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SUMÁRIO
4. "Tem que ser muito forte para assumir o quão frágil somos nós: uma
reflexão sobre a masculinidade e os desafios da nossa organização,
Fabiano Paixão e Venício Montalvão .............................................................. 32
7. "(...) o Partido não pode ser liquidado, pois ele é a vanguarda das
massas e conduz a sua luta", José Beniezio Eduardo Carvalho da Silva/BA,
Fabiano Paixão de Souza/BA, Juan Gonçalves da Silva/BA, Léia Nascimento
da Silva/BA, Magno Luiz da Costa Oliveira/BA e Vinicius Luduvice/TO ......... 81
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Seria muita pretensão de minha parte chegar até vocês por meio de um texto, de um
artigo, por isso, opto por esse formato de carta, embora também considere
pretenciosa. Poderia dizer que esta é, na verdade, uma carta de apresentação. No
entanto, trata-se de uma reapresentação. Apresentação porque ainda não estive em
nenhuma atividade de caráter nacional recente da Consulta Popular e
reapresentação porque entrei para a Consulta Popular em 1998, tive que me afastar
por questões pessoais e retornei em 2014. Hoje, procuro manter uma atividade
militante comprometida e disciplinada, conciliando com a vida de professora em
escolas públicas, sou bióloga de formação, crio sozinha uma filha e moro na periferia
de Guarulhos/SP. A minha intenção aqui é compartilhar com vocês um pouco do
meu olhar com relação a Consulta Popular no decorrer desses anos de modo que
este possa ser mais um elemento com a finalidade de compreender, sob o olhar e a
vivência de uma de suas militantes, qual o papel que a Consulta buscou e busca
preencher em nossa sociedade.
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presenciar. A frase maquiavélica que marcava aquele período era a de que os fins
justificavam os meios.
O que nos animava bastante na Consulta Popular era a relativa autonomia dos
movimentos sociais, a sua independência com relação as políticas eleitorais e a
possibilidade de construir uma frente popular para além das alianças partidárias que
nos permitia dialogar com a sociedade. Em ações diretas com o MST e demais
movimentos sociais construímos a Marcha Nacional pelo Brasil em 1999,
construíamos os canais de apoio e diálogo com a população por onde a marcha ia
passando, lembrado que não havia celular, apenas telefone fixo e computador com
internet era raridade e nós dispúnhamos desse suporte, ligávamos para Paróquias,
sindicatos nas cidades por onde a marcha iria passar para pedir apoio, buscávamos
contribuir para essa rede de apoio, mas construíamos o apoio, principalmente
financeiro, também nos locais onde estávamos inseridos, tínhamos apoio das
entidades universitárias e sindicatos universitários e da cidade de Campinas. Íamos
estabelecendo uma rede de ajuda mútua entre os movimentos e a sociedade civil. O
apoio da UNICAMP se fortaleceu a tal ponto que a Universidade passou a sediar,
por intermédio do DCE, o Encontro Nacional de jovens do MST, o Encontro Nacional
de Cooperativas do MST, as Assembleias da Consulta Popular, o Curso Realidade
Brasileira (CRB) e o primeiro encontro dos amigos do MST na UNICAMP, PUCCamp
daí por outras Universidades afora. Lembro da grande quantidade de exemplares da
coleção Terra, doada a nós por Sebastião Salgado que vendíamos para a
comunidade universitária e de Campinas para arrecadar fundos para as nossas
ações.
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dificuldades financeiras, conseguíamos isso porque nos dedicávamos à formação
política desde a recepção dos calouros, desenvolvemos um movimento de forte
apoio estudantil, íamos para o enfrentamento direto contra a reitoria, fazíamos
ocupações da reitoria, da diretoria acadêmica, do restaurante universitário, da sala
do conselho universitário, nunca fizemos nenhuma ação onde não estivesse com a
gente no mínimo 200 estudantes ou que não pudéssemos levantar um abaixo
assinado em apoio ao DCE com 2.000 nomes em meio dia. Concedemos o título de
Doutor Honores Causa a Dom Paulo Evaristo Arns, denunciamos Badan Palhares.
Quando comecei a ser convidada para encontros internacionais de estudantes e de
juventude, falava pelo DCE, pela Consulta e pelo MST. Em ações importantes como
novas ocupações pelo MST estávamos presentes, como estávamos presente em
Porto Seguro na comemoração de FHC aos 500 anos, nos dividimos, os estudantes
da pós graduação em Coroa Vermelha com os indígenas e nós do DCE com os
estudantes de graduação em Eunápolis com o MST. Nunca nos poupamos as
grandes lutas, tínhamos consciência do nome que carregávamos e dávamos a ele o
seu devido valor. No ano em que me formei, participei de minha última eleição e
entreguei a coordenação geral do DCE nas mãos de uma companheira da Consulta
Popular.
Por uma série de questões pessoais tive que me afastar da Consulta, a gente
sempre acaba achando que já fez a sua parte, que ninguém é insubstituível e que
pessoas mais jovens e com mais disposição podem assumir a tarefa de levar a
diante aquilo que construímos. Estava enganada, na luta, ninguém é substituível,
somos a soma de muitos aprendizados, eu, como descendente de ciganos deveria
saber que a sabedoria é um acúmulo da experiência de vida e a maior de todas as
experiências solidárias é saber compartilhá-las. Logo eu, que tive a honra de
conviver com professores/as que foram perseguidos pelo regime militar e tive a
humildade de saber ouvi-los e tirar desses momentos os melhores aprendizados da
minha vida. A UNICAMP foi construída em plena ditadura militar e tinha sido
planejada para estar entre as principais universidades com viés científico da América
Latina e do mundo, a deportação dos grandes intelectuais e cientistas brasileiros
punham em risco esse objetivo e a estratégia utilizada foi a de transformar a
UNICAMP num local de abrigo seguro para esses intelectuais e cientistas onde a
polícia e o exército eram proibidos de entrar. A construção repetitiva dos blocos e
casas na moradia estudantil foi pensada como uma rota de fuga caso o acordo fosse
quebrado.
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participativa e que sempre visou na formação política popular as bases para a
construção de um projeto popular para o Brasil. Que vem, mesmo com todos os
percalços, se mantendo firme a ideia revolucionária, a ideia do povo no poder. Essa
firmeza ideológica não é pouca coisa em momentos onde a sedução pelo poder é
inquestionável. Mas, somente os lutadores e lutadoras populares, embasados por
um tripé de organização, formação e luta, se mantendo fiéis aos compromissos
levantados pela I Assembleia Nacional dos Lutadores e Lutadoras do Povo ao final
da Marcha Popular pelo Brasil, realizada em outubro de 1999, são capazes de
manter e dar continuidade a esse projeto. Foi isso que eu vi quando voltei.
Neste momento em que escrevo, posso dizer que tenho total consciência do meu
local de fala, sou uma militante de base da Consulta Popular. Estabeleço a ponte
entre as formulações políticas de nossa organização e o trabalho de base nas
comunidades onde estou inserida. Embora busque me dedicar aos estudos no
sentido de progredir enquanto militante, não me vejo preparada para uma discussão
em nível teórico. Sou mais propensa ao empírico e a minha história de vida me
conduz a isso. Portanto, é sim um ato ousado, mas cercado de toda a humildade e
espero que me compreendam. É claro que é um ato de muita coragem, mas aprendi
na vida a nunca me calar. A nossa próxima Assembleia Nacional não será aberta a
toda a militância, esses são os rumores que tenho ouvindo, acho muito ruim essa
posição, esse não é um gasto material e de energia desnecessários, eu,
particularmente, vejo como um indispensável espaço de formação e
amadurecimento político para a nossa militância. Historicamente, nossas
Assembleias sempre tiveram a ampla participação da nossa militância como uma
prioridade e evidentemente, é assim que deve se manter. Tenho dito muito no meu
núcleo que esse é o momento de amadurecermos enquanto militantes e é por
acreditar nisso que hoje dou esse passo e me dirijo a vocês. Se essa é a forma de
participar efetivamente nessa Assembleia, que assim seja. Não acho justo ter me
dedicado em acompanhar e estudar cada um dos cadernos de debates lançados até
agora e ser privada de participar da Assembleia.
Quando leio os textos do Fon e do Gebrim não há como não me emocionar com a
clareza da leitura da realidade que estamos vivendo tanto interna como
externamente à nossa organização e a fidelidade às nossas ideias iniciais e é isso
que me motiva a me dirigir a vocês hoje. Espero também que essa minha iniciativa
sirva como estímulo para que todos aqueles que como eu, esteja sentindo a
necessidade de se colocar, quer seja por escrito, nos seminários ou na assembleia,
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que o façam. Nossa construção é coletiva e a voz de todos deve ser dita e ouvida.
Sem o diálogo franco e aberto nunca teremos solidez em nossas construções.
Sim, também existem críticas, sobretudo àquelas que vêm se acumulando desde a
nossa V Assembleia Nacional “Zilda Xavier”, mas não apontarei falhas organizativas,
erros táticos ou desvios estratégicos por acreditar que estes estão muito bem
representados por Fon e Gebrim nos cadernos do nosso processo congressual.
Tratarei de valores. É certo que a Consulta Popular vive uma crise que ao meu ver
aponta dois caminhos, ou seguiremos por aquele que vem sólida e lentamente
sendo construído ao longo desses mais de 20 anos que aponta para a consolidação
de um instrumento político de caráter estratégico marxista-leninista pertencente ao
campo popular revolucionário ou uma guinada repentina, abrupta, sem uma clara
defesa dos motivos que a sustentam e sem assumir claramente quem são os seus
reais defensores, mas que claramente se alia a uma proposta eleitoreira lulista,
petista, reformista que enxerga um possível caminho de reorganização do campo da
esquerda a partir de um eventual governo liderado por Lula.
Evidentemente que todos somos hoje, capaz de reconhecer que esta é a posição
tomada pelo MST e que acaba arrastando consigo todo o nosso campo popular e,
de maneira drástica, também, a Consulta Popular. Compreendo a necessidade de
urgência e imediatismos nos quais os movimentos populares estão sendo colocados,
são, evidentemente, momentos de bastante tensão que impactam diretamente sobre
os movimentos. No entanto, não devemos perder de vista o que acreditamos. É
quando acreditamos em nossas ideias que nos fortalecemos ideologicamente. Hoje,
percebo que a nossa independência política e ideológica veio se alterando e se
perdendo desde o golpe de 2016, isso marca, claramente, um retrocesso em nossa
organização, como disse no início, a Consulta Popular nasce se posicionando contra
esse reformismo, contra esse rebaixamento político de cunho exclusivamente
eleitoreiro. Nós nascemos para quebrar com essa lógica política eleitoreira, onde os
governantes empossados de uma legitimidade de superioridade passam a definir o
que é melhor para o país. A nossa humildade e grandeza foi sempre marcada pelo
desejo de um dia termos o povo no poder e isso requer formação política e
comprometimento genuíno com um trabalho de base que vise o empoderamento e
formação política popular independente das disputas eleitorais, ou melhor, para além
das disputas eleitorais.
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militância sem vínculos ideológicos com ele, vindo dos mais diversos partidos e
quando assumiam cargos importantes no governo, deixavam a desejar. Uma vez,
chegando ao governo a lógica de permanência se resume a estar sempre focado
nas eleições seguintes, as práticas de cooptações das lideranças de bairros em
troca de cargos foi se tornando evidentes a tal ponto que ao pedirem votos, as
pessoas sempre queriam saber o que ganhariam com isso, a cooptação de
lideranças sindicais também se evidenciou fortemente, as disputas internas para as
candidaturas seguintes chegaram ao ponto de se auto sabotarem ainda em gestão,
com as secretarias puxando os tapetes umas das outras. A militância questionava
essas posturas a todo momento, mas não eram ouvidas e acabavam se afastando.
Essa realidade que descrevo aqui, certamente se repetiu e se repete por muitos
lugares Brasil a fora. É um modus operandi já enraizado e dificilmente será alterado.
Talvez a expressão, os fins justificam os meios, permaneçam em vigor.
Embora pertença ao núcleo sindical na cidade de São Paulo, sou coerente com a
necessidade de inserção no local onde vivemos e trabalhamos, logo minha
prioridade é consolidar um trabalho ao qual venho me dedicando desde 2014 na
cidade de Guarulhos. Estabelecemos a um ano e meio um polo do Curso Realidade
Brasileira, o CRB Guarulhos, onde contamos com uma coordenação local de cerca
de 15 participantes, concluímos uma turma de 60 cursistas no ano passado, somos
reconhecidos pelos setores progressistas da política local, dialogamos com o PT,
com o Psol, com a bancada de vereadores de esquerda, com mandatos estaduais,
diversos sindicatos, com a Frente Povo sem Medo de Guarulhos, com o MTST de
Guarulhos, com os setores progressistas da igreja católica, com a Pastoral da
Juventude, com movimentos socioambientais locais, ou seja estamos inseridos no
cenário político local e temos uma avaliação muito positiva da nossa inserção.
Dialogamos com todos, mas mantemos a nossa independência. Lembro que,
quando fui conversar com uma vereadora do PT sobre o CRB a pergunta que ela me
fez foi fundamental para compreender porque a nossa independência da política
eleitoral é fundamental, ela me disse que vários grupos políticos tentaram iniciar
processos de formações políticas na cidade, mas nunca conseguiam abranger mais
do que a sua própria militância e ela me perguntou, por que vocês acham que com
vocês será diferente? E a minha resposta muito simples foi, porque não somos de
nenhum grupo em específico, porque não nos envolveremos nas disputas eleitorais
locais, nosso compromisso é exclusivamente voltado para atender a uma
necessidade já identificada em garantir um espaço de formação política. E esse tem
sido o nosso grande ganho até aqui.
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Guarulhos, atuei pela Secretaria de Educação com a formação continuada dos
educadores e educadoras da Rede. Tive e tenho a incrível oportunidade de exercer
minha função diretamente com a classe trabalhadora, operária e periférica de
Guarulhos, estou ligada, enquanto cidadã guarulhense a lutas socioambientais no
bairro onde moro, as primeiras iniciativas enquanto CRB-Guarulhos foram
desenvolvidas em escolas da rede para educandos/as e educadores/as da EJA.
Quero dizer com isso que, assim enxergo o papel que deve ser ocupado pela nossa
militancia, que só se dá ativamente a partir do envolvimento com as lutas cotidianas,
conhecedora das condições de vida dos trabalhadores, vinculada com o
reconhecimento e as necessidades das lutas cotidianas nos locais onde estamos
inseridos, onde moramos e trabalhamos, onde se possa construir relações de
confiança, e dessa forma, se vincular e realizar a mediação entre as necessidades e
lutas cotidianas com a luta política.
Quando militava no movimento estudantil e na Consulta Popular uma das coisas que
eu mais prezava era o discernimento entre um movimento social/popular e uma
ferramenta política. Embora eu tenha mencionado a minha inclinação à prática,
tenho claro que essa prática deve ser sustentada por um embasamento teórico
fortemente trabalhado junto a militância e que as formulações práticas devam ser
construídas vivamente pelo todo da militância. Dos últimos dois anos pra cá, não é
isso que vejo ocorrer na Consulta Popular, estamos virando meros executores de
tarefas que chegam prontas até nós, numa postura, evidentemente, verticalizada. Os
espaços de reflexões e construções coletivas tem se esvaziado e os núcleos cada
vez mais burocratizados, logo esses, que deveriam ser os locais mais efervescentes
e orientadores de nossas ações, onde deveriam ser os locais de estudo e suporte
para o reconhecimento, fortalecimento e apoio aos potenciais de nossa militância, os
locais de formulação de nossas ações. A formação política vem sendo negligenciada
e a teoria leninista abandonada. Aqueles quadros altamente qualificados,
disciplinados e dispostos que mencionei acima acabam, pouco a pouco, se
afastando de uma participação mais orgânica porque percebem que não há espaços
para participação nas tomadas de decisão, de definição porque agora tudo vem
pronto e aqueles que descordam dessas decisões são sumariamente afastados,
postos de lado. Nos tornamos uma organização onde não há espaços para
divergências. Sabemos reconhecer isso nos nossos maiores inimigos hoje, mas não
somos capazes de ver que estamos reproduzindo essa prática. Ou pensam como eu
penso ou está fora. É esse o novo que estamos propondo? Ou estamos passando a
reproduzir a velha política de sempre? Usamos o discurso democrático do respeito
ao outro, de respeito a história, do respeito a história de vida e contribuições do
outro, mas será que de fato praticamos esses respeitos?
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uma revolução proletária que vise implementar um projeto popular para o Brasil,
condizentes com a transformação desse país em uma nação soberana e
socialmente justa. Podemos buscar alianças pontuais para esse processo transitório
desde que toda a militância da Consulta Popular e do nosso campo político tenha
total consciência de para onde caminhos. Sem empenhar demasiadamente nossas
forças físicas e intelectuais naquilo que não é, de fato, nosso objetivo maior. Nem a
Consulta e nem os movimentos que compõem o nosso campo político poderá se
abster desse compromisso porque quem o fizer trairá a sua própria história, esse é o
momento de nos mantermos firmes e coerentes.
Enquanto educadora, percebo claramente por que o nome Paulo Freire é tão
aterrorizador para as forças neofascistas no poder, porque é nesses ensinamentos
que reside o poder transformador...
“O homem chega a ser sujeito por uma reflexão sobre sua situação, sobre
seu ambiente concreto. Quanto mais refletir sobre a realidade sobre sua
situação concreta, mais emerge plenamente consciente, comprometido,
pronto para intervir na realidade para mudá-la. A realidade não pode ser
modificada, senão quando o homem descobre que é modificável e que ele
pode fazê-lo.”
(PAULO FREIRE)
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1. Introdução
O presente texto foi elaborado pelo núcleo Zona Oeste da cidade de São Paulo/SP
após um pequeno ciclo de estudos e debates em torno da China e da transição ao
socialismo. O objetivo do presente artigo é contribuir com esta fundamental
discussão em nossa organização, considerando o período preparatório para nossa
próxima Assembleia. Esperamos que funcione como incentivo para que o tema seja
aprofundado pelo conjunto da organização.
1.1 Contextualização
A República Popular da China (RPC) e sua nova democracia social foram criadas
em outubro de 1949, após a longa guerra civil chinesa e a guerra sino-japonesa.
Com a expulsão das forças japonesas e do Kuomintang, a RPC entrou em um
profundo processo de transformações políticas, econômicas e sociais sob a
liderança do Partido Comunista Chinês (PCCh). Já nessa época tem início um
intenso processo de desenvolvimento, que estabeleceria as bases para as grandes
taxas de crescimento que fizeram da China a maior economia do mundo.
13
sendo que o aumento do crédito e dos gastos públicos foram fundamentais como
políticas anticíclicas. Desde então, se estabeleceu o ciclo chamado de “novo
normal”. Neste contexto, a participação da formação bruta de capital fixo (que mede
os gastos com ampliação das capacidades produtivas) no PIB aumentou
significativamente, mantendo-se acima de 40% até 20181.
1
World Bank Open Data (https://data.worldbank.org/indicator/NE.GDI.FTOT.ZS?locations=CN)
2
Graphics: Ending China's poverty by 2020 (disponível em: https://news.cgtn.com/news/2019-10-
17/Graphics-Ending-China-s-poverty-by-2020-KREfWKGkIU/index.html)
3
Fonte: Chu-yuan Cheng - China's Economic Development: Growth And Structural Change
14
15
As contradições deste processo também são evidentes. Em primeiro lugar, nota-se
um grande aumento da desigualdade desde a década de 1980. Após o período
conhecido como “reforma sem perdedores”, o índice de GINI4, menos de 0,30 em
1983, saltou para níveis próximos de 0,50 em meados da década de 2000, com
ligeira diminuição a partir de 2008. Além disso, uma série de autores e organizações
identificam práticas imperialistas nas relações estabelecidas entre a RPC e outras
nações periféricas. Com os sucessivos anos de crescimento do PIB, altas taxas de
investimento e o saldo positivo das exportações, a RPC acumulou uma vasta
quantidade de reservas cambiais (quase 4 trilhões de dólares em 2014 5). Nesse
sentido, alguns autores afirmam que o atual estágio do desenvolvimento chinês seria
marcado por condições e contradições como as que levaram os países centrais a
exportarem capitais; a saber, grandes quantidades de reservas, sistemas financeiro
e bancário desenvolvidos, diminuição da lucratividade e pressão do trabalho no
conflito distributivo. Com isso, entra em questão o debate sobre o “imperialismo
chinês”, especialmente em função da notória expansão dos investimentos chineses
no continente africano.
4
Medida que indica a desigualdade de renda em uma sociedade, sendo 0,0 uma sociedade
completamente igualitária e 1,0 uma sociedade completamente desigual. Assim, quanto mais próximo
de 1,0, mais desigual é a sociedade.
5
World Bank Open Data (https://data.worldbank.org/indicator/FI.RES.TOTL.CD?locations=CN)
16
desempenhará o papel dominante naquela contradição, determinando o caráter do
fenômeno6.
6
Sobre a contradição (disponível em: https://www.marxists.org/portugues/mao/1937/08/contra.htm)
7
Disponível em: https://serviraopovo.wordpress.com/2017/10/06/sobre-o-tratamento-correto-
dascontradicoes-no-seio-do-povo-mao-tsetung-1957/
17
Tal passagem nos permite concluir que a análise concreta da realidade chinesa
levou o PCCh a compreender que a contradição principal na sociedade chinesa
naquele momento era justamente a questão do desenvolvimento. Mais de 30 anos
depois, em 1992, Deng Xiaoping visitaria a costa sudeste da China (onde ficam
Xangai, Shenzhen e Cantão) e afirmaria que “o desenvolvimento é a dura razão
[verdade]”8. Com esta visita, o já aposentado promotor das reformas de 1978
expressava o entendimento mais geral do PCCH de que só o desenvolvimento
poderia salvar a China e sua revolução e de que as reformas de 1978 deveriam ser
aprofundadas e aceleradas. O pensamento de Xi Jinping sobre a Nova Era do
socialismo de características chinesas também mantém esta centralidade no
desenvolvimento. Tal entendimento foi ainda reforçado no último congresso do
PCCh, em 2017, onde se afirmou que “a principal contradição na sociedade chinesa
evoluiu para uma entre desenvolvimento desequilibrado e inadequado e as
crescentes necessidades das pessoas por uma vida melhor” 9. Assim, pode-se dizer
que, para o PCCH, a contradição principal em todo o processo chinês de transição
ao socialismo foi, e continua sendo, a questão do desenvolvimento.
8
Why is Deng Xiaoping’s 1992 Southern Inspection Tour still relevant today? (disponível em:
https://news.cgtn.com/news/3451444e79677a6333566d54/share_p.html)
9
Resolution of the 19th National Congress (disponível em: http://www.xinhuanet.com/english/2017-
10/24/c_136702625.htm)
10
China 2013 (disponível em: https://www.novacultura.info/single-post/2015/08/11/China-2013)
18
mercado mundial e na globalização de forma mais controlada, permitindo à China
preservar grande parte de sua autonomia.
19
Foi graças à aliança do proletariado com o campesinato e a burguesia que foi
possível não apenas derrotar o invasor japonês, como a aliança imperialista e o
Kuomintang. E foi também graças a essa aliança que foi possível abrir o país para
os investimentos estrangeiros, para criar uma economia desenvolvida.
Eis aí o horizonte estratégico de transição socialista. Está claro, mas com certeza,
carregado de disputas internas que expressam as contradições existentes.
Recordemos as inúmeras peculiaridades de muitas experiencias com perspectiva
socialista na África, em países islâmicos etc.
Embora Lenin tenha vivido praticamente apenas 6 anos após o triunfo em 1917, sua
teoria, especialmente a partir da NEP, ao se colocar a questão da transição,
considera questões de tempo, de métodos, de lugar, de dinâmica revolucionária.
20
Além do posicionamento e ordenamento político, ressalta o aspecto econômico,
onde toma forma marcante a reconstrução da economia baseada na indústria
pesada, em mãos do proletariado, bem como a utilização do capitalismo de Estado.
É claro que tal processo traz consigo uma série de contradições e ainda mais
debates em torno de sua justa caracterização. Sem a pretensão de esgotar tais
debates, é preciso avançar no estudo e na elaboração sobre o tema dentro de nossa
organização. A correta análise da experiência chinesa nos trará dois grandes
acúmulos teóricos. Em primeiro lugar, o estudo da história e dos fundamentos
teóricos da experiência chinesa é fundamental para localizar a RPC dentro da
estrutura hierárquica do capitalismo global, permitindo a justa análise de suas
contradições e potencialidades. Além disso, considerando o sucesso da experiência
de desenvolvimento na China, um país dependente como o nosso, o seu estudo
11
New York Times - Kissinger meets Mao for 2 hours [1973] (disponível em:
https://www.nytimes.com/1973/02/18/archives/kissinger-meets-mao-for-2-hours-accord-on-trade-
reported-specific.html)
12
Ho-Fung Hung - America’s head servant? The PRC’s Dilemma in the Global Crisis [2009]
(disponível em: https://newleftreview.org/issues/II60/articles/ho-fung-hung-america-s-head-servant)
13
Isabela Nogueira de Morais - Do legado maoísta à economia política das reformas: As bases do
desenvolvimento recente chinês [Cap. 1] (disponível em:
https://chinaepmufabc.files.wordpress.com/2020/03/isabela_nogueira_de_morais.pdf)
14
Cintra e Silva Filho - O Sistema Financeiro Chinês: a grande muralha [Cap. 9] (disponível em:
https://chinaepmufabc.files.wordpress.com/2020/03/150918_livro_china_em_transformacao.pdf)
21
pode contribuir também com nossa análise da realidade brasileira e com a
elaboração estratégica que segue em curso dentro de nossa organização.
15
Prática de difamação sistemática da China, que combina desinformação com preconceito. Se
manifesta tanto à direita quanto à esquerda, especialmente no Ocidente. Exemplo disso é a noção
estabelecida de que a China fabrica apenas quinquilharias e produtos de baixa qualidade, quando é
também responsável por produzir tecnologia de ponta em setores como eletrônica, maquinaria e
tecnologia da informação e da comunicação. Obs.: sobre a produção chinesa para exportação, cabe
consultar o Atlas da Complexidade Econômica da Universidade de Harvard (disponível em:
https://atlas.cid.harvard.edu/countries/43/export-basket).
22
- Seria o capitalismo de Estado uma possível etapa preliminar para a transição
socialista? Podemos identificar outras possibilidades teóricas e históricas?
5. Conclusão
Estamos diante de um debate complexo, que necessita ser aprofundado pela nossa
organização se pretendemos que a Consulta Popular prossiga em sua trajetória de
um instrumento político autônomo, de natureza partidária. Suas implicações são
imediatas e incidem em nosso debate estratégico. Assim, a 6ª Assembleia não pode
deixar de enfrentar este debate e avançar na nossa própria caracterização do
fenômeno.
23
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Censura e crítica
Herick Argôlo
24
O curso “O que é Marxismo-Leninismo?” foi lançado recentemente, por iniciativa do
Rondó da Liberdade, instrumento de propaganda marxista da Consulta Popular em
Sergipe, numa parceria com a revista Crítica Marxista. Desde então, um grupo de
companheiros passou a fazer uma série de críticas surpreendentes e pouco
sustentáveis contra essa iniciativa.
Por que um curso sobre o marxismo-leninismo causou tanto alvoroço entre esses
companheiros, ao ponto de pretenderem censurá-lo? Deitemos os olhos nas
justificativas que caíram do céu.
A primeira é que o curso seria “clandestino”, pois “não utiliza a marca da Consulta
Popular”, mas a do Rondó da Liberdade. Pois bem. Essa iniciativa não difere, nem
um pouco, do que a Consulta Popular sempre fez com nossos instrumentos de
propaganda ao longo da nossa história. Como exemplo, a Expressão Popular, o
Brasil de Fato e a própria Expressão Sergipana, dentre muitos outro. Ressalte-se
que à época que a Expressão Sergipana foi lançada pela Consulta Popular em
Sergipe, mesmo sem a marca do partido, não recebeu as críticas que agora são
desferidas contra nós, porém diversos comentários elogiosos.
Um outro argumento dos companheiros diz que o curso “fere a unidade ideológica
da organização”. Esse é ainda mais surpreendente, além de sintomático.
Esqueceram-se os companheiros que a Consulta Popular é uma organização
marxista-leninista? Qual unidade está sendo ferida?
Nos Cadernos de Debates, temos feito críticas ao ecletismo ideológico que impregna
a Consulta Popular. Destaco um fato que ali apontamos:
16
“Somos a Consulta Popular II”, Dalva Angélica, Durval Siqueira, Erick Feitosa, Herick Argôlo e
Kevin Ismerim, Caderno de Debates nº 2, 2018.
25
Os que alegam que a propaganda da obra de Lenin “fere a unidade ideológica da
organização” protegem não a unidade ideológica, como dizem, mas a sua verdadeira
ausência. Protegem, no final das contas, o ecletismo ideológico, que germina tal qual
uma erva daninha no terreno que não é arado por uma teoria coerente e refletida, e
que obstrui o florescimento do marxismo-leninismo enquanto ciência que possibilita
nos orientar corretamente na realidade.
É verdade que, de inocente, esse curso não tem nada. Ele conta com onze módulos
sobre as temidas obras de Lenin. Obras que, não raro, escandalizaram desde a
burguesia até pretensos marxistas que descambaram para concepções e linhas
políticas reformistas.
Uma terceira denúncia é que esse curso deveria ser censurado porque “não faz
parte da formação interna da Consulta Popular”. Sim, é óbvio que ele não faz parte
da nossa formação. Como ensinou-nos o CEPIS, de forma tão rigorosa e instrutiva,
a formação é feita para militantes, com o objetivo fundamental de implantar uma
estratégia de poder.
É indispensável que a Consulta Popular tenha uma escola oficial, com o objetivo de
implantar a estratégia revolucionária por nós formulada. O seu conteúdo deve, sim,
ser rigorosamente debatido e aprovado pelo Setor de Formação Nacional e na nossa
Direção Nacional. Isso não impede, contudo, a propaganda de ideias e obras
revolucionárias.
17
Ver, por exemplo, “Uma proposta de formação política para nossa realidade”, Armando Boito, Aton
Fon e Ricardo Gebrim, Caderno de Debates nº 1 de 2018; e “Sobre a questão eleitoral e algo mais”,
Herick Argôlo, Caderno de Debates nº 2 de 2020.
26
O centralismo democrático, princípio leninista que melhor orienta a organização do
partido comunista, é composto por uma unidade de contrários. Esse princípio
decorre da relação de interdependência e luta entre a liberdade de discussão e a
unidade de ação.
Nossos companheiros invertem a coisa. Pretendem nos censurar não por críticas
burguesas às ideias fundamentais do marxismo-leninismo. Mas por estarmos
divulgando-o.
18
Trecho também disponível em https://www.marxists.org/portugues/lenin/1906/05/20.htm#tr2
27
No breve texto “Sobre a Liberdade de Crítica”19, já havia assinalado que alguns
companheiros, encobertos com a invocação do “centralismo democrático”, violavam
o aspecto democrático desse princípio, não tolerando qualquer tipo de crítica.
Recordemo-nos o que destaca Lenin sobre a liberdade crítica:
“A crítica dentro dos limites dos princípios do Programa do Partido deve ser
bastante livre (lembramos ao leitor aquilo que Plekhanov disse sobre esse
assunto no Segundo Congresso do POSDR), não apenas nas reuniões do
Partido, mas também nas reuniões públicas. Tal crítica, ou tal ‘agitação’
(porque a crítica é inseparável da agitação) não pode ser proibida”. Lenin,
em “Centralismo Democrático: Liberdade para Criticar e Unidade de
Ação”20.
Se até a crítica “deve ser bastante livre”, como bem recomenda Lenin, o que dizer
sobre a liberdade de divulgação de ideias e obras revolucionárias? Não é possível
deixar de perceber que o autoritarismo que emana das pretensões de censura dos
companheiros é gritante, é aberrante.
Porém, alguns pensam se esquivar quando dizem que o problema do curso não
seria o marxismo-leninismo em si, apenas que “sejam ajustados os facilitadores”.
Desse modo, esses companheiros querem, simplesmente, ter o poder de decidir
quem pode ou não fazer propaganda na Consulta Popular.
Não nos ajuda a avançar essas críticas vazias a uma iniciativa de indivíduos dos
quais se tem divergências políticas. Não há problema algum em rejeitar a posição
desse ou daquele, mas há em querer, autoritariamente, censurar. Buscar impedir um
militante ou uma instância local do partido de ter voz é o mesmo que atentar contra o
seu direito de existência política.
19
Herick Argôlo, “Caderno de Debates nº 1, 2019.
20
Disponível em https://www.marxists.org/portugues/lenin/1906/05/20.htm#tr2
28
diluição da Consulta popular nos movimentos tem sido cada vez mais evidente,
como alertado em “O ‘Campo do Projeto Popular’ substituirá a Consulta Popular?”21,
dentre outros.
A Consulta Popular, apesar de todas suas fragilidades e todos os percalços que tem
enfrentado nos últimos anos, permanece como o ponto de partida mais promissor no
nosso país para reconstruirmos um polo revolucionário no Brasil e na América
Latina. Simplesmente porque o sentimento marxista-leninista transborda na
militância da nossa organização. Na medida em que esse sentimento encontrar a
razão científica marxista-leninista, a erupção da vontade revolucionária será
incontrolável.
De fato, a composição de grupos ligados por laços puramente pessoais, com o único
intuito de manter ou conquistar o controle burocrático de instâncias, é abominável e
nocivo em um partido comunista. Não é disso que se trata a luta interna. Naquele
texto destaquei:
“Um segundo cuidado é estar ciente que a luta interna não se trata de uma luta de
grupos, nem por poderio individual, mas uma luta em torno de ideias, em torno da
ideologia revolucionária e da teoria marxista-leninista. Assim, o compromisso de
cada revolucionário não deve se dar com indivíduos ou grupos, embora estes
possam, naturalmente, se formar e encarnar determinada posição em dado
21
Ricardo Gebrim, Caderno de Debates º1, fevereiro de 2020.
22
“Ode à Luta Interna”, Herick Argôlo, “Caderno de Debates nº 2, 2019.
29
momento. Mas o compromisso deve se dar, como princípio, em torno do
conhecimento preciso da realidade, da correta orientação teórica e ideológica, da
justeza da linha que daí decorre, enfim, em torno da verdade. O revolucionário
deve ter um compromisso inquebrantável com a verdade”23.
O repúdio à luta interna, enquanto prática que põem à prova diferentes posições
políticas no partido revolucionário, impede-nos de alcançar uma orientação científica
na luta política. Entregues ao espontaneísmo, os que rebaixam o papel da teoria
perdem de vista as relações de classe e as determinações sociais identificadas pelo
materialismo histórico.
23
Idem.
24
“Luta Interna e Dialética”, Carlos Marighella (destaquei), disponível em
https://www.marxists.org/portugues/marighella/1966/10/15.htm
30
Companheiros, não restam de pé razões para pretenderem censurar nosso curso.
Muito menos para quererem anular a atividade política de militantes e instâncias
locais, colocando-as sob a censura prévia de alguma instância nacional.
É como uma organização desse tipo que a Consulta Popular deve ser construída. É
por meio delas que os movimentos revolucionários do século XXI poderão ser
vitoriosos e poderão se espalhar pelo mundo.
31
________________________________________________________________________
25
Fabiano Paixão de Souza- Núcleo João Leonardo
26
Venício da Silva Montalvão- Núcleo João Leonardo
32
“Tenho consciência de ser autêntica e
procuro superar todos os dias minha própria
personalidade, despedaçando dentro de mim
tudo que é velho e morto, pois lutar é a
palavra vibrante que levanta os fracos e
determina os fortes.”
Introdução
Destarte, o texto que enviamos contém o conteúdo mais geral, resultado dessa
iniciativa, o qual julgamos necessário submete-lo ao conjunto da organização
através do Caderno de Debates, isso por um motivo principal. Trata-se de uma
discussão amplamente difundida nas redes sociais e nos diversos meios digitais,
portanto, de fácil acesso, inclusive subsidiando em alguma medida estudos de nossa
militância, mas a organização em si encontra-se em atraso na formulação a respeito,
tornando qualquer iniciativa individual ou de pequeno grupo suscetível a vícios,
desvios teóricos, enfim, limitações diversas. Submetendo ao conjunto do partido,
possibilitamos a continuidade do debate e caminhamos para um entendimento
comum.
Afim de deixar o tema debatido mais acessível, e de maneira a pensa-lo para dentro
de nossa organização, o estruturamos trazendo incialmente o debate teórico, como
vem sendo discutido atualmente e depois entramos na discussão sobre como nossa
33
organização (não) vem enfrentando o debate sobre a construção de espaços em que
se possa debater a masculinidade.
Masculinidade tóxica
É neste esforço que está sendo escrito este texto. Com certeza haverá muitos
limites, mas servirá, acreditamos nisso, como uma primeira aproximação, que
somada aos espaços de debates e novas contribuições de outros e outras
companheiras e companheiros, ajudará a ir compreendendo mais e mais as
determinações que vem constituindo os homens revolucionários, assim como
também, os homens da classe trabalhadora. E na medida dessa compreensão que
se criará as condições para enfrentar as manifestações problemáticas, cujo efeito
impacta negativamente as companheiras, os próprios homens e, portanto, a causa
da transformação de modo geral.
34
considerados femininos. Além do cuidado com a saúde, a percepção de que o corpo
precisa de cuidados, de que precisa procurar o médico, assim como questões
relacionadas a paternidade, a criação dos filhos com maior afetividade, substituindo
a lógica agressiva e ideal de macho pela diversidade das possibilidades na formação
do sujeito, entre outras reflexões neste sentido.
Diante dessas duas limitações evidentes, pelo menos de modo inicial, podendo ser
constadas outras no futuro, tentaremos sintetizar discussões que podem ser um
referencial para nossa militância.
No ano 2000 foi publicado nos Estados Unidos o livro de bell hooks “O feminismo é
para todo mundo”, obra cujo objetivo é escrever numa linguagem fácil e acessível
sobre a teoria feminista, possibilitando que qualquer pessoa pudesse conhecer o
feminismo. Já no prefácio ela afirma:
27 27
HOOKES, bell. O feminismo é para todo mundo. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
35
No livro, capítulo 12, “masculinidade feminista”, discute fundamentalmente o quanto
é negativo a masculinidade sexista, pois ela prejudica também os homens, já que
eles tem que pagar um preço caro para exercer dominação sobre as mulheres.
36
determinações constitutivas das construções sociais dos papeis de gênero e suas
manifestações negativas, relaciona de maneira clara o papel dessas construções
para o capitalismo, sendo este texto, uma importante referência para os
revolucionários e as revolucionárias organizados e organizadas em torno da
superação da sociedade de classes, cujo patriarcado é um dos pilares.
28
Saffioti, Heleieth I. B. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987.
37
E ela observa a necessidade de se atentar para isto, quando se visa construir as
condições para que homens e mulheres se realizem plenamente. Pois só na medida
em que nenhuma pessoa for impedida de realizar todas as dimensões de sua
personalidade é que se pode alcançar o prazer.
38
espancando mulher e filhos, em virtude do desespero provocado pelo
desemprego?” (Saffioti, 1987)
O homem, por isso, é considerado macho quanto mais seus sentimentos são
controlados, reprimidos, quanto mais são escondidos. Afinal, evidentemente eles
existem. E nisso reside a toxidade, como é chamado hoje o potencial adoecedor
dessa masculinidade. Ora, não pode ser saudável reprimir sentimentos, não
manifestar estar sensível diante de algum acontecimento, ou nas relações. A
manifestação de alguma insatisfação, no caso dessa masculinidade patriarcal, se dá
pela violência, pela agressão muitas vezes, mas não pelo diálogo, pela expressão
natural dos sentimentos, sob pena de, assim, ser associado a afetividade, ou a
qualquer outro elemento considerado feminino.
Não é nada difícil identificar a pouca disposição masculina para falar do que sente,
para manifestar desejos, afetando inclusive as relações sexuais, uma vez que,
mesmo alguma insatisfação, ou o desejo de experimentar alguma forma diferente na
relação ou mesmo indisposição em ter uma relação, fica escondida. Isso não pode,
principalmente a longo prazo, ser saudável para o homem e para as relações que
estabelece. Sobre isso, chama atenção o seguinte trecho na obra de Saffiot:
39
Há algo de muito danoso, portanto, nas masculinidades idealizadas pelo patriarcado.
Se esse processo é capaz de provocar modificações orgânicas nos homens,
certamente há muitos efeitos desastrosos na dimensão emocional e psicológica, e
seus efeitos afetam os homens e as relações que estes estabelecem, assim como a
organização e luta coletiva.
40
de reificação da qual o povo passa longe posto já estar
saturado de ser tratado como coisa. ”29
Por ter tal compreensão, a Consulta Popular em sua IV Assembleia ocorrida no ano
de 2011 entre os dias 31 de janeiro e 04 de fevereiro, que homenageou um dos
nossos grandes lutadores, Carlos Marighella, apontou o Feminismo Popular
enquanto o seu sexto compromisso, de lá para cá foram muitas reflexões e
construções importantes, avançamos em muitas formulações, ainda que tenhamos
um longo caminho a percorrer.
Nossa construção no Alto Sertão da Bahia não está a parte desse processo, aqui
tivemos grandes acúmulos sobre o feminismo e nossa realidade, no entanto muitas
foram as debilidades no sentido organizativo, em algumas ocasiões não
conseguimos dar as condições necessárias para as companheiras, sejam essas
condições materiais, ou psicológicas, soma-se a isso as dificuldades individuas que
permeiam as questões subjetivas que em algum grau foram aprofundadas pelas
práticas machistas de companheiros da organização.
41
Por vezes é comum a idealização de homens que fazem parte de organizações de
caráter popular- não tenham comportamentos machistas- sobretudo as que tem o
feminismo enquanto um pilar estratégico, como a nossa. No entanto, esses
indivíduos não estão alheios as relações sócias, pensar dessa forma é acreditar que
a organização é uma bolha, que não recebe e nem exerce influência no seu meio
social. Esse fato não autoriza, ninguém a reproduzir práticas machistas, com as
quais queremos romper, pelo contrário, esses indivíduos que estão nessas
organizações devem ter uma responsabilidade ainda maior e a eles devem ser
cobradas posturas condizentes com os preceitos defendidos pela organização, mais
do que isso devem ser responsabilizados pela reprodução de práticas machistas. As
decepções causadas por algumas posturas de companheiros as vezes geram
reflexões como “ os homens que não estão dentro das organizações estão mais
avançados” ou coisa do tipo, de antemão não há aqui uma defesa, desses
indivíduos, mas nossa compreensão deve partir de que dentro da organização é
mais fácil lidar com a reprodução de práticas machistas posto que o indivíduo está
subordinado politicamente a organização algo muito difícil para alguém não
organizado.
30
GELEDES. Disponível em: https://www.geledes.org.br/voce-sabe-o-que-e-masculinidade-toxica/.
Acesso em: 25 abr. 2020.
42
Outro fator importante que merece nossa atenção é que a procura pelo debate sobre
masculinidade vem crescendo, afim de garantir essas discussões inúmeros grupos
estão sendo criados, esse fato se revela enquanto um grande avanço, saber que
homens visam construir outras formas de se relacionar adotando uma masculinidade
mais saudável é interessante para a construção da nova sociedade que queremos,
no entanto ainda não temos incidência nem qualquer discussão a respeito do tema,
enquanto organização política é de suma importância a disputa desses espaços, se
essa leitura tiver consenso no conjunto da organização, devemos construir
nacionalmente um método que oriente nossos núcleos, que ajude na discussão que
aponte que debate queremos construir, afim de avançarmos no fortalecimento do
feminismo popular, atraindo outros sujeitos que visam avançar na construção de
uma nova masculinidade e romper com as estruturas que garantem a manutenção
do patriarcado.
43
________________________________________________________________________
O Espectro Neofascista
instalou-se no país!
Felipe Sena
Militante do Núcleo Dom José Rodrigues
Juazeiro / BA
44
Este texto tem por objetivo suscitar reflexões e mais debates acerca do que se
projeta para frente no governo Bolsonaro e quais serão as consequências políticas
da sua gestão. É importante destacar que todas os desdobramentos desta ofensiva,
nesse momento histórico que vivemos, nos trarão (para a CP e toda a esquerda
brasileira) enormes desafios.
Antes de mais nada é importante frisar uma questão: Bolsonaro não é tolo e não faz
as coisas de maneira impensada. Existe uma lógica nas suas ações políticas e nas
narrativas por ele disseminadas. Por mais que pareçam não-racionais, estúpidas e
asquerosas. Para tanto, vou apontar aqui algumas características que ilustrarão a
capacidade política da retórica bolsonarista e sua influencia ideológica.
Como saída para a crise, ocorreu em toda a América Latina uma onda de iniciativas
contra-revolucionárias; é como se ocorre-se uma nova etapa da Operação Condor.
Não é a toa que os golpes parlamentares em Honduras (2009), no Paraguai (2012),
no Brasil (2016), são parte da nova forma de fazer guerra, a guerra Híbrida. Além
disso, soma-se o Lawfare contra Rafael Correa, Cristina Kishiner, entre outros e
outras dirigentes progressistas, numa evidente tentaiva de criminalização da
esquerda e fragilização da democracia.
45
burguesia e uma (re)organização das frações de classe burguesa.
Neste texto, por questão de tempo, não vou apresentar uma elaboração mais
sistematizada em relação a forma de estado adotada pelo Neofascismo e a sua
relação com a atual fase do imperialismo, a relação capitalista dos países de
centro/periferia com a nova revolução 4.0, o alinhamento do grande capital com a
pequena burguesia no Brasil, mas vale a pena reforçar que é fundamental uma
análise mais aprofundada destes elementos.
Nesse sentido destaco as três formas mais palpáveis de sua utilização nos dias de
hoje:
2°) a utilização da Pós Verdade e das Fake News como forma de desvirtuar os
conceitos, as pessoas e os fatos. Estamos vivendo uma disputa de narrativas. Cada
dia que passa, redes como Faceobook, Instagram e Twitter tornam-se um problema
e não uma saída para a disputa ideológica. Algorítimos estão criando “fossos” e nos
deixando cada dia mais isolados.
46
3°) o uso do Lawfare (Judicialização da Política), que usa as manobras jurídicas
como forma de criminalizar as correntes de pensamento e concepções políticas
diferentes. O melhor caso de Lawfare foi o ex presidente Lula, que foi criminalizado e
tirado do jogo político emsa 2018. é importante problematizarmos que esta tática
será recorrente na luta política. Qualquer agrupamento que sentir-se prejudicado
poderá recorrer a manobras jurídicas e “dar golpes”.
31
https://diplomatique.org.br/o-conservadorismo-moral-como-reinvencao-da-marca-mbl-2/
47
Uma outra argumentação que é possível constatar nos últimos acontecimentos e
que demonstram o avanço do conservadorismo e do neofascismo no Brasil é a
atmosfera construída pelos grupos de extrema-direita, onde a única possibilidade de
saída para construção de um estado ético e com possibilidade de progresso é com
efetivação de um novo projeto político, e tendo Bolsonaro como seu líder.
Claro que o jogo político não se organiza assim tão facilmente, mas Bolsonaro está
mantendo uma base de apoio (apesar das pesquisas apontaram como péssima),
mas o conteúdo do seu discurso é perigosíssimo.
Tanto Bolsonaro, como muitos outros são fruto de um fenômeno também conhecido
como Militarização da Política, que se utiliza dessa atmosfera de “incorruptível” e
“salvacionista” para agentes de segurança pública (polícia, forças armadas) adentrar
na vida político partidária. Aqui não cabe uma generalização, nem censura, até
mesmo porque todo cidadão brasileiro pode e tem o direito de se candidatar. O
propósito é apresentar uma constatação que hoje impregnou a política brasileira.
Além de políticos com perfil militar, existe também aqueles ditos “outsideres”, que
tem uma vida política profissional exemplar, muitas das vezes profissionais liberais,
empresários. São esses dois perfis que mais se destacam como os “seres
capazes de pôr fim as mazelas sociais”.
Não sabemos ao certo de onde surgiu essa ideia de que Bolsonaro é um Mito, mas
que ele soube aproveitar-se desse “desígnio divino” - dizendo ele que iria salvar o
Brasil da dita praga vermelha. Lembremos quantas vezes no seu discurso de posse
ele falou em “acabar com os vermelhos”.
48
1.3. A violência como saída necessária
A cada dia que passa Bolsonaro tem endurecido seu discurso político, sabendo ele,
que o agravamento da polarização é necessária e que suas consequências – como
a violência física sofrida por jornalistas no último 3 de maio - podem ser manipuladas
e distorcidas pela mídia (e do gabinete do ódio criada por seus filhos).
2. O HORIZONTE BOLSONARISTA
32
https://revistaforum.com.br/noticias/acampamento-paramilitar-bolsonarista-bate-meta-em-vaquinha-
virtual/
33
https://www.brasil247.com/brasil/psdb-firma-posicao-contra-o-impeachment-e-a-favor-da-
continuidade-de-bolsonaro
49
impedir que muitos dos crimes que ele e seu grupo político venha cometer sejam
“protelados ou arquivados pela justiça”.
Dentro do tecido social, isso se mostra como um grande desafio, pois com o passar
do tempo a população não terá o Estado como Ente Responsável por assumir suas
demandas, mas sim iniciativas duvidosas e comprometidas a fortalecer um projeto
de poder autoritário, que hoje é da família Bolsonaro, mas que amanhã pode ser de
qualquer outra pessoa.
Como reflexão para todo o partido, gostaria de deixar a seguinte questão: Quais
serão as consequências do avanço neofascista para a sociedade brasileira?
50
Bolsonaro provavelmente não seja capaz de dar um golpe neste momento (diga-se
em 2020), mas vem avançando decisivamente para isso. Ela cotidianamente tem
manobrado politicamente e garantido se manter no jogo. É necessário muita atenção
aos seus movimentos, pois eles determinarão a que pé o Golpe está. Ele e seus
aliados ainda tem muita munição para gastar! Não podemos deixar que essa farsa
se repita!
51
________________________________________________________________________
34
Militantes da Consulta Popular e Levante Popular da Juventude em Sergipe
52
SUMÁRIO
3. “Pior do que não saber o que fazer, é não fazer o que se aprendeu”
6. Considerações finais
53
“Pode-se dizer da política e dos partidos, com as variações correspondentes,
o mesmo que dos indivíduos. Inteligente não é aquele que não comete erros.
Não há, nem pode haver, homens que não cometam erros. Inteligente é
aquele que comete erros não muito graves e sabe corrigi-los acertada e
rapidamente.”35
Lenin
Escrevemos esse texto por visualizarmos que o atual período congressual abre a
oportunidade de ajustarmos a rota que a Consulta vem adotando. Fizemos um
esforço de nessas linhas trazer a complexa relação que se tem entre as disputas de
destino da Consulta Popular e atual linha predominante no Levante Popular da
Juventude.
Em nossa IV Cartilha “Carlos Marighella”, foi aprovada uma resolução que fazia uma
breve análise da juventude e do seu papel, tal resolução constatava que os
elementos jovens ao serem organizados poderiam impulsionar a construção de uma
estratégia revolucionária e que o período de acesso à educação pública superior
e empregos constituiriam uma condição prévia de potencial organização. A Consulta
Popular, sabiamente, deliberou na mesma Assembleia que se deveria impulsionar a
organização do Levante Popular da Juventude, destacando os desafios a sua
nacionalização, obtenção de uma organicidade permanente e construção de uma
direção coletiva36.
35
Pág. 65. Esquerdismo, doença infantil do comunismo. Nota do autor no rodapé da página.
36
Pág. 96. Cartilha 21. Resoluções politicas da IV Assembleia Carlos Marighella.
54
A Consulta já contava com uma coluna de quadros experimentada na organização
reconhecida como “Por um Projeto Popular Para a Educação”. Essa organização
possuía em seu início o centro de atuação nas executivas de curso e trabalho em
centros acadêmicos, possuindo presença marcante no que seriam os cursos das
“Ciências Agrárias”, principalmente. Foram percalços desse trabalho a falta de uma
identidade nacional e plano de lutas que superassem a segmentação natural do
trabalho em cursos de universidade. A construção do Levante Popular da Juventude
sanou esses percalços iniciais e ainda lançou novos desafios, como organizar e se
articular com os jovens do campo e das periferias. Tendo como sua primeira grande
ação nacional a rodada de “escrachos a torturadores da ditadura militar”.
Vale ressaltar que não apontamos para a tutela da Consulta Popular sobre o
Levante Popular da Juventude ou qualquer outro movimento que a Consulta se
propõe a impulsionar, não se trata de correia de transmissão. O que conclamamos
aqui é a responsabilidade dos militantes da Consulta em construírem esse
necessário instrumento político revolucionário, reafirmando a CP como o espaço
político pelo qual seus militantes se centralizam.
37
Pág. 96. Cartilha 21. Resoluções da IV Assembleia Carlos Marighella.
55
trabalhadora, como acesso a programas de distribuição de renda, valorização do
salário mínimo dentre outros.
Sabia-se que encarávamos uma situação complexa, em que o Governo Dilma não
apostava na mobilização popular e se apoiava em concessões cada vez mais
amplas para o conjunto burguesia. Acumulavam-se também, elementos negativos
anteriores a aquela conjuntura, como o déficit organizativo do movimento sindical-
popular. A constatação de que não ocorreu ao menos uma greve política contra o
Golpe de 201639 é simbólica para demonstrar que as forças populares não obtiveram
forças suficientes para barrar aquela ofensiva.
Saber que aquela ofensiva pedia uma unidade maior das forças populares, saber
que o Governo Dilma corroía sua base de apoio popular na medida em que traía seu
programa eleitoral de 2014 e saber, por fim, que para colocar o Projeto Popular na
ordem do dia seria necessária uma bandeira política materializada na campanha da
38
Neogolpismo na América Latina: uma análise comparativa do Paraguai (2012) e do Brasil (2016).
Paola Estrada. Em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/84/84131/tde-17122019-153041/
39
Pág. 289. “Por que foi fraca a resistência ao golpe de 2016?”. Reforma e Crise Política no Brasil.
Armando Boito Jr. Editora UNICAMP e Editora UNESP.
56
Constituinte, nos deu um diagnóstico que permitiu agir em crescente destaque nas
linhas de frente daquelas batalhas.
Embora o óbvio seja autoexplicativo, por vezes ele precisa ser dito e relembrado:
com essas palavras não queremos deslegitimar o papel que o Campo Popular
cumpriu em dar suporte ao Levante nos estados, embora isso tenha se expressado
primordialmente em estados que a Consulta ainda encontra ou encontrava
problemas organizativos, o Campo Popular foi (e ainda é) importante para alavancar
57
o Levante de diversas maneiras, seja girando militantes para sua construção, seja
estruturalmente, costurando articulações ou legitimando nossa entrada em certos
espaços de decisão. Também reiteramos o devido crédito e gratidão aos militantes
que não foram/são da Consulta Popular, mas foram/são cruciais para os êxitos do
Levante, cumprindo um importante papel no desenvolvimento e materialização
dessa obra, acumulando preciosamente para o Projeto Popular. Devemos ser gratos
a todas e todos que desprenderam esforço, tempo, finanças, suor, mentes e
corações para construirmos o que somos hoje. O que trazemos é a centralidade que
a leitura, e consequentemente, a ação adequada tem no avanço político-
organizativo. Sem isso os outros elementos não seriam tão aproveitados.
Infelizmente, esse amplo assédio do petismo foi forte o suficiente para criar uma
sensação de que aqueles adjetivos eram adequados e correspondentes às nossas
qualidades. Como o tempo nos mostrou, aquele período se modificaria numa grande
virada negativa e aprenderíamos que não é possível crescer a todo o momento,
sermos destacados a todo momento, principalmente quando erramos na análise dos
cenários e/ou na implementação da tática.
Nesse sentido, entendemos que ter a análise justa e a implementação da tática são
fatores decisivos para o crescimento de uma organização. Vale ressaltar que o
cumprimento desses requisitos não é uma garantia de crescimento e organização.
Muitos são os fatores que atravessam os processos políticos. Hoje, por exemplo, a
classe trabalhadora tem sido pressionada a correr atrás da sua sobrevivência do que
se insurgir ou aderir a propostas de organização social, o que tem se convertido em
uma verdadeira paralisação de sua ação política. Entretanto, não é possível crescer
com qualidade sem os elementos da análise justa e da ação correspondente.
3. “Pior do que não saber o que fazer, é não fazer o que se aprendeu”
É verdade que, diferentemente do que seria uma receita de bolo, uma revolução não
é apenas o agrupamento exato de ingredientes aquecidos no forno da história. O
acontecimento extraordinário de uma revolução não pode ser resumido a um
esquema. Porém, reconhecer isso não pode ser a autorização para que as novas
gerações de militantes joguem fora certos elementos que demonstraram ser
indispensáveis para verdadeiras revoluções triunfantes.
58
ligar-se às experiências revolucionárias do passado. Aqui está uma característica da
prática militante marxista-leninista, extrair lições do momento presente e dos
momentos passados.
Com isso, nos cabe questionar qual o procedimento para identificar as lições que o
movimento revolucionário nos deixou?
40
Pág.49. Estado e Revolução. Lenin. Editora Expressão Popular.
41
Pág. 58. Idem.
59
B) Não ter em conta que as situações e a realidade confrontadas são
diferentes, subestimando a experiência própria e suas potencialidades,
copiando mecanicamente as experiências alheias. Por exemplo: O PCdoB foi
reconhecido pela migração mecânica a diferentes tradições marxistas como formula
de se repaginar e anunciar adequações táticas. Afirmava vinculação com o
Stalinismo, depois se vinculava ao Maoísmo e em um dado momento construiu mais
uma imigração se filiando ao Hoxhaismo. Toda essa migração refletia no plano
tático/estratégico também o enfrentamento a problemas específicos da realidade
brasileira. O que se demonstrou uma esterilização que posteriormente alimentou
profundas frustações quanto a possibilidade de uma revolução no Brasil.
A) Não recuar no confronto que negava lições que Marx e Engels haviam
trazido. Por exemplo, no confronto com marxistas que queriam negar a necessidade
da ditadura do proletariado para defender e programar a nova ordem socialista,
assim como, a defesa do internacionalismo proletário que colocava os interesses do
proletariado acima dos interesses das burguesias nacionais expresso no episódio
emblemático de apoio dos partidos de esquerda/socialistas a aos seus países na 1°
guerra mundial, culminando na falência da segunda internacional.
60
4.QUAL LEGADO ESTAMOS RENUNCIANDO?
A nossa geração vive uma realidade muito diferente. A maioria de nós não
experimentou ver um mundo em que se polariza entre um campo socialista e outro
capitalista. A grande maioria da militância da Consulta nasceu no final da década de
80 para 90, e a maior parte da militância da Consulta que milita no Levante nasceu
da metade da década de 90 para cá.
O fim da União Soviética abriu o caminho para a ofensiva neoliberal que destruiu
boa parte das bases daquele antigo mundo. A derrota das ideias revolucionárias
mudou o debate político da esquerda, por isso, afirmamos a desvinculação, que é
determinada pelos primeiros contatos organizativos e ideológicos que os militantes
nascidos nas referidas datas, adquiriram nos seus primeiros anos de militância, e
pelo debate predominante na esquerda que esses militantes encontraram, um
debate que já não tinha qualquer perspectiva pós-capitalista.
Hoje é possível afirmar que o principal legado da Consulta Popular foi não
deixar a bandeira do socialismo ser abaixada. Fazer isso hoje pode parecer
relativamente fácil, mas naquele período com certeza não foi. Ademais, não foi
somente esse o legado que a Consulta acumulou.
61
Fomos uma organização que em um movimento de espiral, no confronto de diversas
concepções internas, maturou-se para assumir um caráter especifico. O caráter
partidário. Mas, não qualquer caráter partidário, um caráter partidário do tipo
marxista-leninista. Isso permitiu que se abrisse um caminho de diálogo entre
gerações de lutadoras e lutadores, dialogo sobre os desafios do presente e as
reflexões do passado.
Não nos cabe nesse trecho construir uma sessão de autoelogios. Sabemos todos,
que a Consulta é permeada de fraquezas e debilidades, está longe de ser uma
organização perfeita. Acumula fluidez organizativa, política e ideológica. Mas,
também não vale a pena relatar que a Consulta só possui lacunas e falhas.
Cabe reconhecer o lugar e o significado que essa organização ocupa na esquerda
brasileira, desde que passou a existir.
62
ver nossas direções cultivarem de forma acrítica o apoio a Lula e cultivar de
maneira acrítica o legado dos governos do PT na nossa militância. Ao observar
as posições públicas do Levante e das principais direções do movimento,
vemos cada vez mais um culto equivocado a esse líder e ao legado Petista.
Referências que mistificam suas capacidades, suas ações e a sua história,
referências que tecem elogios e saudades “daquele tempo que a gente era feliz”.
Omitindo cada vez mais o lado “B” da história de Lula e do Partido dos
Trabalhadores. Embora Lula tenha cumprido um papel muito importante na história
da luta das classes populares do Brasil, não podemos esquecer as ambiguidades de
suas posições, a defesa passiva na ofensiva de 2016, a cooptação de direções da
esquerda... Seriam apenas algumas das críticas possíveis que poderíamos trazer
reiteradamente, com o intuito de não baixarmos a nossa guarda e preservar nossa
militância da força do desvio reformista. Apesar disso, existe uma crítica a ser
feita que é primordial para entender o papel de Lula e do Petismo na esquerda
brasileira.
A Consulta, e por sua vez o Levante, tiveram durante o período de ascensão da luta
de massas (2011-2016) a habilidade de ter relações com o reformismo e com o
esquerdismo, sem incorrer no erro de guinar para algum desses lados, ou seja, não
nos isolávamos diante desses dois predominantes campos da esquerda, mas
também não nos integrávamos a eles completamente. Apoiar o que poderia ser uma
política aparentemente mais esquerdista não poderia (e não deve) nos induzir
adesão a essa tradição. Da mesma forma deveria ser com o reformismo.
63
movimento. Bastaria observar as nossas crescentes referências -falas, discursos,
postagens, banners de rede social- completamente positivas as ações petistas, do
passado e do presente. Entendemos que essas referências não são produtos de
uma mera “falta de habilidade” ao se lidar com um aliado importante que
hegemonizou o último ciclo da esquerda (ciclo este atravessado de equívocos).
Entendemos que o que se cultiva hoje pelo núcleo dirigente do Levante é um
tipo de adesão às práticas e tradições petistas.
Por fim, entendemos que existe níveis e tipos de adesão. Uma adesão “lateral”, que
não é explicita (no sentido da sua proclamação), mas que ocorre. E entendemos que
também existe uma adesão “frontal” que é totalmente explicita bastando observar as
últimas ações dos dirigentes da CP no Levante. Esse processo de adesão é,
inevitavelmente, a renúncia ao que acumulamos de melhor (!) e que nos leva
inevitavelmente a nos tornarmos algo que sabemos como é, como vive e como se
mantém. Bastando observar a prática e a forma de existir da Juventude do PT e da
UJS-PCdoB.
Vale alertar que este subtópico não se direciona às pessoas que foram designadas
para essa projeção. Não se trata, por exemplo, de não reconhecermos a
contribuição, o valor e a capacidade política que as pessoas escolhidas possuem,
pois de fato possuem. Mas, se trata de combater um processo que inverte a
construção da referência na organização e que pode inclusive vitimar (para
além da nossa jovem organização) as próprias pessoas no processo de
projeção.
64
Opinamos.
Quando tratamos da nossa expressão “para fora” e fazemos isso tirando a referência
política da organização da centralidade da propaganda para orbitar esse centro em
torno de indivíduos, acabamos por cometer alguns equívocos, a título de exemplo: 1-
Diminuir o peso político da saída organizativa. Sempre nos destacamos por
apontar saídas coletivas que estimulam a organização popular, não podemos deixar
de resgatar isso ou suplantar esse eixo importante da nossa política para apontar
que a saída se dá seguindo pessoa A ou B; 2- Reduzir a qualidade das avaliações
dos processos. Quando criamos uma casta de indivíduos e colocamos os mesmos
em um patamar que está além da militância, acabamos também por lhes colocar em
uma posição aquém da militância. Rebaixando a moral geral e obstruindo a
honestidade nas avaliações; 3- Rebaixar a lógica da educação popular pela
educação nos modos individuais do mundo capitalista. Conseguimos ter hoje
um bom quadro de militantes no Levante, isso também se deu ao nosso método de
direção, aprendendo e ensinando mutuamente. “Ninguém ignora tudo. Ninguém
sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa.
Por isso aprendemos sempre.”. Portanto, para aprendermos “sempre” a educação
política deve pressupor o confronto de opiniões, prezando seguir uma proposição em
função no seu conteúdo e não de quem ele emana; 4- Subestimar nossa militância
e sua capacidade política. Quando fazemos isso o sinal mais evidente é o
esvaziamento político de debates e instâncias deliberativas, limitando a contribuição
e criatividade do nosso corpo militante.
Embora esses elementos exemplificados acima não pareçam ter esse intuito, por
vezes nos parece que suplantam e tomam uma dimensão de maior destaque que as
orientações e circulares internas deliberativas das legítimas instâncias, esse
alinhamento da propaganda e vinculação direta às figuras públicas tira o cerne e
centralidade política da propaganda e de nossas ações. E, quando somado à falta
de debate amplo, justo e aberto, já apontadas nesse texto, além de gerar
incompreensões no corpo militante do movimento, alimenta desvios que
65
desconstroem a virtude do exemplo pedagógico, tais como o dirigismo,
personalismo e o autoritarismo. Não precisamos ir longe para sabermos onde
esse caminho pode nos levar.
Entendemos ser um equívoco grave trazer esse “encaminhamento” sem o debate
aberto em outras instâncias que não a Secretaria Operativa Nacional do movimento.
Assim, como é grave e equivocado não trazer esse debate para avaliações
dentro do partido. Entendemos também, enquanto mais um equívoco
encampar esse encaminhamento através de uma frágil fundamentação política
e teórica da proposta, onde pouco foi demonstrado e argumentado sobre bons
exemplos desse tipo de projeção nas organizações revolucionárias. Também é
relevante lembrar que o Levante é uma organização de jovens, uma experiência
nova, que não está longe de ter fragilidades, e que tal encaminhamento pode sim,
conduzir a um processo de fragilização profunda do movimento.
42
Pág. 119-121. O partido com paredes de vidro. Álvaro Cunhal. Editora Expressão Popular.
43
Pág.120. Idem.
66
A verdadeira referência de um militante ou de uma instância de direção provêm
dos acertos das suas decisões, do trabalho coletivo, da busca por opiniões e
contribuições. São reflexos de um ambiente em que o culto à personalidade se
instaurou: os balanços defeituosos das ações, apresentando os êxitos,
ocultando deficiências e erros; e a insistência de valorizar diversas vezes os
méritos de um militante ou de um organismo de direção.
Sigamos.
Como se não pudesse piorar, a “proposta” foi apresentada enquanto uma proposta
fechada, direcionada, ou seja, basicamente um informe, visto que a Secretária
Nacional do Levante tem sido cada vez mais inexorável e intolerante com qualquer
pontuação que divirja do que “propõem”. Nesse informe, não foi sequer
mencionado, por exemplo, a rejeição a candidatura da parte da Coordenação
Estadual do Levante-SP e da parte da Direção Estadual da Consulta-SP.
67
Alguns Dirigentes ali presentes divergiram e pontuaram que a decisão de lançar a
candidatura própria do Levante poderia afetar a coesão interna do movimento, além
de trazer outros problemas, como a possibilidade de fragilização do trabalho de
base, o pouco tempo para maturação da proposta e as distintas relações, nos
estados, entre Levante, PT e suas diversas correntes. A Secretaria Nacional do
Levante se mostrou inflexível, sendo a pauta postergada para o último dia da reunião
devido ao impasse. Enquanto isso “bilaterais” e conversas de canto foram operadas
para tentar passar a proposta a todo custo. Uma subestimação e desrespeito ao
debate coletivo. Isso não quer dizer que não possamos conversar sobre os
temas nos corredores ou consultar uns aos outros principalmente quando há
dúvidas ou incompreensões, porém, definitivamente não pode acontecer
através do direcionamento da Secretaria Nacional do Levante para esvaziar o
debate coletivo, transparente e público.
4.3. O método
68
Por que não é possível?
69
fortalecer as leituras dos cadernos de debate, os seminários e outros instrumentos
de envolvimento no período assemblear? Ao contrário, é latente na militância da
Consulta que também é do Levante o desconhecimento e falta de
estímulo/direcionamento por parte das direções nacionais o envolvimento no debate.
A quem serve a falta do conhecimento das divergências teóricas e políticas
que estão sendo apontadas nos debates? É necessário que o corpo militante da
Consulta se inteire sobre isso. Se tem acontecido deliberadamente ou se são outras
as prioridades que estão sendo postas em detrimento da vida da Consulta e da
nossa VI Assembleia.
Frisamos que não falamos isso por achar que os militantes que fazem parte das 2
secretarias não estejam com problemas, com sobrecargas também. O que tratamos
aqui é: Estaria esse grupo de militantes realmente convencido da centralidade
do nosso processo congressual e da construção da Consulta Popular?
Queremos também debater o que tem acontecido no Levante, pois é fruto direto dos
acontecimentos da Consulta. Decidimos isso não por querermos apontar dedos,
muito menos porque sejamos os bastiões do método, práticas e valores. Mas, sim
porque o que está sendo pleiteado aqui é a mínima condição de termos um
debate justo, onde todos possam falar, ser ouvidos e questionados, com
posições políticas, argumentos lógicos, deslocando de forma incisiva e
objetiva qualquer pessoalidade que esse debate possa transparecer, seja
propositalmente ou involuntariamente.
Sendo extremamente difícil contornar a confusão semeada. Não é fácil sair de uma
situação quando uma direção nacional interroga de forma irresponsável e
deslegitima uma direção estadual para os novos militantes com perguntas
70
capciosas, tais quais: “É esse tipo de direção que dirige vocês?” ou “Vocês não tem
vergonha de ter essa pessoa como dirigente?”, transplantando de maneira distorcida
as divergências presentes na Consulta - Começou a ser comum ser relatado por
militantes que ouviram da Secretaria Nacional – falamos isso não para taxar
esses militantes, mas para que possamos colocar os pingos nos i’s e que
possamos delimitar bem os epicentros irradiadores do problema do método
que trazemos-, que Sergipe estava “revoltado” e sofrendo um desvio chamado
“derrotista” ou “pessimista”, isso por “apenas” reconhecermos as
consequências da resolução firmada na V Assembleia de que sofremos uma
Derrota Estratégica; que nossos militantes eram indisciplinados, assim como
também começamos a receber “orientações informais” em tom apelativo de
que caso não seguíssemos as saídas de massificação (a todo custo e de
qualquer forma) apontadas pela Secretaria Nacional do Levante, morreríamos
enquanto organização em nosso estado.
A situação que vivenciamos na relação dos nossos militantes, assim como nos
espaços nacionais (mesmo os que não fazem parte da Consulta, mas constroem
o Levante) tem sido de constrangimento e asfixia, compreendemos isso como fruto
do processo de esvaziamento do debate político dentro da Consulta e consideramos
que essas questões poderiam ser evitadas se nossos companheiros e companheiras
tivessem compromisso com a construção da Consulta e seus percalços.
71
4.4 Considerações
44
Pág.189. As tarefas dos social-democratas russos. V.l.Lenin. Obras escolhidas: volume 1°. Editoria
Vitória.
72
Muitos são os adjetivos negativos que se emplacaram sobre o conceito de partido
leninista. Dentre eles, o de que o mundo mudou o suficiente para imergirem outros
setores e sujeitos que não precisam se organizar em partidos, ou que o instrumento
partido leninista é algo dogmático, burocrático e atrasado. O plano de fundo de todo
esse questionamento está moldado por dois importantes desvios: um é do culto ao
espontâneo, que crê que a revolução não precisa ser organizada e que a própria
massa pode, através de seus instrumentos de luta econômica-social construírem
suas transformações. O outro é o próprio reformismo, que dispensa o instrumento
leninista, pois no seu horizonte já não está a perspectiva revolucionária da tomada
do poder do Estado para pôr em prática a transição socialista.
73
O Partido deve ser, sob pena de perder o seu conteúdo e sentido, o comando
unificador de dirigentes sociais e sindicais, guiados por uma estratégia
revolucionária.
Isso quer dizer que os dirigentes dos movimentos populares e sindicais não tem
capacidade de construir uma estratégia revolucionária?
De maneira alguma! Como pode uma teoria ser validada? Como pode uma
estratégia ser testada? Se não existir nosso envolvimento no trabalho de
organização da classe trabalhadora brasileira? Assim, temos que reconhecer que o
próprio trabalho de base de organização para a luta reivindicativa e econômica é
parte concreta da construção da estratégia revolucionária. São nas nossas bases
populares que organizamos o povo, que validamos a justeza da nossa linha política,
que adquirimos uma compreensão melhor das problemáticas do nosso povo,
tomando lições sobre sua história, entretanto, todo esse acúmulo e conhecimento só
pode de fato servir a revolução brasileira caso se vincule a uma estratégia de
tomada de poder conduzida por uma vanguarda. Essa vanguarda é o Partido.
45
Pág . Somos a Consulta Popular. Segundo caderno de debates. Dalva Angélica, David Libório,
Erick Feitosa, Herick Argôlo.
74
Mas afinal de contas, o que é o partido?
Assim, a postura do partido político é de apontar para a classe oprimida pelo que ela
luta e pelo que ela deve lutar:
“Não dizemos ao mundo – escrevia Marx em 1843- ‘deixa de lutar, toda tua luta não
vale nada’. Nós lhe fornecemos a verdadeira palavra de ordem de luta. Só fazemos
mostrar ao mundo aquilo por que ele está realmente lutando, e a consciência é uma
coisa que o mundo deve adquirir, querendo-o ou não.”47
No Equador, no ano tal (2019), em virtude do corte, por parte do governo de Lenin
Moreno, de programas sociais históricos que a comunidade indígena detinha, foi
deflagrada um série de revoltas que foram capazes de superar a repressão das
forças estatais, ocupando a capital do país e instaurando insurreições em outras
importantes cidades. Entretanto, o que surgiu como um bom vento de embates que
poderiam gestar uma revolução logo cessou.
46
Pág. .Somos a Consulta Popular. Segundo caderno de debates. Dalva Angélica, David Libório,
Erick Feitosa, Herick Argôlo.
47
Pág. Carta de Karl Marx a Ruge (setembro de 1843). (edição alemã das obras completas de Marx e
Engels, seção I, t.T. parte I, págs.573-574). Menção feita por V.l.Lenin em “Quem são os amigos do
povo e como lutam contra os social-democratas?”. Págs.166-167. Obras escolhidas: volume 1°.
Editora Vitória.
75
resultado foi a capitulação dos interesses reivindicativos-imediatos de um importante
segmento daquele país. Mesmo que tenham reunido condições extremamente
especiais que poderiam sim desenrolar uma crise revolucionaria, pois, tiveram
força o suficiente para vencer a resistência em polos centrais e conquistar
apoio social; não se pôs em cheque a ordem social equatoriana.
Ano passado (2019) o Chile também explodiu uma incrível jornada de lutas sociais.
Essa extraordinária jornada foi capaz de fazer frente a um dos piores aparatos
militares herdados, daquela que possivelmente foi a ditadura latino-americana mais
sanguinária. A falta de perspectiva da juventude, a questão das pensões
privadas e os resquícios da transição conservadora foram pontos de grande
agitação. Tendo como uma das suas sínteses mais visadas à realização de
uma Assembleia Nacional Constituinte.
Entretanto, mais uma vez, a falta de uma vanguarda unificada dotada de uma
estratégia revolucionária orientada pela tomada estratégica do Poder de Estado foi
decisiva para a dispersão de forças, também foi notório e reconhecido pelos próprios
participantes daquelas jornadas que eles foram carentes de uma direção, uma
vanguarda que além de indicar o melhor caminho para as transformações, também
os representassem nas mesas de negociação nacional. O reformismo da centro-
esquerda jogou um importante papel na dispersão das forças populares
chilenas, mas sem dúvida, a falta de uma organização respaldada sobre as
características que defendemos foi o maior obstáculo para uma ruptura
popular.
Ambos são exemplos recentes que de alguma maneira expressaram que a falta de
uma organização que detenha a disposição e a capacidade de dirigir os processos
de insurreição, levando a cabo uma estratégia revolucionária, fez toda falta e faria
toda a diferença.
Por fim, vale observar que, entre os processos abertos nesse século no nosso
continente, aquele que melhor resiste é o Venezuelano. Justo o que unificou
vários segmentos sobre uma estratégia que encara com muita seriedade a
questão do poder e vem demonstrando disposição para construir uma futura
revolução socialista, dando especial atenção para a organização social e o
preparo para o inevitável choque militar.
76
concreta da situação concreta, da realidade objetiva. A vertente movimentista
vai além, unindo num mesmo caldo o sabor do aventureirismo esquerdista
com o tempero da rejeição da organização política e do compromisso
revolucionário. 48
Foram assim nossas palavras de ordem nas jornadas estudantis de maio de 2019 e
tem sido assim com a queda de ministros e vazamentos na atual crise sanitária do
Covid-19. Onde afirmam teses que identificam uma “derrota do
neoliberalismo”, “isolamento de Bolsonaro” e que propagam palavra de ordem
efêmera do “acabou Bolsonaro”. Sendo que, na conjuntura atual o que vemos é,
muito mais a manutenção estrita do programa neoliberal e as possibilidades de um
fechamento do regime democrático. Enquanto, que no início das semanas nos
regozijamos com vazamentos, quedas de ministros e notas de repúdio, no final
das mesmas semanas Bolsonaro se reagrupava e ataca os poderes
constituídos da democracia burguesa e ainda convoca manifestações em seu
apoio. A infeliz metáfora do ministro do meio ambiente, em que no vídeo vazado da
reunião ministerial afirmou que “é hora de fazer a boiada passar”, mesmo sendo
infeliz, é extremamente concreta e aferível pelo noticiário e nas ações
governamentais.
48
Pág. 25. Recalculando a rota(segunda parte). Aton Fon e Ricardo Gebrim. 5° Caderno de debates.
77
diversas tarefas, propostas de ações contínuas, instâncias, setores e coletivos
“simultaneamente”. Se perguntarmos a um militante do Levante Popular da
juventude ou da Consulta Popular qual é prioridade para o período atual ou
qual o seu centro de ação, garantiremos que a respostas serão várias e
díspares, e pior, não ocorrerá a constatação de um centro de prioridades, mas
de vários e diversos.
Dentro disso existem duas questões especiais a se trazer. O próprio abandono dos
dois últimos cadernos de texto e a tentativa de emplacar a tese presente no primeiro
“Por onde anda a coesão do campo do projeto popular?” Do 1° caderno de debates
de 2018, em que se negava as divergências e diferenças de posições apresentadas,
visando o fechamento do debate público dentro da Consulta Popular. Em
lapsos de formulação a ala movimentista se confortou a produzir um diagnóstico de
que a Consulta Popular tem lacunas e debilidades, sem, entretanto, indicar qual o
caminho para superá-las. Sem apontar, por exemplo, qual a contradição
principal ou qual o centro da disputa e atuação que ocorre dentro da Consulta
Popular hoje.
Para completar, e não menos grave, a ala movimentista do partido tem aderido à
proposta da frente ampla sem tocar em quaisquer polêmicas. Se lermos nossas
“orientações políticas” veremos que a declaração de que temos que construir a
frente ampla, não tocam em questões essenciais sobre por exemplo, o recuo no
programa econômico em favor da unidade de ação da centro direita com a esquerda
e as consequências dramáticas que isso pode impor as forças populares.
49
Referimos-nos ao texto que julgamos de essencial leitura para o momento atual “Problemas
estratégicos da guerra revolucionaria da China”, de Mao Tsé Thung. Em:
https://www.marxists.org/portugues/mao/1936/guerra/index.htm
78
No mês de abril, chegamos a ouvir de importantes dirigentes (que conduziam a
análise de conjuntura), em plenária nacional do Levante, proclamarem que as
divergências sobre a Frente Ampla são uma “falsa polêmica”. Logo veríamos a
realização de um dos primeiros de maio mais mórbidos que tivemos o desprazer de
vivenciar, em que a esquerda construiu um palanque para João Doria, Wilson Witzel,
FHC, Davi Alcolumbre, e Rodrigo Maia. Os dois últimos rejeitaram o convite. Nessa
mesma movimentação perdemos a unidade das frações de esquerda como a CSP-
Conlutas, PSOL e CUT’s estaduais que se retiraram do primeiro 1° de maio da frente
ampla. Podemos realmente afirmar que reflexões e ponderações à Frente
Ampla são “falsas polêmicas”?
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Por fim, esperamos que esse texto seja o início de um processo de debate em que
os militantes da Consulta que constroem o Levante possam trazer suas impressões,
apontamentos e opiniões sobre o passado, presente e futuro da nossa organização.
É nítido que nesses 8 anos de existência nacional, com muitos dias de lutas,
aprendizados, derrotas, glórias e muito amor ao nosso povo, o Levante chega hoje
com um histórico, coluna de militantes e acúmulo político incomparáveis com
qualquer outra organização de juventude do Brasil. Naturalmente, e principalmente
em momentos de derrota, problemas e falhas precisam ser observadas a fim de
serem corrigidas. Nosso desejo nesse texto não é apontar críticas pessoais muito
menos críticas sem intencionalidade, mas sim oportunizar ao conjunto da Consulta
Popular uma reflexão a partir de militantes da sua juventude, embora sejam
problemas presentes no todo da Consulta, pela relação simbiótica do Levante e
CP, esses problemas se materializam fortemente no movimento. Estamos ansiosos
para que as companheiras e companheiros, assim como nós, se desafiem a
sistematizar suas análises e socializá-las.
79
militantes. E nem corrigimos por decreto, mas pela luta interna e pela alteração da
cultura política que predomina na Consulta no momento atual.
80
________________________________________________________________________
50
Núcleo de Caetité - Consulta Popular Bahia.
51
Núcleo João Leonardo - Consulta Popular Bahia.
52
Núcleo Suburbana - Consulta Popular Bahia.
53
Consulta Popular Bahia.
54
Núcleo Ilhéus - Consulta Popular Bahia.
55
Núcleo Padre Josimo – Consulta Popular Tocantins.
81
APRESENTAÇÃO
Este texto foi escrito a partir do esforço coletivo de retomarmos alguns debates
sobre nosso Partido, que nos parece necessário nesse momento, de esforço geral
do diálogo interno para a construção permanente deste instrumento que se coloca
no desafio de apresentar linhas para a construção de um Projeto Popular para o
Brasil. Não é pretensão nossa a apresentação de uma novidade, mas sim a
retomada de debates e provocação da necessidade de realizarmos um processo
avaliativo (crítico e autocrítico) genuíno e maduro a partir do exercício dialético do
centralismo democrático, ou seja, da combinação da direção política e da discussão
democrática (HARNECKER, 2019).
Nos alegra e anima o reconhecimento de que partimos de um leito histórico que nos
estimula a formularmos coletivamente propostas de atuação planejada com vistas à
transformação radical da realidade. Do mesmo modo a pedagogia do exemplo,
contida nos princípios e valores socialistas, nos educa a manter sempre viva a
iniciativa disciplinada de exercitar o debate interno responsável e sempre mais
qualificado como motor para fortalecer nossa organicidade e consolidar o pilar da
formação permanente dos Quadros do nosso Partido.
Nesse sentido este texto se apresenta em três tópicos introdutórios acerca do que
entendemos como centralidade para o debate neste momento. O Primeiro tópico
trata da Crítica, a nosso ver, necessária para que não façamos do presente e futuro
a repetição dos erros do passado. Nele retomamos a reflexão de que os problemas
centrais da Consulta Popular não surgem do contexto recente, mas de nossos
limites e lacunas organizativas que são decorrentes de processos anteriores e mais
estruturais que comportam tanto o Partido quanto o Campo Político em geral. Erros
estes que precisam ser avaliados e superados. A partir desta linha, o segundo tópico
recupera do debate sobre a Consulta Popular e sua tarefa partidária buscando
afirmar que, sim, somos um Partido e que possuímos tarefas específicas junto ao
Campo Político e que, por isso mesmo, precisa ter um trato particular a partir de sua
caracterização, qual seja: Formação de Quadros para as tarefas revolucionárias
junto aos instrumentos de luta de massa.
82
O terceiro e último tópico se dispõe a endossar as afirmativas de que existe uma
problemática estrutural reformista que nos tem colocado numa condição de
subordinação (e não de uma condução unificada) e impossibilitado que a Consulta
Popular se afirme enquanto Partido e assuma a tarefa programática de ser o elo que
reflita a linha geral do Partido que queremos para o Campo do Projeto Popular para
o Brasil. Nele retomamos a relação indissociável entre Movimentismo,
Economicismo, Ecletismo com o Reformismo que, a nosso ver, se trata de um
fenômeno político de caráter parasitário que reflete os interesses da normativa
liberal, porém dentro das camadas democráticas não liberais.
Como se pode perceber, são debates que já foram iniciados no decorrer das
publicações dos cadernos de debates que nos antecederam e que, ao retomarmos
aqui, estamos afirmando que o debate não se esgotou porque ainda possui questões
a serem aprofundadas e dissecadas até que toda a militância de todos os cantos do
Brasil esteja apropriada e disposta a participar democraticamente deste mesmo
debate. Isso para nós é o que representa uma vida interna democrática ativa e fluida
em que “as construções de posições e o enriquecimento mútuo por meio do
intercâmbio de opiniões” (HARNECKER, 2019) seja, para nós, o constitutivo dos
consensos e/ou da maioria real nas definições do Partido.
Nossa tentativa de contribuição para a Consulta Popular (CP) frente aos debates
centrais que enfrentamos nesse momento histórico deve ser primeiramente um
esforço de não fazermos uma pura repetição das discussões já apresentadas em
Cadernos de Debates anteriores. Também não temos pretensão de sintetizar tais
debates, mas continuarmos dialogando sobre a necessidade de não nos negarmos
enquanto partido e, portanto, contribuir enquanto instrumento político partidário para
a construção da revolução brasileira.
A Crise da Consulta Popular está articulada dentro da profunda crise que enfrenta o
conjunto da esquerda brasileira. Essa crise é de ordem estratégica, por isso,
ideológica e organizativa, tendo como desvio fundamental o reformismo. Assim,
avaliamos que a nossa prática política tem forte influência deste processo anterior.
83
Além disso, é diante da ofensiva do inimigo e da necessidade de respostas políticas
a uma complexa conjuntura que se tornam visíveis as nossas debilidades.
São situações que vem se arrastando por anos, nos sucessivos debates e
problemas em latência - seja na discussão para ser ou não um Partido, seja no
debate do programa estratégico, seja na definição de uma identidade - que
acabavam sempre priorizando a “coesão” e a “repactuação” do campo, e assim
sendo fomos postergando o que precisava ser enfrentado politicamente. Ao fim e ao
cabo sabemos hoje que nunca surtiram os efeitos necessários, pois sempre
tangenciamos e não tratamos “a doença para poder salvar o doente”.
A crise particular da CP, é histórica e tem como centro fundamental a relação com
nosso campo político, principalmente com o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) devido a sua maior envergadura obtida a partir de seu papel
cumprido na história recente da luta política brasileira. O MST, assim como os
demais movimentos da Via Campesina são carregados de muitos méritos, acertos e
qualidades valorosas, as quais incorporamos e ainda são muito importantes hoje e
ao longo da nossa existência.
Apesar dos nossos tímidos avanços numa concepção partidária, vivemos momentos
de idas e vindas, já que em muitos momentos tivemos que ceder para não romper
com o campo político, pois surgimos atrelados umbilicalmente a ele. Podemos
destacar, como exemplo, a questão a respeito da nossa posição negacionista e
fluida em relação a tática eleitoral, já que se tornou comum fazermos referências
anacrônicas enquanto lacunas decorrentes puramente de uma relação de vontade,
escondendo as contradições em que estávamos submetidos em cada circunstância.
No caso específico, é importante mencionar que o conjunto de militantes que se
organizaram na CP se aproximaram da organização a partir de uma frustração com
a centralidade da luta eleitoral na esquerda majoritária, associada com desvios
ideológicos. Enfrentar esses desvios, assumindo as consequências políticas naquele
84
período conduziria a um esvaziamento CP que continuava seu processo de
construção em meio a uma grande rotatividade de militantes.
Outro fator nesse processo que avaliamos, é que pela capacidade visionária e sua
estrutura obtida na luta, são também os movimentos, com destaque para o MST,
que estrutura as condições indispensáveis construção e massificação de um partido:
Escola, Jornal, Editora, associado a isso, somos dependentes financeiramente dos
movimentos do nosso campo político, com destaque mais uma vez para o MST, já
que não temos legenda para ter um fundo partidário e é débil a nossa atuação
sindical, condições essas que historicamente são as bases do financiamento das
organizações políticas de caráter partidário durante o século XX.
Não sendo a CP esse centro nos parece existir duas tendências: continuar jogando
“água no moinho” reformista, pois “toda e qualquer” iniciativa deságua na tática
eleitoral com programas cada vez mais rebaixados onde a questão da tomada do
poder de Estado sequer é citada. A outra tendência será “iniciação” de uma outra
construção reproduzindo os velhos vícios movimentistas distante de um instrumento
partidário revolucionário.
85
somos hoje. Ademar Bogo elucida este fato num texto crítico ao processo
assemblear de 2011,
[...] temos que falar dos limites se quisermos avançar. Isto não quer dizer que
sejam desvios ou má vontade de fazer diferente; são simplesmente limites
que, ou pelas deficiências no campo das ideias ou pela busca recente de um
lugar afirmador da opção feita (ainda não encontrado), nos torna reféns de
um processo que não deixa ou nos tira a força de romper as barreiras para
construirmos mais livremente o projeto que queremos (BOGO, 2011, p. 01).
Precisamos fazer o que não foi feito até agora na CP e estamos muito aquém do
necessário – política e organizativamente - para sermos decisivos no processo de
construção da revolução brasileira:
86
fatos supracitados, é importante destacar que a nossa construção é de idas e vindas
e de afirmação enquanto instrumento político de caráter partidário, destaque que
exige uma crítica fraterna, considerando o nosso legado e especificidades históricas.
Neste processo a nossa construção tem grande peso junto aos movimentos do
campo popular, no movimento estudantil e em experiências territoriais a partir da
organização do Levante. Porém, enfrentamos uma profunda fragilidade no mundo
sindical e na organização do proletariado espalhada pelas diversas periferias
brasileiras.
Por outro lado, apesar de a organização do MTD ser um esforço desde os anos
2000, a política dos governos petistas de melhora das condições de vida da classe
trabalhadora debilitou a condição de avanço do instrumento de organização das
periferias, já que as bandeiras econômicas fundamentais que poderiam alavancar o
movimento naquele período histórico foram absolvidas por uma política
governamental que garantia praticamente o pleno emprego e aplicava um dos
maiores programas de habitação popular, mas amputado de uma política estratégica
e organizativa. Associada à isso, a nossa ausência de quadros para as tarefas -
sindical e urbana -, principalmente porque após a Assembleia Nacional de 2011, os
nossos principais militantes estavam envolvidos na tarefa de construção do Levante
Popular da Juventude, debilitando as condições de avanço na organização de
experiências permanente nas periferias - embora os nossos esforços estejam
carregados de aprendizados - e dos trabalhadores do mundo sindical. No entanto, os
esforços nos permitiram embriões importantes de organização na educação,
resultado do trabalho do Levante neste setor, assim como de qualificação da
ferramenta do MTD para atuar neste momento histórico que foi intencionalizada
desde a Assembleia Nacional de 2017.
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Em suma, quando olhamos para a história da CP observamos que “um conjunto das
nossas limitações, fragilidades e acertos estão associadas à nossa relação com o
campo popular, com predominância para o MST, sendo que o principal problema
decorre da nossa dependência econômica e política. As tensões históricas decorrem
de um conflito envolvendo concepções políticas (ideológica e organizativa), já que
grande parte dos/das dirigentes responsáveis pela nossa construção não puderam
acolher na sua totalidade a concepção de uma organização de caráter partidário
marxista-leninista pela sua relação com o movimentismo. Este choca-se com uma
concepção partidária que veio se desenvolvendo na CP, levando a um
desenvolvimento que foi incompatível para conseguirmos ser o centro político do
campo popular, que seguiu sendo o MST pela sua história, e que apesar de não ser
um partido político, era essa a referência para fora com as demais forças, e por isso
a CP era vista muito como a expressão do MST.
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concepção partidária - não seria o processo, ou seja, a forma que iria dirimir esse
problema. Nosso arremedo de síntese acaba sendo manter a unidade, que tem
como a outra face da moeda negação da identidade da CP enquanto partido.
Posteriormente, apesar dos principais dirigentes do MST serem eleitos enquanto
dirigentes da CP na V Assembleia, eles se afastam das instâncias da organização,
sem haver uma construção ou participação do processo de crítica e autocrítica que
nos propomos. E por sua capacidade de influência, o MST se mantém na direção do
campo a partir de uma análise e linha política que além de “não ser a da CP”
indiretamente nos secundariza e os aproxima da linha reformista hegemonizada pelo
Partido dos Trabalhadores.
Não é de nosso interesse fazer uma análise profunda desses aspectos, pois
consideramos que esses elementos já foram bem abordados por análises que nos
antecederam. Portanto, apontamos que o que prevaleceu na CP não foi uma
concepção dirigista, pelo contrário, foi uma concepção Movimentista. Em segundo
lugar, devemos identificar que o papel de uma organização partidária é sua
capacidade de direção, e para isso, precisa de uma análise e política para municiar a
sua militância no convencimento das frentes de massas.
O outro aspecto envolvendo o papel do MST na atual fase da luta política é para nós
um apontamento errático, já que pelo contrário, temos muito bem definido o papel e
a capacidade do MST em todo o nosso processo histórico. O que está em debate
envolve uma concepção política, pois o núcleo central do MST não pode admitir uma
construção de concepção partidária pela necessidade em manter a sua convivência
pacífica interna no movimento e por isso fluida, entrando em choque com o
desenvolvimento da CP no interior de um campo popular que tem como maior
influência o MST.
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Ainda sobre os apontamentos, destacamos que a bandeira da Constituinte foi o
maior acerto político da história recente da CP. Defendê-la, em especial em um
momento que o inimigo abria uma ofensiva, foi uma definição responsável com a
nossa leitura teórica e situação da luta de classes até 2015. A derrota da
possibilidade de manutenção da bandeira da Constituinte não decorre de um
equívoco de análise, mas sim da hegemonia do reformismo e dos desvios
esquerdistas que não permitiram a sustentação de uma bandeira que pudesse
fustigar o cerco do inimigo. O golpe nos coloca em uma nova situação política, em
que o nosso erro foi a manutenção dessa bandeira enquanto saída política para o
momento até a Assembleia de 2017, mas esse último aspecto é secundário com o
centro da nossa contradição histórica em particular.
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debilidades teóricas e uma prática desviante constitui uma organização doentia que
afasta as mulheres, pretos/as, LGBT’s, ou seja, parte fundamental da classe.
Fundamentalmente, esses aspectos nos exigem um enfrentamento político
ideológico e organizativo para que a organização concretamente avance nesse
sentido, sendo fundamental a autocrítica na práxis cotidiana como um exemplo
fundante.
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com baixa organicidade não maturou ainda os seus aspectos fundamentais de
funcionamento.
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mudança da situação política cabe um ajuste teórico necessário que prepare a
militância para enfrentar os desafios atuais da realidade.
Os aspectos tratados até aqui o autoriza ninguém a dizer que estamos negando a
importância dos movimentos sociais que compõem o que chamamos de “campo do
projeto popular” para a nossa formação histórica e atual. Chamamos atenção para a
necessidade da Consulta Popular se afirmar enquanto centro de orientação política
da sua direção e militância, e por isso, a necessidade de amplo debate sobre os
temas centrais que subsidiem a nossa prática política. O alerta é para que o campo
do projeto popular não se torne o centro onde definimos a nossa política, nos
anulando enquanto instrumento de caráter partidário. Ainda que seja de nosso
interesse cativar e convencer este campo sobre as nossas análises, assim como
incorporar na qualificação da nossa política a respeito do que o campo produz de
análise e prática política, enquanto relação pedagógica da nossa história, sem abrir
mão do nosso desenvolvimento com independência política ideológica. Porém,
mesmo a política referente às nossas frentes de atuação tem perpassado pela CP
somente enquanto repasses das definições, anulando nossa possibilidade enquanto
partido de elaborar uma reflexão de acordo as nossas prioridades, que possa
instrumentalizar a nossa militância no convencimento das respectivas frentes de
massas, sem perder o zelo político pelo campo popular.
Não estamos fazendo uma crítica distanciada deste processo, pelo contrário, nos
colocamos dentro dessa crítica na medida que construímos as frentes de massas e
somos na maioria das vezes ausente e irresponsável em fortalecer dentro do partido
esse exemplo pedagógico. Relação que explicita as vísceras abertas com o
movimentismo, e por isso, a necessidade de superarmos, se realmente queremos
levar até às últimas consequências um projeto revolucionário.
Parece então que nos falta no debate da Consulta, um degrau que não deixa subir a
escada. Ou seja, o degrau inferior está muito abaixo e o degrau superior, está muito
acima, logo, ficamos pendurados sem forças para seguir e propensos a descer.
Então as ações não aparecem, as inserções não acontecem e as formulações dos
métodos não avançam.
No último período temos quase que totalmente nos limitado a organizar lutas
reivindicatórias e agendas de luta que no máximo nos possibilitam conquistas
imediatas, todavia, sabemos que isso os movimentos sociais fazem e bem antes
mesmo da CP existir. E cabe mais uma vez afirmarmos que os movimentos atuam
em coerência com sua própria especificidade, mas para nós enquanto partido
político é o mesmo que nos negarmos para existirmos, no entanto acabamos não
sendo o partido nem mesmo o movimento.
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lógica movimentista, tendo como dinâmica de que a ação deslocada da teoria que
faz a revolução, no caso, caminhamos para um abismo sem precedente. Não nos
falta exemplos do conjunto de iniciativas políticas que já foram construídas nos
últimos anos sem nenhum equacionamento com a nossa análise da realidade e em
despropósito com um plano estratégico. Por isso mesmo, essas mesmas iniciativas
ficam pelo caminho e simultaneamente somos incorporadas a outras iniciativas sem
nenhuma consulta ou debate coletivo para garantir um balanço dos acertos, erros e
acúmulos. A manutenção dessa forma arcaica de política, sobrecarrega e afasta o
trabalho da nossa militância de um horizonte de poder. Não enfrentar este problema
com toda a organização é afirmamos a nossa irresponsabilidade com o nosso maior
patrimônio, a militância e com um projeto revolucionário.
Sabemos que não nos é suficiente apenas o partido para impulsionar a revolução
proletária, mas também não é suficiente apenas a luta de massas. Dentro dessas
duas tarefas imprescindíveis para a construção da revolução não adianta dizermos
que temos que construir concomitantemente as duas porque isso não é suficiente, e
mais ainda, nossas limitações e fragilidades não permitem, por isso a importância
em dar centralidade as questões que ficaram em aberto durante esses 22 anos
passa a ser decisivo.
Já argumentamos no decorrer deste texto que o nosso problema envolve uma crise
política interna, que é também uma crise histórica e teve seu ápice nesse momento,
decorrente dos elementos já expostos nos tópicos anteriores. O reformismo assim
como o esquerdismo correspondem a uma linha tênue para qualquer organização
política e provavelmente nenhuma organização, mesmo tendo já combatido os
referidos desvios estará completamente livre da necessidade de tempos em tempos
precisar combatê-los. Essa não é uma questão de menor importância para um
instrumento político de caráter partidário, é na verdade um aspecto fundamental que
pode decretar não o fim da organização, mas da sua capacidade de levar à frente
um projeto revolucionário. Estamos dizendo com isso que sem a correção desses
94
desvios é possível a organização continuar existindo e até mesmo crescer e ganhar
relevância, mas não mais tendo como estratégia a centralidade na tomada
revolucionária do poder de Estado.
Não nos cabe aqui retomar este debate que acumulamos sobre o significado de
partido leninista, que tem como fundamental expressão a capacidade criativa de
elaboração e construção para cada realidade histórica, mas, mantendo os seus
aspectos fundamentais no que se refere ao eixo teoria-movimento. Ou seja, a
organização partidária precisa ter a vocação de formular permanentemente uma
política para atuar em cada conjuntura histórica com o objetivo de tomar o poder do
Estado para o seu definhamento e construção de uma sociedade comunista.
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Com isso queremos dizer que os elementos dessa velha sociedade da qual
precisamos no desprender, permanecem presentes em nossos círculos políticos,
adoecendo nossa organização, impedindo de levarmos a frente as tarefas políticas
de construção do poder da classe trabalhadora. Ademais e associado a este
aspecto, a nossa construção envolve uma alta irregularidade organizativa e
ideológica, tendo contradições específicas nos diversos territórios que estamos
inseridos.
São essas debilidades que nos afastam de uma prática/cultura política
revolucionária. E por isso debilita o método, que é o processo de construção e
garantia de funcionamento de uma organização.
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amplo junto à sua direção, reforçando a dinâmica do “tarefismo” sem
desenvolvimento criativo dos seus membros. Pois, como destaca Bogo (2000)
“Formar quadros significa incorporar os lutadores em os todos planos. Dirigir é tomar
decisões, por isso é que se torna quase impossível formar quadros fora do espaço
onde se tomam as decisões” (p.85).
Política de quadros
O critério de participação não deverá ser a questão dos movimentos sociais, mas, no
que tange ao compromisso político, ou seja, estratégico com a organização. Em
segundo lugar, é fundamental que esses sujeitos façam parte da classe trabalhadora
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na sua diversidade. Em terceiro lugar, esses sujeitos devem se subordinar a maioria,
garantindo a liberdade de expressão internamente, pois sabemos que até mesmo as
minorias podem ter razão.
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e o fortalecimento do marxismo-leninismo. Neste aspecto é imprescindível que todos
núcleos mantenham periodicidade de acompanhamento por membros das direções
estaduais, assim como as direções estaduais possam ter uma periodicidade de
acompanhamento pela direção nacional.
Método
Já afirmamos que o método corresponde, antes de tudo, a uma prática política. Esta
deve está orientada para seus objetivos estratégicos e táticos. Sem a definição clara
dos objetivos que deve ser traduzido na sua política não existe método.
Neste caso, é fundamental o fortalecimento de uma direção coletiva, e por isso, das
suas instâncias e o pleno debate interno, combatendo sempre o oportunismo e o
esvaziamento das instancias e do conteúdo da política, com respeito a maioria e da
minoria na sua diversidade e fortalecendo a unidade numa concepção política
partidária. Para isso, a necessidade de garantir as condições de correção dos
desvios fundamentais que corroem essa organização, com o objetivo do exercício
coletivo do poder. Sendo fundamental que a Consulta Popular em todas as suas
instâncias incentive e desenvolva permanentemente os processos de crítica e
autocrítica, desde a nossa estratégia e tática política, assim como a conduta da
nossa militância com para qualificarmos a nossa ação revolucionária.
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Setores
Instâncias
É preciso discutir qual a nossa política e qual o tamanho da direção necessária para
dar conta de um funcionamento adequado para as instâncias. Precisamos fazer
muitos ajustes organizativos. Desde já devemos refletir que uma direção nacional
com 64 pessoas é inviável pelo tamanho da nossa organização e pela média de
participação. Por outro lado, diante da possibilidade de aprofundamento dos limites
de reuniões amplas em decorrência das questões de ordem financeira e política, é
necessário refletirmos sobre os ajustes, para a viabilidade de manutenção de um
coletivo em permanente funcionamento, ou seja, com maior periodicidade de tempo
em encontros de formação, debates e definições. Desse modo a DN precisa ser
ajustada quanto a sua composição para dar conta desses objetivos.
100
A instância basilar: os núcleos
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continuam sendo corriqueiras e nossas respostas quando não são
insuficientes acabam gerando outros problemas decorrentes da forma como
as tratamos.
Para dar conta desses problemas, em primeiro lugar a CP terá que enfrentar um
debate teórico a respeito do reformismo, dotando a organização de uma concepção
partidária e para isso a aplicação de política (ideologia e organização) revolucionária.
Em segundo lugar, garantir um plano financeiro adequado às condições políticas da
organização, levando em consideração a sua militância. Por fim, e não menos
importante, os núcleos devem ser um espaço agradável, místico, acolhedor, que
unifique sujeitos diferentes, mas, com muita criatividade e dedicação para refletir o
particular e o universal num ajuste permanente da política.
Política de Finanças
Sabemos que avançar nas condições de finanças exige um ajuste da política que
possibilite a nossa orientação e acúmulo de força. Todavia, é pouco provável termos
uma política acertada sem uma política revolucionária de finanças. Entendemos que
vivemos uma profunda dependência dos movimentos do nosso campo, pela nossa
limitação em construir avanço numa política de finanças. A razão decorre, inclusive,
do processo que desenvolvemos até aqui, tendo como relação fundamental o
distanciamento das condições clássicas de autofinanciamento e que na atual
conjuntura ficaram ainda mais difícil.
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diversas. Mas, quase todas elas são insuficientes – quando não pouco conhecidas -
para dar conta das nossas necessidades.
Entendemos que para dar conta deste desafio fundamentalmente devemos precisar
a nossa política e as nossas prioridades. Por consequência devemos definir as
condições organizativas necessárias para dar conta desta política. Por isso,
devemos considerar precisamente os custos de funcionamento da secretaria
nacional - para isso temos que pensar em prestação de contas - das nossas
instâncias e garantia de liberação de nossos/as principais quadros. Concomitante a
este levantamento, toda a organização deve-se comprometer a fazer um profundo
debate sobre as condições de sustentação financeira com o objetivo de dar conta da
política da organização.
Esses aspectos tratados são apenas sugestões reflexivas dos nossos aprendizados,
debates e olhares sobre essa construção. Cabe um aprofundamento pelo todo da
organização a respeito dos aspectos mencionados e outros fundamentais à nossa
organização. Cabe equacionarmos a nossa política organizativa para sermos cada
vez mais um partido imbuído de uma estratégia revolucionária de poder.
Com isso já fica explicito aqui que partimos da afirmação e princípio de que a
Consulta Popular precisa ajustar sua conduta e retomar o caminho indicado
103
coletivamente na Assembleia Zilda Xavier e da qual se afastou profundamente.
Reconhecemos que se tem hegemonizado a prática não centralizada do Partido e
que, os três desvios acima mencionados, tem sido uma constante e têm se
manifestado na ausência de direção política coesa e coerente, ausência de política
de formação de quadros que possibilite-nos atuar em tempos desfavoráveis, práticas
artesanais e dependentes, incapazes de orientar política e organicamente o corpo de
militantes na linha daquilo que nos afirmamos: Partido Revolucionário!
Desde 2018 até os dias atuais (com Crise Sanitária) o movimentismo tem sido a
marca das ações do nosso Partido indicando, com gravíssimo erro, que parecíamos
estar em igual situação de forças com a classe inimiga. Conduta equivocada e que
colocou em risco não apenas nossa tática, mas a estratégia e quanto mais erramos
mais nos afastamos do objetivo que é a Tomada do Poder. Seguimos 2019 na
mesma dinâmica como se as condições fossem as mesmas de 2002, 2006 e 2010
nos comportando com a mesma falta de autocrítica dos partidos hegemônicos de
esquerda (aliás, como se fôssemos a tendência mais atualizada deles) e sem saldo
organizativo algum.
Chegamos em 2020 e nos deparamos com uma das situações mais difíceis e
dolorosas da humanidade na contemporaneidade e a Consulta Popular se mantém
refém do mesmo movimentismo criticado e reconhecido por toda a organização
ainda no início do mesmo ano. Sem linha política revolucionária o partido se limita a
se movimentar mecanicamente na tendência artesanal e não consegue
profissionalizar seus quadros para atuarem em circunstâncias tão desfavoráveis
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Abordamos a categoria movimentismo numa relação dialética e trata-se tanto da sobreposição do
movimento de massa em detrimento do partido, quanto da prática de realizar ação pela ação,
baseada na análise aparente da realidade, sem o estudo adequado da realidade para que se possa
atuar sobre ela de modo a cometer o mínimo de erros táticos possíveis. São movimentações táticas
que vão sendo realizadas, ações após ações, sem avaliação, sem medir o acúmulo de forças, sem
sentir o terreno real das correlações de forças, etc.
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como esta de Guerra e necessidade de recuo organizado. Parece-nos que não
compreendemos a situação em que vivemos, então recordemos as afirmações de
Lenin quando diz que para conduzir corretamente o movimento revolucionário é
necessário a compreensão da situação política, das forças que se enfrentam, da
forma mais disciplinada, cuidadosa, exata e serena possível.
Do mesmo modo, com a falta de linha política que oriente para a formação
revolucionária de quadros, o Ecletismo se tornou a centralidade teórica desdobrando
na mais desastrosa teorização contemporânea pós modernista, intimista
(COUTINHO, 2011) e não raras vezes que intimida, nega o debate e esteriliza as
construções coletivas, sem a prática do método dialético, levando à hegemonia da
análise da aparência da realidade apenas. Reduzindo assim a objetividade e
subjetividade do indivíduo e das relações a uma questão de vontade e não à
dinâmica interna desta em relação à condições dadas. Aqui voltamos a reafirmar que
a teoria revolucionária é que deve orientar toda e qualquer leitura da realidade
desenvolvida pela Consulta Popular.
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um partido que se reivindica revolucionário. O economicismo sempre beneficia e
fortalece as forças hegemônicas e coloca em situação desfavorável toda a ala
revolucionária, recordemos o que foi o neodesenvolvimentismo e a perda do
horizonte revolucionário. O ativismo, o assistencialismo sem o exercício interrupto da
organização de camadas e mais camadas das classes populares apenas desgasta
as forças e nos expõe física e politicamente. Lenin já nos alertava que se não somos
capazes de forjar revolucionários profissionais nosso trágico destino será o
Reformismo e para isso não há salvação.
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liderada pela Classe Trabalhadora. Vejamos a experiência de governos
progressistas que implantaram o neodesenvolvimentismo no início dos anos 2000 na
América Latina (Paraguai, Argentina, Brasil, Chile), ou de partidos como o PT57 que,
ao optarem pela governança, perdeu o horizonte revolucionário e assumiu o
reformismo58 como centralidade.
57
“Enquanto isso, o pensamento que diz não haver alternativa senão a saída capitalista, em que o
mercado, e não o Estado, é que corrigirá as inclemências e as disfunções do capitalismo, penetrou
profundamente na geração militante que controla a direção política do PT e da CUT” (Consulta
Popular, Cartilha 16. In.: CONSULTA POPULAR, Cartilha 25 – Resoluções da 5ª Assembleia
Nacional, p. 13, 2017).
58
“A História nos mostra que o reformismo só avançou em determinadas condições, isto é, quando
existe crescimento da economia capitalista, quando existem possibilidades de ampliar o mercado
interno, quando existe uma situação internacional favorável. A inexistência de tais fatores determinou
que as ideias “social democratas”, ao chegarem aos governos locais ou nacional, se limitassem a
reproduzir o modelo neoliberal, impotentes para esboçar qualquer alternativa com mínima
credibilidade” (Consulta Popular, Cartilha 16. In: CONSULTA POPULAR, Cartilha 25 – Resoluções da
5ª Assembleia Nacional, p. 14, 2017).
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afirmamos enquanto reorganização de nossas forças enquanto esquerda mundial,
latino-americana e nacional e isso passará, também, por nós, Consulta Popular. A
história nos cobrará posição e testará nossa capacidade de organização da Classe
Trabalhadora.
CONSIDERAÇÕES
A meu partido
Me deste a fraternidade para o que não conheço.
Me acrescentaste a força de todos os que vivem.
Me tornaste a dar a pátria como em um nascimento.
Me deste a liberdade que não tem o solitário.
Me ensinaste a acender a bondade, como o fogo.
Me deste a retidão que necessita a árvore.
Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos homens.
Me mostraste como a dor de um ser morreu na vitória de todos.
Me ensinaste a dormir nas camas duras dos meus irmãos.
Me fizeste construir sobre a realidade como sobre uma rocha.
Me fizeste adversário do malvado e muro do frenético.
Me fizeste ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria.
Me fizeste indestrutível porque contigo não termino em mim mesmo
(Canto Geral - Pablo Neruda).
Se acreditamos que uma hora ou outra o povo se levantará por que a direita não
consegue dar respostas concretas ao povo e toda a ação exige uma reação cabendo
ao nosso partido se colocar a “disposição” do espontaneísmo das massas, se
confundimos identidade com unidade, se temos dificuldade de compreender em que
ponto estamos na luta de classes, se não entendemos o papel do Estado no atual
desenvolvimento do capitalismo, se não conseguimos construir uma palavra de
ordem que aglutine forças, então abre-se o principal debate: o Teórico.
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Cortará pela raiz as iniciativas políticas em longo prazo seja nos sindicatos ou nas
organizações populares que participamos.
Vejam, não é uma questão simples. E por que não é simples? Nosso partido está
carente de um instrumental teórico que nos possibilite ver/compreender as sínteses
causais, o movimento, das forças políticas que se enfrentam em graus diferentes de
abstração. Tudo encontra-se em primeiro plano, à primeira vista, como fenômenos
difíceis de encontrar elos explicativos. As lutas econômicas aparecem como única
forma de compreender/ver a concretude da luta. Essa carência se cristaliza no
movimento dialético duma luta de classes que se agudiza e quando olhamos para
nós, nos vemos com um arsenal teórico do ciclo anterior. O que isso quer dizer? É
como tentar ver uma célula com um binóculo. A nossa defesa estratégica só faz
sentido com uma teoria revolucionária. Ora, tal exigência só terá resposta no partido.
Partido enquanto aquele, autorizado pela dinâmica da luta de classes, que liga a
teoria à prática política.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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HARNECKER, Marta. Os desafios da esquerda latino-americana. 2ª ed. São
Paulo: Expressão Popular, 2019. 100 p.
__________________. Ideias para a luta. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular,
2018.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
LENIN, Vladmir Ilitch. Que fazer: problemas candentes do nosso movimento. 2ª ed.
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__________________. O esquerdismo: doença infantil do comunismo. 1ª ed. São
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LYRIO, Laura. Mulheres do Projeto Popular por uma cultura de democracia
paritária da classe trabalhadora: reflexões a partir de organização, formação e luta
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__________________. A Crítica e a auto-crítica. In. Movimento pela Soberania
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Popular, 2009.
NERUDA, Pablo. Canto Geral. São Paulo: Círculo do Livro, 2010.
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