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EDUCAÇÃO E ECONOMIA POLÍTICA

O PENSAMENTO POLÍTICO E ECONÕMICO


SOB A ÓTICA DO CAPITAL: KEYNESIANISMO

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Identificar as bases históricas e conceituais do Keynesianismo;

2. problematizar o Keynesianismo como um mecanismo de manutenção das estruturas capitalistas após a crise

do modelo liberal clássico no início do século XX.

1 Keynesianismo
Nessa aula, estudaremos o Keynesianismo, uma nova etapa do capitalismo.

O capitalismo sofreu e ainda sofre um processo incessante de transformação contínuo, como meio de

manutenção constante da acumulação de capital. A história do capitalismo vem mostrando a sua capacidade de

superação das crises e as suas reestruturações, modificando as formas de acumulação e de dominação. O capital

traz em si a necessidade de se transformar para se manter hegemônico.

Segundo Souza (2002 p.74), a crise do capital é primordial para a manutenção da sua hegemonia. Ele nos indica

que a crise é “ao mesmo tempo, elemento de destruição e de construção do próprio sistema (...), pois são nesses

momentos que se produzem as rupturas necessárias para a sua continuidade.” Corroborando as análises de

Souza, Alves (1999), assim se manifesta:

A autodestruição inovadora do capital decorre do “impulso absoluto de enriquecimento” [...] que

revoluciona não apenas os meios de produção, mas os meios de reprodução sociais. Ocasionam

crises recorrentes, provenientes da contradição intrínseca à própria atividade do capital, que põem a

cada momento problemas de desenvolvimento para o capital (e principalmente para seus “suportes”:

capitalistas e trabalhadores assalariados).

(ALVES, 1999, p. 33).

Assim, a reordenação do capitalismo, tão necessária à manutenção e reprodução do capital, transforma as

relações sociais sejam de produção, de sociabilidade, de poder e até mesmo a educacional.

É importante observarmos que as crises são inerentes ao capitalismo.

Ainda no início do século XIX, as crises eram constantes, passageiras e pontuais, tanto assim que diversos

intelectuais se puseram a pensar sobre o ciclo das crises econômicas.

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Para Thomas Robert Malthus, essa periodicidade ocorre devido à preocupação dos homens em poupar dinheiro.

Para ele, a poupança seria responsável para a penúria geral e pelos momentos de crise, já que não permite a

circulação do dinheiro e o aquecimento da economia.

Ironicamente, para William Stanley Jevons, as crises tem caráter extraeconômicos, são consequências das

manchas solares.

Tanto Malthus quanto Jevons foram duramente criticados pelas suas teorias.

Entretanto, a crise de 1929, ao contrário das anteriores, é profunda e abrangente, atingindo grande parte do

mundo capitalista, causando uma ociosidade produtiva e desemprego generalizado.

Essa crise se pronuncia após um período de grande prosperidade, mais de 45 milhões de pessoas empregadas

nos Estados Unidos, recebendo US$ 77 bilhões em salários, rendas e lucros. Anuncia-se o final da pobreza e

acredita-se que os problemas econômicos do mundo capitalista estão a pouco de serem solucionados. As bolsas

de valores eram oásis de prosperidade e de rendimentos exorbitantes.

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Um homem que aplicasse US$ 780,00 em ações em 1921 conseguiria multiplicar seu dinheiro. Em 1929, seu

dinheiro valeria US$ 21.000,00. Os americanos hipotecam suas casas, contraem dívidas para investir na bolsa de

valores, esperançosos em se tornarem milionários.

Já em 1925, os sinais da crise aparecem:

a superprodução e a diminuição do consumo;

o desemprego;

a concorrência com os países europeus.

A crise não tardou a atingir o mercado de valores. Assim, em outubro de 1929, o mercado entrou em colapso, as

ações que anteriormente tinham muito valor decaíram, as perdas foram brutais.

Para termos uma noção, o montante perdido nos Estados Unidos era próximo a US$ 40 bilhões, um em cada

quatro americanos perdeu o emprego até 1930. No país, a construção civil caiu 95%, nove milhões de contas de

poupança foram perdidas e 85.000 empresas faliram (HEILBRONER, 1992).

É a partir das ideias de John Keynes que vamos analisar o que significa essa nova fase do capitalismo e suas

diretrizes.

Para esse economista, o que determina a renda de uma nação é o fluxo de renda de mão para mão, ou seja, é o

processo de transferência de mão em mão que revitaliza constantemente a economia.

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Para entendermos melhor, tomemos como exemplo os nossos gastos.

Todos nós gastamos nossas rendas em bens e produtos para próprio uso, e estamos comprando esses bens

regularmente, garantindo, assim, a transferência de nossa renda para mão de outros.

Então, para Keynes, é essa transferência que garante uma economia aquecida e próspera.

Quando essa transferência diminui, a economia entra em crise.

Para o autor, há ainda outra parte da renda que não vai fazer esse movimento de troca de mãos. É a poupança.

Essa parte da renda vai ser aplicada nos bancos e consequentemente é colocada de volta no mercado através dos

empréstimos dos bancos para os empresários, para a expansão da produção.

No momento de crise, a população não consegue poupar dinheiro, muito pelo contrário, ela gasta o que tinha

conseguido guardar, e os empresários não desejam investir no aumento de produção porque a economia fica

estagnada.

Para Keynes, há somente uma saída para a estagnação da economia e da crise, a intervenção estatal. Cabe ao

Estado intervir e garantir investimentos que possibilitem um novo caminhar econômico.

Este investimento se reveste de empréstimos, obras públicas e incentivos fiscais.

A intervenção estatal é necessária para diminuir o desemprego, incentivar a poupança e aumentar o nível de

renda da população para que a mesma volte a consumir e, com isso, os empresários voltem a investir,

reaquecendo a economia.

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Podemos tomar como exemplo dessa intervenção estatal a política denominada “New Deal”, implantada pelo

presidente Roosevelt no período de 1933 e 1937, buscando o reaquecimento da economia. Entre as medidas

adotadas, destacamos:

o investimento maciço em obras públicas;

concessão de empréstimos aos proprietários agrícolas;

criação de um seguro-desemprego.

Com base nos ideais de Keyne, o Estado de Bem-Estar Social se consolida no período posterior à Segunda Guerra

Mundial no momento em que os Estados podem efetivamente investir no desenvolvimento econômico e no bem-

estar dos trabalhadores.

O Welfare State pode ser caracterizado pelo desenvolvimento de políticas sociais estatais que visam à libertação

da empresas privadas dessas obrigações, para que possam investir seu capital no desenvolvimento e no aumento

da produção.

Essas políticas sociais estatais têm como meta a garantia do pleno emprego, melhoria de salários, direito à

habitação, etc., além de ser um mecanismo de controle sobre as classes trabalhadoras.

Para os defensores do Welfare State, essa fase do capitalismo busca a justiça social, a equidade e a igualdade,

tendo como consequência disso o aumento da acumulação do capital.

É importante observar que para esse grupo de intelectuais o Welfare State é a humanização do capitalismo.

Entretanto, outros intelectuais, como Claus Offe, reconhecem que esse período se define pela tentativa de

dissipar a luta de classe, porém devemos lembrar que a luta de classe é uma das bases fundantes do capitalismo

e, por isso, não tem como ser dissipada, e pela necessidade de conformação da classe trabalhadora à ideologia do

capital. Podemos afirmar que a partir desse Estado social é possível criar condições subjetivas e objetivas para a

interiorização dessa ideologia pelos trabalhadores, como se fosse um projeto de sociedade próprio.

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Sobre isso, vejamos o que Edmundo Fernandes Dias, professor da Unicamp, no artigo “Reestruturação produtiva:

forma atual da luta de classes”, tem a nos dizer.

“Passada a guerra e a época nazifascista, a maior parte da Europa viveu uma era de social-democratização’. Para

impedir a expansão russa, foi necessário antecipar-se a ela. Face àquela alternativa, fortíssima no imaginário dos

trabalhadores, foi necessário ir além e constituir os direitos sociais, os mecanismos compensatórios do Welfare

State combinados com o keynesianismo. Esse conjunto de medidas de contratendência permitiu compatibilizar a

dinâmica da acumulação e da valorização capitalista.

E, em um mesmo movimento, garantiu direitos políticos e sociais mínimos o que possibilitou, com bastante êxito,

a integração dos trabalhadores à ordem capitalista via redução destes à perspectiva econômico-corporativa.

Sindicatos e partidos de esquerda (nem todos) se associaram ao capitalismo na busca de uma estabilidade que

garantisse a parceria antagônica, criando assim um pacto despolitizante que acabou por fortalecer as lutas

corporativas.

Emergiu o chamado compromisso fordista: o pacto social em escala internacional. Essa foi a estratégia assumida

pelos capitalistas e seu Estado, em alguns países, para, através de políticas sociais compensatórias, buscar a

fidelidade das massas, legitimando assim a ordem burguesa. Aqui a contradição atinge o limite. Os trabalhadores

em troca da garantia de empregos, melhores salários e condições mais adequadas de vida acabaram por aceitar

os lucros do capital.

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Obviamente, em termos imediatos, os trabalhadores, por sua luta, obtiveram fortes melhorias, mas ao preço da

incorporação dos operários, novamente e de forma superior, objetiva e subjetivamente, à racionalidade

capitalista. Tendo abandonado qualquer pretensão revolucionária, a maioria dos trabalhadores viviam a

plenitude de um sindicalismo de resultados, criatura típica da ordem do capital. O Estado de Bem-Estar

expressou o período conhecido como ‘os anos gloriosos’ do capitalismo.

A forma assumida pelo capitalismo nesse período reorganizou totalmente a sociedade, e, ao criar a nova

distribuição do trabalho, criou uma vida social amplamente diferente (BRAVERMAN, 1977).

Uma das consequências dessa reordenação foi o esvaziamento das lutas trabalhistas através dos sindicatos, visto

como um espaço coletivo de reivindicações.

A exacerbação do indivíduo e as supostas conquistas dos trabalhadores, como a garantia de emprego e melhores

salários, modificou esse espaço. Permitiu que práticas desumanizadoras recorrentes no chão da fábrica fossem

aceitas sem muita resistência como, por exemplo, a intensa divisão do trabalho.

A divisão do trabalho foi levada ao máximo pelo seu maior teórico, Frederick Taylor, e tinha como ideia

fundamental “uma especialização extrema em todas as funções e atividades” (PINTO, 2007, p. 25).

Este sistema de organização somente pode ser colocado em prática devido às inovações tecnológicas do período,

fazendo com que as máquinas assumissem um importante papel na produção. Alves (1999, p. 53) salienta que, “o

conhecimento e a atividade consciente não estão mais no sujeito que trabalha, mas na atividade mecânica do

instrumento como ferramenta utilizado a serviço da valorização do capital”.

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As teorias de Taylor encontraram materialidade nas linhas de produção em séries desenvolvidas por Ford. Essa

linha de produção é a colocação da matéria-prima numa esteira automática que percorre todas as fases de

produção até o seu estágio final. Ao longo dessa linha, as diversas atividades de transformação da matéria-prima

são distribuídas entre vários trabalhadores fixos.

Para Ford, o trabalho na linha de produção deve ser pura repetição de movimento, “pois de outro modo não se

pode conseguir sem fadiga a rapidez da manufatura que faz descer os preços e possibilita os altos salários”

(FORD, 1995, p. 148).

Ford cumpre outro importante papel nessa economia: incutir nos seus contemporâneos a cultura de consumo de

massa de produtos padronizados.

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A partir desse sistema, foi urgente a formação de um novo tipo de trabalhador e, para Taylor, o trabalhador ideal

deveria ter alguns requisitos:

“Um dos primeiros requisitos para que um homem seja adequado para lidar com os lingotes de ferro

como ocupação regular é que ele seja tão estúpido e calmo que mais se assemelhe a um bovino, em

sua constituição mental, do que a qualquer outro tipo. O homem mentalmente alerta e inteligente é,

por isso mesmo, inteiramente inadequado para o que seria, em sua opinião, a opressiva monotonia

de um trabalho dessa categoria. Por conseguinte, o trabalhador mais adequado para lidar com os

lingotes de ferro é incapaz de compreender a ciência real da realização desse tipo de trabalho. É tão

estúpido que a palavra “porcentagem” não tem significado para ele, e, portanto, deve ser treinado

por um homem mais inteligente que ele no hábito de trabalhar de acordo com as leis da ciência para

poder ser bem-sucedido”.

(TAYLOR, 1947 apud MÉSZÁROS, 2004, p. 119).

Ou seja, o Welfare State associado com o binômio Taylorismo/Fordismo aumenta a seguridade social, cria

políticas sociais para garantir o consenso e, ao mesmo tempo, desqualifica o trabalhador. O trabalhador

moderno, como consequência das inovações tecnológicas e das diretrizes econômicas, exige uma maior

qualificação, porém o seu trabalho é tão dividido que as operações mínimas exigem um trabalhador com menos

instrução, quase que dispensando o uso do seu cérebro.

Visto isso, vamos agora analisar o desenvolvimento do Welfare State no Brasil.

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O surgimento do Welfare State no Brasil é diferente das observadas nos países industrializados, isso ocorre

devido às especificidades da modernização brasileira, os setores modernos industriais convivem com setores

tradicionais e com uma economia agroexportadora. O Welfare State surge no Brasil com o objetivo de regular

aspectos relativos à organização dos trabalhadores urbanos (MEDEIROS, 2001).

A constituição de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil é datado de 1930. Esse período se caracteriza pela

consolidação de uma economia industrial pautada no desenvolvimentismo em que predominava o ideal de uma

sociedade harmônica em que a luta de classe é prejudicial ao bem comum.

No Brasil, o Welfare State surge como um mecanismo de organização da força de trabalho intermediada pelo

Estado.

Para Medeiros (2001, p. 10), “como a maior parte dos bens de capital e tecnologia era importada e a

mão de obra encontrava-se no setor agroexportador da economia, criou-se um descompasso entre

meios de produção e força de trabalho. O Welfare State brasileiro atuou sobre esse descompasso, o

que facilitou a migração dos trabalhadores dos setores tradicionais para os setores modernos e a

constituição de uma força de trabalho industrial urbana no país”.

As políticas sociais nesses anos iniciais da industrialização se constroem em um período de autoritarismo que

tem como anseio aumentar o papel do Estado na regulação da economia e da política nacional visando ao

desenvolvimento.

Quanto às relações de trabalho, três metas devem ser alcançadas, são elas: conter os movimentos dos

trabalhadores, despolitização das relações de trabalhos, tornar os trabalhadores ponto de apoio do governo.

Medeiros constata que tais metas foram alcançadas por meio de uma combinação de repressão e concessão.

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Alterar conteúdo para: Para tanto, são criadas as Leis Trabalhistas, como:
• salário mínimo;
• direito às férias;
• regime de oito horas de trabalho;
• carteira de trabalho;
• licença-maternidade.
Devemos ressaltar que essa legislação é fruto da necessidade de fundar as bases da industrialização brasileira e

também das lutas dos operários nas décadas anteriores.

No período entre 1946 e 1964, a constituição do Welfare State não apresenta significativas mudanças. A

democratização do país, nessa época, introduz mudanças na legislação trabalhista, como o direito à greve,

organização sindical. No entanto, essas conquistas limitam-se a um pequeno grupo da sociedade.

Com a ditadura dos militares em meados da década de 1960 uma nova fase de consolidação do sistema é

acompanhada por mudanças significativas na estrutura institucional e financeira das políticas sociais. Nesse

período, o desenvolvimento é associado à concentração da renda, um exemplo dessa ideia pode ser observada na

fala do Delfim Neto, ministro em alguns governos militares.

Na sua concepção, é preciso primeiro “esperar o bolo crescer para depois repartir”. O problema é que o bolo

cresceu e nunca foi dividido, continua concentrado em poucas mãos.

Dessa forma, a repressão aos movimentos dos trabalhadores é um dos caminhos para alcançar o tão almejado

desenvolvimento.

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O modelo de Welfare State adotado no regime militar é de caráter compensatório que busca diminuir os

impactos causados pela aceleração do desenvolvimento capitalista e também de caráter produtivista, já que as

políticas sociais são formuladas visando contribuir para a aceleração do processo de crescimento econômico

(MEDEIROS, 2001).

Outra característica desse modelo é a quantidade de recursos que circulavam pela área social subordinados à

racionalização e à transferência de determinados setores para a iniciativa privada, como educação, saúde,

alimentação, etc.

Concluímos, então, que o Welfare State no Brasil constituiu-se de forma modificada devido à inserção do Brasil

tardiamente no rol de países industrializados e também as suas especificidades.

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2 O que vem na próxima aula
• O pensamento político e econômico sob a ótica do capital: neoliberalismo

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• aprendeu a identificar as bases históricas e conceituais do Keynesianismo;
• a reconhecer o Keynesianismo como um mecanismo de manutenção das estruturas capitalistas após a
crise do modelo liberal clássico no início do século XX.

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