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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

DIREITO DAS
OBRIGAÇÕES
 Introdução
DEFINIÇÃO

O Direito das Obrigações regula as relações que se estabelecem entre pessoas privadas,
apesar de se poder aplicar também a entidades publicas e privadas.

A Obrigação é um vínculo jurídico em virtude do qual podemos ser compelidas a pagar


alguma coisa a alguém, segundo as leis do nosso Estado. Segundo a definição dada no nosso
código civil no seu artigo 397º nº1 CC, é um vínculo jurídico pela qual o devedor fica
adstrito(obrigado) para com o credor á realização de uma prestação.

Ónus consiste na necessidade de adotar uma conduta em proveito próprio, na necessidade de


realizar certo comportamento para beneficiar de uma situação favorável.

O Dever Jurídico Genérico consiste na situação em que se encontram os outros sujeitos aos
titulares de direitos absolutos. Direitos de personalidade, vida reais, dever geral de respeito
cuja infração pode acarretar responsabilidade civil.

Não são consideradas obrigações o cumprimento de deveres religiosos, moral interna e regras
de trato social.

Numa obrigação que une duas ou mais pessoas há alguém que deve uma conduta
– Devedor: tem o dever de pagar uma prestação;
- Credor: aquele que tem direito a uma prestação (tem valores/obrigações a receber).

OBJETO E CARACTERISTICAS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Goza das características do Direito Privado: Liberdade e a igualdade, assim os sujeitos das
relações obrigacionais tem os mesmos poderes e são livres de fazer tudo que não se encontre
abrangido na proibição.

O direito das obrigações abrange as seguintes realidades:

 Circulação de bens;
 Prestação de serviços;
 Instituição de organizações;
 Sanções civis;
 Matéria relativa a compensação por danos, despesa ou obtenção de enriquecimento.

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PRINCIPIOS DE OBRIGAÇÕES

1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA

O Princípio da Autonomia Privada consiste na possibilidade que alguém tem de estabelecer


as suas próprias no seu contrato, artigo 405º CC. No entanto, devem ser respeitados alguns
limites, artigo 280º e 281º CC, mesmo assim as partes podem livremente estipular o que
pretendem.

Dentro do artigo 405º CC, temos a liberdade contratual, liberdade de celebração e a liberdade
de seleção do tipo negocial.

 Liberdade contratual: é a parte mais importante da autonomia privada e consiste na


possibilidade de cada uma das partes regular/definir através de um acordo de ambas
partes, as suas relações para com a outra, definidas no artigo 406 nº1 CC. Esta
liberdade exige assim a:
 Liberdade de celebração: consiste na faculdade que é atribuída às partes de celebrar
ou não o contrato;
 Liberdade de seleção: consiste em ambas as partes não estarem limitadas a tipos
negociais reconhecidos pelo legislador. Dai surge os contratos atípicos, ou seja, posso
celebrar contratos que não estão previstos na lei, não há regime.
 Liberdade de estipulação: faculdade de estabelecer os efeitos jurídicos do contrato,
dentro dos limites da lei.

1.1. RESTRIÇÕES AS LIBERDADES REFERIDAS

1.2. Restrições a liberdade de celebração: a obrigação de celebração do contrato


na qual uma das partes pode estar vinculada à celebração do contrato com outra.
Nestes casos, a outra parte pode exigir a celebração art.º 817 ou obter sentença que
produza os efeitos do contrato prometido art.º 830. A não celebração constitui um
ilícito obrigacional e obriga a indemnizar. A única parte que tem liberdade nestes
casos é a que não está vinculada.

1.3. Restrições a liberdade de estipulação: estas restrições residem no facto da lei


determinar o conteúdo dos contratos. Desta forma temos dois tipos de restrições a
liberdade de estipulação, nomeadamente:

1.3.1. Contratos submetidos a um regime imperativo: na qual é imposta uma disciplina


contratual rígida dada a sua maior relevância enquanto contrato em que uma das
partes é mais forte que a outra, prevenindo assim os abusos de autonomia privada
e imposição da disciplina;
1.3.2. Clausulas contratuais gerais: consiste em situações que se caracteriza, pela pré-
elaboração, pela sua generalidade (aplicam-se a todos contraentes) e sua rigidez
(não podem ser negociadas). Estas clausulas caracterizam-se por uma das partes
não ter liberdade de estipulação. Lei previne desta forma a introdução de clausulas
que o contraente não percebeu ou abusivas.
1.3.3. Contratos pré-formulados: veio disciplinar as clausulas contratuais abusivas entre
um profissional e um consumidor.

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2. PRINCÍPIO DO RESSARCIMENTO DOS DANOS

Existe uma razão de justiça da qual resulte que o dano deva ser suportado por outrem. Uma
obrigação de indemnizar através da qual deve restituir a situação que existiria se não tivesse
ocorrido o dano, artigo 562 CC. Ocorre a imputação de danos quando a lei considera existir
um dano injusto para o lesado, mas também uma razão de justiça que transfira esse dano para
outrem, denominada, responsabilidade civil artigo 483º. No entanto, o lesado não terá
qualquer direito de indemnização a menos que demonstre a culpa do lesante art. 487/1 CC,
com estes temos de conjugar outros que dispensam esse ónus por parte do lesado art.º 491,
492 e 493. De igual forma a criação de risco de que outrem tira proveito é suscetível de
indemnização, responsabilidade pelo risco art.º. 483/2 CC. Insere-se nesta categoria o
artigo 500, 501, 502, 503 e 509 CC. Tais situações levam a obrigação de indemnizar artigo
81/2 e artigo 339 CC.

Há três títulos de imputação por danos:

 Imputação por culpa: através de uma conduta ilícita que justifica o dever de suportar
os prejuízos do lesado, tem assim a função sancionatória(483CC).

 Imputação pelo risco: baseia-se na base de que quem tira proveito de uma situação de
risco deve suportar os prejuízos dela; aquele que exerça uma atividade que seja fonte
de risco deve suportar os prejuízos; sempre que alguém tem poderes de autoridade
relativamente as condutas alheias deve suportar os prejuízos.

 Imputação pelo sacrifício: corresponde a situação em que a lei atribui uma


indemnização ao lesado como compensação desse sacrifício em homenagem ao valor
superior.

3. PRINCÍPIO DA RESTITUIÇÃO DO ENREQUECIMENTO INJUSTIFICADO

É justo que ninguém enriqueça à custa de outrem e daí a existência efetiva deste princípio no
artigo 473\1 CC, sendo assim que sempre que tal aconteça tem que ser restituído aquilo que
injustamente se locupletou. Remover o património do enriquecimento do património do
enriquecido, transferindo-o para o património do empobrecido.

Se ocorrer um incumprimento de um contrato-promessa o promitente vendedor tem que


entregar ao promitente comprador a valorização que essa coisa, entretanto obteve art.º. 442/2.
Se através de uma gestão de negócios não útil ou julgada própria for obtido enriquecimento,
este devera ser restituído pelos artigos 468/2 e 472/1 CC.

Atenção aos artigos 616/3 e 617/1; artigo 764/2; artigos 795/1 e n2; artigo 815/2; artigo
1214/3)

4. PRINCÍPIO DA BOA FÉ

Considera-se assim como a ignorância de estar a lesar direitos alheios e sendo assim uma
regra de conduta. A obrigação consiste no dever de adotar uma conduta em benefício de

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outrem que proporcionarão satisfação do direito de crédito. A lei assim vem estabelecer
deveres da boa-fé para os sujeitos das obrigações de forma a permitir o aproveitamento
integral da prestação em satisfação dos interesses do credor de forma a evitar que provoque
danos em ambas as partes.
Nas obrigações a boa-fé esta referenciada em cinco institutos: (artigos 227; 239; 334; 437 e
762/2 CC) visando a deveres acessórios de proteção, informação e lealdade.

5. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

Possibilidade do credor em caso de não cumprimento, executar o património do devedor para


obtenção da satisfação dos seus créditos. Ao credor é apenas reconhecida a possibilidade de
executar p património do devedor para a obtenção da satisfação do crédito, artigo 817 CC.
Caso a realização da prestação já não seja possível em virtude de facto imputável ao devedor,
o credor poderá reclamar um direito de indemnização, sendo o que se sucede nos casos
previstos nos artigos 798, 808 e 801.

Segundo Menezes Cordeiro, o regime de responsabilidade patrimonial no nosso Direito pode


ser estabelecido segundo três postulados:

1. Estão sujeitos à execução todos os bens do devedor artigo 601, havendo exceções
como os bens do devedor não suscetíveis de penhora (essenciais a sua subsistência e
dignidade) e a situação de separação de patrimónios (artigos 1695, 1696, 2070 e
2071). A limitação pode ainda ocorrer por convenção das partes artigos 602 e 603.

2. Só os bens do devedor podem ser objeto de execução previsto no artigo 817 sendo
este uma exceção para os casos de fiança, artigo 627 CC.

3. Todos os credores estão em pé de igualdade não havendo uma hierarquização dos


direitos de crédito. Caso o património do devedor não chegue para pagar todos os
mesmo tem de ser rateado para todos se pagarem proporcionalmente artigo 604 CC. O
devedor pode fazer diminuir o seu património, mas tal pode ser evitado por duas vias
como os meios de conservação: artigos 605, 606, 610 e 619 CC.

CONCEITO E ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO - Direito de Crédito

Sendo o Direito de Crédito um Direito subjetivo, a definição do seu conceito terá que ser
traçada a partir do seu objeto, conforme resulta do artigo 397 vem a ser prestação.

O direito subjetivo é o poder de exigir ou pretender de outrem um determinado


comportamento positivo ou negativo. Tendo como objeto o comportamento que o devedor
está vinculado a adotar em benefício do credor.

O debate em torno do conceito e estrutura da obrigação parte por uma discussão sobre o
objeto do direito de crédito, havendo autores que sustentam ser esse objeto a prestação, outros
o património do devedor, outros uma combinação dessas suas realidades. As principais
teorias que abordam o problema são:

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1. Teoria personalistas: sustentam que o direito de crédito é um vínculo pessoal, ou


seja, um direito que tem por objeto a conduta do devedor.
1.1. Crédito como um direito sobre a pessoa do devedor, teoria defendida por
Savigny, na qual traduzia-se num domínio sobre a atuação da prestação do devedor.
1.2. Crédito como um direito a prestação do devedor (teoria clássica), qualifica o
direito de crédito como um direito a prestação, ou seja, uma conduta do devedor,
tendo a faculdade de exigir de determinada pessoa a realização de uma prestação em
benefício de outrem, não pode ser coercivamente exigível, mas sendo correspondente
a um valor patrimonial, permite a execução do património.

2. Teoria realistas: estas sustentam que o direito de crédito não é um direito à


prestação, mas um direito sobre o património do devedor, tendo assim diversas
modalidades:
2.1. Crédito como um direito sobre os bens do devedor: o crédito é um direito
sobre os bens da totalidade do património do devedor. O direito de crédito é tido
apenas como a faculdade de executar o património do devedor.
2.2. Crédito como uma relação entre patrimónios: tendo o direito de crédito sido na
origem de um vínculo pessoal e posteriormente transformado num vínculo entre
patrimónios, devendo o património do devedor ao património do credor.
2.3. Crédito como um direito à transmissão dos bens do devedor: vê a obrigação
como um processo de aquisição de bens, coloca o objeto do direito não na prestação,
mas nos bens, sendo o fim da obrigação realizado com aquisição da propriedade. Ou
seja, coloca o objeto da obrigação nos bens e não na prestação.
2.4. Crédito como expetativa da prestação, acrescida de um direito real de garantia
sobre o património do devedor

3. Teoria mistas ou dualistas: a obrigação tanto tem por objeto a prestação como o
património do devedor. Neste sentido, distingue-se entre vinculação pessoal do
devedor e a sua responsabilidade ou, nos termos do direito germânico, distinguia-se
entre a divida e a responsabilidade.
3.1. Doutrinas da complexidade obrigacional: configuram a obrigação como uma
realidade complexa, que abrange um serie de elementos componentes, onde se
encontraria tanto a prestação como a execução sobre o património do devedor.
Critica: no processo civil não surge o direito do credor como complexo de relações
obrigacionais, mas, pelo contrário, o direito de crédito como elemento isolado.

Posição adotada: a obrigação é efetivamente um vínculo entre dois sujeitos, através da qual
um deles exige a outro que adote um comportamento, conceito estreitamente ligado ao artigo
397.º CC. O direito de crédito tem como objeto a prestação negando a existência de qualquer
direito sobre o património do devedor. A ação executiva representa a aplicação pelo Estado
de uma sanção pelo incumprimento das obrigações da qual se assegura a proteção ao direito
de crédito, assim o Estado substitui-se ao devedor na satisfação do direito de crédito obtendo
meios para a execução do património do devedor.

CARACTERISTICAS DA OBRIGAÇÃO

Como características da obrigação, a doutrina tem vindo a apontar as seguintes:

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1. Patrimonialidade: suscetibilidade de a obrigação ser avaliável em dinheiro, tendo


um conteúdo económico. Significa que as obrigações têm geralmente natureza
patrimonial e por isso a obrigação corresponde a um passivo no património do
devedor, da mesma forma que o crédito corresponde a um ativo no património do
credor. Excecionalmente, no entanto, poderão constituir-se obrigações que não
revistam esta características.

2. Mediação: significa que o credor necessita da interposição ou colaboração do


devedor para exercer o seu direito. Efetivamente, o crédito é um direito a prestação,
ou seja, um direito a uma conduta do devedor, pelo que o credor necessita que o
devedor realize essa conduta, não podendo obter diretamente a satisfação do seu
direito.

3. Relatividade: significa que a obrigação se estrutura numa relação entre o credor e o


devedor. Só o devedor tem o dever de prestar e só o credor tem o direito de exigir o
cumprimento. Da relatividade resulta que em princípio só o devedor deve ser
responsabilizado em caso de violação do direito de crédito, porque é só dele que o
credor pode exigir que satisfaça a prestação. Tal não significa que a obrigação não
tenha qualquer eficácia perante terceiros, ou que o terceiro não possa ser
responsabilizado quando proceda à lesão do direito do credor em violação dos vetores
fundamentais do ordenamento jurídico, como os referidos no artigo 334º CC.

DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS DE CRÉDITO E DIREITOS REAIS


Direito de crédito Direito Reais
Direitos sobre as pessoas Direito sobre as coisas
Traduzem-se num poder dirigido contra Traduzem-se num poder direto e imediato
determinada pessoa, tendente a obter a sua sobre os bens
colaboração ou cooperação
Não têm atributos da sequela e da Gozam dos atributos da sequela** e da
preferência**** prevalência/preferência***
Não sujeitos a numerus clausus – art.º. Sujeitos a numerus clausus
405.º CC

** os titulares podem reivindicar a coisas sobre que recaem estes poderes junto de qualquer que seja
a pessoa que a detenha;
***sendo constituídos diversos direitos reais sobre o mesmo objeto, os mais antigos prevalecem em
relação aos mais recentes (data de constituição ou data da inscrição no registo, quando estão
sujeitos a registo
****não são hierarquizados temporalmente.

Direitos de crédito são o direito a um comportamento/a uma prestação e dirigem-se a uma


pessoa (o devedor);
Direitos reais são direitos sobre coisas.

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Segundo o critério do objeto:


Direito de crédito Direitos reais
Incide sobre as pessoas Incide sobre as coisas
Necessitam da colaboração do devedor para O credor não necessita da colaboração de
o credor satisfazer o seu interesse ninguém para exercer o seu direito
Não gera um direito a uma coisa, mas um O direito incide diretamente sobre uma
direito sobre o comportamento coisa
Assenta numa relação, o que implica que Desligado de qualquer tipo de relação
tenha de ser exercido contra o devedor interpessoal (é oposto a toda e qualquer
(credor contra devedor) pessoa – erga omnes)
Direito relativo, tendo uma oponibilidade a Direito inerente. A oponibilidade a terceiros
terceiros limitada, só podendo ocorrer em é plena. O DR adere à coisa e estabelece
certas circunstâncias uma vinculação com a coisa que não pode
ser desligada
Se alguém tem o direito a uma prestação e o Sequela (manifestação da inerência). O
devedor aliena o fun, o credor já não a pode titular do direito real pode perseguir a coisa
exigir, restando apenas a possibilidade de onde quer que ela se encontre.
pedir uma indemnização.
Não existe. Não se hierarquizem entre si, O direito real possui uma característica de
concorrem em pé de igualdade sobre o prevalência, prioridade do DR
património do devedor, se não for primeiramente constituído sobre posteriores
suficiente, é rateado para se efetuar um constituições, significa, não é possível
pagamento proporcional a todos os credores constituir sucessivamente dois direitos reais
(art.º 604/1 CC) incompatíveis sobre o mesmo objeto, só
podendo um prevalecer. Ex.: em caso de
venda dupla do mesmo objeto a pessoas
diferentes, prevalece a primeira venda
registada art.892CC. deixa de ser seu na
primeira venda.

OBJETO DA OBRIGAÇÃO – PRESTAÇÃO

A obrigação é uma relação jurídica que se analisa num direito subjetivo e num dever.

Elementos da relação jurídica obrigacional


1. Sujeitos;
2. Objeto;
3. Facto jurídico;
4. Garantia.

1. Sujeitos: devedor (sujeito passivo) e credor (sujeito ativo).


1.1. Credor: aquele no interesse do qual de ser efetuada a prestação e que pode
exigir;
1.2. Devedor: aquele sobre o qual recai o dever a prestação.
Há obrigações subjetivamente plurais ou singulares.

2. Objeto: necessidade de distinguir objeto imediato (poderes e deveres em que se


analisa a prestação, ex.: crédito e o debito) e objeto mediato (a conduta a que o
devedor se encontra adstrito no interesse do credor).
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O objeto da obrigação, é a prestação, definindo no artigo 397 como uma conduta que o
devedor se obriga a desenvolver em benefício do credor. Como tal, a prestação tem certos
requisitos legais, sendo que em parte tem de seguir os limites da lei pelo artigo 398.

A prestação pode consistir numa ação como numa omissão, sendo o seu conteúdo
determinado pelas partes, dentro dos limites da lei. Podendo consistir não propriamente na
atividade que o desenvolve, mas antes no resultado dessa atividade, tendo nessa medida a
expressão prestação um duplo significado. O n2 do artigo 398, estabelece um requisito
suplementar, referindo-nos que a prestação não necessita de ter valor pecuniário, mas deve
corresponder a um interesse do credor digno de proteção legal; se a obrigação de um negócio
jurídico esta estará sujeita as regras relativas ao objeto negocial que constam no artigo 280
CC, tendo como consequência a nulidade se assim não o fizer.

Requisitos legais da prestação

As regras do artigo 280 CC relativas aos requisitos dos objetos negociais são plenamente
aplicáveis à prestação, devendo ser conjugados com os artigos 400 e 401 CC.

A prestação deve ser:

 Física e legalmente possível;


 Licita;
 Conforme a ordem publica;
 Conforme aos bons costumes;
 Determinável.

POSSIBILIDADE FISICA E LEGAL

A prestação não pode apresentar uma impossibilidade física (280 - ex.: levantar 500kg com
as mãos) ou legal (790 – vender um imóvel verbalmente).
O 401 n. 2 e 3 estabelece algumas restrições a esta regra.
É admissível a celebração de negócios para a eventualidade de a prestação ser possível art.
401/2, abrangendo situações absolutamente futuras artigos 399 e 880 CC.
As prestações só se consideram impossíveis quando seja em relação ao objeto e não em
relação a pessoa do devedor art. 401/3. Dado que em princípio são sempre fungíveis, seu
cumprimento pode ser efetuado por qualquer pessoa artigo 767/1 CC.

LICITUDE

O requisito da licitude da prestação consta dos artigos 280/1 e 294, de onde resulta que o
objeto negocial não pode ser contrário a qualquer disposição que tenha caracter injuntivo. As
normas injuntivas (são as normas que se aplicam haja ou não declaração de vontade dos
sujeitos nesse sentido) constituem um limite à autonomia provada impondo nulidade dos
negócios. A ilicitude pode ser resultado ou de meios, consoante o negócio um resultado ilícito
ou se proponha a alcançar um resultado lícito através de meios proibidos por lei (tratar uma
pessoa com um tratamento que vá contra as regras da medicina). Estes casos serão nulos.

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DETERMINABILIDADE

A prestação tem de ser determinável segundo o artigo 280 ou passara a ser nula caso o objeto
seja indeterminável. De igual forma temos o artigo 400 para os casos da indeterminação da
prestação.
 O conteúdo da prestação deve ser determinado ou, no mínimo, determinável;
 É necessário que esteja definida a prestação do devedor ou que essa definição possa
vir a fazer-se em momento posterior de acordo com critérios estabelecidos pelas
partes;
 A determinação pode ser confiada a uma ou outra das partes ou a terceiro (art. 400.º
CC); ou a tribunal (mas este também não pode determinar uma obrigação através” do
nada”).

NÃO CONTRARIEDADE À ORDEM PUBLICA E AOS BONS COSTUMES

Artigo 280 do CC. A semelhança do que acontece com a ilicitude, também apenas o fim
subjetivo das partes pode ser contrário a ordem publica e aos bons costumes. Nesse caso o
negócio será nulo, se o fim for comum a ambas as partes – 281 CC.

3. Facto jurídico: a obrigação depende, na sua existência de factos jurídicos.

 Factos constitutivos: estes criam as obrigações (Fontes das obrigações);


 Factos modificativos: estes introduzem alterações, de natureza objetiva e subjetiva,
nas obrigações;
 Factos extintivos: incluem-se aqui as que colocam fim às obrigações (Cumprimento
das obrigações; Causas de extinção das obrigações diversas do cumprimento).

4. Garantia: o credor goza da proteção da lei, existindo a garantia do seu direito e


possibilidade de o realizar coercivamente.

 Garantia geral: é comum a todos os credores. Consubstancia a possibilidade de estes


se fazerem pagar, em pé de igualdade com os outros credores, à custa do património
do devedor (arts. 601.º e 817.º CC), cfr. Art. 604.º CC;
 Garantias especiais: podem ser estabelecidas por lei ou por negócio jurídico, sendo
estabelecidas em favor do credor ou de uma certa classe de credores e funcionando
como um “reforço” à garantia geral:
 Garantias especiais podem ser de natureza pessoal ou real;

Natureza pessoal: verificam-se quando outra ou outras pessoas, além do devedor,


ficam adstritas a realizar a prestação na eventualidade do devedor não a efetuar. Estas
garantias projetam-se nos seus próprios patrimónios. Ex: fiança.

Natureza real: traduzem-se na afetação de determinados bens do devedor (ou de


terceiro) ao pagamento de certas dívidas; traduzem-se na afetação de determinados
bens do devedor (ou de terceiro) ao pagamento de certas dívidas, que podem
satisfazer-se à custa desses bens com preferência.
•São verdadeiros direitos reais, acessórios de créditos, que asseguram, facultando o
seu
pagamento prioritário;

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•Os credores que tenham garantias reais são preferenciais em relação aos outros, ou
seja, aqueles credores podem fazer-se pagar em primeiro lugar pelos bens que tais
direitos recaem;
•Os credores não preferenciais apenas se podem fazer pagar pelo remanescente (art.
604.º, n.º 1 CC).

COMPLEXIDADE INTRA-OBRIGACIONAL E OS DEVERES ACESSORIOS


DA CONDUTA

Numa visão mais ampla alem do direito de crédito-dever de prestar, temos um conjunto de
situações geradas no âmbito da relação entre credor e o devedor:
→ Direito à prestação (elemento determinante da obrigação);
→ Dever de prestar (que se pode decompor em sub-deveres relativos a diversas
condutas – conduta que se encontra adstrita o devedor);
→ Deveres secundários da prestação (prestações autónomas que especificamente
acordadas com o fim de complementar a prestação principal, ex.: 882/2);
→ Deveres acessórios, derivados do princípio da boa-fé, que se destinam a possibilitar a
plena satisfação do interesse do credor (762);
→ Poderes ou deveres que o devedor pode ter sobre o credor;
→ Exceções que permitem paralisar eficazmente o direito de crédito (303; 428; 638;
754).

A relação obrigacional não se reconduz ao binómio direito de crédito e dever de prestar,


sendo, pelo contrário, também integrada por outras situações jurídicas que no todo
convergem para a realização do interesse do credor.

MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES

I- OBRIGAÇÕES NATURAIS

Referidas no artigo 402 e ss do CC. São obrigações que se fundam num mero dever de ordem
moral ou social, cujo cumprimento não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever
de justiça. Caracterizam-se pela não exigibilidade judicial da prestação, resumindo-se a sua
tutela jurídica a possibilidade do credor conservar a prestação espontaneamente realizada, a
que se refere o artigo 403 do código. Se o devedor efetuar a prestação já não pode exigir a
restituição, mesmo que estivesse convencido por erro, da coercibilidade do vínculo.
Só poderão admitir-se obrigações naturais com base na disposição do 402, de que seriam
exemplo obrigações prescritas

II- PRESTAÇÃO

O objeto da obrigação vem ser a prestação, ou seja, a conduta a que o devedor está vinculado.
Esta conduta pode consistir numa serie de situações, sendo importante esclarecer esse regime
específico, reconduzindo a uma classificação de prestações.

i. Prestações de coisa e prestações de facto

Prestação de coisa: são aquelas cujo objeto consiste na entrega de uma coisa. Ex.: efeitos da
compra e venda 879CC.
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Prestação de coisa presente: as coisas que temos em nossa posse.


Prestação de coisa futura: aquelas em que não estão em poder da pessoa ao tempo da
declaração negocial, artigo 211CC. podendo ser objeto da compra e venda 880CC.

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Prestação de facto: são aquelas em que consistem em realizar uma conduta de outra ordem.
Ex.: alguém se obrigar a cuidar de um jardim 1154CC.
Prestação de facto positivo: são aquelas em que a prestação tem por objeto uma ação.
Podendo ser prestação de facto material e prestações de facto jurídico. As primeiras, a
conduta que o devedor se compromete a realizar é uma conduta puramente material não
destinada a produção de feitos jurídicos ex.: realizar ou não realizar determinada obra. Nas
segundas, a conduta do devedor aprece destinada a produção de efeitos jurídicos, sendo assim
esse resultado jurídico incluído na prestação, ex.: celebrar ou não celebrar determinado
contrato.
Prestação de facto negativo: uma omissão por parte do devedor, ou seja, não realizar
determinada conduta ou tolerar uma conduta por parte de outrem.

ii. Prestações fungíveis e prestações infungíveis

Prestações fungíveis: são aquelas que pode ser realizada por outrem que não o devedor,
podendo assim este fazer-se substituir no cumprimento.

Prestações infungíveis: são aquelas em que só devedor pode realizar a prestação, não
podendo de forma alguma ser realizada por terceiros.

Do 767/1 retiramos a regra geral da fungibilidade, determinado que a obrigações pode ser
realizada por terceiros (prestação sempre fungível).

Admitindo exceções, imposta pelo n2 do 767, nomeadamente a infungibilidade convencional


– quando se tenha acordado expressamente que a prestação só pode ser realizada pelo
devedor, ao abrigo da autonomia privada e da liberdade convencional (405 CC) – e a
infungibilidade natural – quando na substituição do devedor no cumprimento da prestação
prejudique o credor.

 Importância da fungibilidade – relação com a execução especifica

Se a obrigação for fungível, o credor pode obter a realização da prestação de qualquer pessoa
e não apenas do devedor. Admitindo o 827 e o 828 ambos do código civil.

Se a obrigação for infungível, a substituição do devedor no cumprimento da já não é possível,


pelo que a lei não admite a execução especifica da obrigação. Admite-se, porem, a aplicação
de uma sanção pecuniária compulsória, que visa precisamente coagir o devedor a cumprir a
obrigação 829ª CC. estas obrigações estão sujeitas a um regime específico em caso de
impossibilidade da prestação, podendo essa ser extinta segundo o artigo 791 CC, em virtude
da não admissão da substituição.

iii. Prestações instantâneas e prestações duradouras

Prestações instantâneas: são aquelas cuja execução ocorre num único momento, não sendo o
seu conteúdo delimitado em função do tempo. Ex.: entrega do bem na compra e venda.
Prestações instantâneas integrais: são aquelas realizadas de uma só vez. Ex.: entrega da
coisa pelo vendedor;
Prestações instantâneas faccionadas: são aquelas em que o seu montante global é dividido
em várias frações, a realizar sucessivamente. Ex.: pagamento a prestações 934 CC.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Prestações duradouras: são aquelas cuja execução se prolonga no tempo, em virtude de terem
por conteúdo ou um comportamento prolongado no tempo ou uma repetição sucessiva de
prestações isoladas por um período de tempo. Ex.: prestações relativas aos contratos de
locação, de trabalho, de fornecimento elétrico ou de gás. A sua realização global depende
sempre do decurso de um período temporal, durante o qual a prestação deve ser continuada
ou repetida.
Prestações duradouras continuadas: a prestação não sofre qualquer interrupção. Ex.:
fornecimento de gás.
Prestações duradouras periódicas: a prestação é sucessivamente repetida em certos períodos
de tempo. Ex.: pagamento da renda.

As prestações instantâneas faccionadas poderiam ser confundidas com as prestações


duradouras periódicas. Nas prestações faccionadas está-se perante uma única obrigação cujo
objetivo é divido em frações, ou seja, com vencimentos intervalados no tempo, entanto com
definição previa do montante global. Nas prestações periódicas existe uma pluralidade de
obrigações distintas não havendo fixação inicial do montante global, pois só o decurso do
tempo poderá determinar o número de prestações a que o devedor se a obriga a realizar.

As prestações duradouras implicam a atribuição de um regime especial de extinção, assim a


lei assegura uma limitação a duração sob pena de a liberdade económica das partes. A
denuncia é um instituto típico dos contratos duradouros e caracteriza-se pela extinção.

iv. Prestações de resultado e de meios

Prestações de resultado: são aquelas em que o devedor se vincula a obter um determinado


resultado, respondendo por incumprimento se esse resultado não for obtido, salvo se provar
que ela se ficou a dever a facto fortuito ou de força maior.

Prestações de meios: são aquelas em que o devedor não estaria obrigado à obtenção do
resultado, mas apenas a atuar com a diligência necessária para que esse resultado seja obtido.
Ex.: o medico comprometer-se tão somente a fazer tudo para conseguir curar o doente, sem,
no entanto, o garantir.

v. Prestações determinadas e prestações indeterminadas

Prestações determinadas: aquelas em que a prestação se encontra completamente determinada


no momento da constituição da obrigação.

Prestações indeterminadas: são aquelas em que a determinação da prestação não se encontra


realizada no momento da sua constituição, pelo a determinação deve ter lugar até ao
momento do cumprimento da mesma.

III- OBRIGAÇÕES GENERICAS

O art. 539º define as obrigações genéricas como aquelas em que o objeto da prestação se
encontra apenas determinado quanto género. Isto significa que a prestação se encontra
determinada apenas por referência a uma certa quantidade, peso ou medida de coisas dentro
de um género, mas não está ainda concretamente determinado quais os espécimes daquele
género que vão servir para o cumprimento da obrigação. Sendo a quantidade um acrescento

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deduzível do artigo 280 (sem a quantidade, o objeto da obrigação seria indeterminável, logo
nulo).
Ex.: obrigação de entrega de 20 garrafas de vinho ou dez quilos de maçãs. Há uma referência
ao género – vinho, maçã – e à quantidade – vinte garrafas, dez quilos –, mas ainda não estão
concretizadas quais as unidades – as garrafas ou as maçãs – com que o devedor devera
cumprir a obrigação. Dai ser denominada genérica apenas o género se encontra determinada.

As obrigações genéricas são bastantes comuns no comercio jurídico. Ocorre uma obrigação
genérica quase sempre se negociam coisas fungíveis (art. 207º CC), mas não se limita a essas
situações. Podem ser estabelecidas obrigações genéricas que tenham por objeto coisas
infungíveis (ex.: adquirir uma qualquer obra de um escultor famoso).

i. Escolha

O facto de a obrigação ser genérica implica naturalmente que tenha que ocorrer um processo
de individualização dos espécimes dentro do género, denominada escolha. Nos termos do art.
400º pode caber a ambas as partes ou a terceiro.
O art. 539 estipula a regra geral, cabendo essa escolha ao devedor, referindo o art. 542º as
exceções.

De acordo o artigo 400/1, a escolha deve obedecer aos critérios estipulados pelas partes, e
supletivamente, a juízos de equidade, devendo esta ser adequada a satisfação do interesse do
credor, o que normalmente não ocorrera se a prestação for exclusivamente determinada com
coisas de qualidade inferior.

ii. Transferência do risco e da propriedade – concentração da obrigação

Na obrigação genérica a transferência da propriedade não pode ocorrer no momento da


celebração do contrato conforme resulta genericamente do art. 401/1, relativamente às coisas
determinadas. Um direito real só pode ter por objeto coisas corpóreas e determinadas, pelo
que um direito a uma quantidade de coisas a escolher de um certo género seria sempre
qualificado como um direito de crédito. Há sempre então que determinar a prestação para se
obter a transferência da propriedade, referindo o artigo 408/2, que essa transferência se opera
quando a coisa é determinada com o conhecimento de ambas as partes.

No entanto, decorre dos artigos 540 e 541 1ªparte, a transmissão de propriedade – e a


transferência do risco a ela associada – ocorre no momento da concentração da obrigação, ou
seja, quando a obrigação passa de genérica para especifica, não exigindo que essa
concentração seja conhecida por ambas as partes.

Quando ocorre a concentração da obrigação?


Quando a escolha cabe ao devedor:

a) Teoria da escolha: ocorre no momento em que o devedor procede à separação dentro


do género das coisas que pretendes usar para o cumprimento da obrigação;
b) Teoria do envio: simples separação das coisas dentro do género não basta, exigindo-
se que o devedor proceda ao envio das coisas para o credor;
c) Teoria da entrega: a concentração ocorreria com o cumprimento da obrigação, só
nesse momento se efetuando a transferência do risco para o credor.

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Consequentemente qualquer perecimento da coisa que ocorresse anteriormente a esse


momento correria por conta do devedor.
O ordenamento português consagra a teoria da entrega como regra geral. CFR – art. 540 CC.
Nos termos do 541º, a concentração pode ocorrer antes do cumprimento, situações em que a
propriedade, bem como o risco, se transferem antes do cumprimento:

a) Acordo entre as partes: o acordo constitui um contrato modificativo da obrigação,


através da qual as partes substituem uma obrigação genérica por uma especifica;
b) Quando o género se extinguir a ponto de restar apenas uma das coisas nesse
compreendidas: restar apenas uma das coisas, devendo cumprir a obrigação
remanescente. Se esse perecer, não imputável ao devedor, ocorre impossibilidade
(796)
c) Quando o credor incorrer em mora: sem motivo justificado, recusa receber a
prestação ou não pratica os atos necessários ao cumprimento da obrigação, a lei
determina que a OG se concentra (541) pelo que o risco do perecimento correra por
conta do credor;
d) Promessa de envio referida no art. 797º.

Se a escolha caber a terceiro ou ao credor

Neste caso a concentração atende a teoria da escolha 542CC, passando a ser irrevogável.

IV- OBRIGAÇÕES ESPECIFICAS

São aquelas em que tanto o género como os espécimes da prestação se encontram


determinados.
Neste sentido, a obrigação que abrange todo um género, ou todos os elementos do género
(ex.: toda a fruta de um pomar) não é genérica, mas especifica.

V- OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS

Modalidade de prestações indeterminadas que se caracterizam por existirem duas ou mais


prestações de natureza diferente, mas em que o devedor se exonera com a mera realização de
uma delas, que por escolha, vier a ser designada art. 543 CC.

Regra geral: na falta de determinação em contrário, a escolha pertence ao devedor art. 543/2.
Essa escolha também pode competir ao credor ou a terceiro art. 549º.

Apesar de existirem duas ou mais prestações, o devedor tem apenas uma obrigação, e o
credor apenas um direito de crédito.

Nas obrigações alternativas, a escolha tem que se verificar entre uma outra das prestações,
não sendo permitido, mesmo tratando-se de prestações divisíveis, que aquele a quem incumbe
a escolha decida realizá-la entre a parte de uma prestação ou parte de outra – art. 544 CC. A
designação do devedor quando conhecida pela outra parte, determina a prestação devida – art.
543/1 + 548 CC.

Não é permitida ao devedor a revogação da escolha efetuada apos ser realizada e igualmente
irrevogável quando compete ao credor ou terceiro – art. 549+542.

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Se alguma das partes não realizar a escolha no tempo devido a lei prevê a devolução dessa
faculdade à outra parte (art. 542/2 por força do art. 549 e 548).
Se a escolha couber ao credor e este não o fizer dentro do prazo, a escolha passa a ser do
devedor. Se a escolha couber ao devedor, a devolução da escolha ao credor ocorre apenas na
fase da execução – art. 714 CPC, tendo o credor na fase declarativa, quer obter uma
condenação em alternativa através da formulação de um pedido alternativo – 553 CPC.

 IMPOSSIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES ALTERNATIVAS

a) Impossibilidade causal: não é imputável a nenhuma das partes art. 545. A prestação é
ainda indeterminada porque não se efetuou a escolha e por isso a propriedade não se
encontra transmitida ao credor. Ex.: se o devedor se compromete a entregar o carro X
ou o barco Y, em virtude de um temporal o barco Y naufraga, é o devedor que tem de
suportar esse prejuízo, devendo entregar ao credor o carro X. Caso todas se tornem
impossíveis, extingue-se a obrigação 790;
b) Impossibilidade imputável ao devedor (art. 546): se a impossibilidade competir ao
devedor, ele deve efetuar uma das prestações possíveis. Se a escolha competir ao
credor, ele pode exigir uma das prestações possíveis ou indemnização por danos de
não ter sido realizada a prestação – 801 e 802;
c) Impossibilidade imputável ao credor (art. 547): caso a escolha pertença ao credor,
considera-se efetuada a prestação. Se a escolha couber ao devedor, também se
considera cumprida. O devedor pode optar por cumprir com uma prestação possível e
ser indemnizado – 547 por analogia.
d) Impossibilidade ser imputável a uma das partes e a escolha caber a terceiro: o terceiro
apenas podia escolher a obrigação que o devedor deveria cumprir, ou seja, de entre
duas prestações possíveis. Se for culpa do devedor, a escolha regressa ao credor
cabendo a este decidir se quer o cumprimento da prestação possível ou de uma
obrigação; se for culpa do credor, a escolha regressa ao devedor, cabendo a este
decidir se a obrigação se tem por cumprida ou se prefere efetuar a prestação e ser
indemnizado pelos danos que houver sofrido obrigação.

VI- OBRIGAÇÕES DE FACULDADE ALTERNATIVA

São aquelas em que se tem por objeto apenas uma prestação, mas o devedor tem a faculdade
de se desonerar mediante a realização de uma outra, sem haver necessidade de concordância
do credor. Há um “poder de substituição” atribuído ao devedor, não há uma alternativa. O
credor não pode exigir a prestação alternativa, mas terá de aceitá-lo sob pena de incorrer em
mora.

Ex.: o antiquário vende a um amigo um exemplar de uma obra jurídica muito antiga, mas
reserva-se a faculdade de, em lugar desse, entregar um outro exemplar de edição mais
recente,
embora de melhor aspeto gráfico.

Como não há várias prestações – a prestação é só uma – não há lugar a uma escolha, pelo que
essa é a única prestação a que o credor tem direito e só essa pode exigir.

VII- OBRIGAÇÕES PECUNIARIAS

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Correspondem as obrigações que têm dinheiro por objeto, visando proporcionar ao credor o
valor que as respetivas espécies monetárias possuam.

De acordo com o código civil (art. 550 e ss), podem assumir-se como:
a) Obrigações de quantidade: são aquelas que tem por objeto uma quantidade de moeda
com curso legal no país;
b) Obrigações em moeda especifica: o objeto corresponde a uma determinada quantidade
na qualidade da moeda considerada;
c) Obrigações com curso legal no estrangeiro: objeto corresponde a dinheiro que tenha
curso legal noutro espaço jurídico.

Há que ter em conta, desde logo, o valor nominal da moeda, o que remete para o princípio
nominalista. Assim, nas obrigações de quantidade releva o valor nominal, ou seja, o valor que
foi acordado no cumprimento (evitando-se possíveis problemas com os desvios dos demais
valores). Dado que o sentido da valorização é decrescente, ou seja, a moeda tem assistido a
uma desvalorização, assiste-se a mais um corolário do favor debitoris.
No entanto, admitem-se exceções ao nominalismo: nomeadamente, na renda vitalícia e na
obrigação de alimentos, permitindo-se a atualização do valor.

VIII- OBRIGAÇÕES DE JUROS

Correspondem a renumeração da cedência ou do diferimento da entrega de coisas fungíveis


(capital) por um certo lapso de tempo. A existência desta obrigação pressupõe uma obrigação
de capital.

É sempre acessória de uma obrigação principal (tem por referência uma outra obrigação – a
de entrega ou restituição do capital) e tem o seu conteúdo e extensão delimitados em função
do tempo; é uma prestação duradoura periódica.

 Juros legais: previstos no art. 559/1 e são aplicáveis sempre que existem normas
legais que determinem a atribuição de juros em consequência do diferimento na
realização de uma prestação;
 Juros convencionais: aqueles em que a sua taxas ou quantitativo é estipulado pelas
partes; têm, no entanto, limites. Art. 559+559-A+1146;
 Juros remuneratórios: têm uma finalidade remuneratória, correspondente ao preço do
empréstimo do dinheiro. 1145;
 Juros moratórios: natureza indemnizatória dos danos causados pela mora – 806 CC –
em virtude do atraso no cumprimento da obrigação;
 Juros indemnizatórios: são aqueles que se destinam a indemnizar os danos sofridos
por outro facto praticado pelo devedor (nomeadamente, o incumprimento da
obrigação).

Atenção ao 560 – anatocismo – consiste em fazer vencer juros de juros, ou seja, os juros
vencidos são incorporados no capital, sendo levados em conta para o cálculo dos juros
futuros. Nos termos do artigo 560º, só seriam admissíveis por convenção entre as partes e
mediante notificação judicial feira ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou proceder

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

ao seu pagamento. O nº2 apenas o permite em relação a um período mínimo de um ano. Já o


nº3 abre a porta para o anatocismo no direito bancário.

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IX- OBRIGAÇÕES PLURAIS

A obrigação plural tem por base dois ou mais credores ou dois ou mais devedores (ex.: A, B e
C obrigam-se perante D). A vinculação de várias para com outra é a pluralidade passiva, a
vinculação de uma pessoa para outras é a pluralidade ativa e a vinculação de várias pessoas
para com outras é pluralidade mista.

X- OBRIGAÇÕES CONJUNTAS OU PARCIÁRIAS

Nas obrigações conjuntas ou parciárias, cada um dos devedores só está vinculado a prestar ao
credor ou credores a sua parte na prestação e vice-versa (ex.: A, B e C obrigam-se a entregar
a D 900 euros, D só pode exigir de A 300 euros, ou seja, a sua parte da divida e vice-versa).

XI- OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

A obrigação diz-se solidária quando, havendo mais do que um devedor, cada um deles
responde pela totalidade da prestação ou quando cada um dos credores tem a faculdade de
exigir, por si, a prestação integral – artigo 512.º do Código Civil (CC). A solidariedade da
obrigação só existe se ela resultar da lei ou da vontade das partes – art. 513º.

i. Solidariedade passiva

Nos termos do 512/1, pode ocorrer nas obrigações plurais quando cada um dos devedores
responda pela prestação integral e, sendo esta efetivada, a todos libere.
Em suma, A realização da prestação integral por um dos devedores libera todos os outros
devedores em relação ao credor (art. 512.º CC); existe depois um direito de regresso do
devedor cumpridor sobre os outros devedores quanto à parte que lhes competia na obrigação
(art. 524.ºCC)

RELAÇÕES EXTERNAS

O credor pode exigir a qualquer um dos devedores o pagamento do preço, artigo 518º CC, se
não pagar há incumprimento. O credor pode renunciar à solidariedade apenas a favor de
algum dos devedores, caso em que conserva o direito à prestação por inteiro sobre os
restantes, artigo 527º CC.
Quando a prestação se torna impossível por facto imputável a um dos devedores, os restantes
são responsáveis pelo seu valor (520º). Se provocar, noutro cenário, danos que excedam o
valor da prestação, apenas o codevedor a quem é imputável responde pela reparação. A
satisfação do interesse do credor, ou seja, o cumprimento, libera todos os devedores. Nas
relações externas não são oponíveis contratos efetuados nas relações externas (artigo 406º/2).

RELAÇÕES INTERNAS

A expressão relações internas respeita ao relacionamento entre os codevedores, tidos como


iguais, perante o credor. Presume-se essa igualdade (516º e 512º). No caso de o devedor
satisfazer o crédito para além do que lhe compete, tem o direito de regresso contra cada um
dos devedores, na parte que compita a cada um, nos termos do artigo 524º.
Quando há cumprimento da prestação, produz extinção, artigo 523º CC. No entanto, os
restantes têm de ter direito de regresso perante o devedor que pagou a prestação, artigo 524º
CC.

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ii. Solidariedade ativa

Qualquer um dos credores pode exigir a qualquer um dos devedores a prestação devida por
todos os devedores a todos os credores. A realização integral da prestação a um dos credores
libera o devedor no confronto com todos os credores (art. 512.º CC); o credor que recebeu
mais do que lhe compete está obrigado a satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito
comum (art. 533.º CC). Na solidariedade ativa, a realização da prestação integral por um dos
credores libera o devedor no confronto com os credores.

516 – Pé de igualdade - exc. Convenções

RELAÇÃO EXTERNAS

Um dos credores pode exigir, por si só, a prestação integral, liberando-se o devedor perante
todos com a realização da prestação, artigo 512º CC. O devedor pode escolher o credor
solidário a quem realizar a prestação, artigo 528º nº1 CC. Quando há cumprimento da
prestação, artigo 532º CC.

RELAÇÕES INTERNAS

Quando há cumprimento da prestação, artigo 532º CC, o credor tem de satisfazer os outros
credores na parte que lhes cabe o crédito comum, artigo 533º CC.

iii. Solidariedade mista

correm simultaneamente as duas situações, pelo que a realização integral da prestação por um
dos devedores a um dos credores libera todos os devedores em relação a todos os credores.

XII- OBRIGAÇÕES DIVISIVEIS E INDIVISIVEIS

Objeto divisível – artigo 534º CC, ativa e parciaridade.


Objeto indivisível, não se pode dividir – artigo 535º a 538º CC, passiva e conjunção (entregar
todos).

FONTES DAS OBRIGAÇÕES

As obrigações podem resultar de diversos fenómenos jurídicos, denominado fonte da


obrigação o facto jurídico de onde emerge a relação obrigacional.

O nosso código não apresentou qualquer sistematização científica das fontes das obrigações,
optando por efetuar uma mera enumeração nos artigos 405 e ss.
 Contratos – arts. 405 e ss;
 Negócios unilaterais – arts 457 e ss;
 Gestão de negócios – arts. 464 e ss;
 Enriquecimento sem causa – arts 473 e ss;
 Responsabilidade civil – arts. 483 e ss.

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1. CONTRATOS

Negócio JURIDICO 217 e ss: são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob
tutela do Direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos
confirmes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes. Podendo ser unilaterais –
tendo apenas uma parte – ou plurilaterais – tendo duas ou mais partes.
Normalmente o contrato possui apenas duas partes e por isso, é designado de negócio jurídico
bilateral. Pode porem ter cariz multilateral quando tem mais que duas partes, como sucede no
contrato de sociedade (art. 980º).

O contrato assume-se assim como o resultado de duas ou mais declarações negociais


contrapostas, mas integralmente concordantes entre si, de onde resulta uma unitária
estipulação de efeitos jurídicos.

 Modalidades de contratos

Quanto a forma

Contratos formais: contratos em que a declaração negocial só pode ser exteriorizada por uma
determinada forma prevista na lei, designadamente um documento autêntico (escritura
publica) ou particular, podendo este ser autenticado ou não. Ex.: compra e venda de bem
imóvel 875º; doação 947º; mútuo superior a 25.000 euros 1143º.

Contratos não formais: aqueles contrato em que a declaração negocial pode ser exteriorizada
por qualquer meio, incluindo a oralidade. Regulado pelo princípio do consensualíssimo
consagrado no art. 219º, existindo a desnecessidade de qualquer forma especial para a
celebração do contrato, admitindo-se que as declarações das partes podem ser exteriorizadas
por qualquer meio.

Quanto ao modo de formação

Contratos consensuais: são aqueles para cuja celebração não se exige a tradição ou entrega da
coisa de que são objeto.

Contratos reais quod constitutionem: são aqueles para cuja celebração se exige a tradição ou
entrega da coisa de que são objeto. Ex.: penhor de coisas; comodato; mútuo; deposito;
doação; parceria pecuniária.

Quanto aos efeitos

Contratos obrigacionais: são contratos que criar, modificam ou extinguem as relações


obrigacionais. Contratos que reconduzem a criação de direitos de crédito e obrigações, sendo
a sua eficácia sobre a esfera jurídica das partes imediatas.

Contratos reais: são contratos que constituem, modificam ou extinguem um direito real ou a
relação jurídica de que faz parte esse direito como objeto.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Os contratos reais colocam um problema particular pois esse pode não ter eficácia imediata, o
que se sucede sempre que não estejam preenchidos, no momento necessário para que o
contrato de origem a uma situação jurídica de natureza real.

A regra geral é a da transmissão dos direitos reais ocorre por mero efeito do contrato segundo
o 408/1. Dai ocorre que o adquirente proprietário a partir do momento da celebração do
contrato sofre o risco da sua perda ou deterioração a partir desse momento art. 796/1.

A transmissão por mero efeito do contrato dá-se se os requisitos tiverem todos preenchidos,
nomeadamente, incidir sobre coisa presente, determinada e autónomas de outras coisas. Se as
coisas ainda não possuírem esses requisitos, como sucede se o contrato tiver por objeto coisas
futuras, indeterminadas, frutos naturais ou partes componentes ou integrantes, a
transferências é deferida para um momento posterior ao da celebração do contrato segundo o
artigo 408/2.

Relativamente a coisas futuras, o momento da transferência é o da aquisição do alienante;

Relativamente a coisas indeterminadas, a transferência verifica-se no momento em que a


coisa é determinada com o conhecimento de ambas as partes; excutam-se as obrigações
genéricas pois a transmissão de propriedade dá-se pela concentração da obrigação, sendo
aplicável as obrigações alternativas, a transferência do direito real se verifica quando a
escolha da prestação efetuada a quem compete chega ao conhecimento da contraparte;

 A clausula de reserva de propriedade

A compra e venda a crédito (venda a prestações – arts. 934.º a 936.º CC) traduz-se em riscos
muito elevados para o vendedor: a propriedade muda de esfera jurídica e ele deixa de ser
proprietário, “passando a ser um mero credor comum, sem garantia especial, nem sequer
sobre o bem vendido”. LML Situação agravada pelo art. 886.º CC – “Transmitida a
propriedade da coisa, ou o direito sobre ela, e feita a sua entrega, o vendedor não pode, salvo
convenção em contrário, resolver o contrato por falta de pagamento do preço.”

Em virtude deste contexto a clausula de reserva de propriedade tornou-se muito frequente na


prática jurídica e social.

A reserva de propriedade é a convenção pela qual o alienante reserva para si a propriedade da


coisa, até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da outra parte, ou até a verificação
de qualquer outro evento. A função desta é permitir que o vendedor se defenda de eventuais
consequências do incumprimento do comprador e não permitir que o vendedor continue a
gozar do bem.

Há limitação quanto aos bens?


Não, é o que resulta do art. 409.º, n.º 2 CC.
Bens móveis sujeitos a registo ou bens imóveis: em relação a bens imóveis ou de coisa móvel
sujeita a registo, só a cláusula constante do registo é oponível a terceiros. A publicidade é
essencial para a oponibilidade a terceiros nestes casos.
Outros bens: não há requisito da publicidade para a sua oponibilidade a terceiros (mesmo que
de boa-fé) Há limitação quanto aos bens? Não, é o que resulta do art. 409.º, n.º 2 CC.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Em caso de incumprimento por parte do comprador o vendedor continua a poder resolver o


contrato nos termos do artigo 801/2, uma vez que a exclusão deste direito pelo 886 só se
verifica se tiver ocorrido a transmissão de propriedade da coisa.

2. CONTRATO-PROMESSA

Estamos perante um contrato preliminar de outro contrato que, por sua vez se designa de
contrato definitivo.

O contrato-promessa é a convenção pela qual ambas as partes ou apenas uma delas, se


obrigam, dentro de certo prazo ou verificados certos pressupostos, a celebrar determinado
contrato, regulado no artigos 410 e ss. caracteriza-se especificamente pelo seu objeto uma
obrigação de contratar a qual pode ser relativa a qualquer contrato. O contrato-promessa cria
a obrigação de contratar, ou seja, a obrigação de emitir a declaração de vontade
correspondente ao contrato prometido; Obrigação assumida tem por objeto uma prestação de
facto positivo: a emissão de uma declaração negocial.

 Requisitos de forma

A lei não deixou de sujeitar o contrato promessa ao mesmo regime do contrato definitivo. É o
que se denomina a princípio de equiparação, significa que se deve aplicar aos requisitos e
efeitos do contrato-promessa as disposições relativas ao contrato prometido.
Existe duas exceções, nomeadamente:
Forma do contrato, a forma do contrato-promessa não seja necessariamente a mesma do
contrato definitivo o que permite que ao contrato-promessa seja atribuída uma forma menos
solene do que a que seria exigida para o contrato definitivo;
Disposições que pela sua razão de ser não se podem considerar extensivas a promessa,
implica o afastamento de todas as disposições relativas ao contrato prometido, justificadas em
função da configuração deste, e que não se harmonizem com a natureza do contrato-
promessa.

É valida a venda de bens alheios já que não se exige em relação ao promitente-vendedor


qualquer requisito de validade.

 Modalidade do contrato-promessa

O contrato-promessa pode ser classificado em contrato-promessa unilateral ou bilateral,


consoante apenas uma das partes se vincule à celebração do contrato futuro ou essa
vinculação ocorra para ambas as partes.

 Forma do contrato-promessa

O contrato promessa segue por regra geral a liberdade de forma, regulada no artigo
410/1+219ºCC.

Exceção 410/2: nos casos em que a lei exija, para o contrato definitivo, um documento
autêntico ou particular, deve o contrato promessa ser celebrado por documento (artigo 362º)
assinado pelas duas partes (bivinculante) ou pela parte que se vincula (monovinculante).
Assim:
a) Coisas moveis: forma livre/consensual nos termos do artigo 219º;

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

b) Coisas moveis sujeitas a registo: não sujeito a exigências de forma, logo 219+205/2º;
c) Coisas imoveis que não edifícios ou frações autónomas de edifícios : está sujeito a
exigências de forma, nos termos do artigo 875º (escritura pública), logo aplica-se a
forma constante do artigo 410º/2 (documento, nos termos do artigo 362º, assinado por
uma ou ambas as partes, conforme se processe a vinculação);
d) Edifícios ou frações autónomas de edifícios 410/2+410/3: um documento (artigo
362º), assinado por uma ou ambas as partes; reconhecimento presencial das
assinaturas e certificação, pela mesma entidade, da existência de licença de utilização
(edifício já construído) ou de construção (edifício em construção ou a construir).

Questão: e um contrato-promessa bilateral que apenas foi assinado por uma das partes?

Uma vez aceite o entendimento de que deve procurar aproveitar como contrato-promessa
unilateral o contrato-promessa bilateral a que falte uma das assinaturas, então deve adotar-se
a solução que de mais abertura a essa possibilidade 294+292.

 Transmissão dos direitos e obrigações emergentes do contrato-promessa

Vem esclarecer que os direitos e obrigações emergentes do contrato promessa, que não sejam
exclusivamente pessoas, se transmitem por morte aos sucessores das partes. Nada impede
assim que em caso de morte o cumprimento da obrigação seja exigido a herdeiros ou
requerido pelos herdeiros. Havendo a exceção do artigo 2023º na qual se for tomada em
consideração especificamente a pessoa a relação impedira a transmissão.

 Execução especifica

A lei admite a execução especifica no contrato-promessa – consiste na substituição do


devedor no cumprimento, obtendo o credor a satisfação do seu direito por via judicial. A
execução especifica consistira em o tribunal emitir uma sentença que produza os mesmos
efeitos jurídicos da declaração negocial que não foi realizado, operando-se assim a
constituição do contrato definitivo. Esta encontra-se prevista no artigo 830º, dai resulta que, o
não cumprimento da promessa atribui a outra parte do direito a recorrer a execução especifica
prevista no 827º.

Existem exceções ao funcionamento da execução específica:


a) Quando haja convenção em contrário (quando as partes pretendam afastar a execução
específica e assim o convencionem, quando exista sinal ou quando exista clausula
penal).
 A notar, no entanto, que as partes podem ilidir a presunção: convencionar o
funcionamento cumulativo ou alternativo da execução específica com o sinal;
a parte que deu sinal pode provar que a quantia não se pretendia que tivesse
natureza de sinal;
b) Incompatibilidade desta com a natureza da obrigação (casos de doação, do casamento
e da impossibilidade superveniente)

 Regime do sinal – 440º ao 442º

Sinal é uma cláusula acessória dos contratos onerosos, mediante a qual uma das partes
entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível, que pode ter
natureza distinta da obrigação contraída ou a contrair.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

A constituição depende da vontade das partes(440º), sendo o 441º a exceção – qualquer


quantia ou coisa entregue presume-se que seja sinal.

Quanto ao funcionamento do sinal:


a) Havendo cumprimento: a coisa ou quantia é imputada no cumprimento (a não ser
possível, é restituída e o preço pago na integra) 442/1;
b) Havendo incumprimento: depende de a quem seja imputável – 442/2 primeira parte
 Imputável a quem recebe o sinal: o sinal é restituído em dobro;
 Imputável a quem entrega o sinal: o autor do sinal perde a coisa ou a quantia.
c) Há incumprimento do sinal e houve tradição da coisa: 442/2 segunda parte – o
promitente-adquirente pode optar por:
 Sinal em dobro;
 O valor atual da coisa, ao tempo do incumprimento, com dedução do preço
convencionado, acrescido do sinal (em singelo) e a parte do preço que tenha
pagado (valor de mercado do bem – a quantia paga pela coisa + sinal);
 Execução especifica.

 Eficácia real do contrato-promessa

A lei permite a atribuição de eficácia real a este regime caso respeite a bens imoveis ou
moveis sujeitos a registo caso as partes assim o declarem e procedam ao seu registo art.
413/1. Esta sujeito a um simples documento particular.

A promessa com eficácia real, nos termos do artigo 413º, deve respeitar determinados
requisitos:
 Presença de coisas imóveis ou móveis sujeitas a registo;
 Uma promessa de alienação ou de oneração;
 Escritura pública ou documento particular autenticado;
Quando esta forma não seja exigida, por lei, para o contrato definitivo (móveis
sujeitos a registo): basta um documento particular com reconhecimento da
assinatura da(s) parte(s) que se vincula(m);
 Convenção com eficácia real (acordo das partes – declaração expressa);
 Registo da promessa (inscrição no registo).

3. PACTO DE PREFERENCIA
4. CONTRATOS A FAVOR DE TERCEIROS

O contrato a favor de terceiro encontra-se regulado nos artigos 443 a 451 do CC.

Este é o contrato a qual uma das partes (promitente) assume, perante a outra (promissário) a
efetuar uma atribuição patrimonial em benefício de outrem, estranho ao negócio (terceiro).
Essa atribuição patrimonial consiste normalmente na realização de uma obrigação, ou na
cessão de um crédito, bem como na constituição modificação, transmissão ou extinção de um
direito real.

O terceiro não é interveniente no contrato, embora adquira um direito contra o promitente, em


virtude do compromisso deste para com o promissário.

 Sujeitos
i) Promitente ou devedor (parte que assume a obrigação);

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

ii) Promissário, estipulante ou credor (parte que concede o benefício a terceiro);


iii) Terceiro ou beneficiário
Com a prometibilidade e salvaguarda do terceiro, este contrato institui 3 relações nos
seguintes termos:

1. Relação de cobertura ou de provisão: consiste numa relação contratual entre


promitente e promissario, no qual estabelecem direitos e obrigações entre as partes;

2. Relação de atribuição: existente entre o promissório e o terceiro, sendo dela deriva a


atribuição desse direito ao terceiro, assentando num interesse do promissario nessa
concessão;

3. Relação de execução: existente entre o promitente e o terceiro, em cumprimento da


obrigação assumida pelo primeiro no contrato a favor de terceiro. Ex: entre a
seguradora e o beneficiário.

 Requisitos para a celebração do contrato e a posição de cada sujeito

O requisito específico estabelecido no art. 443.º, n.º 1 do CC é a exigência que o promissário


ou estipulante tenha, quanto à prestação prometida, um interesse digno de proteção legal.

1. Posição do promissario: pessoa a qual o promitente assume a obrigação de prestar ao


terceiro – o promissario tem, assim um interesse digno de proteção legal 443/1.
O promissario pode exigir, do promitente, a efetivação da promessa ao terceiro
(444º/2); pode exigir a exoneração do promissário de uma divida perante o terceiro,
quando seja esse o conteúdo da promessa (exigindo assim o cumprimento a
promessa). Em contrapartida, pode também exigir as prestações ou vantagens que lhe
possam advir da relação básica (405º) ou dispor do direito à prestação ao terceiro ou
autorizar à sua modificação (446º/, a contrário, e 448º/1/1ª parte).

2. Posição do promitente: tem o dever de prestar ao terceiro beneficiário – obrigação de


efetuar a correspondente prestação, podendo essa efetivação ser exigida, quer pelo
terceiro, quer pelo promissario. Pode, assim, o terceiro:
a) Interpelar o cumprimento, quando não tenha sido fixado um prazo (777º).
b) Interpelar em termos moratórios (805º).
c) Interpelar em termos admonitórios (808º).
d) Resolver por impossibilidade culposa ou por incumprimento (801º).
e) Passagem ao incumprimento definitivo (808º).
f) Medidas relativas à realização coativa da prestação (817º a 830º, dependendo dos
casos).

3. Posição do terceiro: A aquisição do direito pelo terceiro não depende de aceitação


(cfr. art. 444.º, n.º 1 CC). Tendo conhecimento do contrato que lhe atribui uma
vantagem patrimonial, o beneficiário pode tomar uma de três atitudes:
a) Omissão;
b) Rejeição;
c) Reação positiva, ie, adesão;

Naturalmente que a possibilidade de adesão caduca com a rejeição, tal como a rejeição
caduca com a adesão;

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A omissão também não perdurará de modo infinito: a aceitação do cumprimento ou o uso da


vantagem vale como declaração tácita de adesão.
Podem ser realizados contratos a favor de terceiros, que prevejam o interesse público: nesses
casos, prevê o artigo 445º, a legitimidade para as autoridades competentes defenderem os
interesses em jogo.
O contrato será revogável, enquanto o promissário for vivo (448º/1) – os previstos no artigo
445º não têm direito para dispor à prestação ou a autorizar modificação (446º).
Quanto à revogação: em princípio, ambas as partes têm interesse – pelo que a regra será a do
mútuo interesse (448/2/2ª parte).

Num contrato a favor de terceiro há que ter em conta um equilíbrio, exigido pelo facto do
beneficiário não ser parte do contrato:
1. o promitente, quando se desempenhe perante terceiro, não tem a fiscalização da
contraparte;
2. o promissário, por não ser o destinatário da prestação acordada, pode desinteressar-se
dela ou não dispor de elementos para assegurar a integralidade;
3. o terceiro desconhece os precisos termos envolvidos, ficando em inferioridade.

5. CONTRATO PARA PESSOA A NOMEAR

Contrato em que uma das partes se reserva a faculdade de designar uma outra pessoa que
assuma a sua posição na relação contratual, como se o contrato tivesse sido celebrado com
esta última. Regulado nos artigos 452 a 456 do CC.

Apos a nomeação o contraente nomeado adquire os direitos e assume as obrigações


provenientes do contrato a partir do momento da celebração dele (artigo 455/1).

A cláusula de nomeação não é permitida nos contratos em que a determinação pessoal dos
contraentes é relevante, ou seja, quando estejam em causa contratos familiares ou outros
celebrado intuitu personae (art. 452.º, n.º 2 ;)

 Requisitos

A nomeação deve seguir determinados requisitos, tendo esta de ser feita por escrito ao outro
contraente no prazo convencionado, ou na falta de convenção em contrário, dentro dos cinco
dias, a contar da celebração do contrato (453/1), e deve ser feita acompanhada para ser eficaz
de instrumento de ratificação do contrato ou de procuração anterior à celebração deste
(453/2). A nomeação tem assim como requisito necessário uma atribuição de poderes
representativos por parte do nomeado, por forma a garantir a sua vinculação ao contrato,
exigindo a lei para o efeito procuração ou ratificação, consoante essa atribuição de poderes
representativos ocorra antes ou apos a celebração do contrato para nomear.

 Efeitos

Nomeação eficaz: para que assim seja, é necessário (i) a nomeação (art. 453.º, n.º 1) pelo
nomeante da pessoa que vai assumir os efeitos do contrato e (ii) o acordo do nomeado (art.
453.º, n.º 2);
Após a nomeação eficaz, a eficácia é retroativa.
Isso significa que: um dos intervenientes originais perde a qualidade de contraente e o
terceiro nomeado assume a sua posição como se fosse contraente desde a celebração do

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contrato;

Nomeação ineficaz: se o nomeante não fizer a nomeação ou se esta não for eficaz, então os
efeitos do contrato subsistirão entre as partes, exceto se as mesmas tiverem acordado em
sentido contrário (art. 453/1);
6. NEGOCIOS JURIDICOS UNILATERAIS

Por negócio unilateral, deve entender-se a fonte das obrigações que se traduza numa única
manifestação de vontade – englobando, assim, o ato unilateral. O Regime encontra-se
previsto nos artigos 457º a 463º.

 Promessa publica

Declaração negocial dirigida ao público, através da qual se promete uma prestação a quem se
encontre em determinada situação ou pratique certo facto, positivo ou negativo.

Enquanto negócio unilateral constitutivo de obrigações, a promessa unilateral vincula o


proponente de forma imediata e sem necessidade de aceitação do beneficiário (art. 459.º, n.º 1
CC);
É uma obrigação de sujeito ativo indeterminado, mas determinável: quem se encontre nas
situações ou pratique os factos indicados na promessa (cfr. Art. 511.º CC).
Promessa pública é uma declaração emitida através de anúncio público: este pode revestir
diversas formas, desde meios de comunicação social a outros....
A declaração negocial deve ter como conteúdo a promessa de uma prestação, a qual será
atribuída a quem se encontre em determinada situação ou a quem pratique um determinado
facto.

Como se extingue uma promessa pública?


Revogação: art. 460.º + 461.º CC
Caducidade: art. 460.º + art. 330.º CC.

 Concurso publico

Oferta de prestação ocorre como premio de um concurso, fixando prazo para a apresentação
se não, não é valido artigo 463/1 e 2 do CC. a decisão do júri tem de ir em conformidade com
as regras definidas no anúncio do concurso.

7. GESTÃO DE NEGOCIOS

Gestão de negócios ocorre quando uma pessoa assume a direção de negócio alheio no
interesse e por conta do respetivo dono, sem para tal estar autoridade. É, assim, instituto que
consiste em alguém começar a praticar atos em nome de outrem, de tal forma que começam a
surgir obrigações em relação a ambos.

A intervenção do gestor assenta – regra geral – numa atitude de altruísmo, que pode relevar
para evitar a perda ou deterioração de interesses do dono do negócio;
A gestão nasce de um facto em princípio ilícito, na medida em que consubstancia uma
intromissão não autorizada na esfera jurídica alheia, podendo inclusivamente causar prejuízo
ao dono do negócio.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

 Pressupostos 464 cc

Para que estejamos perante gestão de negócios devem estar preenchidos os requisitos do art.
464.º:
a) Assunção de direção de negócio alheio:

Quanto à direção do negócio:

 É necessária uma atividade do gestor: uma atividade positiva, não bastando


uma omissão;
 Incluem-se aqui os negócios jurídicos (em sentido estrito ou amplo), os atos
jurídicos ou mesmo atos materiais;
 Pode incluir atos de mera administração (em regra serão estes), mas também
atos de administração extraordinária ou de disposição;
 Atos não precisam de ter cariz patrimonial;
 Excluídos da gestão: atos contrários à lei ou aos bons costumes.

Quanto a natureza do negócio

 Negócio alheio surge como sinónimo de interesse alheio;


 O interesse pode ser de ordem material, moral ou espiritual: têm de ser atos
suscetíveis de serem praticados por outrem e não apenas pelo próprio dono do
negócio;
 A gestão “pressupõe não só a existência, mas também a consciência do
negócio alheio – a consciência e a vontade de dirigir negócio alheio”. AV

b) No interesse e por conta de outrem

Utilidade da gestão: a lei exige que a questão seja assumida no interesse e por conta
do dominus. Não se abrange apenas a intenção de festão, mas também uma utilidade
da mesma. A tutela dos interesses do dono exige que não possa considerar atribuída
ao gestor a possibilidade de exercer a gestão, quando não exista qualquer utilidade
para o dominus. A utilidade da gestão determina-se no momento do ato a assumir
segundo o critério optado pela lei, utilier coeptum.

Intenção da gestão: no artigo 464 refere que a gestão deve ser realizada por conta do
dono do negócio, confirmado pelo 472.

c) Falta de autorização

 A gestão pressupõe a falta de autorização do dominus, ie, a inexistência de


qualquer relação jurídica entre o dono e o gestor;
 Não pode existir uma relação que confira ao gestor o direito ou o dever de agir
(ex.: mandato ou procuração);
 Se existir uma causa (laboral, prestação de serviços...) pela qual o agente
esteja obrigado ou autorizado a agir no negócio alheio, não estamos no âmbito
da gestão de negócios;

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

 Se o agente acreditar erroneamente que tem o dever de agir, não preenche os


requisitos essenciais para estarmos perante gestão de negócios.

 Deveres do Gestor

No artigo 465 os deveres do gestor são mencionados, no artigo 466 a constituição do gestor
em responsabilidade como dono do negócio.

E haverá algum dever do gestor de prosseguir a gestão a partir do momento em que a inicia?

Professores Vaz Serra, Menezes Cordeiro e Menezes Leitão: não. Não há nenhum dever deste
género que resulte da lei quanto ao gestor; apenas à obrigação de indemnizar os danos
causados nos termos do art. 466.º, n.º 1.

O que existe é “um dever específico de proteção do dominus, através do qual o gestor é
responsabilizado se interromper injustificadamente a gestão numa situação suscetível de lhe
causar danos”.

 Responsabilidade do gestor

Artigo 466, o gestor é responsável pelos danos que causar no exercício se agir em
desconformidade com o interesse ou a vontade. Portanto, o gestor deve ficar sempre sujeito
as diligencias de um bom pai de família, previstas no artigo 487/2 dado que a intervenção se
apresenta como uma forma de realizar a prestação ao dominus.

 Deveres do dono para com o gestor

a) Gestão regular: significa que a gestão é exercida sobre conformidade com o interesse
e a vontade do dono do negócio e o gestor tem o direito a ser reembolsado de todas de
todas as despesas suportadas e indemnizado por prejuízo artigo 468/1.

b) Gestão irregular: não é atribuída qualquer renumeração ao gestor pela sua atuação, a
menos que corresponda a sua atividade profissional art. 470. Se é irregular foi contra
o 465 a), e o dono responde apenas sobre o enriquecimento sem causa 468/2.

 Aprovação da gestão

A aprovação da gestão implica a renúncia ao direito de indemnização pelos danos devidos a


culpa do gestor e vale como reconhecimento dos direitos que lhe competem.

 Posição do dono do negócio quanto a terceiros

Gestão de negócios consiste na prática de atos materiais, assim a situação mantém-se no


âmbito da relações internas entre gestor e dono.

a) Gestão representativa: é quando o gestor invoca o nome do dono do negócio, artigo


471/1 parte 1. Estando perante a uma representação sem poderes 268 CC.
Se o dono do negócio ratifica o contrato, atribui poderes representativos ao gestor,
ainda com efeitos retroativos à prática do ato jurídico pelo gestor, artigo 268º nº1 e 2
CC, ou seja, tudo se passa como se ao gestor tivesse sido passada procuração para o

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ato, atribuindo-lhe poderes representativos, pelo que o contrato é eficaz, repercutindo-


se na esfera do dono do negócio, como representado pelo gestor na sua prática.
Se o dono do negócio não ratifica o contrato, o mesmo não produz efeitos por o ato ter
sido praticado pelo gestor, não em nome próprio, mas em nome do dono do negócio
sem que chegue a haver poderes representativos, uma vez que, o dono do negócio não
ratifica o contrato.

b) Gestão não representativa: a é quando o gestor age em nome próprio, artigo 471º, 2º
parte CC. Estamos perante um mandato sem representação, artigo 1180º nº1. Como
vai transferir para o dono do negócio, artigo 1181º nº1 CC.
Se for por efeitos reais, o dono do negócio pode mesmo cobrá-los diretamente ao
devedor respetivo, substituindo-se (ação direta) nessa medida ao gestor, artigo 1181º
nº2 CC. NOTA: ação direta é agir por alguém para salvaguardar um direito que é seu.
Se for por efeitos obrigacionais, o dono do negócio terá de as assumir: ou através da
chamada assunção de divida, ou entregando ao gestor as quantias que sejam
necessárias para ele as cumprir ou reembolsando-as das despesas que este tenha
efetuado para cumprir tais obrigações, artigo 1182º CC.

 Gestão de negócios alheios

A gestão de negócio alheio julgado próprio, trata-se da situação em que o gestor gere o
negócio em causa convencido de que é mesmo seu, quando afinal é de outro, artigo 472º nº1
CC.

Assim, o gestor atua sem a intenção de gerir o negócio alheio e naturalmente sem intenção de
o fazer no interesse e para aquele que é o verdadeiro titular. A gestão de negócios apenas se
aplica se houver aprovação da gestão, artigo 472º nº1 CC. Apesar de o gestor agir sem
intenção de gerir negócio alheio, a gestão possa ainda assim, servir ao interesse do verdadeiro
titular do negócio e ter correspondido àquela que seria a sua vontade. Neste caso, o titular do
negócio, não sendo obrigado a aprovar a gestão, terá motivo para, decidir aprová-la.

Se o verdadeiro titular do negócio não aprovar a gestão, aplica-se à gestão as regras de


enriquecimento sem causa, artigo 472º nº1, 2º parte CC.

 Renumeração do gestor

A gestão não dá direito a qualquer renumeração, apenas se corresponder ao exercício da


atividade profissional do gestor, artigo 470º nº1 CC. RESPOSTA:

1. Ver os pressupostos da gestão de negócios para vermos se estamos perante uma


gestão de negócio, artigo 464º CC
2. Ir ao artigo 465º alínea a) CC, para ver se estamos perante uma gestão regular ou
irregular.
3. Gestão representativa ou não representativa, artigo 471º CC.
4. Depois ver a responsabilidade do gestor, artigo 466º CC ou a obrigação do dono do
negócio, artigo 468º CC.

8. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

A proibição do enriquecimento injustificado constitui um dos princípios constitutivos do


nosso direito civil. É com base nele, podem justificar inúmeros instituto. Esse princípio vem
consagrado no artigo 473/1 do CC, que permite o uso deste instituto sempre que alguém
obtenha enriquecimento à custa de outro sem causa justificativa.
O enriquecimento sem causa consiste naquele que sem causa justificativa, enriquece à custa
de outrem e é obrigado a restituir o empobrecido o benefício com que injustificadamente
enriqueceu.

 Requisitos

Temos então os seguintes pressupostos constitutivos do enriquecimento sem causa, sendo


todos eles cumulativos:

 Existência de um enriquecimento: vantagem de caracter patrimonial;

 Sem causa justificativa: segundo o professor ML, varia consoante a modalidade de


obrigação;

 À custa de outrem: a locupletação não precisa de corresponder correlativamente ao


empobrecido, mas antes deve considerar-se possível imputar o enriquecimento à outra
esfera jurídica.

Sendo estes pressupostos bastante genéricos, o artigo 474 do CC esclarece a subsidiariedade


deste instituto. Esta norma vem estabelecer que a ação de ESC seja o último recurso a utilizar
pelo empobrecido, ou seja, se houver outro meio este, este deve ser tentado primeiro.

A lei nega o direito a restituição nos casos de prescrição, usucapião, prestação de alimento
provisórios e ente outros; a lei atribui outros efeitos ao enriquecimento quanto as benfeitorias
uteis e quanto a alteração das circunstâncias vigentes a data do contrato.

Assim nos termos do 474 CC, quando há regimes especialmente fixados não se recorre ao
enriquecimento sem causa – anulação + nulidade + resolução + revogação do negócio
jurídico – têm regime próprio, logo é afastado o ESC.

 Doutrina

O ESC tem vindo a ser questão controvertida na doutrina, o professor Menezes Leitão
entende que a cláusula geral do art. 473º.1, apresenta-se como demasiado genérica, não
permitindo um tratamento dogmático unitário do enriquecimento sem causa, uma adequada
subsunção aos casos concretos. Estabelece-se assim uma tipologia de categorias que faz uma
divisão do instituto nas seguintes modalidades – enriquecimento por prestação, por
intervenção, por despesas realizadas em benefício doutrem, por desconsideração dum
património intermédio.

 Modalidades do enriquecimento sem causa

Enriquecimento por prestação

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

O enriquecimento por prestação, respeita a situação em que alguém efetua uma prestação a
outrem, mas se verifica uma ausência de causa jurídica para que possa ocorrer a receção
dessa prestação.

Este conceito é composto pelos seguintes requisitos: um elemento real, na qual consiste uma
atribuição patrimonial; um elemento cognitivo e outro volitivo; e um elemento final, na qual
a atribuição tem que visar a realização de um fim específico.
O artigo 473/2 tem 3 casos especiais do ESC:

1. Restituição de algo que não era devido: alguém cumpre a obrigação inexistente, por
equívoco (art. 476º quanto à repetição do indevido; repetir = restituir, desfazer
pagamento que foi realizado); cumprimento de obrigações alheias (art. 477º e 478º),
ex.: pago dívida de outro pensando que era minha.

1.1. Repetição do indevido: realização de uma prestação com a intenção de


cumprir uma obrigação sem que exista uma obrigação subjacente a essa prestação ou
sem que esta tenha lugar entre o solvens e accipiens ou deva ser realizada naquele
momento (cumprimento antecipado). Tendo como pressupostos:

i. Animo solvendi: intenção de cumprir uma obrigação, referida no artigo


476/1;

ii. Indevido objetivo: se a obrigação que o solvens visou extinguir não se


chegou a constituir/ já estava extinta quando a prestação foi realizada,
haverá direito a pedir a sua restituição. A restituição é excluída perante
a verificação de uma obrigação natural – 402+476 – entre as quais se
inclui obrigações prescritas – 304/2;

iii. Indevido subjetivo: a prestação pode existir no momento da prestação,


mas respeitar a sujeitos diferentes daquele que recebeu/realizou a
prestação. Poderá respeitar ao recetor da prestação – ex latere
accipientis – ou ao autor da prestação – ex latere solventis.

→ Ex latere accipientis: ocorre quando a prestação é realizada a


terceiro e não ao seu verdadeiro credor. Equiparada ao indevido
objetivo pelo artigo 476/2, com a exceção de se poder admitir
casos em que a obrigação venha a ser extinta, apesar de ser
realizada terceiro (770º), casos em que a prestação, apesar de
ter sido realizada a terceiro conseguiu obter o efeito que visava
- extinção da obrigação pelo que não se admite a repetição do
indevido);
→ Ex latere solventis: ocorre quando a prestação é realizada por
terceiro e não pelo devedor. Há que tomar em consideração a
posição do credor, uma vez que este recebe o que lhe é devido,
pelo que se torna dificilmente sustentável obrigá-lo pura e
simplesmente à restituição, que só é admitida em casos
excecionais - 477º e 478º);
Verificando-se que o terceiro realizou uma obrigação alheia por
julgar ser sua, artigo 477+592, a restituição depende se o erro for
desculpável.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

O artigo 478, neste caso não é do credor, mas do devedor que o


terceiro devera exigir a restituição do enriquecimento salvo se o
credor conhecer o erro.
O artigo 476/3 não admite restituição por prestação realizada
antecipadamente.

2. Restituição da prestação por posterior desaparecimento da causa: a causa da


prestação deixou de existir – artigos 473/2, 443/1, 788, 795/1;
3. Restituição da prestação por não verificação do efeito pretendido: alguém realizar
uma prestação em vista de um efeito que não se verificou – (art. 475º exclui em 2
situações) – art. 473º/2; prestação visa determinado resultado que corresponde a uma
contraprestação cuja realização se esperava quando se verificou a prestação;
contraprestação é negócio jurídico; esse resultado não se verifica.

Enriquecimento por intervenção

A situação que alguém obter um enriquecimento através de uma ingerência não autorizada no
patrimônio alheio (como no caso de consumo). Com base no 473/1, deva ser atribuída nesses
casos ao titular uma pretensão à restituição do enriquecimento sem causa. O fim da pretensão
será a recuperação da vantagem patrimonial obtida pelo interventor ocorrerá sempre que, de
acordo com a repartição dos bens, essa vantagem considera-se como pertencente ao titular do
direito.

 Pressupostos do ESC

1. Obtenção de enriquecimento: vantagem de caráter patrimonial-individual ou


valorização económica do património global do recetor. Menezes Leitão – vantagem
patrimonial concreta (aquisição de direitos subjetivos primariamente);
2. À custa de outrem: não tem significado unitário e configura-se nas várias categorias
das modalidades do Enriquecimento sem Causa;
3. Sem causa justificativa: conceito mais indeterminado destes pressupostos. Não tem
causa justificativa quando, de acordo com os princípios legais, não haja razão de ser
desse enriquecimento e, de acordo com o sistema jurídico, deve pertencer a outrem e
não ao efetivo enriquecido.
a) Fácil de discernir no enriquecimento por prestação, nas outras modalidades
recorre-se à teoria do conteúdo da destinação.

 Obrigação de restituição (479 e 480)


Tudo o que tenha sido obtido à custa do empobrecido, em princípio.

Regime benéfico para o enriquecido pois este geralmente desconhece a inexistência de causa
do seu enriquecimento.

A. Enriquecimento por prestação: restitui-se a própria coisa prestada. Não podendo haver
restituição em espécie, deve restituir-se o valor correspondente a preço comum de
mercado.
B. Enriquecimento por intervenção: só se restitui o valor da exploração do bem
(Menezes Leitão) ou deve restituir-se todo o ganho que se obteve em virtude dessa
intervenção.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

a. Não cabe restituir os lucros que o empobrecido poderia ter (não há lucros
cessantes)
b. E se o infrator tiver lucros muito superiores? Difícil responder. Pode levar a um
enriquecimento sem causa do empobrecido. E se pessoa publica obra e depois tem
lucro.
C. Enriquecimento por despesas: não apenas o objeto ou direito primariamente adquirido
sem causa, mas também todo o commodum ex re, o qual abrange os frutos da coisa ou
outras vantagens obtidas com ela.
Obrigação de restituir não pode exceder o valor do bem – limite da aplicação do
Enriquecimento sem Causa é o Enriquecimento por Prestação.

TRANSMISSÃO DA OBRIGAÇÃO

Os créditos e as dívidas são, inequivocamente, situações de natureza patrimonial, neste


sentido, pode haver lugar à sua transmissibilidade quer seja de forma universal (integrados
num património), quer de forma isolada (transmissão a título singular).

A sua transmissão pode ser feita:


1. Por morte (art. 2024.º CC);

2. Em vida através dos seguintes mecanismos:


a. Cessão de créditos;
b. Sub-rogação;
c. Assunção de dívida;
d. Cessão da posição contratual.

I. CESSÃO DE CRÉDITO

Prevista nos arts. 577º e ss. CC, consiste numa forma de transmissão do crédito que opera por
virtude de um negócio jurídico (normalmente um contrato celebrado entre o credor e
terceiro).

Para cessão de créditos não se exige o consentimento do devedor, nem ele tem que prestar
qualquer colaboração para que esta venha a ocorrer. O crédito é uma situação jurídica
suscetível de transmissão negocial, sem que o devedor tenha que outorgar de alguma forma
colaborar no negócio transmissivo.

Figura com 3 sujeitos:


→ Cedente – o que cede o crédito
→ Cedido – o devedor
→ Cessionário – o que adquire o crédito

 Requisitos

1. Um negócio jurídico a estabelecer a transmissão da totalidade ou de parte do


crédito

Pode ser qualquer negócio jurídico, sendo que a cessão de créditos se apresenta como um
efeito desse mesmo negócio, no qual se integra.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

A lei determina expressamente que os requisitos e os efeitos da cessão entre as partes se


definem em função do tipo de negócio que lhe serve de base (578/1), nos termos da qual se
estabelece ainda a garantia quanto a existência e exigibilidade do crédito (587). Assim, é
através do regime do negócio base que se determinará qual forma e o regime jurídico
aplicável a cessão de crédito.
O 578/2 CC exige, salvo o disposto em lei especial a forma de escritura pública/documento
particular autenticado para a cessão de créditos hipotecários, quando esta não seja feita em
testamento e a hipoteca recais sobre bens imoveis.

Efetivamente prevendo genericamente a prestação de coisa futura (399º CC), a lei admite que
os bens futuros possam ser objeto de venda (880º CC), desde que esteja preenchido o
requisito da determinabilidade (280º.1 CC), é possível a cessão onerosa de créditos futuros,
podendo estes resultar quer de negócio jurídico já celebrado ou ainda não celebrado.

Se o negócio transmissivo vier a ser declarado nulo ou anulado, isso acarretará a anulação da
transmissão do crédito (de acordo com o disposto nos arts. 289.º a 291.º).

2. Inexistência de impedimentos legais ou contratuais a essa transmissão

Em certos casos, a lei proíbe que o crédito seja cedido. Estão nesta situação créditos como o
direito de preferência – 420 – direito a alimentos – 2008. Um casos específico diz respeito à
cessão de créditos e direitos litigiosos, (579º e ss. CC). Os direitos consideram-se litigiosos
nos termos do 579/3 CC. Se apesar da proibição vier a ser realizada a cessão é, esta
considerada nula (580/1CC), que não pode ser invocada pelo cessionário (580/2 CC).

3. A não ligação do crédito, em virtude da própria natureza da prestação, à pessoa do


credor

Estão nessa situação os créditos que se constituem para a satisfação das necessidades pessoais
do credor – implicaria sujeitar o devedor a ter que realizar uma prestação a pessoa diferente
daquela em relação à qual a prestação se encontra, por natureza, intimamente ligada.
Natureza da prestação constitui um obstáculo à cessão do crédito – pelo que se for realizada
será nula (art. 294º).

Incluem-se aqui, seguindo a enumeração de LML, os seguintes casos: Direito a alimentos


(art. 2003.º); apanágio do cônjuge sobrevivo (art. 2018.º); créditos de onde resulte
dependência pessoal entre credor e devedor; quando estejam em causa qualidades ou
condições do credor (ex: prestação de serviços de advogados e médicos). A natureza da
prestação constitui um obstáculo à cessão do crédito, pelo que se ela apesar disso foi
realizada, considera-se nula (294).

 Efeitos da cessão de créditos

É importante distinguir os seus efeitos em relação as partes, em relação ao devedor e em


relação a terceiros.

→ Efeitos em relação as partes:


a) Transmissão do crédito do cedente para o cessionário: A cessão opera apenas por
efeito do contrato, determinando logo este a transmissão do crédito para o cessionário.

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Essa transmissão não é imediatamente oponível a terceiros, nos termos do artigo


583º.1 ou pelo artigo 583º.2, no caso de conhecimento, sendo a notificação ou a
aceitação que decide qual a cessão vai prevalecer em caso de dupla alienação do
mesmo crédito (584º);

b) Transmissão das garantias e acessórios de crédito: A transmissão do crédito verifica-


se com todas as vantagens e defeitos que o crédito tinha, abrangendo garantias e
outros acessórios (582º). Relativamente às garantias, a lei determina que se
transmitem as que não forem inseparáveis da pessoa do cedente, exceto se estas
tiverem reservado ao consentir na cessão (582º.1). Quanto aos privilégios creditórios,
a sua concessão atende especificamente à causa do crédito. Já relativamente ao direito
de retenção, a questão apresenta-se controvertida, defendendo a maioria da doutrina
que se trata de uma garantia ligada intimamente à pessoa do cedente, pelo que só
poderá ser transmitida por acordo expresso entre cedente e cessionário;

c) Transmissão das exceções: A transmissão abrange ainda exceções que o devedor


possuía contra o cedente (585º). A cessão do crédito não pode colocar o devedor em
pior situação do que aquela que se encontrava antes de ela ter sido realizada;

d) Garantia prestada pelo cedente: É um elemento essencial para a cessão a transmissão


do crédito pelo que a lei determina que o cedente tenha quer prestar ao cessionário a
garantia da existência e exigibilidade do crédito ao tempo da cessão, nos termos do
artigo 587º.1. No entanto, o cedente só garante a solvência do devedor se a tanto se
tiver expressamente obrigado (587º.2). A garantia a prestar pelo cedente diz assim
(regra geral), apenas respeito à existência e exigibilidade do crédito, consistindo numa
garantia por vícios do direito, que compreende o assegurar da subsistência e
acionabilidade do crédito ao tempo da cessão (892º e ss.) e acessórios e a faculdade de
dispor do crédito (956º e ss.). No caso de se estar perante uma venda, o cedente terá
que restituir ao cessionário o preço do crédito (894º) e responde pelos danos
emergentes (899º), podendo ainda constituir-se em responsabilidade pelo
incumprimento da obrigação de convalidação (900º.1). Havendo, dolo da sua parte, o
cedente responderá por lucros cessantes, que podem ter por base o interesse contratual
negativo (898º) ou o incumprimento da obrigação de convalidação, no caso de o
cessionário pretender optar por essa solução (900º.2). No caso de doação, o cedente
responde se se tiver expressamente responsabilizado ou houver atuado com dolo (956º
e 957º). Pode, porém, além da garantia da existência e exigibilidade do crédito o
cedente ainda assegurar a solvência do devedor, desde que o faça por declaração
expressa (217º);

e) Obrigação de entrega de documentos e outros elementos probatórios do crédito: O


cedente deve entregar ao cessionário os documentos e outros meios probatórios do
crédito, em cuja conservação não tenha interesse legítimo (586º).

→ Efeitos em relação ao devedor:

A cessão de créditos apenas produz efeitos em relação ao devedor, desde que lhe seja
notificada (583º.1). A notificação e a aceitação não estão sujeitas a forma especial (219º). Se
o devedor antes da notificação ou aceitação, pagar ao cedente ou celebrar com ele algum
negócio relativo ao crédito, o pagamento ou o negócio têm efeitos sobre o crédito podendo
produzir a sua extinção e são oponíveis ao cessionário, exceto se ele demonstrar que o

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devedor tinha conhecimento da cessão (583º.2). O devedor pode opor ao cessionário todos os
meios de defesa que lhe era lícito invocar contra o cedente consoante os termos do 585º.

• Exige-se o conhecimento efetivo e não basta o desconhecimento por negligência.


•O cessionário que veja o seu direito afetado pode apenas instaurar uma ação de
enriquecimento sem causa contra o cedente (por intervenção através da disposição eficaz de
um direito alheio).

→ Efeitos em relação a terceiros:

A cessão produz efeitos independentemente de qualquer notificação, pelo que a partir da sua
verificação podem os credores do cessionário executar o crédito ou exercer a ação sub-
rogatória;
Há uma exceção a esta regra no art. 584.º CC – Há um caso, em que a eficácia da cessão em
relação a terceiros depende da notificação ou da aceitação da situação de o crédito ser cedido
a mais de que uma pessoa. Neste caso, prevalece a cessão que primeiro tiver sido notificada
ao devedor ou por este tiver sido aceite (584º).

II. SUB-ROGAÇÃO

A sub-rogação é a designação atribuída ao fenómeno pelo qual uma pessoa vem substituir, no
âmbito da relação jurídica, outra pessoa;

Esta se encontra prevista nos artigos 589 e ss do CC, consistindo assim na situação que se
verifica quando, cumprida uma obrigação por terceiro, o crédito respetivo não se extingue,
mas antes se transmite por efeito desse cumprimento para o terceiro que realiza a prestação
ou forneceu os meios necessários para o cumprimento.

 Modalidades

1. Convencional: resultando de um acordo entre o terceiro que pagou e o credor a quem


o pagamento foi feito ou entre terceiro e o devedor – artigos 589 e 590

1.1. Sub-rogação pelo credor

Prevista no artigo 589, verifica-se através da declaração do credor, de que pretende que o
terceiro que cumpre a obrigação venha por virtude desse cumprimento, a adquirir o crédito.

Esta tem dois requisitos cumulativos, não sendo a declaração do credor eficaz só por si para
determinar a transmissão do crédito. Os requisitos são: Cumprimento da obrigação por
terceiro e declaração expressa anterior do credor a consentir a sub-rogação.

1.2. Sub-rogação pelo devedor

Prevista no artigo 590, verifica-se através de declaração do devedor de que pretende que o
terceiro que cumpre a obrigação adquira o respetivo crédito. Essa declaração tem igualmente

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de ser expressa e deve também ser efetuada até ao momento do cumprimento, para evitar a
extinção da divida em lugar da sua transmissão.

1.2.1. Sub-rogação em consequência de empréstimo efetuado ao devedor

Não é o terceiro que cumpre a obrigação, mas antes o próprio devedor.


Como há cumprimento com dinheiro ou outra coisa fungível emprestada por terceiro, é
admitida a sub-rogação, desde que haja declaração expressa, no documento do empréstimo de
que a coisa se destina ao cumprimento da obrigação e de que o mutante fica sub-rogado nos
direitos do credor.
Exigência de forma especial: declaração de sub-rogação tem de constar em documento do
empréstimo
2. Legal

Pode resultar de determinação da lei, independentemente, portanto, de qualquer declaração do


credor ou do devedor. Nos termos do artigo 592º.1, essa situação verifica-se sempre que o
terceiro tiver garantido o cumprimento ou estiver por qualquer outra causa diretamente
interessado na satisfação do crédito. O requisito geral é de que o terceiro tenha interesse
direto no cumprimento, o que sucederá sempre que a não realização da prestação lhe possa
acarretar prejuízos patrimoniais próprios.

 Efeitos da sub-rogação

→ Transmissão do crédito na medida da sua satisfação

Os efeitos da sub-rogação encontram-se previstos no artigo 593, onde se determina que o


terceiro adquire na medida da satisfação dada ao direito do credor, os poderes a que estes
competiam. Ocorre assim uma sub-rogação parcial sempre que o terceiro que cumpre a
obrigação, não a faz totalmente. Nesse caso, como a aquisição do direito de crédito, só se
verifica na medida da satisfação dada ao direito do credor (593/1). Nesse caso, a lei vem
prever que a sub-rogação não prejudica os direitos do credor originário quando outra coisa
não for estipulada (593/2).

→ Transmissão das garantias e acessórios do crédito

O art. 594º manda aplicar a esta transmissão as disposições do arts. 582º-584º. Transmitem-se
assim para o sub-rogado as garantias não inseparáveis da pessoa do credor (ex: fiança). No
caso de sub-rogação parcial parece que as garantias passarão a beneficiar ambos os créditos,
ainda que por força da sua indivisibilidade, cada credor tenha que exercer o direito real de
garantia por inteiro, estabelecendo-se a preferência de acordo com o 593º.2 e 3.

Transmissão do crédito por sub-rogação acarreta igualmente a transmissão de todas as suas


garantias e acessórios.
➢ Só não se transmitem aqueles que são inseparáveis da pessoa do credor.
➢ Pela mesma remissão, a sub-rogação deve ser notificada ao devedor ou ser por ele aceite
quando produza efeitos em relação a ele (art. 583º/1).

→ Transmissão das exceções

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

O art. 594º, não efetua qualquer remissão para o artigo 585º, onde se determina que as
exceções que o devedor tinha contra o cedente podem ser também invocáveis contra o
cessionário.

Galvão Telles: a norma aplica-se igualmente à sub-rogação, apesar da não indicação;

 Eficácia da sub-rogação

Por força de remissão do 594º aplicam-se à sub-rogação também as disposições dos artigos
583º e 584º. A sub-rogação deve ser notificada ao devedor, ou por este aceite, para que se
produza efeitos em relação a ele (art. 583º.1), sob pena de não lhe ser oponível, a não ser
demonstrado o seu conhecimento da sub-rogação (583º.2). Assim, caso o devedor, ignorando
a sub-rogação, vier a pagar ao credor originário, esse pagamento será eficaz perante o sub-
rogado. Em caso de vários pagamentos do mesmo crédito por terceiro, prevalece a sub-
rogação que primeiro for levada ao conhecimento do devedor ou que este seja aceite (584º ex
vi 594º).
III. ASSUNÇÃO DE DIVIDAS

Encontra-se prevista nos artigos 595 e ss do CC. Transmissão singular de uma divida através
de um negócio jurídico celebrado com terceiro. – a divida transfere-se de um devedor
originário para um terceiro.

 Modalidades de assunção de divida

a) Por contrato entre o antigo e o novo devedor, ratificado pelo credor – assunção interna

A transmissão da divida resulta do efeito conjugado de dois negócios jurídicos:


 Contrato de transmissão entre antigo devedor e novo devedor;
 Negócio unilateral do credor a ratificar esse mesmo contrato – forma expressa ou
tacita declarada a qualquer das partes.
→ Se não existir ratificação o contrato entre o novo e antigo devedor não é eficaz em
relação ao credor pelo que não pode valer como assunção de dívida.
→ A partir da ratificação a assunção de dívidas torna-se definitiva, deixando as partes de
a poder distratar (art. 596º/1).
→ Tem eficácia retroativa – considera-se a dívida transmitida no momento da celebração
do contrato, uma vez que será essa, normalmente, quer a vontade do credor quer a
vontade das partes outorgantes do contrato de transmissão.
▪ Na assunção liberatória a retroatividade atribuída à ratificação tem que ser plena.

b) Por contrato entre o novo devedor e o credor, c/s consentimento do antigo devedor –
assunção externa

A assunção de divida resulta apenas de um negócio jurídico:


 contrato entre o novo devedor e o credor (ao qual o antigo devedor pode ou não dar o
seu consentimento)

O consentimento do devedor é irrelevante, sendo apenas o acordo entre o credor e o novo


devedor que desencadeia a transmissão da dívida para este último. Tem sido questionado se
em virtude do princípio do contrato poderá ser determinada a liberação da obrigação do

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

primitivo devedor, sem que ele dê o seu acordo. Uma solução, que é tutelado pela atribuição
de caráter contratual à remissão, conforme determina o artigo 863/1.

c) Assunção cumulativa e assunção liberatória de divida

Uma outra classificação na assunção de dívida respeita à distinção entre a assunção


cumulativa e assunção liberatória de dívida, baseando-se no art. 595/2.

Distingue-se assim entre a:

 assunção cumulativa de dívida (em que o antigo devedor não é liberado da sua
obrigação, mantendo-se solidariamente obrigado perante o credor);
Ao verificar-se a transmissão da dívida, o novo devedor pode vir a substituir integralmente o
antigo devedor, que fica assim exonerado

 assunção liberatória de dívida (em que se verifica a extinção da obrigação do antigo


devedor, ficando exclusivamente obrigado o novo devedor);
Ficar vinculado por essa obrigação exatamente nos termos e em simultâneo com o primitivo
devedor, sem que a vinculação deste seja afetada.

 Requisitos da assunção de divida

1. Consentimento do credor

Sempre necessário, uma vez que o credor só conta com o património do devedor para garantir
a realização do seu crédito, pelo que poderia ser prejudicado pela transferência da obrigação a
terceiro, uma vez que poderia confrontar-se com um novo devedor numa situação patrimonial
muito pior do que aquela que possuía o antigo devedor.

a. Assunção interna – mediante ratificação;


b. Assunção externa – celebração pelo próprio credor de contrato com o novo devedor.
c. Também é necessário o consentimento do novo devedor – que é uma das partes no
contrato de assunção de dívida.

2. Existência e validade do contrato de transmissão

A lei exige que esta decorra de um contrato transmissivo da obrigação que exista e que não
seja nulo ou anulável. Não existirem obstáculos legais à transmissão de dívidas futuras, desde
que esteja preenchido o requisito da sua determinabilidade (280º), quer de negócio já
celebrado, quer de negócio a celebrar.

 Regime da assunção de divida

Este regime varia consoante se trate de um assunção cumulativa ou de uma assunção


liberatória de divida.

1. Assunção cumulativa

É necessário estabelecer uma distinção entre os seus efeitos na relação interna entre o antigo
e o novo devedor e na relação externa dos devedores para com o credor.

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– relação interna: há a transmissão da dívida do antigo para o novo devedor;

– relação externa: há resposta solidária de ambos os devedores.


Solidariedade imperfeita, pois, apenas o novo devedor será efetivamente devedor da
obrigação, pelo que o direito de regresso só se poderá realizar num sentido – se antigo
devedor efetuar pagamento ao credor, terá direito de regresse sobre o novo devedor.

Se antigo devedor invocar contra o credor um meio de defesa pessoal, esse meio de defesa
aproveitará ao novo devedor, extinguindo a sua obrigação. Prescrita a obrigação do antigo
devedor ele não terá direito de regresso sobre o novo.

2. Assunção liberatória

Novo credor torna-se o exclusivo devedor, ficando o antigo devedor totalmente liberado da
sua obrigação.

→ O conteúdo da obrigação não se altera em virtude da transmissão pelo que o novo


devedor permanece vinculado à mesma prestação que era devida pelo antigo devedor.
Substitui-se apenas a pessoa do devedor, em virtude da transmissão da
obrigação para este.
→ Art. 600º - o credor só pode demandar o primitivo obrigado em caso de insolvência do
novo obrigado se tiver reservado uma cláusula para tal.

 Transmissão das garantias e acessórias – artigo 599

Pelo artigo 599º, a transmissão da dívida envolve em princípio igualmente a transmissão das
garantias e acessórios. Relativamente às obrigações acessórias do primitivo devedor, que não
sejam inseparáveis da pessoa deste, estas transmitem-se em princípio para o novo devedor
(599º.1). O novo devedor assume todo o vínculo obrigacional como realidade complexa,
abrangendo os deveres da prestação secundários e os deveres acessórios de informação,
lealdade e proteção. Se se transmite a obrigação de entrega de uma coisa o assuntor, fica
vinculado à entrega das partes integrantes e documentos (882ºº.2 e 955º.2), terá por força do
princípio da boa-fé (762º.2).

Relativamente às garantias que acompanhavam o crédito, a lei determina que elas se mantêm,
com exceção das que tiverem sido constituídas por terceiro ou pelo antigo devedor, que não
haja consentido na transmissão da dívida (599º.2).

 Meios de defesa do novo devedor

O art. 598º. vem referir quais os meios de defesa a que pode recorrer o novo devedor, após a
celebração do contrato de transmissão.
Verifica-se que o novo devedor não pode opor ao credor quaisquer meios de defesa que
resultem de relação entre a assunção de dívida.
➥exemplo: Se o antigo devedor prometeu ao novo devedor uma prestação como
contrapartida da assunção de dívida é vedado a este último opor ao credor, quer a exceção de
não cumprimento, fundadas no não cumprimento.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

O novo devedor pode opor ao credor os meios de defesa derivados da relação entre ele
próprio e o credor.
➥exemplo: O credor aquando da assunção da dívida, concedeu ao novo devedor uma
moratória no prazo de pagamento o novo devedor poderá opor essas exceções ao credor.

Relativamente aos meios de defesa existem na relação entre o antigo devedor e o credor, estes
poderão ser opostos pelo novo devedor, uma vez que ao assumir a dívida ele passa a
responder exatamente nos mesmos termos em que respondia o antigo devedor.
➥exemplo: O novo devedor, poderá opor ao credor, quer a nulidade do contrato constitutivo,
quer a sua ineficácia quer a verificação de causas objetivas de extinção do crédito.

Já não poderá opor-se ao credor meios de defesas pessoais do antigo devedor, podem ser
utilizados pelo seu titular, como a anulabilidade do contrato por erro dolo, coação ou
incapacidade (287º) e a compensação (847º).

IV. CESSÃO DA POSIÇÃO CONTRATUAL

Posição contratual → conjunto de direitos e deveres, faculdades, poderes, ônus e sujeições


que resultam para uma parte da celebração de determinado contrato.

Transmissão da Posição Contratual – o que se transmite já não são créditos ou dívidas


individuais, mas sim a própria posição contratual globalmente considerada. Tem um alcance
mais vasto do que o conjunto de situações jurídicas que a compõe, em virtude de permitir a
conservação de todas as conexões e dependências entre elas.

Cessão da Posição Contratual: transmissão por via negocial da situação jurídica


complexa de que era titular o cedente em virtude de um contrato celebrado com outrem.

 Figura afins

1. Subcontrato

Sempre que alguém celebrar determinado contrato com base na posição jurídica que lhe
advém de outro contrato do mesmo tipo, já previamente celebrado com outrem
➥exemplo: Sublocação (1060º e ss.)

2. Adesão ao contrato

O terceiro vem a constituir-se como parte numa relação contratual existente entre duas
pessoas, participando da posição jurídica a uma delas, sem que esta perca, por sua vez, a
titularidade dessa mesma posição.
• Torna-se cotitular dos créditos dum parceiro contratual.
• Não ocorre qualquer transmissão e há apenas a agregação de outro sujeito a uma posição
contratual que é conservada.

3. Sub-rogação legal forçada

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– art. 1057º - transmissão da posição contratual não resulta de um negócio jurídico entre
cedente e cessionário, nem sequer exige o consentimento do outro contraente.
• É uma transmissão imposta por determinação legal, que é independente da
estipulação das partes, baseando-se num facto jurídico stricto sensu.
• Operada ex lege e determinada por facto que a lei atribui.

Figura com 3 sujeitos


• Cedente – o que cede a posição contratual
• Cessionário – o que adquire a posição contratual
• Cedido – a contraparte do cedente, no negócio originário

 Requisitos da cessão da posição contratual

A cessão da posição contratual encontra-se prevista no artigo 424º:

1. Um contrato a estabelecer a transmissão da posição contratual, celebrado entre o


cedente e um terceiro

A existência de um negócio jurídico a estabelecer a transmissão da posição contratual,


celebrado entre o cedente e um terceiro. Para que se possa falar de cessão da posição
contratual, o negócio terá que ser um negócio unitário, tendo por objeto a transmissão da
posição contratual.

• Tem que haver (obviamente) consentimento do cessionário.


• Qualquer negócio pode servir de base à cessão da posição contratual (compra e
venda, doação, sociedade, dação em cumprimento, pro solvendo) tem carácter causal, não
constituindo a cessão da posição contratual um negócio abstrato.
• Cessão da posição contratual apresenta-se como efeito desse negócio, no qual se
integra (art. 425º)

2. Consentimento dessa cessão por parte do outro contraente (cedido)

Normalmente a cessão da posição contratual é feita primeiramente entre cedente e


cessionário, ficando depois a sua eficácia dependente da aceitação do outro contraente (art.
424º/1 e 2).
• Requisito constitutivo do negócio da cessão da posição contratual, que não se
conclui sem ele – declaração negocial necessária à perfeição do negócio.

 Efeitos

→ Relação entre cedente e cessionário


a) Transmissão da posição contratual do cedente para o cessionário

Como a posição contratual é transmitida em globo, ela abrangerá todo o complexo de


situações jurídicas de que era titular o cedente em relação ao contrato (créditos, poderes
potestativos e exceções).

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

➥exemplo: Alguém vendeu um equipamento industrial a que outrem e o comprador resolve


transmitir a terceiro a sua posição contratual, o cessionário pode exigir a entrega do
equipamento, a prestação de informações sobre o seu funcionamento.

A cessão da posição contratual pode abranger a transmissão da faculdade de anulação do


negócio.
➥exemplo: Cedente ter celebrado o negócio se refere a posição contratual transmitida por
erro, dolo ou coação.

Menezes Leitão → faculdade de anulação é estabelecida no especial interesse daquele que


viu a sua declaração negocial viciada, sendo por isso, uma faculdade inseparável da pessoa do
cedente, que não pode assim ser objeto de transmissão (582º.1 in fine).

O cedente pode solicitar a anulação do negócio que originou a posição contratual transmitida,
caso em que a cessão da posição contratual se tornará nula, por impossibilidade do objeto
(280º.1).

b) Garantia prestada pelo cedente relativamente à posição contratual transmitida

O art. 426º.1, vem determinar, no âmbito da cessão da posição contratual que o cedente
garante ao cessionário, no momento da cessão, a existência da posição contratual transmitida
nos termos aplicáveis ao negócio. A garantia do cumprimento das obrigações só existe se for
expressamente convencionada, nos termos do 426º.2.

→ Relação entre o cessionário e o contraente cedido:

A cessão da posição contratual implica a transmissão, do cedente para o cessionário, do


conjunto de situações jurídicas que integravam a posição contratual transmitida à data da
celebração do contrato. O cessionário torna-se, a partir desse momento, no único titular
daquela posição contratual, sendo, portanto, perante ele que o contraente cedido deve exercer
os seus direitos e cumprir as respetivas obrigações. Se após a transmissão o contraente cedido
efetuar o cumprimento das suas obrigações, esse cumprimento não terá efeito liberatório, a
menos que tenha ainda ocorrido a sua notificação ou reconhecimento (442º.2.).

Quantos às exceções refere o art. 427º. Resulta que ao contrário do que sucede na cessão de
créditos (585º), a cessão da posição contratual não implica que a outra parte conserve
integralmente as exceções que possuía contra o cedente, apenas passando a poder invocar
contra o cessionário as exceções que resultam da própria relação contratual.

→ Relação entre o cedente e o contraente cedido:

A transmissão da posição contratual do cedente para o cessionário, liberará em princípio


aquele de todas as obrigações, deveres acessórios e sujeições emergentes do contrato.

Há exceções: se o cedente já tiver causado danos à outra parte no contrato em virtude do


incumprimento da obrigação principal ou de deveres acessórios dele emergentes,
naturalmente que a obrigação de indemnização por esses danos se mantém na sua
titularidade.

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EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Quando as obrigações resultam da autonomia privada, a sua extinção verifica-se sempre que
o negocio que lhe serve de fonte vem a ser posteriormente destruído, através:

 Através da revogação, resolução e a denúncia;


 Através de um facto jurídico: a caducidade;
 Através da oposição à renovação.

I. REVOGAÇÃO

É a extinção do negócio jurídico através de uma manifestação da autonomia da vontade que


se
apresenta como oposta àquela que o constituiu.

Se estiver em causa um contrato, a revogação é necessariamente bilateral, assentando no


mútuo consenso dos contratantes em relação à extinção do contrato que tinham celebrado
(406º.1). Se, estiver em causa um negócio jurídico unilateral, a revogação igualmente
unilateral, baseando-se unicamente numa segunda declaração negocial do seu autor.

Exemplo: promessa publica (461) ou testamento (arts. 2311 e ss).

II. RESOLUÇÃO 432 – 436 CC

Encontra-se prevista nos artigos 432 a 436 do CC.

Consiste na extinção da relação contratual por declaração unilateral de um dos contraentes,


baseada num fundamento ocorrido num momento posterior à celebração do contrato.

A resolução opera através de um negócio jurídico unilateral: não há lugar ao comum acordo
das partes. É uma decisão unilateral.

A resolução processa-se através de um negócio jurídico unilateral. A resolução só pode


ocorrer se se verificar um fundamento legal ou convencional que autorize o seu exercício
(432/1). Se ocorrer esse fundamento, o contrato pode ser resolvido. Se não ocorrer, a sua
resolução não é permitida (406/1). A lei exclui o direito de resolução nos casos em que não
haja possibilidade de restituir o que se houver recebido (432/2).

O fundamento mais comum é o incumprimento (art. 801º/2) mas admite-se, lato sensu, a justa
causa (art. 1140). Se o fundamento resultar da vontade das partes, estas são livres para
estipularem cláusulas resolutivas.

O artigo 433, equipara a resolução à nulidade ou anulabilidade do contrato e visa colocarem-


se as partes na situação que estariam se o contrato não tivesse sido celebrado. No entanto,
essa equiparação é quebrada em dois aspetos:
1. Possibilidade de a resolução não ter eficácia retroativa – a regra é a eficácia retroativa
da resolução, mas, pode não ocorrer se contrariar a vontade das partes ou a finalidade
da resolução (art. 434/1 e 2);
2. Tutela de terceiros – art. 435

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

O art. 436/1 CC adota o sistema da resolução por declaração, ie, a resolução efetua-se
mediante uma simples declaração da parte à sua contraparte.

III. DENUNCIA

À semelhança da resolução, resulta igualmente de um negócio unilateral, bastando-se, por


isso, com a decisão de apenas uma das partes. O seu campo de aplicação é limitado aos
contratos de execução continuada ou duradoura, em que as partes não estipulam um prazo
fixo de vigência, de modo a não existirem obrigações perpétuas, admite-se aqui a sua
denúncia a todo o tempo.

Não tem eficácia retroativa – produz efeitos para o futuro e não havendo lugar à restituição
das prestações já realizadas.

IV. CADUCIDADE 328 e SS

É a extinção em virtude da ocorrência de um facto jurídico. O exemplo mais comum é o


decurso do tempo – extinção do contrato em virtude do decurso de um certo período de
tempo.

Obrigação caduca quando:


 realiza a sua finalidade;
 passa o prazo convencionado para a sua duração;
 uma das partes do contrato falece (contratos intuitu personae – ex.: arrendamento. Se
uma das partes falece, por via de regra extingue-se o contrato, há exceções em que há
sucessão);
 coisa objeto do contrato perece/extingue-se.

São igualmente aplicáveis à caducidade dos negócios jurídicos os arts. 328º e ss. As partes
podem estabelecer negócios pelos quais se criem casos especiais de caducidade, como nos
termos do 330/1. A caducidade é de verificação automática, resultando imediatamente do
facto jurídico que a desencadeia, pelo que não depende de declaração negocial das partes. A
caducidade é apreciada oficiosamente pelo Tribunal, nos termos do 333.

V. OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO

Estamos perante a uma figura mista, que conjuga a caducidade e a denuncia.

É necessário decorrer um certo lapso de tempo (previsto no contrato) para que possa ocorrer a
sua extinção, mas, tal está dependente de declaração negocial contrária à sua renovação.
Ex.: as partes convencionam que o contrato vigora por períodos limitados de tempo, mas
simultaneamente preveem a sua renovação tacita, se não houver declaração em contrario.

As partes convencionam que o contrato vigora por períodos limitados de tempo, mas
simultaneamente preveem a sua renovação tácita, se não houver declaração em contrário.

A oposição à renovação consiste nessa declaração e caracteriza-se por ser um exercício livre,
não retroativo, mas que só pode ser exercida num certo lapso de tempo antes de ocorrer a
renovação do contrato.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

VI. PRESCRIÇÃO

A prescrição é uma forma de extinção de direitos (e dos correspondentes deveres) em


consequência do seu não exercício durante um determinado período de tempo.

Encontra-se referida no n.º 1 do artigo 298.º e regulada, enquanto instituto geral, nos artigos
300.º a 327.º do Código Civil.

O regime jurídico da prescrição é um regime injuntivo(imperativo) que não pode ser afastado
ou modelado pelas partes no negócio jurídico.

Ocorre a prescrição quando alguém adquire a possibilidade de se opor ao exercício de um


direito, em virtude de este não ter sido exercido durante um determinado lapso de tempo
(304/1).

Sempre que não exista um prazo especial de exercício, resultante da lei ou da vontade real de
gozo (298/2), ou perante um direito que a lei considere indispensável ou imprescindível
(298/1), aplicam-se ao caso as regras da prescrição (300 e ss), o que significa que o direito
pode prescrever se não for exercido dentro do prazo da prescrição, que é ordinariamente
fixado em 20 anos (309).

O beneficiário da prescrição tem a faculdade de se opor ao exercício do direito prescrito. No


entanto, se ultrapassado o prazo da prescrição o beneficiário cumprir a obrigação prescrita,
com ou sem conhecimento do decurso do prazo de prescrição, não poderá mais tarde vir
alegar que cumpriu indevidamente.

 Modalidades de prescrição

Prescrição comum: esta funda-se no puro não exercício do direito durante um certo lapso de
tempo, sendo que uma vez decorrido esse prazo gera-se para o devedor a faculdade de recusar
o cumprimento da sua obrigação (304/1)

Prescrição presuntiva: fundam-se na presunção de que, após o decurso de um determinado


período de tempo, já se deve ter verificado o cumprimento da prestação (312 – “fundam-se na
presunção de cumprimento”), visando assim dispensar o devedor de provar que já efetuou
esse cumprimento, o qual deve ser por isso alegado pelo devedor.
a) Prescrições de 6 meses: 316 do CC
b) Prescrição de 2 anos: 317 do CC

A prescrição presuntiva destina-se a proteger aqueles devedores que adquiram e pagam


produtos e serviços fora da sua atividade profissional, sendo por isso qualificáveis como
consumidores.

 Regime da prescrição

Resulta do artigo 303 que a prescrição não pode ser reconhecida ex officio, necessitando para
ser eficaz ser invocada judicialmente ou extrajudicialmente por aquele a quem aproveita. A
prescrição não resulta automaticamente do decurso do prazo, sendo necessária à sua
invocação pelo devedor, para que possa ocorrer a extinção da obrigação. Se o devedor não

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

invocar a prescrição quando demandado judicialmente pelo credor, o tribunal condená-lo-á


necessariamente no cumprimento da obrigação.

Os prazos de prescrição começam a correr a partir do momento em que o direito podia ser
exercido, independentemente da alteração do titular do direito.

O decurso do prazo de prescrição pode ser suspenso ou interrompido.

a) Suspensão do prazo de prescrição (318 – 322): determina que o período durante o


qual se verificou não pode ser incluído na contagem do prazo de prescrição, ou seja, a
contagem do prazo é paralisada durante um determinado período, quer em virtude de
certos factos ou situações aos quais a lei atribui esse efeito. Uma vez terminado o
fator que fundamentou a suspensão, a contagem do prazo prossegue a partir do
momento em que tinha parado.

b) Interrupção do prazo de prescrição (323 – 327): determina a inutilização do tempo


decorrido, iniciando-se a contagem do prazo integral a partir do ato que determinou a
interrupção, ou seja, a contagem do prazo é não só paralisada, quer em virtude de
certos factos ou situações aos quais a lei atribui esse efeito, como se verifica a
inutilização do prazo anteriormente decorrido.

Tal como a prescrição, também a caducidade é uma forma de extinção de direitos pelo não
exercício durante um determinado período de tempo, embora assuma um regime jurídico
distinto.
VII. ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS

Situação em que se verifica a contradição entre dois princípios jurídicos: o principio da


autonomia privada, que exige o pontual cumprimento do contrato livremente celebrados, e o
principio da boa-fé, nos termos do qual não será licito a uma das partes exigir da outra o
cumprimento das suas obrigações sempre que uma alteração do estado das coisas posterior a
celebração do contrato tenha levado a um desequilíbrio gravemente lesivo para uma das
partes.

Modificação dum estado de coisas que existia ao tempo que as partes celebraram e que foi
importante para as partes celebrarem esse negócio jurídico.

 Diferença entre erro e alteração das circunstancias

Art. 252º/2 tem uma solução subjetivista – situação que está em causa é a falsa representação
da realidade que as partes tinham no momento da celebração do negócio.
Coloca apenas um problema de erro, com a consequência da anulação do contrato, e
não a possibilidade da sua resolução ou modificação segundo juízos de equidade.

Art. 437º tem uma solução objetivista – situação das circunstâncias efetivamente existentes
no momento da celebração do contrato e que depois se alteram, resultante de factos que as
partes não podiam prever.

Ex1: A arrenda casa de B para ver passar o desfile – mudança do percurso já estava decidida,
mas A e B não sabiam (erro); mudança do percurso foi posterior ao negócio (alteração).

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

• Ex2: A contrata com B para ser levado de Lisboa a Almada – aviso sobre encerramento da
ponte já tinha sido emitido (erro); ponte encerrou devido a um suicida depois das partes
contratarem (alteração).

 Requisitos

1. Uma alteração das circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar;

Apenas são relevantes as circunstâncias efetivamente existentes à data da celebração do


contrato, e que tenham sido causais em relação à base do negócio objetiva (a celebração pelas
partes). Não relevam assim, casos de falta representação das partes quanto às circunstâncias
presentes/futuras que apenas colocam um problema de erro; circunstâncias que não se
apresentem como causais em relação à celebração do contrato;

2. Natureza anormal dessa circunstância;

Exige-se que essa alteração tenha caráter anormal, ou seja que fosse de todo imprevisível
para as partes a sua verificação. Ex.: guerras; revolução; pandemia…

3. A alteração provoque uma lesão a uma das partes;

surgimento dum desequilíbrio significativo entre as prestações contratuais, não se justifica


aplicar este instituto se não houver danos significativos para uma das partes.

4. Que a lesão afete gravemente os princípios da boa-fé;

Exige-se que o desequilíbrio contratual gerado pela alteração das circunstâncias seja de tal
ordem, que torne contrária à boa-fé que a parte beneficiada venha a exigir o cumprimento do
contrato. Pode considerar-se que apresenta uma modalidade específica do abuso de direito
(334).

5. Que a lesão não esteja coberta pelos riscos próprios do contrato.

envolve uma assunção de riscos, não se podendo recorrer à alteração das circunstâncias
sempre que a lesão sofrida não ultrapasse o círculo dos riscos considerados como normais
naquele contrato.

 Exclusão da aplicação do regime em caso de mora da parte lesada

Art. 438º - nega-se à parte lesada o direito à resolução ou modificação do contrato se esta se
encontrava em mora no momento em que a alteração das circunstâncias se verificou. Solução
coerente com o regime pois a mora implica a inversão do risco (art. 807º) pelo que se o
devedor não cumprir atempadamente por causa que lhe é imputável, assume o risco de
verificação de posteriores desequilíbrios contratuais, não podendo impor ao credor uma
distribuição do risco distinta.

A alteração das circunstâncias caracteriza-se por dar origem a um desequilíbrio contratual. É


considerado, como um fundamento para a parte lesada proceder à resolução do contrato
(432º.1) ou requerer a sua modificação segundo juízos de equidade. A parte não lesada tem a

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

possibilidade de se opor à resolução do contrato se aceitar a sua modificação segundo juízos


de equidade.

VIII. CUMPRIMENTO

 Conceito

O cumprimento é definido como a realização da prestação devida, o devedor satisfaz o


interesse do credor e exonera-se. Previsto no artigo 762/1 CC.

Através da realização da prestação verifica-se o que importa a extinção da obrigação através


da satisfação do interesse do credor, com a consequente liberação do devedor. A importância
fundamental do cumprimento no âmbito das causas de extinção das obrigações, já que
corresponde à situação normal de extinção da obrigação, através da concretização da conduta
a que o credor tinha direito.

 Princípios Gerais

O cumprimento é norteado por quatro princípios essenciais:

1. Principio da pontualidade

Significa a exigência de uma correspondência integral em todos os aspetos (está consagrado


no 406º.1), e não apenas no temporal, entre a prestação efetivamente realizada e aquela a que
o devedor se encontrava vinculado, sem o que se verificará uma situação de incumprimento
(cumprimento defeituoso). Daí que o devedor tenha que prestar a coisa/ exatamente nos
mesmos termos em que se vinculou, não podendo o credor ser constrangido a receber do
devedor coisa diferente, mesmo que possuam um valor superior à prestação devida.

Em suma, o principio da pontualidade define que o contrato tem de ser cumprido ponto por
ponto, conforme o estipulado. É aplicável a todas as obrigações e não só aos contratos.
Resulta a proibição de qualquer alteração à prestação devida.

Este encontra-se regulado no Art. 406/1


O devedor não se exonera da obrigação se entregar um bem diferente (ainda que de maior
valor) – art. 837º confirma (corolário do art. 406º/1)

2. PRINCIPIO DA INTEGRALIDADE

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Este princípio regulado, regulado pelo artugo 763/1, significa que o devedor deve realizar a
prestação de uma só vez, mesmo que seja uma prestação que – em teoria – possa ser
fracionada;

Contudo, esta é uma norma supletiva: admite-se estipulação em contrário pelas partes. Assim,
se as partes convencionarem que a obrigação deve ser cumprida de forma fracionada, então a
prestação deve ser cumprida desse modo e de acordo com as datas que as partes tenha
elegido.

Também haverá cumprimento fracionado quando a lei o estabeleça (ex: art. 784.º, n.º 2 + art.
649.º) ou quando os usos assim o indiquem.

Fora destes casos: se devedor quiser prestar parcialmente, credor pode rejeitar sem entrar em
mora.

3. Principio da boa-fé

Refere que tanto no cumprimento (762/2), como no exercício do direito correspondente


devem as partes de proceder de boa-fé. Para se considerar verificado o cumprimento, não
basta uma mera realização da prestação, sendo antes necessário o respeito dos ditames da
boa-fé. Os deveres acessórios de conduta que surgem no âmbito das relações específicas
aplicam-se primordialmente na fase do cumprimento das obrigações, determinando que tanto
a conduta do devedor como a do credor obedeçam a princípio de correção e colaboração
recíprocas. O não acatamento desses deveres acessórios, pode implicar uma situação de
responsabilidade civil 817.

4. Principio da concretização

Este principio, significa que vinculação do devedor deve ser concretizada numa conduta real
e efetiva. Porém o comportamento acatado aquando do cumprimento, vem a ser
juridicamente regulada, não apenas em termos de exigência de certos pressupostos para o
cumprimento, mas também através da disciplina da sua forma de realização. Para que o
cumprimento da obrigação possa efetivamente ocorrer haverá que respeitar toda a disciplina
específica.

 Capacidade para o cumprimento

a) Capacidade do devedor

Não se exige a capacidade do devedor, a menos que a própria prestação consista num ato de
disposição, tendo sido validamente celebrado o negócio jurídico, a prestação poderá
normalmente ser realizada pelo devedor incapaz (764º).

Distingue-se se a prestação é:
 Realização de atos materiais (realizar serviços, entregar coisas e etc.) – não requer
capacidade do devedor.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

o Quanto contraiu a obrigação é que tinha de ter capacidade – exigida para celebrar
negócios jurídicos, mas não para os concretizar.
o No cumprimento, o devido é válido mesmo que prestado por incapaz

 Realização de atos de disposição (de bens ou de direitos) – exige-se a capacidade do


devedor. Casos em que se pode celebrar novos NJ – ex: contrato prometido face a
contrato-promessa
o O ato é inválido – anulável (se ninguém questionar, convalida-se) – mas o credor
pode opor-se e validar-se.

b) Capacidade do credor

Credor tem de ser capaz – pois é um ato com efeitos jurídicos que libera o devedor – tem
consequências importantes.
o Se for incapaz, o ato é inválido e devedor terá que prestar outra vez.
o Ressalva-se se chegar ao representante legal e o devedor pode opor-se à
anulabilidade

 Disponibilidade

O devedor para realizar eficazmente o cumprimento tem que ser titular da coisa e
legitimidade para proceder à sua alienação (765/1). Se o devedor cumprisse a obrigação com
coisa alheia ou com coisa própria de que não pudesse dispor, o credor estaria sempre sujeito à
possibilidade de ver a coisa reivindicada ou o cumprimento ser anulado.

 Legitimidade

Num caso em que a prestação for efetuada por terceiro tem que se verificar se o autor da
prestação e o seu recetor têm legitimidade para efetuar ou receber a prestação. Sem
legitimidade não se extingue a obrigação.

Legitimidade ativa(devedor): a lei generaliza o princípio da legitimidade ativa,


atribuindo-a a todas pessoas, quer estas tenham interesse direto no
cumprimento da obrigação quer não (767/1).
O terceiro só não terá legitimidade para cumprir a prestação tiver caráter
infungível por natureza / convenção das partes (767/2), o credor não poderá
ser constrangido a receber de terceiro a prestação, podendo recusá-la e exigir
que o cumprimento seja realizado pessoalmente pelo devedor.
Se o terceiro tiver legitimidade o credor não pode recusar a prestação por ele
oferecida, se o fizer incorre em mora (768/1 + 813). A lei apenas admite a
recusa por parte do credor se o devedor se opuser ao cumprimento, desde que
o terceiro não tenha interesse direto na satisfação do crédito (768/2 + 592).
Oposição do devedor ao cumprimento nunca obsta a que o credor aceite
validamente a prestação do terceiro (768/2).
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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

→ Efeitos do cumprimento por terceiro: extinção da obrigação, com liberação do


devedor.

Legitimidade passiva: a lei que determina que a prestação deve ser efetuada ao
credor/seu representante (769). Em princípio só estes têm legitimidade para
receber. Na incapacidade do credor, parece claro que é apenas ao
representante legal que a prestação deverá ser realizada → poderá determinar
a anulação do cumprimento (764/2).
Exceção: situações previstas no 770 CC.

 Lugar e tempo do cumprimento

a) Lugar

A determinação do lugar de cumprimento cabe em princípio às partes (772/1), resultando


assim de convenção entre elas, a qual pode ser inclusivamente tácita (217).

Não havendo convenção entre as partes a estabelecer o lugar do cumprimento, a regra geral é
a de que ele deve ser realizado no domicílio do devedor (772/1).

Se a obrigação tiver por objeto a entrega de uma coisa móvel, a regra é a de que a obrigação
deve ser cumprida no lugar onde a coisa se encontrava ao tempo da conclusão do negócio,
quer seja:
→ coisa móvel determinada (773/1);
→ coisa genérica (773/2);

Se a obrigação tiver por objeto certa quantia em dinheiro a regra é de que a obrigação deve
ser cumprida no domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento (774º).

As regras gerais cedem em certos casos onde vigoram outras regras havendo por isso que
averiguar se o regime especial do contrato não estabelece regras específicas para o lugar de
cumprimento (regras gerais diferentes do 772º e ss.).

Impossibilidade da prestação no lugar fixado

Tendo as partes fixado um lugar para o cumprimento, pode ser ou tornar-se impossível
realizar a prestação nesse lugar.

– impossibilidade já existia no momento da conclusão do negócio: nulo (401º+280º.1)

– posterior à celebração do negócio: extinção da obrigação e perda do direito à


contraprestação (790º+795º)

– lugar do cumprimento não é essencial, sendo que o facto de se tornar ou não


impossível realizar não é motivo para a considerar extinta = realização da obrigação noutro
lugar (776) = fixado pela boa-fé e vontade/hipotética das partes = (239º+772º)

b) Tempo de cumprimento

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

O prazo da prestação constitui uma questão relevante no regime do cumprimento,


determinando o momento da realização da prestação. São assim concebidos então 2
momentos distintos:

→ pagabilidade do débito: o momento em que o devedor pode cumprir a obrigação,


forçando o credor a receber a prestação, sob pena do credor entrar em mora;

→ exigibilidade do débito: momento em que o credor pode exigir do devedor a


realização da prestação sob pena de o devedor entrar em mora;

O regime do prazo da prestação (777º e ss.) centra-se essencialmente na distinção entre:

 Obrigações Puras: cujo cumprimento pode ser exigido/ realizado a todo o tempo;
 Obrigações a Prazo: aquelas em que a exigibilidade do cumprimento ou a
possibilidade da sua realização é diferida para um momento posterior.

A regra geral é a de as obrigações não terem prazo certo estipulado, sendo, portanto,
obrigações puras.

O credor terá direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação, assim como o
devedor de exonerar-se dela (777/1).

- o devedor apenas entrará em mora com a exigência de cumprimento pelo credor


(interpelação) – 805/1.

A determinação do prazo do cumprimento pode ser deixada igualmente ao critério de uma


das partes. Relativamente ao credor, a lei determina que quando este não use da faculdade
que lhe foi concedida, compete ao tribunal fixar o prazo (777/3).

Quando o prazo é deixado ao critério do devedor, a lei distingue entre:


- critério objetivo: o devedor ter nesse momento meios económicos necessários para realizar
a prestação – 778/1;

- critério subjetivo: aprouver ao devedor realizar a prestação nesse momento – 778/2;

Beneficio do prazo

A possibilidade de a prestação ser realizada/ exigida em momento posterior constitui um


benefício. A determinação da parte a quem compete o benefício do prazo, que pode caber ao
devedor, ao credor ou a ambos. O benefício irá competir em princípio ao devedor (779º).

Regra Geral → o prazo é estabelecido em benefício do devedor, o que significa que o credor
não pode exigir a prestação antes do fim do prazo, mas antes que o devedor tem o direito de
proceder à sua realização a todo o tempo.

Todavia, é possível as partes estabelecem que o prazo corra antes→ em benefício do credor.
O credor tem a faculdade de exigir a prestação a todo o tempo, mas o devedor só tem a
possibilidade de cumprir no fim do prazo.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Se for estipulado em benefício de ambas as partes nenhuma delas terá a faculdade de


determinar a antecipação do cumprimento.

Perda do Beneficio

Em caso de atribuição do benefício do prazo ao devedor, este pode perder esse benefício caso
a sua situação patrimonial se altere/pratique algum ato considerado incompatível com a
confiança do credor (780).

Outro caso de perda de benefício do prazo é a não realização de uma prestação nas dívidas a
prestações (781).

Nas dívidas as prestações, caso o devedor que falte ao pagamento de uma das
prestações, admite-se que o credor possa exigir antecipadamente as prestações ainda que não
se venceram (781).

A perda do benefício do prazo, é, no entanto, pessoal pelo que não se estende aos
coobrigados do devedor, nem aos terceiros, que garantiram o cumprimento da obrigação
(782).

Outro caso em que a perda do benefício do prazo ocorre é a insolvência do devedor, ainda
que não judicialmente declarada (780).

 Imputação do cumprimento

Operação pela qual se relaciona a prestação realizada com uma determinada obrigação,
quando existiam várias dívidas entre as partes e a prestação efetuada não chegue a extinguir
todas.

Esta é uma faculdade do devedor escolher quem cumpre – artigo 783/1. A exceção a esta
regra geral encontra-se estipulada no artigo 783/2+785/2.

Caso o devedor não efetue a designação verificam-se as regras do art.784. Estas regras cedem
perante regime especial, de que se salienta o caso do contrato de conta corrente e a situação
de insolvência.

PROVA DO CUMPRIMENTO

A prova do cumprimento compete em princípio ao devedor, uma vez que o cumprimento


constitui um facto extintivo do direito do credor (342/2). O cumprimento não pode ser
provado por testemunhas (395º), o modo mais adequado consiste em o autor do cumprimento
exigir do credor uma quitação (declaração escrita de que recebeu a prestação em dívida. A
quitação é um direito atribuído por lei a qualquer pessoa que cumpre a obrigação (787/1).
Pode-se assim exigir sempre do credor um recibo e, caso este não o disponha, o cumprimento
pode legitimamente ser recusado (787/2).

Por vezes a lei presume que já ocorreu o cumprimento da obrigação em virtude de já ter
decorrido certo prazo sobre a sua constituição 312º e ss.

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Se a obrigação aparece referida a determinado documento, quando o devedor realiza o


cumprimento tem o direito de exigir a restituição desse documento 788/1.

IX. DAÇÃO EM CUMPRIMENTO

Realização de prestação diferente da que era, em princípio, devida pelo devedor, prevista nos
artigos 837 e ss do CC.

 Pressupostos

a) Realização de uma prestação diferente da que for devida: prestação que o devedor
realiza não coincida com aquela a que está vinculado e que, por isso mesmo, não
possa produzir a sua exoneração (762/1), por não ser considerada como atuação do
vínculo obrigacional.

b) Acordo do credor relativo à exoneração do devedor com essa prestação: se for


solidária, a dação pode ser realizada apenas por um dos devedores (art.523º) ou a
apenas um dos credores (art. 532º) – para ocorrer a extinção da obrigação nas relações
externas bastará o consentimento das partes na dação em cumprimento.

 Forma

A dação em cumprimento não é sujeita a forma especial (219º).

 Regime da dação em cumprimento

A dação em cumprimento determina:

i. A extinção da obrigação que aquela visou satisfazer (837º).


ii. Sendo a obrigação solidária, a dação em cumprimento produz igualmente a extinção
da obrigação dos outros devedores (523º, assim como a sua realização a um dos
credores solidários produz igualmente a extinção (532º).
iii. Sendo o fim da dação em cumprimento a extinção, se a dívida que ela visou extinguir
não existisse tem o autor da dação o direito de recorrer à repetição do indevido
(476/1).

 Garantia contra vícios da coisa ou do direito transmitido

O autor da dação em cumprimento tem que conceder ao credor uma garantia pelos vícios da
coisa ou do direito transmitido nos termos prescritos para a compra e venda (838º). Sempre
que a dação em cumprimento tenha conteúdo translativo, o autor responderá pela evicção
(892º e ss.), bem como por ónus e limitações existentes (905º e ss.) e pelos vícios da coisa
(913º e ss.).

 Invalidade da dação em cumprimento

Verificando-se a invalidade é manifesto que a relação obrigacional primitiva continua a


subsistir, com todas as suas garantias, salvo se, entretanto, se tiver verificado um facto
extintivo. No entanto o 839º, determina que se a dação for declarada nula ou anulada por

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

causa imputável ao credor, não renascem as garantias prestadas por terceiro, exceto se este
conhecia o vício na data em que teve notícia da dação.

 DAÇÃO PRO SOLVENDO

Prevista no artigo 840.

Dação em função do cumprimento consiste na execução de uma prestação diversa da devida


para que o credor proceda à realização do valor dela e obtenha a satisfação do seu crédito por
virtude dessa realização.
 Devedor entrega coisa ao credor para o credor a alienar e realizar receita necessária
para satisfação do seu crédito;
 O crédito subsiste até que o credor realize o valor dele – através da venda do bem e
etc.

Distingue-se da Dação em Cumprimento pois:


 não se verifica uma causa distinta de extinção das obrigações e há apenas um meio de
facilitar o cumprimento das obrigações (é qualificada como um negócio preparatório
do cumprimento pois não exonera imediatamente o devedor e proporciona ao credor
uma forma mais fácil de obter a satisfação do seu crédito através da transformação em
dinheiro da prestação realizada);
 extinção é desencadeada por atuação do credor em cumprimento de um encargo
conferido pelo devedor e não é a atuação deste que provoca a extinção da obrigação.

Nesta o crédito subsiste até que o credor venha a realizar o valor dele.
➥exemplo: Através da venda do bem entregue, da cobrança do crédito cedido ou do
cumprimento da dívida assumida por um novo devedor.

Pode ser qualificada como um mandato conferido pelo devedor ao credor para proceder à
liquidação da prestação realizada e se pagar com o dinheiro obtido por essa via – mandato
não pode ser revogado pelo devedor, salvo ocorrendo justa causa (art. 1170/2).

X. CONSIGNAÇÃO EM DEPOSITO

Possibilidade reconhecida ao devedor nas obrigações de prestação de coisa de extinguir a


obrigação através do depósito judicial da coisa devida, sempre que não possa realizar a
prestação com segurança por qualquer motivo relacionado com a pessoa do credor, ou
quando o credor se encontre em mora (841/1).
➥exemplo: O vendedor desloca-se a cada doo comprador para entregar a encomenda
solicitada, mas verifica-se que ele se ausentou inesperadamente no seu domicílio.

A lei não considera justo que nestes casos o devedor fique indefinidamente vinculado ao
cumprimento, apenas em virtude de o credor não prestar a colaboração necessária para esse
cumprimento, pelo que confere ao devedor a colaboração necessária para esse cumprimento,
pelo que confere ao devedor um meio de produzir a extinção da obrigação sem a colaboração
do credor. Trata-se, no entanto, de uma faculdade do devedor que este não é obrigado a
exercer (841/2).

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 Pressupostos da consignação em deposito

a) ter a obrigação por objeto uma prestação de coisa podendo ser uma quantia
pecuniária, ou uma coisa de qualquer outra natureza.
➥exemplo: O facto de se ignorar o paradeiro do credor.

b) não ser possível ao devedor realizar a prestação por um motivo relativo ao credor
(813)
➥exemplo: Casos de o credor recusar receber a prestação ou passar a quitação da
dívida (787/2).

 Regime da consignação em deposito

Institui-se uma nova relação substantiva, o depósito da coisa devida implica o surgimento de
obrigações a cargo do consignatário. É possível distinguir 3 tipos de efeitos da consignação
em depósito:

→ Instituição de relação processual entre consignante e credor: a consignação em


depósito é necessariamente judicial, cujo processo averigua a justificação da
consignação e a sua idoneidade para extinguir a obrigação. Depósito é feito, em
princípio, na Caixa Geral de Depósitos (art. 1024º/2 e 839º e ss. CPC).

→ Instituição de uma relação substantiva triangular entre o consignante, o consignatário


da coisa devida e o credor: a consignação vai estabelecer uma nova relação triangular
entre o consignante, consignatário da coisa devida e o credor. Através dela o credor
adquire imediatamente um direito à entrega da coisa por parte do consignatário (844º).

O consignante será normalmente o devedor, mas a lei à semelhança do que ocorre com o
cumprimento (767º) estende a legitimidade para a consignação em depósito a qualquer
terceiro a quem seja lícita efetuar a prestação (842/9).
O credor adquire imediatamente o direito de exigir a prestação do consignatário,
independentemente da aceitação (844º), podendo o devedor exigir que a coisa consignada não
seja entregue ao credor, enquanto este não efetuar aquela prestação (845º).

O consignante pode revogar a consignação mediante declaração feita no processo e pedir a


restituição da coisa consignada (845/1), apenas se extinguindo o seu direito de revogação se o
credor, por declaração feita no processo aceitar a consignação ou esta for declarada válida por
sentença passado em julgado (845/2).

→ Eficácia da consignação sobre a obrigação: sendo a consignação aceite pelo credor ou


declarada válida por decisão judicial, libera o devedor como se ele tivesse realizado a
prestação na data do depósito (846º). A eficácia extintiva da consignação em depósito
retroage assim ao momento do depósito, o que implica vir a ser a posteriori efetuada
uma equiparação da realização da prestação ao credor, ficando o devedor liberado
com a realização dessa prestação a terceiro (770º.e.). O credor vê assim extinto, o seu
direito de crédito, adquirindo outro crédito à entrega da coisa por parte do depositário.

XI. COMPENSAÇÃO

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Situação em que duas pessoas são reciprocamente credoras e devedoras uma da outra.
Quando 2 pessoas estejam reciprocamente obrigados a entregar coisas fungíveis da mesma
natureza é admissível que as respetivas obrigações sejam extintas, total/parcialmente, pela
dispensa de ambas de realizar as suas prestações ou pela dedução a uma das prestações da
prestação devida pela outra parte.
➥exemplo: Se um comerciante deve a outro 1000 €, de um fornecimento que este lhe fez,
mas
tem por sua vez um crédito de 1000€ sobre aquele, resultante de um empréstimo antigo,
podem a dívida do fornecimento como a dívida do empréstimo ser declaradas extintas por
compensação entre elas, ficando os dois comerciantes liberados de realizar a sua prestação.

A compensação assegura 2 importantes vantagens, nomeadamente, vantagem de produzir


extinção das obrigações dispensando a realização efetiva da prestação devida (facilita os
pagamentos) e de permitir ao declarante extinguir a sua obrigação mesmo que não tenha
qualquer possibilidade de receber o seu próprio crédito, por insolvência do seu devedor
(garantia de créditos).

 Pressupostos

Previstos no artigo 847:

1. Existência de créditos recíprocos: cada uma das partes tem de possuir na sua esfera
jurídica um crédito sobre a outra e só pode operar a compensação para extinguir a sua
própria dívida. Está vedada a utilização de créditos alheios (art. 851º);
2. Fungibilidade das coisas objeto das prestações e identidade do seu género: no caso em
que cabe a uma das partes determinar o objeto da prestação (como nas obrigações
genéricas e alternativas) só se poderá recorrer à compensação se a escolha implicar
prestações de coisas fungíveis homogéneas para ambos os créditos;
3. Exigibilidade do crédito que se pretende compensar: tanto os créditos do declarante
como o do declaratório têm de ser judicialmente exigíveis (tem que ser possível obter
a realização coativa da prestação)49, o crédito tem de estar vencido (declarante não
pode pretender compensar uma dívida ainda não vencida, se o prazo tiver sido
estabelecido em benefício do credor).

 Regime da compensação

O 848º, refere que a compensação se torna efetiva mediante declaração de uma das partes à
outra. Uma vez efetuada essa declaração, os créditos consideram-se extintos desde o
momento em que se tornaram compensáveis (854º). Apesar de se exigir uma declaração de
compensação, os efeitos desta retroagem à data compensabilidade dos créditos. O momento
relevante para a extinção da obrigação, após essa data um dos créditos for cedido a terceiro, o
declarante pode continuar a invocar a compensação (853/2 ad contrarium). Também a
prescrição da obrigação não releva se ela ainda não tinha ocorrido no momento em que os
créditos se tornaram compensáveis (850º). Para a compensação se tornar efetiva é necessária
a declaração de uma das partes à outra (848/1), a qual pode ser feita judicialmente (219º).

A lei estabelece que a declaração de compensação é ineficaz se for feita sob condição ou
termo (848/2).

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Pode suceder que existam, quer de uma, quer de outra parte, vários créditos compensáveis,
podendo a qualquer deles ser referida a declaração de compensação. A escolha dos créditos
que ficam extintos pertence ao declarante (855/1), vigorando na ausência de escolha as regras
relativas à imputação do cumprimento (855/2).

 Compensação convencional

Com base no princípio da liberdade contratual.

Compensação que, em lugar de ocorrer através de uma declaração unilateral, resulta de um


acordo celebrado entre as partes.

As partes já não estarão sujeitas à maior parte dos pressupostos e limites estabelecidos para a
compensação legal. Exigirá apenas que ambas as partes disponham de créditos que
pretenderam extinguir através do contrato, não sendo necessário que se trate de créditos
recíprocos.

XII. NOVAÇÃO

Extinção de uma obrigação em virtude da constituição de uma nova que a substitui.

A razão determinante da extinção da obrigação é neste caso a constituição de um novo


vínculo que, embora se identifique economicamente com a obrigação extinta, tem uma fonte
jurídica diferente.
novação objetiva: sempre que a nova obrigação se constitui entre os mesmos credor e
devedor da obrigação antiga (857º);

Pode representar tanto:


➜ uma mudança no objeto da obrigação (ex: comerciante obriga-se a entregar a outro
mercadorias, em vez dos 1000€ que lhe devia)
➜ uma alteração na sua fonte (o mandatário, que deveria restituir ao mandante 1000€ de
quantias que recebera no exercício do mandato).

novação subjetiva: sempre que se verifica mudança de algum dos sujeitos da


obrigação (858º);
➜ por substituição do credor (que se verifica sempre que um novo credor é substituído ao
antigo, vinculando-se o devedor para com ele por uma nova obrigação)
➜ por substituição do devedor (ocorre quando um novo devedor, contraindo nova obrigação
é substituído ao antigo que é exonerado pelo credor).

 Pressupostos da novação

1. Declaração expressa da intenção de constituir nova obrigação em lugar da antiga: A


lei vem determinar que a novação tem que resultar de declaração expressa (859º), o
que implica não se poder inferir uma novação através de uma simples modificações
da obrigação;
2. Existência e validade da obrigação primitiva: a existência de uma obrigação antiga,
que as partes visam precisamente extinguir e substituir por uma nova. A novação se

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torne ineficaz sempre que se verifique que a referida obrigação não existia ou estava
extinta ao tempo em que a segunda foi constituída e ainda quando, essa obrigação
vem a ser declarada nula / declarada (860/1);
3. Constituição válida de nova obrigação: a nova obrigação tem de ser constituída, uma
vez que, se tal não ocorrer, não se pode verificar a novação, subsistindo assim a
obrigação primitiva (860/2), já que a sua extinção apenas tinha sido determinada em
razão da constituição de uma nova obrigação.

 Regime da novação

A novação resulta a extinção da primitiva e a constituição de uma nova obrigação. Uma vez
que se verifica essa substituição de vínculos, não se vem a operar qualquer continuidade entre
eles, determinando, a lei que, o novo crédito não recebe as garantias relativas à obrigação
antiga (861º), nem lhes pode ser opostos os meios de defesa desta (862º). A lei determina a
extinção dos meios de defesa em consequência da novação, a menos que se estipule o
contrário (862º). Relativamente às garantias a sua extinção compreende-se que estas tenham
sido prestadas pelo devedor, quer por terceiro, quer mesmo quando resultem da lei (861/1).
No caso de garantia dizer respeito a terceiro, é necessária também a reserva expressa deste
(861/2).

XIII. REMISSÃO

Consiste assim no acordo entre o credor e o devedor pelo qual aquele prescinde de receber
deste a prestação devida (863º e ss. sendo vulgarmente designado por perdão da dívida).
➥exemplo: Se o credor sabe que o devedor se encontra em dificuldades económicas e não
tem
condições de cumprir pode acordar com ele em perdoar-lhe a dívida, evitando assim uma
ação executiva que seria destituída de efeitos práticos.

 Pressupostos

a) existência prévia da obrigação: a celebração depende da existência da obrigação que


se visou extinguir. Não é remissão o denominado reconhecimento negativo de dívida,
onde o credor se limita a declarar perante determinada pessoa que não existe qualquer
obrigação que esta deva realizar perante ele;
b) contrato celebrado com o devedor, abdique de receber a prestação devida: o contrato
de remissão constitui sempre para o credor um ato de disposição do seu direito, ao
mesmo tempo que representa em relação ao devedor uma atribuição patrimonial
geradora de enriquecimento. Essa atribuição patrimonial será normalmente realizada a
título de liberalidade. No caso a remissão por negócios entre vivos é havida como
doação (863/2) e sujeita ao regime dos arts. 940º e ss. São aplicáveis as normas que
regulam a doação designadamente a necessidade de aceitação em vida do remetente
(945º), com possibilidade de revogação até esse momento (969º).

 Efeitos da remissão

A remissão produz a extinção da obrigação, ficando o devedor liberado e vindo o credor a


perder definitivamente o ser o direito de crédito. No caso:

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 remissão in rem: existir uma pluralidade de partes, haverá que distinguir se a remissão
foi concedida a todas ou por todas as partes, produzindo a sua extinção definitiva em
relação a todos os sujeitos;
 remissão in personam: apenas concedida por ou em benefício de pessoas específicas,
a remissão apenas produzirá efeitos em relação a estas, mantendo-se a obrigação para
as restantes.

Se o regime for o da solidariedade passiva, a obrigação deste extingue-se mantendo-se a dos


restantes devedores que ficam liberados pela parte relativa ao devedor exonerado (864/1).
Pode suceder que o credor declara reservar o seu direito por inteiro contra os outros
devedores, caso em que eles conservarão o seu direito de regresso por inteiro contra o
devedor exonerado (864/2). Se o regime aplicável for o da solidariedade ativa, um dos
credores solidários concede a remissão, o devedor fica exonerado, mas apenas na parte
relativa a esse credor (864/2). A obrigação plural indivisível, a remissão concedida pelo
credor a um dos devedores implica que aquele só possa exigir a prestação dos restantes se
lhes entregar o valor da parte que compete ao devedor exonerado (865/1 e 536º). Se a
remissão for concedida por um dos credores ao devedor, este não fica exonerado perante os
restantes credores, estes só podem exigir-lhe a prestação se lhe entregarem o valor da parte
que competia àquele credor (865/2).

XIV. CONFUSÃO

Extinção simultânea do crédito e da dívida em consequência da reunião, na mesma pessoa


das qualidades de credor e devedor (868º).
➥exemplo: Se o devedor adquirir por cessão o crédito que sobre ele tinha um credor anterior
a dívida. Deixa de haver qualquer necessidade jurídica de manter a obrigação, como adstrito á
prestação e o beneficiário dela são o mesmo.

Confusão Strecht sensu → as situações em que não se verifica a reunião na mesma pessoa das
qualidades de proprietário e titular de um direito real.

Confusão Imprópria → reúnem-se na mesma pessoa as qualidades de devedor e garante da


obrigação.

 Pressupostos da confusão

 reunião na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor: ocorrerá em virtude da


aquisição por uma das partes da posição que a outra ocupava no crédito/ débito, ou em
virtude da aquisição conjunta por um terceiro das posições que ambas as partes
ocupavam na obrigação;
 não se verifique a pertença do crédito e da dívida a patrimónios separados: o art. 872º
determina a não verificação da confusão;
 que não haja prejuízo para os direitos de terceiro: 871/1, a confusão justifica-se por
não haver necessidade jurídica de manter a obrigação, como instrumento de
colaboração intersubjetiva.

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XV. IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO E MORA NÃO IMPUTAVEL AO


DEVEDOR

Também configura uma causa de extinção das obrigações a impossibilidade da prestação tal
como regulada nos arts. 790.º e ss.

Neste contexto considera-se a impossibilidade que preencha os seguintes objetivos:

a. Superveniente: se for originária estamos perante uma nulidade do negócio jurídico


(arts. 401.º, n.º 1 e art. 280.º, n.º 1 CC) e a obrigação nem se chega a constituir
(atenção, contudo, ao art. 401.º, n.º 2 CC);

objetiva (salvo quando a obrigação tiver por objeto uma prestação infungível): deve
respeitar à obrigação em si, independentemente da pessoa que a realizar (com exceção
das prestações infungíveis, naturalmente) – vale relembrar aqui a legitimidade
genérica para o cumprimento prevista no art. 767.º, n.º1 CC que deve ser lido em
conjunto com o art. 791.º CC;
b. absoluta: é necessário que a prestação se torne efetivamente irrealizável, ou seja, não
basta uma mera dificuldade na realização (a dificuldade na prestação pode, em alguns
casos, levar à aplicação do art. 437.º CC.;

c. e definitiva: não está em causa algo meramente temporário.

NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

O incumprimento é a não realização da prestação devida por causa imputável ao devedor,


sem que se verifique qualquer causa de extinção da obrigação. Esta definição abrange não
apenas as situações em que o devedor falta culposamente ao cumprimento(798 e ss), mas
também as situações em que ele impossibilita culposamente a prestação(801 e ss).

Quando podemos afirmar que existe um não cumprimento da prestação?

Verificamos o não cumprimento quando:

i) não se verifica a realização da prestação a que o devedor estava adstrito;


ii) realização da prestação não foi efetuada em termos que permitam a satisfação do
credor nos termos da obrigação criada;
 Modalidades do não cumprimento/incumprimento

1. Definitivo: não é realizável a prestação porque (i) há uma impossibilidade do


cumprimento ou (ii) o credor perdeu o interesse na prestação (incumprimento
definitivo);

2. Temporário: a prestação não foi realizada no momento devido, mas ainda é possível
através de um incumprimento retardado. Estamos aqui a falar de uma mora.

3. Cumprimento defeituoso: existe a realização de uma prestação, mas em termos tais


que não permitem uma adequada satisfação do credor.

I. INCUMPRIMENTO TEMPORARIO

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MORA

Quando há um atraso culposo na realização da prestação debitória, mas, o contrato ainda


subsiste.

i. Mora do devedor

O artigo 804/2, define a mora do devedor, como a situação em que a prestação, embora ainda
possível, não foi possível realizada no tempo devido, por facto imputável ao devedor.

 Requisitos (cumulativos) da mora do devedor

1. Atraso no cumprimento – prestação não foi realizada no tempo devido;


2. Prestação continua a ser possível – se este requisito falhar, estaremos perante uma
impossibilidade definitiva do cumprimento (790 ou 801) ou um incumprimento
definitivo;
3. Que a não realização seja imputável ao devedor.

A partir de quando fica o devedor em mora (atendendo ao art. 777º e ss.)?

A regra é a de que as obrigações são puras (não têm prazo certo estipulado, cabendo então a
qualquer das partes determinar o momento do cumprimento 777/1). Aqui o devedor só fica
constituído em mora de ter sido judicialmente interpelado para cumprir (805/1) – caso da
mora ex persona,

Há porem casos em que a mora do devedor depende apenas de fatores objetivos, tornando-se
irrelevante a existência ou não da interpelação pelo credor – caso da mora ex re – que se
encontra referida no artigo 805/2.

O artigo 805/3, exige, no entanto, para que ocorra uma situação de mora que a obrigação seja
liquida, ou seja, que o seu quantitativo já se encontre determinado, uma vez que enquanto tal
não suceder, a mora não se verifica.

Exceção a esta regra: falta de liquidez imputável ao devedor (constitui-se mora na mesma
para não beneficiar de uma situação pela qual ele é responsável); situação de
responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco em que, apesar da liquidez, incorre-se em
mora a partir da citação da ação de responsabilidade.
 Consequências da mora do devedor

1. Obrigação de indemnizar os danos causados ao credos

Previsto no artigo 804/1, na qual trata-se da responsabilidade obrigacional, que concorre com
o dever de prestar, em virtude de o credor conservar o direito à prestação originária. O credor
tem assim direito a uma indemnização pelos danos sofridos (como, despesas, lucros cessantes
e prejuízos).

A concessão de uma indemnização moratória depende da demonstração de que a não


realização da prestação no tempo devido causou prejuízos ao credor. Se forem obrigações
pecuniárias, a lei fixa uma tarifa indemnizatória, por considerar o dano como necessariamente
equivalente à perda da remuneração habitual do capital durante esse período, ou seja, o juro –

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

art. 806º. Não se permite ao credor exigir outra indemnização, mas dispensa-o da prova dos
requisitos do dano e do nexo de causalidade.

2. Inversão do risco pela perda ou deterioração da coisa devida

A impossibilidade casual da prestação provoca a extinção da obrigação (790), ficando o


devedor liberado, cujo risco corre em princípio por conta do credor. Se o devedor estiver em
mora quando se verifica a impossibilidade superveniente da obrigação corre por sua conta o
correspondente risco (807/1).

Assim, no caso de venda de um determinado objeto, estando o vendedor em mora, o risco


inverte-se, pelo que ele terá de indemnizar o credor caso se verifique a perda/ deterioração do
objeto que deveria entregar (807/1), a menos que demonstre que o dano se teria continuado a
verificar (807/2).

 Extinção da mora

1. Acordo das partes

As partes acordam diferir para momento posterior o vencimento da obrigação, com a


correspondente extinção da mora. Pode ter efeito retroativo (como se a mora não se tivesse
verificado) ou não retroativo (a mora não se verifica para o futuro, mas o credor tem direito à
indemnização moratória devida até esse momento).

2. Purgação da mora

Situação em que o devedor se apresenta tardiamente a oferecer ao credor a prestação devida e


a correspondente indemnização moratória. A oferta extingue para o futuro a situação de mora
do devedor, mesmo que se verifique a sua não aceitação pelo credor. A recusa do credor
produz uma inversão da mora que deixa de ser considerada mora do devedor para passar a ser
qualificada como do credor.

3. Transformação da mora em incumprimento definitivo

Previsto no art. 808 – o credor vem objetivamente a perder o interesse na prestação – ou o


cumprimento não se realiza no prazo suplementar fixado pelo credor – O credor mantém o
interesse na prestação, não obstante a mora, mas apesar disso não se considera justificado
admitir a possibilidade de eternização da situação. O credor tem, a faculdade de determinar a
transformação da mora em incumprimento definitivo, através da fixação, em termos
razoáveis de um prazo suplementar de cumprimento, com a advertência que a obrigação se
terá por definitivamente incumprida após o decurso deste → intimação admonitória.

ii. Mora do credor

 Pressupostos

1. Recusa ou não realização pelo credor da colaboração necessária para o cumprimento

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Momentos em que o cumprimento da obrigação pressupõe a colaboração do credor, que não é


dada – a não realização da prestação pelo devedor é imputada ao credor, constituindo-o em
mora.

2. Ausência de motivo justificado para essa recusa ou omissão

Há situações em que existe motivo justificado para recusar a prestação:

a) quando a prestação não coincide plenamente com a obrigação a que o devedor se


vinculou (caso de prestação defeituosa);

b) nos casos de prestação parcial (art. 763º/1);

c) nos casos em que o devedor se oponha ao cumprimento por terceiro (art. 768º/1).
➢Fora destas situações justificativas, a recusa do credor implica constituição
em mora.

d) nos casos em que a impossibilidade de prestação não é imputável nem ao credor nem
ao devedor

 efeitos da mora do credor

1. obrigação de indemnização por parte do credor

art. 816 – responsabilidade por ato lícito ou pelo sacrifício, pois ao entrar em mora o credor
provoca o sacrifício de interesses do devedor, sujeitando-o a maiores despesas de que aquelas
que se vinculou a suportar ao assumir a obrigação.

2. Atenuação da responsabilidade do devedor

Presume-se a culpa do devedor no incumprimento (art. 798º e 799º/1), mas a partir do


momento em que o credor entra em mora, o devedor só é responsável se intencionalmente
destruir ou deteriorar o objeto da prestação – art. 814º.

3. Inversão do risco pela perda ou deterioração da coisa

art. 815º - o risco já corria por parte do credor, no entanto, em certos casos (art. 796º/2), a lei
atribuía esse risco ao devedor. Ocorrendo mora do credor, o risco da prestação inverte-se e
corre sempre por conta do credor, alargando-se por força da atenuação das responsabilidades
do devedor (art. 815º fala de “facto não imputável a dolo”)

 Extinção da mora do credor

A mora do credor pode se extinguir por:

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– o credor, ainda que tardiamente vira prestar a colaboração necessária para o


cumprimento. O devedor deve realizar imediatamente a prestação, sem o que se
verificará uma inversão da mora;

– consignação em depósito → obrigação considera-se extinta a partir da data do


depósito se este não for impugnado/ se o tribunal julgar improcedente a impugnação;

II. INCUMPRIMENTO DEFINITIVO

verifica-se incumprimento definitivo da obrigação quando o devedor não a realiza no tempo


devido por facto que lhe é imputável, mas já não lhe é permitida a sua realização, em virtude
de o credor ter perdido o interesse na prestação ou ter fixado, após a mora, um prazo
suplementar de cumprimento que o devedor desrespeitou (art. 808º).

devedor desrespeitou (808º).



Constituição do devedor em responsabilidade obrigacional pelos danos causados ao credor
(798º)

Extinção superveniente do dever de prestar + obrigação de indemnização (no caso de uma
conduta ilícita e culposa do devedor).

A responsabilidade obrigacional tem pressupostos semelhantes à responsabilidade delitual:

– ilicitude (consiste na inexecução da obrigação, que o art.798º define como a falta de


cumprimento)
Pode ser excluída através de uma causa de exclusão da ilicitude:
i) Exceção de não cumprimento do contrato (428º);
ii) Direito de Retenção (754º);

– culpa (cabe ao devedor demonstrar que não teve culpa na violação do vínculo
obrigacional- pode aqui também revestir as modalidades de dolo/negligência);

Limites da responsabilidade do devedor:


- mora do credor (814º e 815º);
- contratos gratuitos (956º e 957º);
A lei vem impor aqui também a apreciação da culpa segundo a diligência do bom pai de
família (799/2 → 487/2).

– dano (o devedor que incumpriu a obrigação, mas tal incumprimento não provocar
danos ao credor, não fica sujeito à responsabilidade).

III. REALIZAÇÃO COATIVA DA PRESTAÇÃO

O credor tem, em caso de não realização da prestação, uma garantia judiciária da obrigação,
na possibilidade de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património do
devedor (817º).

 Execução especifica

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Credor exige, por via judicial, que lhe seja entregue a prestação acordada para satisfazer o seu
crédito, obtendo o mesmo resultado que teria se o devedor tivesse cumprido voluntariamente
a obrigação.
➢ Pressuposto é a mora, pois mantém na esfera do credor o direito à prestação
original

Nos casos em que não é possível o recurso à execução específica, a lei admite a
possibilidade de coagir o devedor ao cumprimento, através da denominada
sanção pecuniária compulsória.

 Ação de cumprimento

Ação judicial que corre nos Tribunais cíveis em que se pretende obter a declaração que a
obrigação não foi cumprida pelo devedor e declarar-se que o devedor deve cumprir. Art. 4º/3
CPC
• Tribunal condena o devedor a cumprir

GARANTIA DAS OBRIGAÇÕES

O direito de crédito, recebe a proteção do direito. Essa proteção denomina-se de garantia das
obrigações.

A ordem jurídica assegura ao credor os meios necessários para realizar o seu direito em caso
de incumprimento por parte do devedor.

 Garantia geral

esta é comum a todos os credores e traduz-se na possibilidade de todos se pagarem, em


posição de igualdade, à custa do património do devedor;

Não havendo garantias especiais, todos os credores têm igualdade possibilidade de, através
das
vias apropriadas, buscarem a satisfação do seu crédito no património do devedor; Art. 601.º
CC

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Direito das Obrigações | Tainircia Figueiredo

Sendo o património do devedor a garantia geral das obrigações, a ordem jurídica consagra
aos devedores diversos mecanismos destinados a evitar a diminuição daquele património:

a) Declaração de nulidade – art. 605


b) Sub-rogação do credor ao devedor – 606 ao 609
c) Impugnação pauliana – 610 a 618
d) Arresto – 619 a 622

I. DECLARAÇÃO DE NULIDADE

O primeiro dos meios de conservação da garantia patrimonial que a lei atribui aos credores é
a declaração de nulidade (605º), consiste na faculdade de os credores, poderem vir invocar
em tribunal a nulidade dos atos praticados pelo devedor. Fica assim esclarecido que o artigo
605º, atribui aos credores legitimidade para invocar a nulidade de qualquer ato praticado pelo
devedor que os possa prejudicar, independentemente do momento em que esse ato ocorreu ou
das suas consequências para o património do devedor. A lei esclarece que a declaração de
nulidade aproveita, não apenas ao credor que haja invocado, mas também a todos os demais
(805/2).

II. AÇÃO SUB-ROGATORIA

Previstos nos arts. 606º e ss., nestes artigos temos a:

→ ação sub-rogatória indireta: meio de conservação da garantia geral representado pela


possibilidade que os credores têm de exercer contra terceiro os direitos de conteúdo
patrimonial que competem ao devedor, mas que não atribui qualquer preferência no
pagamento aos credores que a ela recorram uma vez que é exercida em proveito de todos os
credores (609º);

→ ação sub-rogatória direta: possibilidade conferida a algum ou alguns credores de


exercerem em proveito próprio os direitos que competem ao devedor, para obterem
imediatamente a satisfação dos seus créditos, o que lhes atribui preferência no pagamento
sobre os restantes credores.

 Pressupostos da ação sub-rogatória

A lei estabelece no artigo 606º, os pressupostos da ação sub-rogatória:

i) omissão pelo devedor de exercer os seus direitos

Reação do credor contra uma conduta omissiva do devedor, pelo que, se o devedor vir a atuar
positivamente em ordem a prejudicar o credor, a via adequada para este reagir já não será a
da ação sub-rogatória, mas a da impugnação pauliana ou do arresto. Já é permitido o
exercício da sub-rogação em relação ao direitos sujeitos a condição ou a prazo, desde que o
credor se encontre em condições de demonstrar que tem interesse em não aguardar pela
verificação ou pelo vencimento do crédito (607º).

ii) direitos cujo exercício se omitiu tenham conteúdo patrimonial, não estando esse
exercício reservado ao titular

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Excluem-se os direitos de natureza pessoal, aqueles que a lei reserva ao respetivo


titular.

iii) exercício desses direitos se apresenta como essencial à satisfação ou garantia do


direito do credor

O art, 606º.2, não basta qualquer interesse do credor para que a sub-rogação possa ser
decretada, exigindo-se a sua essencialidade para a satisfação ou garantia do direito do credor.

 Regime

Conforme se deduz ad contrarium do art. 608º, a ação sub-rogatória pode ser exercida tanto
judicial como extrajudicialmente. Exercida a sub-rogação, o artigo 609º, determina que esta
aproveita a todos os credores, não atribui a qualquer preferência no pagamento ao credor que
a ela recorre, mas antes determina o ingresso dos bens obtidos no património do devedor.

III. IMPUGNAÇÃO PAULIANA

A impugnação pauliana pelo credor dos atos do devedor que o possam prejudicar (610º e ss.),
consiste num meio de conservação da garantia geral, destinada a permitir aos credores reagir
contra os atos do devedor que se apresentam como lesivos dessa garantia. Essa reação dos
credores é admissível quer em relação à primeira alienação do devedor (610º e ss.), quer
alienações subsequentes efetuadas pelo adquirente dos bens ( 613º).

 Pressupostos

1. A realização pelo devedor de um ato que diminua a garantia patrimonial do crédito


que não seja de natureza pessoal; (ou diminuem o ativo ou aumentam o passivo) (não
incluem casamento, adoção, filiação...);

2. Que o crédito seja anterior ao ato ou, sendo posterior, ter sido dolosamente praticado
com o fim de impedir a satisfação do direito do futuro credor; (quanto aos posteriores
– cfr. Art. 613.º);

3. Que o ato seja de natureza gratuita ou, sendo oneroso, exista má-fé do alienante e do
adquirente; (cfr. Art. 612.º)

4. Que do ato decorra a impossibilidade de o credor obter a satisfação integral do crédito


ou agravamento dessa impossibilidade.

 Efeitos

a. impugnação pauliana em relação ao credor (encontram-se referidos no art. 616º, um


aspeto importante do regime da impugnação pauliana é o de que os seus efeitos
aproveitam apenas ao credor que a tenham requerido, 616/4, e que consequentemente,
com a impugnação pauliana, não há qualquer retorno dos bens ao património do
devedor);
b. impugnação pauliana em relação ao devedor e ao terceiro (617º ocupa-se dos efeitos
da impugnação pauliana nas relações entre o devedor e o terceiro. Mantém-se válido e
eficaz o ato celebrado entre o devedor e o terceiro, ocorrendo apenas uma situação de

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responsabilidade do devedor perante o terceiro, em virtude de o credor ter, em


consequência da ação do devedor lesiva da garantia patrimonial, adquirido sobre o
terceiro um direito à restituição dos bens na medida do seu interesse);

IV. ARRESTO

Apreensão judicial de bens semelhante à penhora, e sujeita aliás mesmas regras;

O arresto pode ser requerido sempre que o credor tenha justo receio de perda da garantia
patrimonial do seu crédito (619/1). Basta, que exista um risco de o devedor ir proceder à
ocultação alienação ou dissipação dos seus bens ou que se verifiquem quaisquer outras
circunstâncias que indiquem a possibilidade de futuro desaparecimento dos bens que
constituem a garantia patrimonial do crédito.

O arresto pode ainda ser decretado em relação ao adquirentes dos bens do devedor, exigindo-
se nesse caso que tenha sido judicialmente impugnada a transmissão (619/2).

Se o arresto for julgado injustificado ou caducar, o requerente é responsável pelos danos


causados ao arrestado, quando não tenha agido com a prudência normal (621º). Admite-se,
aliás que o requerente do arresto seja logo obrigado a prestar caução, se tal lhe for exigido
pelo tribunal (620º).

Decretando o arresto, os bens ficam apreendidos para a garantia do cumprimento da


obrigação, o que implica a ineficácia em relação ao requerente dos atos de disposição de bens
arrestados (622/1+819º), e a atribuição de preferência sobre os mesmos bens a partir do
arresto ( 622/2+ 822/2).

V. GARANTIAS ESPECIAIS

Situações em que a posição do credor aparece reforçada para além do que resultaria
simplesmente da responsável patrimonial do devedor.

A garantia vai implicar que outros patrimónios para além do património do devedor sejam
sujeitos ao poder de execução do credor (garantias pessoais) ou ter caráter qualitativo, quando
o credor adquire o direito de ser pago com preferência sobre outros credores em relação a
bens determinados ou rendimento desses bens (garantias reais).

É essencial à garantia especial é que um dos credores se encontre, numa posição de benefício,
quebrando-se a normal igualdade entre os credores (pars conditio creditorum). Caracterizam-
se assim por sujeitar a um terceiro à possibilidade de execução do seu património, em caso de
não cumprimento pelo devedor.
Os credores titulares garantias reais dizem-se a credores preferenciais, mas há certos casos de
garantias especiais.

 Garantias pessoais

sujeita-se um terceiro (ou mais) à possibilidade de execução do seu património, em caso de


não cumprimento pelo devedor.

 Fiança

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Garantia pessoal das obrigações, através da qual um terceiro assegura a realização de uma
obrigação do devedor, responsabilizando-se pessoalmente com o seu património por esse
cumprimento.

A fiança abrange todo o património do fiador, embora possa por limitação convencional ser
restringida a alguns dos seus bens (602º). Se não for estabelecido qualquer critério para a
determinação das obrigações a afiançar, o negócio não poderá deixar de ser considerado nulo
por indeterminabilidade do objeto (280º).

 Garantias reais

possibilitar ao credor obter o pagamento preferencial do seu crédito pelo produto da venda de
bens determinados ou rendimento desses bens. Constituem categorias de direitos reais, mais
precisamente de direitos reais de garantia.

Exs.: consignação de rendimentos, o penhor, a hipoteca, o privilégio e o direito de retenção.

Os credores titulares de garantias reais dizem-se credores preferenciais por oposição aos
outros credores, ie, credores comuns ou quirografários.

 Garantias especiais que não se reconduzem a qualquer modalidade

Separação de Patrimónios

Casos em que a lei prevê a sujeição de certos bens do devedor a um regime próprio de
responsabilidade por dívidas. Ex: bens adquiridos pelo mandatário no mandato (art. 1184º),
meação nos bens comuns do casal, património da herança em relação ao herdeiro
(art.2070º2071º).

• Estabelece-se património autónomo na esfera jurídica do devedor, cujas relações


com o património principal podem passar pela atribuição de preferência aos credores do
património autónomo sobre os outros credores do devedor (no caso das heranças: esses
credores do património separado não podem pagar-se com o património principal).

• Discute-se se há garantia especial pois pode considerar-se cada massa patrimonial de


per si.
ML: é garantia especial pois têm um património autónomo afeto à satisfação
dos seus créditos

Caução – art. 623º e ss.

Consiste em toda e qualquer garantia que, por lei, decisão judicial ou negócio jurídico, é
imposta ou autorizada para assegurar o cumprimento de obrigações eventuais ou de
amplitude indeterminada.
➢ Pode ter origem legal, judicial ou negocial.

Cessão de Bens aos Credores – art. 831º e ss.

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Devedores entregam património aos credores para eles se satisfazerem com a sua liquidação
–mas não há transmissão da propriedade, apenas se cede os bens para que eles possam ser
vendidos.

• Pode ser todo o património do devedor ou apenas parte dele – objeto do negócio é
universalidade patrimonial e não bens determinados.
Se forem bens individuais é dação pro solvendo e não cessão de bens aos credores

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