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COLÉGIO PEDRO II – CAMPUS ENGENHO NOVO II

DISCIPLINA: SOCIOLOGIA – 2ª SÉRIE – 1ª CERTIFICAÇÃO


COORD. PEDAGÓGICA: PEDRO CAZES
PROFESSORA: PALOMA AUGUSTO

Cultura – um conceito antropológico (parte I)


O avanço colonialista europeu empreendido a partir do século XVI, não resultou apenas em dominações.
Esses encontros geraram relatos de viagem, narrativas descritivas, investigações e todo o tipo de documentos
históricos sobre as populações nativas até então desconhecidas pelos dominadores. Essas informações foram
produzidas desde o começo das explorações europeias, mas só no século XIX, com o avanço do imperialismo
europeu, foram sistematizadas por meio de estudos científicos.

Essa documentação sobre populações nativas diversas, somadas ao interesse das sociedades colonialistas
em ampliar suas formas de dominação, gerou a produção de um conhecimento que hoje chamamos de
antropológico.

Aliás, você sabe o que faz um antropólogo? O que ele estuda e qual o seu método de trabalho?

Os primeiros pesquisadores desta área de conhecimento chamada Antropologia, realizaram seus estudos
através de um método que se convencionou chamar de antropologia de gabinete. Esses pesquisadores olhavam para
os dados coletados pela empreitada colonial, determinavam quais sociedades consideravam mais simples e quais
seriam mais complexas e as distribuíam em uma escala evolutiva, esse conhecimento ficou conhecido como
Evolucionismo Cultural.

Características do Evolucionismo Cultural

 Responsável pela definição de cultura como objeto


de estudo.
 Toda a humanidade percorreria os mesmos estágios
evolutivos, seguindo uma direção que ia dos mais
simples aos mais complexos.
 Os povos “não-ocidentais” eram exemplos vivos
daquilo que “fomos um dia”.
 Os diferentes estágios evolutivos explicariam as
diferenças culturais.
 Civilização europeia entendida como o ápice do
desenvolvimento.
 O método comparativo embasa a classificação das
sociedades segundo critério do progresso
tecnológico.

Alguns representantes desta teoria foram:

 Lewis Henry Morgan (1818-1881) – divide a história da humanidade em três etapas: selvageria, barbárie e
civilização.
 Edward Tylor (1832-1917) – considerado um dos responsáveis pelo desenvolvimento do conceito de
moderno de cultura ao associar esta ideia a um processo de aprendizado e não a algo inato. Segundo Tylor,
Cultura é : “o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, leis, arte, moral, costumes ou qualquer
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”.
 James Frazer (1854-1941) – “um selvagem está para um homem civilizado assim como uma criança está para
um adulto. [...] Em suma, a selvageria é a condição primitiva da humanidade.”
Com o pouco que conhecemos até aqui já podemos observar o quanto a teoria do Evolucionismo Cultural além
de equivocada é também problemática, afinal de contas, estudar as sociedades orientado pela noção de progresso
implica em diversas conclusões que hoje são repudiadas pelas Ciências Sociais, dentre elas, observar o colonialismo
como uma ação de solidariedade aos povos “atrasados”, que poderiam atingir os estágios mais adiantados
justamente por meio da dominação ocidental.

Etnocentrismo e relativismo cultural


A teoria evolucionista uma das responsáveis por dar origem a perspectivas racistas ao longo do século XIX e
do século XX trouxeram também algo novo: a ideia de colocar no mesmo barco todas as populações do mundo. A
inclusão de todas as populações em uma única história humana teve como base a hierarquia evolutiva. A
Antropologia, porém, não se satisfez com essa perspectiva e, desde o final do século XIX, passou a criticar a teoria do
evolucionismo. O principal instrumento para fundamentar a crítica foi o conceito de cultura.

Um dos principais críticos do evolucionismo foi o antropólogo alemão e radicado nos Estados Unidos, Franz
Boas (1858-1942). Boas foi o primeiro a utilizar a palavra cultura em um sentido propriamente antropológico. Antes
de Boas, cultura era sinônimo de “civilização” e um atributo dos países tidos como civilizados. Franz Boas inaugurou
a utilização do conceito em uma perspectiva pluralista: ele fala em “culturas” e não em “cultura”. Essa pequena
mudança de perspectiva foi fundamental para ajudar a desconstruir a hierarquias presentes no pensamento colonial
e racista em geral.

PIONEIRO DA ANTROPOLOGIA AMERICANA

Em 1883, o jovem cientista alemão chamado Franz Boas


chegava ao norte do Canadá para mapear a região
entregar-se aos seus novos interesses: o estudo de
outras culturas. Esse primeiro contato, no qual ele
travou relação com os Esquimós canadenses, foi muito
marcante para Boas fazendo com que o estudo da
cultura acabasse se tornando o seu trabalho de vida, tal
era o seu fascínio pelas características comuns que
unem os seres humanos em toda parte do planeta. Franz
Boas também foi o primeiro cientista social que, nos
Estados Unidos, desafiou o conceito de inferioridade
racial, militando em nome dos negros norte-americanos
no início do séc XX.

Conhecido como “pai da antropologia americana”, Boas foi um dos responsáveis pelo
desenvolvimento do chamado relativismo cultural.

O relativismo cultural é uma tomada de posição diante da diferença cultural, segundo a qual cada cultura
deve ser observada apenas em seus próprios termos.

Relativismo cultural, portanto, é uma forma de encarar a diversidade sem impor valores e normas
alheios. Podemos considerar o relativismo como uma inversão do evolucionismo: se este escalona as
diferenças a partir de valores específicos das sociedades ocidentais, o relativismo evita qualquer tipo de
escala, analisando as diferenças segundo os termos da própria sociedade da qual faz parte.
COLÉGIO PEDRO II – CAMPUS ENGENHO NOVO II
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA – 2ª SÉRIE – 1ª CERTIFICAÇÃO
COORD. PEDAGÓGICA: PEDRO CAZES
PROFESSORA: PALOMA AUGUSTO

Tendência inversa ao relativismo cultural é o etnocentrismo. Estamos sendo etnocêntricos quando


julgamos outras culturas segundo nossos próprios parâmetros culturais. Por exemplo, considerar uma
população indígena atrasada porque lhe faltam determinadas tecnologias é etnocentrismo. Se adotarmos
outros critérios, esse “atraso” pode ser questionado. Levando em conta a capacidade de se manter estável ao
longo do tempo (o que chamamos de sustentabilidade), as sociedades entendidas por alguns como primitivas
ganham um estatuto muito mais “civilizado”, já que nosso modelo de vida, baseado no consumo intenso,
não é sustentável a longo prazo.
O etnocentrismo é a lógica principal das classificações evolucionistas, enquanto o relativismo
cultural foi considerado uma revolução política para o enfrentamento racismo e de outros tipos de
preconceito.
Mas atenção! O relativismo cultural não significa que devemos aceitar toda e qualquer prática. Por
exemplo, se um determinado costume oprime uma parcela da sociedade (as mulheres islâmicas, por
exemplo), e essas parcelas se sentem oprimidas, é justo questionar esse costume, mas neste caso teríamos
que fazê-lo segundo os termos daquela cultura.
Adaptado de Sociologia Hoje. Organizador Igor José de Renó Machado.

1) Qual a relação entre o colonialismo e a teoria do evolucionismo cultural?


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2) Por que o conceito de progresso tecnológico é tão importante para os cientistas do século XIX?
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3) Como a ideia de cultura se contrapõe à de civilização a partir do trabalho de Franz Boas?


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