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Direito das Obrigações

Conceito:

Em objetiva definição, trata-se do conjunto de normas (regras e princípios


jurídicos) reguladoras das relações patrimoniais entre um credor (sujeito ativo)
e um devedor (sujeito passivo) a quem incumbe o dever de cumprir,
espontânea ou coativamente, uma prestação de dar, fazer ou não fazer.

A principal finalidade do direito das obrigações consiste exatamente em


fornecer meios ao credor para exigir do devedor o cumprimento da prestação.
Âmbito e Importância do Direito das Obrigações

O direito das obrigações exerce grande influência na vida econômica, em razão,


principalmente, da notável frequência das relações jurídicas obrigacionais no
moderno mundo consumerista.

Intervenção na vida econômica – sob diversas modalidades (permuta, compra


e venda, locação, arrendamento, alienação fiduciária etc.) e na distribuição e
circulação dos bens (contratos de transporte, armazenagem, revenda,
consignação etc.).

Distinção entre Direitos Reais e Pessoais

LAFAYETTE RODRIGUES PEREIRA, em difundida lição, adverte que o “direito


real é aquele que afeta a coisa direta e imediatamente, sob todos ou sob certos
respeitos, e a segue em poder de quem quer que a detenha. O direito pessoal é
o direito contra determinada pessoa”.

Direitos reais – são os que recaem diretamente sobre a coisa (regra:


validade/forma escrita; eficácia plena através do registro). Art. 1245 - CC
Direitos obrigacionais/pessoais – derivam do vínculo negocial entre pessoas.

Distinção entre Direitos Reais e Pessoais

Quanto à Duração

Direitos Reais – são perpétuos/permanentes, não se extinguindo pelo não uso,


mas somente nos casos expressos em lei, exemplos: desapropriação, usucapião
em favor de terceiro, etc. Art. 1.228, § 3º.

Direitos Obrigacionais - são transitórios/temporários e se extinguem pelo


cumprimento ou por outros meios (ação judicial, entrega de prestação etc.)

Quanto à Formação:

Direitos Reais – só podem ser criados pela lei, sendo seu número limitado e
regulado por esta (ROL TAXATIVO).

Direitos Obrigacionais - resultam da vontade das partes, sendo ilimitado o


número de contratos inominados (ROL EXEMPLIFICATIVO).

OBS: Direito das Obrigações visto como um processo – Enfoque moderno

Nelson Rosenvald: a obrigação deve ser vista como uma relação complexa,
formada por um conjunto de direitos, obrigações e situações jurídicas,
compreendendo uma série de deveres de prestação, direitos formativos e
outras situações jurídicas.

Para além da perspectiva tradicional de subordinação do devedor ao credor


existe o bem comum da relação obrigacional, voltado para o adimplemento, da
forma mais satisfativa ao credor e menos onerosa ao devedor.
O bem comum na relação obrigacional traduz a solidariedade mediante a
cooperação dos indivíduos para a satisfação dos interesses patrimoniais
recíprocos, sem comprometimento dos direitos da personalidade e da
dignidade do credor e do devedor.

OBS: Abuso de Direito

AS 2 PARADIGMÁTICAS SITUAÇÕES:

1855 - (Tribunal de Apelação francês de Colmar)

CHAMINÉ FALSA PARA TAPAR A JANELA DO VIZINHO - condenou o proprietário


que construíra no seu prédio uma chaminé falsa inútil, apenas para tapar uma
janela do vizinho;

1913- (Tribunal de 1.a Instância da cidade francesa de Compiègne), confirmado


por CssFr 3-Ago.-1915 (Cassação Francesa):

Condenou-se o proprietário que erguera, no seu terreno, um dispositivo


dotado de espigões de ferro, destinados a perfurar os balões dirigíveis
construídos no prédio vizinho, com o que obteve, aliás, êxito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Figuras Híbridas – “Obrigações Propter Rem”

As obrigações propter rem são próprias da coisa, na coisa. São obrigações


impostas ao titular do direito real simplesmente por esta sua condição.

As obrigações aderem à coisa, e não à pessoa, pois são transmitidas


automaticamente ao seu novo titular, desde que haja a transferência da
propriedade.

OBS: Taxas condominiais (art. 1.345 CC/02)

Súmula 623-STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem,


sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos
anteriores, à escolha do credor.

OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL

Obrigações com eficácia real são as que, sem perder seu caráter de direito a
uma prestação, transmitem-se e são oponíveis a terceiro que adquira direito
sobre determinado bem.

EX: Direito de preferência em um contrato de locação devidamente registrado


(art. 33 da Lei 8.245/91).

Interessa, ainda, em respeito à técnica, a fixação de dois outros importantes


conceitos correlatos ao de obrigação: o estado de sujeição e o ônus jurídico.

O estado de sujeição consiste na situação da pessoa que tem de suportar, sem


que nada possa fazer, na sua própria esfera jurídica. Ao exercício de um direito
potestativo corresponde o estado de sujeição da pessoa, que deverá suportá-lo
resignadamente.

Esse estado de sujeição, por tudo que se disse, não traduz uma relação jurídica
obrigacional, por ser inexistente o dever de prestar.
Outros exemplos: título de exemplo, podem ser citados os casos da existência
de impedimentos matrimoniais (art. 1.521 do CC) e a exigência legal para
certos atos, de outorga do outro consorte (art. 1.647 do CC), sob pena, na
última hipótese, de anulabilidade do ato ou negócio praticado (art. 1.649 do
CC).

O ônus jurídico, por sua vez, caracteriza-se pelo comportamento que a pessoa
deve observar, com o propósito de obter um benefício maior. O onerado, pois,
suporta um prejuízo em troca de uma vantagem.

É o caso do donatário, beneficiado por uma fazenda, a quem se impõe, por


exemplo, o pagamento de uma pensão mensal vitalícia à tia idosa do doador
(doação com encargo).

Art. 539- CC.

O ônus não é imposto por lei, e só se torna exigível se o onerado aceita a


estipulação contratual.

Estrutura da obrigação: características e elementos

A doutrina reconhece três requisitos fundamentais na relação obrigacional.

a) Imaterial (espiritual): É o próprio vínculo abstrato que une credor e devedor.


O vínculo

pessoal não se confunde com vínculo real;


b) Subjetivo: Os sujeitos devem ser determinados ou determináveis;

c) Objetivo: É a prestação.

Obs: Entretanto, poderá haver indeterminação subjetiva na relação


obrigacional.

Ex: caso da promessa de recompensa feita ao público (art. 854 do CC/2002).

Adendo: A promessa de recompensa é a declaração unilateral de vontade por


meio da qual uma pessoa se obriga perante terceiros mediante anúncio público
a pagar gratificação em razão do cumprimento de condição, missão ou tarefa
determinada.

Também poderá ocorrer a indeterminabilidade subjetiva passiva da relação


obrigacional.

Nesse caso, não se pode, de antemão, especificar quem é o devedor da


obrigação.

Obs: O elemento subjetivo deve ser dúplice. Sem a presença simultânea dos
sujeitos ativos e passivos, não há obrigação.

Cumpre-nos referir, ainda, que se as qualidades de credor e devedor


fundirem-se, operar-se-á a extinção da obrigação por meio da confusão (art.
381 do CC/2002).
Elemento Objetivo: a prestação

A prestação é uma atividade positiva ou negativa do devedor, que consiste em dar,


fazer ou não fazer.

Em princípio, deve-se salientar que a obrigação possui dois tipos de objeto:

a) objeto direto ou imediato;

b) objeto indireto ou mediato.

Por outro lado, percebe-se que o objeto mediato da obrigação pode ser uma coisa ou
uma tarefa a ser desempenhada, positiva ou negativamente. Como exemplo de
objeto mediato da obrigação, pode ser citado um automóvel ou uma casa em relação
a um contrato de compra e venda.

OBS:

EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES

As obrigações produzem efeitos diretos e indiretos.

Os efeitos diretos são o adimplemento (é o efeito desejável).

Os efeitos indiretos são o inadimplemento e o atraso no adimplemento (são


efeitos indesejáveis).

Elemento imaterial, virtual ou espiritual da obrigação


Elemento ideal: o vínculo jurídico entre credor e devedor

O elemento em questão é o vínculo jurídico existente na relação obrigacional, ou


seja, é o elo que sujeita o devedor à determinada prestação – positiva ou negativa –,
em favor do credor, constituindo o liame legal que une as partes envolvidas.

A melhor expressão desse vínculo está estabelecida no art. 391 do CC 2002, com a
previsão segundo a qual todos os bens do devedor respondem no caso de
inadimplemento da obrigação. Esse artigo traz o princípio da responsabilidade
patrimonial do devedor.

Teoria binária (dualista)

A relação contém dois vínculos. O primeiro vínculo está ligado ao dever do sujeito
passivo de satisfazer a prestação em face do credor. O segundo vínculo está
relacionado com a autorização dada pela lei (o credor tem o direito de constranger o
patrimônio do devedor).

O Brasil adota a teoria dualista. Importante distinção feita no Direito Alemão dos dois
elementos:

a) Schuld: É o dever legal de adimplir. Débito.;

b) Haftung: É a responsabilidade patrimonial. A responsabilidade corresponde ao


cabimento de meios executivos para forçar o cumprimento do débito no caso de
inadimplemento ou, se for o caso, ao dever de indenizar. É a possibilidade de usar o
patrimônio para garantir a satisfação da prestação.

Em regra, o schuld e o haftung caminham juntos, porém é possível o débito sem a


responsabilidade, ou a responsabilidade sem o débito.

O débito sem responsabilidade é a obrigação juridicamente inexigível. O débito existe


de forma autônoma e independente. O débito subsiste, ainda que o direito não
autorize a constrição do patrimônio do devedor.
É o caso da dívida prescrita e da dívida de jogo (art. 814, CC c/c arts. 882 e 883, CC).
Imagine que uma dívida de 1 mil reais já esteja prescrita. Já passou do tempo de
cobrar. A dívida não pode mais ser exigida judicialmente. Mas suponha que, mesmo
assim, o devedor dirige-se até o credor e paga-lhe os 1 mil reais. Não importa se o
devedor sabia ou não que a dívida estava prescrita. Paga a dívida prescrita (ou a
dívida de jogo não autorizado por lei), o devedor que pagou (por engano, ou não) não
poderá exigir devolução do valor. (arts. 882 e 883, CC).

A responsabilidade sem débito é a garantia conferida por um terceiro. Ex.: Na fiança,


o fiador se torna responsável pela dívida alheia (art. 818 do CC).

Características que imprimem validade à prestação

OBS 104 e 166- CC.

Licitude:

A licitude da prestação implica o respeito aos limites impostos pelo direito e


pela moral. Ninguém defenderá, por exemplo, a validade de uma prestação que
imponha ao devedor cometer um crime (matar alguém, roubar etc.).

Possibilidade:

A prestação, para que seja considerada viável, deverá ser física e juridicamente
possível.

A prestação é considerada fisicamente impossível quando é irrealizável,


segundo as leis da natureza.

Determinabilidade:

Toda prestação, para valer e ser realizável, deverá conter elementos mínimos
de identificação e individualização. Afinal, ninguém poderá obrigar-se a
“prestar alguma coisa...”. Por isso, diz-se que a prestação, além de lícita e
possível, deverá ser determinada, ou, ao menos, determinável.

Assim, quando o sujeito se obriga a dar coisa incerta (obrigação genérica) —


duas sacas de café, por exemplo, sem especificar a qualidade (tipo A ou B) —,
no momento de cumprir a obrigação, o devedor ou o credor (a depender do
contrato ou da própria lei) deverá especificar a prestação, individualizando-a.

Esta operação de certificação da coisa, por meio da qual se especifica a


prestação, convertendo a obrigação genérica em determinada, denomina-se
“concentração do débito” ou “concentração da prestação devida”.

Afinal, a patrimonialidade é indispensável para a sua caracterização?

OBS:Karl Larenz, a prestação deve ser apenas algo vantajoso, ainda que não
patrimonial. Ex.: A retratação pública.

Direito de vizinhança - Obrigação de fazer e não fazer. Cultos religiosos. Poluição


sonora Perturbação ao sossego. Presentes elementos que dão verossimilhança as
alegações do autor - Pedido liminar visando a interdição dos cultos religiosos até a
regularização da ré, quanto ao isolamento acústico e local apropriado, sob pena de
multa. Indeferimento da interdição. Liminar ora concedida para determinar a
abstenção da ré de produzir som acima dos níveis permitidos pela ABNT NBR 10151.
Decisão reformada. Para a hipótese aplica-se a NBR 10151/00 que faz a "Avaliação do
Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade". Segundo a NBR
10151/00 que dispõe sobre os níveis de ruídos para áreas externas, numa área
habitada mista, predominantemente residencial, os níveis de ruídos externos
provocados pela fonte sonora não devem ultrapassar em horário diurno (7h 22h) o
valor de 55dB e em horário noturno (22h-7h) o valor de 50dB, razão pela qual
concede-se a liminar para impedir que tais parâmetros sejam extrapolados, sob pena
de multa diária no valor de R$ 300,00. Recurso parcialmente provido, com
observação.

(TJ-SP - AI: 1248440820128260000 SP 0124844-08.2012.8.26.0000, Relator: Manoel


Justino Bezerra Filho, Data de Julgamento: 06/08/2012, 35ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 08/08/2012)

Fonte das Obrigações:

A fonte cria a relação obrigacional.


a) Lei – é a “fonte primária ou imediata de todas as obrigações, pois, como
pudemos apontar em páginas anteriores, os vínculos obrigacionais são relações
jurídicas”.

b) Contratos – são tidos como fonte principal do direito obrigacional, afirmação


com a qual é de se concordar integralmente.

Como exemplo, podem ser citadas as figuras tipificadas no Código Civil de


2002, tais como a compra e venda, a doação, a locação, o comodato, o mútuo,
a prestação de serviços, a empreitada, o depósito, o mandato, entre outros
tipos.

c) Os atos ilícitos e o abuso de direito – são fontes importantíssimas do direito


obrigacional, com enorme aplicação prática. Gerando o dever de indenizar, é
forçoso entender que o abuso de direito (arts. 186, 187 e 927 do CC) também
constitui fonte de obrigações.

d) Os atos unilaterais – são as declarações unilaterais de vontade, fontes do


direito obrigacional que estão previstas no Código Civil, caso da promessa de
recompensa, da gestão de negócios, do pagamento indevido e do
enriquecimento sem causa.

e) Os títulos de crédito – são os documentos que trazem em seu bojo, com


caráter autônomo, a existência de uma relação obrigacional de natureza
privada. Têm tratamento no Código Civil, a partir do seu art. 887.

Classificação Elementar da Obrigação:


Obrigações de dar

As obrigações de dar, que têm por objeto prestações de coisas, consistem na


atividade de:

(i) dar (transferindo-se a posse e propriedade da coisa),

(ii) dar (transferência da posse - Ex: locador “dar” a posse do imóvel),

(iv) entregar (transferindo-se a posse ou a detenção da coisa)

(v) restituir (quando o credor recupera a posse ou a detenção da coisa


entregue ao devedor. Ex: contrato de depósito, entrega do livro em biblioteca).

Subdividem-se, todavia, em obrigações de dar coisa certa (arts. 233 a 242 do


CC/2002) e de dar coisa incerta (arts. 243 a 246 do CC/2002).

(i) Obrigações de dar coisa certa

Prestação se refere a um bem específico ou individualizado. O objeto da


prestação é individualizado, determinado, medido e qualificado.
E, se é assim, o credor não está obrigado a receber outra coisa senão aquela
descrita no título da obrigação.

Nesse sentido, clara é a dicção do art. 313 do CC/2002: “O credor não é


obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa”.

Aplica-se, também, para as obrigações de dar coisa certa, o princípio jurídico


de que o acessório segue o principal (acessorium sequitur principale).

Dessa forma, não resultando o contrário do título ou das circunstâncias do


caso, o devedor não poderá se negar a dar ao credor aqueles bens que, sem
integrar a coisa principal, secundam-na por acessoriedade (art. 233 do
CC/2002).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA - COMPRA E VENDA DE IMÓVEL


- RETIRADA DE BENS ACESSÓRIOS - INDENIZAÇÃO - EXTENSÃO DOS DANOS.

1. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não


mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do
caso.

2. A indenização mede-se pela extensão do dano.

(...) Desse modo, quanto ao direito obrigacional, continua em vigor o princípio


pelo qual o acessório segue o principal (accessorium sequitur principale) -
princípio da gravitação jurídica. Como acessórios, devem ser incluídos os
frutos, os produtos, as benfeitorias e as pertenças que tenham natureza
essencial, nos termos dos arts. 93 e 94 da codificação atual.

(TJ-MG - AC: 10518120197265002 MG, Relator: José Flávio de Almeida, Data


de Julgamento: 19/08/2015, Data de Publicação: 26/08/2015)

- Quanto ao risco de perecimento ou deterioração do objeto, há que se


invocar a milenar regra do res perit domino.
Responsabilidade civil pelo risco de perda ou deterioração da coisa certa (art. 234 a 236-
CC)

Em caso de perda ou perecimento (prejuízo total), duas situações diversas, todavia, podem
ocorrer:

a) se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição (da entrega da coisa), ou
pendente condição suspensiva (o negócio encontra-se subordinado a um acontecimento
futuro e incerto), fica resolvida a obrigação para ambas as partes, suportando o prejuízo o
proprietário da coisa que ainda não a havia alienado (art. 234, parte inicial, do CC/2002);

OBS: A expressão resolver significa que as partes voltam à situação primitiva, anterior à
celebração da obrigação.
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA - PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL - RESCISÃO CONTRATUAL - POSSIBILIDADE - INEXECUÇÃO CONTRATUAL
INVOLUNTÁRIA - CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR - OCORRÊNCIA - RESTITUIÇÃO DE
VALORES PAGOS - SITUAÇÃO ANTERIOR - RESTABELECIMENTO - CORREÇÃO MONETÁRIA -
TERMO INICIAL - DATA DO DESEMBOLSO - JUROS DE MORA - TERMO INICIAL - DATA DA
CITAÇÃO. - O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. O caso fortuito ou de
força maior é aquele verificado no fato necessário, cujos efeitos são impossíveis de evitar
ou impedir (CC, art. 393, parágrafo único) - Os riscos em relação à coisa correm por conta
do vendedor, que tem o dever de entregá-la ao comprador, pois, enquanto não o fizer, a
coisa ainda lhe pertence, incidindo a regra res perit domino (a coisa perece para o dono)
(CC, art. 234, primeira parte) - Havendo rescisão contratual, a situação anterior deve ser
restabelecida tal qual era antes da existência do contrato - O termo inicial da correção
monetária das parcelas pagas, a serem restituídas em virtude da rescisão do contrato de
compra e venda, é a data de cada desembolso, nos termos da jurisprudência do STJ (STJ,
AgInt no AREsp 342.293/SP)

b) se a coisa se perder, por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente


(valor da coisa), mais perdas e danos (art. 234, parte final, do CC/2002).

Nesse caso, suportará a perda o causador do dano, já que terá de indenizar a outra
parte.

Imagine a hipótese de o devedor, por culpa ou dolo, haver destruído o bem que
devia restituir.

Em regra, quem causa dano a outrem com culpa tem o dever de indenizar, pois
ninguém pode lesar outrem. Essa lógica permeia toda a legislação e está
genericamente prevista nos arts. 186 e 927 do CC, que consideram ilícita a conduta
culposa que cause um dano e que cominam o dever de indenizar.

EX: Se compro um determinado veículo para ser-me entregue no próximo mês e o


vendedor, após a celebração do contrato, rasga a lataria do automóvel com um
machado e explode o carro, eu poderei exigir o pagamento do valor de mercado do
veículo na data de entrega dele (no mínimo, o preço pactuado) + perdas e danos.

E mais: em qualquer um desses casos, poderei pedir também indenização por


outros danos sofridos (ex.: danos materiais e morais pela frustração de uma viagem
“de carro” que eu havia pago para iniciar-se na data de entrega do veículo).

Em caso de deterioração (prejuízo parcial) – 235 e 236 - CC, também duas


hipóteses são previstas em lei:

Deterioração significa que a coisa continua a existir, ainda desempenha sua


função, mas com valor reduzido.

a) se a coisa se deteriora sem culpa do devedor, poderá o credor, a seu critério,


resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu
(art. 235 do CC/2002);

Para exemplificar: se vendo um veículo para ser entregue no próximo mês e recebo
R$ 40.000,00 como preço, terei de restituir essa quantia caso, antes da tradição, o
veículo seja furtado (perecimento sem culpa minha). Nessa hipótese, eu ficarei sem
carro e sem dinheiro, porque res perit domino. Se, porém, esse veículo só tiver sido
amassado por uma batida causada por um terceiro (batida essa que desvalorizou o
bem em R$ 5.000,00), o que sucederia? Nessa situação, como o veículo se
deteriorou sem culpa minha, o comprador poderá escolher entre, de um lado, pegar
de volta os seus R$ 40.000,00 ou, de outro lado, receber o carro abalroado exigindo
de mim a devolução de R$ 5.000,00 correspondentes à desvalorização do bem.
Como se vê, eu ficarei no prejuízo nesses exemplos, porque res perit domino.

b) se a coisa se deteriora por culpa do devedor, poderá o credor exigir o


equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar,
em um ou em outro caso, a indenização pelas perdas e danos (art. 236 do CC/2002).

Em havendo culpa do devedor na deterioração (negligência, imprudência e


imperícia), o devedor responderá pelos danos causados (danos emergentes, lucros
cessantes), além dos juros de mora, correção monetária e honorários de advogado.

A prova do prejuízo cabe ao credor.

Exemplo: Pedro vende o carro a Maria e no dia da entrega, por culpa sua, bate o
carro e a lataria fica amassada desvalorizando o carro em R$ 3.000,00.

Como Pedro teve culpa, Maria pode optar por desfazer o contrato (resolução)
recebendo os valores que pagou a Pedro com correção monetária, mais perdas e
danos.
Esse desfazimento decorre do art. 475 do CC/2002. Maria pode, ainda, aceitar o
carro como se encontra abatendo do preço o valor do dano que a coisa sofreu, além
de cobrar perdas e danos.

Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus


melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o
credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.

Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os


pendentes.

OBS: Até a tradição a coisa pertence ao devedor. É com a tradição ou entrega


que haverá a transmissão da propriedade. Se o proprietário sofre os ônus
(perda ou deterioração em razão do brocardo res perit domino), tem também
os bônus, que são os acréscimos.
As obrigações de restituir, por sua vez, mereceram tratamento específico.

CC- Art. 238, que, “se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do
devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se
resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”.

A obrigação de restituir é modalidade da obrigação de dar. Significa dar de volta.

Em suma, aquele que tem a posse direta e deve restituir, devolver o bem, é o devedor.
Aquele a quem o bem deve ser restituído é o credor. Assim, o locatário, o comodatário, o
depositário são devedores. Já locador, comodante, depositante são credores.

Se a obrigação é de restituir coisa certa, a lógica básica é a mesma: a do res perit domino. A
única diferença é a de que o credor é o dono da coisa, que está nas mãos do devedor com
dever de restituir.

Se a coisa se perde (deixa de existir ou não cumpre mais sua função) sem
culpa do devedor, a obrigação se extingue (hipótese de caso fortuito ou de
força maior). Não há perdas e danos.

EX 1: É o caso de João pedir emprestado (comodato) o carro de Maria e este


se perder por força de um roubo.

João não poderá restituir o carro, mas a perda se deu por força maior.

Maria nada recebe: nem o valor do carro roubado (equivalente), nem as


perdas e danos.
Sem culpa, não há pagamento de perdas e danos: dano emergente e lucro
cessante.

EX2: É o exemplo do carro alugado que se perde sem culpa do devedor. Os


aluguéis são devidos até o dia da perda. Ainda que o credor não possa exigir o
bem que se perdeu por força maior, poderá exigir os aluguéis devidos até a
perda.
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente,
mais perdas e danos.

É o caso de João pedir emprestado (comodato) o carro de Maria e este se


perder por força de negligência de João que, sabendo se tratar de um lugar
perigoso, estaciona o carro na rua. João não poderá restituir o carro, mas
responderá pelo seu valor (equivalente) e pelas perdas e danos.

EX 2:

Assim, “havendo indícios de que a locatária não cumpriu com seu dever de
guardar e zelar pelo bem de outrem, não merece guarida a alegação de caso
fortuito para excluir sua responsabilidade. Nos termos dos arts. 239 e 240 do
Código Civil, se a coisa restituível se deteriorar por culpa do devedor,
responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. À falta de evidências
do valor pago a título de aluguel, o montante deve ser apurado em liquidação
de sentença” (TJMG, APCV 1.0045.14.002899-9/001, Rel. Des. Mônica Libânio,
j. 24.10.2018, DJEMG 30.10.2018).

Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor,


recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por
culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

EX1 : É o caso de João pedir emprestado (comodato) o carro de Maria e este


ter a pintura danificada por força de uma chuva de granizo. João restituirá o
carro danificado por força maior e Maria nada poderá reclamar. Sem culpa,
não há direito a perdas e danos.

EX2: Se a deterioração se der por culpa do devedor, surge a responsabilidade


por perdas e danos. É o caso de João pedir emprestado (comodato) o carro de
Maria e este ser batido em razão da imperícia do comodatário ao dirigir. João
restituirá o carro danificado por sua culpa e Maria poderá reclamar as perdas
e danos: dano emergente e lucro cessante.
(ii) Obrigações de dar coisa incerta

Trata-se das chamadas obrigações genéricas.

Ao lado das obrigações de dar coisa certa, figuram as obrigações de dar coisa
incerta, cuja prestação consiste na entrega de coisa especificada apenas pela
espécie (gênero) e quantidade; mas não na qualidade.

OBS: art. 243 do Código Civil de 2002:

Na obrigação de dar coisa incerta, o devedor precisa individualizar a coisa (escolher


a coisa) e cientificar o credor acerca disso.

Ele precisa concentrar a sua obrigação em um único objeto entre os vários que se
enquadram no gênero (concentração da obrigação). Trata-se da fase da
concentração, que se completa com a cientificação do credor acerca da escolha.

Essa operação, por meio da qual se especifica a prestação, convertendo a obrigação


genérica em determinada, denomina-se “concentração do débito”, “concentração
da prestação devida” , “concentração da obrigação”.

Mas a quem caberia a escolha? Ao credor ou ao devedor?

OBS: art 244.

OBS: Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.

Aqui há o traço que claramente distingue a obrigação de dar coisa certa daquela de
dar coisa incerta.

A perda da coisa. Isso porque, enquanto a coisa certa perece, a incerta não, pois
gênero não perece (genus non perit).

OBS: CPC – 498.

“Em se tratando de contrato de compra e venda de soja para entrega futura, em


que a obrigação consiste em dar coisa incerta ou fungível, identificada tão somente
pelo gênero e pela quantidade, a sua regulamentação está no art. 243 e ss. Do
Código Civil, caso em que a perda ou deterioração da coisa, antes da escolha, não
pode ser alegada pelo devedor para fins de se eximir do cumprimento da obrigação,
ainda que por força maior ou caso fortuito (art. 246, do CC). Inaplicabilidade da
regra do art. 234, do Código Civil, que se refere a perda da coisa, em obrigações de
dar coisa certa”
(TJGO, AC 0196943-87.2013.8.09.0137, 2.ª Câmara Cível, Rio Verde, Rel. Des.
Zacarias Neves Coelho, DJGO 25.04.2016, p. 186).

OBS: Obrigação de dar dinheiro

Nesse sentido, aliás, dispõe o art. 315 do Código Civil de 2002:

“As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e


pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes”.

Consoante se depreende dessa regra legal, é o princípio do nominalismo que regula


as denominadas dívidas de dinheiro.

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta


entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real
da prestação.

Para que o juiz possa realizar a revisão contratual, deve haver i) manifesta
desproporção entre o valor da prestação no momento da formação e o da execução
e ii) a desproporção decorrer de motivos imprevisíveis.

Obrigações de fazer

A obrigação de fazer é o dever de prestar um fato, ou seja, de adotar uma


conduta comissiva (ex.: cantar, reparar uma pia, instalar programas etc.). A
sua disciplina está nos arts. 247 a 249, CC.

A obrigação de fazer pode ser fungível ou infungível.

A obrigação infungível é aquela em que a figura do devedor é relevante, logo,


não pode ser substituído por outro. É chamada de intuitu personae (
personalíssima). A fungibilidade, portanto, não é da prestação, mas sim do
devedor.

Ex.: se Nadson Ferinha se obrigou a cantar em um evento, não há outro


cantor que possa substituí-lo. Se o devedor descumprir culposamente a
obrigação, arcará com perdas e danos, sem prejuízo da tutela específica:

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que


recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível.

Se a obrigação de fazer se tornar impossível (perecer) sem culpa do devedor,


resolve-se a obrigação sem direito a perdas e danos. EX: A culpa foi da
natureza ou do acaso: não há como condenar o devedor a pagar perdas e
danos. EX: Assim, se um malabarista foi contratado para animar um
aniversário de criança, e, no dia do evento, foi vítima de um sequestro, a
obrigação extingue-se por força do evento fortuito.

Se, porém, houver culpa do devedor no perecimento da obrigação


(impossibilidade de prestar o fato), o credor pode pedir indenização por
perdas e danos (art. 248, CC). Utilizando o exemplo acima, imagine que o
malabarista contratado acidentou-se porque, no dia da festa, dirigia seu
veículo alcoolizado e em alta velocidade. Nesse caso, o descumprimento
obrigacional decorreu de sua imprudência, razão pela qual deverá ser
responsabilizado.

OBS:

Ao credor, há interesse no cumprimento da própria prestação e não apenas a


indenização que acaba por ser um sucedâneo.

É por isso que o credor conta com tutelas específicas para a obtenção da
própria prestação de fazer, independentemente da perdas e danos (tutela
genérica).

Art. 497 e 536- CPC.

OBS: Astreinte

Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor,


resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.

Se a obrigação de fazer se tornar impossível (perecer) sem culpa do devedor,


resolve-se a obrigação sem direito a perdas e danos.

EX: Assim, se um malabarista foi contratado para animar um aniversário de


criança, e, no dia do evento, foi vítima de um sequestro, a obrigação
extingue-se por força do evento fortuito.

Se, porém, houver culpa do devedor no perecimento da obrigação


(impossibilidade de prestar o fato), o credor pode pedir indenização por
perdas e danos (art. 248, CC). Utilizando o exemplo acima, imagine que o
malabarista contratado acidentou-se porque, no dia da festa, dirigia seu
veículo alcoolizado e em alta velocidade. Nesse caso, o descumprimento
obrigacional decorreu de sua imprudência, razão pela qual deverá ser
responsabilizado.

Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo
executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização
cabível. ,

Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização


judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

É fungível (= substituível) quando puder ser cumprida por pessoa diversa do devedor (ex.:
conserto de uma pia que pode ser feito por qualquer profissional).

Nesse caso, havendo inadimplência e urgência, o credor pode servir-se de um mecanismo


de autotutela. Ou seja: de uma forma de “fazer justiça com as próprias mãos, sem
intervenção judicial”. – 249 – CC

OBS: Na legislação especial, vide o art. 84 do Código de Defesa do Consumidor

Obrigação de não fazer

A obrigação de não fazer tem por objeto uma prestação negativa, um


comportamento omissivo do devedor.

É o que ocorre quando alguém se obriga a não construir acima de determinada


altura, a não instalar ponto comercial em determinado local, a não divulgar
conhecimento técnico para concorrente de seu ex-empregador, a não sublocar a
coisa etc.

Observe-se que, em todas essas hipóteses, o devedor descumpre a obrigação ao


realizar o comportamento que se obrigara a abster.

A despeito de a liberdade negocial imperar especialmente no Direito das


Obrigações, deve ser observado que não serão consideradas lícitas as obrigações
de não fazer que violem princípios de ordem pública e vulnerem garantias
fundamentais.

Assim, a priori, não se devem reputar válidas obrigações negativas que atinjam, em
última análise, direitos da personalidade, não sendo juridicamente admitidas.
Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe
torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.

Também chamada obrigação negativa, a obrigação de não fazer consiste em impor um


dever de abstenção contra o devedor.

Quedar-se inerte.

Ex: É exemplo de obrigação de não fazer aquela que nasce do contrato de exclusividade de
certo ator com a emissora de televisão.

Ex: O comerciante que vende o ponto comercial e não pode desenvolver atividade no
mesmo ramo comercial em certa distância.

Ex.: Dever de não negativar o nome de alguém no cadastro de inadimplentes; dever de não
usar a piscina do condomínio.

Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o


credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa,
ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência,
poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de
autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.

Obrigações Divisíveis e Indivisíveis

A classificação da obrigação no que toca à divisibilidade (ou indivisibilidade) leva em conta


o seu conteúdo, ou seja, a unicidade da prestação.

A) Obrigação divisível: é aquela que pode ser cumprida de forma fracionada, ou seja, em
partes. Ocorre quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato suscetível de
divisão.

A obrigação será divisível quando o objeto da prestação puder ser fracionado sem sua
destruição ou perda de sua utilidade.

Ex: Assim, se Maria e Carlos devem 100 camisas à Márcia, a prestação é divisível e a
obrigação também o é. Se Maria e João devem pagar R$ 10.000,00 a Pedro, a prestação é
divisível, logo, a obrigação também o é. A obrigação presume-se dividida em partes iguais
entre os tantos credores e/ou os tantos devedores (concursu partes fiunt).

Se Maria e Carlos devem 100 camisas à Márcia, a credora só poderá exigir 50 camisas de
cada devedor. Se Maria e João devem pagar R$ 10.000,00 a Pedro, Pedro só pode cobrar
R$ 5.000,00 de cada devedor. Há uma presunção simples (iuris tantum) de divisão em
partes iguais. Contudo, a vontade ou a lei podem estabelecer divisão em partes desiguais.

B) Obrigação indivisível: é aquela que não admite fracionamento quanto ao


cumprimento. – 258 – CC.

Por esse dispositivo, a obrigação indivisível é aquela que não pode ser
fracionada, tendo por objeto uma coisa ou um fato insuscetível de divisão, em
decorrência da sua natureza, por razões econômicas ou por algum motivo
determinante do negócio jurídico e do contrato.

A indivisibilidade pode ser, assim, natural (decorrente da natureza da


prestação), legal (decorrente de imposição da norma jurídica) ou
convencional (pela vontade das partes da relação obrigacional).

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível,
cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que
paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros
coobrigados.

Se a obrigação for cumprida por apenas um dos devedores, este se sub-roga


no direito do credor em relação ao outro devedor. Note-se que, sendo
indivisível a prestação, o devedor deve realizá-la por inteiro, sob pena de ser
dado como inadimplente.
É por isso que se João e José devem um cavalo a Maria, Maria pode exigir de
cada um deles o cavalo por inteiro (indivisível por natureza), mas aquele que
pagar (entregando o cavalo) pode exigir seu quinhão no débito do outro
codevedor.

OBRIGAÇÕES DE MEIO, DE RESULTADO E DE GARANTIA

As obrigações de meio são aquelas em que o conteúdo do dever de prestação


que incumbe ao devedor exige-lhe comportamento diligente, porém, não lhe
vincula à obtenção de determinado resultado ou finalidade pelo credor.

A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga a empreender uma


atividade, sem garantir o resultado final.

As obrigações de meio têm, normalmente, seus exemplos mais conhecidos


entre as prestações de serviços profissionais, como ocorre com o advogado,
ou o médico.

OBRIGAÇÕES DE MEIO, DE RESULTADO E DE GARANTIA

As obrigações de resultado, de sua vez, são aquelas em que o cumprimento


da prestação dirige-se a determinado objetivo pretendido pelo credor. Neste
caso, o vínculo obrigacional abrange a obtenção de certa finalidade pelo
credor.

A obrigação de resultado é aquela em que o devedor assume o dever de


realizar o resultado final projetado. Ex.: O contrato de transporte (art. 737 do
CC). Em regra, o transportador deve levar de um ponto a outro, sob pena de
responsabilidade civil.

OBRIGAÇÕES DE MEIO, DE RESULTADO E DE GARANTIA


As obrigações de garantia visam a eliminar um risco que recai sobre o
credor, bem como reparar suas consequências. Nestes termos, o
adimplemento se caracteriza pela assunção do risco do credor pelo
devedor.

São exemplos de obrigações de garantia, dentre outras:

(I) aquela assumida pelo segurador em relação ao segurado (art. 757 do


Código Civil),

(II) a obrigação do fiador em relação ao credor (art. 818 do Código Civil).

Em todas essas relações obrigacionais, o devedor não se liberará da


prestação, mesmo que haja força maior ou caso fortuito, uma vez que
seu conteúdo é a eliminação de um risco, que, por sua vez, é um
acontecimento casual ou fortuito, alheio à vontade do obrigado.

Assim sendo, a seguradora, ainda que, por exemplo, o incêndio da coisa


segurada tenha sido provocado dolosamente por terceiro, deverá
indenizar o segurado”

Obrigações Solidárias

Obrigações solidárias são aquelas em que concorrem mais de um credor ou


mais de um devedor em uma obrigação (pluralidade de sujeitos).

As obrigações solidárias são aquelas compostas pela multiplicidade dos


sujeitos que a integram, seja no polo ativo (solidariedade ativa), seja no polo
passivo (solidariedade passiva), seja em ambos (solidariedade mista).
Solidariedade ativa é aquela em que há uma pluralidade de credores.

Já na solidariedade passiva tem-se uma pluralidade de devedores.

Regras básicas relacionadas à solidariedade:

Art. 264 do CC/02. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre


mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou
obrigado, à dívida toda.

A solidariedade não se presume, pois decorre da lei (solidariedade legal) ou da


vontade das partes (solidariedade voluntária) (art. 265 do CC).

A solidariedade é “um por todos”.

Ex.: 1. A solidariedade pode decorrer de um ato ilícito (arts. 932 e 942 do CC).

2. Se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela


reparação dos danos (art. 7º, parágrafo único, do CDC).

3. Pluralidade de fiadores (art. 829 do CC).

Solidariedade legal: é o que acontece com os pais, tutores, curadores, donos de


hotéis, que são solidariamente responsáveis pelos causadores do dano (filhos,
tutelados, curatelados, hóspedes), nos termos dos arts. 932 e 942, parágrafo
único, do CC/2002.

Ressalte-se que, da mesma forma que a solidariedade pode ser extraída das
circunstâncias concretas reveladoras da intenção das partes, também as
obrigações que normalmente se afiguram como solidárias podem perder este
caráter ao mesmo fundamento.

O Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, já negou provimento a pedido de


penhora de “conta-bancária conjunta, quando fica demonstrado que os
cotitulares, ao celebrar o contrato, não tinham a intenção de que houvesse
solidariedade, limitando-se a função do devedor à movimentação da conta
para a embargante, idosa e enferma”.

TRF-4 também já se pronunciou no sentido de afastar penhora incidente


sobre conta poupança conjunta, vez que não estaria evidenciada a intenção
de solidariedade, afinal “a comprovação de que a inclusão do executado
como titular deu-se apenas para facilitar a movimentação financeira da
conta para seus pais idosos”. (TRF-4, 1ª T., AC 4749 PR 2004.70.03.004749-0,
Rel. Marcos Roberto Araujo dos Santos, julg. 30.9.2009).

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