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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
2. problematizar o Keynesianismo como um mecanismo de manutenção das estruturas capitalistas após a crise
1 Keynesianismo
Nessa aula, estudaremos o Keynesianismo, uma nova etapa do capitalismo.
O capitalismo sofreu e ainda sofre um processo incessante de transformação contínuo, como meio de
manutenção constante da acumulação de capital. A história do capitalismo vem mostrando a sua capacidade de
superação das crises e as suas reestruturações, modificando as formas de acumulação e de dominação. O capital
Segundo Souza (2002 p.74), a crise do capital é primordial para a manutenção da sua hegemonia. Ele nos indica
que a crise é “ao mesmo tempo, elemento de destruição e de construção do próprio sistema (...), pois são nesses
momentos que se produzem as rupturas necessárias para a sua continuidade.” Corroborando as análises de
revoluciona não apenas os meios de produção, mas os meios de reprodução sociais. Ocasionam
crises recorrentes, provenientes da contradição intrínseca à própria atividade do capital, que põem a
cada momento problemas de desenvolvimento para o capital (e principalmente para seus “suportes”:
Ainda no início do século XIX, as crises eram constantes, passageiras e pontuais, tanto assim que diversos
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Para Thomas Robert Malthus, essa periodicidade ocorre devido à preocupação dos homens em poupar dinheiro.
Para ele, a poupança seria responsável para a penúria geral e pelos momentos de crise, já que não permite a
Ironicamente, para William Stanley Jevons, as crises tem caráter extraeconômicos, são consequências das
manchas solares.
Tanto Malthus quanto Jevons foram duramente criticados pelas suas teorias.
Entretanto, a crise de 1929, ao contrário das anteriores, é profunda e abrangente, atingindo grande parte do
Essa crise se pronuncia após um período de grande prosperidade, mais de 45 milhões de pessoas empregadas
nos Estados Unidos, recebendo US$ 77 bilhões em salários, rendas e lucros. Anuncia-se o final da pobreza e
acredita-se que os problemas econômicos do mundo capitalista estão a pouco de serem solucionados. As bolsas
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Um homem que aplicasse US$ 780,00 em ações em 1921 conseguiria multiplicar seu dinheiro. Em 1929, seu
dinheiro valeria US$ 21.000,00. Os americanos hipotecam suas casas, contraem dívidas para investir na bolsa de
o desemprego;
A crise não tardou a atingir o mercado de valores. Assim, em outubro de 1929, o mercado entrou em colapso, as
ações que anteriormente tinham muito valor decaíram, as perdas foram brutais.
Para termos uma noção, o montante perdido nos Estados Unidos era próximo a US$ 40 bilhões, um em cada
quatro americanos perdeu o emprego até 1930. No país, a construção civil caiu 95%, nove milhões de contas de
É a partir das ideias de John Keynes que vamos analisar o que significa essa nova fase do capitalismo e suas
diretrizes.
Para esse economista, o que determina a renda de uma nação é o fluxo de renda de mão para mão, ou seja, é o
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Para entendermos melhor, tomemos como exemplo os nossos gastos.
Todos nós gastamos nossas rendas em bens e produtos para próprio uso, e estamos comprando esses bens
Então, para Keynes, é essa transferência que garante uma economia aquecida e próspera.
Para o autor, há ainda outra parte da renda que não vai fazer esse movimento de troca de mãos. É a poupança.
Essa parte da renda vai ser aplicada nos bancos e consequentemente é colocada de volta no mercado através dos
No momento de crise, a população não consegue poupar dinheiro, muito pelo contrário, ela gasta o que tinha
conseguido guardar, e os empresários não desejam investir no aumento de produção porque a economia fica
estagnada.
Para Keynes, há somente uma saída para a estagnação da economia e da crise, a intervenção estatal. Cabe ao
A intervenção estatal é necessária para diminuir o desemprego, incentivar a poupança e aumentar o nível de
renda da população para que a mesma volte a consumir e, com isso, os empresários voltem a investir,
reaquecendo a economia.
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Podemos tomar como exemplo dessa intervenção estatal a política denominada “New Deal”, implantada pelo
presidente Roosevelt no período de 1933 e 1937, buscando o reaquecimento da economia. Entre as medidas
adotadas, destacamos:
criação de um seguro-desemprego.
Com base nos ideais de Keyne, o Estado de Bem-Estar Social se consolida no período posterior à Segunda Guerra
Mundial no momento em que os Estados podem efetivamente investir no desenvolvimento econômico e no bem-
O Welfare State pode ser caracterizado pelo desenvolvimento de políticas sociais estatais que visam à libertação
da empresas privadas dessas obrigações, para que possam investir seu capital no desenvolvimento e no aumento
da produção.
Essas políticas sociais estatais têm como meta a garantia do pleno emprego, melhoria de salários, direito à
Para os defensores do Welfare State, essa fase do capitalismo busca a justiça social, a equidade e a igualdade,
É importante observar que para esse grupo de intelectuais o Welfare State é a humanização do capitalismo.
Entretanto, outros intelectuais, como Claus Offe, reconhecem que esse período se define pela tentativa de
dissipar a luta de classe, porém devemos lembrar que a luta de classe é uma das bases fundantes do capitalismo
e, por isso, não tem como ser dissipada, e pela necessidade de conformação da classe trabalhadora à ideologia do
capital. Podemos afirmar que a partir desse Estado social é possível criar condições subjetivas e objetivas para a
interiorização dessa ideologia pelos trabalhadores, como se fosse um projeto de sociedade próprio.
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Sobre isso, vejamos o que Edmundo Fernandes Dias, professor da Unicamp, no artigo “Reestruturação produtiva:
“Passada a guerra e a época nazifascista, a maior parte da Europa viveu uma era de social-democratização’. Para
impedir a expansão russa, foi necessário antecipar-se a ela. Face àquela alternativa, fortíssima no imaginário dos
trabalhadores, foi necessário ir além e constituir os direitos sociais, os mecanismos compensatórios do Welfare
State combinados com o keynesianismo. Esse conjunto de medidas de contratendência permitiu compatibilizar a
E, em um mesmo movimento, garantiu direitos políticos e sociais mínimos o que possibilitou, com bastante êxito,
a integração dos trabalhadores à ordem capitalista via redução destes à perspectiva econômico-corporativa.
Sindicatos e partidos de esquerda (nem todos) se associaram ao capitalismo na busca de uma estabilidade que
garantisse a parceria antagônica, criando assim um pacto despolitizante que acabou por fortalecer as lutas
corporativas.
Emergiu o chamado compromisso fordista: o pacto social em escala internacional. Essa foi a estratégia assumida
pelos capitalistas e seu Estado, em alguns países, para, através de políticas sociais compensatórias, buscar a
fidelidade das massas, legitimando assim a ordem burguesa. Aqui a contradição atinge o limite. Os trabalhadores
em troca da garantia de empregos, melhores salários e condições mais adequadas de vida acabaram por aceitar
os lucros do capital.
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Obviamente, em termos imediatos, os trabalhadores, por sua luta, obtiveram fortes melhorias, mas ao preço da
capitalista. Tendo abandonado qualquer pretensão revolucionária, a maioria dos trabalhadores viviam a
A forma assumida pelo capitalismo nesse período reorganizou totalmente a sociedade, e, ao criar a nova
distribuição do trabalho, criou uma vida social amplamente diferente (BRAVERMAN, 1977).
Uma das consequências dessa reordenação foi o esvaziamento das lutas trabalhistas através dos sindicatos, visto
A exacerbação do indivíduo e as supostas conquistas dos trabalhadores, como a garantia de emprego e melhores
salários, modificou esse espaço. Permitiu que práticas desumanizadoras recorrentes no chão da fábrica fossem
aceitas sem muita resistência como, por exemplo, a intensa divisão do trabalho.
A divisão do trabalho foi levada ao máximo pelo seu maior teórico, Frederick Taylor, e tinha como ideia
fundamental “uma especialização extrema em todas as funções e atividades” (PINTO, 2007, p. 25).
Este sistema de organização somente pode ser colocado em prática devido às inovações tecnológicas do período,
fazendo com que as máquinas assumissem um importante papel na produção. Alves (1999, p. 53) salienta que, “o
conhecimento e a atividade consciente não estão mais no sujeito que trabalha, mas na atividade mecânica do
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As teorias de Taylor encontraram materialidade nas linhas de produção em séries desenvolvidas por Ford. Essa
linha de produção é a colocação da matéria-prima numa esteira automática que percorre todas as fases de
produção até o seu estágio final. Ao longo dessa linha, as diversas atividades de transformação da matéria-prima
Para Ford, o trabalho na linha de produção deve ser pura repetição de movimento, “pois de outro modo não se
pode conseguir sem fadiga a rapidez da manufatura que faz descer os preços e possibilita os altos salários”
Ford cumpre outro importante papel nessa economia: incutir nos seus contemporâneos a cultura de consumo de
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A partir desse sistema, foi urgente a formação de um novo tipo de trabalhador e, para Taylor, o trabalhador ideal
“Um dos primeiros requisitos para que um homem seja adequado para lidar com os lingotes de ferro
como ocupação regular é que ele seja tão estúpido e calmo que mais se assemelhe a um bovino, em
sua constituição mental, do que a qualquer outro tipo. O homem mentalmente alerta e inteligente é,
por isso mesmo, inteiramente inadequado para o que seria, em sua opinião, a opressiva monotonia
de um trabalho dessa categoria. Por conseguinte, o trabalhador mais adequado para lidar com os
lingotes de ferro é incapaz de compreender a ciência real da realização desse tipo de trabalho. É tão
estúpido que a palavra “porcentagem” não tem significado para ele, e, portanto, deve ser treinado
por um homem mais inteligente que ele no hábito de trabalhar de acordo com as leis da ciência para
Ou seja, o Welfare State associado com o binômio Taylorismo/Fordismo aumenta a seguridade social, cria
políticas sociais para garantir o consenso e, ao mesmo tempo, desqualifica o trabalhador. O trabalhador
moderno, como consequência das inovações tecnológicas e das diretrizes econômicas, exige uma maior
qualificação, porém o seu trabalho é tão dividido que as operações mínimas exigem um trabalhador com menos
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O surgimento do Welfare State no Brasil é diferente das observadas nos países industrializados, isso ocorre
devido às especificidades da modernização brasileira, os setores modernos industriais convivem com setores
tradicionais e com uma economia agroexportadora. O Welfare State surge no Brasil com o objetivo de regular
A constituição de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil é datado de 1930. Esse período se caracteriza pela
consolidação de uma economia industrial pautada no desenvolvimentismo em que predominava o ideal de uma
No Brasil, o Welfare State surge como um mecanismo de organização da força de trabalho intermediada pelo
Estado.
Para Medeiros (2001, p. 10), “como a maior parte dos bens de capital e tecnologia era importada e a
meios de produção e força de trabalho. O Welfare State brasileiro atuou sobre esse descompasso, o
que facilitou a migração dos trabalhadores dos setores tradicionais para os setores modernos e a
As políticas sociais nesses anos iniciais da industrialização se constroem em um período de autoritarismo que
tem como anseio aumentar o papel do Estado na regulação da economia e da política nacional visando ao
desenvolvimento.
Quanto às relações de trabalho, três metas devem ser alcançadas, são elas: conter os movimentos dos
trabalhadores, despolitização das relações de trabalhos, tornar os trabalhadores ponto de apoio do governo.
Medeiros constata que tais metas foram alcançadas por meio de uma combinação de repressão e concessão.
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Alterar conteúdo para: Para tanto, são criadas as Leis Trabalhistas, como:
• salário mínimo;
• direito às férias;
• regime de oito horas de trabalho;
• carteira de trabalho;
• licença-maternidade.
Devemos ressaltar que essa legislação é fruto da necessidade de fundar as bases da industrialização brasileira e
No período entre 1946 e 1964, a constituição do Welfare State não apresenta significativas mudanças. A
democratização do país, nessa época, introduz mudanças na legislação trabalhista, como o direito à greve,
Com a ditadura dos militares em meados da década de 1960 uma nova fase de consolidação do sistema é
acompanhada por mudanças significativas na estrutura institucional e financeira das políticas sociais. Nesse
período, o desenvolvimento é associado à concentração da renda, um exemplo dessa ideia pode ser observada na
Na sua concepção, é preciso primeiro “esperar o bolo crescer para depois repartir”. O problema é que o bolo
Dessa forma, a repressão aos movimentos dos trabalhadores é um dos caminhos para alcançar o tão almejado
desenvolvimento.
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O modelo de Welfare State adotado no regime militar é de caráter compensatório que busca diminuir os
impactos causados pela aceleração do desenvolvimento capitalista e também de caráter produtivista, já que as
políticas sociais são formuladas visando contribuir para a aceleração do processo de crescimento econômico
(MEDEIROS, 2001).
Outra característica desse modelo é a quantidade de recursos que circulavam pela área social subordinados à
racionalização e à transferência de determinados setores para a iniciativa privada, como educação, saúde,
alimentação, etc.
Concluímos, então, que o Welfare State no Brasil constituiu-se de forma modificada devido à inserção do Brasil
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2 O que vem na próxima aula
• O pensamento político e econômico sob a ótica do capital: neoliberalismo
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• aprendeu a identificar as bases históricas e conceituais do Keynesianismo;
• a reconhecer o Keynesianismo como um mecanismo de manutenção das estruturas capitalistas após a
crise do modelo liberal clássico no início do século XX.
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