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20 de Março de 2024

Do furto de energia
Publicado por Wesley Caetano há 6 meses

A previsão legal do furto de energia está no § 3º do art. 155 do


Código Penal, que assim dispõe: § 3º Equipara-se à coisa móvel
a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico
1.

O legislador equiparou à coisa móvel a energia elétrica ou qual-


quer outra que tenha valor econômico, por interpretação
analógica.

Assim, não há mais discussão quanto à possibilidade da energia


funcionar como objeto material do furto, não apenas a elétrica,
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somente aàstérmica, a solar, a anatômica,
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sonora, a mecâ-
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MAIS
nica, etc. Logo, toda energia em que recaia valor economica-
mente apreciável poderá ser subtraída, de acordo com o mencio-
nado dispositivo.

Tal redação possui destaque, pois parte da doutrina, especial-


mente a estrangeira, não vislumbrava a enérgica como objeto
passível de subtração. Nesse sentido, Diego-Manuel Luzón
Peña, assevera que o conceito de coisa móvel constitui um ele-
mento normativo do tipo, porém, em Direito Penal, a interpreta-
ção é feita de uma maneira mais ampla em comparação ao Di-
reito Civil, ao inserir-se nele todos os objetos físicos que podem
ser economicamente valorados e passíveis de apoderamento
material e de locomoção. Dessa forma, para efeitos penais, cons-
tituem bens móveis tanto os animais como os elementos separá-
veis pertencentes a um imóvel e, ao contrário, não podem ser
consideradas coisas móveis para fins penais, os direitos, a ener-
gia, dentre outros bens incorpóreos 2.

Esclarecendo sobre a equiparação dos diversos tipos de energia


à coisa móvel, o item 56 da Exposição de Motivos à Parte Espe-
cial do Código Penal obtempera que a energia é expressamente
equiparada à coisa móvel e, por isso, pode ser reconhecida como
objeto de furto não só a elétrica, mas também qualquer outra
que tenha valor econômico. Logo, toda energia que é utilizável
economicamente e que seja suscetível de incidir no poder de
disposição material e exclusiva de um indivíduo- como é o caso
da eletricidade, da radioatividade, da energia genética dos re-
produtores- é possível se ser inserida entre as coisas móveis,
mesmo do ponto de vista técnico a cuja regulamentação jurídica
deve se submeter 3.

Note que a mencionada Exposição de Motivos se refere até à


energia genética, como o sêmen de um reprodutor.

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A forma mais comum dessa modalidade de furto é quanto à
energia elétrica. Sua subtração poderá ocasionar também o este-
lionato. Assim, o agente que capta a energia elétrica antes que
ela passe pelo medidor, cometerá o crime de furto. É exemplo
disso o agente que puxa a energia para sua residência direta-
mente do poste, sem que passe pelo registro, o que é comu-
mente chamado de “gato”. Entretanto, se a conduta do delituoso
for de modificar o medidor (fazer retroceder o ponteiro do regis-
tro), com a finalidade de fraudar um resultado menor do que o
realmente consumido, haverá o delito de estelionato, um vez
que presente está o artifício que induz a vítima à erro, produ-
zindo vantagem ilícita.

O furto de energia elétrica tem natureza de crime permanente,


vez que sua consumação se prolonga do tempo, o que possibilita
a prisão em flagrante do agente, assim que descoberta a
infração.

Há entendimento de que, caso o agente faça o ressarcimento do


prejuízo causado à vítima antes de oferecia a denúncia, não mais
se justifica a persecução penal, pois carece de justa causa, visto
que resolvido está o ilícito civil:

Penal e processual penal. Habeas corpus. Furto de


energia elétrica.Vítima. Empresa concessionária. Res-
sarcimento do prejuízo antes do oferecimento da de-
núncia. Justa causa. Ausência. Trancamento da ação
penal. Possibilidade.

1. O Direito Penal deve ser encarado de acordo com a


principiologia constitucional. Dentre os princípios
constitucionais implícitos figura o da subsidiariedade,
por meio do qual a intervenção penal somente é admis-
sível quando os demais ramos do direito não conse-
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guem bem
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e Peças. 
2. In casu, pago o débito de energia antes do ofereci-
mento da denúncia, resolvido está o ilícito civil, não se
justificando a persecução penal.

3. recurso provido para, reformando o acórdão recor-


rido, trancar a ação penal n. 0004217-
96.2008.8.19.0068 (2008.068.004225-2), da 2.ªvara
da comarca de rio das ostras/rj 4.

Recorreu-se, portanto, ao princípio da subsidiariedade da inter-


venção penal.

1 BRASIL. Código Penal. Disponível em: >


http://www.diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?
numlink=1-96-15-1940-12-07-2848-CP<;, acesso em
01/03/2014.

2 LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel. Enciclopedia penal básica,


p. 782.

3 BRASIL. Código Penal. Disponível em: >


http://www.diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?
numlink=1-96-15-1940-12-07-2848-CP<;, acesso em
01/03/2014.

4 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso ordinário em


Habeas Corpus. Penal e processual penal. Habeas corpus.
Furto de energia elétrica.vítima. Empresa concessionária. Res-
sarcimento do prejuízo antes do oferecimento da denúncia.
Justa causa. Ausência. Trancamento da ação penal. Possibili-
dade. RO em HC n. 27360 RJ 2009/0244212-1. Relator
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Moura. Datailimitado
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ção: 29/08/2012.
Capez, Fernando. Curso de direito penal, volume 2, parte es-
pecial, 15. ed. — São Paulo : Saraiva, 2011.

COSTA, Álvaro Mayrink da. Direito penal- Parte especial, São


Paulo: Forense. 1995.

FRAGOSSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal- Parte


especial, São Paulo:Forense.2010.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, v.


3, São Paulo: Impetus, 2012.

HUNGRIA, Nélson. Comentários ao código penal, São


Paulo: Forense, 2000, v. VII.

MIRABETE, Julio Fabbrii, Manual de direito penal. São


Paulo, Atlas, 2008.

NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal. São Paulo: Sa-


raiva, 2012. v. 2.

NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado, Ed.


Revista dos Tribunais, 6ª ed.

PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, v. 2,


São Paulo: Saraiva, 2013. 13ª edição.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/do-furto-de-energia/1985403607

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