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Aula 01 – 01/08/18
Apresentação da Disciplina
1ª prova: direito das famílias
2ª prova: sucessões
Casos práticos
Grupos de 4
Entregar no dia um parecer, uma peça prática, algo sobre o caso no dia de
apresentar.
Simpósio de Direito de Família
Grupos de 3 pessoas
Divisão em parte legislativa, jurisprudencial e doutrinária
Bibliografia
Adriana do Rego Freitas Dabus Maluf
Maria Berenice Dias
Orlando Gomes
Carlos Roberto Gonçalves
Luciano de Camargo Penteado
Caio Mário da Silva Pereira
INTRODUÇÃO
1. Conceito
O Direito de Família é dinâmico, uma vez que os arranjos de família se alteram muito
rapidamente. Por muito tempo, família foi “a união entre homem e mulher”, mas atualmente
já há, dentro do ativismo judicial, a ideia de que família é “união de pessoas”. Isso se dá pela
existência de famílias homoafetivas, poliafetivas, famílias paralelas, etc. O conceito jurídico de
família é difícil de identificar. Diante da impossibilidade do Direito em oferecer um conceito de
família, é preciso analisar algumas propostas.
Para Edizioni Napole, jurista italiano, é preciso reconhecer os arranjos familiares para
garantir o desenvolvimento do ser humano. A ideia é bem ampla: para ele, a família é
importante para que o ser humano se desenvolva plenamente.
Paulo Lobo diz que “enquanto houver afeto, haverá família”, desde que esse affectio
seja unido por laços de liberdade e responsabilidade, desde que consolidada na simetria, na
colaboração e na comunhão. A Cíntia concorda, dizendo que o afeto é fundamental para a
constituição da família. É nesse contexto que se insere a ideia de família democrática, em que
a solidariedade ocupa um lugar antes tomado pela hierarquia da figura de “chefe de família”.
Sérgio de Barros Resende também é da opinião de que o afeto é fundamental, apesar
da tradição da família parental. Existem famílias sem pai e mãe, e não é necessário que haja
sempre homem e mulher para compor a família, de modo que a noção patriarcal está
superada. O afeto é nítido e persistente, começando com a intenção de durar no tempo (sem
prazo para acabar, embora não seja indissolúvel). Também há quebra da intenção de constituir
família para procriar.
Funções: as funções da família são amplas. Há diversas, como uma função religiosa,
social e econômica, além da função de procriar. Hoje, a função da entidade familiar e seu
reconhecimento vem da afetividade, do afeto qualificado.
Dessa forma, família pode ser, de forma genérica, a união de pessoas por meio
de vínculo afetivo.
3. As modalidades de família
Família é diferente de entidade familiar (espécie do gênero família). Diante o
pluralismo social, fala-se em entidades familiares, que são todo e qualquer grupo de pessoas
ligadas por laços de afetividade.
4. A Constituição de 1998
A CF/88 prevê fatores importantes, como:
A gratuidade do casamento civil (226, §1º)
O casamento religioso com efeitos civis (226, 2º)
O reconhecimento da união estável como entidade familiar (226, §3º)
O reconhecimento da família monoparental (226, §4º)
Igualdade entre homem e mulher no que se refere a sociedade conjugal (226, §5º),
usando o conceito de família democrática e do poder-dever familiar.
Reafirmou a dissolubilidade do casamento, reduzindo o prazo para divórcio de 1
ano após a separação judicial e 2 anos de comprovada a separação de fato,
embora hoje seja sem prazo (226, 6º)
Liberdade de planejamento familiar e paternidade responsável (226, §7º). Trata-se
do princípio da não-intervenção ou da liberdade.
O Estado chamou para si a possibilidade de coibir a violência doméstica (226, §8º)
Proclamou a igualdade entre os filhos havidos ou não da relação de casamento
(227, §6º). São filhos os biológicos, socioafetivos, adotivos e aqueles havidos por
inseminação heteróloga de terceiro.
5. Princípios
Princípio da dignidade da pessoa humana: previsto no art. 1º, III da CF/88, tal
princípio é aplicado ao Direito de Família para garantir situações como:
A impenhorabilidade do bem de família. O STJ reconheceu a
impenhorabilidade do imóvel em que reside pessoa solteira com base na
dignidade da pessoa.
Relativização ou mitigação da culpa nas ações de separação judicial (antes se
discutia culpa, havendo a separação-sanção).
Admissão do abandono afetivo como violador da dignidade humana.
Princípio da solidariedade familiar: previsto no art. 3º, I, da CF, pode ser visto como o
dever de solidariedade mútua entre aqueles que compõe a entidade familiar.
Justifica a possibilidade de pleitear alimentos, como na obrigação solidária dos
filhos em prestar alimentos aos pais idosos, etc.
Princípio da igualdade entre os filhos: previsão no art. 227, § 6º, da CF. Os filhos,
independente da origem da filiação (biológicos, afetivos, adoção, inseminação
heteróloga) são iguais entre si.
Princípio da igualdade entre os cônjuges: art. 226, §5º, da CF/88. Quebrou a ideia
patriarcal da submissão da mulher ao homem.
1
Quando o casal apenas deixa de viver junto sem recorrer ao judiciário, diz-se que o casal está
separado. A separação não quebra o vínculo jurídico do casamento, e o casal não poderá se casar outra
vez enquanto não estiver divorciado.
É possível entrar com um pedido de separação de corpos nos casos extremos, que terá como efeito o
afastamento do casal e a dispensa das obrigações conjugais. Após o pedido de separação de corpos, as
partes devem promover o divórcio.
Repercute em tanto homem ou mulher poder pleitear alimentos ao ex-cônjuge
ou adotar o nome do outro.
Princípio da não-intervenção ou da liberdade: conforme art. 226, §7º da CF/88. É
defeso a qualquer pessoa de direito público ou privado interferir na comunhão de vida
instituída pela família. Decorre da autonomia privada. Isso não quer dizer que dentro
das entidades familiares qualquer coisa pode ser tolerada (daí que o Estado deve
intervir para coibir violências no âmbito familiar – art. 227, §8º).
Proíbe, por exemplo, a esterilização forçada. Contudo, políticas públicas
relacionadas a controle de natalidade não são inconstitucionais, porque não
são obrigatórias.
Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente: advém do caput do art.
227 da CF, regulamentada pelo ECA. Tal princípio é reconhecido pela Convenção
Internacional de Haia e tem peso importante em casos de separação ou divórcio e
decisão acerca da guarda dos filhos.
Pode gerar conflitos com interesse preferencial, por exemplo, de idosos.
Princípio da igualdade de direção familiar: com previsão constitucional do art. 226,
§5º e 227, §7º, tal princípio decorre da igualdade entre cônjuges e companheiros,
dentro do conceito de família democrática. Dessa forma, também se insere na
“pespatriarcalização do Direito de Família”.
Não existe mais “pátrio poder”, mas poder-dever familiar, que é exercido em
igualdade entre os pais, ou, na falta de um deles, com exclusividade pelo
outro.
Princípio da socioafetividade: como já salientado, tal princípio é fundamental para
concretizar a dignidade da pessoa humana e concretizar os diversos tipos de entidades
familiares.
I Jornada de Direito Civil, Enunciado 103, reconheceu outras espécies de
parentesco civil provenientes da paternidade socioafetiva (reprodução
heteróloga). Também é reconhecido no Enunciado 108 da I Jornada e no
enunciado 256 da III Jornada.
Princípio da função social da família: encontrado no art. 226 da CF, que dispõe que a
família é base da sociedade, tendo proteção especial do Estado. Assim, as relações
familiares devem ser analisadas dentro do contexto social e diante das diferenças
regionais de cada localidade.
07/08/2018 – Aula 02
ENTIDADES FAMILIARES
Família deve ser entendida como núcleo em que ser humano possa se desenvolver em
sua plenitude. Para isso, deve-se respeitar a autonomia de se desenvolver como for melhor
para cada um. Pela CF/88, o Estado reconhece a proteção da família. O artigo 226 reconhece a
família matrimonial e a união estável entre homem e mulher. Contudo, o STF entendeu, pela
ADPF 432 que deve ser usado o artigo 5º para interpretar a união estável, de modo que se
reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Também se reconhece a família
monoparental. Esse rol é exemplificativo.
A união estável tem uma ressalva no §3º, que é a facilitação de converter a união
estável em casamento. A ideia é que a união estável e o casamento são iguais, e por isso, a
união pode ser convertida em casamento. A vantagem da conversão da união estável é a
continuidade do patrimônio construído pelos dois parceiros. Se as partes resolvem celebrar o
casamento, não há continuidade do patrimônio, que passará a ser construído a partir da
celebração.
1. Família Matrimonial
É aquela que decorre do casamento. É a primeira entidade familiar reconhecida, e em
muitos países, é a exclusivamente reconhecida.
Para o Direito Canônico, o matrimônio é um sacramento. Nesse período, o casamento
era indissolúvel e exclusivo (não é permitido casar novamente na constância do casamento). O
Direito Canônico também desenvolveu impedimentos ao casamento, como o impedimento em
relação ao parentesco, tanto por segurança genética como por um aspecto moral. É o caso do
impedimento de casamento entre irmãos biológicos ou adotivos, respectivamente. São
também impedimentos os vícios de consentimento e a incapacidade.
Na época do Concílio de Trento (1542-1563), somente a Igreja tinha competência para
a celebração. Aos poucos, a competência foi sendo passada para o Estado. Hoje, ambos podem
celebrar o casamento, sendo que qualquer Igreja ou crença religiosa pode celebrar o
casamento. O casamento civil visa centralizar as informações. Por exemplo, o casamento é
averbado nas certidões de nascimento.
As Ordenações Filipinas previam a comunhão universal de bens (carta a metade). Os
patrimônios anteriores e posteriores ao casamento são compartilhados, salvo os bens
particulares. Hoje existem quatro regimes de bens, mas se não escolherem, vale a regra legal
da comunhão parcial (alteração feita pela Lei do Divórcio). Posteriormente, houve a
Consolidação proposta por Teixeira de Freitas. O Decreto 3069 de 1863 previu o casamento
civil. O extinto Decreto 181 de 1890, reconheceu também o casamento religioso.
Percebe-se uma forte ingerência estatal e da Igreja no casamento matrimonial. Na
União Estável, o Estado não participa necessariamente, porque sempre é uma realidade fática,
e às vezes, é uma realidade documental (quando as partes resolvem celebrar uma escritura
pública, que é opcional). A dissolução só é possível quando há o reconhecimento por
documento (razão pela qual existe ação de reconhecimento e dissolução da união estável).
2. Família monoparental
É formada por um dos pais e seus descendentes. O Código Civil não fala da família
monoparental, embora se aplique o regime jurídico de Direito de Famílias. Tal figura está
expressa na Carta Constitucional (art. 226, §4º).
3. Família anaparental
Não tem menção expressa nem na CF e nem no CC/02. Pela doutrina, é a família
constituída por pessoas, parentes ou não, que se ajudam mutualmente e se unem pelo afeto
qualificado. São exemplos os irmãos órfãos consanguíneos. O regime jurídico é,
analogicamente, o mesmo previsto no Direito das Famílias.
A professora diz que o perigo é a banalização dessa entidade familiar, que poderia se
tornar qualquer arranjo familiar. Para ela, parentes podem ser consanguíneos ou socioafetivos,
por isso não faria sentido a expressão “parentes ou não”.
08/08/18 – Aula 03
7. Família Homoafetiva
Foi reconhecida, inicialmente, pelo Direito Previdenciário. Acontecia que muitos casais
homoafetivos viviam juntos, e quando um falecia, por não haver casamento entre eles, quem
tinha direito à herança eram os ascendentes, que muitas vezes haviam abandonado a pessoa
em razão de sua sexualidade.
Maria Berenice Dias foi uma das precursoras dessa entidade familiar, caracterizada
pelo afeto (por isso homoafetiva). Os argumentos que ela utilizava eram a proteção da
dignidade humana (direito a autodeterminação); princípio da isonomia e vedação da
discriminação (art. 5º prevê que é vedada a distinção por sexo) e ao princípio da vedação do
retrocesso social (lei posterior não pode violar direito adquirido, pois a união entre pessoas do
mesmo sexo é um fato de indiscutível repercussão).
Em 2008, no REsp. 820.475/RJ, o STJ entendeu a união homoafetiva como família. O
ordenamento jurídico, embora não discipline, não proíbe tal união. Assim, não seria pedido
juridicamente impossível e deve ser vedado o non liquet, pois o juiz não pode deixar de decidir.
A ADPF 132 do STF reconheceu a união homoafetiva. Os ministros destacaram a
dignidade da pessoa humana para reconhecer a autodeterminação de cada indivíduo, bem
como sua autonomia, bem como os demais princípios supracitados. O Direito não pode proibir
o que é espontâneo na sociedade.
Hoje, há dois projetos de lei para o Estatuto da Família. Um deles reconhece a
união homoafetiva, mas outro não (influência da bancada religiosa).
Primeiro, se reconheceu a união estável. Contudo, muitos casais pediam a conversão
da união estável em casamento. Os oficiais não poderiam reconhecer o casamento, porque o
casamento seria a união entre homem e mulher, e mesmo quando a questão era levada ao juiz
corregedor, este se opunha a conversão, muitas vezes por opiniões pessoais. Em 2013, pela
Resolução 175, o CNJ reconheceu a habilitação, a celebração de casamento civil e conversão
de união estável em casamento homoafetivo.
8. Família poliafetiva
Para os argumentos favoráveis ao reconhecimento da família poliafetiva seguem a
mesma linha dos favoráveis a família homoafetiva, baseando-se em princípio da dignidade da
pessoa humana, princípio da isonomia e vedação do retrocesso social. Do lado dos argumentos
contrários, a família poliafetiva é formada por mais de duas pessoas, por isso, questiona-se sua
existência, pois a lei prevê o casamento e a união estável entre duas pessoas. Além disso,
casamento é formado por vínculo exclusivo, e no caso da família poliafetiva, por haver mais de
duas pessoas, o vínculo não seria permeado pela exclusividade. Ademais, nem mesmo a união
estável poderia ser reconhecida, haja vista a inviabilidade de conversão em casamento.
O CNJ editou resolução que proíbe o reconhecimento da união estável poliafetiva.
Somente poderia ser reconhecida a sociedade de fato 2, uma vez a necessidade de regular o
patrimônio constituído por essas pessoas.
CASAMENTO
2. Conceito de casamento:
Para Washington de Barros Monteiro, casamento é a “união permanente entre homem
e mulher, de acordo com a lei, a fim de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e
criarem os seus filhos”. Para essa definição, o casamento, embora permanente, não é
indissolúvel. Considerava-se também apenas o casamento heterossexual, e a finalidade de
reprodução como um elemento essencial. Vê-se que é atrasada, pois o casamento é entre
pessoas e a finalidade não é a reprodução.
Sílvio Rodrigues diz que o casamento é um “contrato de direito de família, que tem por
fim promover a união entre homem e mulher a fim de regularem suas relações sexuais”. O
contrato de família é uma forma de destacar a autonomia da vontade, mas o professor
2
Uma sociedade de fato é aquela que reúne de verdade um grupo de pessoas com o fim de alcançar um
objetivo, sem nenhum contrato explícito que estipule as regras de uma associação e que não conste na
administração como uma sociedade, igual a anônima, a coletiva, entre outras.
também restringe o conceito a relações heterossexuais e moralizadas em relação as relações
sexuais.
Já Pontes de Miranda é sucinto: “casamento é uma relação ética”. Para a Cíntia, é uma
definição bastante adequada. Sílvio Salvo Venosa estabelece que casamento é a união entre
homem e mulher para estabelecer a comunhão plena de vida. Para a professora, é uma visão
mais adequada, embora ainda não preveja o casamento como união de pessoas.
3. Natureza jurídica
Contrato? Para a Cíntia, não seria contrato, pois esse contrato não teria autonomia
privada, pois há uma participação muito forte do Estado nessa relação contratual, o
que não é comum. É uma instituição, não apenas um contrato. Orlando Gomes
entende que é um contrato sui generis.
Negócio jurídico? Maria Berenice Dias diz que é um negócio jurídico, pois tem
autonomia privada assim como participação do Estado. A crítica diz respeito a eficácia
condicionada pela lei.
Ato jurídico? Para alguns, é um ato jurídico, porque a escolha se encerra ao optar pelo
regime de bens, todo o resto é previsto pelo legislador. Paulo Lobo entende que é um
ato jurídico negocial, solene, público e complexo. A Cíntia ressalta que há autonomia,
portanto, não pode ser restrito a um ato jurídico.
Sociedade? A sociedade seria pela comunhão plena de vida, devido a existência de
affectio.
4. Características do casamento
5. Princípios do casamento:
14/08/18 – Aula 03
ESPÉCIES DE CASAMENTO
1. Casamento Civil
Segundo a CF/88, o casamento civil tem celebração gratuita quando a pessoa se
declara pobre na acepção da lei, desde que feito no cartório. Quem celebra o casamento civil é
o oficial do Registro Civil de Pessoas Naturais (oficial registrador) ou o juiz de casamento (juiz
de paz).
A cerimônia deve ser suspensa imediatamente e não pode continuar no mesmo dia
nas hipóteses do artigo 1538 da Lei 12133/2009.
2. Casamento religioso
O casamento religioso é celebrado pela autoridade religiosa e tem efeitos civis. Ele
surge no Direito Canônico e por muito tempo foi o único no Brasil. A Igreja Católica efetuava os
registros (nascimento, casamento, óbito).
Com a CF/1891, foi banido o casamento religioso. Já na CF/1934, o rigor foi abrandado,
e permitiu-se o casamento religioso com efeitos civis.
Com a imigração, tornou-se necessária a adequação. Agora, todas as igrejas e religiões
podem celebrar o casamento, exigindo, cada qual, suas próprias prerrogativas. O documento
do casamento religioso deve ser levado para registro no órgão civil.
5. Casamento putativo
É o casamento putativo é aquele celebrado quando um dos nubentes (ou ambos)
imagina que está tudo correto, ignorando alguma circunstância que leva à nulidade. Não é
válido, mas produz efeitos em decorrência da boa-fé. Os efeitos são produzidos para quem
está de boa-fé (só produz para ambos se ambas estiverem de boa-fé).
O CC/02 considera esse casamento nulo, eliminando a controvérsia sobre ser nulo ou
anulável. A questão é relacionada a eficácia, haja vista que produz efeitos (patrimoniais e
pessoais) sobre quem estava de boa-fé.
A boa-fé é subjetiva. Em caso de ambos os cônjuges estarem de boa-fé, os efeitos
valem para ambos até a sentença anulatória (ex nunc, não retroage). Se apenas um dos
cônjuges está de boa-fé, apenas este recebe os efeitos.
21/08/18 - Aula 04
Causas suspensivas (art. 1523): não impedem a celebração e nem geram nulidade ou
anulabilidade, mas o oficial orienta os nubentes acerca de não possuírem a escolha do
regime de bens. É uma norma inibitória, que tenta desestimular o casamento, embora
não provoque impedimento.
A súmula 377 do STF mitiga o rigor desse artigo, porque fala em “separação legal”,
admitindo a comunicabilidade dos bens adquiridos na constância do casamento.
Parte da doutrina entende que a “separação legal” é a “separação obrigatória”, de
modo que a comunicabilidade em caso de separação ocorreria nos casos de
separação obrigatória. Outra parte da doutrina diz o oposto, ou seja, que a
comunicabilidade é para a separação convencional, uma vez que seria uma burla a
lei permitir a comunicabilidade na separação obrigatória. A posição intermediária
diz que esse regime se aplica a separação convencional e obrigatória.
As hipóteses são:
Viúva ou viúvo que tiveram filhos do cônjuge falecido . Em razão da morte, é
preciso fazer a divisão patrimonial. Se o inventário e partilha não tiver sido
feito, existe causa suspensiva para evitar a confusão patrimonial (direito dos
filhos do falecido e direito dos filhos do novo casamento).
Viúva ou mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou anulável até 10
meses depois do começo da viuvez ou da dissolução da sociedade conjugal.
Isso foi colocado no CC/02 para evitar a turbatio ou confusio sanguinis.
Presume-se filho aquele que nasce em até 180 dias depois da morte e que
nasce após 360 dias depois do casamento (na época de discussão do CC/02
não existia exame de DNA). A declaração de não estar grávida dissolve a causa
suspensiva.
Divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos
bens do casal.
Tutor ou curador, e seus parentes (descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados e sobrinhos – colaterais até 3º grau), em relação a pessoa tutelada
ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estivessem
saldadas as respectivas contas. Permite-se o casamento sem causa suspensiva
se não houver prejuízo patrimonial. Também é possível a mudança de regime
de bens.
As causas suspensivas não podem ser conhecidas de ofício pelo juiz. Somente os
legitimados (parentes em linha reta ou colaterais de segundo grau, sejam
consanguíneos ou afins) podem reconhecer. O MP só pode participar se houver
incapaz.
Causas de anulabilidade (art. 1550): o casamento pode ser convalidado. São as causas
envolvendo:
Quem não completou a idade mínima para casar , ou seja, os menores de 16
anos. Pode ser convalidado, como por exemplo se resultar gravidez.
Contraído por quem é menor em idade núbil sem autorização dos
representantes legais (casos envolvendo menores de 16 a 18 anos)
Coação moral (vício do consentimento, conforme art. 1556 a 1558). A coação
moral se funda no temor do mal considerável e iminente para a vida, a saúde,
honra, etc.
Incapaz que não tem capacidade de consentir e manifestar, de forma
inequívoca, a sua vontade, sendo esta condição verificada no caso concreto
(ex. dependentes químicos, ébrios). A doença mental não é mais considerada
causa de incapacidade.
Casamento por procuração, quando anulada a procuração. Nesse caso, a
procuração for anulada sem conhecimento do mandatário, porém, também
causa anulabilidade o reconhecimento judicial de mandato nulo (o mandato é
nulo, mas o casamento é anulável!).
Incapacidade relativa do celebrante (caso de incompetência em razão do
local).
Anulação do casamento por erro essencial sobre a pessoa: conforme o art.
1557 do CC/02 por razão de identidade, honra e boa fama do outro cônjuge.
Essas circunstâncias devem ser anteriores ao casamento, mas que chegam ao
conhecimento do outro cônjuge após a celebração. Era mais comum quando
existia prazo para o divórcio, o que mudou com a EC 88. Cíntia faz uma
observação sobre não ser possível banalizar qualquer razão para anular um
casamento.
Aula 05 - 22/08/18
1. Princípio da autonomia privada (art. 1639 do CC/02): as regras gerais não podem ser
derrogadas pelos nubentes. Os nubentes podem escolher o regime de bens quando a
lei não obriga. Hoje há, até mesmo, mais que os regimes determinados, pois o rol é
exemplificativo, conforme estabelece o Em. 331 da CNJ. O regime misto é plenamente
aceito. A Cíntia considera que o problema de escolher regime diverso é relativo a
oponibilidade erga omnes, pois o terceiro não consegue saber de pronto qual o regime
de bens.
4. Vênia conjugal: outorga uxória é prestada pela esposa, e outorga marital, pelo
marido. São espécies de vênia conjugal, que é a autorização de um cônjuge ao
outro para legitimar negócios jurídicos.
O caput do art. 1647 dispensa outorga em caso de regime da separação absoluta.
A maioria dos estudiosos entende que, havendo separação absoluta, nada se
comunica (nem mesmo os bens adquiridos na constância do casamento).
Entretanto, pela súmula 377, os bens adquiridos na constância do casamento, no
regime de separação legal, estão sujeitos a comunhão. Quando aplica a súmula,
não existe separação absoluta, porque os bens adquiridos na constância do
casamento, mesmo na separação obrigatória, são divididos desde que adquiridos
por esforço comum. Assim, é preciso se retomar a questão da súmula:
Alguns estudiosos entendem que a súmula não foi recepcionada (1ª
corrente). Dessa forma, não se aplicando a súmula, existe separação
absoluta (separação legal), logo, não precisa de outorga.
Outros professores entendem que a súmula não foi cancelada, logo, não
existe separação absoluta de bens, sendo necessária a outorga. É o
entendimento majoritário. Cíntia acha que não se deve ser como
“separação absoluta”, mas como “separação de bens”, de modo que
incidiria a hipótese de repartição dos bens adquiridos por esforço comum,
mesmo na separação obrigatória.
Aula 06 – 28/08/18
Regras contidas nos artigos 1658 – 1666. Por regra, os bens anteriores ao casamento
são particulares, e os bens adquiridos na constância do casamento são comunicados (meação
– metade dos bens pertencem a um cônjuge e a outra metade, ao outro).
Bens incomunicáveis
Não se comunicam os bens anteriores ao casamento e os bens do artigo 16594. O
legislador fala em sub-rogação. Esta ocorreria, por exemplo, quando um bem foi adquirido
após o casamento com valores advindos de um bem anterior ao casamento (ex. comprar um
apartamento com o dinheiro da venda de uma fazenda pertencente a um dos cônjuges). Os
bens sub-rogados não se comunicam.
Os bens de uso pessoal não se comunicam (ex. joias, relógios, etc.). Pode ser discutido,
eventualmente, mas a professora entende que, independentemente do valor, é um bem de
uso pessoal.
Os bens proventos do trabalho de cada cônjuge também estão no rol. Quando
considerado o salário em si mesmo, o salário é um bem particular. Se, com o fruto do salário,
adquire-se bens, esses bens se comunicam. Por isso, só o salário é um “bem provento do
trabalho” particular. Os projetos de lei sobre Estatuto da Família preveem a exclusão deste
inciso.
Bens comunicáveis
Os bens comunicáveis são os aquestos, aqueles adquiridos na constância do
casamento. São os bens adquiridos a título oneroso, mas também os bens adquiridos por fato
eventual (ex. ganhar na Mega Sena). A doação, ao menos que seja para ambos os cônjuges,
não se comunica. A herança, por si mesma, é personalíssima. Herança e doação a ambos os
cônjuges são comunicáveis.
Benfeitorias em geral, assim como as feitas em bens particulares também se sujeitam a
meação.
Verbas trabalhistas e indenizatórias, não são consideradas salário, portanto, não se
enquadram no inciso VI do art. 1659. Se a verba tiver sido recebida na constância do
casamento, se comunica. Se é pleiteada depois da separação ou do divórcio, não se
comunicam, conforme entendimento do STJ.
4
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento,
por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos
bens particulares;
III - as obrigações anteriores ao casamento;
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
Os bens doados ou herdados com cláusula de incomunicabilidade os sub-rogados em
seu lugar.
Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de
realizada a condição suspensiva. A fideicomisso é a sucessão testamentária da prole
eventual (ex. a pessoa fala que vai deixar a fazenda para o neto da filha, sendo que a
filha só tem 10 anos). Há um fideicomissário que tem a posse resolúvel do bem. Ou
seja, existindo a prole eventual, os bens passam a ela, mas se não ocorre, se concretiza
a posse do bem ao fideicomissário. Os bens deixados ao fideicomissário não se
comunicam.
As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus
aprestos, ou reverterem em proveito comum;
As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de
incomunicabilidade.
Esse regime foi acrescentado pelo CC/02. Nesse regime, na constância do casamento,
há separação absoluta de bens. Na eventual dissolução, seja por separação, divórcio ou morte,
cada cônjuge participará na medida que colaborou com a construção do patrimônio. Não há
meação, pois leva-se em consideração a proporcionalidade.
Esse regime é pouco usual, porque é difícil resgatar as informações acerca de quanto
cada cônjuge contribuiu para a construção do patrimônio do casal (exige, muitas vezes, um
contador). Há uma presunção, quando não há prova de quanto cada um colaborou, de
participação equitativa.
SEPARAÇÃO DE BENS
Separação:
De fato: é a realidade fática em que as pessoas deixam de ter a comunhão plena de
vida, mas não possuem nenhum documento que ateste essa situação.
Jurídica: admite a possibilidade de ser extrajudicial e judicial. A lei obriga a participação
de um advogado.
A extrajudicial (Lei 11441/07, Res. 35 do CNJ e art. 733 do CPC) é
necessariamente consensual (amplo acordo entre as partes). Havendo
qualquer tipo de litígio, não é possível a separação jurídica consensual. A
forma é escritura pública, mas isso é uma escolha das partes. Eventualmente,
é admitida a constituição de procurador por escritura pública, com poderes
especiais para representar na separação extrajudicial (ou no divórcio
extrajudicial). É possível a conversão de separação judicial em divórcio
extrajudicial. É possível também que seja celebrada a separação extrajudicial
mesmo que haja ação de separação judicial em curso. O restabelecimento da
sociedade conjugal também pode ser feito de forma extrajudicial por escritura
pública.
A separação judicial pode ser consensual ou litigiosa. A litigiosa seria
separação falência ou ruptura; sanção ou remédio.
A separação falência é fundada em causa objetiva (insuportabilidade
da manutenção do vínculo).
A separação sanção funda-se em causa subjetiva (imputa-se culpa ao
outro, sendo as hipóteses previstas, a título exemplificativo, no art.
1573). A consequência é que o cônjuge culpado só teria direito aos
alimentos estritamente necessários e não pode manter o nome do
cônjuge inocente. Foi mitigada no ordenamento. Cíntia entende que
só casos de violência são abarcados pela separação-sanção.
A separação remédio ocorre nas hipóteses de um dos cônjuges estar
acometido de doença grave que torna insustentável a manutenção da
sociedade conjugal. Os efeitos dessa separação só serão observados a
despeito do regime de bens (o cônjuge doente sai do casamento com
os bens que trouxe).
Divórcio:
Não há imputação de culpa, discussão do estado de saúde ou outras questões. Pode
ocorrer o divórcio que resulta se uma conversão da separação, ou o divórcio direto. Não é
necessária partilha no divórcio, pode ser deixado para um segundo momento.
Judicial: pode ser consensual ou litigioso.
Extrajudicial: consenso das partes, escritura pública, participação de advogados.
Aula 07 – 29/08/18
UNIÃO ESTÁVEL
1. Introdução
A União Estável começa a aparecer na década de 60, mas somente com a CF/88 foi
reconhecida (art. 226, §3º). Por muito tempo, a união estável era considerada sociedade de
fato em caso de concubinato. No concubinato, cada companheiro participava na medida da
sua contribuição na constância da comunhão plena de vida (Súmula 380 do STF “presume-se
esforço comum acerca do patrimônio adquirido na constância da comunhão plena de vida”).
Muitas vezes, nesses casos, não tinha como provar a colaboração patrimonial da companheira,
que trabalhava em casa. Por essa razão, o Judiciário criou alternativa da indenização por
serviços prestados.
O Decreto 7036/44 reconheceu os direitos previdenciários e a lei 6015/73 reconheceu
a possibilidade de a mulher adotar o nome do companheiro, o que é próprio de uma entidade
familiar. Com a CF/88, a união estável é reconhecida como entidade familiar e equiparada ao
casamento (art. 226, § 3º).
A lei 8971/94 e a lei 9278/96 passaram a regular a união estável. Em 94, a lei
estabeleceu o direito à alimentos e sucessão. A lei de 96 reconheceu o direito real de
habitação, direito a meação dos bens adquiridos na constância do casamento, a conversão da
união estável em casamento, e a competência da Vara de Família.
2. Conceito
É a união pública, duradoura e contínua. A união estável se dá entre pessoas solteiras
ou separadas de fato ou juridicamente (art. 1723, §1º), não necessariamente entre casais
heterossexuais (o CC fala em união entre “homem e mulher”, mas isso não é mais exigência
desde a ADPF 132 e a ADI 4277). O suporte fático é o afeto, e não o tempo ou prole comum.
Primeiro, o reconhecimento da união estável foi condicionado por um tempo mínimo de 5
anos, ou por tempo menor, se houvesse filhos. Depois, o tempo foi reduzido a 2 anos, e hoje
não existe mais nenhum tempo mínimo, conforme art. 1723 do Código Civil. O objetivo é a
constituição de família, ou seja, a vida comum, podendo ser dissolvida a qualquer tempo.
A convivência sob o mesmo teto, chamada de “more uxorio”, conforme a Súmula 382
do STF, não é exigida. Ora, qual seria a diferença entre união estável e namoro? Tem-se
admitido hoje uma escritura pública de namoro, que basicamente serve para atestar que se
trata de um namoro e não de uma união estável, a fim de dizer que o namoro não tem por
objetivo a convivência plena de vida.
A união estável não altera o estado civil, uma vez que não exige um documento para
que exista uma união estável. Na Corregedoria de São Paulo, se as partes quiserem, podem
requerer ao ofício de registro Civil de Pessoas Naturais a averbação da união estável à margem
do acento de nascimento. Maria Berenice Dias diz que essa lacuna na lei não pode ser vista
com bons olhos, porque a união estável tem efeitos patrimoniais, e por isso deveria ser
reconhecida erga omnes (por todos, sobretudo os credores). Contudo, se a união estável tem
por objetivo a desburocratização, alguns argumentam que a exigência de uma escritura pública
ou um documento judicial que altere o estado civil pode impedir a facilitação do
reconhecimento dessa entidade familiar.
3. Regime jurídico
Está regulado pelos arts. 1723 e 1726 do CC. Pelo regramento da união estável, fica
claro que o vínculo se dá por afinidade, como no casamento, havendo afinidade no tocante a
sogro, sogra, cunhada, cunhado, etc. (art. 1595).
Poder familiar: há o artigo 1631/CC, que determina a igualdade do poder familiar entre os
companheiros, assim como no casamento. A dissolução do casamento e da união estável não
altera em nada o dever-função familiar. Os pais podem decidir em igualdade questões
envolvendo educação, saúde, moradia etc. dos filhos. Conflitos são resolvidos pela via judicial.
Bens de família: o art. 1711 estabelece os bens de família. Sobre 1/3 dos bens, o casal
pode engessar o patrimônio, que não pode ser penhorado ou vendido por nenhum dos
cônjuges ou companheiros.
Curatela: segundo o art. 1775, um companheiro pode ser nomeado como curador do
outro.
Sucessão: quanto ao direito sucessório, o art. 1790 foi declarado inconstitucional pelo STF
em 2017, por isso esse artigo não é mais a base do regime sucessório para união estável, que
agora é idêntico ao do casamento. Assim, cabe as regras do artigo 1830, pelo qual é
reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente (e também ao companheiro) se, ao
tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há
mais de dois anos.
Direito de habitação: o artigo 1831 falava sobre direito real de habitação entre os
cônjuges, não prevendo o mesmo para a união estável. A posição doutrinária majoritária dizia
que não houve revogação expressa das leis de 94 e 96 com o advento do novo Código Civil,
que mencionavam esse direito. Hoje, o fundamento pode ser o próprio artigo 1831, pois o STF
determinou que para efeitos sucessórios, não há diferenças entre união estável e casamento.
Aula 08 – 11/09/18
Marco temporal: o marco temporal da união estável é um tópico complicado, uma vez
que a corregedoria veda que o tabelião conste data anterior ao registro, já que o tabelião não
pode avaliar provas.
RELAÇÕES DE PARENTESCO
1. Introdução:
Cíntia nota que hoje já houve grande avanço na medicina, de modo que as disposições
do Código são omissas em alguns aspectos, como a reprodução assistida. Existe hoje a
resolução 2121/2015 do Conselho Federal de Medicina, que dispõe sobre esse assunto, mas é
uma norma deontológica, que também contém lacunas (por exemplo, sobre cessão
temporária do útero). O CC não fala sobre presunção de maternidade.
Outra questão é a multiparentalidade, por exemplo o caso da criança cuja mãe
biológica faleceu no parto, de modo que, quando estava na adolescência, teve incluído o nome
da mãe socioafetiva no registro. O código não fala especificamente de socioafetividade, sendo
esta uma construção mais doutrinária e jurisprudencial.
2. Conceito:
Parentesco é a relação jurídica ou vínculo existente entre pessoas que descendem
umas das outras (tem o mesmo tronco comum, sendo o parentesco consanguíneo), entre
cônjuge e companheiro com os parentes do outro (afinidade) e por fim, entre pessoas que têm
entre si um vínculo civil (socioafetivo).
Dessa forma, é possível identificar as espécies de vínculo de parentesco (art. 1523):
consanguíneo (provado por exame de DNA, podendo ser por fecundação homóloga ou
heteróloga), por afinidade ou por socioafetividade. O vínculo por afinidade decorre de
casamento ou união estável, e limita-se aos ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge e
companheiro (sogra, sogro, cunhado, genro, nora). O vínculo de socioafetividade é verificado
pela perícia biopsicossocial. Não é mero carinho, mas uma ligação tamanha entre as pessoas.
3. Contagem do parentesco:
Pode ser por linha reta (1591 c/c 1594) ou por linha colateral (1592 c/c 1594). No
parentesco por linha reta (ascendentes e descendentes), cada geração que se distancia conta
um grau. Não há limite, sendo este infinito.
Já no parentesco em linha colateral, é preciso subir ao tronco comum e descer até
encontrar o outro parente. São parentes os colaterais até quarto grau. Diz-se que se a medida
de subida até o tronco comum é igual a medida de descida, o parentesco colateral é igual. Se
não for, é desigual.
Observe: Irmão é parente colateral igual de 2º grau (sobe um até o tronco comum,
depois desce um). Tio é parente colateral desigual em 3º grau. Primo é parente colateral igual
em 4º grau.
4. Filiação:
A filiação se baseia no vínculo entre pais e filhos, que pode surgir da consanguinidade
ou da socioafetividade. Não há nenhuma discriminação entre os filhos, sejam biológicos ou
não. A previsão está no artigo 1596 - 1606 do CC.
Quanto as presunções de paternidade, estas foram construídas com base em três
princípios:
Mater semper certa est (mãe sempre é certa), pois o nascimento é o que revela quem
é a mãe (os hospitais fornecem declaração de nascido vivo). Por isso, o CC não trata de
presunção de maternidade. Cíntia questiona essa presunção de que “mãe sempre é
certa”, tendo em vista a gestação por substituição. As normas da corregedoria já falam
sobre como se dá as normas de registro do nascimento em caso de gestação por
substituição. O médico deve dar uma declaração sobre isso na declaração de nascido
vivo. Pela Resolução 2121/15 do CFM, as mulheres que doarem o útero devem ser
parentes até quarto grau, e demais casos é necessária autorização do médico. Isso
existe porque é vedado pela CF o comércio de órgãos, e a doação do útero deve ser
gratuita.
Pater semper incertus est (pai sempre é incerto): com os exames de DNA, essa
presunção não tem tantos efeitos.
Pater est quem nuptia demonstrarit (pai é quem o casamento demonstra), ou seja,
presume-se pai pelo casamento/união estável. Essa presunção só pode ser
questionada pelo pai (presunção iuris tantum), sendo que para todos os demais é iure
et de iure, ninguém pode contestar.
O adultério, por si só, não afasta a presunção de paternidade. A infertilidade, se existe
na época da concepção, ilide presunção.
Se a mulher já estava grávida quando casou, a pessoa que casou e sabia dessa
condição, aceitando-a, não pode questionar a paternidade depois, pois seria venire
contra factum proprium.
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários,
decorrentes de concepção artificial homóloga.
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização
do marido.
Na inseminação heteróloga, o esperma é de terceiro.
Aula 09 – 12/09/18
Reprodução assistida:
A reprodução assistida é regulada pela Resolução 2121/15 do CFM. Por ela, veda-se a
reprodução assistida para escolha de características da criança, como cor do cabelo, sexo, etc.,
sendo usada, normalmente, quando há riscos na gestação (ex. problemas com o fator RH) ou
quando há dificuldades para o casal engravidar (esterilidade, poucos óvulos...). Contudo, é
permitida a gestação assistida quando o casal já tem um filho portador de doença congênere,
e há necessidade de doação de órgãos, células troncos, etc., de um irmão para outro. A Cíntia
discorda disso, pois, para ela, é uma coisificação do ser humano.
A fecundação pode ser homóloga (com material do casal) ou heteróloga (com material
de terceiro. O CFM exige doador anônimo e autorização do marido), sendo a fecundação in
vitro usada normalmente. São implantados, geralmente, mais de um embrião, haja vista a
possibilidade de que o procedimento não dê resultados. Os embriões excedentes são
chamados de excedentário, e em geral são congelados. Cíntia informa que ainda não há
segurança acerca de se os bebês que advém de embriões congelados não apresentarão
doenças futuras.
Os embriões podem ficar congelados por 3 anos, conforme a Lei de Biosegurança.
Após isso, podem ser descartados ou destinados à pesquisa científica. A doação só pode ser
feita com consentimento do casal.
5. Reconhecimento do filho:
O art. 1611 traz uma questão polêmica. Antes, o filho fora do casamento só
poderia ser reconhecido pelo pai com anuência da esposa. Isso mudou, mas o
artigo 1611 só permite que o filho fora do casamento resida com o casal havendo
anuência do cônjuge.
ABANDONO AFETIVO
É uma tese construída pela doutrina, que admite a responsabilidade civil nas relações
familiares, em uma situação específica de abandono do pai ou mãe em relação ao filho. O
problema da tese é a questão sobre possibilidade de codificar amor, ou obrigar alguém a amar.
Para a Cíntia, devem estar presentes os pressupostos da responsabilidade civil: ação ou
omissão; o elemento dano (comprovado com perícia biopsicossocial); a culpa (negligência do
pai em relação ao filho) e o nexo causal.
Há dois projetos de lei que já tentaram codificar o abandono afetivo como causa de
indenização. Um deles previa que o abandono afetivo obriga os pais a pagarem indenização
por dano moral. O outro coloca os requisitos da responsabilidade civil como necessário para a
indenização, ou seja, deve existir dano comprovado (geralmente por meio de perícia
biopsicossocial), nexo causal e culpa.
Ainda existe um conflito sobre o quantum que deve ser pago.
Aula 10 – 18/09/18
ALIENAÇÃO PARENTAL
Cíntia não é favorável a criminalização da alienação parental. Para ela, a alienação visa
buscar a convivência familiar pacífica e saudável, sem punir ninguém. Para ela, já existem
crimes contra a honra e crimes contra a criança e o adolescente, de modo que já existe a
ultima ratio para isso, de modo que foi vetado o artigo da Lei de Alienação Parental que
tipificaria essas condutas.
Gardner apontava a alienação como perturbação pela disputa pela guarda ou custódia
da criança, mas Cíntia acrescenta que não é somente pela disputa da guarda, mas pelo
sentimento de vingança ou quando a ruptura não é bem trabalhada.
Alguns apontam a guarda compartilhada como solução, mas a professora também não
acredita que sempre será a guarda-compartilhada que vai resolver o problema. Se o convívio já
é traumático, o problema pode ser aumentado.
Discute-se se a alienação pode ser estendida a outros familiares que não os pais. É
reconhecido que o sujeito ativo pode ser avós, tios, desde que tenha convívio significativo. Não
há ainda, pela jurisprudência, reconhecimento de que esses familiares podem ser sujeitos
passivos.
O artigo 2º da Lei exemplifica algumas condutas que caracterizam a alienação.
As sanções podem ser aplicadas de forma cumulativa, sem prejuízo das sanções
criminais e civis. São elas: advertência, ampliação do regime de convivência familiar, multa
(pode ser diária), acompanhamento psicossocial, alteração da guarda para compartilhada ou
inverter a guarda.
A avaliação psicossocial está prevista no artigo 5º, permitindo várias formas de avaliar.
O profissional deve ser habilitado e com comprovada competência técnica. Impõe-se uma
equipe multidisciplinar e que o laudo esteja pronto em até 90 dias.
Cíntia acha que a revogação do artigo 9º foi uma perda para a lei, pois impediu a
mediação, sob argumento de que o direito à convivência familiar é indisponível. A intervenção
deveria ser mínima, requerendo que os direitos das crianças e dos adolescentes sejam
assegurados por autoridades e instituições cujas ações sejam indisponíveis.
ADOÇÃO
A adoção simples (tanto de maiores e menores) era prevista no CC/16 apenas para
casais que não podiam ter filhos, de modo que havia um preconceito pelo legislador. A adoção
simples não conferia status de filho, de modo que não dava a eles os direitos inerentes a esse
estado. A lei 4655/65 conferiu legitimação adotiva, sendo esta irrevogável e cessava o vínculo
com a família biológica.
O Código de Menores de 1979 permitiu a adoção plena, que veio substituir a
legitimação adotiva, mantendo o mesmo espírito desta, embora apresentasse a equiparação
ao filho biológico. Contudo, foi a CF/88 foi que eliminou quaisquer distinções entre a filiação
natural e a adotiva.
Hoje, é o ECA que regulamenta a adoção. Por ele, a adoção era disciplinada apenas
para menores de 18 anos. O CC/02 trouxe um duplo sistema: adoção de menores de maiores.
A Lei Nacional de Adoção revogou vários artigos do CC/02. A adoção de menores é regulada
pelo ECA e a de maiores é regulada, no que couber, pelas disposições desse Estatuto.
1. Princípios da Adoção
Princípio da irrecorribilidade: houve discussão sobre esse princípio, que definia que a
adoção era decidida por sentença irrecorrível, porque isso feriria o princípio do duplo
grau da jurisdição. Hoje entende-se que a adoção só é irrecorrível após o trânsito em
julgado. A adoção produz efeitos após o transito em julgado de sentença constitutiva.
Princípio do sigilo e anonimato: criança ou adolescente podem pedir o conhecimento
das origens biológicas depois da maioridade, mas esses dados permanecem em sigilo
até então.
Após a adoção, é lavrada nova certidão de nascimento com o nome dos pais adotivos,
sem qualquer menção a ser adotado (só anotação à margem).
Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente: necessário para
fundamentar a adoção, conforme artigo 227 da CF.
Aula 11 – 25/09/18
2. Natureza jurídica
3. Requisitos
Art. 43 do ECA: melhor interesse da criança fundamenta o interesse legítimo. Assim, a
adoção só é admitida se representar benefício para a criança ou adolescente que será
adotado. Há algumas bases nos artigos 28 e 29 do ECA.
É o que fundamenta a família substituta, que pode ter a guarda, tutela ou
adoção temporária, para que a criança não fique em abrigos.
Art. 45 do ECA: consentimento dos pais do adotando, quando forem estes conhecidos.
Art. 46 do ECA: convivência necessária para a pessoa ou casal que pretende adotar,
passando estes a ter a guarda ou a tutela da criança ou adolescente. Na adoção
internacional, esse período é de no mínimo 30 dias. A Cíntia acredita que é um “mal
necessário”, embora muitos critiquem o estabelecimento do período de convivência
porque pode gerar situações de desistência da adoção.
Período de convivência não se confunde com família substituta. A ideia do
período de convivência é que a criança viva no contento familiar da família que
pretende adotá-la. Já a família substituta ou acolhedora tem a missão de
receber a criança ou adolescente para que estes não passem tanto tempo no
abrigo. O período que uma criança/adolescente pode viver com a família
substitutiva é de 2 anos (tentativa de não gerar socioafetividade), sendo esse
prazo impróprio. A família substituta pode ter a guarda ou tutela da criança,
que também pode ser nela posta pro adoção, mas isso não implica dizer que
esse instituto pode ser usado para burlar o processo de adoção.
Art. 42 do ECA: exige a capacidade para adotar, ou seja, a idade mínima é de 18 anos
para adotar, mas o juiz pode avaliar outras características, além de que é exigido uma
série de avaliações para configurar o perfil. Além disso, deve haver um distanciamento
de 16 anos entre os adotantes e o adotando.
Não há distinção de gênero para quem pode se inscrever no cadastro. Com
isso, surgiu várias discussões sobre casais homossexuais adotarem, mas Cíntia
diz que isso não é mais um tema a se discutir, uma vez que é puro resultado de
preconceito e já é entendimento consolidado na jurisprudência. Antes,
somente um adotava, hoje, com a consolidação da união estável homoafetiva,
ambos podem adotar (multiparentalidade).
4. Habilitação
Adoção póstuma: o processo começou antes do óbito, mas quando a pessoa morre,
pode-se permitir a adoção retroagindo à data do óbito na sentença. Isso acontece
normalmente quando a criança já passou o período de convivência com a pessoa ou
qualquer outra situação conforme o melhor interesse da criança. Se era um casal,
normalmente procede-se a adoção conjunta com adoção póstuma, e não unilateral.
Adoção intuito personae ou personalíssima: a pessoa que adota não está na ordem de
preferência do cadastro de adoção. O cadastro de cada cidade tem ligação com o
cadastro estadual e nacional. A pessoa faz a inscrição em sua comarca para se tornar
habilitada para a adoção (deve entregar documentos, comparecer em avaliação
psicossocial, etc). Além disso, a habilitação estabelece prioridade: quem se inscreveu
primeiro tem preferência na adoção. Já na adoção personalíssima, os pais
consanguíneos pedem que determinado casal ou pessoa adote seu filho (art. 50, §13 e
14). O ECA exige que a criança tenha mais de 3 anos. O juiz vai verificar se há a as
condições necessárias e que não exista má-fé.
Observações
Há ruptura do vínculo com a família consanguínea, mas mesmo com a adoção
permanecem os impedimentos para vínculos matrimoniais.
O sobrenome é automaticamente transferido ao adotado.
O poder familiar é exercido entre os pais adotivos e o adotando.
O prenome pode ou não ser alterado. O nome é direito de personalidade, por isso
deve haver manifestação da criança ou do adolescente sobre a alteração do prenome.
Pode até mesmo haver uma manifestação de psicóloga ou especialista sobre o
aconselhamento ou não da alteração do prenome.
Adotado adquire a nacionalidade dos pais que adotaram.
Todos os efeitos patrimoniais são garantidos.
ALIMENTOS
A obrigação de prestar alimentos não é normalmente in natura (comida, apartamento,
etc.) mas geralmente fixada em pensão, para necessidades consideradas amplamente. O valor
é fixado tendo em vista a possibilidade de quem paga (binômio necessidade/possibilidade).
Paulo Lobo acrescenta a razoabilidade e Maria Berenice Dias em proporcionalidade (por
exemplo, não é razoável uma pensão de 50 mil por mês para uma criança de 5 anos). Por isso
não se fala mais em binômio, mas trinômio.
Alimentos não é participação no patrimônio, por isso não é fixado com base no
Imposto de Renda, e não se permite pagar parte em pensão e colocar o restante, por exemplo,
em um fundo de investimento. A participação no patrimônio acontece na sucessão.
Os filhos têm direito a receber alimentos até completarem a primeira faculdade, sendo
o limite máximo de 24 anos. A exoneração da obrigação de pagar tem que ser solicitada, pois
não é automática.
Aula 12 – 26/09/18
1. Características
Direito personalíssimo: o direito a alimentos é personalíssimo, ou seja, não se estende
aos herdeiros, que não poderão receber. Contudo, quanto ao devedor, se o devedor
de prestações de alimentos morrer, tudo que ele devia ter pago até morrer passa para
os herdeiros, nos limites da herança (quanto o patrimônio positivo pode suportar). As
prestações vincendas geram divergências. A maioria da doutrina fala que os herdeiros
só devem as prestações vencidas e não vincendas, por ser uma obrigação
personalíssima. Por ocasião do óbito, o filho provavelmente também já vai participar
do acervo do de cujos, além de benefícios previdenciários.
Reciprocidade: tanto pais podem pedir alimentos aos filhos, como os filhos aos pais, e
se estende aos ascendentes conforme o grau mais próximo. A ação avoenga é usada
quando os avós são chamados a prestar alimentos na impossibilidade de os pais fazê-
lo. Outros devedores também podem ser os descendentes, do grau mais próximo ao
mais remoto. Observa-se a ordem de sucessão (ascendentes antes de descendentes) e
depois os colaterais, ou seja, os irmãos. A doutrina discute se os colaterais em grau
mais remoto têm obrigação de prestar alimentos. A doutrina majoritária diz que não,
porque não existe essa previsão legal. A lei previu a obrigação apenas aos irmãos. Já
Maria Berenice Dias sustenta que se estende aos colaterais em graus mais distantes,
porque são herdeiros, de modo a ter obrigação subsidiária nesses casos. O que fragiliza
o argumento dela é que esses herdeiros são facultativos.
Também existe reciprocidade entre ex-cônjuges.
Se o pai ou mãe tem mais de 70 anos, a obrigação é solidária.
Maria Berenice é favorável a obrigação de prestar alimentos em caso de
socioafetividade, ou seja, não seriam apenas os laços consanguíneos que
sustentariam tal obrigação.
Prisão civil: o não pagamento de prestação de alimentos pode acarretar prisão civil,
diante da Vara da Família. No Pacto de São José da Costa Rica a prisão civil só é
admitida em caso de dívida causada por não pagamento das prestações de alimentos.
Para afastar a possibilidade da prisão civil, o devedor precisa depositar os três últimos
meses. As demais prestações são executadas mediante penhora. Quando há a figura
do devedor contumaz, aquele que somente paga as prestações quando chamado
judicialmente a fazê-lo, a jurisprudência admite a prisão mesmo com o depósito.
2. Classificação
Quanto a origem: são os alimentos legais (previsão legal entre pais e filhos e entre
cônjuges, conforme art. 1696), alimentos convencionais (tem como fundamento a vontade das
partes) e os alimentos ressarcitórios/indenizatórios (comuns em casos de acidentes de
trânsito, quando a pessoa fica incapaz de trabalhar por certo período).
Quanto a finalidade: podem ser definitivos ou regulares (embora seja sempre possível a
revisão, conforme a necessidade e proporcionalidade), provisórios (antes da sentença de
forma liminar, mediante prova pré-constituída do vínculo, com exceção dos alimentos
gravídicos, para os quais bastam indícios de paternidade 5, sendo entes os chamados
provisionais ou ad litem).
BEM DE FAMÍLIA
Podem ser legais, cuja previsão legal está na Lei 8009/90. O bem de família tem como
principal característica a impenhorabilidade. É impenhorável o único imóvel no qual reside a
entidade familiar. As exceções estão no artigo 3º da lei.
5
O artigo 10 da lei sobre alimentos gravídicos previa a repetição do indébito, mas vetou-se esse artigo
em razão da obrigação de prestar alimentos ser irrepetível, salvo se há má-fé da mãe (sabe que não é
pai, por exemplo).
Os bens de família convencionais também são impenhoráveis, mas há exceções no
artigo 1715, que dizem respeito às dívidas anteriores à instituição do bem de família e em caso
de débitos tributários, que permitem a execução de bens de família, assim como em casos de
obrigações propter rem (ex. obrigação condominial).
PODER FAMILIAR
Antes, o CC/16 falava em “pátrio poder”, entendendo que o pai era quem tinha o
poder familiar. Essa expressão foi retirada do CC/02, que usa a expressão “poder familiar”, que
também é alvo de críticas, uma vez que não é um poder que permite aos pais fazerem o que
bem entenderem com seus filhos. Assim, alguns optam pela expressão função-dever familiar.
A CF prevê que a família é a base da sociedade, e ao Estado cabe à tutela da família,
compartilhando com os pais o poder de cuidar e tutelar das crianças e adolescentes.
Os pais exercem o poder familiar, e na ausência de um deles, o outro o exerce na sua
totalidade. O novo casamento não altera essa condição. Nem mesmo a guarda define esse
poder, que é inerente a condição de pai e mãe 6. Na hipótese de conflito na opinião entre os
pais, o juiz pode decidir conforme o melhor interesse da criança e do adolescente.
Esse poder-dever permanece enquanto os filhos forem menores, sendo ela
irrenunciável, intransferível, inalienável e imprescritível.
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno
exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para
outro Município;
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
6
Quando os pais falecem, a criança pode ficar sobre a guarda dos avós, por exemplo. A guarda não tem
as mesmas funções do poder familiar. Quando ocorre morte, é comum pedir a tutela, que tem mais
poderes. Se os pais não morreram, pode vir a acontecer a destituição do poder familiar.
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida
civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento;
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição.
Aula 13 – 02/10/18
Extinção: ocorre por causas naturais. Pelo art. 1.635, extingue-se o poder familiar:
Pela morte dos pais ou do filho
Pela emancipação
Pela maioridade
Pela adoção
7
Usa-se muito essa hipótese para tentar afastar a responsabilidade civil por abandono afetivo.
Argumenta-se que esse dano não é indenizável, uma vez que a destituição é a consequência legal
prevista em lei. Cíntia discorda.
O inciso V diz que se extingue o poder familiar “por decisão judicial, na forma
do artigo 1.638”. O legislador confunde destituição com extinção. A ideia era
dizer que a destituição, assim como a extinção, é definitiva, mas a extinção é
natural, independente de sentença, daí que esse inciso está erroneamente
colocado no art. 1635.
TUTELA E CURATELA
Tutela:
A tutela imita o poder familiar. A hipótese da tutela ocorre quando não há pais no
exercício do poder familiar, seja por extinção ou destituição. Assim, os filhos menores são
colocados em tutela por falecimento dos pais ou tendo estes declarados em ausência, ou no
caso dos pais decaírem do poder familiar (extinção ou destituição). A regra é que não existe
tutela quando os pais estiverem vivos e em plena possibilidade de exercício do poder familiar .
A deficiência não acarreta perda do poder familiar, nem mesmo a incapacidade (salvo se
expresso).
Espécies de tutela:
Testamentária (1729): tutor pode ser nomeado por testamento ou por outro ato
autêntico (não precisa ser escritura pública).
Legítima (1731): é definida conforme a lei. Há sentença, sendo primeiros chamados os
ascendentes, sendo que os de grau mais próximo excluem os mais remotos. Não há
distinção entre avós paternos e maternos. Depois, são chamados os colaterais até 3º
grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais
velhos aos mais moços. Em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto
a exercer a tutela em benefício do menor. É possível, pelo princípio da
socioafetividade, que alguém que não seja parente seja nomeado tutor e que se
quebre a ordem de nomeação (ativismo judicial). O Projeto de Lei Fiúsa pretende
acrescentar um parágrafo único a esse artigo que vise deixar claro que o juiz pode
quebrar a ordem de preferência ou nomear terceiro.
Dativa (1732): não havendo nenhuma das opções anteriores, o juiz nomeará alguém
de sua confiança. O juiz responde solidariamente, de forma pessoal, pelo tutor
nomeado.
Em possibilidade:
Mulheres casadas. Cíntia diz que o que fundamentou essa possibilidade
porque mulheres casadas já teriam obrigações com a criação de seus filhos.
Alguns doutrinadores alegam a inconstitucionalidade desse inciso, porque
deveria se dar ao homem e a mulher o mesmo direito. Assim, a proposta é
eliminar o inciso.
Maiores de sessenta anos;
Aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
Os impossibilitados por enfermidade;
Aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
Aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
Militares em serviço.
Protutor
O “protutor” é uma figura consolidada na França, Itália. Não tem tradição no Brasil. A
função dele é auxiliar o juiz na fiscalização do tutor e vai ser atribuída remuneração para isso,
advinda do patrimônio do tutelado. Interessante para o melhor interesse do tutelado em
hipóteses de patrimônio enorme para administrar, como grandes heranças.
Responsabilidade do Juiz
A responsabilidade do juiz é direta e pessoal, conforme o art. 1.744, I, CC. Se o juiz não
nomear o tutor oportunamente, é responsabilizado por isso, respondendo até
subsidiariamente quando o tutor não oferecer garantia legal (o tutor tem que ter um
patrimônio quando o menor possui bens), ou o juiz não exige a prestação de contas, responde
por isso.
Extinção
Extingue-se a tutela com a maioridade ou emancipação do menor, ou se o menor
recair sob poder familiar por reconhecimento ou adoção.
Curatela
É uma figura subsidiária da tutela. As funções do curador, a prestação de contas, tudo
já está regulado na tutela. O próprio Estatuto das pessoas com Deficiência diminuiu
consideravelmente as hipóteses de curatela, cabendo a curatela àqueles que, por causa
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade, aos ébrios habituais e viciados
em tóxico e aos pródigos. O artigo 6º do Estatuto das Pessoas com Deficiência diz que as
pessoas deficientes nos termos do art. 2º do mesmo não são consideradas incapazes, sendo
postas em curatela nas hipóteses do art. 84 da referida lei.
Cíntia acha que o Estatuto era necessário, para garantir de forma mais segura o acesso
das pessoas com educação, saúde, lazer. Já, quando o Estatuto coloca que essas pessoas não
são incapazes, faz um “desfavor” a elas, porque deixa-as expostas em relação a administração
patrimonial e prática de negócios jurídicos.
O cônjuge ou companheiro pode ser curador do outro, desde que não separados. Na
falta de cônjuge ou companheiro, recorre-se aos ascendentes (pai e mãe), e na sequência, aos
descendentes.
Em caso de idosos, não é a mera idade que justifica a curatela, mas situações clínicas
que possam vir a justificar essa necessidade.
Fim da matéria da P1
03/10/18 - Aula 14
8
A doação não é um exemplo de sucessão por ato inter vivos, porque não provoca substituição, mas sim
transferência. É muito usada para a divisão dos bens, mas não é sucessão.
O princípio da “saisine”9, abordado pelo Código Civil francês de 1804 e surgido na
Idade Média, faz parte da expressão “os mortos são substituídos de pleno direito”. É uma
ficção jurídica por meio do qual o patrimônio do de cujus é automaticamente ocupado pelos
herdeiros. Na Idade Média, esse princípio foi importante porque os vassalos tinham direito a
usar e cultivar a terra, mas quando ele morria, todas as terras voltavam automaticamente ao
senhor feudal, que era dono de tudo. Acontece que o senhor feudal passou a cobrar altíssimos
impostos para os herdeiros reaverem as terras e continuar nela vivendo e trabalhando.
Assim, construiu-se o princípio da saisine para que essa transferência fosse automática
entre vassalo e seus herdeiros. Esse princípio foi incorporado em diversos ordenamentos,
inclusive no Brasil. O art. 1572 do CC/16 e o 1784 deixam expressos o princípio da saisine no
Direito Brasileiro. Hoje, se usa esse princípio para evitar que o patrimônio fique sem dono até
o fim do inventário/partilha (patrimônio acéfalo). Hoje, permite-se pela lei o condomínio legal
entre os herdeiros durante esse período.
A sucessão legítima tem regras em lei e vigora em absoluto se não houver testamento.
Nem mesmo o testamento afasta todas as regras da sucessão legítima, que é engessada em no
mínimo metade do patrimônio, pois não se permite afastar os herdeiros legítimos necessários.
09/10/18 - Aula 15
SUCESSÃO EM GERAL
1. Abertura da Sucessão:
É a abertura da sucessão que a leva ao plano da eficácia, seja essa sucessão legítima ou
testamentária.
A abertura da sucessão se dá com a morte da pessoa natural. Em regra, é a morte
encefálica. O suporte legal para esse conceito está na Lei 9434/97.
As declarações antecipadas de vontade são aquelas em que o indivíduo declara, em
vida e consciente, quais medidas serão tomadas caso haja complicação em seu estado clínico.
Elas têm ganhado força no Brasil, sobretudo quando a pessoa não tem morte cerebral. Não é
testamento e não tem requisito formal, exigindo-se a autenticidade por reconhecimento de
firma. Nelas se nomeia também um curador, que será quem tomará a decisão de reanimar ou
não a pessoa quando em estado terminal.
2. Local:
A regra do art. 48, caput e II e III do NCPC e 1785 do CC, estabelece que o local de
abertura de sucessão é o do último domicílio do falecido, o que define a competência. Não
tendo domicílio certo, havendo um imóvel, será no local do imóvel.
4. Administração da herança
A herança considera-se bem imóvel (art. 1791 c.c. art. 91 do CC), sobre o qual se
estabelece o condomínio forçado/legal até a partilha. Quem administra o patrimônio, nesse
período, chamada de administração ordinária (atos de conservação do bem) é o inventariante.
O novo CPC, art. 614, diz que se um dos herdeiros estava na posse de um bem que compõe a
herança, continua como seu administrador. O inventariante tem obrigação de firmar
compromisso em 5 dias após a nomeação, podendo ser cônjuge, um dos filhos, terceiro ou
escolhido pelo juiz.
5. Vocação hereditária
Trata-se de quem está apto para ser considerado herdeiro e será chamado para
participar da herança. É caso de legitimidade passiva para suceder. A lei tem que definir quem
são os herdeiros. O art. 1798 fala se serão as pessoas já nascidas ou já concebidas na época da
abertura da sucessão. Os nascituros, na abertura da sucessão, já têm vocação hereditária, pois
a “lei põe a salvo os direitos do nascituro”.
Quanto aos embriões congelados, há divergências. Maria Helena Diniz diz que o
embrião congelado é pessoa nos termos do art. 2º do Código Civil. Para ela, no inventário,
esses embriões deveriam ser arrolados como herdeiros. Outra corrente, intermediária, diz que
os embriões teriam direitos sucessórios, mas com prazo máximo de 10 anos. Ou seja, a petição
de herança deve ser apresentada dentro do prazo prescricional de 10 anos conforme ocorre
quando o filho que não sabia ser filho peticiona para participar da herança depois de feito o
inventário. Por fim, para a corrente mais radical, não há direitos sucessórios para os embriões
congelados, porque não tem viabilidade de vida.
Nesse caso, pode-se sugerir a fideicomisso. É uma substituição testamentária. No
testamento, o autor da herança (fideicomitente) designa alguém para receber o patrimônio
provisoriamente (fiduciário), para administrar os bens, que será, posteriormente, destinado à
prole eventual (fideicomissário). Se não houver prole, a propriedade se consolida para quem
recebeu provisoriamente, mas não tem prazo específico para isso.
Ainda, a prole eventual pode ser beneficiada pela herança sem a fideicomisso, mas
nesse caso deveria ser respeitado o prazo de 2 anos, conforme o artigo 1800, §4º.
Depois de dois anos da separação de fato, a pessoa ainda pode ser considerada
herdeira, mas isso muda de figura, caso, por exemplo, já exista união estável contra outra
pessoa. Não podem ser herdeiros quem escreveu o testamento, as testemunhas do
testamento e a concubina do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado
de fato do cônjuge a mais de 5 anos.
No testamento marítimo e aeronáutico, os comandantes não podem herdar, porque
tem a incumbência de firmar o testamento.
10/10/18 - Aula 16
Aula 17 – 23/10/18
TESTAMENTO
1. Conceito:
O testador (quem faz o testamento) vai dispor do seu patrimônio por meio de uma
cédula ou instrumento testamentário. Não é contrato, mas é um negócio jurídico unilateral
porque tem a declaração de vontade do testador para dispor de seu patrimônio e determina
os efeitos do seu testamento, havendo uma condição suspensiva de que os efeitos só serão
gerados com o falecimento. Durante o período de feitura do testamento, os beneficiários
possuem expectativa de direito. O ato do testamento é revogável, pois sempre o que vale é o
último testamento.
O testamenteiro é quem vai defender e executar as disposições testamentárias em
favor dos herdeiros testamentários. Os herdeiros não têm obrigação com o testamento, por
isso é gratuito.
A forma do testamento deve ser solene. Se não seguir as formalidades escritas na lei, é
nulo. Existem seis formas testamentárias que devem ser seguidas. Pode ser:
Formas ordinárias: público, cerrado ou místico, particular.
Formas extraordinárias: marítimo, militar, aeronáutico, nuncupativo.
2. Disposições testamentárias:
A legítima é destinada aos herdeiros necessários: ascendentes, descendentes e
cônjuge. Isso não significa que se possa descrever o que é legítima do que é disponível, tudo
isso pode estar descrito no testamento. O que gera conflito é como fazer as disposições ou
cláusulas testamentárias.
Substituição testamentária: é a imposição de uma condição para se receber
determinado objeto. O substituto só recebe se o substituído não aceitar. Essa
substituição é chamada de substituição comum ou vulgar, porque já se sabe quem é o
substituto. Pode, contudo, haver substituição fideicomissária. No fideicomisso, o bem
é deixado em confiança de A (fiduciário), para que, concretizada determinada
condição, passar para B (fideicomissário). A cláusula seria algo como “Deixo minha
empresa para João, que irá transmiti-la ao meu filho se ele acabar a faculdade”. Se o
filho não se formar, não se concretiza a substituição.
Deserdação: temos que respeitar a legítima, mas o herdeiro necessário pode ser
afastado via deserdação. A deserdação não existe se não houver testamento. Se não
houver testamento, o herdeiro necessário só pode ser afastado por indignidade (que
também pode ser usada em testamento). Qualquer um pode ser afastado por
indignidade, mas a deserdação só afasta os herdeiros necessários. O 1814 traz os atos
que provam a indignidade, que deve ser provada pelos demais herdeiros através de
uma ação de exclusão de herdeiro por indignidade. Há uma cláusula testamentária
mais a ação de deserdação para que se exclua um herdeiro por deserdação, sendo que
a ação só pode ser movida se houver a cláusula. Quem move a ação são os demais
interessados, que se beneficiariam dela. Ainda, deve haver um motivo para deserdar.
São as mesmas hipóteses da indignidade somadas com os artigos 1932 e 1933. O
motivo deve ser provado pelos demais herdeiros. São casos de:
Ofensa física;
Injúria grave;
Desamparo do herdeiro;
Se os testados mantêm ou mantiveram relações ilícitas com o cônjuge ou
companheiro do testador, ou com a esposa ou marido do falecido.
3. Invalidades do testamento:
A primeira invalidade possível do testamento é a violação de forma (não foi feito
perante tabelião, não tem testemunha, etc). A segunda forma é vício de vontade (dolo,
chamada captação de vontade; coação; erro, etc). A ausência de capacidade testamentária
ativa também invalida o testamento (art. 1960 e 1961). A idade exigida é de 16 anos. Só a
própria pessoa pode fazer, de modo que não existe tutela e curatela no testamento.
Aula 18 – 30/10/18
4. Formas de testamento:
Ao contrário do direito obrigacional, há ampla liberdade para celebrar contratos
atípicos, em testamento a lógica é diferente: só pode declarar à vontade por meio de
testamento se for seguida uma das formas. O que se admite é a consubstanciação de uma
forma em outra quando presentes os requisitos. Essa exigência é para proteger os herdeiros e
a autenticidade da vontade.
É proibido o testamento conjuntivo, como em caso de pessoas casadas ou em união
estável, uma vez que não essas pessoas são herdeiras entre si e não necessariamente
morrerão no mesmo momento, além de que o testamento é personalíssimo.
Formas ordinárias:
Instrumento público: é o testamento lavrado pelo tabelião de notas ou por seu
substituto legal (indicado pelo tabelião para substituí-lo em suas atribuições
privativas). É uma atribuição privativa. O testamento é lavrado em
consonância com as vontades do testador, devendo a manifestação de
vontade ser espontânea. O que não é possível é o tabelião lavrar um
testamento com perguntas, porque o testamento deve ser espontâneo e as
perguntas do tabelião podem dirigir as disposições do testador. As perguntas
podem ser feitas ao testador somente para confirmação e esclarecimento. O
tabelião deverá ler o testamento lavrado na presença de duas testemunhas e
todas assinam. A fé pública do ato notarial presume veracidade.
Não há disposição específica sobre proibição de testamento público
para o surdo-mudo. Se fosse testamento particular, de próprio punho,
não haveria problema, mas no testamento público o tabelião precisa
ler. A Cíntia é contra o uso de intérprete porque pode haver
diferenciação na tradução. Assim, parte da doutrina opta somente
pela permissão de testamento particular para os surdos e mudos.
Estrangeiros não podem testar por testamento público.
Acerca da publicidade que deve ser dada ao testamento público, existe
corrente que entende que o fato de ser público significa possibilidade
de acesso, mas também há quem entende a publicidade como causa
de fé pública. A Corregedoria de Justiça tem posição intermediária,
dizendo que a publicidade é restrita, limitada aos interessados. A
Cíntia não concorda com isso, porque acha que pode haver coerção
dos interessados. Para ela, somente um resumo deveria ser
disponibilizado.
Aula 19 – 06/11/18
Formas extraordinárias:
Marítimo ou aeronáutico: é aquele celebrado em viagem na presença de duas
testemunhas, nos termos do art. 1.878 CC. O comandante ou piloto celebrará
o testamento público ou cerrado.
Caducidade do testamento: se o testador não morrer durante a
viagem e não confirmar a declaração de vontade pelas formas
ordinárias, o testamento fica caduco.
Militar: realizado na situação em que haja pessoas que estejam a serviço das
forças armadas em campanha, em situação de perigo real e sem possibilidade
de realizar testamento de forma ordinária. O comandante da campanha faz as
vezes do tabelião perante duas testemunhas (art. 1.893 CC). Pode ser feito de
maneira pública ou cerrado.
Nuncupativo: a pessoa está em iminente risco de morte. Não precisa ser
escrito, podendo ser de viva voz. A pessoa deve estar em combate ou
gravemente ferida. Deve ser realizado perante duas testemunhas.
As cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade podem ser
objeto do testamento. O art. 1911 diz que a cláusula de inalienabilidade implica em
incomunicabilidade e impenhorabilidade.
No caso de clausular a legítima, deve haver justificativa, que será analisada pelo juiz.
Aula 20 – 07/11/18
SUCESSÃO LEGÍTIMA
Concorrência do cônjuge:
Pode haver concorrência do cônjuge com os ascendentes e descendentes, a depender
do regime matrimonial escolhido.
Na comunhão universal, o cônjuge não é herdeiro, uma vez que metade dos bens já
são dele. Dessa forma, o cônjuge é meeiro. Os herdeiros têm direito a metade que não
pertence ao cônjuge.
No caso do regime de separação obrigatória de bens, nenhum dos bens se
comunicariam. Dessa forma, não faz sentido que o cônjuge seja herdeiro (tampouco meeiro).
Contudo, pela Súmula 377 do STF, os bens adquiridos na constância do casamento se
comunicariam, de modo que destes bens há meação.
Na separação convencional, o código não exclui a concorrência expressamente.
Grande parte da doutrina e jurisprudência entende que há concorrência do cônjuge com os
descendentes e ascendentes. Existe, contudo, divergência dentro do STJ. Nancy Andrieghi
considerou que, para que o cônjuge não herde, o pacto antinupcial tem que prever a exclusão
expressamente. O cônjuge, via de regra, é herdeiro, mas não é meeiro. Sendo herdeiro, tem
direito a 1/4 no mínimo da herança havendo filiação comum.
No regime de comunhão parcial, os bens adquiridos após a constância do casamento,
se são comuns, não se aplicando o regime da herança, mas sim a meação. Já se são bens
particulares, há herança, com reserva de 1/4 se houverem filhos comuns. Se há mais bens
particulares, o cônjuge pode vir a receber mais do que no regime de comunhão universal
(efeito anômalo do regime).
Na participação final dos aquestos aplica-se o mesmo da comunhão parcial.
Para os descendentes, importa a comunhão parcial, quando há bens particulares; ou a
separação convencional.
Para os ascendentes, não importa o regime de bens, o cônjuge sempre vai concorrer.
Ocorre que, se o cônjuge concorre com os pais do falecido (ascendente em primeiro grau), a
divisão é igualitária (se só há um pai vivo, ½ para cada; se há 2 pais vivos, 1/3 pra cada). Já na
hipótese de não haver ascendentes vivos em primeiro grau, os avós herdam por linha, sendo ½
para a linha materna e ½ para a linha paterna. Se há apenas avó materna, ela herda 50%, mas
havendo avó e avô paterno, cada um herda 25%.
Aula 21 – 13/11/18
INVENTÁRIO E PARTILHA
Pelo princípio da saisine, a herança não fica em nenhum momento sem proprietário ou
possuidor. Ela é transmitida a herdeiros e legatários automaticamente. Os herdeiros sucedem
a título universal, ou seja, sobre o todo da herança, e os legatários sucedem a título singular.
No momento do falecimento, os bens pertencem aos sucessores em situação de
condomínio necessário. A herança é um ente despersonalizado, não pessoa jurídica, embora
constituía uma universalidade de direitos. A partilha é o momento em que se tem a extinção
do condomínio. Com a partilha, ocorre a atribuição dos bens aos verdadeiros proprietários ou
das cotas aos proprietários. Pode continuar havendo um condomínio, mas esse será um
condomínio voluntário regido pelas regras dos Direitos Reais. A partilha não necessariamente
termina com o condomínio, mas pode instaurar um condomínio voluntário em caso de opção
pela copropriedade dos bens.
Durante todo esse período, há uma situação de indivisão dos bens. Com o falecimento,
temos o fato sucessório e abertura da sucessão. A partir daí, precisa-se dar início ao inventário.
O domicílio de abertura do inventário é o último domicílio do falecido (decorre da saisine). O
prazo, no estado de São Paulo, é de 60 dias. A alíquota do imposto necessário (ITCMD) é de 4%
(o imposto é estadual, de modo que a alíquota pode variar conforme o último domicílio). Se o
inventário é proposto após 60 dias, há multa de 10% sobre o valor do imposto. Se a proposição
é após 180 dias, a multa é de 20%. Essas disposições ocorrem apenas em SP, porque a lei é
estadual (lei 10705/2000 – já foi considerada constitucional pelo STF).
O inventário pode ser feito judicialmente ou por escritura pública. Em ambos se exige
advogado. Só pode ser por escritura pública se: não houver menor, não houver incapaz, não
houver testamento e não houver litígio entre os herdeiros. Ainda, existe regra que o inventário
deve terminar em até 180 dias a contar da abertura (data do óbito). Esse prazo é impróprio e
geralmente é prorrogado.
A lei de processo disponibiliza quatro procedimentos para ser realizada a partilha:
CPC 610 a 658 – inventário judicial, chamado de solene ou ordinário: quando há
conflito
entre os herdeiros sobre a partilha;
CPC 659 a 663 – arrolamento sumário: independente do valor do acervo hereditário
quando todos os herdeiros são capazes e há consenso na partilha; o juiz homologa.
CPC 664 – arrolamento simples: quando o valor do espólio não for superior a mil
salários mínimos, independente de serem ou não capazes os herdeiros ou existir
testamento; o juiz homologa.
CPC 610 § 1.º – inventário e partilha extrajudiciais, por escritura pública:
indispensável que não haja testamento e que os herdeiros, sendo todos capazes,
concordem com a partilha. Não depende de homologação.
O cônjuge pode pedir a abertura ainda que seja apenas meeiro. O testamenteiro é
aquele que defende o testamento em nome do testador. O cessionário é quem recebeu, por
meio de cessão de quinhão hereditário, uma cota, ou seja, quem adquiriu (por meio de
compra e venda) a cota parte. O cessionário pode ter celebrado um contrato de compra e
venda futura da cota parte mesmo antes do falecimento do autor da herança.
Os credores podem abrir inventário, mas difere se é credor do falecido ou credor do
herdeiro. Os herdeiros respondem nos limites da herança, assim, se há mais passivo que ativo
(herança danosa), simplesmente zera. Essa regra só vale para credor do falecido. Nunca se
aplica aos credores dos herdeiros. O herdeiro pode recusar a herança, mas se ele tiver
credores pessoais do herdeiro, os credores podem forçar a aceitação da herança (art. 1813) no
suficiente para quitar os débitos, e o restante é renunciado. Os credores do herdeiro também
podem pedir a abertura do inventário independente da natureza da dívida.
Também a Fazenda Pública e o Ministério Público, havendo incapazes.
Um bem que não aparece nas primeiras declarações é considerado sonegado. Além
disso, há o elemento subjetivo, que é não colocar o bem no plano de partilha dolosamente. Na
ocorrência desses dois elementos, há a sonegação do bem, que implica em pena privada ao
herdeiro que sonegou o bem. Essa pena consiste na perda da propriedade ao bem somada
com perdas e danos diante dos demais herdeiros. A hipótese mais comum de sonegação ocorre
na doação de bens em vida. Se o falecido doou o bem em vida, a princípio, esse bem deve
retornar ao espólio. A doação é permitida, mas deve ser identificado se esse ato é da parte
disponível ou da parte legítima. Se o autor da herança nada fala, é antecipação da legítima e o
bem deve voltar ao espólio. Se especifica que é da parte disponível, não precisa retornar ao
espólio. Quando se trata de antecipação da legítima e o bem retorna ao espólio (ocorre a
colação). Não necessariamente o herdeiro vai receber o mesmo bem.
10
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da
morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou
companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver
distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Se só se descobre o bem após a partilha, a partilha não é invalidada. Ocorre a
sobrepartilha apenas daquele bem, que passa a conviver ao lado da partilha (duas partilhas).
Se ocorreu processo de evicção durante o inventário, o evictor levará o bem, porque direitos
reais se sobrepõe. Somada com a perda do bem, deverá ocorrer redistribuição das cotas (o
bem sai da cota do A e todas as cotas devem se moldar a essa saída). O nome disso é garantia
dos quinhões hereditários ou garantia entre os legatários. A garantia dos quinhões
hereditárias é intrínseca (patrimônio de risco por excelência) no caso da evicção.
O inventariante ainda tem que promover o pagamento dos legados, que é feito antes
da partilha (sem momento específico). O legado é um bem que é excluído da sucessão legítima
e testaria, ou seja, não faz parte da partilha. Há preferência do legatário sobre os demais. O
art. 1967, §1º, inclusive prevê que, se o legado ultrapassa 50% do patrimônio disponível,
primeiro tenta-se reduzir as cotas dos herdeiros instituídos (não na parte da legítima), para
depois se reduzir o legado. Quem deve o pagamento dos legados são o inventariante e os
herdeiros. O credor é o legatário. O legatário pode mover uma ação no meio do inventário
exigindo o pagamento do seu legado (a separação do bem dentro do espólio). Logo, os legados
estão separados antes da partilha.
O legatário, desde o início é possuidor direto. Os herdeiros, desde o início, são
possuidores indiretos do bem. Contudo, o legatário não pode tomar o bem por vontade
própria, mas pode solicitar o legado caso o testamento seja considerado válido, não exista
condição pendente e o objeto for coisa certa e infungível. Se não o fizer, o legado será entregue
com a partilha, salvo outra disposição do testador.
Se o legado for genérico e o testador nada disser, ou em caso de legado alternativo,
um herdeiro escolherá um bem de valor médio (se genérico), ou conforme seu interesse (se
alternativo). Já se o testador deixou o legatário escolher, ele o faz como quiser.
O legado também estará sujeito a aceitação ou renúncia. A renúncia é irrevogável e
deve ser expressa. Se o legatário é também herdeiro, a renúncia ao legado não implica em
renúncia da herança e vice-versa. Se o legatário falecer antes de aceitar, seus sucessores
podem aceitar ou não o legado.
Se justamente o bem do legado é objeto de evicção, primeiro deve se observar se há
mais legados. Se houver, há garantia dos quinhões, que são redistribuídos. Se é legado
sozinho, se não houver disposição testamentária que solucione a questão (os herdeiros vão
responder pelo legado mesmo na hipótese de evicção, eles arcarão com perdas e danos), o
legado caduca, ou seja, deixa de existir. O legado caduca quando há modificação no estado da
coisa legada após a celebração do testamento ou quando o legatário se torna indigno.
Há direito de acrescer entre colegatários, ou seja, quando um mesmo legado é deixado
para mais de uma pessoa.
Resumindo:
1) Abertura da sucessão: com a morte.
2) Abertura do inventário: nomeação do inventariante (5 dias para prestar
compromisso) e escolha do procedimento. Pode ser solicitada pelas pessoas
previstas no 616/CPC.
3) Primeiras declarações: levantamento dos bens e primeira proposta de partilha
após 20 dias da data em que prestou compromisso.
4) Impugnações: depois de citados, os interessados têm 15 dias para arguir erros,
omissões e sonegação de bens; reclamar contra a nomeação de inventariante;
contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro. O juiz decide,
podendo mandar o inventariante ratificar.
5) Pagamento do imposto, colações e pagamento de dívidas.
6) Últimas declarações: ratificação ou nova partilha.
7) Partilha: antes de partilhar, deve-se pagar os legados. Depois, realizada a meação
do cônjuge, se houver, partilham-se os bens conforme a proposta de partilha.