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BREVE HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA

STADTLER, Hulda Helena Coraciara1.

A pré-história da antropologia teve seu grande momento com as grandes viagens


e descobertas; iniciando com Heródoto (484-424 a. C.) até a colonização, passando
pelas viagens de Alexandre à Ásia, Tácito à Alemanha, Marco Polo à China e a Ásia.
Depois desse período as viagens mais célebres tiveram motivos comerciais e religiosos
(sec XVI). No século XVIII as expedições trazem algum caráter científico, mas os
viajantes ainda não eram antropólogos. Eram missionários, conquistadores,
administradores, embaixadores, comerciantes.
O primeiro pesquisador interessado em fundar uma ciência das sociedades
humanas, e a escrever sistematicamente sobre os povos que conheceu, foi Ibn Khaldun
(árabe) que há 500 anos observou o seguinte:
1- fenômenos sociais obedecem leis  são constantes  acontecimentos sociais
seguem padrões regulares e seqüências definidas;
2- as leis funcionam sobre as massas e não podem ser influenciadas por
indivíduos isolados;
3- leis sociais só são descobertas quando se arrecada muitos fatos onde se pode
enxergar seqüências e correlações;
4- se as sociedades estiverem separadas no tempo e no espaço, mas tiverem
mesmos tipos de estrutura, vão ter leis sociais semelhantes
5- formas sociais se modificam, as sociedades não são estáticas;
6- as leis são sociais e não reflexos de fatores biológicos ou físicos.

Para a antropologia interessa explicar como funcionam esses sistemas sócio-


culturais e como chegaram a ser do jeito que são.

1
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Católica de Pernambuco (1981), mestrado em Antropologia pela
Universidade Federal de Pernambuco (1988) e doutorado em Antropology - University of London (1994).
Atualmente é Professor Associado III da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Tem experiência na área de
Antropologia, com ênfase em Antropologia Cognitiva e Sistemas Simbólicos, atuando principalmente nos seguintes
temas: gênero, identidade, desenvolvimento humano, cognição, extensão rural e economia solidária
A antropologia firma-se no princípio do século XX, quando começa a gerenciar sua
própria teoria e metodologia; sua maneira particular de apresentar os problemas e
coletar os dados. No início do desenvolvimento da disciplina a ordem da coleta e
descrição dos dados aplicava o que normalmente se chama etnografia, o que não pode
estar dissociado da presença em campo do pesquisador. (Mauss - Malinowski -
Radcliffe-Brown)
A história básica da antropologia vem sendo apresentada de modo geral através
da construção das seguintes orientações teóricas:
Evolucionismo (primeiro período: Morgan (1818-1881), Tylor (1832-1917),
Spencer (1820-1903);
Difusionismo (início do século XX; primeira reação ao iluminismo positivista e ao
evolucionismo cultural: W. Perry; Elliot Shimth); Rivers);
Funcionalismo (1912; 1924 a 1938  período de estudos funcionalistas com as
teorias de Malinowski);
Funcional-estruturalismo ( Radcliffe-Brown);
Estruturalismo; 1930-1940; Claude Lévy-Strauss.
Os interesses mais recentes da antropologia e o aprimoramento de suas
orientações teóricas básicas estão situadas no pós-guerra tendo o estruturalismo num
extremo; com o desenvolvimento da sócio-lingüística, e o pós-modernismo no outro.

EVOLUCIONISMO (primeira metade do sec XIX (1801-1900)  "culturas


diferentes da cultura ocidental e menos evoluídos representam sobrevivências de fases
anteriores do desenvolvimento humano" (Tylor, Primitive Culture:1871)
Principais nomes: Spencer, Morgan, Durkheim, Tylor.
Os trabalhos dos antropólogos evolucionistas devem mais ao iluminismo francês
de Voltaire e Turgot e dos filósofos escoceses Ferguson, Hume, e Smith do que a
Charles Darwin.
No evolucionismo o objeto de estudo antropológico foi amplificado e o método de
análise era o comparativo.
Morgan em "Ancient Society" distingue a evolução social em três grandes
períodos subdivididos em fases: selvageria, barbárie e civilização (antigo, médio e
recente). Os principais temas observados neste desenvolvimento foram: economia,
sociedade, política e religião. O evolucionismo traz a idéia de que as civilizações
caminham de "primitivas" para "complexas". Em síntese: o evolucionismo tem a idéia de
que a civilização européia é o produto final de um progresso histórico iniciado com um
estágio selvagem da natureza.
Quatro idéias gerais norteiam o evolucionismo:
1- a ideia de que as sociedades humanas deviam ser comparadas valorativamente
entre si por meio de seus costumes;
2- os costumes tem uma origem e um fim progressivo;
3- a ideia mestra de que as sociedades se desenvolvem de modo linear, com
eventos tomados como causas e outros como conseqüências;
4- a ideia evolucionista típica de pensar as diferenças pela redução da diferença
espacial (a outra sociedade reduzida a uma etapa pela qual a civilizada passou).

Embora Tylor tenha realizado viagens de pesquisas, a maioria das pesquisas


como eram realizadas com base em escritos por viajantes, missionários.
F. Boas faz críticas ao evolucionismo e aos métodos utilizados pelos
evolucionistas para comparar culturas: os trabalhos eram feitos nos gabinetes com
dados secundários, os antropólogos não iam ao campo de pesquisa.

DIFUSIONISMO OU HISTÓRIA-CULTURAL (início do sec XX: 1901 a 1911) 


fenômeno de difusão e dos contatos entre os povos.
No início deste século haviam dois difusionistas radicais: Rivers (o primeiro a
declarar guerra contra o evolucionismo). W. Perry e Elliot Smith (difusionistas
britânicos, discípulos de Rivers). Explicavam as diferenças e semelhanças culturais
apelando a convenientes combinações de migrações, adições e mesclas. Smith
desenvolveu a idéia de que todo o inventário cultural do mundo se formou no Egito. A
idéia deles era que a difusão começou em um só ponto no leste (Egito), daí se irradiou
para todo o mundo. A imagem associada ao difusionismo é a de uma pequena pedra
que quando jogada na água provoca deslocamentos nesta em forma de ondas
circulares, onde cada onda tem suas características e amplitudes. Essas idéias foram
derrubadas pelas comprovações arqueológicas de que no mundo antigo as idéias
originais em diferentes culturas eram mais freqüentes do que hoje em dia.
O difusionismo foi importante no começo do século XX por ser uma teoria
alternativa da compreensão da diversidade cultural. A diversidade cultural era entendida
como resultado da difusão de alguns traços culturais vindos de um único centro. O
Egito seria o centro original dessa difusão.
Nos EUA, o pensamento difusionista culminou com a elaboração do conceito de
áreas culturais, unidades geográficas relativamente pequenas baseadas na distribuição
contígua de elementos culturais.
Na Europa a mesma tendência deu origem a noção de "círculos culturais",
complexos de partes culturais que tinham perdido o local geográfico original de seu
início e se apresentavam dispersos pelo mundo.
Origem do conceito de área cultural: teve sua origem nas exigências práticas da
investigação etnográfica americana. Foi elaborada como um instrumento para
classificar e representar cartograficamente os grupos tribais. O desenvolvimento das
coleções etnográficas no Museu Americano de História Natural e no Museu de Chicago,
coincidiu com a tendência contra o evolucionismo, propiciou a aparição de categorias
geográficas usadas como unidades de exposição para a ordenação dos materiais em
seções ou salas.
Franz Boas (1858-1942), nos EUA entre 1915-1930 defende uma corrente
denominada Histórica. Rejeitou o evolucionismo e defendeu essa visão histórica da
cultura porque era a única capaz de permitir compreender a situação e as
características atuais de qualquer sociedade. Para Boas a história cultural era a única
forma capaz de permitir conhecer a situação e as características de qualquer
sociedade. Na comparação das histórias culturais individuais do crescimento e que
podem surgir as leis gerais do desenvolvimento humano. Boas se preocupa com a
individualidade e a diversidade das culturas. Pode-se dizer que foi um dos pais do
funcionalismo, porque considerava cada grupo cultural em sua totalidade.
FUNCIONALISMO (1912) (1924-1938 período de estudos funcionalistas com
as teorias de Malinovski: Antropologia Britânica)  Evidencia os problemas do
relativismo cultural e de um conhecimento social detalhado, individualizado, dinâmico,
monográfico, não permite esquemas gerais determinantes. Tem origem na tradição
francesa. Spencer e Durkheim são seus principais pesquisadores. Entre 1912-1913
publicou-se na Inglaterra e França importantes trabalhos sobre um mesmo tema: "os
aborígenes australianos" (Malinowski, Radccliffe-Bronw, Durkeim, Freud), os autores
não trocavam idéias entre si.
A metodologia é de que devem explorar os traços sistêmicos das culturas,
procurar as formas pelas quais as instituições e estruturas de uma sociedade
interligam-se para formar um sistema. O funcionalismo possui a dois questionamentos
básicos:
1 - Porque esses elementos se interrelacionam da forma que o fazem
2 - Porque eles continuam a persistir.
Os funcionalistas preocupavam-se em estudar o funcionamento da cultura num
momento dado. Não interessava explicar o presente com base no passado (História).
Os estudos são de caráter sincrônico e não diacrônico. Os funcionalistas acreditam
poder estudar uma cultura sem estudar a sua história. Tinham uma visão sistêmica
utilizada na análise da cultura (totalidade).
A sociedade e a Cultura são vistas como um todo com partes intimamente
interligadas. Os funcionalistas europeus inventaram a pesquisa de campo, após eles o
campo e obrigatório na construção teórica.
Malinowski em 1914 trouxe essa experiência com estudos nas ilhas Trobriand e o
tornou um procedimento acadêmico na formação dos antropólogos, por isso o termo
funcionalismo está mais ligado ao nome de Malinowski.
Os enfoques dos estudos funcionalistas foram: vida familiar, economia e magia.

O FUNCIONALISMO DE DURKHEIM  estabeleceu que um fato social só pode


ser explicado por outros fatos sociais. No livro "As Formas Elementares da Vida
Religiosa", traz a idéia de que a sociedade prestando culto a seu totem ou a seu deus
presta culto a si mesma e reforça assim sua coesão, sua continuidade e seu sentimento
de identidade coletiva. Fatos sociais devem ser tratados como coisas. Um fato social é
caracterizado por sua natureza externa e compulsória. É anterior a qualquer indivíduo e
exerce sobre seu comportamento uma certa coerção. Fatos sociais são maneiras de
fazer e pensar, que o indivíduo encontra já formado e não consegue impedi-los de
existir, não é capaz também de fazê-los existir de maneira diferente daquele sob a qual
se apresentam, precisa leva-los em consideração e é difícil modificá-los, participam
disso a supremacia material e moral que a sociedade tem sobre seus membros. Fatos
sociais são crenças, tendências, práticas de grupos.

O FUNCIONALISMO DE MALINOWSKI (1884 - 1942)  A teoria dele baseia-se


na satisfação das necessidades orgânicas ou básicas dos seres humanos, repousando
em dois conceitos: natureza e cultura.
Para Malinowski o conceito de cultura apoia-se no seu conceito de natureza
humana que implica na realização de funções corporais básicas para a preservação:
respirar, dormir, repousar, alimentar-se, excretar, reproduzir-se. Para ele as culturas
podem ser variadas, mas tem que satisfazer essas necessidades básicas e/ou
biológicas.
As instituições são as unidades básicas de sua análise funcionalista. Toda
instituição supõe sempre um grupo que dispõe de um "equipamento material" e
obedece a "normas" para empreender em comum certas ações instrumentais.

As idéias gerais de MALINOWSKI são: cultura como produto da natureza humana


reconhecida como conseqüência da "unidade psíquica" do homem;
Difusão histórica e a causa de certo determinismo cultural, a cultura inventada
torna-se dominante sobre seus criadores.
Posição sincrônica (a-histórica) e não diacrônica (considerando a história). Para ele
a história explica pouco da condição dos permanentes culturais.
Afirma que as culturas formam um todo porque são unidades funcionais e que
crenças e ritos aparentemente irracionais fazem sentido quando se observa seu uso.
Propõe três categorias de dados que exigem do pesquisador técnicas específicas
de coleta e registro:
1 - descrição geral de instituições e de costumes. O registro resumia os elementos
das atividades identificando a conexão entre seus aspectos;
2 - A descrição deve acontecer por uma observação direta;
3 - Deve-se fazer uma coleção de depoimentos etnográficos- documentos da
mentalidade nativa.
Em "Uma Teoria Científica da Cultura" afirma que os aspectos da cultura não
podem ser estudados isoladamente, devem ser entendidos no contexto de seu uso;
nunca podemos confiar nas regras ou na descrição de um informante a respeito da
realidade social, as pessoas dizem sempre uma coisa e fazem outras, somos forçados
a reconhecer que o selvagem é tão capaz quanto nós de atitudes razoáveis.

Bronislaw Malinowsky (1884-1942)

Nasceu e se educou em Cracovia, Polônia. Era de uma família aristocrática, culta.


Formou-se em matemática e física em 1908.
Tinha interesse pela psicologia popular e trabalhou intensamente com os estudos
do psicólogo alemão Wilhelm Wundt.
Durante uma enfermidade leu "O Ramo Dourado" de Frazer, ficou interessado em
antropologia e em 1916 concluiu um doutorado em na Escola de Economia de Londres.
Onde foi chefe do departamento de antropologia em 1927.
Malinowski foi o maior antropólogo dedicado ao trabalho de campo.
A descrição de seu trabalho em "Argonautas do Pacífico Sul" é uma leitura
fascinante.
Aprendeu a falar a linguagem dos nativos que estudou e considerava importante
para o antropólogo esse fato.
A descrição de seu trabalho de campo nas Ilhas Trobriand é fonte da maior
influência e estabeleceu um modelo a ser seguido pelos antropólogos.
É considerado o fundador do funcionalismo na antropologia.
O funcionalismo de Malinowski está fundamentado no que ele considera as sete
necessidades básicas do homem: 1.Nutrição 2.Reprodução 3.Comodidades Físicas
4.Segurança 5.Repouso 6.Movimento 7.Crescimento
Essas necessidades básicas individuais são satisfeitas pelas instituições
culturais e sociais criadas cuja funções são satisfazer estas necessidades.
Para Malinowski instituição significa um grupo de pessoas unidas e organizadas
para um propósito determinado.
QUADRO SINÓPTICO DAS NECESSIDADES BIOLÓGICAS E AS DERIVAÇÕES
DE SUAS SATISFAÇÕES NA CULTURA
A B C D E F
Necessidades Respostas diretas Necessidades Respostas as Necessidades Sistema de
Básicas (organizadas instrumentais Necessidades Simbólicas e integrais pensamento e
(individual) coletivamente) Instrumentais fé
NUTRIÇÃO Comunidade Renovação do Econômicas Transmissão da Conhecimento
(Metabolismo) aparato Cultural experiência com
princípios
consistentes
REPRODUÇÃO Matrimônio e família
COMODIDADES Moradias e vestuário Estatutos da Controle social
FÍSICAS conduta e suas
sanções
SEGURIDADE Proteção e defesa Formas de controle Religião e
intelectual emocional magia
e pragmático do
destino e da
oportunidade
REPOUSO Sistema de lazer e Renovação de Educação
repouso energia
MOVIMENTO Atividades e sistema
de comunicação
CRESCIMENTO Preparação e Organização da Organização Ritmo, exercício e Arte, esporte,
aprendizagem força e da obrigação Política descanso jogos
Ao observar o esquema e comparar as colunas A e B, reconhecemos que o
primeiro representa as necessidades biológicas do organismo individual, que se deve
satisfazer em cada cultura.
A coluna B descreve brevemente as resposta culturais a cada uma destas
necessidades.
A cultura então aparece primeiro e principalmente como uma vasta realidade
instrumental para a satisfação dos desejos biológicos.
O organismo humano se modifica nesse processo e se ajusta ao tipo de situação
que requerer a cultura. Neste sentido a cultura é um grande condicionador ao ensinar a
moral e o desenvolvimento de alguns gostos.
A satisfação completa das principais necessidades biológicas impõe ao homem
novas necessidades , secundárias ou derivadas.
Na coluna C estão essas novas necessidades. Está claro que a utilização de
ferramentas e utensílios, e o fato de que o homem os use e os destrua em sua
utilização, quer dizer os consuma, (os bens como a comida produzida e preparada, a
roupa, os materiais de construção e as formas de transporte, implica na necessidade de
uma constante "renovação do aparato cultural".
Na coluna D encontramos os sistemas culturais que se podem encontrar em
cada grupo humano, como resposta as necessidades instrumentais que se tem imposto
com as satisfações culturais.
Assim a economia: os sistemas de produção, de distribuição e consumo; os
sistemas organizados de controle social; a educação (forma tradicionais como o
indivíduo é educado desde a infância e a organização política (do município, tribo ou
estado) são aspectos universais de cada sociedade humana.
A investigação de campo das comunidades primitivas ou desenvolvidas teria que
tratar aspectos tais como cultura e economia, as instituições legais, a educação e a
organização política da unidade.
As investigações teriam que incluir um estudo específico do indivíduo, assim
como também do grupo na qual ele tem que viver e trabalhar.
No que diz respeito a economia o indivíduo que é membro de uma cultura, deve
aprender a trabalhar e ser produtivo, saber como administrar seu ganho, regular seu
consumo.
Quanto ao Controle Social, o trabalho de campo nas comunidades primitivas não
levaram em conta dois pontos essenciais:
1 - A ausência de instituições legais não significa que não existam mecanismos
de controle e sanções efetivas, e sistemas complicados com que se determinam os
direito e obrigações. Os códigos, os sistemas de litígio e sanções efetivas se encontram
como um subproduto da ação e reação que há entre os indivíduos em cada grupo
(instituição). O aspecto legal é , nas sociedades primitivas, um subproduto da influência
de organização na psicologia individual.
2 - O estudo do problema legal, do ponto de vista individual, nos mostra que a
conformidade com a ordem legal é o resultado de uma longa e efetiva aprendizagem.
Em cada comunidade o ser humano cresce como um membro que respeita a lei e
conforme as considerações de seu próprio interesse equilibra sacrifícios e vantagens, e
segue as regras de seu sistema tradicional legal. O estudo de como se inculca ao
indivíduo as obediências as regras durante toda sua vida e o estudo de dar e receber
na vida organizada em instituições, constitui todo o campo da observação e análise do
sistema legal em uma comunidade primitiva
Educação é o verdadeiro processo com que se cumpre o total condicionamento
do indivíduo, e isto sempre acontece em grupos organizados onde está o indivíduo.
Nasce na família, que o escolariza no exercício das funções físicas, na aprendizagem
da linguagem e na aquisição das formas de higiene e conduta. Passa por uma
aprendizagem no qual adquire capacidades, compreensão do código legal de privilegio
e obrigação em seu grupo.
Toda atividade cultural se faz com cooperação. Isto significa que o homem tem
que obedecer as regras de conduta.
Tem que existir um código de regras para manter a lei e a ordem, uma forma de
restabelecimento quando se rompem ou se infringem.
A DEFINIÇÃO CULTURAL DO SIMBOLISMO: A transmissão das regras, o
desenvolvimento dos princípios gerais de conduta e técnica a existência de sistemas
tradicionais de valor e sentimento, leva a um componente a mais da cultura humana: O
SIMBOLISMO cujo protótipo2 é a LINGUAGEM.
O SIMBOLISMO fez sua aparição com as primeiras aparições da cultura
humana.
Imaginemos a transição da habilidade subhumana a humana de um fato
ambiental: o descobrimento do fogo e a utilização de utensílios tão simples como um
pau e uma pedra. O utensílio usado se converte em um elemento efetivo da cultura só
quando se incorpora permanentemente ao uso coletivo e o uso se transmite
tradicionalmente.
O reconhecimento de sua utilidade era necessário e tem que se fixar para poder
comunicar de um indivíduo a outro e assim passar para a geração seguinte. Isto
significa que a cultura não se pode originar sem algum elemento de organização social:
relação permanente entre os indivíduos, sem isso a comunicação não é possível.
A cooperação se criou na realização concreta de qualquer tarefa complexa:
como poderia se fazer o fogo e mante-lo, a utilização do fogo para preparar a comida.
A incorporação e a transmissão implicam em  RECONHECIMENTO DE
VALOR
É aqui que encontramos pela primeira vez o mecanismo da SIMBOLIZAÇÃO
Qualquer gesto, signo ou som que poderia definir um objeto, a reprodução de um
processo, a fixação de uma técnica, utilidade e valor eram tão simbólicas quanto um
pictograma chinês.
A criação do simbolismo cultural e seus valores não se pode entender sem uma
referência direta a psicologia e fisiologia individual.
A formação dos hábitos, habilidades, valores e símbolos consiste essencialmente
em condicionar o organismo humano a respostas que não estão determinadas pela
natureza e sim pela cultura.
O funcionalismo é em essência a transformação das necessidades orgânicas
individuais em necessidades e imperativos culturais derivados dessas necessidade
básicas.
Pode-se resumir a perspectiva FUNCIONALISTA da seguinte forma3:

2
Do gr. protótypos, pelo lat. prototypu. Primeiro tipo ou exemplar; original, modelo.
 Os funcionalistas preocupam-se em estudar o funcionamento da cultura num
momento dado. Não interessava explicar o presente com base no passado (história).
Os estudos são de caráter sincrônico e não diacrônico. Os funcionalistas acreditam
poder estudar uma cultura sem estudar a sua história.
 Esta escola tem uma visão sistêmica utilizada na análise da cultura (totalidade)
 Para os funcionalistas a sociedade e a cultura são vistas como um todo cujas
partes estão intimamente interligadas, a exemplo do organismo biológico e seus
respectivos órgãos. Cada órgão e todos os órgãos possuem suas indispensáveis
funções.
 Os funcionalistas europeus basicamente "inventaram" a pesquisa de campo pois
após eles o campo tornou-se uma experiência obrigatória na construção teórica. Muito
embora os difusionistas dessem ao campo um elevado destaque foi MALINOWSKI em
1914 que otimizou essa experiência em seus estudos nas Ilhas Trobriand, tornando-se
um procedimento acadêmico na formação de antropólogos. O trabalho de campo por
observação participante instaurado por Malinowski é uma característica da Antropologia
Social Britânica.

O FUNCIONAL-ESTRUTURALISMO DE RADCLIFF-BROWN  Critica


Malinowski, dizendo que ele nunca foi capaz de realizar um estudo de sistemas ou
relações de grupo.
Brown obedece uma linha de explicação sociológica. Malinowski embora
considerando a explicação sociológica, firma-se em uma explicação psicológica
(necessidades básicas).
Radcliffe-Brown definia "as culturas como organismos que devem ser estudados
pelos métodos das ciências naturais, como organismos que desenvolveram-se no
sentido de crescente diversidade e complexidade.
Brown centraliza seu estudo na estrutura social, que definia como uma rede de
relações básicas de uma sociedade. Como Durkheim explicava o fato social por outros
fatos sociais. Define função como a contribuição que determinada atividade proporciona
à atividade total da qual é parte. A função de qualquer atividade periódica (punição de

3
IN Stadtler, Hulda Helena. Cadernos de Antropologia. Edição da autora. 1997.
crime, cerimônia fúnebre) e a parte que ela desempenha na vida social como um todo,
traz uma contribuição para a manutenção da continuidade estrutural.
Preocupa-se com a situação formal, as regras e os rituais. Não tinha simpatia
pelos nativos. Afirmava que o que realmente interessa para etnólogo é a organização
social dessas tribos, tal como existiam antes da ocupação européia das ilhas. Não
havia assim, informação direta, dependia de informantes.
Radcliffe-Brown dividiu os costumes em três tipos: 1. Técnicas; 2. Regras de
Comportamento; 3. Costumes Cerimoniais.

ESTRUTURALISMO ( as décadas de 1930-1940)  O estruturalismo não é uma


oposição ao funcionalismo mas um aprimoramento no método e na análise:
Funcionalismo e Estruturalismo possuem:
 posição sincrônicas na análise da cultura;
 pressuposto de que sociedade e cultura são totalidades e pode-se procurar
explicações para suas partes componentes.
Precursores do Estruturalismo  Gaston Bachelard, Sigmund Freud, Marcel
Mauss.

Embora o estruturalismo não tenha nascido em uma só pessoa, mas seja o


resultado do avanço do conceito de ciência e do Domínio do estudo das sociedades
pode dizer que o fundador do estruturalismo antropológico é CLAUDE LÉVI-STRAUSS
(Bélgica 1908). Para ele a estrutura é uma matriz ou modelo de análise constituído a
partir da observação da realidade social, pois cultura é algo essencialmente simbólico e
o fundamental nas relações estruturais ou sistêmicas permanecem de maneira latente.
Na década de 40 escreveu "As Estruturas Elementares do Parentesco", uma de
suas obras indispensáveis.
Princípios de Lévi-Strauss para o estruturalismo:
A vida sócio-cultural não pode ser explicada por meio da visão funcionalista. Os
fatos não falam por si só. As combinações de fatos é que criam que criam seus
modelos explicativos.
Toda sociedade e cultura exibe em maior ou menor grau características
encontráveis nas outras (presença da arte, religião, regulação da sexualidade, domínio
político, divisão do trabalho).

Lévi-Strauss não trata os fatos sociais como coisas, mas como palavras.
Trouxe para a antropologia a lingüística.
Estudou os mitos e chegou a conclusão de que mitos representam a mente de
quem os cria.

Texto Construído a partir da referência bibliográfica:

STADTLER, Hulda Helena Coraciara. Breve História da Antropologia. Recife: ed.


Universitária UFPE, 1997. (Manuscrito no prelo)

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