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Resumo ML, Obrigações I

Parte Histórica e Direito Comparado não saem.

Definição de Obrigação- CC, livro II. A definição presente no artigo 397º retiramos que são
situações jurídicas que têm por conteúdo a vinculação de uma pessoa em relação a outra à
adoção de uma determinada conduta em benefício desta.
Contudo, o conceito pode ser entendido em sentido amplo, podendo abranger todo e
qualquer vínculo jurídico entre 2 pessoas, como sejam os deveres jurídicos genéricos (situação
em que se encontram os outros sujeitos relativamente aos titulares de direitos absolutos), os
ónus (consiste na necessidade de adotar uma conduta em proveito próprio) e as sujeições
(correlato passivo dos direitos potestativos, consistindo na necessidade de suportar as
consequências jurídicas correspondentes ao exercício de um direito potestativo).
De acordo com o professor ML, o que caracteriza a obrigação em relação a estas figuras é
a circunstância de determinada pessoa se encontrar adstrita a realizar uma especifica conduta,
positiva ou negativa, no interesse de outra, também determinada. Esta conduta é designada
por prestação.
O ónus não se confunde com a obrigação uma vez que consiste num dever jurídico,
imposto em benefício de outra pessoa, o credor (398º, nº2).
Na sujeição (para o professor) não há possibilidade de violação enquanto a obrigação é
eminentemente violável, ainda que o devedor acarrete com a sanção de indemnização (798º)
ou da execução de património (817º),
Os deveres jurídicos genéricos não se confundem com a obrigação pois esta tem uma
relação jurídica entre credor e devedor, enquanto os direitos absolutos são direitos sem
relação, pelo que o dever geral de respeito não passa de uma simples expresso, posto isto não
é considerado como vínculo específico que autorize uma pessoa a exigir a outrem uma
prestação.
Este assume-se como um ramo do direito civil que constitui direito privado comum, por
esse motivo goza das características do direito privado, entre elas a liberdade e a igualdade.
Em princípio, o sujeito das relações obrigacionais tem os mesmos poderes e são livres de fazer
tudo o que não se encontre abrangido por uma proibição.

O direito das obrigações abrange matérias sujeitas a campos jurídicos distintos, as quais
são unicamente unificadas através do conceito de obrigação. MC inclui entre esses campos a
circulação de bens, as prestações de serviços e as sanções civis enquanto para ML além destes
a instituição de organizações, as sanções civis para comportamentos ilícitos e culposos e a
compensação por danos, despesas ou pela obtenção de um enriquecimento são realidades do
direito das obrigações.
Circulação de bens são abrangidas pelo direito das obrigações todas as situações das quais
resulte alteração na ordenação jurídicas dos bens através de negócios jurídicos. Assim, são
regulados pelo direito das obrigações a transmissão dos direitos reais (408º), os contratos que
a desencadeiam como a compra e venda (874º e ss.), bem como a concessão de gozo de bens

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


alheios através de contratos como a locação (1022º), bem como os fenómenos de transmissão
de crédito e de dívidas através dos institutos da cessão de créditos (557º) ...
Prestações de serviços são genericamente abrangidas pelo D.O. através do contrato de
prestação de serviços (1154º), uma modalidade contratual atípica, que a lei regula em 3
modalidades típicas: o mandato (1157º), o depósito (1185º) e a empreitada (1207º).
Instituição de organizações temos o contrato de sociedade civil (980º), que aparece
regulado pelo D.O. como a forma comum de associação de pessoas para a exploração de uma
atividade económica lucrativa.
Sanções civis para comportamentos ilícitos e culposos consistem essencialmente na
obrigação de indemnizar danos causados (562º) cuja fonte é genericamente designada por
responsabilidade civil. No âmbito da responsabilidade civil subjetiva, o sistema do código
distingue a responsabilidade civil delitual (483º) da responsabilidade civil obrigacional (798º)
consoante esteja em causa a violação de uma situação jurídica absoluta, ou antes a violação de
obrigações.
compensação por danos (responsabilidade pelo risco, 499º, não tem natureza
sancionatória), despesas (gestão de negócios, 464º) ou pela obtenção de um enriquecimento
(instituto de enriquecimento sem causa, 473º)

Princípio da autonomia privada consiste na possibilidade que alguém tem de estabelecer


as suas próprias regras, porém as regras jurídicas caracterizam-se pela generalidade e
abstração, pelo que não podem ser criadas por atos privados. Resume-se à possibilidade de
alguém estabelecer os efeitos jurídicos que se irão repercutir na sua esfera jurídica. MC diz que
esta é uma permissão genérica de produção de efeitos jurídicos – MC.
Pelo contrário, no direito subjetivo existe uma esfera de competência, já que
relativamente a um certo bem, quando ele é objeto de um direito subjetivo, efetua-se a sua
atribuição exclusivamente a uma pessoa, aqui existe uma permissão normativa específica
porque só o titular do direito tem permissão de beneficiar das utilidades que aquele bem
produz. Esta realidade é expressa por Gomes da Silva “afetação jurídica de um bem à
realização de um ou mais fins de pessoas individualmente consideradas” e por MC como acima
referido.
• Facto jurídico – Todo o facto que produz efeitos jurídicos.
1. Stricto sensu -Não resultam de qualquer comportamento humano voluntário, como
p.e. a morte;
2. Atos jurídicos- Existe comportamento humano voluntário e é em sua função que se
produzem os efeitos jurídicos; Simples- Existe apenas liberdade de celebração, uma
vez que os seus efeitos resultam imperativamente da lei. vs Negócios jurídicos-
Liberdade de celebração como de estipulação, já que as partes não apenas têm a
possibilidade de decidir celebrar ou não o negócio, mas também podem determinar
quais os efeitos. Forma preferencial de exercício de autonomia privada, atenta a
liberdade de produção de efeitos jurídicos que os caracteriza.
Os negócios jurídicos unilaterais só em certos casos legalmente previstos poderão dar
origem a obrigações, uma vez que o 457º refere que a promessa unilateral de uma prestação
só obriga nos casos previstos na lei, por esse motivo pode referir-se que a constituição de
obrigação através de negócio jurídico tem, em princípio, que resultar de um contrato.

O que caracteriza o contrato enquanto NJ é que ambas as partes estão de acordo em


relação aos efeitos jurídicos produzidos, estabelecendo assim, através de 2 declarações
negociais harmonizáveis entre si, uma disciplina jurídica comum com repercussão nas
respetivas esferas jurídicas. Larenz refere que esta autovinculação de cada uma das partes é
sempre, segundo a doutrina fundamental do contrato, um ato de liberdade, considerando-se
que o contrato se baseia sempre na livre determinação de cada uma das partes, uma vez que
exige o consenso de ambas para se formar (232º);

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No âmbito de direito das obrigações as regras estabelecidas por lei devem ceder perante
a decisão das partes em sentido contrário, consequentemente só excecionalmente se
encontram regras imperativas no mesmo.

Restrições à liberdade contratual


Tutela da parte mais fraca. Apesar da importância do princípio da liberdade contratual não
pode aceitar-se genericamente todo e qualquer contrato que seja sempre efetivamente
baseado na livre determinação de ambos os sujeitos, tal só sucedera se as partes estiverem
constrangidas de forma idêntica a celebração daquele contrato. Assim, ocorrendo
desigualdade económica das partes, a invocação da liberdade contratual torna-se meramente
formal, uma vez que, em termos materiais, uma das partes se encontra constrangida a
celebração do contrato.
Obrigação da celebração do contrato – Uma (ou ambas) parte pode estar vinculada, por
obrigação contratual ou legal, a celebração do contrato com a outra parte (817º ou 830º). A
não celebração do contrato constitui, por isso, nesses casos um ilícito obrigacional que gera
obrigação de indemnização. Nesta situação, a liberdade de celebração apenas existe para a
parte que não esteja vinculada a essa obrigação, e que por isso pode exigir a celebração do
contrato ou renunciar a ela, a outra parte tem de corresponder às suas solicitações, perdendo
assim a liberdade de recusar a celebração do contrato.
Quando é a lei a impor obrigações de celebração de contratos, a autonomia privada
encontra-se restringida, podendo essa restrição considerar-se como um corretivo a liberdade
contratual, em virtude de se pretender evitar os abusos de uma das partes que, em virtude de
um maior poder económico que possua, poderia facilmente constranger a outra parte a
aceitar condições contratuais desvantajosas, se lhe fosse permitido recusar livremente a
celebração de contratos.

Contratos submetidos a um regime imperativo, CCG e contratos pré-formulados- As


restrições a liberdade de estipulação são normalmente estabelecidas em virtude de uma
função de ordenação do atual direito privado, que pretende disciplinar a liberdade contratual
por forma a evitar que esta seja exercida em prejuízo da parte economicamente mais fraca.
Nos contratos submetidos a um regime imperativo a primeira intervenção corretiva em
relação à liberdade de estipulação diz respeito à imposição de uma disciplina contratual rígida
em certos contratos, p.e. o contrato de trabalho, aqui o trabalhador depende da celebração
desse contrato para prover a sua subsistência e a do seu agregado familiar, uma vez que a sua
forca de trabalho e normalmente a única mercadoria que pode negociar para obter
rendimento. A parte mais forte poderá facilmente ditar as condições contratuais, que a parte
mais fraca se vera forcada a aceitar por não poder abdicar da celebração do contrato. A única
forma de nesses contratos se proibir a estipulação de condições iniquas, e o
consequentemente abuso da autonomia privada que tal representa, consiste na imposição de
uma disciplina injuntiva para estes contratos, que e vedado as partes afastar. A lei
normalmente pretende assegurar nesse contrato a estabilidade suficiente limitando as
possibilidades da parte mais forte proceder a sua denuncia.

CGC- Consistem em situações típicas de tráfego negocial de massas em que as declarações


negociais de uma das partes se caracterizam pela pré-elaboração, generalidade e rigidez. MC
diz que estas se caracterizam pela desigualdade entre as partes, pela complexidade e pela
natureza formulária, ainda que estas características não sejam de verificação necessária.
Nestas é manifesta a impossibilidade fáctica de uma das partes exercer a sua liberdade de
estipulação, que fica assim apenas na mão da outra parte, posto isto é possível o contrato ser
celebrado sem que uma das partes se possa aperceber do seu conteúdo, só sendo confrontada
com o regime contratual que aceitou no momento em que surge o litigio, quando
naturalmente é demasiado tarde para reagir é ainda possível serem introduzidas no contrato

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cláusulas abusivas em benefícios de um dos contraentes, que qualquer contraente normal
tenderia a rejeitar, se pudesse discutir as condições do contrato. Por isto é que a lei tem de
intervir no sentido de restringir a liberdade de estipulação, o que realiza essencialmente
através de 2 vetores: Por um lado procura evitar a introdução no contrato de clausulas de que
o outro contraente não se apercebeu, por outro visa impedir o surgimento de cláusulas
abusivas. A lei exige a aceitação, mas mesmo que esta ocorra a lei exige o cumprimento de
certas exigências especificas para permitir a inclusão das ccg no contrato singular (artigos 5º a
7º LCCG). Mc diz que o dever de indemnizar surge do artigo 227º e não dos artigos 5º e 6º da
LCCG. As disposições comuns por natureza (artigo 15º e 16º LCCG), as relações entre
empresários ou profissionais liberais ou entre uns e outros (17º a 19º LCCG) e as relações com
os consumidores finais (20º a 22º LCCG)

O princípio do ressarcimento dos danos- Sempre que exista uma razão de justiça, da qual
resulte que o dano deva ser suportado por outrem, que não o lesado, deve ser aquele e não o
lesado a suportar o dano. A transferência do dano do lesado para outrem opera-se mediante a
constituição de uma obrigação de indemnização, através da qual se deve reconstituir a
situação que existira se não tivesse ocorrido o evento lesivo (562º). A imputação de danos
ocorre quando a lei considera existir, não apenas um dano injusto para o lesado, mas também
uma razão de justiça que justifica que esse dano seja transferido para outrem, esta justifica a
constituição de responsabilidade civil (483º), a sua transferência para o património do
responsável efetua-se mediante a constituição de uma obrigação de indemnização.

Em certos casos, a imputação de danos pode, porem, basear-se em permissões legais de


sacrificar bens alheios no interesse próprio, que têm como contrapartida o estabelecimento de
uma obrigação de indemnização (81º, nº2 e 339º, nº2). Temos assim 3 títulos de imputação de
danos:
1. Imputação por culpa- Conduta ilícita e censurável do agente, que justifica dever ele
suportar em lugar do lesado os prejuízos resultantes dessa conduta. A RC alem de uma
função reparatória vai desempenhar uma função sancionatória, na média em que
representa uma sanção ao agente pela violação culposa de uma norma de conduta.
2. Imputação pelo risco- Conceção de justiça distributiva, risco-proveito (aquele que tira
proveito de uma situação deve também suportar os prejuízos dela resultantes),
profissional (aquele que exerce uma profissão ou atividade fonte de riscos deve
suportar prejuízos que dela resultem para terceiros) ou de autoridade (sempre que
alguém tenha poderes de autoridade deve suportar também os prejuízos que dai
resultem.
3. Imputação pelo sacrifico- A lei permite que seja sacrificado um bem ou direito
pertencente a outrem, atribuindo, uma indemnização ao lesado como compensação
desse sacrifício. Baseia-se numa ideia de justiça comutativa. \

O princípio da restituição do enriquecimento injustificado- Princípio em forma de norma,


artigo 473º, nº1 do CC. Sempre que alguém obtenha um enriquecimento à custa de outrem
sem causa justificativa tem de restituir aquilo com que injustamente se locupletou (tornou-se
rico). Se num NJ inválido houver transmissão dos bens para 3º, esse 3º responde com base no
seu enriquecimento, 289º, nº2. Exemplos: 442º, nº2 ou 468º, nº2 e 472p, nº1 ou 616º, nº3 e
617º, nº1 ou 764º, nº2 ou 795º, nº1 ou 795º, nº2 e 815º, nº2 ou 1214º, nº3. É difícil aplicar
este princípio aos casos concretos.

O princípio da boa-fé- No sentido subjetivo, definida como ignorância de estar a lesar os


direitos alheios, sendo esse sentido da referência à posse de boa-fé no 1260º. No sentido

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objetivo ou normativo, define-se como regra de conduta, nos artigos 227º,239º,334º,437º e
762º, nº2 e é este sentido que interessa no DO.
Por vezes, a realização da prestação pode fazer-se em termos tais que não permita a plena
satisfação do direito de creditou, ou, embora permitindo que seja suscetível de causar danos
ao credor. Por outro lado, a exigência de cumprimento do credor pode em certos casos
aparecer contraria a funcionalização dos direitos de crédito em virtude dos prejuízos que causa
ao devedor. Justamente por esse motivo a lei vem estabelecer deveres de boa-fé para ambos
os sujeitos da relação obrigacional que visam por um lado permitir o integral aproveitamento
da prestação em termos de satisfação do interesse do credor e por outro lado evitar que a
realização da prestação provoque danos quer ao credor, quer ao devedor.
Em alguns casos a boa-fé estabelece o único regime aplicável, por ausência de outras
regras levando ao desenvolvimento de novos institutos jurídicos.

Encontra-se em 5 institutos:
1. Responsabilidade pré-contratual (227º, nº1);
2. Integração dos negócios (239º);
3. Abuso do direito (334º);
4. Resolução ou modificação dos contratos por alteração das circunstâncias (437º,
nº1);
5. Complexidade das obrigações (762º,nº2);

De acordo com a teorização de MC todos estes institutos correspondem a concretizações


dos deveres de atuar segundo a boa-fé, podendo classificá-los em deveres acessórios de
proteção (por forma a evitar que durante as negociações surjam danos para a outra parte), de
informação (por forma a que ambas as partes disponham de uma informação esclarecida
sobre o objeto de negociação) e de lealdade (de onde pode resultar um dever de não romper
injustificadamente as negociações).

Caso as partes tenham omitido uma regulação negocial sobre determinados pontos, é
também com recurso a esses deveres que o intérprete deve ponderar a integração da lacuna
negocial (239º), por forma a. que a solução corresponde as expectativas das partes.

MC chegou à conclusão da divisão deste princípio em 2 postulados:


1. Tutela de confiança (exige-se num quadro de um sistema móvel um conjunto de
pressupostos para que a confiança tenha tutela jurídica).
São assim exigíveis:
− Uma situação de confiança;
− Uma justificação para essa confiança;
− Um investimento de confiança;
− A imputação da situação de confiança;

2. Primazia da materialidade subjacente (avaliação das condutas não apenas pela


conformidade com os comandos jurídicos, mas também de acordo com as suas
consequências materiais para efeitos de adequada tutela dos valores em jogo).
Realiza-se de acordo com:
− Conformidade material das condutas;
− Idoneidade valorativa;
− Equilíbrio no exercício das posições;

Princípio da responsabilidade patrimonial – Consiste na possibilidade de o credor, em


caso de não cumprimento, executar o património do devedor para obter a satisfação dos seus

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créditos. 817º vem por a disposição do credor a autoridade do Estado, sem essa autoridade
ficaria dependente da boa vontade do devedor a realização da prestação o que constitui tutela
manifestamente insuficiente para os direitos de crédito. Caso porem, a realização da prestação
já não seja possível em virtude de facto imputável ao devedor, o credor só poderá reclamaram
direito a indemnização (a responsabilidade civil pelos danos causados pelo ilícito obrigacional
que consiste na frustração do direito de crédito). É o que acontece nos casos de
incumprimento definitivo (798º e 808º) e de impossibilidade culposa de cumprimento (801º).

MC afirma que o regime fundamental da responsabilidade patrimonial no nosso direito


pode ser estabelecido através de 3 postulados principais, cada um com as suas exceções:

1. Sujeição a execução de todos os bens do devedor (601º) desta norma resulta que o
princípio da responsabilidade patrimonial é ilimitado, estendendo-se a todos os bens
do devedor excluindo os bens não suscetíveis de penhora e a situação de separação
de patrimónios. A limitação da responsabilidade patrimonial pode ainda ocorrer por
convenção das partes, ao abrigo da autonomia privada (602º e 603º). A limitação pode
ser positiva (caso em que algum credor só pode executar alguns dos bens do devedor,
mas essa limitação não ocorre para a generalidade dos credores (2071º, 602º, 603º))
ou negativa quando a lei exclui certos bens do devedor do poder de execução da
generalidade dos seus credores, só o permitindo a certos credores (1184º).;
2. E só dos bens do devedor regra geral quando limita o poder de execução ao
património do devedor, há algumas exceções como a do artigo 818º (em que há bens
de terceiro a responder pela divida, o que sucede sempre;
3. Estando os credores em pé de igualdade, esta regra implica a não hierarquização dos
direitos de crédito pela ordem da sua constituição, tendo tantos os créditos + antigos
como os + novos, a possibilidade de executar o património do devedor. Caso o
património do devedor não chegar para todos não há, em princípio, hierarquização de
credores, tendo o património do devedor que ser rateado para todos se pagarem
proporcionalmente, a isto chama-se “concurso de credores” (604º). As exceções
encontram-se no nº2 do artigo e representam casos em que o credor obtém direitos
reais de garantia, os quais atribuem ao seu titular a faculdade de ser pago à frente dos
demais credores em relação ao bem objeto do seu direito.

A consequência deste regime da responsabilidade patrimonial é a de que um credor


comum não tem em principio qualquer garantia segura de que o seu crédito possa ser
satisfeito através da execução do património do devedor. Há um duplo risco de que, na fase de
execução, os bens penhoráveis do devedor não sejam suficientes para satisfação do crédito,
este duplo risco consiste quer na possibilidade do devedor por ação ou inação fazer diminuir o
seu património, quer na eventualidade de outros credores se anteciparem aquele credor no
exercício do poder de execução e penhorarem primeiramente os bens.

É possível evitar o duplo risco da seguinte forma: 1º Quanto ao risco de variação do


património do devedor, ele pode ser evitado através da concessão aos credores da
possibilidade de reagir contra ações ou omissões do devedor de onde possa resultar a
diminuição do seu património, a lei prevê para este efeito o disposto no 605º,606º,610º e
619º. 2º Quanto ao risco de outros credores se anteciparem, ele só pode ser acautelado
atribuindo-se ao credor que pretende evitar este risco outra garantias para alem do simples
poder de execução do património. São denominadas de garantias especiais das obrigações,
estas podem ser pessoais (fazer responder outra pessoa tb pela divida, 627º) ou podem ser
reais (o credor obtém um direito real de garantia sobre determinado objeto, o que lhe permite
proceder à sua execução), 604º, nº2).

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Este princípio consiste na circunstância de que quem assume uma obrigação responde em
caso de não cumprimento com todos ou partes dos seus bens.

Conceito e estrutura da obrigação


Temos 2 realidades a tomar em consideração como possíveis objetos do direito de crédito:
− A prestação (conduta do devedor);
− O património (bens do devedor);

As teorias personalistas

O direito de crédito é um vínculo pessoal, tem por objeto a conduta do devedor. Essas
teorias podem essencialmente agrupar-se em:
1. O crédito como um direito sobre a pessoa do devedor:
O devedor permanece um sujeito da obrigação e não um objeto dela, pelo que a execução
para satisfação do direito de crédito apenas se pode fazer sobre os bens e não sobre a pessoa
do devedor.
Para Larenz, o credor só domina a atuação do devedor indiretamente através da pessoa
deste, sendo uma decisão da sua liberdade pessoal realizar a prestação ou sujeitar-se as
consequências do incumprimento. Seria, por isso, contraditório admitir a existência de um
domínio direto sobre uma atuação alheia, já que cada atuação tem a base da sua existência na
liberdade do agente e não pode consequentemente constituir objeto de um direito de outrem.

2. O crédito como um direito à prestação do devedor:


O direito de crédito consiste na faculdade de exigir de determinada pessoa a realização de
determinada conduta (prestação) em benefício de outrem, conduta que não pode ser
coercivamente exigida, mas como corresponde a um valor patrimonial, permite a execução do
património do devedor para ressarcimento do credor. O direito de crédito não incide nem
sobre o património do devedor, nem sobre a coisa a prestar, sendo antes um direito a conduta
do devedor, trata-se por isso de um direito exclusivamente pessoal, dirigido contra uma
pessoa, ainda que o valor patrimonial desta adstrição pessoal permita a execução do
património do devedor em caso de incumprimento.

As teorias realistas

Aqui, o direito de crédito não é um direito à prestação, mas antes um direito sobre o
património do devedor. Estas teorias podem conhecer diversas modalidades, “o crédito
como...:
3. Um direito sobre os bens do devedor”.

O crédito é à semelhança do direito real, um direito sobre bens, havendo apenas que
considerar que não recai sobre bens determinados, mas antes sobre todo o património do
devedor, entendido como universalidade. Nega a existência de um direito à prestação,
considerando que, por incoercível, o cumprimento da obrigação se apresenta como um ato
absolutamente libre, que não é objeto de um direito do credor. Assim, consiste apenas na
faculdade de executar o património do devedor.

4. Uma relação entre patrimónios”.


Apresenta-se como falsa, na medida em que os patrimónios são complexos de bens e
relações jurídicas apenas se estabelecem entre pessoas, não se identificando a titularidade de
um património como a representação que consiste na substituição de pessoas na celebração de
atos jurídicos;
5. Um direito à transmissão dos bens do devedor”.

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O fim da obrigação seria sempre a aquisição da propriedade, pelo que a diferença entre o
direito de crédito e o direito real residiria na circunstância de este ser exercido diretamente
sobre a coisa, enquanto naquele haveria um fenómeno de propriedade indireta, um direito a
aquisição de bens do devedor. A obrigação não envolve transmissão ou sucessão de bens, uma
vez que a prestação pode ser de facto e nem tem de possuir valor económico.

6. Expectativa da prestação, acrescida de um direito real de garantia sobre o


património do devedor”.

Acabar as teorias (mista e etc.).

Posição adotada

A obrigação não se pode considerar um direito incidente sobre os bens do devedor, sendo
antes um vínculo pessoal entre 2 sujeitos, através do qual um deles pode exigir que o outro
adote determinado comportamento em seu benefício. Direito de crédito como tendo por
objeto a prestação, negando a existência de qualquer direito do credor sobre o património do
devedor. No processo de execução, o Estado substitui-se ao devedor na satisfação do direito
de crédito, obtendo para o efeito os meios necessários através da execução do seu património.
Ao credor não e reconhecido qualquer direito sobre os bens do devedor, parecendo assim
claro que se deve reconhecer um direito subjetivo à prestação, uma vez que o devedor está
vinculado ao cumprimento, sendo que a existência de um direito apenas depende do seu
reconhecimento por uma norma, independentemente de ser garantido por uma sanção e
muito menos por uma sanção com plena eficácia.

Características da obrigação

1. Patrimonialidade

Entende-se a suscetibilidade da obrigação ser avaliável em dinheiro, tendo,


portanto, conteúdo económico. O atual CC diz que a prestação ao necessita de ter
carater pecuniário, mas deve corresponder a um interesse do credor, digno de
proteção legal (398º, nº2) Fica consagrada a admissibilidade de constituir
obrigações sem cariz patrimonial (p.e. emissão de um pedido de desculpas). As
hipóteses excluídas por não corresponderem a um interesse do credor, digno de
proteção legal são:

Para Antunes Varela – Esta norma pretende excluir do âmbito da obrigação as prestações
que correspondam a simples caprichos do devedor e as prestações que correspondam a
situações tuteladas por outras ordens normativas, como a religião moral e que não merecem,
por esse motivo, a tutela do direito.
Para MC não há obstáculos a que se constituam obrigações relativas a meros caprichos
desde que se refiram a situações jurídicas. Apenas se corresponderem a situações oriundas de
outros complexos normativos, é que não será admissível a constituição de obrigações com
esse objeto. ML concorda com esta, pois efetivamente, o interesse do credor corresponder a
um capricho para a generalidade das pessoas não exclui a sua eventual importância para o
credor e dai a admissibilidade de, através de exercício da autonomia privada, se constituir uma
obrigação com esse objeto. Apenas se a situação disser exclusivamente respeito a outras

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ordens normativas é que a sua juridicidade é excluída e dai não se poder admitir uma efetiva
constituição de obrigações.

2. Mediação ou colaboração devida

O credor não pode exercer direta e imediatamente o seu direito, necessitando da


colaboração do devedor para obter a satisfação do seu interesse. É manifesto, que
a mediação existe nas obrigações e falta nos direitos reais, já que enquanto nestes
o direito do credor se exerce diretamente sobre coisas, naquelas o direito à
prestação só e realizável através de um intermediário, que é o devedor, que se
vincula assim a prestar a colaboração necessária para que o credor obtenha a
satisfação do seu interesse.
Para MC na obrigação existe sempre uma vinculação à colaboração por parte do devedor,
sendo a colaboração devida o verdadeiro entendimento da mediação como característica do
direito de crédito;

3. Relatividade

Esta característica é suscetível de ser entidade em 2 sentidos diferentes: Através


de um prisma estrutural: Neste sentido, se refere que o direito de crédito se
estrutura com base numa relação entre o credor e o devedor;

1. O direito de crédito apresenta-se como o direito de exigir a outrem uma


prestação, consequentemente só pode ser exercido pelo seu titular, o credor,
contra outra pessoa determinada que tenha o correlativo dever de prestar, ou
seja, o devedor, estruturando-se por isso, com base numa relação jurídica entre 2
sujeitos. Apenas o devedor deve prestar e apenas dele pode o credor exigir que
realize a prestação. Daí concluir-se que o direito de crédito tem carater
estruturalmente relativo.

2. Através de um prisma de eficácia: Neste sentido se refere que o direito de crédito


apenas e eficaz contra o devedor, consequentemente só ele pode ser oposto e só
por ele pode ser violado. Dai que a obrigação não possa ter eficácia externa ou
seja perante terceiros.

Defendida por Cunha Gonçalves, afirma que o direito de crédito numa pode ser violado por
terceiros, já que, sendo direitos relativos, o terceiro não tem o dever de os respeitar. Assim, só
poderiam ser violados pelo devedor, esta solução resultaria do 406º, nº2 e a distinção entre a
responsabilidade delitual e a responsabilidade obrigacional. Esta doutrina clássica teve, porém,
desde sempre forte oposição na doutrina nacional, já que inúmeros autores, entre eles MC,
entendiam que o dever geral de respeito, que todos tem, de não lesar direitos alheios também
abrangia os direitos de crédito, que consequentemente teriam tutela delitual (483º).

3. Posição intermédia (adotada): Embora não aceite a existência de um dever geral


de respeito dos direitos de crédito, admite alguma oponibilidade dos créditos
perante terceiros, através da aplicação do princípio do abuso do direito (334º). O
terceiro poderia ser assim responsabilizado nos casos em que a sua atuação lesiva
do direito de crédito se possa considerar como um exercício inadmissível da sua
liberdade de ação ou autonomia privada. Posição adota por ML e defendida (entre
outros) por Antunes Varela onde afirma que na maioria dos casos o terceiro que
contrata com o devedor não deve ser responsabilizado pelo facto de este violar as

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suas obrigações, uma vez que faz parte da autonomia privada de cada um a
possibilidade de contrair sucessivas obrigações, mesmo que não esteja em
condições de as cumprir todas.

Por fim, conclui-se que a obrigação tem como característica a relatividade estrutural e que o
regime da responsabilidade patrimonial implica a admissibilidade de constituir direitos de
crédito incompatíveis entre sim, não tendo o direito de crédito anterior prevalência sobre o
posterior. Em certos casos, a constituição do segundo direito de crédito pode ser vista como
abusiva (334º), caso em que o terceiro poderá ser responsabilizado.

4. Autonomia

A estrutura da obrigação autónoma e não autónoma e idêntica o regime das 2


pode divergir em maior ou menos medida, o que não impede a qualificação de
ambas como verdadeiras obrigações. A autonomização do assenta precisamente
em características estruturais. A autonomia não deve ser considerada
característica das obrigações (p.e. a obrigação de pagar impostos que se apresenta
estruturalmente como obrigacional, mas e regulada pelo direito fiscal), entende-se
que devia ser acrescentado ao conceito de obrigação, referido no 397º a regulação
pelo direito das obrigações, já que as situações reguladas por outros ramos do
direito não se deveriam considerar como verdadeiras obrigações.

Distinção entre direitos de crédito e direitos reais

Os direitos reais são direitos sobre coisas, enquanto os direitos de crédito são direitos
a prestações, ou seja, direitos a uma conduta do devedor.
Se o crédito é um direito à prestação, caracteriza-se por necessitar de mediação ou
colaboração do devedor para ser exercido. Assim, mesmo quando a prestação tem por objeto
uma coisa, o credor não possui qualquer direito sobre ela, o que só sucederia se possuísse um
direito real. Tem apenas o direito a que o devedor lhe entregue a coisa.
Nos direitos reais o credor não necessita da colaboração de ninguém para exercer o seu
direito, já que este incide direta e imediatamente sobre uma coisa.

O direito de crédito assenta numa relação, o que implica que tenha de ser exercido
contra o devedor. O direito real não assenta em qualquer tipo de relação,
encontra-se desligado de relações interpessoais, dado que se exerce diretamente
sobre a coisa, podendo ser oposto a toda e qualquer pessoa (denomina-se de
oponibilidade erga omnes do direito real).

O direito de crédito é um direito relativo pelo que a sua oponibilidade a terceiros e


limitada, só podendo ocorrer em certas circunstâncias. Se alguém tem direito a uma prestação
e o devedor aliena o objeto da mesma, o credor já não a pode exigir, só lhe resta pedir uma
indemnização ao devedor por ter impossibilitado culposamente a prestação.
O direito real adere a coisa e estabelece uma vinculação tal com a mesma que dela já não
pode ser separado (inerência, que caracteriza os direitos reais. O titular da coisa pode
perseguir a coisa onde quer que ela se encontre) p.e. hipoteca sobre determinado prédio não
pode ser transferida para outro predito, o direito incide sobre aquela coisa e não pode de ela
ser separado. Outro exemplo, se alguém e proprietário de um determinado bem e outrem o

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vende a um terceiro, que por sua o torna a revender, para reclamar a coisa do seu possuidor
atual o proprietário não necessita de demonstrar invalidade de todas as transmissões,
bastando-lhe demonstrar a sua propriedade para obter a restituição da coisa, através da
reivindicação (1131º) – o direito real persegue a coisa onde quer que ela se encontre e pode
ser sempre exercido.

Os direitos reais têm prevalência, que, no seu sentido amplo, significa a prioridade
do direito real primeiramente constituído sobre posteriores constituições, salvo as
regas do registo, e a maior forca dos direitos reais sobre os direitos de crédito, o
que significa não ser possível constituir sucessivamente 2 direitos reais
incompatíveis sobre o mesmo objeto, só um podendo prevalecer. Os direitos de
crédito não se hierarquizam entre si pela ordem da constituição, antes concorrem
em pé de igualdade sobre o património do devedor que, se não for suficiente, e
rateado para se efetuar um pagamento proporcional a todos os credores (604º,
nº2). Porém, se surgirem acompanhados de um direito real que atribua
prevalência no pagamento, o direito real por ter mais forca prevalecera.

1º exemplo direitos reais: se alguém vender o mesmo objeto 2 vezes a pessoas diferentes
prevalecer a primeira alienação, ou em casos de bens sujeitos a registo, a que for 1º registada).
Exigência de requisito de legitimidade para a constituição dos direitos reais (892º), uma vez
que com a 1º alienação o vender perde a sua legitimidade para dispor do bem.
2º exemplo direitos de crédito: se alguém tiver um património no valor de 1000 euros, e
assumir sucessivamente 2 obrigações de pagar 1000 euros a 2 credores distintos, as 2
obrigações foram validamente assumidas, tendo o património do devedor que ser dividido
para pagar a cada um dos credores metade do seu crédito.

Direitos pessoais de gozo

Direitos pessoais de gozo: 407º e 1682º-A, inclui o direito do locatário (1022º), depositário
(1185º), do comodatário (1129º) e do parceiro pensador (1121º). Antunes Varela e Carvalho
Fernandes (entre outros) pronuncia-se no sentido da qualificação destes direitos como direitos
de crédito. Outros autores, como Oliveira Ascensão reconhecem, pelo menos, natureza real ao
direito do arrendatário. Foi ainda defendida na doutrina por Manuel Henriques Mesquita uma
posição intermedia. Neste caso, direitas pessoais de gozo constituiriam um Tertium genus
entre direitos de crédito e direitos reais. Em relação ao locatário, esse cariz dualista resulta do
facto de, para alguns efeitos, ele ser titular de uma verdadeira posição de soberania,
enquanto, para outro, permanece como mera contraparte num contrato. Finalmente, para
MC, numa curiosa evolução, defendeu inicialmente a natureza real de todos os direitos
pessoais de gozo, com exceção do direito depositário (1189º), passando posteriormente a
defender a tese personalista, para finalmente aderir à intermedia.

Para ML a posição intermedia devera ser rejeita. Efetivamente, a classificação entre os direitos
reais e os direitos de crédito não admite realidades intermedias. A configuração do direito
pessoal de goza como um direito misto entre os direitos de crédito e os direitos reais implica a
juncão de características contraditórias entre si. Se o direito recai imediatamente sobre uma
coisa, não necessitando da colaboração do devedor para ser exercido, não se como se pode
afirmar que e estruturalmente relativo. Se, pelo contrário, o direito se estrutura numa relação

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com o devedor, não se vê como pode não ter por objeto qualquer prestação sua, mas antes
uma coisa.

O legislador pretendeu qualificar estes direitos como direitos de crédito, estabelecendo que
embora confiram o gozo de uma coisa, esse resulta ou de uma obrigação positiva assumida
pela outra parte (locação) e pareceria pecuária (1121º) ou de uma obrigação negativa por esta
assumida (comodato) ou ainda de uma autorização eventual (deposito). A inserção sistemática
do seu regime no título relativo aos contratos em especial e não no livro dos direitos reais
indica uma intenção de qualificação destes como direitos de crédito.

Por fim, parece-nos assim de considerar que os direitos pessoais de gozo são direitos de
crédito, uma vez, que através deles o titular adquire o direito a uma prestação do devedor,
que consiste em assegurar o gozo de uma coisa corpórea, tutelável através da ação de
cumprimento. A satisfação dessa prestação pressupõe, porem a atribuição ao credor de um
direito a posse das coisas entregues, o que justifica que a lei lhe atribua as ações possessórias
para defesa dessa situação jurídica. A existência de posse nestes direitos não implica, porem, a
sua qualificação como direitos reais, uma vez que neste caso o direito ao gozo da coisa é
obtido a partir de uma prestação do devedor, resultando, portanto, de um direito de crédito.

Objeto da obrigação: A prestação

Do 397º resulta que a prestação consiste na conduta que o devedor se obriga a


desenvolver em benefício do credor, consistente na resposta à pergunta quid debeatur. A
realização da prestação pelo devedor considera-se como cumprimento, importando a extinção
da obrigação (762º, nº1);
De acordo com o 398º, nº1, a prestação pode tanto consistir numa ação como numa
omissão, sendo o seu conteúdo determinado pelas partes, dentro dos limites da lei.
A prestação muitas vezes pode não consistir na atividade que o devedor desenvolve, mas
antes no resultado dessa atividade, tendo essa medida a expressão “prestação” um duplo
significado.
No 398º, nº2 estabelece-se um requisito suplementar, referindo-nos que a prestação,
embora não necessite de ter valor pecuniário, deve corresponder a um interesse do credor,
digno de proteção legal. Estamos perante o problema da Patrimonialidade da prestação, a que
a lei deu resposta negativa, embora seja claro que a grande maioria das prestações reveste
valor patrimonial. No entanto, a fórmula utilizada permite abranger como objeto da obrigação
situações não patrimoniais, mas que correspondam a interesses do credor que mereçam
efetiva tutela jurídica, como a publicação de um pedido de desculpas em caso de difamação ou
lesão da intimidade da vida privada.

Requisitos legais da prestação- Se a obrigação resultar de um NJ, a prestação estará


naturalmente sujeita as regras relativas ao objeto negocial, que constam no 280º, tendo como
consequência a nulidade do NJ se a prestação desrespeitar algum desses limites. Caso, a
prestação seja física ou legalmente impossível, o negócio será nulo e a obrigação não se chega
a constituir, o mesmo acontece se a prestação for ilícita, indeterminável ou se a prestação se
apresentar contraria a ordem publica ou ofensiva dos bons costumes. As regras do 280º aplica-
se à prestação em articulação com o 400º e 401º.

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Não contrariedade à ordem pública e aos bons costumes

280º, nº2. MC afirma que deverão abranger na referência aos bons costumes, as regras de
conduta familiar e sexual, bem como as regras deontológicas estabelecidas no exercício de
certas profissões. Não é valido o NJ que tenha por objeto a realização de favores sexuais. À
semelhança do que acontece com a ilicitude apenas o fim das partes pode ser contrário a
ordem publica ou aos bons costumes, nesse caso o NJ será nulo, se o fim for comum a ambas
(281º).

A complexidade inter-obrigacional e os deveres acessórios de conduta

Esta complexidade justifica que se fale de obrigação em sentido estrito (397º) que apenas
abrange o binómio direito de crédito-dever de prestar e outro mais amplo que abrangeria
todo o conjunto de situações jurídicas geradas no âmbito da relação entre o credor e o
devedor. A obrigação constitui analiticamente uma realidade complexa que permite abranger:
1. O dever de efetuar a prestação principal, que por sua vez pode analiticamente
ainda ser decomposto em SUB deveres relativos a diversas condutas materiais ou
jurídicas (p.e. a situação do devedor se comprometer a entregar um automóvel).

2. Os deveres secundários de prestação, que correspondem a prestações autónomas


ainda que especificamente acordadas com o fim de complementar a prestação
principal, sem a qual não fazem sentido (p.e. O devedor alem de se obrigar a
entregar o automóvel, pode secundariamente comprometer-se a encher o
deposito ou proceder ainda a uma lavagem). Como deveres de prestação, estão
naturalmente sujeitos a ação de cumprimento (817º) e existindo um contrato
sinalagmático são abrangidos pelo sinalagma, permitindo ao credor utilizar a
exceção do não cumprimento do cotrato (428º) ou a resolução em caso de não
cumprimento (801º, nº2).

3. Os deveres acessórios, impostos através do princípio da boa-fé, que se destinam a


permitir que a execução da prestação corresponda a plena satisfação do interesse
do credor e que essa execução não implique danos para qualquer das partes. (p.e.
relações contratuais duradouras como a sociedade). De acordo com MC estes
podem classificar-se em deveres de informação, lealdade e proteção., estes
resultam do princípio da boa-fé tem por função assegurar a realização do dever de
prestação principal, em termos que permitam tutelar o interesse do credor, mas
também evitar que a realização da prestação possa provocar danos para as partes
(p.e. dentro do mesmo exemplo, o fornecedor do automóvel deve informar o
credor do funcionamento adequado). Não se concede a ação de cumprimento,
mas apenas outras sanções como indemnização pelos danos sofridos com a
violação ou eventualmente a resolução do contrato (1003º a). Estes, são
independentes do dever de prestação principal, pelo que podem surgir antes ou
após a sua extinção (deveres pré contratuais e pós contratuais) e inclusivamente
tutelar a situação de terceiros ao contrasto (eficácia e proteção em relação a
terceiros):

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4. Sujeições, como contraponto a algumas situações jurídicas potestativas que
competem ao credor; podemos incluir entre elas situações como a faculdade de
interpelação. Nas obrigações puras, que coloca o devedor na situação de mora
(805º, nº1) ou a resolução do contrato em consequência do incumprimento
(801º,nº2). Verifica-se assim que o direito de crédito, não sendo estruturalmente
um direito potestativo, pode incluir no seu seio elementos de carater potestativo.

5. Poderes ou faculdades, que o devedor por exercer perante o credor; O devedor


oferece a todo o tempo a prestação nas obrigações puras (777º, nº1) que, não
sendo aceite, importa a colocação do credor em mora (813º) e as faculdades de
determinar a prestação nas obrigações genéricas (539º) e alternativas (543º, nº2).

6. Exceções, que consistem na faculdade de paralisar eficazmente o direito de


crédito. As exceções podem incluir a prestação (303º), a exceção de não
cumprimento do contrato (428º), o benefício da excussão (638º) e o direito de
retenção (543º, nº2).

Modalidades de obrigações

Obrigações naturais – 402º, o que as caracteriza é a não exigibilidade judicial da


prestação, resumindo-se a sua tutela jurídica à possibilidade de o credor conservar a prestação
espontaneamente realizada, a que se refere o 403º. Como consequência temos o disposto no
476º, salvo no caso de o devedor não ter capacidade para realizar a prestação. Assim, se o
devedor tiver capacidade para a realizar e efetuar espontaneamente (sem qualquer coação,
403º, nº2) já não pode pedir a restituição do que prestou, mesmo que estivesse convencido,
por erro, da coercibilidade do vínculo.
Não podem ser convencionadas livremente pelas partes no exercício da sua autonomia
privada, uma vez que uma convenção nesse sentido equivaleria a uma renúncia do credor ao
direito de exigir o cumprimento, o que é vedado pelo 809º. (304º, nº2, 1245ºe o 1895º, nº2
como exemplos).
Para além disto é admitida, genericamente, em todos os casos em que se possa considerar
que o cumprimento de um dever moral ou social corresponde a um dever de justiça.
Aplica-se a estas o regime das obrigações civis em tudo o que não se relacione com a
realização coativa da prestação, salvas as exceções da lei (404º). Não lhes é aplicável o regime
das fontes das obrigações naturais e não tem cabimento a transmissão negocial das mesmas. A
exigência da espontaneidade do cumprimento desta é incompatível com a estipulação de
garantias ou mesmo com a aplicação do regime do cumprimento e do não cumprimento. Por
fim, não se podem extinguir por prescrição, uma vez que as consequências desta
correspondem precisamente em transformar uma obrigação civil em obrigação natural.
Guilherme Moreira qualifica-as como relações de facto, afirmando que “são, como a posse
em matéria de direitos reais, relações de facto de que derivam certos efeitos jurídicos, e
designadamente o de que sendo voluntariamente cumpridas, não se pode pedir a restituição
do que se haja pago, produzindo assim essas relações de facto efeitos correspondentes em
parte aos que resultam das obrigações”. Veio a ser seguida por Antunes varela ao que
acrescentou que a obrigação natural constituiria um dever oriundo de outras ordens
normativas, imperativos éticos, que apenas seriam relevantes para o direito por serem deveres

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de justiça, sendo por isso juridicamente qualificada essa atribuição como cumprimento e não
como liberdade.
José Tavares considera que constituem obrigações jurídicas imperfeitas. Explica que a não
repetição do indevido é o facto de a divida existir realmente, embora não tenha plena eficácia
jurídica por lhe faltar algum requisito previsto na lei. MC, Vaz da Serra (outros) defenderam
esta tese, afirmando que estas são verdadeiras obrigações jurídicas, sendo o seu regime
apenas diferente das restantes por a lei não permitir a sua execução.
ML afirma que a obrigação natural não constitui uma verdadeira obrigação jurídica, na
medida em que nela não existe um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fique
adstrita para com outra a realização da prestação (397º). Sem a faculdade de exigir o
cumprimento, o direito de crédito não tem conteúdo, não podendo nunca considerar-se como
um valor no ativo patrimonial do credor. Justamente por isso o cumprimento da obrigação
representa um incremento do património do credor natural à custa do património do
respetivo devedor, o que leva a que a situação se aproxime da doação, apenas dela se
distinguido pela ausência de espírito da liberdade (940). É a proximidade à liberdade e a
diferenciação das obrigações civis que justifica que o 615º, nº2 exclua da impugnação o
cumprimento das obrigações civis e o admita quanto as obrigações naturais. (Concorda com
MC)

Classificação das obrigações em função dos tipos de prestações

Prestação, ou seja, a conduta a que o devedor está vinculado. Acontece, no entanto, que essa
conduta pode consistir numa série de situações, as quais são por vezes objeto de um regime
específico. Importa, por isso, esclarecer esses regimes específicos, analisando a classificação
das obrigações em função dos tipos de prestações que, por isso, se reconduz a uma
classificação de prestações.

Prestação de coisa e prestação de facto:


1. Aquelas cujo objeto consiste na entrega de uma coisa. Pode ser distinguida a
atividade do devedor da própria coisa que existe independentemente da sua
conduta. O interesse do credor, verifica-se normalmente em relação a coisa,
que te uma existência independente da prestação, e não em relação a
atividade do devedor. Contudo, o direito de crédito nunca incide diretamente
sobre a coisa, mas antes sobre a conduta do devedor, já que se exige sempre a
mediação da atividade do devedor para o credor obter o seu direito. O credor
não tem direito sobre a coisa, só se sucede nos direitos reais, aqui só tem
direito sobre a prestação que consiste na entrega dessa coisa.

2. Aquelas que consistem na realização de uma conduta de outra ordem (alguém


se obriga a cuidar de um jardim, 1154º). Não é possível distinguir entre a
conduta do devedor e uma realidade que exista independentemente dessa
conduta. O direito do credor tem por objeto a prestação do devedor e o seu
interesse não corresponde a nenhuma realidade independente dessa
prestação. A transmissão da propriedade é considerada um mero efeito do
contrato (408º) e não resulta da entrega da coisa.

− Prestação de coisa presente

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− Prestação de coisa futura (211º) define-nos as coisas futuras como as que não
estão em poder do disponente ou a que este não tem direito, ao tempo da
declaração negocial. Galvão Telles afirma que o conceito de coisa futura é mais
amplo do que o mencionado anteriormente, abrangendo as coisas inexistentes e
as coisas ainda não autonomizadas de outras. Os bens futuros são aqueles que
não tendo existência, não possuindo autonomia própria ou não se encontrando na
disponibilidade do sujeito, são objeto de NJ na perspetiva da aquisição futura
destas características. Restrições à constituição de obrigações sobre coisas futuras
uma vez que, embora o artigo 399º admita genericamente a prestação de coisa
futura, refere logo, porém a existência de casos em que a lei proíbe. Podem ser
objetos de compra e venda, mas não podem ser de doação.
− Prestações de facto positivo (facere) são aquelas em que a prestação tem por
objeto uma ação.
− Prestações de facto negativo (non facere e de pati) são aquelas em que a
prestação tem por objeto uma omissão do devedor. Pode dever-se à não
realização de determinada conduta (non facere) ou antes a tolar a realização de
uma conduta por outrem (pati).
− Prestação de facto material, nesta a conduta que o devedor se compromete a
realizar é uma conduta puramente material não destinada à produção de efeitos
jurídicos (p.e. realizar ou não determinada obra).
− Prestação de facto jurídico , neste a conduta do devedor aparece destinada à
produção de efeitos jurídicos, sendo assim esse resultado jurídico incluído na
prestação (p.e. celebrar ou não determinado contrato). 767ºnº1
− Prestações fungíveis são aquelas em que a prestação pode ser realiza por outrem
que não o devedor, podendo assim este fazer-se substituir no cumprimento. Regra
geral, pelo que o devedor pode em princípio fazer-se substituir no cumprimento
(p.e. um advogado encarregado de um processo pode fazer-se substituir por um
colega na realização do julgamento, sem que o cliente a isso possa obstar.
Contudo, sempre que a substituição prejudique o credor, a realização da mesma
pelo terceiro não é admitida, pelo que se torna naturalmente infungível)
− Prestações infungíveis são aquelas em que só o devedor pode realizar a prestação,
não sendo permitida a sua realização por terceiro. 767º,nº2 quando a substituição
do devedor no cumprimento prejudica o credor ou quando se tenha acordado
expressamente que a prestação só pode ser realizada pelo devedor (infugiblidade
natural ou convencional).

A fungibilidade da prestação tem uma importância especial para efeito da execução


específica da obrigação. 827º,828º, 829º e 830º. Na fungível é possível a substituição do
devedor, enquanto na infungível já não é possível, para além de que estão sujeitas a um
regime específico em caso de impossibilidade da prestação, uma vez que nelas a
impossibilidade relativa à pessoa do devedor acarreta mesmo a extinção da obrigação, em
virtude de não ser admitida a sua substituição no cumprimento (791º).
− Prestações instantâneas a execução ocorre num único momento (p.e.
entrega da coisa no contrato compra e venda). Não tem o conteúdo e
extensão delimitados em função do tempo, podendo ser classificadas
como integrais só são realizadas uma vez (p.e. entrega da coisa) ou
fracionadas o seu montante global é dividido em várias frações a realizar
sucessivamente e o decurso do tempo não influi no conteúdo da
obrigação, mas apenas determina o seu vencimento. (p.e. 934º).
Distinguem-se das duradouras periódicas pois nas fracionadas está-se
perante uma única obrigação cujo objeto e divido em frações, com

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vencimentos intervalados enquanto nas periódicas se verifica uma
pluralidade de obrigações distintas, embora emergentes de um vínculo
fundamental que sucessivamente as origina, não podendo haver qualquer
fixação inicial do seu montante global, já que é o decurso do tempo que
determina o nº de prestações que é realizado.
− Prestações duradouras a execução prolonga-se no tempo, em virtude de
terem por conteúdo ou um comportamento prolongado no tempo ou uma
repetição sucessiva de prestações isolados por um período (p.e.
prestações relativas aos contratos de locação). A realização global
depende sempre do decurso de um período temporal, durante o qual a
prestação deve ser continuada ou repetida.
o Continuadas a prestação não sofre qualquer interrupção (1031º,
p.e.) ou periódicas a prestação e sucessivamente repetida em
certos períodos (1038º, p.e.).
o O decurso de tempo influi no conteúdo e extensão da obrigação,
pelo que a extinção do contrato antes do decurso do prazo implica
a não constituição da prestação relativa ao tempo posterior. O
facto destes contrato se poderem prolongar no tempo implica que
a lei deva assegurar alguma limitação a sua duração, sob pena da
liberdade económica das partes poder ficar seriamente
comprometida.
o A vinculação absoluta a um contrato de execução duradoura não
delimitado temporalmente implicaria que a parte não pudesse
celebrar durante um período longo e indefinido contratos
semelhantes com outros concorrentes limitando assim a sua
autonomia privada e pondo em causa a liberdade de concorrência
em que assenta o nosso sistema económico. Esta limitação e
realizada através do acordo prévio das partes fixando um limite
temporal ao contrato (o decurso de tempo importa a extinção do
contrato por caducidade) ou quando isso não se sucedo, através
do instituto de denuncia do contrato (instituto típico dos contratos
de execução duradoura e caracteriza-se por permitir, quando as
partes não fixam a duração do contrato, que qualquer delas
proceda à sua extinção para o futuro, através de um negócio
jurídico unilateral recpeticio), p.e 1002º,nº2. Não abrange as
prestações já executadas (434º,nº2), a resolução destes contratos
só opera normalmente para o futuro, não tendo efeito retroativo,
a menos que a causa da resolução seja reportada as prestações já
realizadas.
o Vigoram os deveres de boa-fé, deveres acessórios de proteção,
informação e lealdade em ordem a mentar uma permanente
confiança recíproca e entendimento mútuo no âmbito daquele
contrato. Caso uma das partes lesar a confiança da outra, mesmo
não incumprindo uma prestação recíproca, ela tem o direito de
resolução do contrato com fundamento em justa causa
(1002º,1140º,1150º,1194º e 1201º)
O facto de o decurso do tempo determinar o conteúdo da obrigação e não apenas o momento
em que que esta deve ser realizada é assim o que distingue as prestações duradouras das
instantâneas.

− Prestações de resultado o devedor vincula-se a obter um resultado


determinado, respondendo por incumprimento se esse resultado não fosse

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obtido (p.e. o transportador está obrigado a entregar a coisa transportada
num lugar e tempo determinado). Nestas, basta o credor demonstrar a não
verificação do resultado para estabelecer o incumprimento do devedor, sendo
que este para se exonerar de responsabilidade, teria que demonstrar a
inexecução é devida a uma coisa que não lhe é imputável e de meios o
devedor não está obrigado à obtenção do resultado, mas apenas a atuar com a
diligência necessária para que tal resultado seja obtido (p.e. o médico está
apenas obrigado a desenvolver os seus melhores esforços para que a cura do
doente seja obtida). Aqui, pelo contrário, não é suficiente a não verificação do
resultado para responsabilizar o devedor, havendo que demonstrar que a sua
conduta não correspondeu à diligência a que se tinha vinculado.
o O interesse desta distinção, em termos de regime, resulta na forma de
estabelecimento do ónus da prova.

Crítica de Gomes da Silva: Afirma que mesmo nas obrigações de meios existe vinculação a
um fim, que corresponde ao interesse do credor, e que se o fim não e obtido presume-se
sempre a culpa do devedor. Em ambos os casos aquilo a que o devedor se obriga é sempre
uma conduta (a prestação) e o credor visa sempre um resultado, que corresponde ao seu
interesse (398º,nº2). Por outro lado, ao devedor cabe sempre o ónus da prova de que realizou
a prestação (342º,nº2) ou de que a falta de cumprimento não procede de culpa sua (799º),
sem o que será sujeito de responsabilidade. Posto isto, não parece haver base no nosso direito
para distinguir entre obrigações de meios e obrigações de resultado.

− Prestações determinadas aquelas em que a prestação, enquanto objeto se


encontra completamente determina no momento da constituição da
obrigação e indeterminadas são aquelas em que a determinação da
prestação ainda não se encontra realizada, pelo que essa determinação terá
de ocorrer até ao momento do cumprimento.

Razões para a indeterminação:


o Podem resultar das partes não terem julgado necessário tomar
posição sobre o assunte em virtude de existir regra supletiva aplicável,
ou de pretenderem aplicar ao negócio as condições usuais no
mercado, 883º compra e venda e 1158º,nº2 mandato, são extensíveis
a outros contratos onerosos da transmissão de bens ou de prestação
de serviços pelos 939º e 1156º (p.e. alguém encomenda o
fornecimento de certa quantia de uma mercadoria, o facto de não ser
determinado o preço e as condições de fornecimento significa
normalmente uma referencia implícita ao preço e condições de
fornecimento habituais no mercado, o que permite que a prestação
seja determinada por esse critério (883º,nº1 + 239º);
o Podem resultar das partes terem pretendido conferir a uma delas a
faculdade de efetuar essa determinação, porque só essa parte tem os
conhecimentos necessários para o poder fazer adequadamente (p.e.
se alguém pede a um mecânico que lhe repare o seu automóvel,
apenas o mecânico pode saber que tipo de reparação é exigida e
também quanto é que deve cobrar por ela, dependo a determinação
da prestação da obtenção dessa informação – as partes podem
acordar que essa informação seja fornecida à outra parte antes da
celebração do contrato, denominando-se isto de “solicitação previa de
orçamento”, neste caso a prestação vem a ser determinada durante as

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negociações, o que permite que esteja determinada no momento da
conclusão do negócio.

280º + 400º - a prestação não precisa de se encontrar determinada no momento da


conclusão do negócio, bastando que seja determinável.

A declaração de determinação da prestação tem natureza negocial, mas não esta sujeito a
forma especial, mesmo que o contrato tenha natureza formal (221º,nº2)

As obrigações genéricas

539º - a prestação encontra-se determinada apenas por referência a uma certa


quantidade, peso ou medida de coisas dentro de um género, mas não está ainda
concretamente determinado quais os espécimes daquele género que vão servir para o
cumprimento da obrigação (p.e. obrigação de entrega de 20 garrafas (quantidade) de vinho
(género), mas ainda não estão concretizadas quais as unidades com que o devedor deverá
cumprir a obrigação).
• São bastante comuns no comércio ocorrendo quase sempre que se efetua uma
negociação sobre coisas fungíveis (207º).
• Necessário um processo de individualização dos espécimes dentro do género –
chamada escolha (400º) que cabe a ambas as partes.
• MC invoca o regime da integração dos negócios jurídicos segundo os ditames da
boa-fé, a que faz referência o 239º. Esta solução parece, no entanto, resultar
diretamente do artigo 400º que, ao estabelecer que a determinação da prestação
deve ser realizada segundo juízos de equidade, implica que esta deve ser
adequada à satisfação do interesse do credor, o que normalmente não ocorrera se
a prestação for exclusivamente determinada com coisas de qualidade inferior –
isto a propósito do cc alemão e italiano estabelecerem que o devedor tem de
entregar uma coisa de classe e qualidade media.

Momento da transferência de propriedade sobre as coisas que vão servir para o


cumprimento da obrigação (tem importância para efeitos de risco, uma vez que a regra e a de
que o risco do perecimento da coisa ocorre por conta do seu proprietário, 796º) – Não pode
ocorrer no momento de celebração do contrato conforme resulta do 408º,nº1. Um direito real
só pode ter por objeto coisas corpóreas e determinadas, pelo que um direito a uma
quantidade de coisas a escolher de um certo género seria sempre qualificado como um direito
de crédito. Há que determinar a prestação para se obter a transferência da propriedade
(408º,nº2). A transmissão da propriedade e a transferência do risco a ela associada ocorre no
momento da concentração da obrigação, ou seja, quando a obrigação passa de genérica a
especifica, não se exigindo que essa seja conhecida de ambas as partes. Quando é que ocorre
a concentração da obrigação?

• Teoria da escolha – quando o devedor procede à separação dentro do género das


coisas que pretende usar para o cumprimento da obrigação.
• Teoria do envio – exige-se que o devedor proceda ao envio para o credor das
coisas com que pretende cumprir a obrigação.

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


• Teoria da entrega – ocorre com o cumprimento da obrigação, só nesse momento
se efetuando a transferência do risco para o credor.
• A nossa lei consagrou a última teoria (defendida por JHERING) – artigo 540º -
momento da transmissão da propriedade sobre coisas genéricas. A concentração
da obrigação genérica, quando a escolha compete ao devedor, apenas se da no
momento do cumprimento, podendo até la o devedor revogar as escolhas que
anteriormente tenha realizado. Tal só não se sucedera se tiver perdido a
possibilidade material de o fazer, ou se a escolha tiver sido aceite. A lei admite,
porem, no 541º casos em que, embora cabendo a escolha ao devedor, a obrigação
se concentra antes do cumprimento. Para MC a norma deste último artigo
documenta cedências do legislador às teorias da escolha ou do envio, pelo que,
neste caso, o legislador se teria desviado da teoria da entrega. No 1º caso, não
basta a escolha do devedor, mesmo que declarada com conhecimento do credor
para concentra a obrigação, exige-se um acordo de ambas as partes, porem esse
acordo constitui um contrato modificativo da obrigação, fazendo com as partes
substituam uma obrigação genérica por uma especifica. No 2º, no caso de restar
apenas a quantidade de coisas que o devedor deve prestar a concentração ocorre
por mero facto da natureza. Não se esta perante um desvio à regra do 540º, uma
vez que caso as coisas sobrantes também desaparecessem, deixaria a prestação de
ser possível com coisas do género estipulado, pelo que o devedor estaria sempre
exonerado em virtude da impossibilidade da prestação (790º). No 3º caso, 813º,
nesta situação, se o credor, sem motivo, recursar receber a prestação ou não
pratica os atos necessários ao cumprimento da obrigação, a lei determina que a
obrigação genérica se concentra, pelo que o risco do perecimento dessas coisas
ocorrera por conta do credor. ML afirma que essa estabelecida concentração não
passa de uma ficção estabelecida para estender a aplicação as obrigações
genéricas do regime do 814º,nº1m fazendo recair sobre o credor em mora os
riscos do perecimento superveniente das coisas com que o devedor se dispunha a
prestar. Contudo, a prestação permanece genérica. Por fim, este caso não consiste
sequer numa hipótese de concentração da obrigação genérica antes do
cumprimento. Esta norma refere-se apenas as dividas de envio ou remessa, em
que o devedor não se compromete a transportar a coisa para o local do
cumprimento, mas apenas a, no local do cumprimento, colocar a coisa num meio
de transporte destinado a outro local. Estas obrigações cumprem-se no próprio
local do envio ou da remessa, ficção a obrigação extensa nesse momento em
virtude do cumprimento.
• Quando a escolha compete ao credor ou terceiro a lei adota a teoria da escolha,
542º uma vez realizada pelo credor ou pelo terceiro, passa a ser irrevogável. A
escolha por um destes concentra imediatamente a obrigação, desde que declarada
respetivamente ao devedor ou a ambas as partes. Se o credor não o fizer dentro
do prazo estabelecido ou daquele que para o efeito lhe for fixado pelo devedor, é
a este que a escolha passa a competir. Nesta situação passam a ser aplicável as
disposições do 540º e 541ºcomo se a escolha coubesse ao devedor desde o inicio.

Obrigação especifica – Tanto o género como os espécimes da prestação se encontram


determinados.

A distinção entre obrigações genéricas e especificas resulta do acordo das partes.

Obrigações alternativas

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Consistem em modalidades de prestações indeterminadas, que se caracterizam por
existirem duas ou mais prestações de natureza diferente, mas em que o devedor se exonera
com a mera realização de uma delas que, por escolha, vier a ser designada (543º) (p.e. se o
devedor se obrigar a entregar ao credor o barco X ou o automóvel Y cumpre a obrigação se
entregar um dos objetos. As 2 prestações encontram-se em alternativa, mas apenas uma é
concretizável. Na falta de determinação em contrário a escolha pertence ao devedor (543º,
nº2), mas pode também competir ao credor ou a terceiro (549º). Apesar de existirem 2
prestações, o devedor tem apenas uma obrigação e o credor apenas um direito de crédito.

Não são obrigações alternativas aquelas em que só exista uma prestação, mas se possa
escolher a forma da sua execução, designadamente em termos de lugar e prazo, bem como
aquelas em que se estabelece uma alternativa condicional, realizando-se uma prestação em
caso de verificação da condição e outra em caso da sua não verificação, não pode ainda ser
realizada parte da prestação, isto é, parte de uma ou parte de outra (544º).
Quando a escolha compete ao devedor a determinação só ocorrera no momento de
cumprimento? Não, 408º,nº2. É a designação do devedor, desde que conhecida da outra
parte, que determina a prestação devida (543º,nº1 e 548º). Não é permitido ao devedor a
revogação posterior da escolha efetuada, pois após a realização da escolha, ele só se exonera
efetuando a prestação escolhida. A escolha é igualmente irrevogável quando compete ao
credor ou terceiro, por remissão do 549º para o 542º.
Se alguma das partes não realizar a escolha no tempo devido a lei prevê a devolução dessa
faculdade a outra parte (542º, nº2, 549º e 548º).
Se a escolha couber ao credor e ele não fizer no prazo estipulado ou naquele que para o
efeito foi fixado pelo devedor, a escolha passa imediatamente a competir a este.
Obrigações com faculdade alternativa abrangem apenas uma prestação, ainda que a
outra parte tenha a faculdade de a substituir (onde a prestação já se encontra determinada,
mas de ao devedor a possibilidade de substituir o objeto da prestação por outro) não se
confundem com as obrigações alternativas o direito do credor abrange 2 prestações em
alternativa.

Regime especial em sede de impossibilidade da prestação quando esta se verifica antes


da escolha ter ocorrido.
• Impossibilidade causal – não é imputável a nenhuma das partes – 545º - uma vez
que a prestação ainda esta indeterminada, por não ter ocorrido a escolha, a
propriedade sobre qualquer dos objetos da obrigação alternativa ainda não se
transmitiu para o credor, pelo que o risco pelo perecimento causa de alguma das
prestações corre por conta do devedor (p.e. o devedor compromete-se a entregar
ao credor o carro X ou o barco Y e este ultimo naufraga, é o devedor que tem que
suportar esse prejuízo, devendo entregar ao credor o carro X. Em virtude da
impossibilidade causal ocorre um fenómeno de redução da obrigação alternativa à
prestação que ainda seja possível.
• Impossibilidade imputável ao devedor – 546º- se a escolha lhe competir, ele deve
efetuar uma das prestações possíveis (a impossibilidade é causada pela parte a
quem compete a escolha, pelo que a faculdade de escolha da outra parte não é
afetada) se competir ao credor, ele pode exigir uma das prestações possíveis, ou
exigir a indemnização pelos danos de não ter sido realizada a prestação que se
tornou impossível, ou resolver o contrato nos termos gerais (nesta, não é apenas
afetada uma das prestações, mas também o direito da outra parte a realizar a
escolha, pelo que a lei atribui em alternativa a indemnização ou a resolução do
contrato)

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• Impossibilidade imputável ao credor - 547º - se a escolha pertence ao credor,
considera-se a obrigação como cumprida, pois o devedor não tinha a faculdade de
escolher e a atitude do credor, ao impossibilitar culposamente uma das
prestações, deve ser equiparada à situação dele a escolher. Se a escolha pertencer
ao devedor, a obrigação também se considera como cumprida, a menos que o
devedor prefira realizar outra prestação e ser indemnizado dos danos que haja
sofrido, a atitude do credor implica impossibilitação da escolha pelo devedor, pelo
que se concede ainda a este a alternativa de optar pela indemnização.
• A lei não resolve o problema de a impossibilidade ser imputável a uma das partes
e a escolha caber a terceiro. Antunes Varela defende que se a impossibilidade é
imputável ao devedor (546º) e a escolha incumbe a terceiro, caberá ao terceiro
escolher entre realizar uma das prestações possíveis ou pedir indemnização pelos
danos resultantes de não ter sido realizada a prestação que se tornou impossível.
O terceiro já não poderia optar pela resolução do contrato, pois essa é uma faculdade que
é atribuída em exclusivo ao credor. Quando este for imputável ao credor e a escolha pertencer
a terceiro, caberá ao terceiro escolher considerar cumprida a obrigação ou determinar ao
devedor que realiza a prestação possível e peça a indemnização.
MC afirma que quando a obrigação se torna impossível, o terceiro perde a faculdade de
realizar a escolha, uma vez que ele só pode escolher entre 2 prestações possíveis e não entre
uma prestação e uma indeminização. Existem 2 opções:
− Se a escolha pertencer a terceiro e a impossibilidade for imputável ao devedor
deve passar a ser o credor que escolhera entre exigir a prestação possível, a
indemnização ou a resolução do contrato.
− Se pertencer a terceiro e a impossibilidade for imputável ao credor, devera
passar a ser o devedor a escolher entre considerar cumprida a obrigação ou
realizar outra prestação, exigindo simultaneamente uma indemnização.
Assim o terceiro escolhe entre prestações possíveis, passando a escolha a caber as partes,
quando se verifica a impossibilidade de uma das prestações. ML concorda.

Obrigações pecuniárias

Têm dinheiro por objeto, visando proporcionar ao credor o valor que as respetivas
espécies monetárias possuam. Estes requisitos são cumulativos.
O dinheiro assegura na ordem económica simultaneamente as funções de:
− Meio geral de trocas – advém do facto do dinheiro em função do seu poder de
compra, ser utilizado para efeitos e alienação de bens e serviços, funcionado como
meio intermediador da circulação desses bens.
− Meio legal de pagamento – resulta do facto de, por força de uma disposição legal,
ser atribuída eficácia liberatória à entrega de espécies monetárias em pegamento
das obrigações pecuniárias, vinculando-se o credor a sua aceitação.
− Unidade de conta – resulta do facto de, sendo o valor da moeda relativamente
estável, poder ser utilizado como medida do valor dos bens e serviços de qualquer
tipo.

Não estamos perante obrigação pecuniária se têm dinheiro por objeto, mas não visa
proporcionar ao credor o valor dele, bem como se a obrigação visar apenas proporcionar ao
credor um valor económico, não tendo assim por objeto a entrega de quantias em dinheiro
(dívida de valor, caracteriza-se por ter valor fixo, que não sofre alteração em caso de

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desvalorização da moeda, não suportando assim o credor o risco correspondente. Terá de ser
em algum momento liquidada em dinheiro, nesse momento converter-se-á em obrigação
pecuniária).
Subdividem-se em 3 modalidades:
− Obrigações de quantidade;
Têm por objeto uma quantidade de moeda com curso legal no país, que atualmente é o
euro. O regime destas consta no 550º, do qual podemos retirar dois princípios reguladores:
1. O principio do curso legal – Significa que o cumprimento das obrigações
pecuniárias se deve realizar apenas com espécies monetárias (moedas ou
notas) a que o Estado reconheça. Função liberatória genérica, cuja aceitação é
obrigatória para os particulares. 541º - o devedor não fica liberado pelo facto
de não possuir dinheiro para efetuar o pagamento. A impossibilidade
económica do devedor não é causa de extinção da obrigação, dado o facto de
enquanto existir moeda com curso legal subsistir o género acordado para o
pagamento.
2. O principio do nominalismo monetário – Um euro é sempre igual a um euro.
A moeda além de valor nominal, facial ou extrínseco, corresponde às unidades
monetárias nela referida. Possuiu valor de troca (corresponde à quantidade de
bens que pode adquirir – valor de troca interno, ou à quantidade em moeda
estrangeira pela qual pode ser trocada – valor de troca externo). Deste resulta
como consequência que uma obrigação pecuniária com um longo prazo de
cumprimento acarreta um risco de desvalorização da moeda, com a inerente
perda do seu poder de compra, e que esse risco é suportado pelo credor, já
que o devedor se libera com a simples entrega da quantia monetária
convencionada. Exceções – As partes podem convencionar coisas diferentes,
atendendo a supletividade do 550º (p.e. 1077º, nº1 – convecção das rendas
escalonadas – as partes podem estipular, ao abrigo da autonomia privada,
formas de atualização da prestação. Nas situações periódicas a própria lei vem
prever a atualização das obrigações pecuniárias.

− Obrigações em moeda especifica – Situações em que a obrigação pecuniária é


convencionalmente limitada a espécies metálicas ou ao valor delas, afastando-se
assim por via contratual a possibilidade do pagamento em notas. O legislador não
exclui a possibilidade de as partes convencionarem que o cumprimento se fara em
moeda especifica (552º), o que permite assegurar a validade destas cláusulas,
sempre que a lei não as proíba. Podem permitir uma defesa das partes contra a
possibilidade de desvalorização da moeda. Obrigações em certa espécie
monetária e obrigações em valor de uma espécie monetária. 553º + 554º

− Obrigações em moeda estrangeira – A prestação e estipulada em relação a


espécies monetárias que tem curso legal apenas no estrangeiro. Esta e comum,
sempre que as partes pretendam acautelar-se contra uma eventual desvalorização
da moeda europeia ou especular com a eventual subida de valor da moeda
estrangeira. A doutrina distingue: Obrigações valutárias próprias ou puras –
Verifica-se que o próprio cumprimento da obrigação só pode ser realizado em
moeda estrangeira. obrigações valutárias improprias ou impuras – A estipulação
da moeda estrangeira funciona apenas como unidade de referencia para
determinar, através do cambio de determinada data, a quantidade de moeda
nacional devida – o cumprimento tem de ser obrigatoriamente realizado em
moeda nacional. Ainda se verifica a questão do 558º a que a doutrina chama de
obrigação valutárias mista – consiste na situação de ser estipulado o cumprimento
em espécies monetárias que possuem curso legal apenas no estrangeiro, mas

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


admite-se a possibilidade do devedor realizar o pagamento na moeda nacional
com base no cambio da data de cumprimento (esta possibilidade e restrita ao
devedor, constituindo por isso uma obrigação com faculdade alternativa, já que o
credor apenas pode exigir o cumprimento na moeda estipulada.

Obrigações de juros

Correspondem à remuneração da cedência da entrega de coisas fungíveis (capital) por um


certo lapso de tempo. Aparece como uma obrigação que se constitui tendo como referencia
uma outra obrigação (de entrega ou restituição do capital) e constitui economicamente um
rendimento desse mesmo capital. São duas obrigações distintas já que a partir do momento
em que se constitui, o credito de juros adquire autonomia em relação ao credito de capital,
podendo qualquer deles ser cedido ou extinguir-se sem o outro – 561º

• A lei caracteriza os juros como frutos civis – 212º, nº2 – uma vez que são frutos das
coisas fungíveis, produzidos periodicamente em virtude de uma relação jurídica.
• O juro é calculado em função do lapso de tempo correspondente à utilização do capital
– representam assim uma prestação devida como compensação ou indemnização pela
privação temporária de uma quantidade de coisas fungíveis denominada capital e pelo
risco de reembolso desta.
1. Juros legais – 559º, nº1. São aplicáveis sempre que haja normas legais que
determinem a atribuição de juros em consequência do diferimento na realização de
uma prestação – 806º. Funciona ainda supletivamente sempre que as partes estipulem
a atribuição de juros sem determinarem a sua taxa ou quantitativo – 559º, nº1.
2. Juros convencionais - São aqueles em que a sua taxa é estipulada pelas partes. A lei
coloca alguns limites à liberdade de estipulação das partes: 1146º (estendido a todas
as obrigações de juros pelo 559º). Caso as partes estipulem juros que ultrapassem os
limites do artigo supramencionado, a lei determina em derrogação ao 292º, a fixação
dos juros nesses montantes máximos, ainda que tivesse sido outra a vontade dos
contraentes.
3. Juros remuneratórios – Finalidade remuneratória, correspondente ao preço do
empréstimo do dinheiro. O credor priva-se do capital por tê-lo cedido ao devedor por
meio de mutuo, exigindo uma remuneração por essa cedência (1145º, nº1).
4. Juros compensatórios – Destinam-se a proporcionar ao credor um pagamento que
compense uma temporária privação do capital, que ele não deveria ter suportado
(480º e 1167º, c).
5. Juros moratórios – Tem uma natureza indemnizatória dos danos causados pela mora,
visando recompensar o credor pelos prejuízos sofridos, em virtude do retardamento
no cumprimento -806º.
6. Juros indemnizatórios – Destinam-se a indemnizar os danos sofridos por outro facto
praticado pelo devedor.
• É proibido o anatocismo (cobrança de juros sobre juros), uma vez que essa
cobrança poderia ser uma forma indireta de violar a proibição da cobrança de
juros usurários.
• A lei consagra a regra de que o juro não vence juros, a menos que haja convenção
posterior ao vencimento, ou seja efetuada uma notificação judicial ao devedor
para capitalizar os juros ou proceder ao seu pagamento, sob pena de capitalização
– 560º, nº1. Só aqui e que ocorre a capitalização de juros e mesmo assim só

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


podem ser capitalizados os juros do 560º, nº2. A lei determina que não são
aplicáveis estas restrições nos casos do nº3, do 560º.

Indeterminação e pluralidade de partes na relação obrigacional

Indeterminação do credor
511º - o devedor é obrigatoriamente determinado logo quando a obrigação é constituída.

• Pode resultar de se aguardar a verificação de um determinado facto futuro e


incerto (p.e. 459º) ou em virtude da ligação entre o credor e a relação obrigacional
se apresentar como indireta ou mediata (p.e. títulos do portador, como bilhetes de
lotaria) , sendo essa qualidade determinada através de uma relação de natureza
diferente (a posse ou propriedade de uma coisa).
• Aquando da constituição da obrigação não se sabe quem vira a ser o credor da
obrigação, embora este seja determinável.

A pluralidade de partes na relação obrigacional

A definição legal de obrigação refere-se a uma obrigação singular, na medida de em que


nela apenas se menciona um credor e um devedor. A obrigação pode ainda constituir-se
abrangendo uma vinculação de varias pessoas para com outra (pluralidade passiva) ou uma
vinculação de uma pessoa para outras (pluralidade ativa) ou ainda de varias pessoas para com
outras (pluralidade mista). Em todas estas situações o objeto da obrigação (a realização da
prestação) pode ser o mesmo, mas varia o nº de pessoas que se vincula a esse comportamento
ou que tem direito de o exigir.
1. 2 sujeitos – obrigação singular;
2. + do que 2 sujeitos – obrigação plural. Estas colocam o problema de determinar como
se processa a contribuição dos diversos devedores para a realização da prestação a
que estão vinculados e em que termos pode cada um dos credores exigir a mesma.
Essa questão tem resposta muda consoante a modalidade de obrigações plurais em
questão.

Obrigações conjuntas ou parciárias

Cada um dos devedores só está vinculado a prestar ao credor ou credores a sua parte na
prestação e cada um dos credores só pode exigir do devedor ou devedores a parte que lhe
cabe. A prestação é assim realizada por partes, prestando cada um dos devedores a parte a
que se vinculou e não recebendo cada um dos credores mais do que aquilo que lhe compete –
786º, nº3.

Obrigações solidarias

Caracterizam-se pelo facto de nelas qualquer um dos devedores estar obrigado perante o
credor a realizar a prestação integral (solidariedade passiva) ou ainda por qualquer um dos
credores poder exigir do devedor a prestação integral (solidariedade ativa) ou ainda pelo facto

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


de qualquer um dos credores poder exigir a qualquer um dos devedores a prestação devida
por todos os devedores a todos os credores (solidariedade mista)- 512º e ss.

1. Solidariedade passiva - A prestação integral por um dos devedores libera todos os


outros devedores em relação ao credor – 512º - adquirindo depois aquele
devedor um direito de regresso sobre os outros para exigir a parte que lhes
compete na obrigação – 524º.
Relações externas-
• Em relação ao credor, a solidariedade caracteriza-se por uma maior eficácia do seu
direito, que se pode exercer integralmente contra qualquer um dos devedores (512º,
nº1 + 519, nº1), não podendo estes, uma vez demandados pela totalidade da divida,
vir invocar o beneficio da divisão (518º), tendo assim de satisfazer a prestação integral.
O credor não pode repetir a pretensão perante os vários devedores, uma vez que a
exigência da totalidade ou de parte da prestação a um dos devedores impede o credor
de exercer nessa parte o seu direito contra os restantes (exceto se for caso de
insolvência ou risco de insolvência do demandado – 519º, nº1). Se, porém, um dos
devedores opõe eficazmente ao credor um meio de defesa pessoal, continua ele a
poder reclamar dos outros a prestação integral (519º, nº2). O credor pode, no entanto,
em lugar de aproveitar dos benefícios deste regime, optar por demandar
conjuntamente todos os devedores, caso em que renuncia à solidariedade (517º). É
ainda admitida a possibilidade de o credor renunciar à solidariedade apenas a favor de
algum dos devedores, caso em que conserva o direito à prestação por inteiro sobre os
restantes (527º).
• Em relação aos devedores, 523º. Outras causas de extinção da obrigação, que incidem
sobre a totalidade da divida, 790º, 864º, nº1, 869º, nº1 dá-se uma extinção parcial da
obrigação limitada à parte daquele devedor. Se a prestação vier a não ser cumprida
por facto imputável a um dos devedores – 520º. Quanto aos meios de defesa – 514º,
nº1.
Relações internas-
• Entre os devedores, a solidariedade caracteriza-se pelo 524º. O direito do regresso do
devedor que realizou a prestação é, assim, limitado à parte de cada um dos outros
devedores na obrigação comum, não se estendendo, portanto, o regime da
solidariedade às relações internas. O devedor que pagou não suporta integralmente o
risco de insolvência – 526º, nº1. Esse beneficio de repartição deixa de aproveitar 526º,
nº2. Os meios de defesa que cada um dos condevedores possuía em relação ao
cumprimento da obrigação, quer sejam comuns, quer pessoais do demandado, podem
ser igualmente opostos ao credor de regresso- 525º, nº1 – a menos que, sendo um
meio comum de defesa, não tivesse sido oportunamente utilizado por culpa desse
devedor – 525º, nº2. Especialmente quando à prescrição, esta não e oponível ao
credor de regresso se, por não ter ela ainda decorrido em relação a ele, este vier a ser
obrigado a cumprir a obrigação, apesar de prescritas as obrigações dos outros
condevedores – 521º, nº1, mas já lhe será oponível se o cumprimento da obrigação se
verificou apenas em virtude de ele não ter invocado a prescrição – 521º, nº2.

2. Solidariedade ativa - A realização integral da prestação a um dos credores libera o


devedor no confronto com todos os credores – 512º- embora o credor que
recebeu mais do que lhe compete esteja obrigado a satisfazer aos outros a parte
que lhes cabe no crédito comum – 533º.

Relações internas
Relações externas

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


• Em relação aos credores – caracteriza-se pela circunstância de apenas um deles pode
exigir, por si só, a prestação integral, liberando.se o devedor perante todos com a
realização da prestação a qualquer um dos credores – 512º, nº1. 528º, nº1 e 2. Os
credores solidários podem, porém, optar por demandar conjuntamente o devedor,
podendo este igualmente demandar conjuntamente os seus credores – 517º, nº2.
• Em relação ao devedor – 532º. Outra causas de extinção da obrigação, que incidirem
sobre a totalidade da dívida, como a impossibilidade objetiva da prestação - 790º -
exoneram naturalmente o devedor perante todos os credores. Se a divida se extinguir
apenas em relação a um dos credores, como sucede na remissão concedida apenas
por um dos credores – 864º,nº3 – ou na confusão apenas com o credito deste –
869º,nº2 – dá-se uma extinção parcial do credito limitada à parte daquele credor. Já se
a prestação vier a ser não cumprida por facto imputável ao devedor

3. Solidariedade mista – Ocorrem as 2 situações acima descritas, pelo que a


realização integral da prestação por um dos devedores a um dos credores libera
todos os devedores em relação a todos os credores. Neste caso, o devedor que
realizou a prestação tem direito de regresso sobre os outros devedores pela parte
que a estes compete e o credor que recebeu a prestação esta obrigado a entregar
aos restantes credores a parte que a estes compete.

Características da solidariedade são:


− A identidade da prestação em relação a todos os sujeitos da obrigação;
− A extensão integral do dever de prestar ou do direito à prestação em relação
respetivamente a todos os devedores ou credores;
− O efeito extintivo comum da obrigação caso se verifique uma realização do
cumprimento por um ou apenas um deles.

Perante um caso de pluralidade de sujeitos na relação obrigacional, devemos aplicar o


regime da solidariedade ou o da conjunção?
513º, porém se nada tiver sido estipulado pelas partes nem resultar da própria lei, a regra
não e esta, mas a conjunção.
Exceções: 467º,497º 507º, 649º, 1139º, 1169º aplica-se a solidariedade passiva (tem
diversas consequências em termos de regime, as quais podem ser separadamente analisadas
no âmbito das relações entre o credor e dos diversos devedores (relações externas) ou no
âmbito das relações dos diversos devedores entre si (relações internas).

Obrigações plurais indivisíveis

Artigo 535º p.e. se A B e C se comprometem a entregar um automóvel a D, o credor não


poderá exigir apenas de um deles a realização de uma parte da prestação, uma vez que essa
situação implicaria a destruição do objeto da prestação. A prestação tem, por isso, que ser
exigida de todos os devedores simultaneamente. No entanto, se tiver sido estipulada a
solidariedade já será permitido a D exigir apenas de A entrega do automóvel.

As obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores apresentam um regime especial:


1º A situação da extinção da obrigação em relação a algum dos obrigados, caso isto aconteça,
o credor não fica inibido de exigir a prestação dos restantes, contando que lhes entregue o
valor da parte que caiba ao devedor ou devedores exonerados (536º) – não acarreta a extinção
integral da obrigação.

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


O contrato

Acordo vinculativo assente sobre 2 ou mais declarações de vontade contrapostas, mas


perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma regulamentação unitária
dos interesses. MC propôs a distinção entre negócios unilaterais e contratos baseado nos
efeitos que venham a ser desencadeados, referindo que nos negócios unilaterais os efeitos
não diferenciam as pessoas que eventualmente neles tenham intervindo, pelo que tende neles
a haver uma única pessoa, uma única declaração ou um único interesse. Pelo contrario nos
contratos os efeitos diferenciam duas ou mais pessoas, isto é: fazem surgir, a cargo de cada
interveniente, regras próprias que devam ser cumpridas e possam ser violadas
independentemente umas das outras.
Contudo, foi considerado que o que permite distinguir estes 2 é o modo da sua formação. No
negocio unilateral há apenas uma única declaração negocial, da qual resultam todos os efeitos
jurídicos estipulados, independentemente de ter um único autor ou vários. No contrato, a
emissão de apenas uma das declarações negociais não se apresenta como suficiente para a
produção de efeitos jurídicos estipulados, uma vez que a lei os faz depender da emissão de
uma segunda declaração negocial contrapostas integralmente concordante com a primeira
(232º). O contrato assume-se assim como o resultado de 2 ou mais declarações negociais
contrapostas, mas integralmente concordantes entre si, de onde resulta uma unitária
estipulação dos efeitos jurídicos.

Modalidades de contratos:
Quanto à forma – 219º e ss.
Quanto ao modo de formação – reais quoad constitutionem (a exigência da tradição da coisa
para a constituição destes contratos costuma ser referida na descrição do tipo contratual e do
facto de no seu regime não se prever a obrigação de entrega da coisa) vs consensuais.
Discussão doutrinária: Tem sido levanta a questão de saber se a exigência de tradição da coisa
para a constituição de certos contratos desempenharia, no direito atual, alguma função útil e
se as partes não poderiam, ao abrigo da sua autonomia privada, dispensar este requisito – Vaz
Serra, Mota Pinto, MC e Carvalho Fernandes (é excluído o penhor das coisas). Pires de Lima e
Antunes varela negam a possibilidade de dispensar o requisito.
No atual direito é recusada a possibilidade destes contratos se constituírem como consensuais.
Quanto aos efeitos – Distinção de contratos consoante o tipo de situações jurídicas a que dão
origem. Obrigacionais (reconduzem-se à criação de direitos de crédito e obrigações, sendo a
sua eficácia sobre a esfera jurídica das partes imediata) e reais (pode suceder que a sua
eficácia não seja imediata, o que sucede sempre que não estejam preenchidos, no momento
da celebração do contrato, os requisitos necessários para que o contrato dê origem a uma
situação jurídica de natureza real). A transmissão dos direitos reais ocorre apenas em virtude
do próprio contrato, não ficando dependente de qualquer ato posterior.
A cláusula de reserva de propriedade- 409º. Implica que por acordo entre o vendedor e o
comprador, a transmissão da propriedade fique diferida para o momento do pagamento
integral do preço. A função desse acordo não é permitir ao vendedor a continuação do gozo
sobre o bem, mas apenas defende o vendedor de eventuais consequências do incumprimento
do comprador. Em caso de incumprimento por parte do comprador, o vendedor continua a
poder resolver o contrato nos termos do 801º, nº2 uma vez que a exclusão deste direito pelo
886º só se verifica se tiver ocorrido a transmissão da propriedade da coisa.
Discussão doutrinária: Pode perguntar-se qual a posição jurídica do comprado relativamente à
coisa, a partir do momento em que é celebrada a clausula de reserva de propriedade. A
posição tradicional da doutrina (defendida por Antunes Varela) é a de que a reserva de
propriedade deveria ser qualificada com uma condição suspensiva, na media de em que a
transmissão da propriedade ficaria subordinada a um facto futuro e incerto (pagamento do

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


preço) o que permitiria ver a posição jurídica do comprador como a de adquirente condicional.
Permite aplicar o 273º e 274º ao comprador podendo daí resultar o risco de perecimento da
coisa.
Sinalagmáticos e não sinalagmáticos- MC pretende ainda ser possível autonomizar desta a
classificação entre contratos Monovinculantes e Bivinculantes, consoante apenas uma das
partes fique vinculada ou a vinculação exista em relação a ambas, como exemplo 411º
(considera existir sinalagma por implicar prestações correlativas, já que para o contrato
definitivo se formar exige a declaração de ambas as partes e neste caso seria Monovinculantes
já que apenas uma das partes ficara vinculada a ter de celebrar o contrato definitivo, enquanto
a outra pode decidir se quer ou não a promessa, a qual, a surgir vincula as 2).
A obrigação de entrega da coisa para o vendedor e a obrigação de pagamento do preço para o
comprador – sinalagmático. O surgimento deste nexo entre 2 prestações no momento de
celebração do cotrato denomina-se sinalagma genético enquanto do surgimento deste
mesmo nexo entre 2 obrigações retira a lei como consequência a imposição de uma
interdependência entre as 2 prestações, que se deve manter durante toda a vida do contrato –
sinalagma funcional.
Este nexo tem fundamento na exigência de justiça comutativa que veda o desequilíbrio
contratual que seria gerado pela realização apenas de uma das prestações, sem que a outra
fosse igualmente realizada.
Onerosos e gratuitos - Quando implica atribuições patrimoniais para ambas as partes vs
quando implica atribuições patrimoniais para apenas uma delas. No caso de contrato a favor
de terceiro, o promitente que realiza a prestação ao terceiro não recebe qualquer
contrapartida deste, mas pode vir a recebê-la do promissário. Quando o contrato institui uma
relação triangular pode ser simultaneamente oneroso e gratuito.
Comutativos e aleatórios – Restrito aos contratos onerosos, uma vez que toma sempre por
base a possibilidade de existência de 2 atribuições patrimoniais. Comutativo quando ambas as
atribuições se apresentem como certas e aleatório quando pelo menos 1 das atribuições se
apresente como incerta (p.e. 1238º, 1245º)
Nominados e inominados- Quando a lei o reconhece como categoria jurídica através de
nomen iuris vs. Quando a lei não o designa (este último é sempre atípico).
Típicos e atípicos- Quando o seu regime se encontra previsto na lei vs quando tal não se
sucede. A atipicidade legal pode, porém, ocorrer relativamente a certos contratos que, apesar
de não estarem regulados na lei, são amplamente conhecidos na prática jurídico, levando a
que pela sua simples designação as partes identifiquem um regime, que essa prática teria
vindo a impor- tipicidade social, que acaba pode desencadear um posterior reconhecimento
pelo legislador.
Mistos- Aquele que reúne em si regras de 2 contratos total ou parcialmente típicos,
assumindo-se dessa forma como um contrato atípico, por não corresponder integralmente a
nenhum tipo contratual regulado por lei. Podem ser:
• Múltiplos ou combinados – As partes estipulam que uma delas deve realizar
prestações correspondentes a dois contratos típicos distintos, enquanto a outra realiza
uma única contra prestação comum (p.e. A vende um carro a B e simultaneamente
compromete-se a conduzi-lo, contra uma única contra prestação (compra e venda e
prestação de serviços);
• De tipo duplo ou geminados – Uma parte encontra-se obrigada a uma prestação típica
de certo tipo contratual, enquanto a contraparte se encontra obrigada a uma
contraprestação oriunda de outro tipo contratual (p.e. A arrenda a casa a B, mas B tem
de realizar serviços de limpeza do prédio (Arrendamento e prestação de serviços).
Surge uma prestação típica do contrato de arrendamento e de prestação de serviços,
mas não surgem as contraprestações típicas destes contratos, ocorrendo assim uma
situação de contrato misto.

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


• Mistos stricto sensu, cumulativos ou indiretos – É usada uma estrutura própria de um
tipo contratual para preencher uma função típica de outro tipo contratual (p.e. A
vende a casa a B por 1000 euros, a estrutura utilizada é típica de um contrato de
compra e venda, mas o preço é tão baixo, que assume cariz meramente simbólico,
desempenhado por isso o contrato a função própria da doação.
• Complementares – São adotados os elementos essenciais de um determinado
contrato, mas aparecem acessoriamente elementos típicos de outro ou outros
contratos (p.e. A vende um carro a B, mas A fica obrigado a realizar a manutenção do
veiculo – compra e venda e prestação de serviços acessória).

Galvão Telles sustentou que os contratos múltiplos ou combinados de tipo duplo ou


geminados se deveriam reger pela teoria da combinação (sustenta que o conflito entre
regimes contatuais não deve ser resolvido pela opção a favor de um dele, mas antes se deve
realizar uma aplicação combinada dos dois regimes), enquanto os contratos complementares
se deveriam reger pela teoria da absorção (vem defender que o conflito de regimes
contratuais suscitado pelos contratos mistos deve ser resolvido pela opção a favor de um único
regime contratual – o que se pudesse considerar predominante – o qual absorveria as
regulações respeitantes aos outros tipos contratuais). MC defendeu inicialmente uma
aplicação menos rígida da solução proposta por GT, entendendo que a ponderação concreta
de cada contrato misto poderá ditar uma solução diferente da resultante daquele modelo
abstrato. Mais tarde, veio defender a aplicação preferencial da teoria da absorção, admitindo
subsidariamente o recurso a combinação ou a analogia quando a aplicação daquela teoria seja
afastada por normas injuntivas, vontade das partes em contrario ou se torne inviável.

A união de contratos

Verifica-se a celebração conjunta de diversos contratos unidos entre si. Permite que cada
contrato mantenha a sua autonomia, possibilitando a sua individualização em face do
conjunto. Como existe alguma ligação entre os diversos contratos, esse nexo justifica que se
falei, não em vários contratos, mas em união da contratos. São admitidas as seguintes formas
de união de contratos:
• União externa – A ligação entre os diversos contratos resulta apenas da circunstancia
de serem celebrados ao mesmo tempo, já que as partes não estabeleceram qualquer
nexo de dependência entre os diversos contratos (p.e. se alguém vai a um café pede
tabaco, um café e um bolo, existem 3 contratos, mas cada um conserva a sua
autonomia entre si, só existindo a união de contratos pelo facto de os 3 serem
celebrados ao mesmo tempo).
• União interna – Aqui, os 2 contratos apresentam-se ligados entre si por uma relação
de dependência, já que na altura da sua celebração uma das partes estabeleceu que
não aceitaria celebrar um dos contratos sem o outro. A dependência pode ser
unilateral quando apenas 1 dos contratos depende do outro ou bilateral quando
ambos os contratos se encontram dependentes entre si. (p.e. alguém determina que
só adquire determinado computador se simultaneamente lhe for vendida uma
impressora).
• União alternativa – As partes declaram pretender ou um ou outro contrato, consoante
ocorra ou não a verificação de determinada condição. A verificação da condição
implica assim a produção de efeitos de um dos contratos, enquanto exclui a produção
de efeitos do outro. (p.e. determinado trabalhador celebra dois contratos de
arrendamento, um em lisboa e outro no porto, com a condição de só vigorar o
arrendamento se for estabelecido pela sua entidade patronal o seu local de trabalho

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na respetiva cidade, coisa que ainda não se sabe. Temos provisoriamente, uma
situação de união alternativa de contratos, que se dissolverá, com a extinção de um
dos contratos, quando se souber em qual dos dois locais o trabalhador foi colocado).

Os contratos preliminares

Aqueles cuja execução pressupõe a celebração de outros contratos. Neste âmbito,


adquirem relevância especial o contrato promessa (410º) e o pacto de preferência (414º) onde
se verifica, respetivamente a assunção da obrigação de celebração de um futuro contrato. MC
designa por contratação mitigada o fenómeno em que falta a efetiva vinculação a uma
obrigação, embora as partes assumam certos compromissos durante a fase das negociações.
• Cartão de intenção – expressão da intenção de celebração de um contrato futuro,
sem assunção de uma obrigação nesse sentido.
• Acordo de negociação- Corresponde a definição dos parâmetros em que devem
decorrer as negociações, expressando a intenção de as prosseguir.
• Acordo de base- As partes referem o acordo existente sobre os pontos essenciais,
embora as negociações prossigam para acertar questões a complementares.
• Acordo-quadro- As partes numa negociação que envolve múltiplos contratos
estabelecem um enquadramento comum a todos eles.
• Protocolo-complementar- Consiste na celebração de uma convenção acessória de
um determinado contrato, visando a sua complementação.

Sempre que destes não resulte a assunção de uma obrigação de contratar, a


responsabilidade só poderá ser estabelecida com base na culpa in contrahendo – 277º,
servindo, no entanto, esses compromissos para acentuar a situação de confiança assim criada.
Sempre que, porém, exista uma obrigação de contratar assumida pelas partes, já se estará
perante um contrato-promessa, que poderá ter por objeto outro contrato-promessa, caso em
que se aplicará naturalmente o regime da execução especifica do contrato, sempre que a isso
não se oponha a natureza da obrigação assumida.

O contrato-promessa

410º, nº1 – Contrato preliminar de outro contrato que por sua vez se designa de contrato
definitivo. Caracteriza-se pelo seu objeto, uma obrigação de contar, a qual pode ser relativa a
qualquer outro contrato. Apesar desta autonomia entre os 2, a lei não deixou de sujeitar o
contrato-promessa ao mesmo regime do contrato definitivo – principio da equiparação.
Extensão entre o regime do contrato definitivo ao promessa.

1.3 Transmissão dos direitos e obrigações emergentes do contrato-promessa

Do 412º retiramos que em princípio lei não reconhece ao contrato-promessa um cariz


intuitu personae, pelo que nada impede que, em caso de morte de uma das partes, o
cumprimento da obrigação respetiva seja exigido aos herdeiros ou seja requerido pelos
herdeiros do defunto. Caso as partes tenham celebrado um contrato promessa tomando em
consideração especificamente a pessoa do outro contraente, a própria natureza da relação
impedirá a transmissão por morte – 2025º.

1.4 A execução especifica

Consiste em o devedor ser substituído no cumprimento, obtendo o credor a satisfação do


seu direito por via judicial. Consiste no tribunal emitir uma sentença que produza os mesmos

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


efeitos jurídicos da declaração negocial que não foi realizada, operando-se assim a
constituição do contrato definitivo. A referencia legal a “não cumprimento” deve ser estendida
em sentido amplo, uma vez que para efeitos da execução especifica é suficiente a simples
mora, já que o credor mantém interesse na prestação, exercendo o seu direito a ela.

Não se verifica:
• Se se verificar uma impossibilidade definitiva de cumprimento (p.e. o bem que se
prometeu vender já ter sido alienado a um terceiro, ou não ser possível obter a
licença de utilização do imóvel).
• A existência de convenção em contrario – a possibilidade de execução especifica
da obrigação de contratar não se apresenta como um regime imperativo, pelo que
as partes podem derrogá-lo através de convenção. O mesmo acontece se as
partes constituírem sinal ou estipularem uma penalização para o incumprimento
por se presumir que nessa situação o que as partes pretendem em caso de
incumprimento é unicamente a obtenção da indemnização convencionada e não a
execução especifica. Essa presunção é ilidível por prova em contrario, nada
impedindo, por isso, que as partes convencionem a aplicação dos 2 regimes,
cabendo nesse caso ao credor optar pela alternativa que lhe for mais conveniente.
• A execução especifica ser incompatível com a natureza da obrigação (p.e.
contratos reais quoad constitutionem, em que se exige a tradição da coisa para se
poder operar a constituição do contrato definitivo, não é possível decretar-se a
execução especifica, uma vez que o tribunal não pode substituir-se ao promitente
na tradição da coisa, ato cuja espontaneidade a lei pressupõe). O incumprimento
apenas poderá gerar indemnização por responsabilidade contratual, não se
admitindo a produção dos seus efeitos através da sentença judicial.

No caso de o bem ter sido prometido vender livre de ónus e encargos, mas se encontrar
presentemente hipotecado é admitida na ação de execução especifica que seja
simultaneamente pedida a condenação do promitente faltoso na quantia necessária para
expurgar a hipoteca, assim se conseguindo a sua extinção, sem prejuízo para o beneficiário da
promessa. – 830º, nº4. No caso de o promitente faltoso poder invocar a exceção de não
cumprimento do contrato, caso em que a ação improcede se ele não consignar em depósito a
sua prestação no prazo que lhe for fixado pelo tribunal – 830º,nº5.

1.5 A articulação com o regime do sinal

Sinal e antecipação do cumprimento

O sinal consiste numa cláusula acessória dos contratos oneroso, mediante a qual uma das
partes entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível. Funciona
como fixação das consequências do incumprimento, uma vez que se a parte que constitui o
sinal deixou de cumprir a sua obrigação, a outra parte tem o direito de fazer sua a coisa
entregue. Se o não cumprimento partir de quem recebeu o sinal, tem este que devolver em
dobro – 442º,nº2.

Regime do 442º

Nº2- MC defendeu que deve ser exigida a constituição de sinal, uma vez que, quando este não
é estipulado, a tradição da coisa para o promitente comprador apresenta-se como um ato de
mera tolerância do promitente vendedor, não havendo razão para que ele seja prejudicado
por esse ato.

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Nº3- Consistia em admitir que a oferta do cumprimento da promessa, por parte do promitente
faltoso, paralisasse o direito ao aumento do valor da coisa ou do direito pela outra parte.

Função do sinal

No direito português atual, a natureza do sinal tem sido controvertida, contudo o sinal só pode
ser exigido em caso de incumprimento definitivo da obrigação pela outra parte, funcionando
como predeterminação das consequências desse incumprimento.

A atribuição do direito de retenção ao promitente que obteve a tradição da coisa a que se


refere o contrato prometido é ainda complementada, em termos de garantia, com o 755º f) de
um direito de retenção sobre essa coisa, pelo credito resultante do não cumprimento
imputável à outra parte.

Eficácia real

Nos casos em que a promessa respeitar a bens imóveis ou móveis sujeitos a registo – 413º,nº1.
Cumprindo os requisitos do 413º, o contrato promessa adquire eficácia real, o que significa
que o direito à celebração do contrato definitivo prevalecerá sobre todos os direitos reais que
não tenham registo anterior ao registo da promessa com eficácia real.
MC defende que que se trata de um direito real de aquisição.

Pacto de preferência

414º e ss. Constitui à semelhança do contrato-promessa, um contrato preliminar de outro


contrato, porém o obrigado à preferência não se obriga a contratar, mas apenas a escolher
alguém como contraente, no caso de decidir contratar, se esse alguém lhe oferecer as mesmas
condições que conseguiu negociar com um terceiro. Pode ser definido como a convenção pela
qual alguém assume a obrigação de escolher outrem como contraente, nas mesmas condições
negociadas com terceiro, no caso de decidir contratar.

1.1 Forma do pacto de preferência

415º - não se aplica o regime do 410º, nº3 pelo que o documento não estará em caso algum
sujeito a mais formalidades.

1.2 Os direitos de preferência com eficácia real

Normalmente a estipulação do pacto atribui apenas ao seu beneficiário um direito de credito


contra a outra parte estando esse direito sujeito as características comuns dos direitos de
credito entre as quais se inclui a relatividade, pelo que, em principio, não pode ser oposto a
terceiros.
Há casos em que a lei concede a certos titulares de direitos reais ou pessoais de gozo sobre
determinada coisa a preferência na venda (p.e. o comproprietário ou o arrendatário). Aqui
estamos perante o que se denomina de preferências legais, as quais se caracterizam por terem
sempre eficácia real, permitindo aos que dela disfrutam exercer o seu direito de preferência,
mesmo perante o terceiro adquirente.
O direito convencional de preferência não prevalece contra os direitos reais de preferência –
422º.

1.3 A obrigação de preferência

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


416º - forma de cumprimento da obrigação de preferência. MC entende que o princípio da
boa-fé impõe que o nome do terceiro tenha de ser obrigatoriamente indicado na comunicação
para preferência. Antunes Varela sustenta que o nome do terceiro não tem genericamente de
ser indicado na comunicação de preferência, devendo sê-lo nas situações em que o não
exercício da preferência implique que fiquem a subsistir relações jurídicas entre o terceiro e o
titular de preferência, de que seriam exemplos a situação do comproprietário e do
arrendatário.

1.4 A violação da obrigação de preferência

Ocorro sempre que o obrigado à preferência celebra com terceiro um contrato incompatível
com a preferência, sem efetuar qualquer comunicação para preferência ou, tendo-a efetuado,
se o titular tiver comunicado, dentro do prazo, a intenção de exercer a preferência – provoca o
incumprimento definitivo da obrigação de preferência.

A ação de preferência em caso de haver eficácia real – Neste caso, o titular da preferência
não possui apenas um direito de crédito à preferência, mas também um direito real de
aquisição, que pode opor erga omnes, mesmo a posteriores adquirentes da propriedade.
A lei esclarece neste caso que o processo adequado para o exercício deste direito é a
denominada ação de preferência – 1410º (a propósito da preferência do comproprietário, mas
é extensível a qualquer titular de direitos reais de preferência. A posição maioritária
(defendida por MC) era a de que o obrigado à preferência não seria, parte legítima para a ação
de preferência (discute-se unicamente se o bem é atribuído ao titular da preferência ou
permanece na propriedade do terceiro, não podendo a ação afetar o obrigado, que
normalmente já recebeu o preço que lhe era devido, nada mais tendo a ganhar ou a perder),
só o sendo caso o titular da mesma decida simultaneamente exigir uma indemnização

Quanto ao preço devido exigido no 1410º é apenas exigido o depósito do preço devido não
incluindo assim as outras despesas.

Na situação de simulação do preço pode ser indicado um preço superior no intuito de


defraudar o próprio exercício de preferência, ou inferior no intuito de evitar o pagamento dos
impostos de transmissão. Numa situação destas o exercício é realizado da seguinte forma: Se
for superior, o titular deve exercer o preço real, o negócio simulado é nulo sendo válido o
dissimulado. Se o preço por inferior, para MC, impedir os simuladores de exigir que a
preferência seja realizada pelo preço real equivale a autorizar um enriquecimento ilegítimo do
preferente à custa dos simuladores, que nada justifica – com base na interpretação do 243º,
nº2 visto que não considera que a situação do preferente como a de um terceiro de boa fé,
pois o direito de adquirir por determinado preço só se constituiria com a sentença que julgasse
procedente a ação de preferência e de que o preferente não faz qualquer investimento de
confiança, que justifique a sua tutela através da boa fé.

1.5 A natureza da obrigação de preferência

Divergência doutrinária – Para MC não existira obrigação de preferência nem uma


obrigação de contratar, nem um negocio condicional, tendo, porem a obrigação conteúdo
positivo: escolher o titular da preferência como contraparte, caso se decidir contratar.

O conteúdo dos contratos

1.1 Contrato a favor de terceiro

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023


443º e ss. Contrato em que uma das partes (o promitente) se compromete perante outra (o
promissário) a efetuar uma atribuição patrimonial em beneficio de outrem, estranho ao
negócio (o terceiro). O terceiro não é interveniente no contrato, embora adquira um direito
contra o promitente, em virtude do compromisso deste para com o promissário.

Existem 3 relações:

• De cobertura – Consiste numa relação contratual entre promitente e promissário, no


âmbito da qual se estabelecem direitos e obrigações entre as partes, podendo
inclusivamente a estipulação a favor de terceiro ser, em relação a elas, uma mera
clausula acessória. É fundamental pois através dela definem os direitos e deveres do
promitente perante o promissário (449º).

• De atribuição – Estabelece-se entre o promissário e o terceiro e justifica a outorga


desse direito ao terceiro, tendo por base um interesse do promissário nessa concessão
– 443º, nº1. Pode ser considerada uma relação jurídica pré existente. Determina que a
prestação seja vista como uma atribuição patrimonial indireta do promissário em
relação ao terceiro.

• De execução – Relação entre o promitente ao terceiro, no âmbito da qual ele vem a


executar a determinação do promissário.

1.2 Modalidades do contrato a favor de terceiro

1. Contratos a favor de terceiro verdadeiros e falsos – Verdadeiros - 443º e 444º, nº1 e


2. Falsos – Exemplo, a promessa de liberação (444º,nº3). Nesta última é acordado
entre eles que o promitente obterá a extinção de uma dívida que o promissário tem
para com terceiro, assim o promitente não se obriga a realizar uma prestação a
terceiro, mas apenas a conseguir obter a liberação da dívida do promissário (para a
obter terá de efetuar uma prestação a esse terceiro, só que essa é meramente
instrumental em relação a obrigação do promitente, que é antes a de obter a liberação
do promissário.). Nestes termos considera-se que só o promissário tem interesse na
promessa.

2. Contratos a favor de pessoa determinada e contratos a favor de pessoas


indeterminadas- A especialidade consiste no facto de se estabelecer uma legitimidade
difusa para a exigência da prestação, a qual pode ser efetuada não apenas pelo
promissário ou os seus herdeiros, mas também pelas entidades competentes (estas
não podem dispor do direito a prestação ou autorizar qualquer modificação do seu
objeto – 446º,nº1) para defender os interesses em causa -445º . Estas entidades tem
um mero direito de reclamar a prestação do promitente para o fim estabelecido.

3. Contratos a cumprir em vida do promissário e contratos a cumprir depois da morte


do promissário – A promessa a cumprir depois da morte do promissário faz exceção
ao regime do 444º, nº1 uma vez que o terceiro não pode exigir o cumprimento da
promessa antes da verificação da morte do promissário. A lei estabelece que o terceiro
só adquire o direito com a morte do promissário – 451º, nº1, mas que se falecer antes
deste, os seus herdeiros são chamados no lugar dele à titularidade da promessa –
451º,nº2. A lei estabelece 2 regras interpretativas: a de que o direito só é atribuído
com a morte do promissário, e a de que o promissário designa subsidiariamente como

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beneficiário os herdeiros do terceiro no caso deste falecer. Qualquer uma das
presunções pode ser ilidida através da estipulação de que a celebração do contrato faz
adquirir imediatamente o direito, determinando a morte do promissário apenas o
vencimento da obrigação, ou através da estipulação de que só o terceiro poderá
beneficiar da promessa. A promessa é sempre revogável – 448º,nº1, pode ser expressa
oi tácita.

1.3 O contrato para pessoa a nomear

Quando um dos intervenientes no contrato se reserva a faculdade de designar outrem para


adquirir os direitos ou assumir as obrigações resultantes desse contrato – 452º, nº1.
Admite-se uma dissociação subjetiva entre a pessoa que celebra o contrato e aquela onde vão
repercutir-se os respetivos efeitos jurídicos. Não ocorre qualquer transmissão entre o
nomeante ou nomeado, ocorrendo antes um fenómeno de substituição de contraentes, uma
vez que após a nomeação (tem eficácia retroativa), o contraente nomeado adquire os direitos
e assume as obrigações provenientes do contrato a partir do momento da celebração dele –
455º, nº1. As partes podem estipular que em caso algum, o contrato virá a produzir efeitos em
relação ao contraente originário e aqui a não verificação da nomeação acarretara a ineficácia
do contrato. A nomeação tem como requisito necessário uma atribuição de poderes
representativos por parte do nomeado, por forma a garantir a sua vinculação ao contrato,
exigindo a lei para o efeito procuração ou ratificação, consoante essa atribuição de poderes
representativos ocorra antes ou após a celebração do contrato a nomear.

Natureza jurídica – Para a maioria da doutrina este é considerado um contrato celebrado


simultaneamente em nome próprio e em nome alheio, sendo a sua celebração em nome
próprio sujeita a uma condição resolutiva e a sua celebração em nome alheio sujeita a uma
condição suspensiva.

Negócios unilaterais

MC defende a ausência de tipicidade dos negócios unilaterais com fundamento no caracter


totalmente livre da proposta contratual, negócio unilateral por excelência. No seu entender,
sendo a proposta contratual um negocio unilateral, e sendo a sua celebração possível em
relação a qualquer contrato, o princípio da tipicidade fica esvaziado de conteúdo, uma vez que
a lei prevê um tipo de negocio unilateral suficientemente abrangente para permitir uma
atipicidade negocial.

1.1. Promessa de cumprimento e reconhecimento da dívida

458º, nº1 e 2. A promessa de cumprimento ou reconhecimento de dívida, embora a sua


eficácia seja limitada à prova da relação fundamental, está, pelo menos, sujeita à forma
escrita, constituindo assim uma prova documental (362º) por documento particular (373º e
ss), admitindo-se, no entanto, que fique sujeita a uma forma superior, designadamente a
escritura pública, caso a lei exija para a prova da relação fundamental.

1.1 Promessa pública

Declaração negocial dirigida ao publico, através da qual se promete uma prestação a quem se
encontre em determinada situação ou pratique certo facto, positivo ou negativo. Não se pode
confundir com declarações negociais dirigidas ao publico, como a oferta ao público.
O anúncio público poderá revestir formas variadas, abrangendo qualquer meio de
comunicação social ou difusão publica de mensagens. Estamos perante uma obrigação de

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sujeito ativo indeterminado, mas determinável 511º. A promessa só é eficaz durante o prazo
fixado pelo promitente e se não for exercido durante esse período extingue-se por caducidade
– 331º, se não tiver prazo fixado só se pode extinguir por revogação.

1.2 Concurso público

Modalidade especial de negocio unilateral, 463º. A decisão do júri ou do promitente é em


princípio vinculada tendo estes que efetuar a seleção dos candidatos e a atribuição do premio
em conformidade com as regras definidas no anuncio do concurso, podendo a sua decisão ser
judicialmente impugnada caso ocorra violação das regras.

Raquel Óscar 2ºA 2022/2023

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