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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
CRISE DO CAPITALISMO
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1.1) Natureza da crise do capitalismo
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Essa crise atinge diretamente a produção, pelas medidas de isolamento social em
diversos países, que têm impacto na interrupção das cadeias globais de suprimentos
e de mercadorias. Esse processo tem levado os países do centro capitalista a
reavaliar a forma de distribuição das cadeias produtivas. Uma vez que a pandemia
mostrou, devido às interrupções e defasagem na produção global nesse período, a
fragilidade dessa forma descentralizada de organização do processo produtivo, em
que, um celular, por exemplo, para a sua produção, depende da matéria prima,
suprimentos e trabalho de várias partes do mundo, com destaque para os países do
Sul Global.
1.1.3) Mais Estado para países centrais e mais austeridade para países
periféricos.
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promoção do desenvolvimento, devastarem direitos e aprofundarem as
desigualdades sociais. Esta política fiscal agora tende a reativar uma economia
paralisada que aponta para uma depressão. O que essa tendência aponta é mais
Estado para países centrais e mais austeridade para países periféricos, ou seja,
mais uma dimensão do aprofundamento das relações desiguais entre países do
centro e dependentes. Para a periferia do sistema, a resposta à crise é o
aprofundando do neoliberalismo, suas políticas de austeridade e rigor fiscal e, em
alguns países, especialmente no Sul Global, a tendência do endividamento e a
possibilidade da volta da dívida externa.
Entre os anos de 1968-1971 é possível falar numa mudança do papel do dólar como
dinheiro mundial a medida em que o mercado de crédito interbancário passa a
estabelecer seu próprio circuito internacional, com uma liquidez abundante e
crescente, fora do controle das autoridades monetárias e sem relação com o déficit
de balanço de pagamentos americano. Desenvolve-se o mercado de crédito privado
que alimentou o último auge da expansão da economia mundial ao mesmo tempo
em que a estabilidade do dólar passou por um espectro de provas políticas, como a
guerra do Vietnã, Muro de Berlim, Crise dos Mísseis em Cuba.
A situação foi rompida em 1971, que marca o fim do sistema de Bretton Woods, ou
seja, a renúncia oficial dos EUA em manter o dólar como uma moeda conversível em
relação ao ouro. Em 1971 tem-se o fim da conversibilidade do dólar e em 1973 o fim
da paridade dólar/ouro. O fim de Bretton Woods significou a vigência de uma nova
forma de acumulação capitalista a nível mundial, a liberalização financeira. A
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expressão “financeirização”, “mundialização do capital” ou ainda “globalização”
traduz a capacidade estratégica de grandes grupos oligopolistas de adotar condutas
globais, empreender operações de arbitragem em mercados financeiros mundiais e
avançar para a financeirização de fundos públicos e serviços essenciais como
saúde, educação, tarifas do setor elétrico, etc.
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1.1.5.) O trabalho redundante e a massa sobrante de trabalhadores.
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Por outro lado, esse processo gera também a mercantilização desse contingente
descartado. Forma-se uma indústria de serviços de inteligência, bens, artefatos para
os métodos de gestão estatal e paraestatal da contenção dos descartados, que
passa pelo encarceramento em massas, pelos mercados ilegais de serviços,
medicalização, armas e drogas, cada vez mais funcionais a desmobilização da
classe trabalhadora, ou seja, o capitalismo produz a depressão e o fármaco e ao agir
na contenção, também lucra. Produz o esgarçamento do tecido social e aprofunda o
Estado Policial de repressão.
Desse modo, a crise atual nos empurra a outra esfera de reflexão, que não se trata
apenas da disputa do futuro e destino do trabalho diante das transformações do
capitalismo. Os impactos da pandemia na crise capitalista colocam na centralidade
na própria defesa da vida das trabalhadoras e trabalhadores.
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materiais do seu próprio povo. A crise econômica, junto às mortes por coronavírus,
está sendo fatal para a população americana. E de outro lado, revela-se a eficácia
dos países socialistas, com destaque para China no enfrentamento do coronavírus
com atitude científica, com política pública para salvar vidas, com organização
popular e internacionalismo. Outra dimensão crucial é a corrida tecnológica. A China
dá um exemplo mundial de como usar a tecnologia para resolver problemas e
atender necessidades do povo, mantendo o pleno emprego. A tecnologia aliada ao
conhecimento científico faz com que na China esteja em curso a mudança da matriz
energética e conquistando a soberania alimentar, alcançando as metas de seu
programa de construção nacional e mostrando que é possível tirar 800 milhões de
pessoas da fome em trinta anos.
É importante chamar as coisas pelos nomes que elas têm: está em curso uma
ofensiva do Imperialismo que tem uma agenda a cumprir. Destacamos 4 pontos
estratégicos nessa ofensiva, cotejando alguns comentários sobre o Brasil no que
tange à orfandade de um Projeto Nacional que favorece a ofensiva do governo
Bolsonaro contra a classe trabalhadora no contexto internacional de avanço de
políticas econômicas ultraliberais e movimentos neofascistas.
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de terceirização; a PEC 95 conhecida como PEC do Teto dos Gastos; A MP 873 que
retira recursos dos sindicatos; As retiradas de direitos e desmonte do sindicalismo
com a Reforma Trabalhista de 2017 e a Reforma da Previdência de 2019. Essas são
medidas que transformam estruturalmente o mercado de trabalho no Brasil, sendo
também um conjunto de ataques que alteram a correlação de forças entre
trabalhadores e capitalistas na regulação e remuneração do trabalho.
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que agravaram o conflito distributivo. Cada vez que o povo entra em cena, seja
através do aumento da sua renda, ou mediante a inserção de políticas sociais, ou
seja, tendo mais políticas sociais no orçamento ou participando mais da vida
democrática, a burguesia reage com violência. Atualmente as exigências de
acumulação capitalista financeirizada tem se mostrado incompatíveis com certas
características clássicas da democracia liberal burguesa e esse processo deflagrou
a ofensiva mundial de forças conservadoras, autoritárias, intolerantes, de extrema-
direita no sentido da eliminação direitos sociais e restrição da participação política da
classe trabalhadora.
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desenvolveu nos anos 90 a doutrina de dominação para a América buscando ter
capacidade total de controle e eliminando os pontos de vulnerabilidade. A chamada
doutrina de dominação de espectro completo visa o controle das emoções, modos
de desejar, linguagens, culturas, mercados, todas as esferas de reprodução e
organização da vida. Dominar corações e mentes, controlar o mercado da
alimentação, os métodos de cuidados com a saúde, os paradigmas de beleza dos
corpos, os recursos estratégicos, as disciplinas às normas e os valores competitivos
do capital. É uma verdadeira guerra por hegemonia. Essa guerra se dá por meios
híbridos, uma combinação da guerra convencional com métodos de guerra para
provocar o caos. A ofensiva sobre a cultura, a destruição dos vínculos, da
sociabilidade e da noção de pertencimento à classe trabalhadora favorece o
autoritarismo e a fascistização da sociedade.
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Protesto Negro (1989), como a última espoliação para os negros recém libertos. O
sucessor do escravizado não foi o trabalhador negro livre, mas o trabalhador branco
livre estrangeiro. Isso significa que os negros adentraram à ordem social competitiva
em condições desiguais em relação aos brancos. Nesse sentido, o racismo contribui
para a regulação do valor da força de trabalho no Brasil, à medida que naturaliza
uma condição de superexploração de uma parte da classe trabalhadora, de maioria
negra, cuja destinação é o trabalho sujo e mal pago, sem direitos e abaixo do
mínimo necessário para a reprodução da sua existência, nas palavras de Florestan.
E, por outro lado, esse grande número de trabalhadores na informalidade mantém
um exército industrial de reserva que pressiona pela não valorização da força de
trabalho e induz ao rebaixamento dos salários da classe trabalhadora inserida no
mercado formal.
Ainda que a CLT tenha sido avançada para a época, ela estava circunscrita a uma
cidadania regulada, ou seja, o acesso aos direitos dependia do acesso ao trabalho,
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reconhecido e regulado pelo Estado. O tipo de fordismo que se instalou no Brasil foi
típico de um país dependente. De modo que, por aqui, foram inseridos os elementos
do maquinário e do controle gerencial num grau muito maior do que da melhoria nas
condições de vida e consumo da classe operária. Prescindindo dos elementos do
consenso do fordismo e, consolidando-se a partir da via autoritária e do uso da força
– através da autocracia, o fordirsmo brasileiro não se caracterizou por ensejar uma
classe trabalhadora apta, mediante seu poder de compra, ao consumo dos bens de
consumo duráveis por ela produzidos.
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dirigidas a classe patronal. O movimento sindical, ocupou-se, historicamente, de
organizar as lutas no campo das condições de venda da força de trabalho via o
acesso aos padrões legais do assalariamento com proteção social, através de uma
representação reconhecida legalmente, com base em um código de direitos e
ferramentas estatais para mediação do conflito entre capital e trabalho. Organizou
parcelas formais da classe trabalhadora a partir de sindicatos locais, federados e
confederados por categoria, que negociaria com uma estrutura “espelho”, ou seja,
com a mesma estrutura, representando o setor patronal.
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2.2.1) Transformações na produção, nas relações sociais e organizativas da
classe trabalhadora.
Naquilo que diz respeito à nova forma de gestão e organização do trabalho para
superar a “fábrica fordista”, aparecem três novas formas que se combinam e
realizam a reestruturação produtiva: a) a “fábrica difusa” que inverte o processo de
concentração e aglomeração produtiva do fordismo de uma forma piramidal para
uma em rede, espalhando as unidades de produção (sem abrir mão de uma
centralização na unidade central coordenadora – a matriz) e “externalizando” parte
das funções produtivas (terceirização, subcontratação e trabalho por encomenda),
para reduzir os custos excessivos com a dilapidação das forças produtivas (energia,
mão de obra, estrutura etc.), além de fragmentar e reduzir a capacidade de luta do
operariado porque dispersa uma classe trabalhadora em diversas empresas e
formas de contrato aparentemente novas, mas que na essência mantém a mesma
dinâmica produtiva; b) “a fábrica fluida” que busca acabar com o tempo morto na
produção presente no fordismo (estoques, peças à espera, operações em séries
parceladas etc.), através de um processo contínuo ideal para ganhar na ampliação
da intensidade e produtividade da jornada (metas, progressões, plr’s. De modo que
a tecnologia passa a ser inserida não só para substituir o trabalhador (automação de
substituição), mas para também gerir os fluxos entre cada seção (automação de
integração) para otimizar o fluxo produtivo – economizando capital fixo e circulando
por unidade produzida; c) “a fábrica flexível” que busca romper com o padrão rígido,
quase homogêneo e massivo de produção e a norma de consumo fordista através
de uma produção mais flutuante e diversificada para mercados mais individualizados
e heterogêneos. Criando melhores condições para enfrentar as oscilações
econômicas a partir do ajuste da capacidade produtiva a uma demanda variável de
volume e composição e, com isso, acelerar a rotação do capital (fixo e circulante) e
economizar capital constante.
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acompanhamento minucioso, através de computadores e da informática, pelas
gerências.
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prevalência de uma alta rotatividade, informalidade e uma estrutura ocupacional
muito heterogênea, bem como para um agravamento da condição de fragmentação
da classe trabalhadora. Essa condição é ainda mais grave no Brasil entre a
juventude, primeira geração nascida já sob a hegemonia neoliberal. O curso de vida
dessa geração, fruto de processos sociais a partir dos quais indivíduos tomam
conhecimento e manifestam as normas e os valores do meio ao qual fazem parte de
forma constante ao longo da vida, é herança mas ruptura com a geração anterior
(décadas de 1970 e 1980), que foi a base para a organização social no país. Dentre
os jovens hoje, apenas 15% dos egressos dos cursos de graduação, encontrando
empregos em suas áreas de formação. Além disso, 38% das jovens negras com
Ensino Superior trabalham em atividades que exigem, no máximo, o Ensino
Fundamental. A juventude negra da classe trabalhadora é um setor importante
quando analisamos a precarização do trabalho. Não à toa, no universo dos bikeboys
das plataformas digitais, 75% tem até 27 anos, 71% são negros e recebem, em
média, R$ 936 por mês numa estimativa de nove a doze horas diárias de trabalho,
sete dias por semana. Quanto mais grave é a situação dos tipos e condições das
ocupações, mais elas são acessadas pela gigantesca maioria de jovens, com seus
parcos ensinos fundamental e médio sem acesso às universidades. O percurso
desta realidade vem das ocupações de fast-food nos anos 90, depois com
operadores de telemarketing nos anos 2000 e, agora, com os uberizados.
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ocupação entre as mulheres, com quase 6 milhões de mulheres nessa ocupação no
primeiro semestre de 2020. Em relação ao impacto da pandemia na vida das
mulheres, ao menos 64 milhões de mulheres perderam seu emprego no mundo,
enquanto que no Brasil o desemprego entre as mulheres pós-pandemia é de 16,8%,
a taxa de subutilização é de 36%, sendo que a taxa de subutilização da mulher
negra é 2,3 vezes maior que do homem branco. O trabalho doméstico remunerado
reduziu em 23,5% o número de postos de emprego. Em síntese, a pandemia
acentuou aspectos que, ainda que presentes, foram em grande parte negligenciados
pela sociedade, como a sobrecarga do trabalho reprodutivo e a presença das
mulheres, em especial das mulheres negras, em trabalhos precários. A crise da
reprodução social emerge de uma absoluta falta de tempo em “conciliar” dois pilares
estruturantes do capitalismo.
Em uma sociedade com 3⁄4 dos ocupados no fluido, descontínuo e instável setor de
serviços, com uma heterogênea classe trabalhadora ainda mais fracionada,
fragmentada e ocupada no nível individual e familiar com a engenharia da
sobrevivência. Esse aspecto do enfraquecimento do status do emprego formal, da
jornada regulada de trabalho, requer aprofundamentos e debates sobre que
mercado de trabalho, que tipo de emprego, qual modelo de regulações e proteções,
serão capazes de sustentar um novo modo de integração social e como a esquerda
deve se preparar, se organizar para defender e lutar por este novo modo de
integração social. A divisão "clássica" entre empregado/ocupado vs
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desempregado/desocupado já não diz muito sobre os trabalhadores, devido à
elevada rotatividade nos postos de trabalho, contratos precários e vínculos por
“jobs”, “freelas”, “picos”. Problema agravado no quadro de desindustrialização que
nos encontramos.
Como organizar trabalhadores que, muitas vezes, não passam de 6 meses numa
mesma empresa? Essa condição é ainda mais viva no setor de serviços e nos
“primeiros empregos”, presente no dia a dia de jovens, mulheres, negras e LGBTT.
Áreas em que não se exige grande “expertise” da força de trabalho e, as demissões
são práticas constantes. Também encontramos um complexo raciocínio prático da
lógica neoliberal por parte dos trabalhadores, até que ponto a adesão ao "indivíduo
empresa de si mesmo” é por convicção ou por sobrevivência? Onde encontramos as
rupturas associativas a partir das práticas concretas dos trabalhadores? Estas
questões de fundo indicam elementos sobre os atuais desafios a serem levados em
conta no tema da reorganização da classe trabalhadora.
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processo ampliação e de massificação, é uma aposta para chegar nessa parcela da
classe trabalhadora que está ocupada com trabalhos mais rotativos. Existem
diversas formas para isso, um caminho em aberto é através da promoção de
associações e cooperativas de produção, de prestação de serviços. Possibilitando o
fortalecimento da base dos movimentos populares através da criação de postos de
trabalho, ao mesmo tempo em que possibilita a construção de novos sindicatos
atrelados às cooperativas.
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cooperação, por não serem questões de resoluções simples ou isoladas. Para isso,
será necessário construir uma leitura profunda, com os pontos de unidade, dúvidas e
divergências em torno do diagnóstico quantitativo e qualitativo da realidade da
classe, suas frações, ocupações, rendimentos, “um raio x e uma tomografia” do
mapa das condições em que vivem, de suas expectativas e de seus espaços de
interações. Quais são as forças que dirigem quais setores, suas lideranças, e as
principais tendências de rumos deste exército desorganizado? Para conseguirmos
aprofundar o trabalho de articulações e elaborações estratégicas entre as
organizações sindicais e os movimentos populares, ligados pelo eixo do trabalho. O
conjunto de afirmações do Setor Sindical e do Setor Urbano, MTD e Levante Popular
da Juventude, apontam para um conjunto de desafios políticos e organizativos, tanto
de conexões entre ambas, como de trabalhos em comum, algo que chamamos de
uma agenda de convergências de forças criativas.
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O diagnóstico de Furtado nos leva à raiz dos dilemas da nossa formação social e
econômica para compreender a categoria de subdesenvolvimento que mobiliza a
forma particular que assumiu a difusão do progresso tecnológico no processo de
industrialização. Nosso processo de industrialização dependente se deu com
tecnologia poupadora de mão de obra e intensiva em capital, num país com
abundância de mão de obra, ainda marcada pela acumulação primitiva de capital
que a espoliou na colônia. Furtado refere-se portanto a inadequação do progresso
técnico que engendra uma dependência financeira, tecnológica e cultural.
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tema central de propaganda e de disputa da militância e da vanguarda na
reorganização da esquerda em curso no Brasil.
3.2) Em meio a crise, um país que insiste em nascer: projeto popular para o
brasil
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As lacunas deixadas ao longo do tempo com a não realização de diversas políticas
sociais desencadearam no surgimento de movimentos de luta pela terra, pela água,
pelos direitos sociais, de modo que lutas populares são portadoras de um conteúdo
democrático, nacional e contrários às imposições da classe dominante sócio menor
e submisso.
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1. O século XX conheceu um grande ciclo revolucionário, cujos marcos
inicial e final tiveram lugar aqui na nossa América Latina: a Revolução
Mexicana de 1910 e a Revolução Sandinista de 1979. Esse ciclo
revolucionário, que envolveu grandes revoluções vitoriosas ou não na Rússia,
Alemanha, Itália, Hungria, China, Vietnã, Cuba, Angola, Moçambique e tantos
outros países, combinou, ao contrário do que muitos sugerem, diferentes tipos
de revolução: revoluções operárias, revoluções populares e revoluções
nacionais e burguesas. As forças motrizes, as forças dirigentes, as tarefas e
os objetivos dessas revoluções eram distintos, mas apesar dessa diferença
de natureza tais revoluções se fortaleceram reciprocamente. O crescimento
do socialismo e do comunismo na Europa ofereceu às revoluções nacionais
dos países coloniais e dependentes instrumentos teóricos e modelos
organizativos, além do fato de a luta do movimento operário europeu
enfraquecer a política colonial dos centros imperialistas. Amplos setores da
classe média desses países também se voltaram contra a política colonial –
basta lembrar a luta dos estudantes e do movimento negro estadunidenses
contra a intervenção militar no Vietnã. A resistência da média oficialidade e da
classe média portuguesa à guerra colonial na África desencadeou a revolução
operária e popular em Portugal em 1974 – conhecida como Revolução dos
Cravos. Ademais, as duas maiores revoluções desse ciclo, a Russa e a
Chinesa, criaram uma situação defensiva para o imperialismo estadunidense.
Esse foi, em definitivo, um período de vitórias e de ofensiva do movimento
operário, popular e nacional. Em muitos países onde a revolução não
prosperou, vigoraram políticas reformistas, como a política desenvolvimentista
no Brasil e na Argentina. Esse reformismo pequeno-burguês não ultrapassa o
horizonte imperialista, já que busca a sua cooperação para a suposta
superação do “subdesenvolvimento” por intermédio da industrialização
periférica. Mas propiciava, mesmo assim, direitos trabalhistas e sociais que
contrastavam positivamente com a situação vigente no período antecedente.
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defensiva, tal disputa deixou de existir no caso da antiga URSS e moderou-se
no caso chinês. Primeiro, o chamado “socialismo real” perdeu a capacidade
de atrair política e ideologicamente os trabalhadores europeus e da América
Latina, atração que contribuíra para que a burguesia admitisse, sob pressão
dos trabalhadores, os direitos trabalhistas e sociais, e, depois, no início da
década de 1990, com a desintegração da antiga União Soviética, o
imperialismo estadunidense e também europeu puderam sair da defensiva.
Ingressamos, então, na época do capitalismo neoliberal, da acumulação
financeira, da novíssima dependência e das derrotas e defensiva da classe
operária e demais classes populares.
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período, acabou abandonado o programa democrático-popular após as
eleições de 1989.
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que justificaria a priorização de uma aliança estratégica com as burguesias
dependentes. A organização das massas para a conquista do poder de
Estado permanece uma condição para a realização de reformas estruturais
para os povos que não possuem uma burguesia nacional ou uma burocracia
estatal capaz de levar adiante a luta anti-imperialista.
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abre caminho para a construção do socialismo naquele país. No Brasil e na
Argentina, tentou-se a política neodesenvolvimentista baseada numa ampla e
heterogênea frente política que contava, inclusive, com a grande burguesia
interna desses países. Mesmo organizações revolucionárias viram-se, diante
do fato consumado de essa política obter apoio popular e ver-se acossada
pelas forças reacionárias do imperialismo e das frações da burguesia a ele
integradas, na obrigação de adotarem uma política de apoio crítico aos
governos neodesenvolvimentistas. Tal fato não significou, e não pode
significar, contudo, uma adesão estratégica a esse programa burguês.
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específico, capaz de tratar corretamente das justas contradições no seio do
povo, sem incorrer em ecletismos e sem descola-las do processo de
reprodução social no capitalismo e da luta de classes. A verdadeira
emancipação destes grupos sociais só será possível sob o poder político da
classe trabalhadora, sem o qual não é possível a socialização do trabalho
doméstico, o armamento das massas e a construção de novas relações
sociais. Tais opressões são, em sentido distinto, usadas como recurso político
não só pelo neofascismo, mas também pela direita neoliberal que,
propagandeando um encaminhamento liberal para as justas reivindicações do
movimento feminista, negro e LGBT, procura atrair e confundir o feminismo, o
movimento negro e LGBT. Essa “armadilha da identidade” oferecida pelos
aparelhos das classes dominantes, como o Partido Democrata dos Estados
Unidos, Banco Mundial, empresas privadas e a Rede Globo no Brasil, que
consiste em defender a precarização do trabalho e a dominação imperialista
combinadas com críticas limitadas a àquelas opressões não interessa ao
movimento operário e popular. Tais usos políticos, contudo, são um elemento
a mais para evidenciar que a luta revolucionária exige que se combata tais
opressões de uma perspectiva socialista.
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