Você está na página 1de 23

AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

07/10
Bibliografia: Das obrigações em geral, volume I, Pedro Varela, última edição
Sinal do Contrato Promessa, Doutor Calvão da Silva, edição 2020
Código Civil

Nesta unidade curricular costuma-se dar até à gestão de negócios e enriquecimento sem causa (fonte legal
da obrigação). No entanto, vamos dar sobretudo as fontes voluntárias das obrigações, que surgem da
vontade das partes, como os contratos. Antes das fontes* vai ser dado:
Conceito de obrigações (397.º CC), em sentido técnico e confronto com as categorias ónus, sujeição e dever
jurídico
Estrutura da relação jurídica creditória (do ponto de vista metodológica a relação jurídica é uma categoria
conceitual que se desdobra em várias categorias, obedece a uma lógica de sistematização a partir dos
conceitos, obtidos por juízos de intuição, do abstrato para o concreto – influência da jurisprudência dos
conceitos) – sujeito, objeto, vínculo jurídico e a garantia (perspetiva conceitual)
Direitos das obrigações/direitos de crédito – poder de exigir que tem como contrapolo o dever de prestar
Confronto entre as relações jurídicas reais e as relações jurídicas creditórias – características distintivas e
eficácia externa
Princípios estruturantes das obrigações (como o princípio da liberdade contratual, em que surgem as
limitações da fixação do conteúdo do contrato)
*Fontes das obrigações – voluntárias, que tem na base a vontade das partes, e legais
Contratos mistos, ao abrigo do princípio da liberdade contratual
Contratos tipificados – contrato promessa (Livro Sinal do Contrato Promessa, Doutor Galvão, edição 2020),
contrato a favor de terceiros (433.º CC), contrato para pessoa a nomear

14/10
O QUE É UMA OBRIGAÇÃO?
Segundo o artigo 397.º CC a obrigação é o vínculo jurídico por virtude o qual uma pessoa fica adstrita para
com outra a realizar uma prestação. É um conceito tradicional, oriundo da obligatio romana, e corresponde
à conceção de obrigação em sentido estrito (diferente de em sentido amplo), de dever jurídico (constitui o
núcleo da obrigação em sentido estrito).

Dever jurídico traduz-se na necessidade que alguém (devedor) tem de realizar um determinado
comportamento em favor de outrem ou que vai beneficiar outrem (credor), de realizar uma prestação, pelo
que temos de distinguir de outras figuras jurídicas:
Por sua vez, o ónus é a necessidade que o onerado (pessoa sobre quem recai o ónus) tem de adotar
determinado comportamento para obter uma vantagem jurídica ou para evitar a perda de uma vantagem
jurídica já existente.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

A sujeição traduz-se na necessidade inelutável da pessoa sujeita suportar na sua esfera jurídica
determinados efeitos jurídicos constitutivos, modificativos ou extintivos correspondentes ao exercício do
direito de outrem.

Tanto o dever jurídico como a sujeição são vinculações jurídicas que correspondem a posições passivas
contrapostas à posição de um sujeito ativo, titular de um direito: ao dever jurídico contrapõe-se o direito de
crédito, à sujeição contrapõe-se o direito potestativo. O comportamento que é exigido a um e a outro é
sempre do interesse do credor ou do titular do direito potestativo, mas o dever jurídico viola-se, na sujeição
não há incumprimento, porque o direito potestativo não está sujeito a violação.
O ónus distingue-se do dever jurídico e da sujeição pela circunstância de ser estabelecido no interesse do
sujeito onerado. O devedor não é livre de adotar o comportamento a favor do credor, se não adotar é
aplicada uma sanção, diversamente no ónus não há qualquer sanção porque quem decide sobre a
oportunidade de adotar o comportamento é a própria pessoa onerado.
Ónus da prova e da contestação: se o réu não contestar os factos contra si indicados estes são dados
como provados, mas tal não é necessariamente uma sanção. Os factos podem não ter relevo jurídico.

DEVER JURÍDICO E DIREITO DE CRÉDITO


O que vamos tratar é de deveres jurídicos relativos. Existem deveres-jurídicos contrapostos a direitos de
personalidade ou a direitos reais que se impõe a todos os membros da comunidade, são gerais, e são
geralmente deveres de abstenção. → A relação que existe entre o titular de um direito real ou de um direito
de personalidade e os outros membros da comunidade jurídica é uma relação de anonimato, de
desconhecimento.
Diferentemente, o dever jurídico implica uma relação de natureza específica entre pessoas determinadas, o
credor e o devedor, e emerge na sequência de uma relação prévia entre as partes, por regra, contratual
(embora possam existir deveres derivados da lei ou de negócios unilaterais) – as relações creditórias são
relações jurídicas de colaboração/cooperação. A prestação pode ser um comportamento positivo ou
negativo.

OBRIGAÇÕES AUTÓNOMAS E NÃO AUTÓNOMAS


A autonomia da obrigação será um requisito necessário de validade da obrigação? Será que só são válidas
as obrigações autónomas?
As obrigações autónomas são aquelas que procedem/provêm do respetivo vínculo constitutivo, (1) sem que
entre as partes exista qualquer vínculo prévio ou (2) existindo um vínculo prévio esse seja de natureza
genérica. A causa da obrigação está no próprio contrato.
Ex.: (1) obrigações decorrentes da generalidade dos contratos celebrados entre as partes (ex:
contrato-promessa, obrigação de no futuro celebrar outro contrato); (2) obrigações de indemnizar
fundadas em responsabilidade civil-extracontratual
As obrigações não autónomas/dependentes são aquelas que decorrem da execução ou do concreto
desenvolvimento de um prévio vínculo de natureza específica entre as partes, seja esse vínculo de natureza
real, familiar ou sucessória. Nunca está em causa relações creditórias, contratuais.
Ex.: art. 1424.º CC, encargos dos condóminos; art. 2009.º CC, obrigações de alimentos
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Então a autonomia não é característica essencial da validade da obrigação! Tanto nas obrigações
autónomas como nas não autónomas aplica-se o regime geral das obrigações! Mas pode haver desvios ao
regime geral? Pode, e a lei pode prever esses desvios.

E o carácter pecuniário é requisito de validade da obrigação? Não, o que tem é de corresponder ao interesse
sério e digno de proteção legal do credor * – art. 398.º CC. Muitos autores defendiam que o carácter
pecuniário era requisito de validade pois só assim a obrigação tinha valor coercivo, mas existindo uma sanção
quando o dever de prestar não é cumprido já há valor coercitivo.
A prestação tem conteúdo pecuniário quando envolve uma quantia de dinheiro ou quando há um
correspondente pecuniário. Quando uma obrigação pecuniária não é cumprida voluntariamente pelo
devedor, o credor intenta uma ação dirigida contra o património do devedor, e se este continuar a
não cumprir, o credor passa à fase da execução.
Em obrigações com valor meramente estimativo não é tanto evidente o carácter coercivo da
obrigação, mas tal não invalida o referido porque há outros meios de tutela que permitem efetivar o
direito de crédito do credor sem ficar dependente da boa vontade do devedor: a ação direta, a
legítima defesa, os procedimentos cautelares, o estado de necessidade.
Artigo 817.º do Código Civil – ação de cumprimento, assiste ao credor o direito de exigir judicialmente o
cumprimento da obrigação do devedor.

(*) O que é interesse sério e digno de proteção legal? Um interesse sério é aquele que não pode ser visto
como mero capricho, é um interesse razoável. Por sua vez, um interesse digno de proteção legal é um
interesse merecedor de tutela legal, ou seja, o direito tem de atribuir relevo aquele interesse.

A OBRIGAÇÃO COMPLEXA E A OBRIGAÇÃO SIMPLES


Certas doutrinas tem vindo a defender que a noção de obrigação simples é uma noção insuficiente para
compreender vários institutos modernos no âmbito das relações jurídicas do universo obrigacional. Assim,
não pode ser compreendida apenas através do binómio poder de exigir e dever de prestar, mas deve ser
entendida como um multiplicidade de vínculos jurídicos de natureza diversa (deveres jurídicos, ónus,
sujeições, deveres de conduta inspirados no princípio da boa fé e outros encargos obrigacionais) unificados
pelo objetivo de prossecução de uma finalidade comum (interesse do credor), ver a relação obrigacional
como um processo dinâmico, como um todo.
Que institutos o conceito de relação obrigacional simples não consegue captar na sua essência?
Responsabilidade pré-contratual, responsabilidade pós-contratual, cessão da posição contratual, etc.
O instituto de cessão de crédito, por sua vez, já se pode perceber através da noção de obrigação simples.

A ESTRUTURA DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL


A relação jurídica creditória decompõe-se nos sujeitos, objeto, vínculo jurídico e garantia:
Os SUJEITOS DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL são o credor e o devedor. O titular do direito de crédito tem o
poder de exigir, não é apenas portador do interesse que vai ser satisfeito pela prestação, como tem o poder
de efetivar essa mesma prestação, pelo que se não exercer o direito não há qualquer sanção.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Diferentemente, se o devedor não realizar a prestação entra em incumprimento, com consequentes


sanções. Por regra, a obrigação é, quanto aos sujeitos, singular (1 devedor e 1 credor), mas não é forçoso
que assim seja, podem ser plurais (pluralidade ativa – vários credores e 1 devedor, ou pluralidade passiva –
vários devedores e 1 credor, ou pluralidade ativa e passiva - vários credores e vários devedores)
Para a obrigação ser válida o devedor, no momento da constituição da obrigação, tem de estar
concretamente determinado/individualizado, mas já não é assim quanto à pessoa do credor.
Podemos ter obrigações de sujeito ativo indeterminado, mas tem de ser determinável (Art. 511.º CC).
Ex: artigo 459.º CC, 511.º - situações de promessas públicas (como recompensas por encontrar um
animal perdido); títulos ao portador (bilhete de comboio)

O OBJETO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL é a PRESTAÇÃO, é o comportamento a que está vinculado a adotar


o devedor para satisfazer o interesse do credor (comportamento debitório). Há quem faça a distinção entre
o objeto mediato e o objeto imediato, mas apenas tem relevância no domínio das prestações de coisa e não
no domínio das prestações de facto (apenas temos o objeto imediato).

As prestações podem ter várias modalidades, e uma é precisamente a modalidade do objeto, e aí podemos
ter prestações de facto e prestações de coisa. As primeiras tem por objeto um comportamento positivo que
são as obrigações de facere, ou um comportamento negativo, que são as obrigações de non facere do
devedor (ex: obrigação de não concorrência). Por sua vez, as prestações de coisa tem por objeto a entrega,
a restituição ou dar uma coisa (o objeto imediato é a atividade de entregar, restituir ou dar; e o mediato é a
coisa entregue, restituída ou dada).

[Quanto ao objeto (prestações de facto e prestações de coisa), quanto ao tempo (prestações instantâneas e
douradores) e quanto à natureza (prestações fungíveis e infungíveis):]

21/10
Existem prestações de mera tolerância, que são prestações de facto, em que o comportamento do devedor
se traduz na mera tolerância no comportamento de outras pessoas. No entanto, as prestações de facto
positivas e negativas são as principais.

Prestações de coisa: Relativamente às prestações de entrega e de restituir podemos dizer que são o verso
e o reverso da medalha, quando uma parte entrega uma coisa para uso a outra, findo o conteúdo do contrato
aquele que tem a coisa tem a obrigação de a restituir ao senhorio, ex: arrendamento (1031.º/a + 1038.º/i)
No âmbito das prestações de dare, o ato material de entrega pelo devedor é um elemento constitutivo da
validade da relação jurídica, pois o contrato só se encontra validade concluído se houver um ato material de
entrega, pelo que não corresponde propriamente ao cumprimento de uma obrigação.
Correspondem aos chamados contratos reais quanto à constituição (que se contrapõe aos contratos
quantos aos efeitos, que produzem efeitos reais, que transmitem a propriedade da coisa por força
de um mero acordo): comodato (cedência gratuita de uma coisa infungível), depósito e mútuo.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Prestações de coisa futura: uma coisa presente é aquela que no momento da celebração do contrato tem
existência física e está na disponibilidade jurídica das partes, o que significa que podemos ter, por
contraposição, coisas futuras, e podem ser absolutamente futuras (que não tem existência física no
momento da celebração do contrato) ou relativamente futuras (as partes não tem legitimidade para dispor
da coisa – art. 399.º CC e 893.º).

Quanto à natureza da prestação podem distinguir-se entre as prestações de facto fungíveis e infungíveis:
As prestações de facto fungíveis são aquelas em que o devedor pode ser substituído por um qualquer
terceiro na realização da prestação sem que disso decorra qualquer prejuízo para o interesse do credor. Por
sua vez, a prestação de facto infungível é aquela em que não é possível a substituição do devedor por um
terceiro porque essa substituição prejudica o interesse do credor (aquelas em que o credor confia nas
particulares características do devedor).
Art. 767.º/1 CC – a regra é da fungibilidade. Diz respeito à fungibilidade/Infungibilidade natural
(embora haja outras fontes de Infungibilidade, convencional e legal – uma prestação naturalmente
fungível pode tornar-se uma prestação convencionalmente/legalmente infungível)
As prestações de coisa são sempre prestações fungíveis, mesmo que respeitem a uma coisa infungível.

A distinção entre prestações de facto fungíveis e prestações de facto infungíveis tem interesse prático, por
exemplo, relativamente à realização coativa da prestação: no âmbito das prestações de facto fungíveis é
possível a execução em via específica
Nas prestações de facto fungível só a impossibilidade objetiva exonera, só quando ninguém puder realizar a
prestação é que o devedor fica exonerado (art. 790.º), ex: impossibilidade resultante da lei ou de causa
maior. Nas prestações infungíveis basta a impossibilidade subjetiva para exonerar o devedor (791.º CC).
Sanção pecuniária compulsória (meios de coerção de cumprimento ativo) – aplicada ao devedor por cada
infração que cometa ou por cada dia de atraso, que recai sobre o património deste. Só se aplica nas
prestações de facto infungíveis (art. 829.º - A).

Quanto ao tempo, podemos distinguir entre as prestações instantâneas, que se esgotam num único
instante temporal ou numa fração de tempo irrelevante, no fundo, as que se cumprem de uma só vez; e as
prestações duradouras, aquelas que se protelam no tempo.
Dentro das prestações duradouras distinguimos as prestações duradouras em sentido estrito, em que o
tempo exerce uma influência decisiva na configuração do objeto da obrigação (a obrigação vence-se ou surge
pelo decurso do tempo, ex: obrigação de pagar a renda dos inquilinos, é porque gozam da coisa durante um
determinado período de tempo que se vence a obrigação de pagar a renda, ligação inefetiva); e em sentido
amplo, o tempo não tem influência decisiva na configuração do objeto da obrigação, apenas contende com
o modo da sua execução (ex: venda a prestações, vendas fracionadas ou repartidas).
Tipos de prestações duradouras em sentido estrito: prestações de execução continuada – o
comportamento debitório protela-se ininterruptamente no tempo (ex: prestações de facto
negativos); e prestações reiteradas ou contrato sucessivo – o comportamento do devedor renova-se
em prestações sucessivas singulares findos determinados lapsos de tempo, que podem ser regulares
ou irregulares (pagar renda).
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Se os lapsos de tempo que renovam as prestações forem regulares temos prestações periódicas, se
forem irregulares temos prestações não periódicas.

Regime jurídico nos seguintes pontos:


O problema do vencimento imediato ou antecipado das prestações futuras ou das prestações vincendas, e
o efeito da resolução:
1. O efeito do vencimento imediato ou antecipado das prestações futuras acontece nas prestações
duradouras em sentido amplo (o credor pode exigir as prestações futuras, art. 781.º - princípio geral +
934.º, quando o devedor não cumprir uma só prestação e essa não exceda 1/8 do preço não há lugar ao
vencimento imediato da prestação), mas não acontece nas prestações duradouras em sentido estrito,
porque o tempo não é fator decisivo da configuração do objeto.
E se deixar de cumprir 2 ou mais prestações que em conjunto não excedem 1/8 do preço? Tendo em conta
a teleologia da norma não pode haver vencimento imediato porque o valor é diminuto.

2. Resolução do contrato: 434.º/1, a resolução tem eficácia retroativa, pelo que em termos gerais se há
resolução destroem-se retroativamente os efeitos do negócio, as prestações são restituídas às partes
que a prestaram. No entanto, se há resolução do contrato nas prestações duradouras em sentido estrito,
não há devolução das prestações que foram entretanto efetuadas, não há retroatividade.
Nas prestações duradouras em sentido amplo a resolução pode ter eficácia retroativa. Todavia, tal deve ser
articulado com as regras do artigo 934.º (+ 886.º, só pode haver resolução no contrato de compra e venda
por falta de pagamento do preço se não foi transmitida a propriedade e feita a sua entrega)

04/11
VÍNCULO JURÍDICO E A GARANTIA
O vínculo jurídico é o nexo ideal que liga o poder de exigir do credor (direito de crédito) ao dever de prestar
do devedor. Este vínculo é o núcleo essencialmente caracterizador da obrigação, ou seja, traduz-se no núcleo
essencial de compreensão da própria obrigação em sentido estrito (simples), mas mesmo a relação
obrigacional complexa não prescinde do núcleo essencial da obrigação simples que se analisa neste
fenómeno poder de exigir/dever de prestar.
Sendo o núcleo essencial da obrigação, mesmo que existam modificações no âmbito da relação obrigacional
este nexo ideal permanece intangível/intocável. Pode haver modificações subjetivas - a obrigação pode
transmitir-se de sujeitos para sujeitos diferentes como na cessão de crédito (art 577.º, e se a cessão for
apenas parcial? Assim a modificação não foi subjetiva, mas sim objetiva, nos termos da configuração do
objeto da relação obrigacional) ou da posição contratual (art. 424.º); e modificações objetivas.
O vínculo extingue-se pelo cumprimento (hipótese normal), ou através de outras formas que estudaremos.
A garantia da relação obrigacional é um elemento importante no âmbito da estrutura da relação.
Considerando que o dever de prestar que recai sobre o devedor é um dever que visa satisfazer o interesse
do credor, se o devedor não realiza a prestação a que está adstrito será sancionado. Na realidade empírica
pode não cumprir a obrigação, mas do ponto de vista jurídico ele perdeu a liberdade de cumprir ou não, pois
se decidir não cumprir há sanções.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Pelo referido é que dizemos que a relação obrigacional tem uma garantia, apesar de ser um elemento
exterior à estrutura da relação, e essa garantia é dada através do mecanismo jurídico designado ação de
cumprimento previsto no art. 817.º. O credor, se o devedor não cumprir voluntariamente a obrigação, para
efetivar o seu direito de crédito intenta uma ação de cumprimento para que o tribunal exija ao devedor o
cumprimento da obrigação, e se não houver cumprimento da sentença condenatória, o devedor em
processo executivo terá de realizar o comportamento a que estava adstrito.
Obrigações naturais (art. 402.º, ex: as que decorrem do jogo e da aposta se forem legais e não legalmente
reguladas, como entre amigos), nestas o credor não pode exigir judicialmente o cumprimento. Teremos aqui
obrigações sem garantia?! Se o devedor respeitar o compromisso assumido, o credor tem o direito a reter
aquilo que foi pago (a soluti retentio), não há restituição (condictio indebiti, através da qual há um grau de
coercibilidade – garantia imperfeita).

DISTINÇÃO ENTRE OS DIREITOS DE CRÉDITO E OS DIREITOS REAIS


Existem 3 notas distintivas fundamentais:
1 Os direitos de crédito são direitos relativos, tem uma eficácia relativa ou interpartes, enquanto os
direitos reais tem uma eficácia absoluta ou erga omnes.
A relação jurídica creditória é uma relação jurídica com eficácia relativa, o direito de exigir a prestação só
pode ser oponível ao devedor/devedores respetivo/s, consoante a obrigação seja singular ou plural.
Relativamente ao direitos reais, o titular pode opor o seu direito a todo e qualquer membro da comunidade
jurídica que possa encontrar-se numa relação de interferência material com a coisa que é objeto do seu
direito, por isso é que se diz que tem uma eficácia absoluta, criando para esses membros da comunidade a
obrigação passiva universal (dever de abstenção, abster de todo e qualquer ato que possa levar ou prejudicar
o direito real e impedir a relação de apropriação do titular do direito real sobre a coisa objeto).
Na perspetiva do curso continua-se a entender que os direitos de crédito tem uma eficácia relativa e os
direitos absolutas uma eficácia erga omnes, mas esta opinião não é aceite pacificamente por todos na
doutrina. Há quem entenda (Alemanha, década de 40) que os direitos de crédito, para além da eficácia
relativa, poderiam também de gozar efeitos relativamente a terceiros, desde que estejam verificados certos
requisitos e certas situações: então só produz efeitos em relação a terceiros sempre que o terceiro se
encontre de má fé (conhecimento por parte do terceiro da relação creditória prévia na qual se vai imiscuir,
e vai provocar a sua destruição) e se existir dois tipos de situações: ataque ao substrato do crédito, seja ele
dirigido à pessoa do devedor ou ao objeto da relação; ou a hipótese do chamado terceiro cúmplice, terceiro
que coopera com o devedor na violação do direito do credor – doutrina da eficácia externa das
obrigações/doutrina da eficácia externa do crédito
Resumindo, quando o terceiro está de má fé e interfere na relação sobre a forma de ataque ao
substrato do crédito, ou coopera com o devedor no sentido de inviabilizar o direito do credor
(terceiro cúmplice), decorre o efeito da eficácia/oponibilidade do direito do credor a terceiros –
verificados os pontos referidos decorre a responsabilização direta do terceiro perante o credor, assim
o credor pode pedir indemnização a terceiro pelos prejuízos que lhe foram causados, o que lhe dá
mais garantias.
O curso não defende a doutrina da eficácia externa!
Analisando os dois tipos de situações: (1) ataque ao substrato do crédito: desdobra-se quer no ataque à
pessoa do devedor quer ao objeto da relação; (2) terceiro cúmplice: terceiro coopera com o devedor na
inviabilização do cumprimento do direito do credor.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Exemplo da situação 1: B era transportador de batatas e havia-se obrigado a entregar 500kg ao credor A.
Um concorrente de A, C, também negociante de batatas, quer inviabilizar o cumprimento, e na véspera da
data do transporte prende B – ataque ao sujeito. A mesma hipótese, mas C destrói as batatas – ataque ao
objeto da relação.
Exemplo da situação 2: B, devedor da prestação de serviços no restaurante de A, C é concorrente de A e vai
ter com o B e celebra com ele um contrato de trabalho, e B rescinde o contrato com A.

O curso não defende a doutrina da eficácia externa. Primeiro (no plano dos princípios) porque a
admissibilidade desta doutrina dentro dos requisitos que ela estabelece podia provocar uma excessiva
paralisação do tráfego jurídico, e nomeadamente, podia promover um forte ataque inadmissível à liberdade
da iniciativa económica de terceiros e à liberdade contratual de terceiros (que se sentiriam inibidos de
estabelecer relações negociais para não serem responsabilizados). No plano positivo, consagrado CC: temos
um conjunto de disposições que demonstram que o legislador não terá querido consagrar esta doutrina –
art. 406.º/2 (consagra o princípio da relatividade dos contratos, art. 443.º), 495.º/3, 1306.º(consagra-se o
princípio da tipicidade) , 413.º e 421.º
Art. 495.º/3 - quando o terceiro provoca a morte ou lesão corporal a alguém que o impede de prestar
alimentos, o credor de alimentos pode pedir indemnização a quem provocou a morte ou lesão
corporal. A ideia do efeito externo está consagrada, mas da doutrina não está, e esta norma é
excecional, estão em causa interesses ligados à dignidade da pessoa humana.
Eficácia relativamente a terceiros: eficácia real do contrato de promessa (413.º) e do pacto de
preferência (art. 421.º). A regra é estes produzirem efeitos inter partes, mas verificados certos
pressupostos podem produzir efeitos em relação a terceiros. No entanto, segundo a perspetiva do
curso, aqui os direitos de crédito tem eficácia ampliada por efeitos de registo, pelo que não está
consagrada a doutrina da eficácia externa.
Se nós não acolhemos esta doutrina, não aceitamos que haja a equiparação de direitos de crédito aos
direitos reais, como a doutrina aceita.

Mas será que o ordenamento jurídico não admite a responsabilização de terceiros em determinadas
circunstâncias? Dentro da conceção da eficácia relativa dos direitos de crédito, admitimos que em termos
excecionais possa haver a responsabilização do terceiro perante o credor, através da aplicação da figura do
abuso de direito (art. 334.º) quando o terceiro tiver adotado uma conduta manifestamente censurável, por
violação dos bons costumes (e não por violação da boa fé), impedindo o devedor de realizar a sua prestação
→ o campo de intervenção da boa fé supõe uma relação de interferência intersubjetiva, uma relação prévia
Ex: C celebrou um contrato com B, que impedia que este desempenhasse as suas funções no restaurante de
A. Para tal, C difamou A apresentando documentos falsos. Esta conduta é manifestamente reprovável.

! Como corolário da eficácia erga omnes dos direitos reais temos: (1) o corolário da prevalência – o titular
do direito real que primeiramente constituído sobre uma coisa, pode fazer sacrificar todas as situações
jurídicas reais ou obrigacionais constituídas sobre a mesma coisa que sejam total ou parcialmente
incompatíveis com a relação jurídica inicial. Corresponde ao princípio romano do direito primeiro constituído
é o que prevalece, pex: artigo 407.º – nas relações creditórias não é assim, art. 604.º. Esta regra não é
absoluta, se os direitos reais estiverem sujeitos a registo prevalece o que registou primeiro, e o próprio
legislador “cria” exceções como no artigo 759.º/2; e
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

! Há quem diga que o direito do arrendatário é um direito real de gozo (o comodato também é direito real
de gozo), mas o curso entende que é um direito de crédito e por isso com eficácia relativa. O artigo 407.º
versa a hipótese de A arrendar o mesmo imóvel a duas pessoas distintas, B e C → não se poderia aplicar o
art. 892.º? Não, porque no arrendamento não há a transmissão da propriedade da coisa. O arrendamento é
um contrato consensual, não depende da entrega da coisa, pelo que é possível admitir, na prática, a situação
de um duplo arrendamento sobre o mesmo bem, só que essa situação gera incompatibilidade: o legislador
resolve dizendo que prevalece o primeiro arrendamento → o direito de B não tem efeitos relativamente a
terceiros, pelo que devia valer a regra do artigo 604.º e não prevalecer nenhum crédito, o senhorio optaria,
que geraria uma situação de incumprimento para com o outro arrendatário, mas o legislador estabeleceu o
referido (prevalência que vale em termos gerais para os direitos reais) – Dr. Henrique Mesquita diz que este
artigo não devia existir porque vai contra a liberdade contratual de facto
Sendo assim, também há direito de prevalência dos direitos de crédito? Existe mas apenas a título excecional

(2) o corolário da sequela – o titular do direito real sobre a coisa tem o direito de seguir/perseguir a coisa,
onde quer que ela se encontre, mesmo que ela já se encontra na titularidade de um terceiro, pex: se um
terceiro ocupa um terreno a ação adequada é a ação de reivindicação (posse de terceiro). Relativamente à
titularidade, ex: A vende a B, B vende a C e depois a D, e o negócio de transmissão padecia de um vício –
artigo 291.º; ou exemplo de efeitos para efeito de registo – art. 243,º, mas estes artigos estabelecem
exceções ao direito de sequela se o terceiro estiver de boa fé *.
Nos direitos de crédito essa sequela não existe, mas excecionalmente encontramos o efeito da sequela no
artigo 1057.º no âmbito da locação. Ex: A arrenda um imóvel a B, e esse mesmo A vende o mesmo imóvel a
C – o arrendatário tem direito de preferência no arrendamento urbano, mas vamos admitir que não quis
comprar quando A vendeu a C, C vai ter que conceder o uso da coisa a B, ou seja, manter o arrendamento –
o direito do inquilino segue a coisa, há um direito de sequela
Comodato: A empresta a sua casa a B, e vende mais tarde a C – nesta situação do comodatário cai
perante o novo proprietário, C, já não existe um direito de sequela

Devido ao artigo 407.º e 1057.º é que se suscitam dúvidas sobre a natureza do direito arrendatário

11/11
(*) A boa fé mencionada no artigo 243.º e 291.º é uma boa fé subjetiva, que corresponde ao estado de
espírito juridicamente relevante ao qual o ordenamento jurídico faz associar a paralisação de determinados
efeitos jurídicos que de outra forma se produziriam, ou a lei faz associar certos efeitos jurídicos que de outra
forma não se associariam (“ as partes estão de boa fé”) ≠ boa fé objetiva/princípio da boa fé – é um princípio
jurídico fundamental do ordenamento jurídico, que impõe às partes uma atuação honesta, correta e leal, ou
seja, que impõe exigências ético-jurídicas fundamentais no âmbito de uma relação contratual ou pré-
contratual (“as partes tem de atuar segundo a boa fé”). Está consagrada no artigo 227.º (fase pré-contratual)
e artigo 762.º/2 (fase de execução dos contratos).
A má fé que falamos na doutrina da eficácia externa não está relacionada com isto!
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Continuação das notas distintivas:


2 Os direitos de crédito consubstanciam-se como direito à colaboração/prestação do devedor, enquanto os
direitos reais conferem ao titular um poder direto e imediato sobre as coisas. O direito de crédito é um
direito a prestação, ainda que o credor tenha a exigir a entrega ou restituição de uma coisa o acesso a esta
só é permitido através da colaboração/prestação efetuada pelo devedor (relembrar distinção ente objeto
mediato e imediato nas prestações de coisa) – relações de cooperação ou colaboração. Nos direitos reais
aquilo que caracteriza o seu estatuto é o facto deste conferir um poder direto e imediato sobre a coisa, esta
está numa relação de apropriação ou monopólio (das utilidades e vantagens) face ao titular – o titular só
pode aproveitar o monopólio se os outros membros da comunidade jurídica se absterem/excluírem de
perturbar o uso da coisa (eficácia absoluta) – são relações de exclusão ou de anonimato
[Quando estudarmos o instituto do enriquecimento sem causa só vamos compreender a
característica do que é o enriquecimento se percebermos a ideia de o direito real ser um poder direito
e imediato sobre a coisa, a ideia de domínio sobre a coisa. Mas para haver enriquecimento à custa
de outrem tem de haver empobrecimento de alguém? O curso considera que não. Segundo a
doutrina da afetação ou destinação dos bens, todas as utilidades ou vantagens que um bem é
suscetível de propiciar pertencem, de acordo com o seu conteúdo de afetação ou destinação, ao
respetivo titular, mesmo que este não esteja disposto ou não queria utilizar tais vantagens ou
utilidades, pex: através do meu carro que eu não quero usar um amigo ganha um prémio, não há um
empobrecimento meu, mas o enriquecimento é à minha custa]

3 Relativamente aos direitos de crédito falamos do princípio da liberdade contratual, e quanto aos direitos
reais vale o princípio da tipicidade ou do numerus clausus. O princípio da tipicidade (art. 1306.º) vale para
os direitos reais porque tendo estes efeitos relativamente a terceiros, erga omnes, se não fosse assim, poder-
se-ia estar a admitir uma constituição/criação indiscriminada de efeitos reais, ou de situações jurídicas que
produzam efeitos em relação a terceiros (sem que os terceiros propriamente tivessem possibilidade
conhecer), e dessa forma estar-se-ia a colocar em causa a segurança jurídica.
Há razões do ponto de vista económico para a consagração do princípio da tipicidade no âmbito dos
direitos reais: não aumentar o número de direitos reais limitados e assim não aumentar a
fragmentação da propriedade.

OS PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES E AS FONTES DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


A principal fonte é o contrato, as relações contratuais.
Temos de fazer a distinção entre as fontes legais, é na lei que está o fundamento e os pressupostos para o
surgimento das obrigações, e fontes voluntárias das obrigações onde temos de recorrer à vontade das
partes, autonomia privada, para descobrir as obrigações por elas criadas – a autonomia normativa das
partes, manifestação do princípio da liberdade contratual, é um processo de ordenação que inclui as
faculdades das partes de constituírem, modificarem ou extinguirem as relações obrigacionais.
Temos fontes heterónomas (impõe regras que são exteriores à vontade das partes e se impõe às partes), e,
diversamente, processos de autorregulação, em que o vínculo constituído foi criado pelas partes.
Os negócios unilaterais que podemos considerar uma fonte híbrida das obrigações tem fundamento
na vontade do autor da declaração, mas por força do artigo 457.º só são fonte das obrigações nos
casos previstos da lei.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Esta classificação entre fontes legais e voluntárias substituiu uma classificação quadripartida que durante
séculos se manteve: contratos (acordos entre as partes), quase contratos (factos lícitos dos quais pode surgir
obrigações mas que não tem uma base voluntária), delitos (consubstanciam-se em factos ilícitos praticados
com uma intenção maligna, que hoje descreveríamos como factos ilícitos culposos com culpa grave, dolosos)
e quase delitos (factos ilícitos praticados sem intenção maligna, praticados com um grau de culpa menos
grave, corresponderiam hoje aos atos negligentes).

FONTES VOLUNTÁRIAS DAS OBRIGAÇÕES


CONTRATO: é o acordo vinculativo assente em duas ou mais declarações de vontade contraditórias mas
harmonizáveis entre si, com vista a uma regulamentação unitária de interesses. Para definir um contrato
tem de existir elementos constitutivos desta noção: mútuo consenso, fundado em declarações de vontade
opostas, pois derivam de interesses antagónicos, mas que se orientam para o mesmo objetivo, mútuo esse
que têm de ter carácter vinculativo (por isso é que é a autorregulação), vinculatividade jurídico-negocial.

Na base temos princípios estruturantes do direito dos contratos e do direito das obrigações:
Princípio da liberdade contratual, concretização do princípio da autonomia normativa/privada – as partes
têm a livre faculdade de constituírem, modificarem ou extinguirem negócios contratuais. → O princípio da
liberdade contratual está consagrado na lei no artigo 405.º CC, no entanto, neste só está expressamente
prevista uma faceta da liberdade contratual, mas este conhece 3 vertentes:
1 Vertente da liberdade de celebrar (os contratos pretendidos) ou não o contrato (ninguém pode ser
vinculado a celebrar contrato)
2 Faceta prevista no artigo: livre modelação do conteúdo dos contratos, apondo nele as cláusulas que
acharmos mais convenientes ou oportunas, celebrando contratos previstos na lei (contratos típicos
que tem o seu regime legal expresso na lei) ou diferentes dos previstos na lei (contratos atípicos),
desde que respeitem os limites previstos na lei, pex: sobre o objeto negocial
3 Vertente da liberdade de escolha do cocontratante, do “parceiro” contratual
O princípio da confiança - as partes são livres de prestar contratos, de estabelecer a regulamentação que
considerarem mais convenientes para si, mas uma vez firmado o contrato cria-se entre elas uma exigência
jurídica de proteção da confiança da contraparte. Ex: artigo 236.º, 239º, 406.º são concretizações deste. Tem
de existir o respeito pelo comportamento, de uma parte, que suscita na contraparte.
Art. 406.º CC os contratos são para cumprir e só podem ser modificados por mútuo consenso + o 762.º/2
que consagra o princípio da boa fé (as partes na execução ou no cumprimento do contrato devem atuar
segundo as exigências da boa fé, como por exemplo, não defraudar as legitimas expetativas – boa fé objetiva)
que está intimamente ligado ao princípio da confiança.
A confiança é uma dimensão essencial da boa fé.

18/11
O princípio da equilíbrio/equivalência das prestações – é um princípio estruturante nomeadamente do
direito contratual, tem uma relevância particular nos contratos sinalagmáticos e comutativos. → No âmbito
do contrato aleatório a efetivação das prestações está depende de evento futuro e incerto, pelo que não se
pode falar de uma exigência de equilíbrio das prestações, até pode surgir prestação para apenas uma parte.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Os contratos sinalagmáticos geram obrigações para ambas as partes e dentro destes temos os contratos
comutativos, em que a prestação de uma parte é causa de surgimento da prestação da contraparte, sendo
configuradas como equivalentes entre si, entre as partes. Que equivalência é esta? Tem de ser perspetivadas
pelas partes como equivalentes ou tem de ser paritárias? Tem de ser perspetivadas entre as partes como
equivalentes entre si, não tem de existir uma equivalência, do ponto de vista objetivo, exata – fica dentro
do espaço da autonomia privada, embora existam limites: art. 282.º (instituto da usura, embora não basta
que as prestações sejam desproporcionais para que o negócio seja anulável) → se o desequilíbrio for
significativo é, no entanto, uma chamada de alerta para a ilegalidade do negócio (pex: art. 884.º com
remissão para o 292.º)
Um instituto onde a equivalência das prestações se nota significativamente é o da exceção de não
cumprimento dos contratos – art. 428.º e seguintes

E o princípio da boa fé: princípio jurídico fundamental (boa fé objetiva) ≠ boa fé subjetiva

Temos as concretizações fundamentais do brocado romano do honeste vivere. Exige às parte uma atuação
honesta, correta e leal. Tem concretização em dois momentos da vida das obrigações: (1) na fase pré-
contratual (art. 227.º) – aqui ainda não há relação contratual firmada entre as partes.; e (2) na fase da
execução dos contratos (art. 762.º/2).
É a fase pré-contratual ou preliminar que vamos agora estudar: o princípio da boa fé no jogo dialético da sua
relação com o princípio da liberdade contratual permite, efetivamente, proceder ao enquadramento de um
instituto muito importante, o instituto da responsabilidade pré-contratual, também designado de culpa in
contrahendo: durante a fase pré-contratual podem surgir negociações, a não ser que sejam contratos cuja
conclusão ocorra imediatamente, pelo que a faceta mais relevante da liberdade contratual neste momento
é a liberdade de celebração do contrato, principalmente a negativa. → A qualquer momento pode haver
rotura das negociações, que à partida é lícita por força das exigências do princípio da liberdade contratual
→ Todavia, à luz das exigências da boa fé, esta rotura pode vir a tornar-se injustificada ou ilícita, surgindo
assim a responsabilidade pré-contratual, que obriga a parte a indemnizar a contraparte pelos danos sofridos
pela rotura (art. 227.º).
O conteúdo contratual, que vem a ser firmado na sequência da conclusão do contrato, pode ter sido
já parcialmente definido no período das negociações contratuais

Mas que exigências da boa fé podem tornar a rotura ilícita? No sentido negativo, traduz-se na ideia que as
partes se devem abster de toda e qualquer conduta que possa levar as legítimas expetativas da contraparte;
e no sentido positivo traduz-se numa visão mais prospetiva, de colaboração/cooperação entre as partes →
deveres de esclarecimento, deveres de informação, entre outros deveres fundados da boa fé, que se
designam de deveres de conduta/laterais/acessórios de conduta (não são deveres de prestação principal
uma vez que a relação contratual ainda não surgiu, mas visam permitir um correto cumprimento das relações
obrigacionais)
Saber quando estes deveres surgem e a cargo de quem surgem dependem do concreto
desenvolvimento das circunstâncias do caso, do evoluir das negociações. Pex: só tem dever de
informar a parte que tem conhecimento particular de uma situação, mas a parte que tem o
conhecimento só tem a obrigação de informar se estiver no âmbito da obrigação de honestidade –
por força do princípio de que cada um por sua conta e risco deve informar-se do que é relevante para
os seus interesses.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

A rotura será tanto mais ilícita quanto mais as negociações estiverem num estado mais avançado, pois até
pode haver elementos, como os memorandos de entendimento ou os acordos parciais completos e
definitivos sobre uma questão negocial específica (“caso concluamos o contrato, fará parte do conteúdo do
contrato este acordo parcial sobre esta questão”, que reforçam as expetativas da contraparte que o contrato
vai ser celebrado → a rotura não deixa de ser possível mas pode obrigar a uma indemnização se não houver
justificação ou esta não foi aceite pelas exigências da boa fé

Há 3 hipóteses típicas de responsabilidade pré-contratual: (1) rotura injustificada ou ilícita das negociações
– a que vimos até agora; (2) culpa in contrahendo – as negociações virem a culminar na celebração de um
contrato inválido ou ineficaz; (3) conclusão de contratos válidos mas que na sua execução são causados
prejuízos às partes, em virtude do comportamento pré-contratual delas.

Vimos que a parte tem obrigação de indemnizar a contraparte, mas o que é que se indemniza? O que deve
ser ressarcido são os prejuízos decorrentes da violação do interesse contratual negativo, isto é, deve a parte
obrigada a indemnizar repor o lesado na situação em que este se encontraria se não tivesse confiado na
válida (plena) conclusão do contrário. O dano que é realmente ressarcido é o dano da confiança – falamos
tanto dos danos emergentes (perdas ocorridas na esfera jurídica do lesado na sequência da anómala
execução das negociações) como dos lucros cessantes (vantagens ou utilidades perdidas pelo anómalo
decurso das negociações).
[O interesse contratual positivo é o correspondente ao não cumprimento do contrato, colocar o lesado na
situação em que este se encontraria se o contrato tivesse sido cumprido e executado]

Este instituto da responsabilidade pré-contratual só pode ser compreendido no âmbito da relação


obrigacional complexa (tal como o instituto da cessão contratual) que abrange uma multiplicidade de
vínculos jurídicos de natureza obrigacional ligados entre si – aqui ainda não temos concluído a relação
obrigacional que origina os deveres principais – então só o compreendemos através dos deveres de conduta
Relação obrigacional complexa (vamos excluir os ónus e as sujeições): dentro deste conteúdo integram-se
os deveres de prestação principais, os deveres secundários de prestação - dentro destes temos os deveres
secundários meramente acessórios, os deveres secundários de prestação coexistentes com a prestação
principal e os sucedâneos da prestação principal – e os deveres de conduta.

Deveres de prestação principal – aqueles que caracterizam no essencial o tipo contratual, definem a
estrutura da relação contratual (ex: arrendamento gera os deveres de prestação principal consagrados nos
art. 1031.º e 1038.º vs. comodato que para uma das partes não gera nenhuma prestação) → a violação deste
pode dar origem a uma ação de cumprimento (art. 817.º), garantia do cumprimento da relação obrigacional

Deveres secundários meramente acessórios – o comportamento do devedor não se traduz numa prestação
com autonomia da prestação principal, está numa posição de mera instrumentalidade pois visa auxiliar a
prestação principal vs. deveres secundários com prestação autónoma – o comportamento do devedor
transforma-se numa prestação autónoma (são deveres secundários de prestação coexistentes com a
prestação principal e os sucedâneos da prestação principal)
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Deveres secundários de prestação autónoma coexistentes com a prestação principal – há uma outra
prestação que tem autonomia face à primeira e vão ser as duas realizadas, ex: nas indemnização em
caso de mora paga a indemnização mais os juros
Deveres secundários de prestação autónoma sucedâneos da prestação principal - Indemnização na
hipótese de incumprimento definitivo: situações em que o devedor se atrasa mas já não é possível
realizar mais tarde essa prestação porque o credor perdeu o interesse no cumprimento.

Deveres de conduta – fundamentam-se no princípio da boa fé, são deveres que visam garantir o correto
cumprimento da relação obrigacional. Não são deveres que se encontrem previamente estipulados,
dependem das concretas circunstâncias do próprio desenvolvimento do contrato, das negociações ou da
execução deste → Não sabemos quando surgem e sobre quem vão recair → A violação destes dá origem a
uma ação de indemnização mas não dá origem a uma ação de cumprimento

Limitações à liberdade contratual nas 3 facetas


1 Vertente da liberdade de celebrar os contratos
2 Vertente da liberdade de fixação do conteúdo dos contratos: no tráfego jurídico de massas de uma
economia de mercado assiste-se a uma massificação das relações jurídico-negociais, que gera contratos de
modelo padronizado, com base nas cláusulas contratuais gerais: o aderente limita-se a aceitar as cláusulas
previamente elaboradas pela contraparte (o utilizador ou predisponente), não tem a possibilidade de
modelar o conteúdo do contrato.
O que são as cláusulas contratuais gerais? São pré-formulações rígidas/uniformes e gerais (pré-formulação,
rigidez e generalidade), ou seja, são previamente e unilateralmente elaboradas pelo predisponente, sem que
o aderente possa negociar ou intervir na fixação do seu conteúdo, que se dirigem a uma utilização numa
multiplicidade indefinida de contratos (individuais).
Decreto-Lei nº 446/85 de 25 de outubro: segundo o artigo 1.º/2 aplica-se também aos contratos
individualmente concluídos cujo processo de contratação não houve possibilidade de uma das partes
ter contribuído para a formulação do conteúdo, ou seja, o contrato de adesão – das 3 características
a fundamental para este regime é a rigidez + art. 1.º/3 que diz que o ónus da prova que o contrato
foi objeto de negociação recai sobre a parte que se quer prevalecer desse conteúdo, o predisponente
– quando alguém quer demonstrar que a cláusula não é rígida/unilateral cabe-lhe a ela provar isso,
mostrando que foi objeto de negociação
As cláusulas contratuais gerais podem ser elaboradas por terceiros, ex: uma associação
3 Vertente da liberdade de escolha do cocontratante

25/11
Continuação do estudo das cláusulas contratuais gerais:
O que se pretende acautelar é o desequilíbrio negocial que afeta a parte que é utilizador/aderente.
O artigo 2.º do DL nº 446/85 surgiu por força da Diretiva da UE das cláusulas abusivas nas relações com os
consumidores, mas só surgiu com o DL nº 248/99.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

As cláusulas gerais podem ter sido elaboradas não apenas pelo pré-disponente ou aderentes, mas também
por terceiros, como uma associação comercial. Estas elaboram as cláusulas gerais através dos órgãos, e
recomendam a sua utilização aos associados, as empresas, que podem, por sua vez, utilizá-las quer nas
relações com os consumidores, quer na relações com outras empresas. Aliás, o próprio decreto-lei distingue
as cláusulas que podem ou não ser utilizadas nos dois “tipos” de relações → o âmbito subjetivo da aplicação
deste diploma. Porém, neste diploma quem tem a proteção mais forte são os consumidores – art. 20.º.
Apesar do diploma não ter o âmbito subjetivo de aplicação circunscrito às relações com os consumidores,
tal não invalida que se tenha de concluir que a proteção que estes precisam seja mais intensa.

Não se aplica o regime das cláusulas contratuais gerais nos casos tipificados no art. 3.º. Todos estes têm um
ponto comum: a ideia que a parte que precisa de proteção, quando são utilizadas cláusulas contratuais
gerais, não necessita nestas situações da mesma proteção, uma vez que estas cláusulas foram ditadas pelo
legislador, que à partida, ponderou a tutela dos interesses dessas mesmas partes.
Quando as cláusulas contratuais gerais são aceites em contratos singulares passam a ser contratos de
adesão, uma vez que o aderente tem de as aceitar para serem vinculativas.

Como se protegem os interesses do aderente face ao desnível de poder em relação ao predisponente? É um


objetivo particularmente amplo, pois o desnível não é necessariamente de ordem económica. Para
concretizar este propósito, o legislador organizou, sistematicamente, o regime tendo em conta 3 níveis de
controlo (os nomes do controlo foram dados pela doutrina, não pela lei):

1 Controlo de inclusão – refere-se à fase pré-contratual, que antecede a inclusão das CCG ou das cláusulas
unilaterais no âmbito dos contratos singulares. Nesta fase do controlo de inclusão tem grande importância
a análise do artigo 5.º e do artigo 6.º do DL, porque tipificam deveres de comunicação e de informação – as
CCG devem ser comunicadas na íntegra e de forma adequada à outra parte, tendo em conta a situação do
aderente e as circunstâncias da negociação. O ónus da prova recai sobre o predisponente. No artigo 6.º estão
previstos os deveres de informação e os deveres de esclarecimento.
“por quem use de comum diligência” – o dever de comunicação integral e adequado tem de ser
compatibilizado com o ónus do aderente usar da diligência do homem comum para ter o conhecimento das
cláusulas, o aderente não pode ter um papel meramente passivo.
Caso o predisponente não respeite estas exigências, pode acontecer que as cláusulas, sendo nulas, não sejam
inseridas nos contratos singulares (art. 8.º/a/b) (contratos de adesão, que podem ter várias CCG). E o
contrato persiste sem elas? Art. 9.º, é possível que sim, a ideia é aproveitar ao máximo a atividade negocial,
tendo em conta as regras da integração do negócio jurídico, a vontade hipotética conjetural das partes e a
boa fé (art. 292.º, 239.º CC)
Art. 8.º/c <–> o art. 21.º/i consagra que são absolutamente proibidas as cláusulas “redigidas com
um tamanho de letra inferior a 11 ou a 2,5 milímetros, e com um espaçamento entre linhas inferior
a 1,15”. Esta disposição está no controlo do conteúdo das cláusulas (mas está a limitar o âmbito
subjetivo às relações com os consumidores, ex: o trabalhador não é consumidor)

2 Controlo de conteúdo – art. 17.º a 22.º. As cláusulas que vamos analisar tem âmbitos diferentes:
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Cláusulas proibidas nas relações entre empresas e entidades equiparadas, e nas relações entre empresas e
consumidores finais – é um controlo posterior à fase da inclusão, só nos referimos às cláusulas integradas
pois neste momento o contrato singular já está concluído – se o conteúdo for contrário às proibições
elencadas no DL elas são nulas, por força do artigo 12.º. No artigo 18.º e 21.º temos o elenco de cláusulas
absolutamente proibidas, e no 19.º e 22.º temos o elenco de cláusulas relativamente proibidas – são todas
nulas, o que as distingue é que as primeiras são consideradas nulas independentemente da valoração
concreta que seja feita pelo juiz, e as relativamente proibidas só são consideradas nulas tendo em conta o
quadro negocial padronizado, a valoração do juiz.
Não se atende apenas ao concreto contrato singular, mas à inclusão do concreto singular no tipo de contrato.
[A AP também pode fazer a fiscalização das CCG, simplesmente este controlo administrativo está
dependente de uma regulamentação que ainda não existe.]
Artigo 20.º reforça a proteção intensa dada aos consumidores, pois em relação a estes se aplicam também
as cláusulas do 18.º e do 19.º

3 Controlo de índole processual – fiscalização concreta e fiscalização abstrata (nas ações inibitórias, que só
podem ser intentadas por quem tenha legitimidade, art. 26.º, não podem ser os particulares individualmente
considerados).
O artigo 10.º diz que relativamente à interpretação e integração das cláusulas contratuais se aplicam as
regras gerais dos negócios jurídicos, respetivamente, o 236.º que consagra a teoria da impressão do
destinatário e o artigo 239.º.
Por seu turno, o artigo 11.º resolve o problema das cláusulas ambíguas: de houver vários sentidos possíveis
deve prevalecer o mais favorável ao aderente; no entanto, o disposto não se aplica no âmbito das ações
inibitórias – estas “levam-nos” para o controlo de índole processual, e para o artigo 25.º e seguintes, é o
designado controlo abstrato, efetuado independentemente de a cláusula ser inserida num contrato singular
– objetivo é erradicar a cláusula do ordenamento jurídico.
≠ Controlo concreto/incidental é efetuado na fiscalização que ocorre na sequência de um concreto
litígio subordinado a apreciação judicial.

02/12
Continuação do controlo de índole processual:
Relativamente ao controlo abstrato (fiscalização abstrata), que se concretiza através da ação inibitória, este
tem como objetivo erradicar do ordenamento cláusulas ambíguas ou injustas, independentemente de terem
sido utilizadas em contratos singulares. A legitimidade ativa pertence, unicamente, às entidades referidas
no artigo 26.º - como temos conhecimento da cláusula se ela não foi utilizada num contrato singular? Pela
legitimidade ativa podemos compreender o referido, independentemente de ter surgido um litígio, pode ter
havido queixas às entidades enunciadas.
São entidades que representam interesses coletivos, interesses difusos. À partida fica afastada a
legitimidade de um particular individualmente considerado suscitar a fiscalização abstrata (Doutor Calvão
dizia que tínhamos de integrar o conteúdo deste diploma com o conteúdo da lei de defesa do consumidor,
na qual se abre a possibilidade ao consumidor individual para suscitar a fiscalização abstrata da cláusula).
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

O legislador reporta-se ao artigo 15.º e 16.º, pois a contradição do princípio da boa fé pode levar a que se
considere nula uma cláusula que não está tipificada nas listas de cláusulas absolutamente ou relativamente
proibidas.
A ação inibitória destina-se a proibir a utilização das cláusulas no futuro, mas quais são as consequências
dessa proibição? Artigo 32.º/1, existe um duplo aspeto: a fiscalização abstrata pode proibir a utilização da
cláusula e/ou a recomendação destas.
Numa ação intentada contra uma empresa por alguém com legitimidade, quando a decisão transitar
em julgado (já não é passível de recurso), há partida, a decisão produz efeitos apenas entre as partes
– eficácia relativa. No âmbito da fiscalização concreta (controlo incidental) não há dúvidas que a
sentença tenha de ter eficácia relativa -> Em sede de fiscalização abstrata a sentença produz efeitos
para o futuro mas só impede aquela entidade que usou ou recomendou a cláusula de o voltar a fazer
no futuro. E outras entidades? Como não intervieram no processo, relativamente a elas não vale a
proibição – não há efeitos que se estendem para além das partes visadas.
Mas se o objetivo é banir do ordenamento jurídico cláusulas injustas, não seria mais eficaz estender
a eficácia do caso julgado a outras entidades que, não tendo sido demandadas na ação, utilizam ou
recomendam as cláusulas? Parece que sim.

O modelo de controlo estatuído é um modelo de controlo judicial. Uma das alterações ao regime está
prevista na Lei nº 32/2021, art. 3º/2, que prevê a criação de um sistema de controlo e prevenção
administrativo de cláusulas abusivas, mas a sua efetivação está dependente de regulamentação que ainda
não foi emitida – este controlo já prevê que as proibições decorrentes da fiscalização abstrata tenha feitos
relativamente a outras entidades.

Sanção pecuniária compulsória (art. 33.º) – a pedido do credor, o tribunal ameaça culminar a aplicação de
uma sanção de índole pecuniária caso o devedor não cumpra a obrigação que lhe foi imposta, ou se ele não
realizar a prestação ou voltar a cometer uma outra infração. É um mecanismo jurídico que visa, de modo
coercitivo e preventivamente, evitar o incumprimento → Diversamente, neste âmbito, quando há uma
proibição definitiva, aplicar uma sanção pecuniária compulsória parece que não é o mecanismo mais idóneo,
mas tendo em conta que a parte demandada, mesmo no âmbito da proibição definitiva, pode no futuro vir
a violar essa obrigação que lhe foi imposta.
(acabamos o regime das cláusulas contratuais gerais)

Tendo em conta o princípio da liberdade contratual, vamos fazer uma menção aos CONTRATOS MISTOS –
artigo 405.º/1, as parte tem a liberdade de celebrar contratos diferentes dos previstos no CC (contratos
nominados ou tipificados, que tem um regime expressamente previsto no Código), ou seja, contratos
inominados ou atípicos – a inventiva das partes.
Entre os contratos inominados, podemos ter os contratos mistos: aquele que integra no seu conteúdo
cláusulas, ou elementos, de dois ou mais negócios, total ou parcialmente, regulados na lei – resulta do
exercício da liberdade contratual, da fixação do conteúdo. Para haver contrato misto os negócios tem de ser
típicos, a sua disciplina é que pode não ser típica.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

O contrato misto é um só contrato ≠ junção ou coligação de contratos – 2 ou + contratos que se encontram


ligados, ligação incidental ou funcional, respetivamente, mantendo no entanto, cada um, a autonomia.
Ex de junção de contrato: A compra uma joia, e manda concertar o seu relógio na mesma ourivesaria –
contrato de compra e venda e de prestação de serviços – a ligação é meramente ocasional ou exterior
Ex de coligação de contratos: C celebrará um contrato de hospedagem com uma pensão, se vier a ficar
colocada numa Escola perto da pensão – entrecruzamento entre um contrato de trabalho e um contrato de
hospedagem, o primeiro determina o surgimento do outro, a ligação é funcional

Vamos estudar 3 categorias de contratos mistos: são categorias conceituais, os contratos combinados, os
contratos de tipo duplo e contratos mistos em sentido estrito.
Nos contratos combinados à prestação de uma das partes correspondem elementos de tipos negociais
diversos, e a contraprestação traduz-se numa prestação unitária, pex: numa viagem de cruzeiro, a prestação
da empresa que organiza os cruzeiros reúne elementos de diferentes tipos contratuais (compra e venda,
depósito, prestação de serviços), e o turista apenas tem uma prestação em dinheiro.
Nos contratos mistos de tipo duplo, à prestação de um tipo contratual de uma das partes corresponde uma
prestação de tipo contratual diverso da outra parte, pex: condomínios haver um apartamento mais pequeno
destinado ao porteiro, que tinha um contrato de trabalho, e como contrapartida tinha direito ao
arrendamento, como parte do vencimento.
Por fim, nos contratos mistos em sentido estrito, utiliza-se o esquema/estrutura de um determinado
contrato típico não apenas para realizar a sua função, mas também para realizar a função de outros
contratos, pex: doação mista, capta elementos do contrato de compra e venda e da doação. Não é um
negócio indireto porque existe realmente a intenção de vender.

Qual é o regime que se aplica? O que resulta da conjugação dos vários elementos contratuais pode ser um
regime completamente novo, sem paralelo com nenhum outro tipo contratual – podemos recorrer à teoria
de aplicação analógica, e tentar ver, relativamente ao conteúdo contratual que surgiu, qual será um tipo
contratual mais próximo possível; e se não houver observam-se as regras do contrato. No entanto, por regra,
a preocupação deve ser saber se entre as várias prestações, que correspondem aos diversos tipos
contratuais, se há algum tipo dominante – se houver é o regime desse que será aplicado, teoria da absorção;
se não houver aplicar-se-ão os vários regimes que correspondem às diversas prestações que estão reunidas
no contrato

CONTRATO-PROMESSA (art. 410.º e ss.)


Tal como o pacto de preferência, são verdadeiros contratos que produzem efeitos entre as partes, mas não
são contratos definitivos, são celebrados numa fase preparatória, para preparar a celebração, no futuro, de
um outro contrato – o contrato definitivo ou contrato prometido (são portanto diferentes das meras
negociações e dos acordos parciais).
O contrato produz efeitos relativamente às partes (ou apenas a uma parte). O contrato é bilateral se produz
obrigações para ambas as partes, é unilateral se produz obrigações para apenas uma das partes – a
obrigação que surge no contrato-promessa é a obrigação de facto jurídico positiva, obrigação que tem o(s)
contraente(s) no futuro de emitir uma declaração negocial. São estas declarações que vão permitir a
conclusão da celebração do contrato definitivo.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

O contrato definitivo é que vai produzir o efeito jurídico pretendido pelas partes aquando da celebração do
contrato-promessa. Efeito que não pode ser logo alcançado por razões diversas.
Pergunta-se, então, qual a razão das partes celebrarem contrato-promessa? Podem existir razões de ordem
material e razões de ordem jurídica, pex: contratos-promessa de compra e venda de uma fração autónoma
para habitação pode acontecer que o prédio ainda não esteja concluído, que o promitente comprador ainda
não disponha da quantia necessária para o pagamento total, ou o promitente vendedor ainda não tem a
licença de habitalidade do prédio. Ainda não reunidas as condições necessárias ou simplesmente porque
não querem já celebrar o contrato definitivo.
Este contrato retira a liberdade negocial de não cumprir, pois se houver contrato-promessa que não se
transforma em contrato definitivo temos incumprimento de contrato, e responsabilidade contratual.

Contrato-promessa de compra e venda: podemos ter a promessa de compra e venda (estou a referir que o
contrato é bilateral), mas podemos ter apenas uma promessa de venda ou uma promessa de compra
(promessas unilaterais).
Num contrato com promessa unilateral, a parte que não se obriga chama-se promissário ou beneficiário da
promessa, o outro é o promitente. Ao promissário nada por ser exigido, pelo que nunca entra em
incumprimento, mantêm a sua liberdade contratual.

Há um princípio fundamental que está consagrado no artigo 410.º/1 CC: princípio da equiparação (da
correspondência), que diz que é aplicável ao contrato-promessa o regime (normas legais e os princípios)
jurídico do contrato prometido, com duas exceções: a exceção da forma (Art. 410.º/2/3), e a exceção dos
efeitos, normas que pela sua razão de ser não se considerem extensíveis ao contrato-promessa

09/12
Continuação do contrato-promessa:
Convenção porque alguém se obriga a celebrar certo negócio, porque ao dizer que se obriga a celebrar
contrato, como no artigo 410.º, estamos a excluir os negócios jurídicos unilaterais. Em regra, tem mera
eficácia relativa/obrigacional, não atinge terceiros. Contudo, pode-lhe ser atribuído eficácia real mediante
certas condições (art. 413.º): tratar-se de contrato-promessa de transmissão ou constituição de direitos reais
sobre bens imóveis, ou móveis sujeitos a registo, desde que as partes expressamente o declarem, tem de
haver registo e tem de observar uma forma mais solene (a mesma forma que o contrato definitivo).
Qual a importância da eficácia real? A promessa passa a ser oponível a qualquer terceiro.
Art. 410.º/1 – princípio da equiparação ou da correspondência: ao contrato promessa são aplicadas as
normas do contrato prometido, existe uma remissão do regime deste para aquele. Evidentemente, esta
regra tem exceções: relativas à forma exigida e a exceção dos efeitos, porque se baseia na diferenciação dos
efeitos entre o contrato-promessa e o contrato prometido – as normas que pela sua razão de ser não devam
ser aplicadas ao contrato promessa, pex: a proibição de venda de bens alheiros (art. 892.º) não vale no
âmbito do contrato-promessa; art. 1682.º-A exige o consentimento do outro cônjuge, não se aplica; art.
877.º também não se aplica no contrato-promessa
Obrigação de meios ≠ obrigação de resultado
O contrato-promessa não tem eficácia translativa, devido à sua natureza preparatória.
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

[A doação, entre familiares, sendo uma liberalidade é reduzida na sucessão, na quota disponível.]
Relativamente à exceção da forma, vale o artigo 410.º/2/3: a forma do CP não é necessariamente a mesma
forma do contrato-prometido → art. 410.º/2, mas temos de saber qual é a forma do contrato prometido,
pois esta vincula a forma do CP. Se o legislador não exigir forma nenhuma para o definitivo, também não
exige qualquer formalidade para o contrato-promessa (consensual); pelo contrário, se exige um documento
particular ou um documento autenticado para a celebração do contrato definitivo, para o contrato-promessa
exige apenas um documento particular simples (só não é assim quando as partes querem dotar o contrato
com eficácia real) → mas:
O que acontece a um CP bilateral formal, quando é assinado apenas por um deles? Por não obedecer aos
requisitos de forma, é em princípio, inválido (art. 220.º). No entanto, vale aqui o princípio da conservação,
através de mecanismos que tentam conservar o negócio jurídico – a redução e a conversão – como contrato-
promessa unilateral válido.
Na conversão (utilizada quando o CP é totalmente inválido), transforma-se o CP bilateral num CP
unilateral quando os fins prosseguidos pelas partes permitem supor que estas teriam na mesma
celebrado o negócio se tiverem previsto a invalidade – o ónus de provar a vontade hipotética referida
pertence à parte que quer manter o negócio.
Na redução (utilizada em situações de invalidade parcial), diferentemente, quem tem o ónus da prova
é quem não quer manter o negócio, pois a lei presume que se queria manter.

Parte-se do princípio que é uma invalidade parcial, é a posição adotada, porque a própria lei admite a
divisibilidade objetiva do contrato promessa, isto é, distingue a promessa bilateral da promessa unilateral, e
cada uma delas tem subsistência autónoma. Atenção, para existir redução é necessário que também haja
divisibilidade subjetiva, relativa à intenção/vontade das partes, não pode existir a ligação. → Em termos
jurisprudenciais, é também esta a orientação que domina.
Além de que é mais fácil provar a “nossa vontade” do que a vontade da contraparte.
Acórdão de 25/03/93→ assento 29/11/89

Preço da promessa ou preço de imobilização – nas promessas unilaterais é pago se não vier a ser realizado
o contrato definitivo, é a compensação pela circunstância de o vendedor ter no seu património aquele bem
imobilizado. Não é uma indemnização.
Dr. Antunes Varela defende que é preciso a assinatura de ambos, mesmo que seja uma promessa unilateral.
O curso entende o contrário, que o contrato é válido apenas com a assinatura do promitente.
Só temos de colocar o problema da assinatura se o contrato-promessa for formal.

Art. 410.º/3: contratos-promessa em regime especial – contratos onerosos de transmissão ou constituição


de direitos reais sobre prédios urbanos ou frações autónomas deste. É valido se for formalizado em
documento particular e assinado + reconhecimento presencial das assinaturas + certificação da licença de
utilização ou de construção (requisitos suplementares de forma). Sem estes requisitos será válido? Em
princípio não, neste artigo impede-se o promitente vendedor de pedir a invalidade, só se provar que a
omissão dos requisitos é culpa do promitente comprador – proteção do comprador
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

E os terceiros interessados na invalidade pode invocá-la? E o tribunal pode reconhecê-la oficiosamente? Por
ser uma omissão de um requisito de forma, é uma nulidade, embora o seu regime seja diferente do regime
da nulidade geral, é uma nulidade atípica, queremos preservar o seu carácter automático, no entanto não
pode ser invocada por qualquer interessado, não é do conhecimento oficioso, e pode ser sanada – assento
20/6/94 e 11/02/95 – norma de ordem pública de proteção
Almeida Costa defende que quando não há licença também estão em causa interesses públicos, mas a defesa
destes faz-se na celebração do contrato prometido, não é necessário antecipar o controlo para o momento
da celebração do contrato-promessa, pois aí estamos a prejudicar o comprador.

Sinal: art. 440.º e ss (regula-se o sinal para qualquer tipo de contrato, presume-se que a quantia é uma
antecipação do cumprimento, só não é assim se tratar-se de um CP de compra e venda, art. 441.º, a parte
interessada em tal pode provar que não era sinal). Quantia entregue por uma dos contraentes ao outro no
momento da celebração do contrato ou posteriormente. Quais são as suas funções? Ou função
confirmatória, entregue para as partes assegurarem/certificarem a intenção de cumprir; ou função
penitenciária, assegurar o direito ao arrependimento – para a generalidade dos contratos devemos assumir
que o sinal é conservatório, no âmbito do CP assume-se que o sinal tem natureza penitencial (art. 830.º/2).
A existência de sinal não afasta a execução especifica nas situações do art. 410.º/3.

16/12
Existe um regime específico para o incumprimento do contrato-promessa, não se aplica o regime geral. No
caso do incumprimento do contrato-promessa ser imputável ao promitente vendedor, o promitente
comprador tem o direito à restituição do sinal em dobro → a resolução é uma forma de extinção do contrato-
promessa, e os meios resolutórios tem na base um incumprimento definitivo
Existe um meio alternativo à restituição do sinal em dobro, previsto no art. 442.º/2, o designado direito à
valorização intercalar da coisa, do aumento do valor da coisa – são meios alternativos, não cumuláveis →
Esta alternativa foi estabelecida numa época em que o país oferecia a uma forte pressão inflacionista, que
se acentuava no setor imobiliário, pelo que era muito frequente as pessoas adquirirem os “andares na
planta” e depois quando o andar já estava concluído as pessoas vendiam porque o aumento do preço era
significativo. Nestes casos a restituição do sinal em dobro não permitia ao promitente fiel obter uma
indemnização adequada aos prejuízos que sofria → esta medida indemnizatória só é permitida quando
tenha havido tradição da coisa (no CP a entrega só ocorrerá se houver acordo entre as partes)
Direito ao aumento da coisa: diferença entre o valor da coisa ao tempo do incumprimento e o valor que a
coisa tinha no momento da celebração do contrato-promessa (diferença apreciada em termos objetivos, isto
é, os valores referidos são valores de mercado, objetivamente determinados), ao qual se acrescenta o sinal
em singelo (ou a parte do preço que tenha sido paga).
O legislador teve necessidade de dizer que a diferença tem de ser objetivamente determinada para
acautelar as situações em que há preços de favor que são acordados entre as partes, por motivos
familiares, amizade ou fiscais, nos quais os preços declarados são inferiores aos preços reais – poderia
originar situações de enriquecimento sem causa do promitente fiel às custas do promitente vendedor

Art. 442.º/3 – quando o promitente fiel pedir o aumento da coisa, pode o promitente vendedor oferecer-se
para cumprir → exceção do cumprimento no âmbito do CP. Calvão da Silva considera que deve ser excluído
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Estes meios resolutórios/indemnizatórios são uma alternativa à execução específica: o pressuposto da


existência da execução específica é a mora e não o incumprimento definitivo, e na mora o que acontece é
que há um atraso no cumprimento. O devedor realiza a prestação tardiamente, mas realiza-a porque o
credor mantém o interesse no cumprimento – quando o credor ainda têm interesse no cumprimento chama-
se mora, pelo que o devedor pode realizar a prestação mais tarde; há incumprimento definitivo quando o
credor perde o interesse
Art. 808.º: conversão da mora em incumprimento definitivo
A execução específica não é um modo de indemnização, é um modo de conclusão do contrato. Esta é
decretada em tribunal (o promitente fiel tem de intentar uma ação de execução), pelo que é uma sentença,
específica, que produz os efeitos da declaração negocial do faltoso, e que dá o negócio por concluído – é
uma sentença com eficácia constitutiva → a sentença é proferida no âmbito de um processo declaratório,
mas não é uma mera sentença condenatória
Para se recorrer à execução específica é preciso, além da mora, o preenchimento de certos requisitos: art.
830.º - não exista convenção em contrário, e não se oponha à execução específica a natureza da obrigação
assumida → convenção em contrário: o art. 830.º/2 refere-se aos contratos de promessa do regime geral, e
o art. 830.º/3 refere-se aos contratos de promessa do regime especial, os do art. 410.º/3. Nas promessas do
regime geral a existência de sinal ou de cláusula penal presume-se como convenção em contrário, presume-
se que as partes quiserem manter o direito ao arrependimento (sinal penitencial). Nas promessas do regime
especial a existência de sinal não afasta, em princípio, o recurso à execução específica, porque se entende
que é uma norma que visa proteger a parte mais fraca – imperatividade do recurso à execução específica
(não significa que o promitente fiel tenha de recorrer necessariamente à execução específica)
No 830.º/2 a presunção é de que natureza? É uma presunção relativa, de natureza ilidível mediante prova
em contrário, ou seja, mesmo havendo sinal pode vir a existir execução específica se quem entregou o
dinheiro (ou outra coisa fungível) demonstrar que aquilo não é sinal – a parte que entregou a quantia tem
de ilidir duas presunções: demonstrar que não é sinal para afastar o art. 830.º/2 e o art. 441.º

“Não se oponha à execução específica a natureza da obrigação assumida”: que prestações são essas?
Contratos cuja prestação tenha uma natureza iminentemente pessoal, pex: promessa de casamento,
promessa de trabalho; e contratos reais quanto à constituição, pex: depósito, comodato (empréstimo não
remunerado de coisa infungível – é preciso a tradição da coisa) e mútuo. A execução específica só vale para
os contratos consensuais, que dependem da declaração.

Art. 442.º/3: quando o promitente fiel pede o direito do valor coisa ao tempo do incumprimento (meio
resolutório) pode a outra parte, o promitente faltoso, opor-se e oferecer-se para cumprir, por isso é que se
designa exceção ao cumprimento, salvo se já tiver funcionado o art. 808.º - há partida se há o incumprimento
definitivo o art. 808.º já foi aplicado – não é possível no âmbito da mesma norma se tentem conciliar regimes
incompatíveis, se há resolução não pode haver execução (Dr. Calvão da Silva), pelo que temos de fazer uma
interpretação ab rogante, isto é, fazer cessar a vigência da norma
Outros autores, tendo em conta a presunção do legislador razoável do art. 9.º/3, dizem que não é correto
propor uma interpretação ab rogante da norma, pelo que defendem que haverá situações, como as previstas
no art. 442.º/3, em que a apesar de se pedir o aumento do valor da coisa, o credor ainda mantém interesse
no cumprimento – e a situação passará a incumprimento definitivo quando o promitente faltoso não cumprir
o prazo adicional, da interpelação admonitória, concedido pelo promitente fiel
AULAS TEÓRICAS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I | Andréa Carlos

Na perspetiva do curso seguimos a posição da Doutor Calvão da Silva!

Você também pode gostar