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FACULDADE PITÁGORAS

DIREITO

ANA CAROLINA BORGES NASCIMENTO

EDUARDO COSTA

ELISAMA MARQUES

NAYM MIGUEL LOURENÇO OLIVEIRA

Usufruto
Conceito, Objeto, Natureza Jurídica e Características do Usufruto

Governador Valadares/MG
2022
ANA CAROLINA BORGES NASCIMENTO
EDUARDO COSTA
ELISAMA MARQUES
NAYM MIGUEL LOURENÇO OLIVEIRA

Usufruto
Conceito, Objeto, Natureza Jurídica e Características do Usufruto.

Trabalho da disciplina de Direitos Civil das


coisas, do curso de Direito, 5º período, Noturno.
Orientador: Profa. Ana Paula.

Governador Valadares/MG
2022

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.C ANTES DE CRISTO

ART. ARTIGO

CC CÓDIGO CIVIL

CPC CÓDIGO PROCESSUAL CIVIL

CF CONSTITUIÇÃO FEDERAL

NCC NOVO CÓDIGO CIVIL

STF SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

TJ TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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LISTA DE SÍMBOLOS

§ PARÁGRAFO

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
1 O USUFRUTO ......................................................................................................... 8
2 DIFERENÇA ENTRE USUFRUTO X USO X HABITAÇÃO................................... 10
3 MODALIDADE DE USUFRUTO ............................................................................ 11
4 INALIENABILIDADE ............................................................................................. 13
5 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO USUFRUTUÁRIO E DO NU-PROPRIETÁIO ... 14
6 EXTINÇÃO DO USUFRUTO.................................................................................. 17
7 AÇÕES DECORRENTES DO USUFRUTO, USO E HABITAÇÃO ....................... 20
8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 21
9 JURISPREDÊNCIA ................................................................................................ 22
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 25

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INTRODUÇÃO

Entende-se que o usufruto surgiu em Roma, no fim do século III, numa disputa
entre o jurista Bruto, de uma parte, e Maneio Manilio, de outra, sobre a expectativa
acerca do filho natural de uma escrava em usufruto, ou seja, se este deveria pertencer
ao usufrutuário ou ao nu-proprietário. Essa disputa pressupunha o reconhecimento do
usufruto sobre o escravo, o qual, por sua vez, segundo a opinião prevalente, foi
anterior ao reconhecimento da propriedade. Com a evolução da instituição familiar e
do matrimônio, durante os séculos II e III, a esposa começou a estar cada vez mais
submetida ao manus do marido e a permanecer, obviamente, privada de direitos
sucessórios. Desta forma, observa-se a razão socioeconômica do instituto, ou seja, a
de assegurar a subsistência de determinadas pessoas (como por exemplo, o ex-
cônjuge), sem que o patrimônio saísse da família. Assim, poderia o marido romano,
caso entendesse conveniente, por testamento (não privando os filhos de determinada
cota do patrimônio) instituir a mulher como usufrutuária de alguns dos seus bens ou
de sua totalidade, a título de gozo, até a sua morte, sendo está uma forma embrionária
do que hoje conhecemos como usufruto.

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1. O USUFRUTO

O usufruto está regulado no nosso Novo Código Civil, entre os artigos 1390 e 1411,
porém este instituto não é novidade em nosso ordenamento, uma vez que estava
presente também no Código Civil de 1916. O artigo 713 deste último ordenamento
trazia a definição de usufruto, dizendo:

“Art. 713. Constitui usufruto o direito real de fruir as utilidades e frutos de uma coisa, enquanto
temporariamente destacado da propriedade”.

Cabe, entretanto, lembrar que essa definição não foi repetida pelo Código de 2002,
que entendeu ser esse mais um princípio da doutrina que uma regra de direito. O
mestre BEVILAQUA definia o instituto como sendo o direito real conferido a uma
pessoa, durante certo tempo, que autoriza a retirar da coisa alheia os frutos e
utilidades que ela produz. Observa-se, entretanto, que tanto uma quanto a outra
definição parecem incompletas, haja vista que nenhuma traz a idéia de preservação
da substância, a qual é elementar à noção de usufruto, desde o Código Civil francês,
que dizia que o usufruto era “o direito real de retirar da coisa alheia durante um certo
período de tempo, mais ou menos longo, as utilidades e proveitos que ela encerra,
sem alterar-lhe a substância ou mudar-lhe o destino”. O direito à substância, a
prerrogativa de dispor dela e a expectativa de consolidar a propriedade mais cedo ou
mais tarde, por ser sempre temporário, ficam nas mãos do proprietário do bem,
conhecido aqui como nu-proprietário, enquanto para as mãos do usufrutuário passam,
temporariamente, os direitos de uso e gozo, ficando claro, assim, o desmembramento
do domínio. Desta forma, temos que é formado o usufruto pelo usufrutuário e pelo nu-
proprietário, tratando-se o instituto de um direito real, pois se reveste de todos os
elementos que marcam os direitos dessa natureza, como veremos posteriormente.

Observa-se que esse instituto recai diretamente sobre a coisa e vem munido do
direito de sequela, ou seja, da prerrogativa concedida ao usufrutuário de perseguir a
coisa nas mãos de quem quer que de forma injusta a detenha, uma vez que é ele
oponível erga omnes e sua defesa se faz através de ação real, ou seja, características
eminentemente de direitos reais. É o usufruto um direito real sobre a coisa alheia, que
pressupõe a convivência harmônica dos direitos do usufrutuário e do nu-proprietário,
pois, se fosse sobre a coisa própria, iria se confundir com o domínio. É, ainda,
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inalienável (art. 1393 do CC) e temporário, determinando, a Lei, sua extinção pela
morte ou renúncia do usufrutuário (art. 1410, I, do CC) ou findo o prazo de 30 anos,
se aquele for pessoa jurídica (art. 1410, II, do CC). O uso é a utilização pessoal da
coisa, pelo usufrutuário ou seus representantes; o gozo representa a prerrogativa de
retirar e fazer seus os frutos naturais e civis da coisa, podendo o usufrutuário consumir
ou vender os frutos, como também dar a coisa em locação, fazendo seus os
alugueres. Pode-se mesmo dizer que o usufruto é um direito real em benefício de um
indivíduo, o que explica o fato dos antigos o chamarem, juntamente com o uso e a
habitação, de servidões pessoais.

Como já foi dito anteriormente, o instituto em comento é um direito real, assim,


exige-se a transcrição imobiliária no registro, averbando-se junto a matrícula (salvo o
resultante de direito de família), quando se tratar de imóvel. O usufrutuário mantém a
posse direta do bem e o nu-proprietário passa a ser mero detentor da posse indireta,
podendo o primeiro defender-se pelos meios possessórios, inclusive contra o detentor
da substância, ou seja, o já citado nu-proprietário. Desta forma podemos afirmar que
poderá o possuidor direto fruir da coisa, auferir seus frutos naturais e civis, dar a coisa
em locação e comodato, ou qualquer outro negócio atípico para essa finalidade.

Quanto ao objeto, podemos ver que não há restrição, podendo ser constituído
sobre imóveis ou móveis. Ocorre que fica a dúvida sobre os bens consumíveis, ou
seja, se poderiam ser eles alvo do usufruto. A resposta, segundo boa parte da
doutrina, é positiva, sendo ele denominado pelos romanos de quase-usufruto e
modernamente de usufruto impróprio, podendo recair sobre títulos, ações, direitos
incorpóreos de que resultem frutos etc. Cabe ressaltar, que correção monetária não é
renda. Sendo assim, essa não contará como fruto de ações de sociedade anônima,
por exemplo, não podendo ser gozada pelo usufrutuário. As coisas fora de comércio
não poderão ser alvo de usufruto, uma vez que o bem, para os efeitos de ser objeto,
necessita ser alienável e gravável. Desse modo, aquelas, por não serem alienáveis,
graváveis e aproveitáveis, não serão usufrutuáveis.

O usufruto é constituído por contrato, entendendo-se a doação como tal, podendo


ser gerado através de negócio gratuito ou oneroso, ou por ato de última vontade. Pode
constituir-se, em tese, por usucapião, não necessitando de registro no Cartório de

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Registro de Imóveis, quando o usucapiente adquire a coisa de quem não seja
proprietário e também pode decorrer de lei.

O usufruto é divisível, podendo ser atribuído simultaneamente a mais de uma


pessoa, mais de um usufrutuário, estabelecendo-se o co-usufruto, não podendo ser
dado a vários titulares de forma sucessiva. Será facultado o uso e o gozo, antes já
explorados, a mais de um usufrutuário, sempre simultaneamente. O usufruto não
estabelece completa independência entre o nu-proprietário e o usufrutuário. Entre eles
permanece o dever recíproco de respeitar o âmbito do exercício jurídico alheio. A
própria lei estabelece limites de direitos recíprocos entre os titulares. Não havendo
ressalva, o usufruto estende-se aos acessórios da coisa e seus acrescidos (art. 1392
do CC). O usufruto é, em regra, instituído sobre uma unidade materialmente
considerada e estende-se também às acessões verificadas nos bens usufruídos, bem
como aos acessórios e pertenças que o dono coloca na coisa antes de instituí-lo. O
direito, também, envolve as servidões ligadas ao prédio alvo do usufruto.

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2. DIFERENÇAS ENTRE USUFRUTO X USO X HABITAÇÃO

O uso é uma espécie de usufruto de abrangência mais restrita, pois insuscetível


de cessão e é limitado pelas necessidades do usuário e de sua família. O direito real
de habitação é ainda mais restrito que o uso e consiste na faculdade de residir num
prédio, com sua família. O prédio em causa não pode ser cedido (a título gratuito ou
oneroso). Ao uso e à habitação aplicam-se, naquilo que não contrariarem suas
naturezas, as disposições concernentes ao usufruto, principalmente no que tange às
ações reivindicatórias contra aqueles que estejam obstando o direito do usuário,
habitador ou usufrutuário.

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3. MODALIDADES DE USUFRUTO

• USUFRUTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO


O art. 1395 do CC determina que, nessa modalidade de usufruto, o
usufrutuário utilize os títulos como se fossem seus, tendo o direito de perceber os
frutos e cobrar as dívidas. É uma hipótese de quase-usufruto, pois recai sobre bens
consumíveis.

• USUFRUTO DE APÓLICES DA DÍVIDA PÚBLICA

O art. 720 do CC de 1916 reportava-se ao usufruto de apólices da dívida pública.


Esses títulos visavam propiciar ao usufrutuário uma renda, mas a propriedade dos
papéis continuava nas mãos do nu-proprietário. Para que houvesse alienação, tanto
usufrutuário, quanto nu-proprietário deveriam concordar. Não há correspondente
desta modalidade de usufruto no novo Código.

• USUFRUTO DE REBANHO

O usufruto de um rebanho está disposto no art. 1397 do CC/02. O usufrutuário


pode utilizar os frutos que o rebanho produza, tais como o leite e derivados, e as crias,
que ultrapassem o número original de cabeças. É uma universalidade de fato. Esse
critério não será utilizado se as partes, ao celebrarem o contrato, priorizarem a
individualização de cada membro do rebanho. Findo o usufruto, o beneficiário deverá
devolver o mesmo número de cabeças ao dono, podendo supri-las com as crias.

• USUFRUTO DE FLORESTAS E MINAS

Existem autores, como o ilustre Sílvio Venosa, que acham que essa modalidade
de usufruto não tem correspondente no novel CC. No entanto, o art. 1392, parágrafo
2º, dispõe que: “Se há no prédio em que recai o usufruto florestas e os recursos
minerais...”. Entende-se, portanto, que esse instituto foi disciplinado pelo legislador
de 2002. A lei determina, ainda, que a extensão e a maneira de exploração das
florestas e minas devem ser pré-fixadas pelas partes. É vedado ao beneficiário utilizar
abusivamente a coisa, pois assim estaria destruindo a sua substância, objeto do
usufruto.

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• USUFRUTO DE PESSOA JURÍDICA
Antes de caracterizar essa espécie de usufruto, vale ressaltar que o limite
máximo do usufruto é a vida do usufrutuário. No caso de pessoa jurídica, o prazo é
de trinta anos, a contar da data do início do direito, se outro não for estipulado pelas
partes. Se há quem ache esse prazo muito vasto, imagine o que pensaria a respeito
dos cem anos previstos no código antigo (absurdo!). O beneficiário pode utilizar a
pessoa jurídica como se dono fosse recebendo os proventos e frutos. Apesar de
agir como se fosse o proprietário da coisa, ao usufrutuário é vedado alterar o ramo
ou a destinação da produção da empresa, sem a autorização do dono. O patrimônio
também deve ser mantido na sua integralidade. Se antes do prazo legal
supramencionado a pessoa jurídica for extinta, o mesmo ocorrerá com o direito real.
Se houver cisão entre empresas, cabe a elas decidir quem ficará com o direito de
usufruto.

• USUFRUTO DE PATRIMÔNIO

O Código Civil, em seu art. 1405, determina que: “Se o usufruto recair num
patrimônio, ou parte deste, será o usufrutuário obrigado aos juros da dívida que onerar
o patrimônio ou parte dele”. Este tipo de usufruto pode resultar de negócio jurídico ou
do direito de família, a exemplo das sucessões.

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4. INALIENABILIDADE

Segundo determina o art. 1393 do NCC, o direito do usufrutuário é intransmissível.


Essa regra é confirmada no art. 1410, I, da mesma norma, quando dispõe que o
usufruto se extingue com a morte do usufrutuário. Não obstante, cabe ressaltar que
o exercício do direito de usufruto pode ser concedido a título gratuito ou oneroso;
somente o direito de usar e gozar a coisa podem ser cedidos. O direito de usufruto só
pode ser alienado ao nu-proprietário, havendo com isso a consolidação da
propriedade e a extinção do direito real. É possível haver penhora do exercício do
direito de usufruto, quando não restar outra alternativa ao credor. A jurisprudência
pátria tem entendido, também, que, se o usufrutuário estiver auferindo rendimentos
com o usufruto, o exercício do direito poderá ser penhorado. A penhora só não vai
ocorrer se o usufrutuário estiver no gozo direto da coisa.

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5. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO USUFRUTUÁRIO E DO NU-PROPRIETÁRIO

O estudo dos direitos e obrigações do usufrutuário está compreendido no CC/02,


em seus artigos 1394 a 1409, os quais elencam todos os instrumentos de que esse
dispõe para usar e fruir normalmente da coisa, bem como as limitações que encontra
quando deste exercício.

Em relação ao usufrutuário, estabelece o art. 1394 que compete a esse a posse, o


uso, a administração e a percepção de frutos. A posse pode ser protegida inclusive
pelos interditos e demais ações possessórias, tais com a imissão de posse, bem como
a ação confessória, as quais podem ser utilizadas contra terceiros ou contra o
proprietário.

Também poderá o usufrutuário usar pessoalmente a coisa ou ceder tal uso a


terceiros gratuita ou onerosamente, sem a mudança em sua destinação, consoante
dicção do art. 1399. Ressalte-se que sequer poderá o ato constitutivo do usufruto
proibir a dita cessão, haja vista o princípio da tipicidade vigente para os direitos reais,
diante do que, não havendo norma legal que assim o preveja, resta prejudicada tal
possibilidade.

O outro direito que possuiu o usufrutuário é o de administrar a coisa sem a


interferência do proprietário, o que pode não acontecer caso este não pague a caução
exigida pelo segundo, ou, ainda, nos casos em que, em virtude de sua administração,
vem a coisa a se deteriorar. O usufrutuário, por fim, tem o direito de fruir da coisa, o
que implica na possibilidade de retirar os frutos naturais e civis, desde que não haja
limitação no título constitutivo.

Grande discussão suscitada entre os doutrinadores consiste em saber se a locação


estabelecida com o proprietário se rescinde em virtude da extinção do usucapião. Há
quem diga que o referido contrato gera apenas direitos pessoais entre as partes, não
podendo ser oposto contra o proprietário, que não participou e, muitas vezes, sequer
tomou conhecimento da relação locatícia. Por outro lado, há quem sustente que as
leis do inquilinato possuem uma finalidade de ordem pública, só podendo, assim,
permitir o despejo do inquilino nas hipóteses nelas elencadas. Prevalece na
Jurisprudência brasileira a segunda tese.
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Antes de recebido o usufruto, deve o usufrutuário inventariar os bens recebidos,
descrevendo-os minuciosamente, a fim de se ter como aferir o estado de recebimento
das coisas em comento. Deverá dar a garantia real ou fidejussória, caso esta seja
exigida pelo nu-proprietário, sob pena de perder a administração direta dos bens.
Ressalte-se, por oportuno, que não é o usufrutuário obrigado a ressarcir os prejuízos
oriundos dos desgastes normais, conforme entendimento do art. 1402 do CC. Note-
se, ainda, que não está obrigado ao pagamento de caução o doador que se reservar
o usufruto da coisa doada, nem os pais usufrutuários dos bens dos filhos menores.

Consoante art. 1403 do CC, é dever do usufrutuário o pagamento das despesas


ordinárias com o bem, bem com os impostos reais sobre o uso da terra, municipais ou
estaduais; imposto de renda e demais encargos públicos tidos como ordinários, uma
vez que o que fundamenta a sujeição ao tributo é o domínio e não a posse.

Dentre outros deveres atribuídos ao usufrutuário têm-se os seguintes: dar ciência


ao proprietário de eventuais turbações ou lesão produzida contra a posse da coisa ou
os direitos deste; pagamento das contribuições com o seguro, se a coisa estiver
segurada; indenizar os danos de qualquer extensão e natureza que tiverem ocorrido
por culpa sua e, principalmente, restituir a coisa fruída ao fim do instituto, no estado
em que a recebeu, salvo as deteriorações esperadas, dentre outros.

Já em relação às obrigações do nu-proprietário, cumpre ressaltar que tais deveres,


não obstante não encontrarem respaldo de forma expressa na legislação, podem ser
facilmente inferidas dos citados direitos e deveres atribuídos ao usufrutuário. Em suma
consistem nas seguintes: entregar a coisa ao usufrutuário; direito de exercer seu
domínio limitado, podendo utilizar-se dos remédios jurídicos possessórios para a
proteção do seu direito; exigir caução; tomar medidas acautelatórias para a proteção
do bem; receber os frutos naturais e civis, consoante determinações do CC/02; pagar
as despesas extraordinárias; restabelecer o usufruto caso a indenização do seguro
seja aplicada na reconstrução do bem fruído, dentre outras. Pode, ainda, o
proprietário, alienar e gravar a nua-propriedade, desde que não altere o direito do
usufrutuário.

Aspecto polêmico na jurisprudência brasileira consiste em saber se há o direito do


nu-proprietário em ser notificado pelo Poder Público acerca da desapropriação do
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bem, para fins de reforma agrária, e, portanto, se há o dever deste para com o nu-
proprietário ou se a notificação pode ser feita facultativamente na pessoa do
usufrutuário. No julgamento do Mandado de Segurança nº 23.012-5-Paraná, entendeu
o STF que:

“MANDADO DE SEGURANÇA. Desapropriação para fins de reforma


agrária. Usufrutuários e Nus-proprietários. Notificação feita a um deles.
Insuficiência. Precedente. 1. Os atos desapropriatórios para fins de reforma
agrária devem ser precedidos de notificação prévia válida aos proprietários
do imóvel (Lei nº 8.629/93, § 2º do artigo 2º). 2. Se a área objeto da
desapropriação é integrada por um condomínio, a notificação deve ser feita
a cada um dos condôminos, sejam eles usufrutuários ou nus-proprietários,
de forma direta ou através de seus representantes legalmente constituídos.
Precedente. 3. Nula é a notificação feita apenas a um dos usufrutuários, que
não tem poderes para representar os demais condôminos. O direito de
administrar que o artigo 718 do Código Civil lhe confere não inclui o de
representar os proprietários. 4. Não tendo o ato impugnado obedecido ao
devido processo legal é de anular-se o decreto que declara o imóvel
suscetível de desapropriação. 5. Mandado de segurança deferido.”

Cumpre destacar, inclusive, a assertiva do Ministro Maurício Corrêa, em que


reafirma a necessidade de notificação do proprietário, para fins de reforma agrária,
haja vista a necessidade de que esteja o usufrutuário munido de poderes especiais
para a representação dos proprietários em nome destes, jamais em nome próprio.
Nesse passo, corroborando o referido entendimento, tem-se o voto do Ministro Marco
Aurélio, segundo o qual a desapropriação diz respeito à propriedade e não ao uso
isoladamente desta. Ocorre que, ainda em sede do mesmo acórdão, o Exmo. Ministro
Ilmar Galvão, então relator, fundamentou seu voto acerca da validade da notificação
efetuada na pessoa dos usufrutuários, a fim de acompanhar a vistoria necessária à
comprovação da improdutividade do bem, tendo em vista estarem estes investidos na
posse direta e na administração do imóvel, cabendo-lhes defender o bem de
turbações, esbulhos e reivindicações, o que é suficiente para os feitos da Lei nº
8629/93, art. 2º, §2º. Afirma, também, que a situação do administrador do condomínio
é análoga, pois o art. 12, IX, CPC confere legitimidade, ativa ou passiva, para a
representação em juízo. Para corroborar sua tese, cita o Ilustre Ministro, o art. 738 do
CC/16, segundo o qual no valor recebido como indenização pela reforma agrária, sub-
roga-se o usufrutuário. Proferiu voto no mesmo sentido o Ministro Carlos Velloso,
argumentando que a finalidade da notificação prévia é a análise da produtividade do
bem, de modo que o usufrutuário, que administra a coisa, é o único sujeito capaz de
atestar a respeito.

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6. EXTINÇÃO DO USUFRUTO

As causas de extinção do usufruto estão elencadas no art. 1410 do CC, a exemplo:


da consolidação (o usufrutuário e o nu-proprietário se consolidam na mesma pessoa),
da renúncia ou morte do usufrutuário, do termo de sua duração, da cessação do
motivo originário, dentre outras. Verifica-se, portanto, que algumas dessas hipóteses
dizem respeito à pessoa do usufrutuário; outras, à coisa sobre a qual recai o usufruto;
e, finalmente, certas causas se referem à própria relação jurídica.

Já o dispositivo seguinte da mesma norma reporta-se à extinção parcial do usufruto


pela morte do co-usufrutuário. A regra básica referente ao usufruto de pessoas físicas
estabelece que o direito real se extingue com o falecimento do usufrutuário, não sendo
transferido a seus herdeiros, diferentemente da enfiteuse. O legislador justifica essa
hipótese no sentido de evitar usufrutos sucessivos, que retiram certos bens do
comércio indefinidamente. No entanto, a morte do nu-proprietário não altera a relação
jurídica, uma vez que seus sucessores se tornam proprietários. Se o usufrutuário for
pessoa jurídica, o direito real se extinguirá em trinta anos. Tal artigo diz que, caso o
usufruto seja estabelecido em favor de duas pessoas, se uma delas falecer, o direito
deve se extinguir quanto àquela parte, exceto se houver estipulação expressa dizendo
que o quinhão do morto cabe ao usufrutuário sobrevivente. Tal estipulação, no
entanto, encontra um óbice, em razão do dispositivo que assegura aos herdeiros
necessários o direito à parte legítima da herança do de cujus, já que tal quinhão não
pode vir limitado por nenhuma cláusula. Sendo assim, o direito de acrescer no usufruto
em favor do co-usufrutuário sobrevivente é ineficaz, até quando prejudique a reserva
dos herdeiros necessários. É o que entende o TJ de São Paulo, senão vejamos:

“A cláusula mediante a qual os doadores se reservarem o usufruto pleno


enquanto um deles tiver vida é ofensiva do direito sucessório da apelante e seus
irmãos, porque obsta que, na pessoa destes verificado, como se verificou o
falecimento de um dos doadores, se consolide a propriedade, tornando-se pleno
o seu domínio” (RT, 188/691).

Se o usufruto for estabelecido sob termo resolutivo, o decurso do prazo extingue-o.


Se houver uma condição fixada, o seu implemento faz cessar o direito real do
usufrutuário. Caso haja confusão entre as partes da relação jurídica, em razão do
direito sucessório ou se o usufruto for consolidado plenamente nas mãos de um só
dos sujeitos, o instituto também será extinto. O perecimento ou a destruição da coisa
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também faz com que o usufruto seja extinto, ressalvadas as hipóteses de existência
de seguro (art. 1407), reconstrução do imóvel (art. 1408) e indenização ou reparação
paga por terceiros (ex: desapropriação – art. 1409), pois nessas pode ocorrer sub-
rogação do usufruto sobre o preço. Se a destruição/perecimento for apenas parcial, o
direito real subsiste sobre o remanescente. Caso o usufrutuário tenha concorrido com
culpa, deverá indenizar o nu-proprietário. Cumpre ressaltar, que se a coisa for fungível
e consumível, logo passará a ser do domínio do usufrutuário, não havendo que se
falar, portanto, em perecimento. Caso o usufruto seja extinto, o usufrutuário deverá
devolver uma coisa proporcional àquela que foi consumida, seja em relação ao
gênero, à qualidade ou à quantidade ou deverá pagar um valor equivalente.

O usufruto, como direito real em si, não prescreve. No entanto, caso o usufrutuário
deixe de usar (não-fruição ou não-uso) o bem imóvel por dez anos (art. 205 do CC), o
usufruto irá se extinguir. Alguns doutrinadores entendem que o prazo sustentável para
essas hipóteses é o da usucapião extraordinária e que a aquisição da propriedade se
constitui com o decurso do tempo, sendo que a sentença é meramente declaratória
(art. 1238). No caso de bens móveis, o usufruto se extingue se o usufrutuário deixar
de usar ou fruir do bem por três anos. Para ocorrer a perda do usufruto por prescrição,
o usufrutuário não deverá ter praticado nenhum ato de gozo voluntariamente. A culpa
do usufrutuário (quando ele deixa de tomar cuidados mínimos de manutenção e
preservação da coisa ou quando vende o bem dolosamente, apesar de não ser
proprietário) também pode dar margem à extinção do usufruto, através de ação
judicial, exceto se ele apresentar caução que garanta a devolução. Essa hipótese de
extinção não atinge bens fungíveis e consumíveis e deve ser declarada com base na
razoabilidade do Juiz, uma vez que o magistrado pode evitar a extinção exigindo
caução ou colocando o bem sobre a administração do nu-proprietário ou de terceiros.

O usufruto também faz cessar os seus efeitos quando não houver mais causa que
conceda o direito real, a exemplo do usufruto do pai em relação aos bens do filho
menor, se, no caso, o filho atinge a maioridade ou se o pai decai do poder familiar.
Nessas hipóteses, o usufruto termina e a propriedade se consolida. Ademais, há de
se lembrar das causas ordinárias de extinção de direitos, tais como: o abandono, a
resolução da propriedade (desde que a causa determinante remonte à época anterior
à instituição do usufruto), a desistência e a renúncia (observar que a renúncia não

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gera o pagamento do imposto de transmissão inter vivos, uma vez que o nu-
proprietário adquire a propriedade plena da coisa, sem que haja transferência), sendo
que as duas últimas precisam ser expressas e, se o bem for imóvel, há a necessidade
de escritura pública.

O procedimento de extinção do usufruto está disposto nos art. 1103 e 1112, VI, do
CPC, já que é um procedimento de jurisdição voluntária. Quando decorre de morte do
usufrutuário, prescinde-se de decisão judicial, bem como quando resulta de acordo
consensual dos interessados, consolidação, renúncia, entre outros (art. 250, II e III,
da Lei de Registros Públicos), quando deve haver o requerimento de averbação junto
ao registro imobiliário, como já assentado pelo STF. Se o usufruto for legal, a sua
extinção, geralmente, não exige qualquer conduta ou procedimento especial, uma vez
que o instituto é típico de jurisdição voluntária e a sua consolidação prescindiu de
qualquer espécie de registro. É o que se percebe do acórdão abaixo transcrito:

“Usufruto – Extinção – Morte do usufrutuário – Cancelamento junto ao registro


imobiliário – Dispensabilidade. Nos termos do artigo 715 do código civil, somente
a constituição do usufruto sobre bens imóveis há que ser transcrita no respectivo
registro, porquanto uma restrição do direito de propriedade, de molde a dar
ciência a terceiros, não a sua extinção em razão da morte do usufrutuário, posto
condição resolutiva, nos termos do artigo 739, inciso I, do código civil, de efeito
automático, tornando-se o proprietário parte legitima para ajuizar a ação de
despejo.” (2º TACSP – Ap. s/Tev. 615.854-00/0, 26-6-2001, 7ª Câmara – Rel.
Paulo Ayrosa).

Se a extinção se der causa mortis ou por doação (art. 155, I, “a”, CF), o Juiz
ordenará a ouvida do MP e da Fazenda Estadual, para efeitos de se manifestar
quanto aos impostos; ou da Fazenda municipal, quando a transmissão for inter
vivos por ato oneroso (art.156, II, CF), embora seja indevido o tributo na extinção.
Em se tratando de apólices da dívida pública, o cancelamento será averbado na
repartição fiscal competente e se a ação for nominativa, o cancelamento será
assinado no livro de registro. Nas situações de cessação da causa originadora,
destruição da coisa, prescrição ou culpa do usufrutuário, a outra parte deverá optar
pelo procedimento ordinário.

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7. AÇÕES DECORRENTES DO USUFRUTO, USO E HABITAÇÃO

Os meios processuais que resguardam tais direitos reais são semelhantes, uma
vez que podem os titulares valer-se da ação reivindicatória no exercício do direito
de sequela contra o proprietário ou terceiro, que esteja obstando o seu direito.

Quando houver dúvida sobre a existência desses direitos, deve o titular se


utilizar de uma ação declaratória, afinal quem alega o usufruto, o uso ou a habitação
deve prová-los.

Já o proprietário da coisa pode mover uma ação contra o usufrutuário, usuário


ou habitador, nos casos de prejuízos ocasionados por dolo ou culpa. Pode, ainda,
exigir caução e requerer medidas cautelares para impedir a deterioração,
perecimento ou perda da coisa.

Os usufrutuários, usuários e habitadores podem, também, ingressar com uma


ação cominatória para obrigar a entrega da coisa, sob pena de pagamento de multa
diária. Se tal ação for movida contra o proprietário, terá cunho reivindicatório e
petitório. Só poderão utilizar as medidas possessórias se já obtiveram a posse.

Já a ação confessória serve para provar a existência do direito e possui efeito


mandamental, pois sua finalidade é a entrega da coisa ao autor ou seus acréscimos
e frutos. É cabível quando o proprietário nega o direito real ao interessado.

Por outro lado, a ação negatória é conferida ao titular do direito real limitado
contra aquele que o ofendeu/turbou, aduzindo que também possui direito sobre a
coisa. Tal ação pode, inclusive, se voltar contra o possuidor indireto (ex: locador de
um imóvel), caso seja este quem esteja obstando o direito real do usufrutuário,
usuário ou habitador.

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8. CONCLUSÃO

Desse modo, percebe-se que, apesar do usufruto ser um instituto ultrapassado


e pouco utilizado atualmente, ainda gera grandes controvérsias e debates
fervorosos acerca da sua natureza jurídica, da sua forma de consolidação, extinção,
necessidade de registro etc., pelo que se torna imprescindível o seu estudo, seja
de acordo com as previsões de direito material do Código Civil de 1916 e de 2002,
seja relacionado aos pressupostos processuais estabelecidos no Código de
Processo Civil.

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9. JURISPRUDÊNCIA
Acórdão: 0021549-03.2014.5.04.0402 (AP)
Redator: CLEUSA REGINA HALFEN
Órgão julgador: Seção Especializada em Execução
Data: 20/10/2020
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
Identificação
PROCESSO nº 0021549-03.2014.5.04.0402 (AP)
AGRAVANTE: HILDA BARRIQUEL
AGRAVADO: NERIS COSTAMILAN BERGAMO - SUCESSÃO DE
RELATOR: CLEUSA REGINA HALFEN

EMENTA
PENHORA DE IMÓVEL OBJETO DE USUFRUTO. MORTE DO USUFRUTUÁRIO.
EXTINÇÃO DO USUFRUTO. O usufrutuário detém apenas a posse, o uso, a
administração e a percepção dos frutos do bem, nos termos do art. 1.394 do CC.
Outrossim, de acordo com a norma do art. 1.410 do CC, a morte do usufrutuário
extingue o usufruto, com a consolidação da propriedade na pessoa do nu proprietário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da Seção Especializada em Execução do


Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região: por unanimidade, NEGAR
PROVIMENTO AO AGRAVO DE PETIÇÃO DA EXEQUENTE.
Intime-se.
Porto Alegre, 09 de outubro de 2020 (sexta-feira).
Cabeçalho do acórdão
Acórdão
RELATÓRIO
Inconformada com a decisão da lavra do Juiz do Trabalho Gustavo Friedrich
Trierweiler, que invoca a coisa julgada para não apreciar o pedido de penhora (Id
fedd092), recorre a exequente (Id f75cb4f). Com contraminuta da sucessão executada

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(Id 49471ed), vêm conclusos os autos. Processo não submetido a parecer do
Ministério Público do Trabalho.
É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
AGRAVO DE PETIÇÃO DA EXEQUENTE
I - PRELIMINARMENTE
1. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL
O agravo de petição é tempestivo (notificação no Id 1007f76 e agravo no Id f75cb4f)
e a representação, regular (procuração no Id dfe473f). É delimitada a matéria e não
são noticiados fatos impeditivos ao direito de agravar. Portanto, estão preenchidos os
pressupostos de admissibilidade do apelo. A contraminuta da parte executada (Id
49471ed) também é tempestiva (notificação no Id f4916cc) e conta com regular
representação nos autos (procuração no Id 06192d9).
II - MÉRITO
1. PENHORA DO IMÓVEL DOADO PELA EXECUTADA NERIS COSTAMILAN
BERGAMO COM RESERVA DE USUFRUTO. MORTE DA DEVEDORA NO CURSO
DA EXECUÇÃO
A exequente pede que seja penhorado o imóvel da matrícula nº 107.827 do Registro
de Imóveis de Caxias do Sul, doado pela executada Neris Costamilan Bergamo às
suas filhas, quando ainda estava viva. Salienta que o imóvel foi doado pela então
executada como adiantamento de legítima, invocando as normas legais que regem a
sucessão no âmbito do Direito Civil, tendo em vista o falecimento da executada no
decorrer da presente execução trabalhista. Analisa-se.
A decisão recorrida está fundamentada nos termos abaixo reproduzidos, verbis (Id
fedd092):
[...]
Incabível a reabertura da discussão da matéria aventada na petição do id 97056d5,
ante a preclusão operada pela coisa julgada, certificado no id 0423e26.
Intime-se o exequente.
Decorrido o prazo legal, não havendo indicação de meios inéditos e aptos à satisfação
do débito pelo exequente, arquivar.
Decorrido o prazo legal, não havendo indicação de meios inéditos e aptos à satisfação
do débito pelo exequente, arquive-se com dívida.
Registra-se que o título executivo está consolidado contra Neris Costamilan Bergamo
(Id d761b3f), restando infrutíferas as diligências empreendidas com a finalidade de
quitar a dívida. Sobrevém aos autos cópia da matrícula de nº 107.827 do Registro de
Imóveis de Caxias do Sul (Id 8053ad9), em que consta a averbação da doação do
imóvel em questão, de propriedade da executada, a favor das suas filhas, datada de
2006. A exequente postula, em diversas oportunidades, a penhora do referido bem, o
que é negado pelo Juiz da causa, em razão da cláusula averbada na matrícula, que
reserva à executada tão somente o usufruto vitalício do bem. No Id c2ff99b, a
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pretensão é indeferida novamente, contra o que a exequente interpõe agravo de
petição (Id 2b03333), que não é recebido, sendo interposto agravo de instrumento (Id
f2e46b2). Na contraminuta (Id 68557d4), é informado o falecimento da executada,
seguindo-se a decisão monocrática, da lavra da Desembargadora Rejane Souza
Pedra, cujo excerto se reproduz abaixo (Id d5a1355):
[...] A exequente, com o presente agravo de instrumento, busca o destrancamento do
agravo de petição interposto, cujo objeto é a penhora sobre direitos à posse, uso,
administração e percepção dos frutos do imóvel de matrícula 107.827 do RI de Caxias
do Sul com reserva de usufruto em favor da executada Neris Costamilan Bergano (fls.
254-5). Juntamente com a contraminuta foi juntada certidão de óbito, atestando o
falecimento da ré em 31-07-2017 (fl. 302).
Considerando a perda de objeto do recurso principal (agravo de petição das fls. 276-
286) em razão da morte da usufrutuária/executada, considero prejudicado o agravo
de instrumento, razão pela qual dele não conheço (art. 932, III, do CPC).
Na origem deve ser regularizada a representação processual da executada.
Ciência às partes. (Grifa-se.)
No Id 97056d5, a exequente pleiteia novamente a penhora do referido imóvel, com
base na legislação que rege a sucessão civil, diante do falecimento da executada (fato
novo), o que é indeferido pelo Magistrado da origem, ao fundamento de que o pedido
encontra óbice na coisa julgada certificada no Id 0423e26., o que dá causa à
interposição do presente agravo de petição. A decisão recorrida deve ser mantida,
mas, por outro fundamento. É incontroverso nos autos que a executada Neris
Costamilan Bergamo, em 2006 (8 anos antes do ajuizamento da presente ação), doou
o imóvel em questão às suas filhas, mantendo para si apenas o usufruto vitalício do
bem, ou seja, passou a deter apenas a posse, o uso, à administração e à percepção
dos frutos do referido imóvel (jus utendi e jus fruendi) (CC, art. 1.394), em razão da
transferência do domínio (jus disponiendi) operada pela dita doação. Contudo, essa
circunstância se altera com o falecimento da executada usufrutuária, pois, nos termos
do inc. I do
inc. I do art. 1.410 do CC, o usufruto se extingue pela morte do usufrutuário, verbis:

Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no Cartório de Registro


de Imóveis:
I - pela renúncia ou morte do usufrutuário;
Sendo assim, diante da morte da executada usufrutuária, consolidam-se em nome das
suas filhas todos os elementos constitutivos da propriedade (tanto o domínio como a
posse do imóvel e seus consectários), as quais não são devedoras na presente
execução, motivo pelo qual o imóvel não pode ser penhorado.
Pelo exposto, nega-se provimento ao agravo de petição da exequente.
III - PREQUESTIONAMENTO
Consideram-se prequestionados todos os dispositivos legais e entendimentos
jurisprudenciais invocados pelas partes, para todos os efeitos legais, conforme o

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disposto na Súmula nº 297, I, do TST (Diz-se prequestionada a matéria ou questão
quando na decisão impugnada haja sido adotada, explicitamente, tese a respeito) e
na OJ nº 118, da SDI-I, também do TST (Havendo tese explícita sobre a matéria, na
decisão recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa do dispositivo
legal para ter-se como prequestionado este).
CLEUSA REGINA HALFEN
Relator
VOTOS
DEMAIS MAGISTRADOS:
Acompanham o voto do (a) Relator (a).
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:
DESEMBARGADORA CLEUSA REGINA HALFEN (RELATORA)
DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA DE MATOS DANDA (REVISOR)
DESEMBARGADOR JOÃO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA (NÃO
VOTA)
DESEMBARGADORA MARIA DA GRAÇA RIBEIRO CENTENO
DESEMBARGADOR MARCELO GONÇALVES DE OLIVEIRA
DESEMBARGADOR JANNEY CAMARGO BINA

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2004, 4ª edição;
2. GOMES, Orlando, Direitos Reais, Rio de Janeiro, Forense, 2004, 19ª edição;
3. RODRIGUES, Sílvio, Direito Civil, Direito das coisas, Vol. 5, São Paulo,
Saraiva, 2003, 28ª edição;
4. PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de Direito Civil, Direitos Reais,
vol. IV, Rio de Janeiro, Forense, 2004, 18ª edição;
5. RIZZARDO, Arnaldo, Direito das Coisas, Rio de Janeiro, Forense, 2004;
6. DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, Direito das Coisas,
4º V., São Paulo, Saraiva, 2001, 16ª edição;
7. MONTEIRO, Washington de Barros, Curso de Direito Civil, Direito das
Coisas, São Paulo, Saraiva, 2003, 37ª edição;
8. GIUSTI, Miriam Petri L. de Jesus e CELLINO, Rogério Ribeiro, Sumário de
Direito Civil, São Paulo, Rideel, 2004, 2ª edição;
9. ZAVASCKI, Teori Albino, Processo de Execução, Parte geral, São Paulo,
RT, 2004, 3ª edição;
10. VADEMECUM ACADÊMICO DE DIREITO, São Paulo, Saraiva, 2021, 31ª
edição.
11. Jurisprudência; <https://trt-
4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1107688380/agravo-de-peticao-ap-
215490320145040402/inteiro-teor-1107688409>, visitado em 14/05/2022.

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