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Turma: B1 e C1
Sala: B.2.3
Lição nº
Tema: os direitos reais de gozo
Sumário: A posse
posse para descrever a situação de alguém que tem o poder de facto sobre uma coisa, o
senhorio sobre ela, a sua dominação, num sentido físico ou material, independentemente
coisa, e mesmo que essa situação de facto haja sido criada ilicitamente, por exemplo,
através do furto.
Etimologia
sedes (assento), vincando a ideia de domínio sobre a coisa, outros autores fazem derivar a
pessoa sobre a coisa, correspondente a locuções das fontes como tenere (ter), possidere
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Noção legal de posse
A posse cumpre duas funções: (i) protege o possuidor enquanto não houver certeza sobre o
necessária tutela; (ii) constitui um caminho de acesso a esse direito real. Por isso,
Pode-se com isto dizer, a luz destas funções, que a posse assegura a paz jurídica quando
Elementos da posse
integrada por dois elementos: o Corpus, elemento material, que consiste no domínio de
facto sobre a coisa, ou seja, no exercício efectivo de poderes materiais sobre ela ou na
O corpus e o animus, não se podem entender como coisas separadas. Funcionam numa
espécie de interferência, de tal maneia que se pode falar numa relação semelhante àquela
Para a doutrina objectivista, defendida por Ihering, atende não à intenção com que se
exerce a posse, mas ao próprio poder que se exerce. Apesar deste argumento, Ihering,
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reconhece que sem vontade não há posse. Simplesmente considera que este elemento está
implicitamente contido no poder de facto que se exerce sobre a coisa possuída. Isto quer
dizer, para o autor, que corpus e animus são entre si, como a palavra e o pensamento. Na
Objecto da posse
de outros direitos reais que incidam sobre coisas corpóreas. Sobre o conjunto de coisas não
pode haver uma posse. Esta apenas pode recair relativamente a cada uma das coisas que
compõem o conjunto.
Já a propriedade intelectual, porque incide sobre coisas não corpóreas, pode ser
exercida por um número ilimitado de pessoas, por exemplo, sobre a mesma obra
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Em relação aos direitos reais de garantia, o problema é discutível. Porém, há quem admita
que o Código Civil não lhes quis dar abrigo no instituto da posse. Refere-se, por um lado,
Por isso, afirma-se que o legislador individualizou, para efeitos de usucapião, os direitos
reais de gozo, artigo 1287.º do CC, deixando de fora os direitos reais de garantia, “pois
estes, implicam o controlo material da coisa sobre que incidem e dão, seguramente, lugar
a posse”, Menezes Cordeiro.
Também nos direitos reais de aquisição se considera que a posse está igualmente excluída,
por se tratar de direitos que se extinguem com o seu exercício e, portanto, não podem
que constituem o campo de eleição da posse, embora nem todos e nem com a mesma
amplitude. No primeiro caso, estão as servidões não aparentes que apenas são susceptíveis
lho transmitiu, artigo 1280.º do CC. Justifica-se que assim seja, porque tais servidões
No segundo, encontramos os direitos reais de gozo, cujo âmbito fica aquém do direito de
propriedade. Há, no entanto, direitos em que a posse é relevante para efeitos de tutela
possessória, mas não para usucapião. É o caso, do direito de uso e habitação, artigo 1485.º
do CC.
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Composse
Há Composse quando a posse de uma coisa tem vários titulares (são compossuidores os
herdeiros do possuidor; duas ou mais pessoas que compram um prédio a non domino e
entram na respectiva posse). Pode existir em relação a qualquer direito real susceptível de
Em relação ao seu exercício, deve obedecer aos princípios que disciplinam a comunhão do
direito a que a posse corresponde, artigo 1286.º, n.º 3 do CC. E quanto à sua defesa, cada
um dos compossuidores pode recorrer, contra terceiro, aos meios que protegem a posse,
artigo 1286.º, n.º 1 do CC. Nas relações entre compossuidores não é permitido o exercício
da acção de manutenção, artigo 1286.º, n.º 2 do CC, porque cada possuidor tem a posse e,
Natureza jurídica
direito romano existem fontes que permitem suportar qualquer das posições.
Para algumas doutrinas, a posse é um facto, sustentando que a própria natureza da posse
é contrária à ideia do direito, porque não há direito que não seja moral, que não seja justo e
garantia jurídica.
Olhando para todas as doutrinas, importa referir que, a posse é um poder que se exerce
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jurídicos, satisfazendo o interesse do possuidor, e é tutelada pelo ordenamento jurídico,
Por isso, e sem afastar a verdade que existe em qualquer das teorias, é mais acertada a
Espécies de posse
negócio jurídico, artigo 1259.º, n.º 1 do CC. Tem a sua causa num negócio abstractamente
idóneo para transferir a propriedade ou outro direito real de fruição (o contrato de compra
Dispensa-se o direito do transmitente (aquisição a non domino) e não é afastada por vício
de fundo que não exclua o animus de a adquirir (o dolo, erro obstáculo, coacção moral,
etc.). Assim, tratando-se de coacção física ou absoluta, o coagido está na condição de puro
autómato, sem liberdade de acção. Vide artigo 246.º do CC. Portanto, a coacção absoluta
Estão afastados os vícios formais, por isso, se o negócio for nulo por vício de forma, artigo
875.º e 220.º, por exemplo, a posse que daí deriva não se considera titulada. Quanto a
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Quanto à simulação relativa, porque destruído o acto simulado, fica a descoberto o acto
dissimulado, se este for nulo por vício de forma, existe posse não titulada. Porém, também
há quem, embora reconheça que está é uma situação geral, não afaste a possibilidade de o
Outrossim, o título tem efeito imediato. Faz presumir a boa-fé, artigo 1260.º, n.º 2 do CC.
Trata-se de uma presunção relativa. Quanto a sua existência, o título não se presume. Por
isso, deve ser provado por quem o invoca, artigo 1259.º, n.º 2 do CC. Foi afastada a teoria
Posse não titulada ou mera posse. É aquela que não se funda em qualquer modo legítimo
A posse de boa-fé é aquela cujo possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito de
outrem, artigo 1260.º, n.º 1 do CC. O Código Civil considera de boa-fé a posse titulada e de
má-fé a posse não titulada, sendo neste caso uma presunção relativa, artigo 1260.º, n.º 2 do
CC, e considera sempre de má-fé a posse adquirida por violência, mesmo quando seja
titulada, sendo neste caso, uma presunção absoluta, artigo 1260.º, n.º 3 do CC.
A posse de má-fé é aquela cujo possuidor conhece, quando a adquire, que adquire, que
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O desconhecimento de que se lesa o direito de outrem resulta da convicção de que se está
herdeiros fizerem a partilha dos bens da herança sem a forma legal e entrarem na posse
dos bens que lhes couberem; se se vender um prédio e a escritura for adiada para
momento posterior.
pessoa deste, salvo se, na constituição da posse, tiver sido decisiva a vontade do
representado ou este tiver de má-fé, artigo 259.º do CC. Se a representação for legal, só
posse, artigo 1260.º, n.º 1 do CC. No entanto, a posse de boa-fé passa a má-fé a partir do
momento em que o possuidor tome consciência de que a sua posse lesa outrem, artigo
O possuidor só faz seus os frutos até ao dia em que souber que está a lesar, com a
sua posse, ou seja, até cessar a boa-fé, o direito de outrem, 1270.º, n.º 1 do CC;
além disso, pelo valor dos frutos que um proprietário diligente poderia ter obtido,
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O possuidor de boa-fé pode levantar as benfeitorias voluptuárias se o levantamento
A posse pacífica é a que foi adquirida sem violência, artigo 1261.º, n.º 1 do CC. Violenta, a
posse quando, para obtê-la, o possuidor usou da coacção física, ou da coacção moral nos
termos do artigo 255.º e 1261.º, n.º 2 do CC. Estão afastadas a ameaça lícita (exercício
A distinção entre posse pacífica e violenta é muito importante, esta não pode ser registada,
1295.º, n.º 2 do CC, e não conduz à usucapião, artigo 1297.º e 1300.º, n.º 1 do CC.
A posse pública é a posse que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos
interessados, artigo 1262.º do CC. Considera-se oculta a posse que estes não podem
conhecer. É pública a posse de cujo exercício se teria apercebido uma pessoa de diligência
normal, colocada na situação do titular do direito. Por isso, não basta, para que a posse
interessados. Importa referir que na voz de Orlando Carvalho, “a posse é pública não
indirecto, trata-se de uma relação mais com o próprio interessado do que com o público
em geral”.
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A posse oculta, que é frequente nos móveis e rara nos imóveis (ocorre na construção de
consequências:
O registo da posse só pode ser feito fazendo-se a prova da sua publicidade, artigo
embora o corpus da posse, não exerce o poder de facto com o animus de exercer o direito
Olhando para o artigo em questão, na alínea a) cabem os casos de posse em nome alheio,
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difícil de provar, frequentemente o proprietário-possuidor invoca a posse e não o
não tem, ou não invoca, a qualidade de titular de um direito real a que corresponde.
Por isso, é protegida pelo direito como um bem no presente e um bem para o
futuro.
Posse efectiva: é a posse que implica um controlo material sobre a coisa. A lei
refere-a, por vezes, falando de posse actual, artigo 1278.º, n.º 3 do CC;
Posse não efectiva (também denominada de posse ficta): é a posse que se conserva
por via puramente jurídica, sem controlo corpóreo. Constitui exemplo a posse do
transmite ao herdeiro e se mantém enquanto a herança não for aceita, artigo 1255.º e
2050.º do CC;
Posse mediata: é a posse que se exerce através de outrem. Sucede, com a posse que
Efeitos
1268.º, n.º 1 do CC. Tem a sua importância porque o titular de um direito real nem sempre
dispõe de elementos que lhe possibilitem a prova desse direito. Assim, esta presunção
permite-lhe que, fazendo apenas a prova de que possui, obtenha a tutela possessória,
cabendo-lhe ao terceiro o ónus de impugnação, aquela presunção, artigo 350.º, n.º 1 do CC.
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Vide também o artigo 1268.º, n.º 1 do CC. A situação de possuidor é, para certos efeitos,
mais vantajosa que a de titular do direito. Vide ainda o artigo 1301.º do CC. É o contrário
Frutos
dia em que a boa-fé cessar, ou seja, em que souber que está a lesar, com a sua posse,
possuidor das despesas de cultura não superiores ao valor dos frutos que vierem a
boa-fé deve restituí-los, se ainda os não consumiu, mas tem direito a ser
indemnizado das despesas de cultura, desde que não sejam superiores ao valor dos
Se estiver de má-fé, artigo 1271.º do CC. Importa, colocar esse proprietário diligente
nas circunstâncias em que o possuidor de má-fé actuou, ou seja, este não responde
por frutos não produzidos se provar que não poderiam ser no caso concreto, isto
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Perda ou deterioração da coisa
Artigo 1269.º, 807.º, n.º 2 e 805.º, n.º 2, al. b) do CC. Ao possuidor cabe, no entanto, o ónus
Encargos
1272.º do CC. Trata-se de despesas feitas não para evitar a perda, destruição ou
Benfeitorias
Porque as benfeitorias podem ser diferentes, importa distinguir as que são necessárias,
úteis e voluptuárias:
coisa possuída. Por isso, não se podem retirar sob pena de destruição. Se se
acessórias.
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Usucapião
Para usucapião deve existir dois elementos: a posse e o tempo. A posse deve ser pública e
pacífica, artigo 1293.º, al. a), 1297.º e 1300.º, n.º 1 do CC. o tempo, além de depender do
posse: ser de boa ou má-fé, titulada ou não titulada e estar ou não registada. Por outro
lado, podem ser adquiridos por usucapião os direitos reais de gozo, exceptuando as
servidões prediais não aparentes e o direito de uso e habitação, artigo 1293.º do CC.
Quanto a capacidade, artigo 1289.º, n.º 1, 1266.º, 1290.º, 1252.º, n.º 1 do CC.
Sem título de aquisição, mas registo da mera posse, artigo 1295.º do CC;
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Móveis registáveis:
Aquisição
A aquisição pode ser originária ou derivada. A aquisição originária decorre duma relação
isso, a posse do adquirente não está dependente nem quanto à existência nem quanto à
possuidor. Por isso, além do negócio jurídico, é também necessária a existência dos
Aquisição originária
Prática reiterada: não basta a prática de um único acto, como, a passagem eventual
pelo terreno vizinho, a colheita de alguns frutos, uma sementeira que se fez e
abandonou, etc., embora os actos possam ser diferentes, ou seja, quem faz uma
sementeira em terreno alheio vai praticando actos sempre diferentes até a colheita.
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No entanto, é possível que um só acto baste para evidenciar a posse, como, lavrar
sobre a coisa, ou seja, actos que traduzam o corpus, como, actos de uso, de fruição
ser materiais, mas devem revelar um poder empírico e não o mero poder jurídico;
Inversão do título
Artigo 1265.º do CC. Trata-se, portanto, de conversão duma situação de posse precária
numa verdadeira posse, de forma que aquilo que se detinha a título de animus detinendi
passa a deter-se a título de animus possidenti. A inversão do título pode ocorrer por dois
meios:
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Aquisição derivada
Tradição material: há uma actividade exterior que se traduz nos actos de entregar e
receber;
de longe;
Traditio breve manu: realiza a conversão da detenção em posse por acordo entre o
pertence a outrem, não ser necessário que volte às mãos deste para depois a
entregar àquele;
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Constituto possessório
É uma forma de aquisição da posse solo consensu, ou seja, sem necessidade de acto,
O titular do direito real e possuidor transmite o seu direito a outrem e reserva, para
Acessão
Conservação
Artigo 1257.º, n.º 1 do CC. Para a conservação da posse não é necessária a mesma energia
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Acções possessórias
Acção de prevenção: artigo 1276.º do CC. O receio de turbação ou esbulho deve ser
sério, não basta uma simples apreensão ou receio mais ou menos vago, e deve
apoiar-se em razões objectivas. Tais actos devem ser materiais. Tratando-se de actos
judiciais, a reacção opera através dos embargos de terceiro com função preventiva.
Acção de manutenção: artigo 1278.º, 1281.º, n.º 1, 1282.º, 1037.º, n.º 2, 1125.º, n.º 2,
esbulho que supõe a privação, total ou parcelar, da posse, embora não seja essencial
pelo esbulho ou seus herdeiros não só contra o esbulhador ou seus herdeiros, mas
ainda contra quem esteja na posse da coisa e tenha conhecimento do esbulho, artigo
casos, reaver a coisa das mãos do esbulhador. A acção de restituição não pode ser
intentada contra o mero detentor que possua em nome do esbulhador, mas sim,
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prazo deve contar-se a partir do último, ou seja, há um novo facto, com o seu prazo
próprio.
Artigo 1279.º do CC
Embargos de terceiros
Artigo 1285.º do CC
Defesa da Composse
Efeitos
o artigo 1284.º do CC, ou seja, é havido como nunca perturbado ou esbulhado o que foi
mantido na sua posse ou a ela foi restituído judicialmente. A restituição da posse é feita à
Esta disposição tem a sua importância sobretudo para efeitos de usucapião, artigos 1294.º
a 1296.º, 1298.º e 1299.º do CC, pelo facto de se contar o tempo decorrido entre a turbação
ou esbulho e a sentença que manteve a posse ou restituiu. Por outro lado, o possuidor
mantido ou restituído, tem direito a ser indemnizado do prejuízo que tenha sofrido, artigo
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1284.º, n.º 1 do CC, aplicando-se neste caso o regime geral das obrigações de
obedecerá às normas dos artigos 563.º e 564.º só terá lugar nos termos do artigo 566.º do
CC.
Perda
São várias as formas de extinção da posse, artigo 1267.º, 1308.º (seria totalmente estranho
que, desaparecendo estes, continuasse a posse), 1281.º, n.º 2 (pois a posse é sensível ao não
uso nos precisos termos em que o sejam os correspondentes direitos reais). Vide artigo
Assim:
Abandono: artigo 1267.º, n.º 1, al. a), é definido como a cessação voluntária do
Perda ou destruição da coisa: artigo 1267.º, n.º 1, al. b), a perda da coisa é a sua
rejeição que existe no abandono. Mas é importante tomar a seguinte nota: não perde
n.º 1 do CC, o que significa dizer que, se dias depois, for encontrado por terceiro,
entende-se que deve ser total, pois doutro modo, a posse irá continuar sobre o que,
dela, resultar.
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Cedência: artigo 1267.º, n.º 1, al. c), traduz a perda da posse para o cedente, por
Posse de outrem por mais de um ano: artigo 1267.º, n.º 1, al. d) e n.º 2), artigo