como união estável a
relação concubinária não eventual, simultânea ao casamento, quando não estiver provada
a separação de fato ou de direito do parceiro casado.
2. O acórdão recorrido estabeleceu que o falecido não havia desfeito completamente o
vínculo matrimonial - o qual, frise-se, perdurou por trinta e seis anos -, só isso seria o

18 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 342-349.

66
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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bastante para afastar a caracterização da união estável em relação aos últimos três anos
de vida do de cujus, período em que sua esposa permaneceu transitoriamente inválida em
razão de acidente. Descabe indagar com que propósito o falecido mantinha sua vida
comum com a esposa, se por razões humanitárias ou qualquer outro motivo, ou se entre
eles havia "vida íntima".
3. Assim, não se mostra conveniente, sob o ponto de vista da segurança jurídica,
inviolabilidade da intimidade, vida privada e dignidade da pessoa humana, discussão
acerca da quebra da affectio familiae, com vistas ao reconhecimento de uniões estáveis
paralelas a casamento válido, sob pena de se cometer grave injustiça, colocando em risco
o direito sucessório do cônjuge sobrevivente.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1096539/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
27/03/2012, DJe 25/04/2012)

3. Reconhecimento de todas as relações como uniões estáveis e todos os direitos


daí advindos. Esse entendimento, contudo, despreza a questão da lealdade e ignora a
caracterização da união estável, que deve ser exclusiva. É o posicionamento defendido por Maria
Berenice Dias.
* Para todos verem: esquema

Entidade familiar

União Estável - 1.723 do CC Vara de família

Pessoa solteira, viúva,


divorciada, separada de fato
Relações não matrimoniais

Sociedade de fato (súmula


380 do STF) - não é entidade
familiar

Concubinato - 1.727, CC
Nas hipóteses de
impedimentos = pessoa
casada e não separada;
impedidos por parentesco;
impedidos em razão de
prática de crime

5.3 Efeitos

67
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

A união estável gera efeitos a partir do seu início. Contudo, bastante difícil estabelecer
seu prazo inicial. Assim, o início da união estável é o início da convivência dos companheiros.
Havendo coabitação mais fácil a identificação do momento de início da produção de efeitos. Não
havendo, necessário identificar o tempo em que os companheiros passaram a viver como se
marido e mulher fossem perante as relações sociais. A prova pode ser feita por
correspondências, fotos, documentos de viagens, etc. No caso de companheiro casado, para a
configuração do início da união estável com outrem é necessária, no mínimo, a separação de
fato.
Não há distinção entre os filhos advindos de relações matrimoniais e filhos advindos de
relação de união estável. Assim, quanto a direitos pessoais aplicam-se as mesmas regras quanto
a poder familiar, filiação, adoção, etc. (art. 1.724).
Lei dos Registros Públicos (art. 57) – permite que um companheiro adote o sobrenome do
outro se forem (ambos ou um apenas) separado de fato ou judicialmente, pois tal fato
configura impedimento para o matrimônio.

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. ALTERAÇÃO


DO ASSENTO REGISTRAL DE NASCIMENTO. INCLUSÃO DO PATRONÍMICO DO
COMPANHEIRO. POSSIBILIDADE.
Pedido de alteração do registro de nascimento para a adoção, pela companheira, do
sobrenome de companheiro, com quem mantém união estável há mais de 30 anos. A
redação do o art. 57, § 2º, da Lei 6.015/73 outorgava, nas situações de concubinato, tão
somente à mulher, a possibilidade de averbação do patronímico do companheiro, sem
prejuízo dos apelidos próprios, desde que houvesse impedimento legal para o casamento,
situação explicada pela indissolubilidade do casamento, então vigente. A imprestabilidade
desse dispositivo legal para balizar os pedidos de adoção de sobrenome dentro de uma
união estável, situação completamente distinta daquela para qual foi destinada a referida
norma, reclama a aplicação analógica das disposições específicas do Código Civil
relativas à adoção de sobrenome dentro do casamento, porquanto se mostra claro o
elemento de identidade entre os institutos e a parelha ratio legis relativa à união estável,
com aquela que orientou o legislador na fixação, dentro do casamento, da possibilidade
de acréscimo do sobrenome de um dos cônjuges, pelo outro. Assim, possível o pleito de
adoção do sobrenome dentro de uma união estável, em aplicação analógica do art. 1.565,
§ 1º, do CC-02, devendo-se, contudo, em atenção às peculiaridades dessa relação
familiar, ser feita sua prova documental, por instrumento público, com anuência do
companheiro cujo nome será adotado.
Recurso especial provido. (REsp 1206656/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 11/12/2012)

Se, contudo, forem ambos livres e desimpedidos para casar, não poderão se valer desse
direito.
REGIME DE BENS: comunhão parcial ou qualquer outro convencionado formalmente
pelos conviventes. Em razão disto, qualquer alienação depende da autorização do outro
companheiro, sob pena de possibilidade de anulação do ato. O terceiro de boa-fé tem direito, no

68
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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caso de anulação, de pleitear do cônjuge que lhe vendeu o bem, o ressarcimento dos valores
pagos e indenização por perdas e danos. Necessidade de registrar o contrato no registro de
imóveis para que as cláusulas estabelecidas tenham validade contra terceiros. Se não for
registrado o contrato, para efeitos contra terceiros, presume-se a comunhão parcial de bens, de
modo que poderá haver a penhora de parte de um imóvel adquirido depois da união, para
pagamento de dívida de um dos companheiros (mesmo que o regime estabelecido no contrato
– e não registrado – seja o da separação de bens).
Deve-se observar, ainda, que o CPC/2015, no art. 73, § 3.º, exige a aquiescência do
convivente em união estável nas ações que versarem sobre direitos reais imobiliários, desde que
a união estável esteja comprovada nos autos.
Se a união estável se iniciou antes da entrada em vigor do CC, a ela também se aplica o
regime da comunhão parcial de bens, salvo se os companheiros estipularam algo em contrário.

5.4 Contrato de convivência

Aos conviventes é lícito estabelecerem convenções por escrito quanto ao direito


patrimonial, assim como ocorre com o casamento, sendo aplicado, supletivamente, as regras
quanto aos regimes de bens. Não é necessária escritura pública, podendo ser feito por
documento particular. Para que tenha eficácia contra terceiros, é preciso que o contrato de
convivência seja feito por escritura pública ou registrado no Cartório de Títulos e Documentos.
IMPORTANTE (Tartuce19): “no caso de dois nubentes que celebraram um pacto
antenupcial por escritura pública no Tabelionato de Notas. O casamento não se realiza, o que
faz com que o pacto não tenha eficácia, para fins de casamento.
Todavia, se ambos passarem a viver em união estável, o pacto antenupcial vale e gera
efeitos como se fosse um contrato de convivência”.
Aplicam-se subsidiariamente as normas aplicáveis aos pactos antenupciais, ou seja, não
podem ser fixadas cláusulas que nos pactos também são vedadas. Dessa maneira, só são
permitidas cláusulas que estabeleçam quanto ao regime de bens dos companheiros e nada mais.
Pode ser estabelecido pelos companheiros, no contrato de união estável, que o regime de bens
seja retroativo, mas tem como limite a proteção dos interesses de terceiros de boa-fé. No caso

19 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 161.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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de ausência desse pacto escrito, aplicam-se as regras pertinentes ao regime da comunhão


parcial de bens.

5.5 Alimentos

Qualquer dos companheiros, em caso de necessidade, pode exigir do outro alimentos (art.
1.694). Basta que seja comprovada, em ação pertinente, a necessidade. Essa ação pode ser
tanto a que visa o reconhecimento e a dissolução da união estável, quanto a ação de alimentos
propriamente dita.

5.6 Direito sucessório

O direito sucessório dos conviventes é tratado pelo art. 1.790 do CC. Contudo, tal
dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF em 10/05/2017, através das decisões nos RE
646721 e RE 878694. Houve o reconhecimento da repercussão geral, em que o Supremo
entende inconstitucional a diferenciação na sucessão do cônjuge e do companheiro.

5.7 Conversão em casamento

O art. 1.726 dispõe que a união estável poderá ser convertida em casamento, mediante
pedido dos companheiros ao juiz e assento no registro civil. Contudo, deve-se observar que essa
disposição não dispensa os procedimentos preliminares e o processo de habilitação do
casamento.
Na conversão há dispensa da celebração do casamento, mas da habilitação, não. Há, sim,
uma simplificação na habilitação, pois a união estável pressupõe que a união tenha sido
constituída sem violação aos impedimentos matrimoniais, tornando desnecessária publicação de
edital. O único impedimento é quanto ao convivente que estivesse separado de fato ou
judicialmente no início da união estável, quando terá de comprovar que já se encontra divorciado,
para possibilitar o casamento.

70
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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O pedido deve ser feito por ambos os conviventes ou por procuradores com poderes para
tanto. Feita prova da união estável o juiz determinará o registro do casamento.
A conversão não produz efeitos retroativos. As relações pessoais e patrimoniais da
união estável permanecerão desde seu início até a conversão em casamento. A partir daí os
efeitos do casamento passarão a viger. Assim, se os cônjuges estabelecerem o regime da
separação total de bens, por pacto antenupcial, os bens adquiridos durante a união estável
ingressam no regime legal da comunhão parcial, permanecendo em condomínio e, em caso de
dissolução, serão partilhados igualitariamente. HÁ DIVERGÊNCIAS, POIS ROLF MADALENO
ENTENDE QUE HÁ A RETROATIVIDADE DO CASAMENTO ATÉ A DATA DO INÍCIO DA
UNIÃO ESTÁVEL. DESSA FORMA, TAMBÉM O REGIME DE BENS RETROAGIRÁ A DATA
DO INÍCIO A UNIÃO ESTÁVEL.

5.8 Dissolução e partilha de bens

Quando houver a dissolução da união estável, o quadro assemelha-se a separação


consensual ou litigiosa. Contudo, termina da mesma maneira que inicia, sem qualquer ato jurídico
ou decisão judicial, bastando a separação de fato.
A dissolução pode ser amigável ou litigiosa. Se for amigável os conviventes poderão fazer
documento escrito (público ou particular). No caso de dissolução litigiosa, se não houver contrato
de união estável, será necessária a ação de reconhecimento e dissolução da união estável. Na
partilha de bens, reconhecida a união estável, aplica-se os princípios da comunhão parcial (art.
1.725 + art. 1.658 e seguintes), se não houver contrato em contrário.

Teses do STJ sobre união estável

▪ A coabitação não é elemento indispensável à caracterização da união estável.


▪ A vara de família é a competente para apreciar e julgar pedido de reconhecimento e
dissolução de união estável homoafetiva.
▪ Não é possível o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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▪ A existência de casamento válido não obsta o reconhecimento da união estável, desde


que haja separação de fato ou judicial entre os casados.
▪ Na união estável de pessoa maior de setenta anos (art. 1.641, II, do CC/02), impõe-se o
regime da separação obrigatória, sendo possível a partilha de bens adquiridos na constância da
relação, desde que comprovado o esforço comum.
▪ São incomunicáveis os bens particulares adquiridos anteriormente à união estável ou ao
casamento sob o regime de comunhão parcial, ainda que a transcrição no registro imobiliário
ocorra na constância da relação.
▪ O companheiro sobrevivente tem direito real de habitação sobre o imóvel no qual convivia
com o falecido, ainda que silente o art. 1.831 do atual Código Civil.

5.9 Ação de Reconhecimento e Dissolução de União estável

Competência: art. 53, I, CPC: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último


domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; ou c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes
residir no antigo domicílio do casal. OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado.
Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem
todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Autor: um dos conviventes (ou ambos – sem requerido – se for consensual)
Fundamento legal ação consensual: Art. 1.723 e ss, CC + art. 731 e ss, CPC –
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (não há réu)
Fundamento legal ação litigiosa: Art. 1.723 e ss, CC + art. 693 e ss, CPC
Nome da ação: Ação de Reconhecimento e Dissolução de União Estável
OBSERVAÇÃO: Esta ação deve ser utilizada quando não houver documento
reconhecendo a existência da união estável
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Cláusulas especiais: nas ações de dissolução de união estável, devem ser colocadas as
cláusulas especiais, dentro do tópico de fundamentos (alimentos para os filhos, alimentos entre
ex-cônjuges/companheiros, uso de nome, partilha dos bens, guarda dos filhos, visitas)
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação (art. 695, CPC); intimação
do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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da gratuidade judiciária (se for o caso)20; total procedência da ação, com o reconhecimento da
união estável entre o casal pelo período de ... a ..., bem como a sua dissolução desde...; pedido
de fixação de alimentos; pedido de fixação de guarda; pedido de partilha de bens (todas as
cláusulas que constarem nos fundamentos, devem vir nos pedidos). De resto, os pedidos
tradicionais das iniciais.
Valor da causa: havendo questões patrimoniais (no caso de haver partilha), é o valor
desses bens; se houver pedido de alimentos, 12x o valor dos alimentos pleiteados; se for só
dissolução, sem partilha e sem alimentos, sugere-se usar: “Nos termos do art. 291 do Código de
Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

5.10 Ação de Dissolução de União estável

Competência: art. 53, I, CPC: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último


domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; ou c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes
residir no antigo domicílio do casal. OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado.
Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem
todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Autor: um dos conviventes (ou ambos – sem requerido – se for consensual)
Fundamento legal ação consensual: Art. 1.723 e ss, CC + art. 731 e ss, CPC –
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (não há réu)
Fundamento legal ação litigiosa: Art. 1.723 e ss, CC + art. 693 e ss, CPC
Nome da ação: Ação de Dissolução de União Estável

OBSERVAÇÃO: Esta ação deve ser utilizada quando houver documento que reconheça a
existência da união estável e, portanto, necessite, apenas, dissolver.

Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido


de tutela provisória (art. 300 do CPC).

20Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Cláusulas especiais: nas ações de dissolução de união estável, devem ser colocadas as
cláusulas especiais, dentro do tópico de fundamentos (alimentos para os filhos, alimentos entre
ex-cônjuges/companheiros, uso de nome, partilha dos bens, guarda dos filhos, visitas)
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação (art. 695, CPC); intimação
do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício
da gratuidade judiciária (se for o caso)21; total procedência da ação, com o reconhecimento da
união estável entre o casal pelo período de ... a ..., bem como a sua dissolução desde...; pedido
de fixação de alimentos; pedido de fixação de guarda; pedido de partilha de bens (todas as
cláusulas que constarem nos fundamentos, devem vir nos pedidos). De resto, os pedidos
tradicionais das iniciais.
Valor da causa: havendo questões patrimoniais (no caso de haver partilha), é o valor
desses bens; se houver pedido de alimentos, 12x o valor dos alimentos pleiteados; se for só
dissolução, sem partilha e sem alimentos, sugere-se usar: “Nos termos do art. 291 do Código de
Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

06. Dissolução do vínculo conjugal

O divórcio é uma dissolução voluntária do casamento, com a extinção do vínculo conjugal.


Decorre da simples vontade das partes, sem causa específica (já que não se presta para discutir
as razões do fim do casamento), permitindo, após sua decretação, a constituição de novos
vínculos matrimoniais.

6.1 Evolução histórica do divórcio no Brasil

Para que se compreenda o atual estágio da extinção do vínculo conjugal no sistema jurídico
brasileiro, necessário se faz uma análise histórica acerca do divórcio no país. São claras as fases
pelas quais o Brasil passou, no que se refere ao divórcio: vai desde a indissolubilidade absoluta

21Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito de Família | Prof. Maitê Damé

do vínculo conjugal, com a ausência do divórcio, até o divórcio direto, sem exigência de prévia
separação, introduzido pela chamada “PEC DO AMOR”.

6.1.1 Indissolubilidade absoluta do vínculo conjugal (ausência de


divórcio)

O casamento inicialmente somente podia ser dissolvido pela morte ou reconhecimento de


nulidade. Código de 1916 previu o desquite que dissolvia a sociedade conjugal, mas mantinha
o vínculo conjugal, impossibilitando os cônjuges a contraírem novos casamentos.

6.1.2 Lei do Divórcio: possibilidade jurídica do divórcio, com


necessidade da separação judicial prévia

Lei do Divórcio (6.515/77) – substituiu o desquite por separação judicial e introduziu a


possibilidade de dissolução do vínculo matrimonial pelo divórcio (separação prévia, transcurso
de 3 anos do trânsito em julgado, etc). Adoção de um modelo dual.

6.1.3 A ampliação da possibilidade do divórcio: o divórcio direto e o


divórcio extrajudicial

CF/88 – Previsão do divórcio direto, desde que houvesse separação de fato há mais de 2
anos – art. 226, § 6.º (redação originária).
Lei 11.441/2007 – estabeleceu a possibilidade de a separação e o divórcio consensuais
serem feitos administrativamente, via escritura pública, no Tabelionato de Notas (art. 733,
CPC/2015), desde que não existam filhos menores ou incapazes.

6.1.4 O atual estágio do divórcio no Brasil – a “PEC DO AMOR”

EC 66 (julho/2010) – “PEC DO AMOR” ou “PEC DO DIVÓRCIO” – alterou o § 6.º do art.


226 da CF e o sistema de dissolução do matrimônio, deixando de contemplar a separação judicial

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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ou fática como requisito para a extinção do vínculo conjugal. O casamento pode ser dissolvido
pelo divórcio, sem a necessidade de implementação de qualquer prazo para tato (tanto
consensual quanto litigioso).

EM SÍNTESE:
O STJ decidiu recentemente que a EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente,
a parte do Código Civil que trata da separação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP. Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/08/2017
(Info 610). STJ 4ª Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
14/03/2017 (Info 604)

Enunciado n. 514 da Jornada de Direito Civil: A emenda Constitucional n. 66/2010 não


extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial.

6.1.5 O atual estágio do divórcio no Brasil – o retrocesso do CPC/2015

Deve-se destacar que o CPC/2015 já nasceu atrasado, em termos de normas de direito


de família. Embora a EC 66/2010 tenha retirado os prazos de separação prévia para a realização
do divórcio, o novo CPC traz em seu conteúdo normas processuais de trâmite das ações de
separação judicial. O art. 731 e seguintes, CPC/2015 tratam da separação consensual. Por sua
vez, o art. 693 e seguintes, CPC/2015, tratam do procedimento para a separação judicial litigiosa,
prevendo o incentivo às audiências de conciliação e mediação.

6.2 Modelo dual ou não?

Em razão da alteração trazida pela EC 66 ao ordenamento jurídico brasileiro, há


discussões se permanece vigente o modelo dual de dissolução do casamento no Brasil, ou seja,
separação e do divórcio. Deve-se observar, contudo, que a separação apenas coloca fim na
sociedade conjugal, mas não extingue/dissolve o vínculo matrimonial, que apenas ocorrerá com
o divórcio.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Há, nesse aspecto, grandes discussões, na atualidade, sobre a manutenção ou não desse
sistema dual.
Alguns entendem que com a alteração introduzida pela EC 66/2010, houve a derrogação
das disposições infraconstitucionais contrárias, ou seja, a parte do Código Civil que dispõe sobre
a dissolução do casamento através da separação, estaria derrogado. Outros, no entanto,
entendem que a separação se mantém no sistema jurídico e que cabe às partes decidirem o que
pretendem: romper com a relação matrimonial (entrar com separação e respeitar o CC) ou com
o vínculo conjugal (entrar com divórcio, nos termos da EC 66/2010).

6.3 Separação de fato

A separação de fato é o que realmente coloca um ponto final no casamento, podendo


resultar de decisão conjunta do casal ou da iniciativa de um dos cônjuges. Todas as
consequências dessa situação fática passam a correr da ruptura da união, ou seja, da separação
de fato. A separação de fato não exige que o casal já se encontre residindo em residências
distintas, sendo aceita a separação de fato de casais que ainda residem sob o mesmo teto. Com
o término do casamento pela separação de fato as partes podem, inclusive, constituir novo
relacionamento, através da união estável.
A separação de fato faz cessar o dever de vida em comum, configurando requisito
suficiente para o fim do regime de bens. Este é o momento da apuração dos bens para efeitos
de partilha (ex.: participação final nos aquestos – art. 1.683).

6.4 Separação Judicial

A separação é o gênero do qual a separação consensual e a litigiosa são as espécies. É


uma forma de dissolver a sociedade conjugal, romper com os deveres do casamento, contudo,
não rompe o vínculo matrimonial.
É a dissolução do vínculo conjugal, da sociedade conjugal decretada e homologada pelo
juiz, sem a extinção do vínculo matrimonial.
Tem caráter pessoal, personalíssimo, não podendo o Pai, por exemplo, buscar a
separação, através de ação judicial, em nome da filha. Pode, contudo, nos termos do art. 1.576,

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§ único, a ação ser feita por outra pessoa (curador, ascendente ou irmão), no caso de um dos
cônjuges ser incapaz. Só cabe em caso de separação judicial, pois na extrajudicial os cônjuges
devem estar em pessoa presentes na frente do Tabelião.

6.4.1 Separação consensual

É o acordo entre duas partes que tem por objetivo por fim à sociedade conjugal. É negócio
jurídico bilateral, sendo válido a partir da declaração livre e consciente de ambas as partes.
Se ambos os cônjuges pretenderem por fim ao vínculo conjugal e não quiserem esperar
o tempo de 2 anos para o divórcio direto, poderão optar pela separação consensual, mediante
requerimento assinado por ambos os cônjuges e por seus advogados e submetido à
homologação do juiz.

* Para todos verem: esquema

Manifestação de
ambos os cônjuges

Requisitos para Transcurso do


separação tempo de um ano
consensual (art. da celebração do
1.574, CC) casamento

Preservação dos
interesses dos filhos
ou de um dos
cônjuges

6.4.2 Separação judicial litigiosa

Se não houver possibilidade de consenso para a separação do casal, o conflito deverá ser
resolvido pelo juiz, através da separação litigiosa.
Neste caso um dos cônjuges assume a posição de autor e o outro de réu, sendo que o
autor deverá fundamentar seu pedido na ocorrência de uma causa objetiva ou subjetiva.
Se um dos cônjuges não puder (interdição), será representado por curador, ascendente
ou irmão (art. 1.576, § único) – trata-se de substituição processual. Só cabe na separação
litigiosa.

78
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6.4.2.1 Causas objetivas

a) Ruptura da vida em comum há mais de um ano: Separação-falência. Art. 1.572, §


1.º.
b) Doença mental de um dos cônjuges, deflagrada depois do casamento: doença
deverá ser grave e sua superveniência deve ocorrer após o casamento (se a doença for anterior,
mas descoberta pelo outro cônjuge depois, é causa de anulação). Ex.: esquizofrenia. Além disso,
outros requisitos também devem estar presentes no laudo: que a doença torne insuportável a
vida em comum e que ela seja considerada incurável, após dois anos da sua manifestação inicial.
Separação-remédio. Art. 1.572, § 2.º. Neste caso, o art. 1.572, § 3.º estabelece que a partilha
de bens será diferenciada. Isto porque o legislador quer evitar esse tipo de desfazimento da
união, pois é como se um dos cônjuges estivesse se negando a prestar mútua assistência ao
outro. Então, na dissolução a partilha ficará da seguinte forma: reverterão em favor do enfermo,
que não pediu a separação, o remanescente dos bens que levou para o casamento (comunhão
universal) e se o regime permitir, a meação dos bens adquiridos na constância do casamento.

6.4.2.2 Causas subjetivas:

Neste caso, um dos cônjuges impõe ao outro a culpa pela separação. Separação-sanção.
São causas subjetivas:
a) Grave violação dos deveres conjugais: Os deveres do casamento estão no art. 1.566,
ou seja, fidelidade recíproca, vida em comum, domicílio conjugal, mútua assistência, sustento,
guarda e educação dos filhos e respeito e consideração mútuos. Art. 1.572, caput.
b) Insuportabilidade da vida em comum.
c) Adultério: Art. 1.573, I.
d) Tentativa de morte: Não é necessária a conclusão do processo penal, sendo
suficientes as provas produzidas no inquérito policial, por exemplo. Art. 1.573, II.
e) Sevícia ou injúria grave: sevícias são maus tratos, atos de crueldade ou tortura física
ou mental cometido por um cônjuge contra outro. A prova se dá pelo exame de corpo de delito
(constituem crime). Injúria grave é a violação da honra, reputação, dignidade ou integridade moral
cometida por um cônjuge contra outro. É a atribuição de uma qualidade negativa de um contra o
outro, não admitindo exceção da verdade (só na calúnia). Art. 1.573, III.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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f) Abandono do lar conjugal: afastamento físico e moral do cônjuge da unidade familiar


sem motivo justificável, por mais de 1 ano. Não há abandono se esse afastamento se der em
razão de trabalho. Também não configura abandono de lar se um dos cônjuges sair de casa por
medo de ofensas físicas ou morais ou ameaças praticadas pelo outro cônjuge. Art. 1.573, IV.
g) Condenação por crime infamante: crime infamante é o que repercute no âmbito
pessoal e familiar do autor do crime, ou seja, prejudicará a boa fama da família do autor do fato.
Deve ter havido o trânsito em julgado da sentença. Ex. de crimes infamantes: tortura, tráfico de
drogas, terrorismo, latrocínio,... Art. 1.573, V.
h) Conduta desonrosa: é a que recebe desaprovação social, por afrontar os bons
costumes e a moral social da comunidade onde vivem os cônjuges. Não é a prática de ato ilícito,
mas de ato moralmente reprovável. Art. 1.573, VI.
i) Outros fatos que impossibilitem a vida em comum: é cláusula aberta ao
convencimento judicial, bastando o desaparecimento do affectio societatis, sem necessidade de
devassa da intimidade do casal. Art. 1.573, § único.
Na realidade, todas essas causas podem ser concentradas nos itens “b” ou “i” quando a
separação for irreversível e impossível a reconciliação.
Sempre que ficar caracterizada a insuportabilidade ou a impossibilidade da vida em
comum o juiz deve decretar a dissolução judicial, sem investigar a culpa de um ou outro cônjuge
e sem o requisito do prazo anual da separação de fato (art. 1.572, caput).
Na separação judicial litigiosa cabe ao autor comprovar a culpa do outro cônjuge,
imputando-lhe a causa que levou à dissolução da sociedade conjugal.
Na inicial o autor deve estabelecer todas as cláusulas da separação (alimentos, guarda,
nome do cônjuge, partilha de bens, direito de visitas, etc.), para que se possa discutir ou conciliar
sobre essas cláusulas no correr da ação.
Se na inicial o autor alegar a culpa do outro pelo fim do casamento, na contestação, o
outro poderá alegar que a culpa não era dele, mas sim do autor, fazendo prova nesse sentido.

6.4.3 Efeitos da sentença de separação

a) Dissolução da sociedade conjugal – principal efeito.


b) Extinção do regime de bens – provocando a partilha. Não é necessária a partilha na
separação, podendo ser feita após a separação.

80
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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c) Uso do sobrenome – o CC vinculou o direito a manter o sobrenome do outro à


ocorrência ou não de culpa por parte do portador. Assim, se o portador for inocente, poderá
manter o sobrenome do outro se desejar ou voltar ao nome de solteiro. Se for culpado,
obrigatoriamente deverá voltar ao nome de solteiro. Contudo, a perda não é admitida se o
sobrenome do outro já tiver integrado a identidade do portador, especialmente quanto as
atividades profissionais, de modo que se houver a mudança haverão sérios prejuízos ao
portador.
Ainda assim, sempre dependerá de requerimento do cônjuge inocente, para que isso se
proceda.
Art. 1.578, § 1.º - a qualquer momento o cônjuge inocente poderá renunciar o sobrenome
do outro.
d) Poder familiar – o poder familiar não se altera em razão da separação. A definição da
guarda para um dos cônjuges não impede o acesso do outro aos filhos, nem às decisões que
emanam do poder familiar.

6.4.4 Reconciliação – art. 1.577

Os separados judicialmente poderão a qualquer tempo requerer em juízo o


restabelecimento da sociedade conjugal, pois ela foi apenas dissolvida e não o casamento (o
casamento só é dissolvido pelo divórcio). Bastará que façam uma petição ao juiz, que
determinará a expedição de novo mandado para averbação no Registro, restabelecendo o
vínculo. No entanto, são ressalvados os direitos de terceiros. O regime de bens será o mesmo.
Para que haja a mudança, só com petição nesse sentido (art. 1.639, § 2.º). A reconciliação não
dispõe de eficácia retroativa. Os bens adquiridos na constância da separação não se comunicam.
Se tiver sido convertida a separação judicial em divórcio não mais será possível o
restabelecimento, sendo necessário novo casamento, inclusive com o processo de habilitação.

6.5 Divórcio

O divórcio é o meio voluntário de dissolução do casamento. Possui fundamento


constitucional. Será nos termos dos arts. 731 e ss, CPC/2015. Em razão da EC 66/2010 para

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que as partes possam requerer o divórcio, não mais existem requisitos de prévia separação
judicial ou de separação de fato por 2 anos. Pode ser requerido a qualquer tempo: no mesmo
dia ou no dia seguinte ao casamento. O CPC/2015, no entanto, previu, ainda, o processo de
separação consensual (arts. 693 a 699, CPC/2015 – processo litigioso e arts. 731 a 734,
CPC/2015 – processo consensual).

ATENÇÃO
O divórcio não permite reconciliação!

DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO CIVIL SOBRE DIVÓRCIO:

6.5.1 Divórcio direto – art. 1.580, § 2º

Tem como causa objetiva a separação de fato há dois anos.


Pode ser consensual ou litigioso. Será consensual quando os cônjuges acordarem quanto
às cláusulas estabelecidas (guarda de filhos, alimentos, manutenção ou não do sobrenome, etc).
Existe a presunção da separação de fato alegada pelos cônjuges no pedido. Contudo, o juiz pode
exigir que os cônjuges comprovem que a separação de fato já ultrapassou o prazo de 2 anos, o
que poderá ser feito através de declaração de testemunhas, por exemplo. Essa declaração
poderá ser em audiência ou via documento escrito, com firma reconhecida (só para o
consensual). O divórcio direto consensual visa obter do juiz a homologação judicial, não se
aplicando a regra do art. 1.574, § único do CC (só se aplica à separação). Assim, o juiz só
verificará a configuração dos requisitos legais indispensáveis e homologará o divórcio, sem julgar
se o acordo preserva os interesses dos filhos de um dos cônjuges.
Será litigioso quando não houver acordo sobre essas questões, remetendo ao juiz para a
decisão sobre as divergências. Não se admite discussão de culpa pelo fim do matrimônio (esta
é a função da separação). O pedido deve comprovar a existência de casamento e de separação
de fato por mais de 2 anos. O cônjuge-réu apenas pode contestar quanto ao prazo legal, nada
mais, já que não se admite discussão de culpa pela ruptura do casamento. Admite-se a existência
de audiência de tentativa de conciliação promovida pelo juiz. Se os cônjuges não chegarem a

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um acordo, o juiz decidirá sobre as questões decorrentes do divórcio (guarda, alimentos,


manutenção ou não do sobrenome, etc.).
O divórcio consuma-se pelo trânsito em julgado da sentença, que deverá ser registrada
no cartório.

6.5.2 Divórcio indireto (por conversão) – art. 1.580

Deriva da ocorrência de dois fatores: a) prévia separação judicial (consensual ou litigiosa);


b) transcurso do prazo de 1 ano após o trânsito em julgado da sentença de separação ou da
decisão que determinou a separação de corpos. Pode ser tanto litigioso quanto consensual,
dependendo de haver ou não acordo entre os separados para participar do pedido de divórcio.
A prova a ser feita é documental, baseada na sentença que decreta a separação do casal. Se
confirmar o transcurso do prazo, o juiz deverá decretar o divórcio e determinar a anotação do
registro público.

6.5.3 Partilha de bens no divórcio

A partilha de bens é decorrência do divórcio judicial, mas não é pré-requisito para sua
concessão (art. 1.581). Assim, a partilha poderá ocorrer por acordo das partes antes, durante ou
após o trânsito em julgado do divórcio. É possível realizar divórcio sem prévia partilha de bens
(a partilha pode ser feita, posteriormente, em ação autônoma).

6.5.4 Legitimação para pedir o divórcio – art. 1.582

Em regra, apenas os próprios cônjuges podem pedir o divórcio. Contudo,


excepcionalmente poderão ser representados, como no caso do cônjuge declarado incapaz ou
que, por uma circunstância ocasional, não possa ajuizar diretamente a ação ou defender-se, será
representado por curador, ou por ascendente ou pelo irmão.

6.5.5 Efeitos

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O maior efeito do divórcio é a dissolução do casamento (a sociedade conjugal termina


com a separação, mas o vínculo do casamento só com o divórcio). Quanto ao nome, poderá
manter, salvo disposição em contrário. Art. 1.571, § 1.º. Contudo, quanto ao poder familiar,
independentemente da modalidade de divórcio, não há alteração, exceto quanto ao tipo de
guarda que ficar acordado ou decidido pelo juiz. Ainda assim, a guarda exclusiva de um dos pais
não retira do outro o direito de acesso do filho ao pai não guardião e deste àquele ou o direito-
dever do pai não guardião de participar da formação moral, religiosa e intelectual do filho (art.
1.579).

6.5.6 Divórcio realizado no exterior

Se o divórcio for realizado no exterior, sendo um ou ambos os cônjuges brasileiros, os


efeitos ficam suspensos por um ano da data da sentença judicial. Lei 12.036/2009. Essa regra
não se aplica se o direito estrangeiro também fizer a previsão de prévia separação judicial e
houver transcorrido o prazo de 1 ano da respectiva sentença, de maneira que produzirá efeitos
diretos no Brasil. Contudo, com a EC 66/2010, entende-se que este prazo de suspensão não
precisa ser cumprido22. Em qualquer hipótese, contudo, deverá haver a homologação da
sentença estrangeira pelo STJ. Assim, o casamento do divorciado no exterior sem que tenha
havido homologação do divórcio pelo STJ é nulo.

6.5.6 Cláusulas a serem estabelecidas no divórcio

São fatores indispensáveis para regulação da separação consensual:


a) Guarda dos filhos: modo de exercício do poder familiar sobre os filhos. Poderá ser
compartilhada (quando Pai e Mãe são responsáveis pela educação e criação dos filhos) ou
exclusiva (viverá na casa de um dos pais – o que será o detentor da guarda –, que será
responsável pela criança e esta usufruirá da presença do outro genitor através das visitas). OBS.:
No Brasil não é possível a guarda alternada (a criança viverá sucessivamente, por longos

22CAHALI, Yussef Said. Separações conjugais e divórcio. 12.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 1048-
1050.

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períodos de tempo na casa de cada um dos genitores; cada genitor exercerá alternadamente a
guarda dos filhos).
b) Partilha de bens: pode ser igualitária ou beneficiar integralmente um dos cônjuges,
devendo ser respeitada a liberdade destes. Poderá haver a separação consensual sem que haja
a partilha dos bens. Ela poderá ser feita no divórcio ou até mesmo depois deste, através de um
pedido específico ao juiz para homologação do acordo.
c) Visitas: art. 1.589. No caso de a guarda ficar exclusivamente com um dos genitores, o
outro deverá ter direito de visitas, que deverá ser estipulado na separação a forma que se dará
(livre ou com hora marcada). A lei 12.398/2011 estabeleceu o direito de visitas extensivo aos
avós, no caso de ser benéfico à criança e/ou adolescente.
d) Dever alimentar: Deve ser fixado tanto em favor dos filhos, quanto com relação ao
casal, podendo haver a dispensa mútua dos alimentos (quanto ao casal, não quanto aos filhos).
Por quê? Pois decorrem do parentesco e são irrenunciáveis.
e) Nome do cônjuge: art. 1.578. Poderá haver a continuidade ou não do uso do
sobrenome de um dos cônjuges pelo outro. A regra é que o nome de casado seja retirado.
Contudo, esta regra não se aplica quando o sobrenome do cônjuge já foi incorporado ao nome
do separando/divorciando, em razão dos direitos da personalidade. Dessa forma, desimporta
discutir culpa pelo fim do relacionamento. Se houver a configuração de alguma das hipóteses do
art. 1.578, CC, deverá ser mantido o sobrenome do cônjuge.

6.5.7 A possibilidade de julgamentos parciais no divórcio – art. 356,


CPC/2015

O art. 356 do CPC/2015 estabelece a possibilidade de julgamento parcial de mérito nas


ações, incluindo-se, aqui, as situações de divórcio. Assim, se a ação de divórcio é cumulada com
guarda, alimentos, visitas, uso do nome, etc., havendo o acordo sobre o divórcio, pode o juiz
decretá-lo e manter o processo em tramitação apenas sobre as questões controversas.
Neste sentido, cabe o julgamento parcial do mérito quando o pedido ou parte dele: a)
mostrar-se incontroverso; b) estiver em condições de imediato julgamento (por desnecessidade
de produção de provas ou revelia).

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SÚMULA DO STJ SOBRE DIVÓRCIO

Súmula 197 - O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia partilha dos bens.
(Súmula 197, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/10/1997, DJ 22/10/1997).

6.5.8 AÇÃO DE DIVÓRCIO CONSENSUAL

Competência: art. 53, I, CPC: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último


domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; ou c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes
residir no antigo domicílio do casal. OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado.
Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem
todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Autores: ambos os cônjuges, pois é consensual
Fundamento legal: Art. 1.571 e ss, CC + art. 731 e ss, CPC – JURISDIÇÃO
VOLUNTÁRIA (não há réu) + art. 226, §6º, CF
Nome da ação: Ação de Divórcio Consensual
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Cláusulas especiais: nas ações de divórcio, devem ser colocadas as cláusulas especiais,
dentro do tópico de fundamentos (alimentos para os filhos, alimentos entre ex-
cônjuges/companheiros, uso de nome, partilha dos bens, guarda dos filhos, visitas)
Pedidos: intimação do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do
art. 698, do CPC; benefício da gratuidade judiciária (se for o caso) 23; total procedência da ação,
com o divórcio do casal; pedido de fixação de alimentos; pedido de fixação de guarda; pedido de
partilha de bens (todas as cláusulas que constarem nos fundamentos, devem vir nos pedidos).
De resto, os pedidos tradicionais das iniciais.
Valor da causa: havendo questões patrimoniais (no caso de haver partilha), é o valor
desses bens; se houver pedido de alimentos, 12x o valor dos alimentos pleiteados; se for só

23Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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dissolução, sem partilha e sem alimentos, sugere-se usar: “Nos termos do art. 291 do Código de
Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”
ASSINATURA: Advogado e partes, por ser consensual

6.5.9 AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO

Competência: art. 53, I, CPC: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último


domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; ou c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes
residir no antigo domicílio do casal. OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado.
Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem
todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Autor: um dos cônjuges
Fundamento legal: Art. 1.571 e ss, CC + art. 693 e ss, CPC + art. 226, §6º, CF
Nome da ação: Ação de Divórcio Litigioso
Requerido: o outro cônjuge
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Cláusulas especiais: nas ações de divórcio, devem ser colocadas as cláusulas especiais,
dentro do tópico de fundamentos (alimentos para os filhos, alimentos entre ex-
cônjuges/companheiros, uso de nome, partilha dos bens, guarda dos filhos, visitas)
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação (art. 695, CPC); intimação
do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício
da gratuidade judiciária (se for o caso)24; total procedência da ação, com o divórcio do casal;
pedido de fixação de alimentos; pedido de fixação de guarda; pedido de partilha de bens (todas
as cláusulas que constarem nos fundamentos, devem vir nos pedidos). De resto, os pedidos
tradicionais das iniciais.
Valor da causa: havendo questões patrimoniais (no caso de haver partilha), é o valor
desses bens; se houver pedido de alimentos, 12x o valor dos alimentos pleiteados; se for só
dissolução, sem partilha e sem alimentos, sugere-se usar: “Nos termos do art. 291 do Código de
Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

24Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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6.5.10 A possibilidade de pleito de alimentos após o divórcio

Uma vez que tenha sido decretado o divórcio do casal, desaparece o vínculo familiar que
dava fundamento ao pleito de alimentos, nos termos do art. 1.694, CC. Contudo, tem ganhado
corpo a tese de que mesmo após o divórcio seria possível fundamentar pedido de alimentos, em
situações em que os ex-cônjuges mutuamente tivessem dispensado os alimentos, em razão do
princípio da solidariedade, previsto no art. 3.º, I, CF. Esta tese vem sendo defendida por Maria
Berenice Dias25 e Flávio Tartuce26 denomina-os de alimentos pós-divórcio.

6.6 Separação e Divórcio Extrajudiciais – art. 733,


CPC/2015

A Lei nº 11.441/2007 introduziu a possibilidade de o divórcio ou a separação consensual


serem feitos via escritura pública, através do Tabelionato de Notas.
* Para todos verem: esquema

Consenso
Requisitos do divórcio e
separação extrajudicial

Inexistência de filhos incapazes ou nascituros


(NCPC) - Cabe, neste caso, emancipar os
filhos menores de idade para realização do
divórcio extrajudicial. O CPC/15 retirou o
termo menores, deixando incapazes e
incluindo nascituros

Obersvância do prazo de 01 ano da


celebraçaõ do casamento para o caso de
separação - Com a Emenda Constitucional n.
66 não é mais exigido

Observância do prazo de 02 anos de


separação de fato para o divórico - Com a
emenda constitucinoal n. 66 não é mais
exigido

Assistência de advogado

25 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 566-
568.
26 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 276.

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Quanto as cláusulas, a escritura deve expressar a livre decisão do casal quanto aos
alimentos – poderá haver estipulação de um em favor do outro ou mútua dispensa –, descrição
e partilha dos bens comuns, estipulação quanto a mantença ou mudança do sobrenome do outro.

ATENÇÃO
Enunciado n. 571 da Jornada de Direito Civil: Se comprovada a resolução prévia e
judicial de todas as questões referentes aos filhos menores ou incapazes, o tabelião de notas
poderá lavrar escrituras públicas de dissolução conjugal.

Havendo discordância com relação a qualquer dessas cláusulas o Tabelião não poderá
lavrar a escritura.
Havendo transmissão de bens de um para o outro (no caso de os bens ficarem para um
dos cônjuges apenas), ou seja, quando a partilha não for igualitária, incidirá o ITBI (Imposto de
Transmissão de Bens Imóveis), que deverá ser pago e consignado na escritura, em razão da
diferença de partilha.
Os efeitos do divórcio e da separação produzem efeitos imediatos, pois independem de
homologação judicial, de maneira que assinada a escritura e extraído o traslado, este deverá ser
averbado no Registro Civil e no Registro de Imóveis, para publicizar aos terceiros interessados.
A assistência do advogado é obrigatória e não se resume a somente assinar a escritura.
O advogado deve acompanhar todos os passos da escritura, aconselhando seus clientes,
fazendo a minuta das cláusulas da separação/divórcio.
Na escritura constará a qualificação do advogado e o número da OAB. Cada cônjuge
pode ter o seu advogado ou ambos estarem representados por apenas um. Podem também ser
assessorados pelo Defensor Público, no caso de não possuírem condições de arcar com os
honorários (art. 134, CF).
Os pobres que assim se declararem perante o Tabelião ficarão isentos dos emolumentos
que seriam devidos ao Cartório. Isso porque o Tabelionato e serviço público delegado pelo Poder
Judiciário, ainda que exercido em caráter privado.

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Os cônjuges poderão se fazer representar por procurador, com poderes específicos para
tanto. Ainda nesse caso a presença do advogado é indispensável.
No caso de separação, transcorrido um ano da lavratura da separação, os separados
poderão lavrar outra escritura, convertendo a separação em divórcio. No mesmo caso, poderão
fazer com a separação que tenha se operado judicialmente.
A reconciliação dos separados extrajudicialmente será formalizada também mediante
escritura pública, que será levada à averbação no Registro Civil.
Se já tiver sido proposta a ação judicial, os cônjuges podem optar pela separação ou
divórcio extrajudiciais? Sim, basta pedir a suspensão da ação ou desistir do mesmo.

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08. Parentesco

O rompimento da relação entre os pais não pode significar separação de pais e filhos.
Assim, ao chegar ao fim a relação conjugal, deve ser estabelecida a guarda dos filhos,
estabelecendo com quem ficarão os menores. Contudo, ainda que a guarda seja estabelecida
em favor de um dos pais, o outro tem o direito e o dever de visitar permanentemente o filho.
Os filhos não têm de escolher entre um pai ou outro. Tem o direito de convivência com
ambos. Contudo, sempre que o juiz entender necessário, para estabelecer a guarda do menor,
poderá a criança ser ouvida, atentando para o melhor interesse da criança, sem jamais levá-la a
escolha.
A questão da guarda encontra-se, atualmente, estabelecida pela lei 13.058/2014,
prevendo que a guarda será, obrigatoriamente, compartilhada entre os pais. Desde a entrada em
vigor desta lei, muitas confusões vêm ocorrendo e, a maioria delas, ainda, são no sentido de
confundirem a guarda compartilhada com a guarda alternada. Sendo assim, inicialmente,
apresenta-se a diferenciação entre as modalidades de guardas existentes: unilateral,
compartilhada e alternada.

7.1 Guarda unilateral

A guarda unilateral é aquela em que um dos genitores é detém a guarda física da criança
ou adolescente e o outro detém o direito de visitas. Pela redação trazida pela lei 13.058/2014,
esta modalidade será aplicável apenas quando um dos genitores manifestar que não tem
interesse em deter a guarda do filho.
Também é unilateral a guarda estabelecida a terceiro quando o juiz se convencer que
nenhum dos pais preenche as condições necessárias para tal.
No estabelecimento da guarda, em casos de separação, não importa se um dos pais foi
considerado ou não culpado pela separação. Isto não influenciará na fixação da guarda, mas sim
o melhor interesse da criança. Dessa forma, o filho ficará com aquele que detiver melhores
condições de exercício da guarda.

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Melhores condições não significa, de maneira alguma, melhores condições financeiras. O


juiz deve levar em conta o conjunto de situações existentes para o desenvolvimento moral,
educacional, psicológico do filho. Fator relevante é o de menor impacto emocional ou afetivo
sobre o filho, para essa delicada escolha.
Em situações excepcionais o juiz pode deferir a guarda a terceiros, quando concluir que
nenhum dos pais tem condições de ficar com o filho. Ex.: pais viciados em drogas. Nesses casos,
o parente mais próximo, normalmente presume-se o mais indicado para ficar com a guarda (avós,
por exemplo), mas essa aptidão deve ser confirmada. Nestes casos, ainda, deve ser levado em
conta a afetividade entre a criança e a pessoa que assumirá a guarda. Ex.: um tio/tia ou
madrasta/padrasto podem ter mais afetividade do que os avós.

7.2 Guarda compartilhada

A Lei 13.058/2014 alterou o sistema de guardas até então vigente no Brasil,


estabelecendo a guarda compartilhada como obrigatória, estabelecendo-se mesmo em caso de
litígio entre os genitores (embora não se saiba bem como se daria este funcionamento).
A guarda compartilhada pode ser requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por
qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável
ou, ainda, decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da
distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.
O art. 1.584, § 2.º, CC, com a redação da lei 13.058/2014, estabelece que a guarda
compartilhada é obrigatória ou compulsória.

§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a
guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja
a guarda do menor.

É obrigatória, pois só pode ser afastada motivadamente, cabendo ao juiz analisar a


situação27. Ela estimula a coparentalidade e corresponsabilidade em relação ao filho, que tem
direito de conviver e ser formado por ambos os pais, em igualdade de condições.

27 , Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 265.

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Enunciado n. 603 da Jornada de Direito Civil: A distribuição do tempo de convívio na


guarda compartilhada deve atender precipuamente ao melhor interesse dos filhos, não
devendo a divisão de forma equilibrada, a que alude o §2º do art. 1.583 do Código Civil,
representar convivência livre, ou, ao contrário, repartição do tempo matematicamente
igualitária entre os pais.

Enunciado n. 604 da Jornada de Direito Civil: A divisão, de forma equilibrada, do tempo


de convívio dos filhos com a mãe e com o pai, importa na guarda compartilhada pelo §2º
do art. 1.583 do Código Civil, não deve ser confundida com a imposição do tempo previsto
pelo instituto da guarda alternada, pois esta não implica apenas a divisão de tempo de
permanência dos filhos com os pais, mas também o exercício exclusivo da guarda pelo
genitor que se encontra na companhia do filho.

Enunciado n. 605 da Jornada de Direito Civil: A guarda compartilhada não exclui a fixação
do regime de convivência.

Enunciado 606 da Jornada de Direito Civil: o tempo de convívio com os filhos “de forma
equilibrada com a mãe e com o pai” deve ser entendido como divisão proporcional de
tempo, da forma que cada genitor possa se ocupar dos cuidados pertinentes ao filho, em
razão das peculiaridades da vida privada de cada um.

Contudo, a Lei nº 13.058/2014, ao estabelecer essa obrigatoriedade, vai contra uma


situação importante: a necessidade de diálogo entre os genitores para que esta modalidade de
guarda possa ser implementada. A lei torna a guarda compartilhada medida impositiva, mesmo
havendo litígio entre os genitores e, neste sentido, cria mais problemas, do que apresenta
soluções.
Nestes casos, é estabelecida a residência do filho na residência de um dos pais, até para
que a criança tenha referência de um lar, mas terá a liberdade de frequentar a casa do outro
quando e como quiser ou, até mesmo, viver de forma alternada em uma ou outra casa.
O ponto central da guarda compartilhada é a igualdade entre os genitores nas decisões
que influenciem na vida do filho, de modo que evita que um dos genitores seja mero coadjuvante
e só colabore financeiramente para o sustento do filho.

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Deve ficar claro que o estabelecimento desta modalidade de guarda nada tem de relação
com a dispensa do pagamento de alimentos com relação aos filhos, devendo, para tanto, sempre
ser levado em consideração a relação do trinômio necessidade x possibilidade x
proporcionalidade.

Enunciado n. 607 da Jornada de Direito Civil: A guarda compartilhada não implica


ausência de pagamento por pensão alimentícia.

7.3 AÇÃO DE REGULAMENTAÇÃO DE GUARDA

Competência: art. 53, I, a, CPC: domicílio do guardião de filho incapaz. OBSERVAÇÃO:


Cuidado com o que disser no enunciado. Somente colocar Vara de Família se assim houver
menção no enunciado. Lembre-se que nem todas as Comarcas possuem Varas especializadas.
Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Fundamento legal: Art. 1.583 e ss, CC + art. 693 e ss, CPC, art. 22 e 33 a 35 do Estatuto
da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90).
Nome da ação: Ação de Regulamentação de Guarda
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação (art. 695, CPC); intimação
do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício
da gratuidade judiciária (se for o caso)28; total procedência da ação com o fim de conceder a
guarda definitiva de ... para o Autor, expedindo-se o competente termo de guarda, fixando-se o
direito de visitas do Requerido. De resto, os pedidos tradicionais das iniciais.
Valor da causa: por não haver questões patrimoniais, sugere-se usar: “Nos termos do art.
291 do Código de Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”
OBSERVAÇÃO: Essa mesma estrutura é utilizada para a regulamentação de visitas e
para a modificação de guarda.

28Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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7.4 Guarda alternada

A guarda alternada é uma modalidade que se aproxima da guarda compartilhada, pois o


tempo de convivência do filho é divido entre os pais, passando a viver alternadamente, de acordo
com o que ajustarem os pais ou o que for decidido pelo juiz, na residência de um e de outro. Ex.:
no caso de pais que vivam em cidades diferentes, o filho reside durante o período escolar com
um dos pais e, durante as férias, com o outro.
Sua utilização é bastante rara, pois pode trazer certa instabilidade para a criança, sendo
aplicada apenas em casos excepcionais e se evidenciado que trará benefícios para o menor.

O filho permanece um tempo com o pai e um tempo com a mãe, pernoitando certos dias
da semana com o pai e outros com a mãe. [...] Alguns a denominam como a guarda do
mochileiro, pois o filho sempre deve arrumar a sua mala ou mochila para ir à outra casa29.

No Brasil não é aplicável e vem sendo muito confundida com a guarda compartilhada,
especialmente após a entrada em vigor da lei 13.058/2014, que estabelece no art. 1.583, § 2.º
que, na “guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma
equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses
dos filhos”.
Contudo, o enunciado 518 das Jornadas de Direito Civil, não impede que haja a fixação
da guarda da maneira que atenda ao melhor interesse da criança.

Enunciado n. 518 da Jornada de Direito Civil: A lei n. 11.698/08, que deu nova redação aos
arts. 1.583 e 1.584 do Código Civil, não se restringe à guarda unilateral e à guarda
compartilhada, podendo ser adotada aquela mais adequada à situação do filho, em
atendimento ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. A regra aplica-
se a qualquer modelo de família. Atualizados os enunciados n. 101 e 336 em razão de
mudança legislativa, agora abrangidos por este enunciado.

A guarda pode ser unilateral ou exclusiva, quando exercida por apenas um dos pais; ou
compartilhada, quando exercida por ambos.

29 , Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 271.

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Quando os pais estiverem separados, a preferência é para que acordem quanto a guarda
dos filhos. Contudo, o juiz deve observar se o acordo observa o melhor interesse da criança (art.
1.586).
A guarda pode ser modificada se ficar provado que o guardião ou pessoas de sua
convivência familiar não trata convenientemente a criança ou o adolescente.
EXEMPLO: a mãe que ficou com a guarda do filho que vem a contrair nova união. Se o
companheiro da mãe tiver conduta prejudicial à formação da criança, a guarda poderá determinar
a retirada do menor de tal convivência, transferindo a guarda para o pai ou terceiro. Também
poderá haver a modificação da guarda se este abusar de seu direito, excedendo os limites da
guarda.
A guarda pode ser estabelecida a terceira pessoa, desde o nascimento, se houver
abandono afetivo. Ex.: se a mãe biológica abandonou a criança, a guarda pode ser estabelecida
em favor da avó.

7.5 Direito de visitas

O genitor que não ficar com a guarda terá direito de visitas, conforme convencionado entre
os genitores ou definido pelo juiz. Não devem haver grandes limitações, sob pena de prejudicar
a própria criança.
A regulamentação do direito de visitas deve ser estabelecida já na separação ou divórcio
(art. 729, III, CPC/2015).
O direito de visitas não se restringe a visitar o filho na residência do guardião ou no local
que este designe. Abrange o direito de ter o filho em sua companhia e o de fiscalizar sua
manutenção e educação (art. 1.589, CC).
Cabe ao pai não guardião o direto-dever de fiscalizar o exercício da guarda, de maneira
que se ela não estiver sendo desempenhada da melhor forma possível, no melhor interesse da
criança, o genitor não guardião poderá requerer ao juiz que destitua aquele que está com a
guarda exclusiva e a transfira para si.
Mas o direito de visita não se restringe apenas ao pai não guardião, mas também aos
familiares deste (avós, tios, primos), ou seja, a criança deve ter contato afetivo tanto com a família
da mãe, quanto a do pai – art. 1.589, § único.

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As visitas só podem ser negadas – tanto nos casos dos genitores, quanto nos casos dos
familiares destes – quando houver sérios indícios de prejuízos para a criança, que
desaconselhem as visitas. Nestes casos o juiz poderá restringir ou suspender as visitas.

7.6 Síndrome da Alienação Parental – SAP

A Lei 12.318, de 2010 foi criada para evitar a chamada alienação parental, quando um
dos genitores induzia a criança a romper laços afetivos com o outro genitor. Situações como
estas normalmente ocorrem com o rompimento de um relacionamento, quando, como forma de
represália, os genitores passam a criar falsas memórias nas crianças.
Como uma espécie de vingança, o genitor que não aceita a separação, que se sente
abandonado, começa a criar dificuldades para que o outro siga se relacionando com o filho.
Trata-se de um processo de destruição, desmoralização e descrédito do ex-cônjuge, o que é
feito na frente do filho. Exemplo desta situação ocorre/ocorreu na novela “Salve Jorge” onde o
casal Antonia e Celso se separam, ele não aceita o divórcio e começa a “infernizar” a vida da ex-
esposa com a filha. O casal briga pela guarda e, depois de ser estabelecida uma “guarda
compartilhada”, o genitor sempre tenta impedir que a Mãe veja a filha; quando a menina está em
sua casa tenta desrespeitar horários, etc, na tentativa de “difamar” a Mãe para a filha, para que
a menina passe a rejeitar a genitora.
A Síndrome da Alienação Parental – SAP – é uma espécie de “programação” para que a
criança rejeite e odeio o outro genitor, sem qualquer justificativa. O genitor “agressor” passa a
ser visto como “verdade absoluta” pela criança e, o outro genitor, como “invasor”.
Assim, um dos genitores, magoado com o fim do relacionamento, procura afastar os filhos
do outro genitor, denegrindo sua imagem perante a criança e prejudicando o direito de visitas.
Esta conduta é prevista no art. 2.º da lei 12.318:

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da


criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou
pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim
declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de
terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade
ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;

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III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;


IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou
adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para
obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com
avós.

Para resolver tais situações, cabe ao juiz, em verificando a ocorrência da alienação


parental, alterar a guarda e o direito de visitas e, até mesmo impedi-lo. Como uma última solução
(a mais drástica) é possível suspender o exercício do poder familiar.

08. Parentesco

“Entende-se por parentesco a relação jurídica, calcada na afetividade e reconhecida pelo


Direito, entre pessoas integrantes do mesmo grupo familiar, seja pela ascendência,
descendência, ou colateralidade, independentemente da natureza (natural, civil ou por
afinidade)” (Gagliano e Pamplona Filho).
O parentesco pode ser (art. 1.593, CC): natural ou biológico; civil (adoção ou inseminação,
por exemplo); afetividade (ainda que a legislação não faça previsão, há o reconhecimento desta
modalidade de parentesco pelos Tribunais (decisões que permitem a inclusão de dois Pais ou
duas Mães na certidão de nascimento).
Enunciado n. 103 da Jornada de Direito Civil: O Código Civil reconhece, no art. 1593,
outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo,
assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental proveniente quer
das técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não
contribuiu com seu material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na
posse do estado de filho.
Processo de desbiologização da paternidade-maternidade-filiação – evolução da
engenharia genética deixou de limitar os vínculos de parentesco à verdade biológica.
Parentesco natural: Parentesco natural é o que decorre da consanguinidade dos
parentes, ou seja, é o vínculo biológico que liga as pessoas.

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Parentesco civil: Parentesco civil é o decorrente da socioafetividade, do parentesco por


adoção, tendo qualquer outra origem, que não seja a biológica (fertilização in vitro, p. ex.).
Parentesco por afinidade: Parentesco por afinidade é o decorrente do casamento e da
união estável, vinculando-se com os parentes do cônjuge ou companheiro. Significa dizer que
somos parentes dos parentes do nosso cônjuge ou companheiro (ou, em uma linguagem vulgar,
com o casamento, o pacote vem completo). Contudo, os afins de um cônjuge não são afins do
outro, nem os parentes colaterais dos afins são parentes em relação àquele. Nesse sentido o
art. 1.595, § 1.º, CC estabelece:

§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos


irmãos do cônjuge ou companheiro.

8.1 Classificação do parentesco quanto a linhas e graus

O parentesco divide-se em linha reta e linha colateral.


LINHA RETA é o previsto no art. 1.591, CC e estabelece-se quando a relação se dá entre
uma pessoa e seus ascendentes e descendentes. Ex.: avô, pai, filho. Esse parentesco é infinito,
não se limitando (enquanto existir um parente ascendente ou descendente vivo).
O parentesco em linha reta é infinito.
Os parentes mais próximos preferem aos mais remotos, quanto aos direitos e obrigações
recíprocos (Ex.: art. 1.833). Significa dizer, por exemplo que, se tenho pais que podem prestar
alimentos, não posso cobrar dos avós.
Existe a linha reta ASCENDENTE e a DESCENDENTE.
LINHA COLATERAL ou LINHA TRANSVERSAL é o parentesco no qual os parentes se
relacionam mediante um ancestral comum, sem descenderem uns dos outros, pressupondo um
ancestral comum, de maneira que parentes colaterais não descendem uns dos outros. Ex.:
irmãos (o pai é o ancestral comum). Este parentesco é finito e limita-se ao 4.º grau colateral (para
fins sucessórios), ao 3.º grau colateral (para fins de casamento) e, ao 2.º grau colateral (para fins
alimentares).
O parentesco colateral entre irmãos pode ser bilateral ou unilateral, conforme provenham
dos mesmos pais (irmãos germanos), ou tenham apenas o mesmo pai ou mesma mãe.

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Não existe parente colateral em 1.º grau, pois não descendem uns dos outros, ou seja, se
conta subindo ao ascendente comum, de maneira que há, no mínimo dois graus e três pessoas
relacionadas.
GRAU é a unidade de parentesco em cada linha, contada a partir de uma pessoa e seu
parente imediatamente próximo. Ex.: o avô é parente em 2.º grau do neto (há o pai entre eles).
O critério para a contagem dos graus é o número de gerações. Grau, portanto, é a distância que
separa um parente do outro.
CONTAGEM EM LINHA RETA: Toma-se como ponto de partida determinada pessoa e
conta-se a distância geracional entre ela e o parente que se quer chegar. Tantos serão os graus
quantas forem as gerações (art. 1.594, 1.ª parte).
CONTAGEM EM LINHA COLATERAL: Inicia-se a partir de determinada pessoa, subindo-
se até o ascendente comum da outra pessoa (o primeiro comum), daí descendo-se até esta, para
se poder constatar ou não a relação de parentesco, no limite legal de 4.º grau. Não há parentes
colaterais de primeiro grau, pois uns não descendem dos outros.
EXEMPLO: para contar o grau de parentesco entre A e seu tio B, sobe-se de A até seu
pai C; a seguir a seu avô D e depois se desce a B, tendo-se então, 3 graus, correspondendo
cada geração a um grau.
* Para todos verem: esquema de contagem do grau de parentesco

Avô
“D”
3.º 2.º Pai
Tio
“C”
“B”
1.º

O adotado assume integralmente a condição de filho do adotante, desligando-se dos


vínculos com a família e parentes biológicos (art. 1.626). Assim, todos os parentes dos adotantes
serão do adotado.

8.2 Afinidade

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Art. 1.595, CC – O parentesco por afinidade é estabelecido em decorrência do casamento


ou da união estável. É o vínculo que se estabelece entre um dos cônjuges/companheiro e os
parentes do outro.
É estabelecido por lei – art. 1.595, CC e depende da existência de casamento válido ou
união estável. O concubinato ou o casamento putativo não gera a afinidade.
Os parentes afins são equiparados aos consanguíneos, mas não são iguais. O enteado,
por exemplo, não é igual ao filho, não gerando direitos e deveres iguais aos que possui o último.
O parentesco estabelece-se em linha reta (sogro, sogra, genro, nora, enteado), de forma
infinita, que jamais se extingue, gerando impedimentos para o casamento (art. 1.521, II) e em
linha colateral (cunhados), até o 2.º grau, que se extingue com o fim do casamento (morte ou
divórcio). Art. 1.595, § 2.º. Deve-se observar que essa extinção só ocorre com o divórcio e não
com a separação.

09. Filiação e reconhecimento dos filhos

“A filiação pode ser conceituada como sendo a relação jurídica decorrente do parentesco
por consanguinidade ou outra origem, estabelecida particularmente entre os ascendentes e
descendentes de primeiro grau”30.
No direito brasileiro a filiação é biológica ou não biológica, reforçando-se a ideia da
necessidade de reconhecimento da paternidade/maternidade por afetividade.
Como é feita a comprovação da filiação? A filiação é demonstrada pela certidão do registro
de nascimento, efetuado junto ao cartório civil.
Possibilidade do reconhecimento da multiparentalidade, ou seja, do reconhecimento, no
registro civil dos indivíduos, tanto da paternidade biológica, quanto da socioafetiva. Não existe
um grande número de decisões a esse respeito, mas algumas sentenças já estão determinando
o registro duplo da criança (dois pais ou duas mães) e, a partir daí, direitos alimentares e
sucessórios, também múltiplos.

30 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013,
p. 328

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9.1 Presunção legal de filiação

Independentemente da verdade biológica, a lei presume que a maternidade é sempre


certa (em razão do parto), e o marido da mãe é o pai de seus filhos. Nesse sentido, a presunção
é “pater is est quem nuptiae demonstrant” (pai é aquele que as núpcias demonstram).
O art. 1.597 estabelece casos de presunção de paternidade. Serve para casos em que o
genitor não possa registrar (por já estar morto ou ausente do local de domicílio, p.ex.).
Existem discussões sobre estas presunções, especialmente sobre sua aplicação aos
casos de união estável. A lei prevê a presunção de filiação na “constância do casamento”, mas
esta presunção pode aplicar-se integralmente à união estável, desde que exista declaração de
união estável ou certidão de nascimento de outro filho comum.

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:


I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência
conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por
morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes
de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do
marido.

Essa presunção, contudo, não é absoluta, sendo ilidida através de prova em contrário.
Mas a ação para ilidir a presunção de paternidade só pode ser proposta pelo marido ou
companheiro da mãe da criança. A prova é feita via DNA. Neste aspecto, deve-se atentar para o
fato de que ação que contesta esta paternidade (1.601, CC) é a negatória de paternidade. Esta
ação só é cabível se proposta pelo pai (art. 1.601) e é imprescritível. Deve-se observar, contudo,
a questão da paternidade socioafetiva nestes casos. Essa ação, contudo, não pode ser proposta
quando a paternidade for decorrente de fecundação heteróloga.

Enunciado n. 258 da Jornada de Direito Civil: Não cabe a ação prevista no art. 1.601 do
Código Civil se a filiação tiver origem em procriação assistida heteróloga, autorizada pelo
marido nos termos do inc. V do art. 1.597, cuja paternidade configura presunção absoluta.

102
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A prova da impotência do varão à época da concepção (impotência generandi), ilide a


presunção de paternidade (art. 1.599), mas a confissão de adultério não ilide (1.600 + 1.602). O
exame de DNA serve como forma de sanar quaisquer dúvidas quanto a paternidade.
No caso de inseminação artificial heteróloga a presunção de filiação decorre
exclusivamente da verdade afetiva, de modo que é reconhecida a filiação mesmo diante da
certeza da inexistência de filiação biológica.

9.2 Paternidade registral

O registro de nascimento é meio de prova da filiação, não sendo, contudo, o único, já que
a declaração manifestada perante o juiz, a escritura pública, o escrito particular e o testamento,
também comprovam a filiação (art. 1.609).
Todo aquele que se apresenta no Cartório e registra um recém nascido, declarando-se
como pai do mesmo, passa assim o ser considerado para todos os fins legais. O registro só pode
ser invalidado se houver erro ou falsidade (art. 1.604). Nestes casos, se o pai que registrou a
criança, acreditando ser filho seu, descobrir que não é, deve ingressar com ação anulatória de
paternidade.
Segundo Tartuce31, esta situação não se aplica nos casos de socioafetividade.
* Para todos verem: esquema

Regra: não cabe a quebra do que


consta do registro de nascimento

Exceção: o registro pode ser quebrado


Conforme Tartuce nos casos de erro ou falsidade do
registro - Ação anulatória

Exceção da exceção (retroage à


regra): a quebra do registro não pode
ocorrer nos casos de parentalidade ou
paternidade socioafetiva

É cabível o registro de nascimento de filhos de casais homoafetivos, oriundos se


inseminação artificial, independentemente de ação judicial.

31 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013,
p. 349

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Enunciado n. 608 da Jornada de Direito Civil: É possível o registro de nascimento dos


filhos de pessoas do mesmo sexo originários de reprodução assistida, diretamente no
Cartório do Registro Civil, sendo dispensável a propositura de ação judicial, nos termos
da regulamentação da Corregedoria local.

9.3 Inseminação artificial

O art. 1.597 presume como tendo sido concebidos na constância do casamento os filhos
havidos por técnicas de reprodução assistida: homóloga, mesmo que falecido o marido; havidos,
a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção
artificial homóloga; e os havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que exista prévia
autorização do marido.
HOMÓLOGA: é a concepção que decorre da manipulação de gametas masculinos e
femininos do próprio casal. O filho será sempre do casal, pois biologicamente é filho!
Enunciado n. 106 da Jornada de Direito Civil: Para que seja presumida a paternidade do
marido falecido, será obrigatório que a mulher, ao se submeter a uma das técnicas de
reprodução assistida com o material genético do falecido, esteja na condição de viúva,
sendo obrigatório, ainda, que haja autorização escrita do marido para que se utilize seu
material genético após a morte.

A fecundação é feita in vitro e depois o óvulo é implantado na mulher. Não é necessária


autorização do marido para tal prática. Contudo, para os casos de inseminação post mortem,
necessário o expresso consentimento do marido para que isso ocorra e gere a presunção de
paternidade (Enunciado 106 do Conselho de Justiça Federal). Se não houver tal consentimento,
os embriões devem ser descartados, pois não há presunção de que alguém queira ser pai depois
de morto:

HETERÓLOGA: é a concepção que utiliza esperma de um doador, mas com a


concordância do marido. Trata-se de filiação afetiva, pois biologicamente não é filho do pai. A
fecundação é feita com o óvulo da mulher e em seguida implantado. O vínculo de filiação, neste
caso, é estabelecido com a parturiente que, no caso de ser casada, o marido será, por presunção
legal, o pai do filho gerado, se tiver consentido com tal prática. Mas e se o casal separar, poderá

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haver a retratação? Sim, desde que a retratação ocorra antes da implantação do óvulo, pois a
autorização não pode ter duração infinita.

ATENÇÃO
Enunciado 104 da Jornada de Direito Civil: No âmbito das técnicas de reprodução
assistida envolvendo o emprego de material fecundante de terceiros, o pressuposto fático
da relação sexual é substituído pela vontade (ou eventualmente pelo risco da situação
jurídica matrimonial) juridicamente qualificada, gerando presunção absoluta ou relativa
de paternidade no que tange ao marido da mãe da criança concebida, dependendo da
manifestação expressa (ou implícita) da vontade no curso do casamento.

EMBRIÕES EXCEDENTÁRIOS: embrião é o óvulo fecundado em suas primeiras 8


semanas de desenvolvimento no útero materno. Pré-embrião é o óvulo fecundado até os seus
primeiros 14 dias. Embrião excedentário é o fecundado in vitro, não aproveitado imediatamente
pelo casal e armazenado em laboratório. Todos os embriões excedentários que venham a ser
utilizados (a qualquer tempo), presumem-se tenham sido concebidos na constância do
casamento (art. 1.597, IV – havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga).

BARRIGA DE ALUGUEL: é vedada constitucionalmente (art. 199, § 4.º). É permitida a


cessão temporária do útero, sem fins lucrativos, desde que a cedente seja parente até o segundo
grau (mãe, avó, neta ou irmã) da mãe genética. Também parentes por afinidade, até segundo
grau, podem ceder o útero (sogra ou cunhada).

9.4 Filiação e afeto – Filiação socioafetiva

A posse do estado de filho constitui-se de modalidade de parentesco civil de origem afetiva


(art. 1.593). Revela a constância da relação entre pais e filhos, caracterizando uma paternidade
que não existe só pelo fator biológico, mas em decorrência de uma convivência afetiva.
Segundo Nader (p. 279) o “critério socioafetivo dimana de uma situação fática, que nasce
da educação, amparo, proteção, afetividade, aplicados na criação de uma pessoa e por quem
não é pari ou mãe biológica”.

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Posse do estado de filho: quando as pessoas desfrutam da aparência (teoria da


aparência) do estado de filho, o que não pode ser desprezado pelo direito. Essa condição não
se estabelece com o nascimento, mas sim com um ato de vontade, que se sedimenta no terreno
da afetividade. A filiação socioafetiva assenta-se no reconhecimento da posse do estado de filho.
Digamos que os pais tenham falecido e não tenham procedido ao registro do filho, como
ficará essa situação? O art. 1.605 exige que haja “começo de prova por escrito, proveniente dos
pais”. Assim, a posse do estado de filho é uma situação de fato, uma indicação da relação de
parentesco, uma presunção legal. Ela oferece parâmetros para o reconhecimento da relação de
filiação.
Para o reconhecimento da posse do estado de filho, devem estar presente três aspectos,
os quais não necessariamente estarão em conjunto:
* Para todos verem: esquema
Tractatus: quando o filho é
tratado como tal, o tratamento
dispensado entre o que
apresenta ser o ascendente e
o descendente

Nominatio: usa o nome da


Conforme Tartuce família e assim se apresenta

Reputatio: conhecido pela


opinião pública como
pertencente à família de seus
pais (aparência do estado de
filho)

Assim, aquele que detém a posse do estado de filho pode buscar o reconhecimento
jurídico da filiação. Qualquer meio de prova pode ser utilizado, mas a lei prevê (art. 1.605) que
tenham dois requisitos: a existência de começo de prova por escrito (cartas, autorização para
atos em benefício dos filhos, declaração de filiação para fins de imposto de renda ou previdência
social, anotações dando conta do nascimento do filho), proveniente dos pais, ou presunções
veementes da filiação resultante de fatos já certos.
A tutela jurídica da posse do estado de filho abriga dos chamados filhos de criação, que
se enquadram na filiação socioafetiva. A posse do estado de filiação, consolidada no tempo, não
pode ser contraditada por investigação de paternidade fundada em prova genética.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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9.5 Prova da filiação

No direito brasileiro a prova da filiação é feita pela certidão de nascimento registrada no


Registro Civil (art. 1.603). Contudo, essa prova não é exclusiva, pois se admite a prova da posse
do estado de filiação (art. 1.605). Também não é definitiva, pois admite eventual invalidação (art.
1.604).
O art. 50 da Lei 6.015/73 estabelece que todo nascimento deverá levado a registro, no
lugar onde tiver ocorrido o parto ou no local de residência dos pais, no prazo de 15 dias.
O art. 52 estabelece que o dever de fazer a declaração de nascimento é dos pais ou, na
falta destes, o parente mais próximo, prosseguindo sucessivamente o ônus nas pessoas dos
administradores de hospitais, dos médicos, das parteiras, terceiros, que tiverem assistido ao
parto.
Se a mãe for casada, constará o nome do marido como pai, pela presunção de
paternidade. Se não o for, o nome do pai só constará no registro se ele assim se declarar.
O registro de nascimento produz uma presunção de filiação quase absoluta, pois apenas
pode ser invalidade se provado que houve erro ou falsidade.
O art. 1.604 estabelece que ninguém poderá vindicar estado contrário ao que resulta do
registro de nascimento. Assim, a validade do registro pode ser impugnada apenas nas hipóteses
de erro ou falsidade.
A prova da filiação, acolhida em juízo, é o quanto basta para regularizar o registro de
nascimento e a certificação da paternidade e maternidade. A ação de estado de filiação não
prescreve nem decai em tempo algum.
Ação de prova de filiação ≠ ação de investigação de paternidade → A ação de prova
de filiação (art. 1.606) busca comprova a situação de fato (posse do estado de filho), cuja
aparência resulta de presunção veemente ou de começo de prova escrita dos pais. É a
regularização do registro de nascimento que deixou de ser feito por algum motivo. O pai sempre
se comportou como tal. Não cabe o exame de DNA. Na segunda, objetiva-se o reconhecimento
compulsório do filho, por omissão ou recusa do investigado, tenha ou não havido convivência
familiar.
O legitimado para propor a ação de prova de filiação é somente o filho, que não pode ser
substituído por quem quer que seja. É um direito personalíssimo e imprescritível (o titular pode

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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propor enquanto estiver vivo). Os herdeiros não podem propor esta ação, de maneira que só
poderão prosseguir na ação iniciada pelo titular.
No caso de filho menor a ação poderá ser intentada pelo representante legal, porque será
o próprio filho o autor da ação.

9.6 Reconhecimento de filho

O reconhecimento é o ato que declara a filiação, estabelecendo, juridicamente, o


parentesco entre pai, mãe e filho. Não cria a paternidade, apenas declara um fato. Dessa
maneira, o ato de reconhecimento é declaratório e não constitutivo.
O reconhecimento de estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e
imprescritível, podendo ser exercido contra os pais ou seus herdeiros, sem quaisquer
limitações. Sendo ato personalíssimo, não pode ser feito por avô ou filho, por exemplo. Todavia,
é permitido o reconhecimento por procurador, com poderes especiais para tanto, pois a
declaração de vontade já está expressa na própria procuração.
O ato declaratório do reconhecimento pode decorrer da livre manifestação dos pais,
quando será voluntário ou de sentença proveniente de ação de investigação de paternidade ou
maternidade, quando será judicial.

9.6.1 Voluntário

O reconhecimento voluntário é o meio legal pelo qual pai, mãe, ou ambos, revelam
espontaneamente o vínculo que os liga ao filho, outorgando-lhe o status correspondente (art.
1.607).
* Para todos verem: esquema

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Art. 1.614:
Filho maior necessidade de
consentimento
Reconhecimento
voluntário
Pode impugnar o
reconhecimento nos
Filho menor
04 anos posteriores
a sua maioridade

Reconhecimento de filho falecido – art. 1.609, § único – só é permitido se o filho tiver


deixado herdeiros, caso em que cabe a eles consentir com o ato de reconhecimento. Essa
exigência existe para evitar que haja reconhecimento de filhos a fim de receber herança (caso
de não haverem descendentes, os ascendentes herdarão).

ATENÇÃO
Reconhecimento: ato irretratável ou irrevogável, inclusive se feito através de
testamento (art. 1.610, CC). Pode, contudo, ser anulado se eivado de vício de vontade
(como erro, coação) ou se não observar as formalidades legais (peça adequada: ação
anulatória)
O reconhecimento será feito (art. 1.609, CC – lei 8.560/92):
I - no registro do nascimento. O pai comparece ao Registro Civil e presta declarações
sobre a descendência do registrado, assinando o termo na presença de testemunhas. Se o pai
é o declarante, constando a maternidade no termo de nascimento (emitido pelo Hospital), a mãe
só poderá contestar provando a falsidade do termo ou das declarações nele contidas (art. 1.608).
O registro de nascimento feito por quem sabe não ser o pai biológico da criança é tido como
adoção à brasileira e gera paternidade socioafetiva.
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório. A escritura
pública não precisa ser específica para esse fim, podendo ocorrer em uma escritura de compra
e venda, quando a paternidade será declarada de modo incidente, assinado pelo declarante e
testemunhas. Pode também ocorrer por escritura particular, com firma reconhecida, devendo ser
arquivada no Cartório.
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. O testamento pode ser
cerrado, público ou particular ou especial (art. 1.886). Ainda que o testamento venha a ser

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anulado, o reconhecimento constante nele não perderá o efeito, a menos que o testador não
tenha condições de manifestar sua vontade de forma inequívoca (ex.: se for demente).
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento
não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.

9.6.2 Judicial

Resulta de sentença proferida em ação intentada com o fim de ter o reconhecimento do


filho (ação de reconhecimento da paternidade ou maternidade). Essa ação deve ser intentada
pelo filho, por ser pessoal, mas os herdeiros poderão prosseguir nela, no caso do falecimento do
titular do direito. A ação pode ser ajuizada contra o pai, contra a mãe, ou contra ambos. A
contestação pode ser feita por qualquer pessoa que tenha interesse moral ou econômico na ação
(art. 1.615) (ex.: cônjuge do réu, herdeiros, etc.). A sentença tem eficácia absoluta, valendo
contra todos. Deverá já haver a fixação dos alimentos provisionais ou definitivos.
Deve ser averbada no registro competente.

9.6.3 Oficioso

Lei 8.560/92, art. 2.º. Se apenas a mãe comparecer no Cartório de Registro Civil e esta
indicar o nome do pai, o registrador deverá remeter ao juiz corregedor a certidão do registro e o
nome do indicado pai, devidamente qualificado, para que oficiosamente se verifique a
procedência da imputação da paternidade. A indicação falsa leva a mãe a incursionar no crime
de falsidade ideológica.
O juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada e será notificado
o suposto pai para se manifestar.
Se o suposto pai confirmar a paternidade, será lavrado termo de reconhecimento,
remetendo-se a certidão ao oficial do Registro, para que faça a averbação da paternidade.
Se o suposto pai não se apresentar dentro de 30 dias da notificação judicial, ou se negar
a paternidade, os autos serão remetidos ao MP para que intente ação de investigação de
paternidade, mesmo sem a iniciativa do interessado direto. O MP age como substituto
processual. Mas se o interessado (investigado) quiser, poderá intentar a ação de investigação –
art. 2.º, § 6.º, Lei 8.560/92.

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Art. 2° Em registro de nascimento de menor apenas com a maternidade estabelecida, o


oficial remeterá ao juiz certidão integral do registro e o nome e prenome, profissão,
identidade e residência do suposto pai, a fim de ser averiguada oficiosamente a
procedência da alegação.
§ 1° O juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada e mandará,
em qualquer caso, notificar o suposto pai, independente de seu estado civil, para que se
manifeste sobre a paternidade que lhe é atribuída.
§ 2° O juiz, quando entender necessário, determinará que a diligência seja realizada em
segredo de justiça.
§ 3° No caso do suposto pai confirmar expressamente a paternidade, será lavrado termo
de reconhecimento e remetida certidão ao oficial do registro, para a devida averbação.
§ 4° Se o suposto pai não atender no prazo de trinta dias, a notificação judicial, ou negar
a alegada paternidade, o juiz remeterá os autos ao representante do Ministério Público
para que intente, havendo elementos suficientes, a ação de investigação de paternidade.
§ 5o Nas hipóteses previstas no § 4o deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação
de investigação de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou
a recusa do suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for
encaminhada para adoção. (Redação dada pela Lei nº 12,010, de 2009) Vigência
§ 6o A iniciativa conferida ao Ministério Público não impede a quem tenha legítimo
interesse de intentar investigação, visando a obter o pretendido reconhecimento da
paternidade. (Incluído pela Lei nº 12,010, de 2009) Vigência

9.6.4 Efeitos do reconhecimento

O reconhecimento (voluntário ou judicial) de filho havido fora do casamento produz efeitos


ex tunc, retroagindo até o dia do nascimento do filho ou mesmo de sua concepção se isto for de
seu interesse. O reconhecimento produz os seguintes efeitos:

Efeitos do reconhecimento

Estabelece o parentesco entre o filho e seus pais, atribuindo-lhe o status familiar, fazendo constar no
Registro de nascimento o nome dos pais e avós.

Impede que o filho reconhecido por um dos cônjuges resida no lar conjugal sem a concordância do
outro (art. 1611)

Concede ao filho o direito à assistência e a alimentos

Sujeita o filho menor ao poder familiar do genitor que o reconheceu e, se ambos o reconheceram, e não
houver acordo, sob o poder de quem melhor atender aos interesses do menor (art. 1612)

Concede o direito à alimentos tanto para o genitor quanto para o filho (art. 1694 a art. 1969)

Estabelece o direito sucessório recíproco entre pais e filhos

Autoriza o filho reconhecido a propor ação de petição de herança e nulidade de partilha, em razão da
sua condição de herdeiro

Fica sujeito a deserdação ou indignidade

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9.7 Ações de filiação

9.7.1 Negatória de paternidade

Casos do art. 1.597, CC – a paternidade pode ser impugnada por aquele cujo nome veio
a ser declinado como genitor da criança (marido da mãe da criança). A presunção de paternidade
não é absoluta, de modo que o pai pode elidi-a provando o contrário. A ação é de ordem pessoal,
privativa daquele a quem foi atribuída a paternidade, de maneira que só ele é legitimado a propor
referida ação (art. 1.601). Contudo, se o titular da ação falecer, seus herdeiros poderão
prosseguir com a ação (art. 1.601, § único). A ação negatória é imprescritível (art. 1.601).
IMPOTÊNCIA GENERANDI: impossibilidade de conceber filho. Para tanto será exigida
perícia médica que comprove a impotência absoluta, pois se houver mero distúrbio psíquico
transitório, a presunção será mantida, só sendo elidida pelo exame de DNA. Trata-se da
impotência em razão de infertilidade.
ADULTÉRIO DA MULER: deve provar que houve adultério e relação sexual de sua
mulher com outro homem. Mas por si só não é fato para justificar a negatória de paternidade,
devendo, ainda, provar que estava fisicamente impossibilitado de gerar filhos à época da
concepção. Ex.: estava separado judicialmente, não tendo convivido um só dia sob o mesmo
teto, daí não ter havido qualquer relação sexual entre eles. Assim, o adultério serve como prova
complementar na negatória de paternidade.

9.7.2 Negatória de maternidade

A maternidade só pode ser impugnada se comprovada a falsidade do termo de


nascimento (falsidade material) ou das declarações nele contidas (falsidade ideológica), por ter
havido equívoco na qualificação da verdadeira mãe, não ter ocorrido o parto, atribuição de filho
pertencente a outra mulher, etc. (art. 1.608). Várias são as situações que podem determinar a
ação, como por exemplo troca de bebês na maternidade, falsidade instrumental ou ideológica no
registro, etc.

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9.7.3 Anulatória

Quando o reconhecimento é feito pelo suposto genitor (voluntária ou judicialmente). É ato


irretratável e incondicional. Contudo, poderá emanar de vícios de vontade ou defeitos formais de
registro. Neste caso a modificação do registro somente se admite com a ação anulatória. O autor
da ação poderá ser tanto o pai que reconheceu, quanto o filho reconhecido. Pode também ser
proposta pelo MP, quando pai e filho estarão no polo passivo da ação. A ação é imprescritível,
pois se trata de estado de filiação.

9.7.4 Investigatória

Por meio da ação investigatória de paternidade busca-se a declaração de seu respectivo


status familiae. Processa-se mediante ação ordinária proposta pelo filho contra o genitor ou seus
herdeiros ou legatários. Caso o investigante faleça antes do fim da ação, seus herdeiros poderão
prosseguir na ação, mas não poderão intentá-la em nome do investigante. Nesse sentido, o
direito à investigação de paternidade é personalíssimo, na medida em que pode ser exercida
somente pelo filho (podendo ser representado ou assistido, se menor de idade); é indisponível,
já que não pode ser renunciado; é imprescritível, pois pode ser exercido a qualquer momento
(súmula 149, STF).
Contudo, deve-se destacar que a Lei 8.560/92, no art. 2.º, §§ 4.º e 5.º reconheceu a
possibilidade de o MP propor a ação de investigação de paternidade.

Súmula 149 do STF: É imprescritível ação de investigação de paternidade, mas não o é a


de petição de herança.

Questão controvertida na investigação de paternidade – a paternidade socioafetiva:


existindo paternidade socioafetiva o entendimento é de que ela não pode ser desconstituída em
nome da verdade biológica.
Questão controvertida na investigação de paternidade – a negativa do suposto pai
de se submeter ao exame de DNA: Há discussões sobre a negativa do pai a submeter-se ao
exame de DNA por ser atentatório a sua dignidade e intimidade. A maioria da doutrina, bem
como o STJ (súmula 301) entende que haverá a presunção da paternidade neste caso.

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Súmula 301 do STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao


exame de DNA, induz a presunção juris tantum de paternidade.

Para terminar com as discussões, a Lei 12.004/09, veio a regulamentar essa questão,
incluindo o art. 2.º-A, § único, da Lei 8.560/92, e estabelecendo que a recusa do réu em se
submeter ao exame de DNA gerará a presunção da paternidade, que deverá ser apreciada em
conjunto com o contexto probatório. Essa presunção é relativa. O juiz, para reconhecê-la, deve
analisar outras provas (fotos da relação do casal, cartas, testemunhas, etc).

IMPORTANTE
A ação de investigação de paternidade pode ser cumulada com alimentos. Os
alimentos possuem rito previsto na lei 5.478/68. A incidência de procedimento especial, nas
ações de alimentos, só é utilizado quando há prova pré-constituída ou parentesco, ou seja,
quando já há o reconhecimento de paternidade. Nos demais casos – na investigação de
paternidade cumulado com os alimentos – a definição de competência e de rito se dá pelo
procedimento das ações de família – art. 693 e seguintes do CPC – e não pelo rito especial da
ação de alimentos.

A legitimidade ativa para propositura da ação de investigação de paternidade é dos


filhos!

9.7.5 Investigação de maternidade

A ação de investigação de maternidade será proposta pelo filho contra a suposta mãe ou
seus herdeiros. Ocorre apenas em situações excepcionais, pois invariavelmente se tem certeza
sobre a maternidade, já que normalmente se o genitor não fizer o registro, a própria mãe o fará.
Prova-se a maternidade, naturalmente, pelo parto. Porém possível a investigação da
maternidade nos casos de abandono, ocultação, exposição indevida e rapto.

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Súmulas do STJ sobre investigação de paternidade


Súmula 277 - Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos
a partir da citação. (Súmula 277, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/05/2003, DJ 16/06/2003 p.
416)
Súmula 301 - Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de
DNA induz presunção juris tantum de paternidade. (Súmula 301, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
18/10/2004, DJ 22/11/2004 p. 425)

9.7.6 AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Competência: art. 46, CPC: ação de direito pessoal. OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que
disser no enunciado. Somente colocar Vara de Família se assim houver menção no enunciado.
Lembre-se que nem todas as Comarcas possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-
se utilizar “... Vara...”
Fundamento legal: Art. 1.607 e ss, CC + art. 693 e ss, CPC, e Lei 8.560/92
Nome da ação: Ação de Investigação de paternidade
Autor: lembre-se que o autor é o filho e que se for incapaz, deverá ser representado ou
assistido pelo representante legal
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Cumulação com alimentos: pode haver a cumulação do pedido de investigação de
paternidade com alimentos. Observar, contudo que, neste caso, aplica-se o procedimento aqui
previsto e não o procedimento da ação de alimentos.
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação (art. 695, CPC); intimação
do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício
da gratuidade judiciária (se for o caso)32; realização de prova pericial laboratorial por meio de
exame de DNA; procedência da presente demanda com o reconhecimento da paternidade
vindicada nesta ação com a consequente expedição do mandado de retificação ao cartório de
registro civil; se houver pedido de alimentos, requerer a fixação dos mesmos. De resto, os
pedidos tradicionais das iniciais.

32Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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Valor da causa: por não haver questões patrimoniais, sugere-se usar: “Nos termos do art.
291 do Código de Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

9.7.7 AÇÃO ANULATÓRIA DE PATERNIDADE

Competência: art. 46, CPC: ação de direito pessoal ou art. 50, CPC, caso o requerido
seja incapaz
OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado. Somente colocar Vara de
Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem todas as Comarcas
possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Fundamento legal: Art. 1.604 e ss, CC + art. 693 e ss, CPC
Nome da ação: Ação anulatória de paternidade
Autor: Pai registral
Requerido: se for incapaz, deverá ser representado ou assistido pelo representante legal
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação (art. 695, CPC); intimação
do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício
da gratuidade judiciária (se for o caso)33; realização de prova pericial laboratorial por meio de
exame de DNA; a procedência da ação com a consequente anulação do registro de nascimento
do requerido, quanto ao reconhecimento da paternidade efetuada pelo autor; expedição de ofício
ao Cartório de Registro Civil determinando a exclusão do nome do autor do registro de
nascimento do requerido. De resto, os pedidos tradicionais das iniciais.
Valor da causa: por não haver questões patrimoniais, sugere-se usar: “Nos termos do art.
291 do Código de Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

9.7.8 AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

33Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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Competência: art. 46, CPC: ação de direito pessoal ou art. 50, CPC, caso o requerido
seja incapaz
OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado. Somente colocar Vara de
Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem todas as Comarcas
possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Fundamento legal: Arts. 1.597 e 1.601, CC + art. 693 e ss, CPC
Nome da ação: Ação negatória de paternidade
OBSERVAÇÃO: Cabível nos casos de presunção de filiação.
Autor: Pai registral
Requerido: se for incapaz, deverá ser representado ou assistido pelo representante legal
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação (art. 695, CPC); intimação
do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício
da gratuidade judiciária (se for o caso)34; realização de prova pericial laboratorial por meio de
exame de DNA; a procedência da ação com a consequente nulidade do registro de nascimento
do requerido; expedição de ofício ao Cartório de Registro Civil determinando a exclusão do nome
do autor do registro de nascimento do requerido. De resto, os pedidos tradicionais das iniciais.
Valor da causa: por não haver questões patrimoniais, sugere-se usar: “Nos termos do art.
291 do Código de Processo Civil. dá à causa o valor de R$...”

34Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

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10. Alimentos

Juridicamente, “os alimentos significam o conjunto das prestações necessárias para a vida
digna do indivíduo” (Gagliano e Pamplona Filho, p. 683).

10.1 Obrigação de prestar alimentos

É um dever personalíssimo, devido pelo alimentante, em razão de vínculo de parentesco,


conjugal ou convivencial que o liga ao alimentado. O art. 1.694, CC determina que

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Não se deve confundir a obrigação de prestar alimentos com os deveres familiares de


sustento, assistência e socorro que tem o marido em relação à mulher e vice-versa e os pais
para com os filhos menores, devido ao poder familiar, pois seus pressupostos são diferentes.
Dever familiar de sustento ≠ obrigação alimentar. Dever familiar de sustento é
decorrência do poder familiar. Obrigação alimentar é fixada judicialmente. O dever familiar de
sustento cessa com a maioridade, sem necessidade de qualquer declaração. Obrigação
alimentar deve ser extinta judicialmente, através de ação de exoneração.

10.2 Natureza da obrigação alimentar

A pretensão alimentar é de natureza personalíssima, não podendo ser objeto de cessão


entre vivos ou de sucessão hereditária. O débito de alimentos pode ser objeto de sucessão, de
maneira que os herdeiros tenham de suportar com seus encargos, no limite de seus quinhões.
A obrigação alimentar não tem função punitiva. Na fixação dos alimentos deve-se observar o
trinômio: necessidade/possibilidade/proporcionalidade, a fim de que não haja enriquecimento
ilícito a partir dos alimentos.

10.3 Características da obrigação alimentar

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O direito a alimentos possui as seguintes características:

ATENÇÃO para as características da obrigação alimentar, muitas questões podem ser


solucionadas com base nelas!

a) É um direito personalíssimo: sua titularidade não passa a outrem;


b) É suscetível de reclamação após o óbito do devedor. É transmissível a obrigação
alimentar. O art. 1.700 do Código Civil determina que o credor de alimentos poderá exigi-los
inclusive dos herdeiros do devedor, se este falecer. Os herdeiros serão responsáveis no limite
de seu quinhão. Na verdade, não existe a transmissão da obrigação, pois o espólio é que será
responsável (débito do espólio). O débito é do falecido. Contudo, se o falecido for o alimentado,
extingue-se a obrigação alimentar, não tendo direito seu espólio a exigir a prestação alimentícia;
c) É incessível em relação ao credor, de maneira que o crédito não pode ser cedido a
terceiro, por ser inseparável da pessoa do credor;
d) É irrenunciável. É possível que se deixe de exercer, mas não que se renuncie o direito
a alimentos. Pode-se renunciar o exercício, mas não o direito, conforme art. 1.707 do Código
Civil.
Discute-se sobre a possibilidade de renúncia de alimentos em sede de separação/divórcio.
A doutrina e a jurisprudência não são uníssonas, ainda que o entendimento majoritário seja no
sentido de admitir a renúncia no divórcio. Nesse sentido, a III Jornada de Direito Civil aprovou
enunciado:

ATENÇÃO
Enunciado n. 236 da Jornada de Direito Civil: O art. 1707 do Código Civil não
impede que seja reconhecida válida ou eficaz a renúncia manifestada por ocasião do
divórcio (direto ou indireta) ou da dissolução da “união estável”. A irrenunciabilidade do
direito a alimentos só é admitida enquanto subsista vínculo de Direito de Família.

Apesar disto, ainda não há uma uniformidade, de forma que, ainda hoje, se encontrem
decisões em ambos os sentidos (algumas admitindo a renúncia e outras, não). Em concursos
públicos, na primeira fase, deve-se observar o que diz a lei: irrenunciabilidade, nos termos do

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art. 1.707, CC. Nas segundas fases e provas orais, deve-se explanar essas discussões
doutrinárias e jurisprudenciais.
e) É imprescritível. Mesmo que não seja exercido, não prescreverá o direito de, no futuro,
pleitear os alimentos. Contudo, se fixados os alimentos, prescreve em 2 anos a pretensão de
cobrança das parcelas em atraso, salvo exceções. Tartuce (p. 436) apresenta uma tabela sobre
a matéria:

* Para todos verem: quadro comparativo

Alimentos fixados
Alimentos devidos
Direito aos Alimentos já em favor de
pelos pais aos
alimentos fixados absolutamente
filhos
incapaz

Não há prazos para


Prazos 2 anos 2 anos 2 anos
se pleitear

A prescrição não
corre entre
A prescrição não
ascendentes e
corre contra
descendentes
absolutamente
A prescrição se durante o poder
Início do prazo incapaz (art. 198, I,
------------- inicia com o familiar (art. 197, II,
prescricional do CC). Só se
vencimento do CC). Só se
iniciará quando o
iniciará quando o
menor completar 16
menor completar 18
anos.
anos ou ocorrer a
emancipação.

f) É impenhorável. Destina-se a prover a subsistência do necessitado e dessa maneira


não pode, de maneira alguma, responder por suas dívidas.
g) É incompensável. Se houvesse compensação dos alimentos com outras obrigações,
tirariam os meios de sobrevivência do alimentado. Mesmo que o alimentante torne-se credor do
alimentado, não poderá haver compensação.
h) É intransacionável. Não é possível a transação quanto ao direito a alimentos, mas
quanto ao valor da prestação, sim.
i) É atual. Os alimentos visam satisfazer as necessidades atuais ou futuras e não as
passadas do alimentando.

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j) É irrestituível. Uma vez pagos, os alimentos não devem ser restituídos, mesmo que a
ação do beneficiário seja julgada improcedente.
k) É variável. É possível a revisão dos alimentos (redução, majoração, exoneração),
desde que haja mudança na situação econômica de quem presta e na necessidade de quem
recebe. Art. 1.699.
l) É divisível. Divide-se entre os parentes do alimentado encarregados da prestação
alimentícia (ex.: entre o pai e os avós). Art. 1.696 e 1.697 e 1.698. Assim, se o parente que deve
os alimentos não tem condições de pagá-los, é possível que se estabeleça o litisconsórcio
facultativo, de forma que o autor da ação chame ao processo os demais parentes, nos termos
do art. 1.698, CC. Aqui se enquadra a situação da obrigação avoenga, quando os avós são
chamados para complementar ou arcar com os alimentos de forma exclusiva, quando os pais
não possuam condições. É neste sentido o Enunciado 342 do CJF/STJ, aprovado na IV Jornada
de Direito Civil:

Enunciado n. 342 da Jornada de Direito Civil: observadas as suas condições pessoais e


sociais, os avós somente serão obrigados a prestar alimentos aos netos em caráter
exclusivo, sucessivo, complementar e não-solidário, quando os pais destes estiverem
impossibilitados de fazê-lo, caso em que as necessidades básicas dos alimentandos
serão aferidas, prioritariamente, segundo o nível econômico-financeiro dos seus
genitores.

m) É periódico: O pagamento da obrigação alimentar deve ser periódico, pois assim se


atende à necessidade de se prover a subsistência. Normalmente é mensal.

A obrigação de prestar alimentos possui as seguintes características:


a) Condicionalidade: Só surge quando ocorrem seus pressupostos legais. Faltando um
deles, cessa a obrigação (se o alimentado adquirir recursos materiais que lhe possibilitem a
mantença, o obrigado ficará liberado).
b) Mutabilidade do quantum da pensão alimentícia: Os alimentos podem sofrer
variações quantitativas e qualitativas. O quantum é fixado analisando o binômio necessidade x
possibilidade. Pode haver redução, majoração ou exoneração. Também haverá a alteração com
as atualizações monetárias e variações do salário mínimo.

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c) Reciprocidade: O parente que presta os alimentos poderá, se mudar sua situação


econômica, solicitá-los àquele a quem prestava.
d) Periodicidade: Seu pagamento poderá ser quinzenal ou mensal, de maneira que não
pode ser pago de uma única vez.

10.4 Pressupostos

Os pressupostos essenciais da obrigação alimentar são:


a) Existência de companheirismo, vínculo de parentesco ou conjugal entre o
alimentando e o alimentante. Podem ser exigidos alimentos entre irmãos? Sim, trata-se de
vínculo de parentesco. Art. 1.697.
b) Necessidade do alimentando. O alimentado deve estar precisando dos alimentos,
pela impossibilidade de trabalhar e prover seu próprio sustento.
c) Possibilidade econômica do alimentante. O alimentante deverá cumprir com o dever,
sem que haja desfalque do necessário ao seu próprio sustento. Nesta análise, serão analisados
os sinais exteriores de riqueza.
Enunciado n. 573 da Jornada de Direito Civil: na apuração da possibilidade do alimentante,
observar-se-ão os sinais exteriores de riqueza.
d) Proporcionalidade, na sua fixação, entre as necessidades do alimentário e os
recursos econômico-financeiros do alimentante.

10.5 Classificação

Quanto à finalidade:

a) Provisionais: se concedidos em ação cautelar preparatória ou incidental. Serão


arbitrados pelo juiz. Podem ser revogados a qualquer momento. Os fixados em cautelar de
separação de corpos, por exemplo. Art. 1.706.
b) Provisórios: Fixados incidentalmente pelo juiz no curso do processo de cognição ou
liminarmente em despacho inicial na ação de alimentos. Tem natureza antecipatória. Liminar em
ação de alimentos.

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c) Regulares: estabelecido pelo magistrado ou pelas partes, com prestações periódicas,


de caráter permanente, embora sujeitos a revisão.

Quanto à natureza:

a) Naturais: compreendem o estritamente necessário à subsistência do alimentando, ou


seja, alimentação, remédios, vestiário, habitação. Art. 1.694, § 2.º (quando resultar de culpa de
quem os pleiteia).
b) Civis: concernem a outras necessidades, como as intelectuais e morais (educação,
instrução, assistência, recreação). Art. 1.694, caput.

Quanto à causa jurídica:

a) Voluntários: resultantes de declaração de vontade, inter vivos ou causa mortis.


EXEMPLO: o marido, na separação, estipula a pensão a prestar à mulher.
b) Ressarcitórios: destinados a indenizar vítima de ato ilícito.
EXEMPLO: autor do homicídio deve prestar alimentos às pessoas a quem o falecido os
devia.
c) Legítimos: impostos por lei em virtude do fato de existir entre as pessoas um vínculo
de família.

Quanto ao momento da reclamação:

a) Atuais: se forem a partir do ajuizamento da ação.


b) Futuros: se devidos após a prolação da decisão. Os alimentos pretéritos não são
devidos.

Quanto à modalidade:

a) Próprios: é o fornecimento direto de alimentos no próprio lar do alimentante, que


fornece hospedagem e sustento ao alimentado. Fornecimento de alimentos in natura.
Normalmente o genitor que fica com a guarda presta alimentos próprios.

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b) Impróprios: pagamento de prestação pecuniária, na forma de pensão mensal. É a


forma mais comum de pagamento de alimentos. Geralmente é pago pelo genitor não detentor
da guarda.

Tartuce (p. 423) afirma que os alimentos devidos entre os cônjuges tratam-se de alimentos
compensatórios, ideia desenvolvida por Rolf Madaleno, que entende que trata-se de uma
prestação periódica, paga de um cônjuge para o outro, visando compensar um possível
desequilíbrio econômico causado pela separação/divórcio. Isto porque, durante o matrimônio o
casal experimentava um nível de vida que pode, eventualmente, ter sido reduzido (condições
econômicas) em razão do rompimento. Devem ser prestados por determinado tempo,
possibilitando que o cônjuge necessitado possa se qualificar para se inserir no mercado de
trabalho.

10.6 Sujeitos da obrigação alimentícia

A obrigação de prestar alimentos é recíproca, entre ascendentes, descendentes e


colaterais de 2.º grau (irmãos).

Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a
ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

Só as pessoas que procedem de um mesmo tronco ancestral comum é que podem exigir
alimentos uma das outras, excluindo-se os afins (sogro, genro,...).
Os parentes mais próximos excluem os mais remotos na exigência da obrigação
alimentar, passando-se aos mais distantes só na falta dos mais próximos.

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a
todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de
outros.

Mas é possível pleitear alimentos complementares dos parentes mais remotos, na falta
dos mais próximos.

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições
de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato;

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Avós – obrigação avoenga

Enunciado n. 342 da Jornada de Direito Civil: Observadas as suas


condições pessoais e sociais, os avós somente serão obrigados a prestar
alimentos aos netos em caráter exclusivo, sucessivo, complementar e não-
solidário, quando os pais destes estiverem impossibilitados de fazê-lo, caso
em que as necessidades básicas dos alimentandos serão aferidas,
prioritariamente, segundo o nível econômico-financeiro de seus genitores.

Dessa maneira, se o pai prestar 30% dos alimentos necessários, o filho poderá exigir do
avô que complemente, devendo este prestar 70%.

Assim, a ordem de exigência é a seguinte:


* Para todos verem: esquema

Pai/mãe

Na falta destes, avós

Na falta destes, bisavós

Na ausência de ascendentes, descendentes

Na ausência destes, colaterais em 2.º grau (irmãos)

Tio não tem dever de prestar alimentos a sobrinho. Também não existe obrigação
alimentar entre primos!
Deve-se observar o fato da adoção. Neste caso, extinguindo-se o parentesco
biológico, o adotado não pode exigir dos pais naturais alimentos, na impossibilidade dos
adotivos prestarem, nem os pais biológicos podem exigir alimentos do filho que foi
adotado. Contudo, essa obrigação surge entre o adotado e os parentes do adotante e vice-
versa.
Nessa ordem não entra o cônjuge, pois o dever de alimentos é por força de outro
fundamento legal, o dever de assistência do marido à mulher e vice-versa.
Nestes casos, se o alimentado (cônjuge) passar a viver com outra pessoa, constituir nova
família, ou praticar atos desonrosos contra o alimentante, exonerará o devedor da obrigação de
prestar alimentos. Mas precisa de ação judicial para que a exoneração se opere. Art. 1.708.

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Mas a constituição de nova família por parte do alimentante não o exonera da obrigação
alimentar prestada à ex mulher. Contudo, pode haver a minoração do valor prestado. Art. 1.709.
No caso de separação, o cônjuge culpado perderá o direito a alimentos. Estes só serão
fixados, nestes casos, se o culpado não tiver parentes que possam prestar os alimentos, nem
aptidão para o trabalho. Art. 1.704, § único. Se ambos os cônjuges forem culpados, não haverá
a fixação de alimentos.
É possível a fixação de alimentos gravídicos: alimentos fixados à mulher para que possa
atender às suas necessidades especiais. Esses alimentos serão fixados pelo juiz contra o
suposto pai, havendo indícios da paternidade. A lei 11.804/2008 é que disciplina essa matéria.

Art. 2o Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para
cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da
concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e
psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais
prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras
que o juiz considere pertinentes.
Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte das despesas
que deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também
deverá ser dada pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos.
Art. 6o Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos
gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da
parte autora e as possibilidades da parte ré.
Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam
convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes
solicite a sua revisão.

Estes alimentos serão os valores suficientes para cobrir despesas adicionais do período
gestacional – desde a concepção até o parto –, inclusive as decorrentes de alguma alimentação
especial, assistência médica, internação, exames, etc.
É cabível a prisão civil do devedor de alimentos gravídicos.

ENUNCIADO Nº 522 DA JORNADA DE DIREITO CIVIL: Cabe prisão civil do devedor nos
casos de não prestação de alimentos gravídicos estabelecidos com base na Lei n.
11.804/2008, inclusive deferidos em qualquer caso de tutela de urgência.
Deve-se atentar para o fato de que os valores deverão ser custeados na proporção das
possibilidades dos genitores (suposto pai e gestante), já que tais alimentos são para o feto e não
para a gestante. Deve-se, portanto, observar a questão da proporcionalidade na fixação de tais
alimentos.
Legitimada para pleitear: a mãe da criança.

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10.7 AÇÃO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS

Competência: art. 53, II, CPC: domicílio ou residência do alimentando


OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado. Somente colocar Vara de
Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem todas as Comarcas
possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Fundamento legal: Art. 1.694 e ss, CC + lei 11.804/2008 e, supletivamente, art. 693 e ss,
CPC
Nome da ação: Ação de alimentos gravídicos
Autor: Gestante
Requerido: suposto Pai
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Pedidos: citação para apresentar resposta em 05 (cinco) dias (art. 7º, lei 11.804/2008);
que os alimentos gravídicos sejam convertidos automaticamente em alimentos ao menor após
seu nascimento, na forma do art. 6º, parágrafo único, da Lei nº 11.804/2008; intimação do
Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art. 698, do CPC; benefício da
gratuidade judiciária (se for o caso)35. De resto, os pedidos tradicionais das iniciais.
Valor da causa: por não haver questões patrimoniais, sugere-se usar: “Nos termos do art.
292, III do Código de Processo Civil, dá à causa o valor de R$...”

10.8 Majoração, minoração e exoneração

Havendo modificação do binômio necessidade x possibilidade é possível a alteração do


quantum fixado a título de alimentos (art. 1.699).
Assim, é possível que o prestador proponha ação de redução de prestação alimentícia ou
o alimentado proponha ação de majoração de prestação alimentícia.
A constituição de nova família por parte do alimentante não o exonera da obrigação
alimentar, mas pode fazer com que seja modificado o valor fixado.

35Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.

127
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Com a maioridade do alimentando, o alimentante pode pleitear a exoneração. Contudo,


se o alimentando estiver cursando faculdade ou curso técnico, os alimentos podem ser
prolongados.
Assim, para a exoneração, o alimentante deve comprovar que não existe mais a
necessidade por parte do alimentado, pelo fato de poder ele próprio prover seu sustento.

* Para todos verem: esquema

Pela morte de alimentando devido sua


natureza pessoa. Lembrando que a morte
do devedor transfere a obrigação aos seus
herdeiros nos limites da herança

Pelo desaparecimento de um dos


Cessa a obrigação de prestar alimentos pressupostos do art. 1695 CC
(necessidade x possibilidade)

Pelo casamento, União Estável ou


procedimento indigno do credor de
alimentos

A extinção da obrigação alimentar não faz coisa julgada, pois, voltando a haver a
necessidade, os alimentos podem, novamente, ser pleiteados.

10.9 Ação de alimentos

A ação de alimentos é o meio técnico de reclamar a prestação alimentícia, desde que se


configurem os pressupostos jurídicos.
A Lei n. 5.478/68 estabelece o rito especial para a ação de alimentos, que deve ser célere.
Para tanto, deve haver prova pré-constituída da existência da relação de parentesco
(paternidade já reconhecida).
Esta ação é imprescritível. Contudo, para exigir a execução dos alimentos, já fixados, e
que estão vencidos, o prazo prescricional é de 2 anos.
O foro competente é o do domicílio do alimentando – art. 53, II, CPC/2015.
Depende de intervenção do MP.

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Podem os pais propor ação de alimentos a fim de fixar o valor devido aos filhos? Sim. Ver
art. 24, lei 5.478/68.

Art. 24. A parte responsável pelo sustento da família, e que deixar a residência comum por
motivo, que não necessitará declarar, poderá tomar a iniciativa de comunicar ao juízo os
rendimentos de que dispõe e de pedir a citação do credor, para comparecer à audiência
de conciliação e julgamento destinada à fixação dos alimento a que está obrigado.

* Para todos verem: esquema

Procedimento da ação de alimentos - Lei de alimentos (Lei n. 5.478/68)

1. Petição inicial: o valor da causa será o somatório de 12 prestações pedidas pelo autor
(art. 292, III, CPC/15)

2. Fixação de alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor desde a citação - Art. 4º

3. Há uma fase inicial de conciliação, onde o juiz tenta um acordo entre as parte - Art. 5º

4. Nessa audiência será apresentada a contestação, caso não haja acordo

5. Fase de instrução

6. Sentença final (retroativa a data da citação, a partir de qundo as prestações mensais


poderão ser exigidas)

O melhor é que na sentença o juiz determine o desconto em folha de pagamento da


pessoa obrigada dos valores devidos a título de alimentos. Isso evita o inadimplemento, pois o
desconto é feito e transferido ao alimentado pelo próprio empregador.

10.10 AÇÃO DE ALIMENTOS36

Competência: art. 53, II, CPC: domicílio ou residência do alimentando

36 Utiliza-se esta mesma estrutura para as ações revisionais de alimentos.

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OBSERVAÇÃO: Cuidado com o que disser no enunciado. Somente colocar Vara de


Família se assim houver menção no enunciado. Lembre-se que nem todas as Comarcas
possuem Varas especializadas. Caso contrário, sugere-se utilizar “... Vara...”
Fundamento legal: Art. 1.694 e ss, CC + lei 5.478/68 e, supletivamente, art. 693 e ss,
CPC
Nome da ação: Ação de alimentos OU Ação revisional de alimentos
Tutela de urgência: Verificar se há no enunciado indicativo de situação que exija o pedido
de tutela provisória (art. 300 do CPC).
Pedidos: citação para comparecer a audiência de conciliação; fixação de alimentos
provisórios; intimação do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido na forma do art.
698, do CPC; benefício da gratuidade judiciária (se for o caso)37; procedência da ação para fixar
os alimentos definitivos. De resto, os pedidos tradicionais das iniciais.
Valor da causa: por não haver questões patrimoniais, sugere-se usar: “Nos termos do art.
292, III do Código de Processo Civil, dá à causa o valor de R$...”

10.11 Execução da obrigação alimentar

Atualmente, em razão das previsões do CPC/2015, a prestação alimentar pode ser


cobrada judicialmente através de quatro maneiras38:

1. Título executivo extrajudicial - açao de execução - rito da prisão (art. 911, CPC/2015)

2. Título executivo extrajudicial - ação de execução - rito da expropriação (art. 913, CPC/2015)

3. Cumprimento de sentença ou decisão interlocutória (nos mesmos autos) - rito da prisão (art. 528,
CPC/2015

4. Cumprimento de sentença ou decisão interlocutória (nos mesmos autos) - rito da expropriação (art. 530,
CPC/2015)

A decisão de qual modalidade seguir dependerá do tipo de fixação, se judicial ou


extrajudicial e do tempo de atraso (mais ou menos de 3 meses).

37 Cuidado. Aqui, nas situações em que a FGV cobrou esse pedido, a situação da necessidade resultou
presumida. Analisar o que consta no enunciado.
38 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 621-622.

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1. Cumprimento de sentença definitiva ou acordo judicial - mesmos autos (art.


531, §2º, CPC/2015

2. Execução de alimentos provisórios - autos apartados (art. 531, §1ª, CPC/2015)

3. Execução de sentença sujeita a recurso - autos apartados (art. 531, §1º, CPC/2015)

4. Execução de acordo extrajudicial - autos apartados (art. 911, CPC/2015)

Deve-se destacar que mesmo havendo bens para garantir a execução (seja por
cumprimento de sentença ou por execução autônoma), a preferência será o desconto em folha.
Assim, se o devedor é trabalhador assalariado, seu empregador ou o ente público (para quem
ele trabalha) deverá descontar os valores de sua remuneração, conforme determinado por ofício
judicial, sob pena de desobediência. O desconto pode ocorrer das parcelas vencidas (em atraso)
e das mensais, desde que não ultrapasse 50% dos ganhos líquidos do alimentante 39.
É possível que, para pagamento da obrigação alimentar, seja utilizado o valor do FGTS.

Enunciado n. 572 da Jornada de Direito Civil: Mediante ordem judicial, é admissível, para
satisfação do crédito alimentar atual, o levantamento do saldo de conta vinculada ao
FGTS.

10.12 Cumprimento de sentença que reconheça a


exigibilidade de obrigação de prestar alimentos – arts. 528 a
533, CPC/2015

Uma vez que exista sentença condenatória de obrigação de prestar alimentos, com
trânsito em julgado ou decisão interlocutória que fixe alimentos, poderá a parte exequente

39 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, 622.

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requerer ao juiz que intime pessoalmente o devedor para que, em 3 dias pague, prove o
pagamento ou justifique a impossibilidade de pagar.

ATENÇÃO
Não se trata de uma inicial. É uma petição, dentro de um processo de
execução.

10.13 Justificação (execução de alimentos)

Se o executado, neste prazo, não pagar, não provar o pagamento, nem justificar, o juiz
determinará o protesto da decisão. Isto acarretará restrições de crédito ao devedor/executado,
bem como sua inscrição em cadastros negativos de crédito40.
Somente situação excepcional (doença, por exemplo), ou seja, fato que gere a
impossibilidade absoluta de pagar, justificará o inadimplemento (§ 2.º, art. 528, CPC/2015).
Não havendo pagamento, ou se a justificativa não for aceita, o juiz, além de mandar
protestar a decisão, determinará a prisão civil do executado pelo prazo de 1 a 3 meses (§ 3.º).
Havendo prisão, esta deverá ser cumprida em regime fechado e em separado dos presos
comuns (§ 4.º).
Sobre a prisão dos avós, ver o Enunciado n. 599, VII Jornada de Direito Civil:
Enunciado n. 599 da Jornada de Direito Civil: Deve o magistrado, em sede de execução de
alimentos avoengos, analisar as condições do(s) devedor(es), podendo aplicar medida
coercitiva diversa da prisão civil ou determinar seu cumprimento em modalidade diversa
do regime fechado (prisão em regime aberto ou prisão domiciliar), se o executado
comprovar situações que contraindiquem o rigor na aplicação desse meio executivo e o
torne atentatório à sua dignidade, como corolário do princípio de proteção aos idosos e
garantia à vida.

Uma vez que a prestação seja paga, o juiz determinará a suspensão da ordem de prisão
(§ 6.º).

40 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 591-592.

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Lembrando que o débito que autoriza a prisão é o correspondente a até 3 meses de débito
alimentar (anteriores ao ajuizamento da ação) e as vencíveis no curso do processo (§ 7.º).
Pode, ainda, o credor escolher em cobrar o débito alimentar nos termos do cumprimento
definitivo de sentença (arts. 523 a 527, CPC/2015). Neste caso não haverá incidência de prisão
civil. A vantagem deste caminho é a incidência de multas. Cabe, nestas situações, a pena de
penhora.
Optando pelo cumprimento definitivo, o juiz determinará que o executado seja intimado
para pagar o débito em 15 dias, acrescido de custas. Não havendo pagamento neste prazo,
incide multa de 10% e honorários de 10%. Havendo pagamento parcial, a multa e os honorários
incidirão apenas pelo que falta a pagar. Não havendo pagamento dentro do prazo, haverá
expedição de mandado de penhora.
Vale lembrar que o cumprimento de sentença dispensa nova ação e nova citação.
Tramitam nos mesmos autos da ação de alimentos ou ação que tenha fixado-os.

10.14 Execução – processo autônomo

Se os alimentos estiverem em atraso, o alimentado poderá executar o acordo de alimentos


existente ou a sentença do juiz que fixa a verba alimentar. Neste caso, a cobrança/execução
deverá ocorrer em nova ação, em autos apartados.

A execução dos alimentos provisórios e dos fixados em sentença não transitada em


julgado, somente podem se corados pela via expropriatória (CPC 528 § 8.º) e se processa
em autos apartados (CPC 531 § 1.º).
Os alimentos definitivos ou incontrovertidos, podem ser cobrados sob a ameaça de prisão
(CPC 529 § 3.º), e podem ser exigidos nos mesmos autos (CPC 531 § 2.º) 41.

Nos casos de divórcio ou dissolução de união estável, realizáveis através de escritura


pública, a cobrança/execução deverá ocorrer execução (autos apartados), podendo ser por
expropriação ou prisão civil (conforme o caso).
▪ Art. 911, CPC/2015
O juiz irá citar o devedor para em 3 dias efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar
a impossibilidade de fazê-lo.

41 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 619.

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Se não houver pagamento, nem justificativa, o juiz determina a prisão civil de 1 a 3 meses.
Essa execução será com base nos 3 últimos meses (até 3 meses) de prestações vencidas.
Incluem-se as vincendas. É bem célere.
Não cabe habeas corpus para prisão alimentar.
O cumprimento da pena não exime do pagamento dos alimentos, que seguem sendo
devidos.
▪ Art. 913 e 824, CPC/2015.
Para a execução de alimentos vencidos há mais de 3 meses, deve-se utilizar o
procedimento do art. 824 e ss., CPC/2015 (execução por quantia certa), onde haverá, ao invés
da prisão, a penhora de bens. É bem mais moroso que o primeiro.
Ordem de penhora = art. 835, CPC/2015

* Para todos verem: esquema

Cumprimento de Título executivo


sentença judicial

Execução por Título executivo


processo autônomo extrajudicial

Súmulas e teses do STJ sobre alimentos

Súmula 358 - O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está
sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. (Súmula 358,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2008, DJe 08/09/2008, REPDJe 24/09/2008)
Súmula 596 - A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária,
somente se configurando no caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos
pais. (Súmula 596, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/11/2017, DJe 20/11/2017)
Súmula 621 - Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do
pagamento retroagem à data da citação, vedadas a compensação e a repetibilidade. (Súmula
621, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/12/2018, DJe 17/12/2018)

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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▪ Os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos - seja em caso de


redução, majoração ou exoneração - retroagem à data da citação (Lei n. 5.478/68, art. 13, § 2º),
ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a impossibilidade de compensação do
excesso pago com prestações vincendas.
▪ A obrigação de prestar alimentos é personalíssima, intransmissível e extingue-se com o
óbito do alimentante, cabendo ao espólio saldar, tão somente, os débitos alimentares
preestabelecidos mediante acordo ou sentença não adimplidos pelo devedor em vida,
ressalvados os casos em que o alimentado seja herdeiro, hipóteses nas quais a prestação
perdurará ao longo do inventário.
▪ Admite-se, na execução de alimentos, a penhora de valores decorrentes do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço FGTS, bem como do Programa de Integração Social PIS.
▪ Os valores pagos a título de alimentos são insuscetíveis de compensação, salvo quando
configurado o enriquecimento sem causa do alimentando.
▪ Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da
citação. (Súmula n. 277/STJ)
▪ Na execução de alimentos, é possível o protesto (art. 526, § 3º do NCPC) e a inscrição do
nome do devedor nos cadastros de proteção ao crédito.
▪ O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.
(Súmula n. 309/STJ) (Art. 528, § 7º do NCPC)
▪ O atraso de uma só prestação alimentícia, compreendida entre as três últimas atuais
devidas, já é hábil a autorizar o pedido de prisão do devedor, nos termos do artigo 528, § 3º do
NCPC (art. 733, § 1º do CPC/73).
▪ O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à
decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. (Súmula n. 358/STJ)
▪ O pagamento parcial da obrigação alimentar não impede a prisão civil do devedor.
▪ A base de cálculo da pensão alimentícia fixada sobre o percentual do vencimento do
alimentante abrange o décimo terceiro salário e o terço constitucional de férias, salvo disposição
expressa em contrário. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 - Tema 192)
▪ Cabe ao credor de prestação alimentícia a escolha pelo rito processual de execução a ser
seguido.

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▪ A constituição de nova família pelo alimentante não acarreta a revisão automática da


quantia estabelecida em favor dos filhos advindos de união anterior.
▪ Os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e
devem ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possua mais
condições de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia financeira.
▪ A responsabilidade dos avós de prestar alimentos aos netos apresenta natureza
complementar e subsidiária, somente se configurando quando demonstrada a insuficiência de
recursos do genitor.

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