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Gosme António

AS CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

O PARENTESCO, FAMÍLIA E CASAMENTO EM MOÇAMBIQUE

(Licenciatura Em Ensino de Química)

Universidade Rovuma, Extensão de Niassa

Lichinga, Março

2021
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Gosme António

AS CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

O PARENTESCO, FAMÍLIA E CASAMENTO EM MOÇAMBIQUE

(Licenciatura Em Ensino de Química)

Trabalho da cadeira de Antropologia Cultural de


Moçambique, a ser entregue no Departamento de
Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática,
Para fins avaliativos, sob orientação da Msc:
Manuela Manuel.

Universidade Rovuma, Extensão de Niassa

Lichinga, Março

2021
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Índice
1.Introdução................................................................................................................................4

1.1.Objectivos.............................................................................................................................4

1.1.2.Geral...................................................................................................................................4

1.1.3.Específicos.........................................................................................................................4

1.2.Metodologias.........................................................................................................................4

2.Tabela 1. Quadro de Síntese das Correstes Antropológicas. Fonte VILANCULOS, (sd. p:


38-58); (BATALHA, p: 34-43, 2004).........................................................................................5

3.PARENTESCO........................................................................................................................7

3.1.NOMENCLATURA DE PARENTE OU TERMINOLÓGA DE PARENTESCO:............8

3.1.1.A nomenclatura de parentesco pode ser descritiva e classificatória:................................8

3.2.FAMÍLIA..............................................................................................................................9

3.2.1.Critérios de Classificação da Família..............................................................................10

3.3.CASMENTO.......................................................................................................................13

3.3.1.As Regras do Casamento.................................................................................................13

3.3.2.Tipos de Casamento.........................................................................................................13

3.3.3.Os casamentos Arranjados...............................................................................................15

4.Conclusão...............................................................................................................................16

5.Referência Bibliográficas.......................................................................................................17
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1.Introdução
O trabalho tem como tema: As correntes Teóricas da Antropologia, o Parentesco, a Família e
o Casamento em Moçambique, e pertence a cadeira de Antropologia Cultural de
Moçambique, no entanto procura fazer duma forma resumida a abordagem das Correntes
como: O Evolucionismo, Difusionismo, Funcionalismo, Culturalismo e o Estruturalismo,
podendo assim dar enfâse no destaque das características das correntes, os principais
defensores e a essência das correntes. Portanto, irá desenvolver-se também os assuntos
ligados ao Parentesco, a Família e o casamento em Moçambique, visto que são temas
clássicos na literatura antropológica. Sobre o casamento Tradicional (lobolo), e com
referência ao contexto moçambicano.

1.1.Objectivos

1.1.2.Geral
 Debruçar as Correntes Teóricas da Antropologia e O Parentesco, Família e Casamento
em Moçambique.

1.1.3.Específicos
 Caracterizar as Correntes Antropológicas;
 Conhecer os Principais Defensores das Correntes;
 Compreender o Parentesco, a Família e Casamento em Moçambique.

1.2.Metodologias
A realização do trabalho foi possível com o auxílio de diversas obras de autores que abordam
assuntos relacionados com o Tema, sites e documentos em formato PDF, detalhados nas
Referências Bibliográficas.
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2.Tabela 1. Quadro de Síntese das Correstes Antropológicas. Fonte VILANCULOS, (sd. p: 38-58); BATALHA, (2004, p: 34-43).

CORRENTES CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DEFENSORES ESSÊNCIA DA CORRENTE


Destacou-se na segunda metade do
século XIX. Explica as alterações  Edward B. Taylor (1832-1917); Esta corrente defende que a cultura e as sociedades
sofridas pelas diversas espécies de evoluem, tal como as espécies e os organismos, a
Evolucionismo seres vivos ao longo do tempo, em partir de formas mais simples até chegarem a outras
 Lewis Henry Morgan (1818-
sua relacção com o meio ambiente mais complexas da vida social.
1881);
onde elas habitam.
 Evolução das sociedades
“primitivas” para as  James George Frazer (1854-1941).
“civilizadas”.
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 G. E. Smith (1871-1937);
Procura compreender a natureza das culturas de
O difusionismo tornou-se popular,  W. Rivers (1864-1922); cada povo, da origem a sua extensão, de um grupo
nos finais do século XIX. Existiram humano para outro. E explica o desenvolvimento
duas escolas principais: uma na  F. Ratzel (1844-1904); cultural pelo processo de difusão de aspectos
Difusionismo Alemanha-Áustria e outra na Grã- culturais, formas culturais, de uma cultura para
Bretanha.  Fritz Graebner (1877-1934) e; outra.
 Defende que um objecto foi inventado uma só
 O padre Wilhelm Schmidt (1868- vez em uma sociedade particular e a partir dali
1954). se expandia através de diferentes povos.
Surge nos anos 1930 e estabeleceu o Essa escola defende que as culturas, de maneira
método comparativo e a formação de  Franz Boas (1858-1942); geral, são diversas, mas têm características comuns,
padrões culturais, a partir dos quais é que são chamadas de padrões culturais. Esses
Culturalismo possível apreender as leis no  Ruth Benedict (1989); padrões são resultado do agrupamento de
desenvolvimento das culturas. complexos culturais.
 Gilberto Freire (1990-1987);
Impôs-se na Grã-Bretanha, na década O funcionalismo interpreta a sociedade como se ela
de 1930-1950, antropologia do fosse um organismo; cada parte do sistema
império Britânico (Harris 1968).  Bronislaw Malinowski, 1884- desempenha uma determinada função. O trabalho
 Modelo de etnografia clássica 1943; do antropólogo seria explicar as funções das
Funcionalismo (Monografia). Ênfase no trabalho diferentes partes do sistema social.
de campo (Observação
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participante). Sistematização do  Da Enfâse ao estudo das Instituições, formas de


conhecimento acumulado sobre  Alfred Reginald Radcliffe-Brow organizações sociais e das suas funções para a
uma cultura. (1881 -1995); manutenção do conjunto cultural, da totalidade
de cultura de um determinado povo.
Floresceu nos anos de 1940, ao  Claude Lévi-Strauss (1908); Compreende a sociedade como um todo, sem a
buscar as regras estruturantes das preocupação com os seus fundamentos individuais,
culturas presentes na mente humana.  Clifford Geertz (1926-2006) e; pois é na sociedade e não no indivíduo que se hão-
Estruturalismo  Teoria do parentesco/Lógica do de encontrar as posições essenciais aos indivíduos,
mito/Classificação primitiva.  Lucien Lévi-Bruhl (1857-1939); aos grupos e às instituições, que são os elementos
Distinção Natureza e Cultura. que perfazem a cultura.
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3.PARENTESCO
Para RIVIÈRE (1995, p:63),“ O parentesco é um conjunto de laços que unem geneticamente
(filiação, descendência) ou voluntariamente (aliança, pacto de sangue) um determinado
número de indivíduos”.

Conforme BERNARDI (1974, p:257). “O parentesco é universal no sentido de que não existe
uma sociedade desprovida de um sistema de parentesco, uma vez que cada sociedade define
quem é parente e o grau de parentesco que cada indivíduo desempenha”.

O parentesco vem para definir regras de relacionamento dos indivíduos dos


diferentes grupos (os parentes do primeiro grau não têm relações sexuais entre
si), estabelece valores culturais e sociais tendo em conta regras de controlo
económico, autoridade política e domestica dos grupos. Estes papéis implicam
expectativas sociais, pois determinam o modelo do nosso comportamento,
tendo em conta as proibições. A problemática do incesto constituiu um dos
factores primordiais do surgimento do parentesco, pois vem impor regras de
relações onde o homem passa a saber com quem manter relações sexuais ou
laços de aliança, (BATALHA, p: 34, 2004).

 No sentido restrito refere-se aos laços de sangue.


 No sentido mais amplo, também aplica-se aos laços de afinidade ou de casamento
(parentesco por afinidade ou por casamento).

Laços de Parentesco é a relacção que decorre da posição ocupada pelo sujeito no sistema de
parentesco. Pode-se falar de três tipos de laços de parentesco:

 Laço de sangue (descendência);


 Laço de afinidade (matrimónio ou casamento);
 Laço fictício (adopção).
a) Descendência

A Descendência é relacção do sujeito com os seus parentes de sangue. Embora o critério de


descendência seja biológico, em Moçambique a descendência obedece os critérios culturais
(de descendência unilateral). Por exemplo, um indivíduo é sempre filho de uma mãe e um pai,
mas na zona norte de Moçambique leva-se em consideração a descendência matrilinear,
enquanto no sul considera-se a descendência patrilinear. Nas sociedades europeias a
descendência é dos dois progenitores (descendência bilateral).
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 A descendência matrilinear é também conhecida como descendência uterina, a


patrilinear tem também a designação de descendência agnática, enquanto a
descendência bilateral (de ambos os progenitores) é denominada cognática.
 Descendência Unilateral Dupla: acontece em sociedades que não consideram como
preponderante a linhagem matrilinear nem a patrilinear.
b) Laço de Afinidade (Matrimonio ou casamento)

Esta é de ordem social que se baseia nas normas sociais conhecidas ou por lei. O parentesco
por afinidade esta relacionado com o matrimónio, mas por laços de afinidade entre duas
pessoas no processo de socialização entre os indivíduos. O processo de afinidade é durável
por muito tempo até chegar a definição de parente; contudo, cada indivíduo vai determinar
quem é parente de acordo com o grau de afinidade existente.

c) Laço Fictício (adoção)

O laço por fictício ou adoção é um acto de amor incondicional, ou seja, um acto de aceitação
do outro, independente de ter em sua origem o sangue e a natureza geracional dos pais que
optaram por criar essa criança.

3.1.NOMENCLATURA DE PARENTE OU TERMINOLÓGA DE PARENTESCO:


Para VILANCULOS, (sd. p: 107), “A nomenclatura de parente é o sistema de denominações
das posições relativas aos laços de sangue e de afinidade. Exemplos de nomenclaturas de
parentesco: pai, mãe, irmão, primo, esposa, cunhado, sogra, enteado, filho, neto, sobrinha”.

3.1.1.A nomenclatura de parentesco pode ser descritiva e classificatória:


a) Nomenclatura Descritiva

A nomenclatura de parentesco descritiva é aquela em que se usa um termo diferente para


designar a cada um dos parentes. Exemplo: papá (pai biológico), mamã (mãe biológica),
mana (irmã biológica mais velha).

b) Nomenclatura Classificatória

A nomenclatura de parentesco classificatória é aquela em que se emprega indistintamente o


mesmo termo para designar a um grupo de pessoas com quem se tem um laço de parentesco.
Por exemplo, quando se aplica o termo “mamã” para designar à mãe biológica, à irmã da mãe,
ou à madrasta, e quando se trata como irmão, ao próprio irmão biológico, ao primo ou ao filho
de uma madrasta.
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 CLÃ

A Clã é um grupo de pessoas dotado de nome e de descendência unilateral, isto é, que deriva
de um ancestral comum e que segue regras de descendência matrilinear/uterina ou
patrilinear/agnática e jamais de ambas simultaneamente.

Os clãs do sul de Moçambique que seguem a descendência agnática ou patrilinear são


designados patriclãs, enquanto os do norte do país que se orientam pela descendência uterina
ou matrilinear denominam-se matriclãs.

3.2.FAMÍLIA
VILANCULOS, (sd. p: 108), “A família, embora possa variar muito de sociedade para
sociedade, o seu núcleo duro é constituído por indivíduos ligados por laços de
consanguinidade e afinidade. É na família que se cria o enquadramento para o treino das
crianças”.

 No sentido mais restrito, família é o conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo tecto.
 No sentido lato, a família é o conjunto das sucessivas gerações descendentes de
antepassados comuns.

A linguagem do senso comum, família é a célula básica da sociedade. Por família, entende-se
também como o conjunto de parentes por consanguinidade ou por aliança ou afinidade.

 Historial do Surgimento da Família

A origem da família está diretamente ligada à história da civilização, uma vez que surgiu
como um fenômeno natural, fruto da necessidade do ser humano em estabelecer relacções
afectivas de forma estável. Pois bem, deixando de lado a família da antiguidade, em sua forma
primitiva, é possível afirmar que a família Moçambicana tem como base a sistematização
formulada pelo direito colonial, romano e pelo direito canônico.

A família romana era formada por um conjunto de pessoas e coisas que estavam submetidas a
um chefe: o pater famílias. Esta sociedade primitiva era conhecida como a família patriarcal
que reunia todos os seus membros em função do culto religioso, para fins políticos e
econômicos.

O direito romano teve o mérito de estruturar, por meio de princípios normativos, a família.
Isto porque até então a família era formada por meio dos costumes, sem regramentos
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jurídicos. Assim, a base da família passou a ser o casamento, uma vez que somente haveria
família caso houvesse casamento.

Pois bem, com a ascensão do Cristianismo, a Igreja Católica assumiu a função de estabelecer
a disciplina do casamento, considerando-o um sacramento.

Assim, passou a ser incumbência do Direito Canônico regrar o casamento, fonte única do
surgimento da família.

3.2.1.Critérios de Classificação da Família


Existe um tipo de classificação da família que se vale dos seguintes critérios: regras de
residência, número de cônjuges, relação de poder e parentesco.

a) Quanto às regras de residência, a família pode ser:


 Patrilocal é aquela que estabelece uma residência conjunta entre um casal e os pais do
homem. Geralmente nas sociedades meridionais de Moçambique há uma tendência de as
famílias estabelecerem residências patrilocais devido à estrutura e natureza do poder que
se centra nas mãos dos homens.
 Matrilocal: aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher.
Com frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde há uma
tendência de as famílias estabelecerem residências matrilocais.
 Neolocal: é a família cujo casal tem uma residência independente da dos pais de ambos os
cônjuges. Este tipo de residência é mais frequente em sociedades urbanizadas onde o
estilo de vida exige uma autonomia das famílias.
b) Quanto ao número de cônjuges, a família pode ser:
 Monogâmica é quando a união é de um só homem com uma só mulher.
 Poligâmica é a união de um só marido com várias esposas ou de uma mulher com
vários maridos.
 Poligínica é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união de
um marido com várias esposas.
 Poliândrica é a família em que a mulher é quem pratica a poligamia, ou seja, a união
de uma mulher com vários esposos.
c) Quanto à relação de poder, a família pode classificar-se em:
 Patriarcal ou Patrilinear é a família cujo poder é exercido pelo marido. As famílias
patriarcais abundam no sul de Moçambique, sendo que o patriarcado como uma relação de
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poder incide também no casamento, na sucessão, na herança e na estrutura social das


famílias.

“A filiação patrilinear (também chamada agnática) é de longe a forma mais


comum de filiação unilinear. Num sistema de filiação e organização
patrilinear, os membros de um grupo de parentesco unem-se pela ligação a um
antepassado comum masculino através de uma linha de ascendência-
descendência que cruza as diferentes gerações somente através de parentes
masculinos”, (BATALHA, p: 34, 2004).

Onde: PP – Pai do pai, MP – Mãe do Pai, P – Pai, M – mãe, IP – Irmão/a do Pai, MIP –
Marido/Mulher do Irmãos do Pai, I – Irmão/a, Mu – Mulher, IM – Irmão da Mulher e F –
Filho. (as figuras a preto representam os indivíduos pertencentes à linhagem do Ego).

Numa dada geração, os irmãos e irmãs, entre si, pertencem à patrilinhagem do seu pai e do
seu avô paterno, assim como à dos irmãos e irmãs tanto do pai como do avô paterno. Tanto os
filhos como as filhas de um homem traçam a sua ascendência a um antepassado comum
através de uma linha masculina. Nos grupos patrilineares a responsabilidade social em relação
às crianças

cabe, normalmente, ao pai ou a um irmão mais velho.

 Matriarcal ou Matrilinear é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias


matriarcais abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder
indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe zelar pela
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orientação da vida dos filhos da irmã, cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a sua
herança em caso de morte.

O papel do pai biológico é quase que passivo, pelo que quando o filho comporta-se mal ou
comete uma infracção, o pai remete a solução dessa situação ao tio materno do filho, isto é, ao
irmão da mãe do filho. Abaixo está representada o Sistema de descendência matrilinear.

Onde: PM – Pai do mãe, MM – Mãe do mãe, P – Pai, M – mãe, IM – Irmão/a da Mãe, MIM
– Marido/Mulher do Irmãos do Mãe, I – Irmão/a, Mu – Mulher, IM – Irmão da Mulher/irmão
da mãe e F – Filho/a. (as figuras a preto representam os indivíduos pertencentes à linhagem do
Ego).

Num sistema matrilinear, irmãos e irmãs pertencem à matrilinhagem da mãe e da avó


materna, que é também a dos irmãos da mãe e dos filhos das irmãs desta (figura 2). Um ego
masculino pertence ao mesmo grupo da mãe e dos irmãos(as) da mãe, mas não pode
transmitir a condição de membro aos seus descendentes.

d) Quanto ao Parentesco, a família pode adquirir as seguintes classificações:


 Nuclear: é a família constituída pelo marido, esposa e os filhos resultantes dessa
união, todos morando juntos numa residência neolocal. A família nuclear pode ser de
orientação, aquela da qual cada um de nós proveio e a família nuclear de procriação,
que é a que cada um de nós funda ou estabelece.
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 Alargada ou Extensa: este tipo de família constitui-se por um casal, os filhos e os


familiares colaterais (sobrinhos, netos, primos, irmãos), todos vivendo numa mesma
residência patrilocal, matrilocal ou neolocal.
 Reconstituída: composta por um homem divorciado ou viúvo com os filhos e uma
mulher (a madrasta), ou por uma mulher divorciada ou viúva com os filhos e um
homem (o padrasto), ou ainda, por um homem e uma mulher, ambos divorciados ou
viúvos vivendo juntos com os respectivos filhos.
 Monoparental: aquela composta só pelo pai solteiro ou viúvo e os filhos, ou só pela
mãe solteira ou viúva e os filhos.

3.3.CASMENTO
Segundo BATALHA, (p: 34, 2004), “O casamento é um acontecimento cultural que está
muito para além da genética ou biologia humanas é a forma comummente aceite de constituir
família e ter filhos, entre a maioria social e politicamente dominante”.

Conforme BOAS, (2009), “O Casamento é a união voluntária e singular entre um homem e


uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão plena de vida”.

3.3.1.As Regras do Casamento


De acordo com BATALHA, (p: 34, 2004), “É dado assente que todas as
sociedades de mundo condenam em absoluto o incesto, ou seja, o casamento
entre irmãos, entre pai e filha, entre mãe e filho. Esta proibição fundamental é
como que uma reacção primária do grupo contra as causas internas de
desorganização ou adulteração do papel que cada membro desempenha no
seio do agregado familiar restrito e contra a verdadeira «asfixia» resultante de
justaposições no exercício dessas funções”.

Em Moçambique, têm capacidade para contrair casamento todos aqueles em relacção aos quais não se
verifique algum dos impedimentos matrimoniais previstos na lei.

3.3.2.Tipos de Casamento

 Monogamia

Embora a monogamia seja a norma de casamento mais comum na maior parte das sociedades,
a poligamia é a forma mais praticada, especialmente na forma conhecida como poliginia.

 Poliginia
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A poliginia é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união de um


marido com várias esposas.

 Poliandria
A poliandria, que liga matrimonialmente uma mulher a dois ou mais homens, é a forma mais
rara de poligamia. Alguns antropólogos entendem que é menos vulgar do que a poliginia
devido à menor esperança de vida e maior mortalidade infantil do sexo masculino. Em
algumas sociedades, ou entre alguns grupos sociais, o casamento é considerado uma coisa
demasiado séria para ser deixado aos caprichos de jovens com pouca experiência de vida
social. Nessas sociedades e grupos, o casamento, mais do que a união entre duas pessoas,
representa o estabelecimento de uma aliança entre famílias ou grupos de parentesco.

 Modalidades de Casamento em Moçambique


O casamento em Moçambique divide-se em seguintes modalidades, como: Casamento Civil e
Religioso ou Tradicional. Ao casamento monogâmico, religioso e tradicional é reconhecido
valor e eficácia igual à do casamento civil, quando tenham sido observados os requisitos que a
lei estabelece para o casamento civil.

a) Casamento Civil

Em Moçambique a capacidade matrimonial dos nubentes é comprovada por meio de processo


preliminar de publicações, organizado nas repartições do registo civil a requerimento dos
nubentes ou do dignatário religioso, nos termos da lei de registo.

 O consentimento dos pais, legais representantes ou tutor, relativo ao nubente menor,


pode ser prestado na presença de duas testemunhas perante o dignatário religioso, o
qual lavra auto de ocorrência, assinando-o todos os intervenientes.
b) Casamento Religioso ou Tradicional

O Casamento religioso e o tradicional, consiste na união voluntária e singular entre um


homem e uma mulher, por meio dos líderes religiosos, ou comunitários duma certa região. E
só podem ser contraídos por quem tiver a capacidade matrimonial exigida na lei civil. O
casamento religioso e o tradicional produz efeitos previstos na presente Lei ou em legislação
especial, desde que esteja devidamente transcrito pelos serviços do registo civil nos termos da
lei.
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 LOBOLO

O lobolo é uma prática cultural por meio da qual se unem duas pessoas (homem e mulher)
pelo casamento condicionado ao pagamento real ou simbólico de um dote. Este dote pode ser
uma enxada, uma cabeça ou várias de vaca, dinheiro em numerário ou outros bens de natureza
ou pecuniária.

O “pagamento” da noiva é uma prática comum em sociedades onde esta deixa a casa de sua
família para ir viver coma família do noivo. Assim, a família dela recebe uma compensação
pela sua saída, que constitui uma forma de indemnizar. Nessas sociedades as mulheres são a
principal força de trabalho e as famílias precisam de ser compensadas pela sua saída.

Na região sul de Moçambique o “preço-da-noiva” chama-se lobolo ou alambamento.


Normalmente, entre os povos pastores o lobolo é constituído por um determinado número de
cabeças de gado, pagas pelo noivo aos irmãos e ao pai da noiva. Esse lobolo servirá depois
para casar os irmãos da noiva. Este sistema de compra da noiva (uma forma simétrica do dote,
que no passado existiu em algumas sociedades europeias) está associado à patrilinearidade e à
patrilocalidade

3.3.3.Os Casamentos Arranjados


De acordo com BATALHA, (p: 34, 2004), “Antigamente, a decisão de casar não era tomada
pelos noivos mas sim pelos pais ou outros parentes mais velhos. A vontade dos noivos é
frequentemente contrariada em função dos interesses do seu grupo de parentesco. O
casamento torna-se uma questão de interesses económicos, sociais e políticos, em que os
noivos são meros actores sem grande coisa para decidir. Em algumas zonas do norte de
Moçambique note-se casos de casamento entre família, onde que o sobrinho que se desloca
para casa do tio materno, acabando por casar com uma prima filha desse tio materno”.
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4.Conclusão
O parentesco existe em todas as sociedades e serve de um instrumento de conduta dos
indivíduos pertencentes a esta mesma sociedade. Contudo, o parentesco não desempenha
mesmas funções em todas as sociedades, isto é, nas sociedades tradicionais traduz-se na
passagem e integração dos indivíduos, efectivamente ele esta relacionado com a família,
questão de direitos de sucessão e de herança. Nestas sociedades o parentesco tem uma função
essencial porque alem das questões de passagem de poderes para lembrar antepassados
mortos, confere também ao individuo uma identidade, assim como bens, terra; por exemplo
dentro de uma família onde pratica-se a invocação de antepassados quando morre o individuo
que esta encarregue de falar com os espíritos deve-se procurar um sucessor para continuar a
invocar.
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5.Referência Bibliográficas
BATALHA, Luís, Antropologia uma Perspectiva Holística, Lisboa, Portugal, 2004.

BERNARDI, Bernardo. Introdução aos Estudos Etno-Antropologicos. Ed. 70: Lisboa,


Portugal, 1974.

BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Trad. Celso Castro. 5. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahor
editora, 2009.

REVIÈRE, Claude. Introdução a Antropologia, Edições 70, Lisboa, 1994.

VILANCULOS, Gregório Zacarias, Manual de Antropologia Cultural de Moçambique,


Universidade Pedagógica, Inhambane, Moçambique, sd.

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