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Sumario

Introdução ................................................................. 02

Da Biografia .............................................................. 14

Do Tratado de Versalhes .......................................... 26

Do Keynesianismo na Alemanha ............................... 37

Do 1º Milagre Econômico alemão ............................. 43

Da Moral na Gestão ................................................... 63

Das Origens da Crise .................................................. 66

Da Conclusão ............................................................ 79

Da Bibliografia .......................................................... 83

1
Introdução
Keynes, um especialista em macroeconomia e defensor
dos direitos humanos, sua biografia parece bastante
contraditória e se modifica de autor para autor, mas o
que nos chama a atenção são as partes não explicadas
de sua história.

Sua influência sobre o governo alemão, em especial


sobre o regime nazista é muito poucas vezes citada
nessas obras, como sua preocupação na criação de
empregos e a diminuição da influência dos mecanismos
internacionais financeiros.

Parece que tentam diminuir sua contribuição ao dizer


que ele foi apenas formado em matemática e não
mencionam o apoio de seu professor e economista
clássico Marshal, a quem sucedeu em sua cátedra.

O principal sobre Keynes era sua desconfiança ao


capitalismo e sobre seus principais personagens
(políticos, banqueiros e empresários) como ele mesmo
expressou:

“O capitalismo é baseado na estranha crença de


que pessoas nojentas com motivos vis de alguma
forma trabalham para o bem comum.”

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Sua mudança de visão, do clássico ao realismo, se
deu a partir de sua contribuição para a crise de
1914, quando descobriu que os mercados
financeiros eram bem diferentes das entidades
organizadas que os economistas apresentavam nos
livros.

As flutuações nos preços não refletiam


necessariamente o conhecimento acumulado por
agentes movidos de maneira racional, mas reagiam
a julgamentos muitas vezes falhos feitos em um
ambiente de profunda incerteza com relação ao
futuro. A palavra-chave é “confiança”. Foi essa a
idéia central que desenvolveria duas décadas
depois, quando escreveu a sua principal obra,
“Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”,
de 1936, quando o mundo enfrentava outra crise
impiedosa, a Grande Depressão.

Nossas tomadas de ações dependem do otimismo


ou, como ele chamou, “do espírito animal – uma
necessidade espontânea de agir em vez de não
agir”, escreveu ele na “Teoria Geral”. “Se o espírito
animal arrefece e se o otimismo espontâneo
esmorece, o empreendedorismo vai enfraquecer e
morrer.” Por isso o governo precisa agir nas crises
de maneira anticíclica, de modo a mitigar as
oscilações nos ânimos dos mercados, porque eles
são fenômenos sociais, e não matemáticos.

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Como citou Frederick Hayek em seu discurso
quando recebeu o Nobel de economia em 1975:

“Mas eu devo confessar que, se tivesse sido


consultado sobre o estabelecimento de um Prêmio
Nobel de economia, eu certamente teria sido
resolutamente contrário...”

No mesmo livro, Keynes falou da “armadilha da


liquidez”. Sem confiança, nem mesmo que taxas de
juros baixas incentivam o “espírito animal” dos
consumidores e dos empresários. Daí a importância
da liderança política. Cabe ao governo o papel de
coordenar as expectativas. Em termos práticos, uma
ferramenta poderosa imaginada por Keynes seria o
aumento dos gastos públicos. Os investimentos em
obras e programas sociais deveriam compensar a
retração na atividade do setor privado. O livro foi
um ataque ao liberalismo dominante, regido pela
convicção de que os mercados poderiam se
autorregular.

Os autores que escrevem sobre Keynes tentam


ajudar a entender o que deu certo no passado e os
motivos do keynesianismo ter perdido apelo a
partir dos anos 1970 e como ele pode ser resgatado
hoje para contribuir não apenas no enfrentamento
da depressão (tanto psicológica como econômica),
mas também para superar desafios contemporâneos

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como o aumento da desigualdade, a polarização
política e as mudanças climáticas. Vamos citar
alguns deles:

Zachary Carter, de 36 anos, escreve sobre


economia e política no Huffington Post. Trata-se de
um “millennial” (geração anterior a geração Z) que
encontrou em Keynes um herói para iluminar e
enfrentar os dilemas modernos. Para Carter, ele nos
oferece a possibilidade de termos o melhor dos dois
mundos: as virtudes do capitalismo com menos
injustiça. E essa sempre foi a preocupação de
Keynes (1883-1946), que procurou, como resume
um de seus biógrafos, sempre equilibrar o
tradicionalismo antirrevolucionário de Edmund
Burke (1729-1797) com a democracia radical de
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).

Em outras palavras, queria preservar toda a


prosperidade oferecida pelo liberalismo, mas, ao
mesmo tempo, mitigar injustiças. O grande dilema
político da humanidade, escreveu Keynes, seria
combinar a eficiência econômica, a justiça social
e a liberdade individual. Foi a isso que ele dedicou
toda a sua obra. Quis salvar o capitalismo do
próprio capitalismo. Carter vê um paralelo evidente
com o mundo atual. Chegou a hora, ele argumenta,
de domarmos o liberalismo e termos maior coesão
social. Esse é o “preço da paz”.

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“O título do livro (O Preço da Paz: Dinheiro,
Democracia e a Vida de John Maynard Keynes) é
muito feliz e resume muito bem o pensamento de
Keynes”, afirma o economista Antônio Delfim
Netto. “Keynes entendeu claramente que era falsa
a ideia de que a economia de mercado seria
estabilizada automaticamente. Era necessário
adicionar uma força para preservar o sistema. O
Estado é parte essencial do equilíbrio.”

De acordo com Delfim, o economista inglês é um


herdeiro de grandes nomes do iluminismo
britânico, particularmente de John Stuart-Mill
(1806-1873). “Todo o esforço desses intelectuais
foi construir uma sociedade na qual o liberalismo
fosse possível, onde a liberdade fosse possível e
pudesse ser feita a correção de injustiças e de
instabilidades da economia de mercado.”

Uma das maiores instabilidades é o desemprego. A


forma clássica de ajuste da economia é o corte de
trabalhadores pelos empresários. Por isso, esse
sempre foi um dos centros de atenção de Keynes.
“Os investimentos dependem do ‘espírito animal’
dos empresários. Portanto as decisões privadas
estão sujeitas a grandes oscilações”, diz José
Oreiro, professor da Universidade de Brasília
(UnB) e ex-presidente da Associação Keynesiana
Brasileira.

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“A maneira de reduzir a instabilidade de ânimos
dos empresários é que uma parte significativa dos
investimentos seja realizada por um agente menos
suscetível a oscilações – no caso, o Estado. Keynes
acreditava que, para o capitalismo ser bem-
sucedido, deveria ocorrer uma socialização do
investimento e assim haver um nível de emprego
mais elevado. E o que era essa socialização do
investimento? Basicamente, o investimento do
governo em infraestrutura”, afirma Oreiro.

Segundo o economista José Júlio Senna, chefe do


Centro de Estudos Monetários do FGV/Ibre e
autor do livro “Política Monetária – Ideias,
Experiência e Evolução”, Keynes dedicou-se a
estudar situações nas quais havia uma deficiência
crônica na demanda.

“A atualidade do raciocínio de Keynes pode ser


encontrada, por exemplo, no debate a respeito da
tese de estagnação secular”, afirma Senna.
“Voltamos a ter uma fase de deficiência crônica na
demanda. Temos, no mundo atual – mesmo antes
da pandemia -, muita gente querendo poupar e
pouca gente querendo investir.” Um dos reflexos
foi a queda histórica nas taxas de juros: ainda
assim, os investimentos não crescem e a
produtividade decepciona. “Isso é algo que vai
persistir no pós-pandemia – e exatamente pelo

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motivo keynesiano, que é a insegurança, a
incerteza”, diz Senna.

Desde a morte de Keynes, em 1946, o planeta não


vivia um quadro tão desafiador. Da mesma maneira
que não existem ateus em queda de avião, como diz
a antiga piada, nós todos somos keynesianos diante
de uma crise da dimensão atual – que está longe de
ser apenas econômica e é também sanitária,
psicológica e política.

Os governos pelo mundo anunciaram programas de


investimentos bilionários, para proteger a saúde
pública e sustentar as famílias e empresas mais
frágeis. “Raros foram os economistas que
analisaram com tanta argúcia como surge uma
depressão e como enfrentá-la, e ninguém o fez de
maneira tão brilhante como Keynes”, afirma o
economista José Roberto Afonso, professor do
Instituto de Direito Público (IDP) e autor do livro
“Keynes, Crise e Política Fiscal”.

“Como o mundo está mergulhado em uma


recessão, é natural que os governos e os
economistas recorram aos ensinamentos de
Keynes. Ainda que as razões atuais sejam outras, o
mal é o mesmo.” Para o economista, vivemos uma
situação excepcional, que requer uma ação de
guerra e muita criatividade.

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O Brasil, apesar das restrições orçamentárias, tem
se esforçado para ampliar os gastos públicos,
seguindo a cartilha keynesiana. O ministro da
Economia, Paulo Guedes, deixou de lado
provisoriamente as suas credenciais de adepto do
liberalismo clássico da Universidade de Chicago,
onde fez o seu doutorado e de onde saiu Milton
Friedman (1912-2006). Este e tantos outros
contribuíram para defender o monetarismo e o livre
mercado como antídoto à estagflação da década de
1970 – crise que, para muitos, foi produto do
exagero nas políticas aplicadas por discípulos de
Keynes que haviam formado a corrente dominante
no período posterior à Segunda Guerra (1939-
1945).

Guedes fez questão de ressaltar, na reunião


ministerial do dia 22 de abril, que leu a “Teoria
Geral” de Keynes três vezes (“no original”) antes
de chegar a Chicago. “Então, para mim, não tem
música, não tem dogma, não tem blá-blá-blá. Tem
estudo sobre todas essas ocasiões. E nós demos
uma demonstração disso quando nós estávamos
indo numa direção Norte, com as reformas
estruturantes, e, de repente, em três semanas e
meia, nós fomos para o Sul”, afirmou o ministro.
Keynes aplaudiria a atitude. Afinal, o inglês,
quando foi criticado certa vez por ter mudado de

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opinião, respondeu: “Quando os fatos mudam, eu
mudo de opinião. E o senhor, o que faz?”.

Uma ala do governo chegou a surgir com a idéia do


país se lançar num programa ambicioso de
investimento público em obras. Mas, na avaliação
do economista Ilan Goldfajn, ex-presidente do
Banco Central e presidente do conselho do Credit
Suisse no Brasil, o país não dispõe de recursos para
projetos desse tipo.

“É hora de fazermos escolhas, eleger prioridades.


Não temos dinheiro para um programa inspirado
no Plano Marshall. Devemos priorizar a saúde das
pessoas e fazer com que a liquidez financeira
chegue às empresas, para que elas possam rolar as
suas dívidas”, afirma Goldfajn. “Precisamos de
uma ponte para atravessar a crise. Depois, mais
para o fim do ano, podemos pensar em ações para
incentivar a economia. A crise sanitária está longe
de ser resolvida, e sem resolver a crise sanitária
não há como sanar a crise na economia.”

De acordo com o economista, políticas fiscais e


monetárias serão mais efetivas apenas quando
houver mais confiança. “Poderemos pensar em
ações mais para o fim do ano, quando as pessoas
voltarem a consumir e as empresas retomarem os
seus investimentos”, afirma Goldfajn.

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O economista José Júlio Senna também avalia que
o momento é de “controle de danos” e não de
aumentar os investimentos públicos. “Seria como
dar murro em ponto de faca”, avalia. “Não
devemos pensar no estímulo keynesiano típico.
Precisamos aumentar o gasto público sim, mas não
com o objetivo de impulsionar a economia. A
questão é de sobrevivência.” Por isso, os esforços
devem ser no sentido de manter a saúde financeira
das pessoas e das pequenas empresas, além de fazer
chegar crédito a quem necessita.

Alguns economistas, contudo, dizem acreditar que


a dimensão da crise exige uma ação mais agressiva
do governo. “Não há como ampliar o crescimento
sem aumentar o investimento público,
principalmente em infraestrutura”, afirma José
Oreiro. “Esse programa de ajuste fiscal sem
crescimento não está surtindo efeito, é como
enxugar gelo.”

Oreiro é do time que defende a derrubada do teto


de gastos. Para ele, o aumento da dívida pública
não preocupa e poderá ser financiada no futuro
graças ao aumento do crescimento. Ilan Goldfajn
discorda: “É ilusão que toda a dívida será
financiada. Lá na frente teremos de fazer um
superávit maior. O mais importante é gerar um
ambiente de negócios que anime as pessoas a

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consumir e a investir. Existe um conjunto de
reformas pouco comentadas que poderia contribuir
com isso”.

A reforma tributária e a independência do Banco


Central: são várias reformas que aumentam a
produtividade, segundo o ex-presidente do BC.
Para ele, um dos caminhos será atrair empresas
estrangeiras para investir em infraestrutura. “Mas a
falta de coordenação no governo é o contrário do
‘espírito animal’ de Keynes”, afirma Goldfajn. “A
imagem do Brasil está sendo destruída. Será difícil
crescer assim.” Para Delfim Netto, mexer no teto
agora seria “uma tragédia”: “Arrebentaria com
todas as expectativas e traria ainda menos
crescimento”. A instabilidade política torna a
situação ainda mais complicada. (?)

Debates fiscais à parte, o fundamental, como


percebeu Keynes, é cultivar o otimismo para
despertar o “espírito animal” dos empreendedores.
Ele veria com preocupação a falta de cooperação
internacional, neste momento de enfrentamento da
pandemia e suas consequências. Mas também
estaria imaginando como poderíamos superar as
dificuldades.

“O keynesianismo, em sua essência, não é uma


escola de pensamento econômico, mas um espírito

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de otimismo radical”, afirma Zachary Carter em
seu livro. Na avaliação do jornalista, Keynes – o
matemático que virou, meio por acaso, um dos
maiores pensadores sociais de toda a história – teve
insights que ajudam a imaginar um roteiro para
enfrentar problemas como o avanço do
autoritarismo e da disparidade social. (?)

Essas são iniciativas como a proposta de um New


Deal verde, a discussão sobre os programas sociais
e a reavaliação dos investimentos públicos.
“Estamos de novo às voltas com Keynes, não
porque déficits possam levar ao crescimento
sustentável ou porque as taxas de juros sejam
determinadas pela preferência pela liquidez, mas
porque não temos outro destino a seguir que não
seja o futuro”, diz Carter.

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Da Biografia

John Maynard Keynes, (nascido em 5 de junho de


1883, Cambridge, Cambridgeshire, Inglaterra - morreu
em 21 de abril de 1946, Firle, Sussex), economista,
jornalista e financista inglês, mais conhecido por suas
teorias econômicas (Economia keynesiana ) sobre as
causas do desemprego prolongado. Seu trabalho mais
importante, A Teoria Geral do Emprego, Juros e
Dinheiro (1935-1936), defendeu um remédio para a
recessão econômica baseada em uma política de pleno
emprego patrocinada pelo governo.

Antecedentes e início de carreira


Keynes nasceu em uma família moderadamente
próspera e de intelectuais. Seu pai, John Neville
Keynes, era economista e mais tarde administrador
acadêmico no King's College, em Cambridge. Sua mãe
foi uma das primeiras mulheres a se formar na mesma
universidade, que Keynes ingressou em 1902 após

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estudar no colégio Eton, aonde teve altas notas em
matemática e ganhou uma bolsa de estudos para o
colégio do pai.

Em Cambridge, após se formar em matemática, ele foi


influenciado pelo economista Alfred Marshall, que
levou Keynes a mudar seus interesses acadêmicos da
matemática e dos clássicos para a política e a
economia, mais tarde, Keynes ocuparia a cátedra de
Marshall. Cambridge também apresentou Keynes a um
importante grupo de escritores e artistas. O início da
história do Grupo Bloomsbury - um círculo exclusivo
dos eleitos culturais, que contava entre seus membros
Leonard e Virginia Woolf, o pintor Duncan Grant e o
crítico de arte Clive Bell - centrados em Cambridge e na
notável figura de Lytton Strachey. Strachey, que havia
entrado em Cambridge dois anos antes de Keynes,
introduziu o jovem no clube privado exclusivo
conhecido simplesmente como "a Sociedade". Seus
membros e associados (alguns deles homossexuais,
como o próprio Keynes) eram os espíritos principais de
Bloomsbury. Ao longo de sua vida, Keynes deveria
valorizar a afeição e responder à influência desse
grupo.

Depois de obter um bacharel em 1905 e um mestrado


em 1909, Keynes tornou-se funcionário público,
trabalhando de 1906 até 1908 no India Office
(Ministério dos Negócios das Índias) em Whitehall. Sua
experiência ali formou a base de seu primeiro grande

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trabalho, Indian Currency and Finance (1913), um
exame definitivo das finanças e moedas indianas
anteriores à Primeira Guerra Mundial. Ele então voltou
para Cambridge como Lecture, onde lecionou economia
até 1915. Tornou se editor do Economic Journal (1911
até 1945). Antes da Primeira Guerra, gastava seu
tempo com a redação de A Treatise on Probality, cujos
assuntos relacionados o acompanhariam mais tarde,
especulação financeira, história da ciência e artes
(primeiro como consumidor e depois como patrono).

Com o início da Primeira Guerra Mundial, Keynes


voltou a trabalhar no governo, desta vez no Tesouro
(uma agência ainda mais poderosa do que sua
contraparte americana), onde estudou relações com
aliados e meios recomendados de conservar o escasso
suprimento de moedas estrangeiras da Grã-Bretanha.

Era o início de agosto de 1914. As principais praças


financeiras da Europa estavam em crise, com o choque
provocado pelo estopim da Primeira Guerra (1914-
1918). A onda de turbulência nos mercados teve início
em Viena, mas rapidamente se espalhou para as outras
capitais europeias. O clima de incerteza fazia com que
os investidores resgatassem as suas aplicações
financeiras. Para se protegerem, os bancos liquidavam
posições e procuravam reforçar o caixa. O efeito
dominó atingiu a cidade de Londres, então o mais
importante centro financeiro do planeta. O pânico
provocou uma corrida ao Banco da Inglaterra, o banco

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central britânico. Dois terços de suas reservas em ouro
foram sacadas em apenas três dias. Em meio ao caos,
entra em cena um acadêmico de Cambridge até então
desconhecido: John Maynard Keynes, um matemático
de 31 anos do King’s College, praticamente sem
experiência na administração financeira.

Convidado por um funcionário do Tesouro com o qual


havia trabalhado no passado, Keynes tomou parte do
time encarregado de imaginar saídas para a crise. A sua
sugestão foi enfrentar a pressão dos bancos ingleses e
honrar apenas as solicitações dos saques dos depósitos
em ouro feitos por governos e instituições
internacionais. Os pedidos de saques dos ingleses,
inclusive das instituições financeiras, não deveriam ser
pagos em ouro, mas em um novo papel-moeda
emitido. Isso mostrava sua preocupação com a liquidez
da moeda, o que ele demonstrou mais tarde em suas
obras.

Dessa maneira, o Banco da Inglaterra preservaria as


suas reservas para cobrir as suas obrigações
internacionais. Funcionou. As reservas britânicas foram
preservadas. Mais importante ainda, como havia
argumentado Keynes, Londres teve preservada a sua
credibilidade internacional, da qual derivava em boa
medida o poder político da Inglaterra.

“Keynes era um personagem improvável para ser


levado às mais elevadas comissões estratégicas da

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Grande Guerra. A sua formação, em Cambridge, era em
matemática, e não em economia, e ele preferia estar na
companhia de artistas, e não de burocratas”, afirma o
jornalista americano Zachary Carter, em seu elogiado
livro “The Price of Peace: “Money, Democracy and the
Life of John Maynard Keynes””.

Keynes gostava mesmo era de discutir arte, história e


literatura com os seus amigos “moderninhos” do grupo
Bloomsbury. Eram escritores, intelectuais e artistas,
como a romancista Virginia Woolf (1882-1941) e o
crítico Lytton Strachey (1880-1932): uma turma boêmia
que gostava de se vestir de maneira extravagante,
fofocar sobre trocas de parceiros e casamentos abertos
e, em suma, desafiar o puritanismo vitoriano do início
do século passado.

A partir de sua contribuição na crise de 1914, Keynes


não sairia mais de cena. Foi o início de sua imensa
contribuição para a economia e para as ciências sociais.
“A experiência deixou uma impressão profunda em
Keynes”, afirma Carter na biografia do economista. “Ele
descobriu que os mercados financeiros eram bem
diferentes das entidades organizadas que os
economistas apresentavam nos livros.”

Seu desempenho pode ter marcado Keynes para uma


carreira pública, mas com A Conferência de Paz de
Versalhes isso mudou suas aspirações. Como
acompanhante do Primeiro Ministro David Lloyd

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George para a França e como conselheiro econômico e
representante do Tesouro, Keynes estava preocupado
com a chicana política e as medidas pesadas que
devessem ser impostas à Alemanha derrotada. Ele
renunciou ao cargo, deprimido, para citar uma carta a
seu pai, pela iminente “devastação da Europa” saindo
antes mesmo da assinatura do Tratado.

Ele assumiu uma postura de ativista, no entanto,


transformando angústia pessoal em protesto público.
Em dois meses de verão, ele compôs a acusação do
acordo de Versalhes que chegou às livrarias no Natal de
1919 como “As consequências econômicas da paz”. A
importância permanente desse polêmico ensaio reside
em sua análise econômica das severas reparações
impostas à Alemanha e a correspondente falta de
probabilidade de que as dívidas algum dia sejam pagas.
O sucesso popular do livro, no entanto, veio dos
esboços empolgantes de Woodrow Wilson, Georges
Clemenceau e do antigo chefe de Keynes, Lloyd George.
Como consequência, em alguns círculos de Whitehall,
Keynes era considerado um homem em que não se
podia confiar, um iconoclasta disposto a balançar
qualquer barco para o qual tivesse sido
imprudentemente convidado.

Principais contribuições
A reputação de Keynes em Cambridge era bem
diferente. Ele era considerado o aluno mais brilhante
de Marshall e seu colega economista AC Pigou, autores

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de grandes obras definitivas que explicam como os
mercados competitivos funcionavam, como as
empresas operavam e como os indivíduos gastavam
suas rendas. Após a publicação de The Economic
Consequences of the Peace, Keynes renunciou ao cargo
de professor, mas permaneceu como membro do
King's College, dividindo seu tempo entre Cambridge e
Londres, apesar do sucesso do livro, Keynes se afastou,
pelo menos formalmente, do centro de decisões
econômicas de Londres, mas sua obra literária se torna
a mais efervescente com artigos, panfletos e livros.

Embora o tom dos principais escritos de Keynes na


década de 1920 fosse ocasionalmente cético, ele não
desafiou diretamente a sabedoria convencional do
período que favorecia laissez-faire - apenas
ligeiramente temperado por políticas públicas - como o
melhor de todos os arranjos sociais possíveis. Paralelo,
seguia como um ativista, lutando por um novo
liberalismo e até auxiliando no controle do semanário
Nation and Atheneum que pretendia influenciar a
posição do Partido Liberal. Em 1923 publicou “A Tract
on Monetary Reform”, o último de seus livros curtos e
também o seu primeiro texto teórico influente em
economia. Duas das opiniões de Keynes prenunciaram
a revolução teórica que ele desencadeou na década de
1930. Em 1925, ele se opôs ao retorno da Grã-Bretanha
ao padrão ouro na relação dólar-libra pré-guerra de $
4,86; e, muito antes do Na Grande Depressão, Keynes

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expressou preocupação com o desemprego persistente
de mineiros de carvão, estaleiros e trabalhadores
têxteis britânicos. Nessa época, reconciliado com Lloyd
George (que nunca mais voltaria ao cargo), ele apoiou o
programa de obras públicas do Partido Liberal para
tirar os desempregados da previdência, colocando-os
em empregos úteis. Mas economistas “respeitáveis”
ainda esperavam que os ajustes automáticos do
mercado livre resolvessem esses problemas, e o
Tesouro estava convencido de que as obras públicas
eram inúteis porque qualquer aumento do déficit do
governo provavelmente causaria um declínio igual no
investimento privado. Embora Keynes não pudesse
oferecer uma refutação teórica das opiniões de seus
colegas, ele agitou por obras públicas mesmo assim,
como o “Treatise on Money”, em 1930.

Foi só mais tarde, em A Teoria Geral do Emprego, Juros


e Dinheiro (1936), que Keynes forneceu uma base
econômica para programas de empregos do governo
como uma solução para o desemprego. A Teoria Geral,
como passou a ser chamada, é um dos livros de
economia mais influentes da história, mas sua falta de
clareza ainda faz com que os economistas debatam “o
que Keynes estava realmente dizendo”. Ele parecia
sugerir que uma redução nas taxas de salários não
reduziria o desemprego; em vez disso, a chave para
reduzir o desemprego era aumentar os gastos do
governo e incorrer em um déficit orçamentário. Os

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governos, muitos deles procurando desculpas para
aumentar os gastos, aceitaram de todo o coração as
opiniões de Keynes. A maioria de seus colegas de
profissão também aceitava seus pontos de vista.

Curiosamente, Keynes acreditava que os tipos de


políticas que ele defendia funcionariam melhor em
uma sociedade totalitária. Em seu prefácio à edição
alemã da Teoria Geral, Keynes escreveu:

No entanto, a teoria da
produção como um todo, que
é o que o livro a seguir
pretende fornecer, é muito
mais facilmente adaptada às
condições de um estado
totalitário do que a teoria da
produção e distribuição de
uma dada produção produzida
em condições de livre
concorrência e uma grande
medida de laissez-faire.

Trabalhos posteriores
No primeiro ano da segunda Guerra Mundial, se
envolve em amplo leque de questões financeiras e
econômicas associadas aos esforços de guerra
britânicos, sendo bem sucedido. Sua principal
contribuição pública foi o panfleto “How to pay for the
war”. Como também outros projetos como o esforço

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no Tesouro com a elaboração da primeira estimativa de
contas nacionais com James Meade e Richard Stone.

Em “How to pay for the war”, Keynes estava cético


quanto a implantação do racionamento e os custos de
sua elaboração. Advogou a criação de mecanismos de
poupança compulsória através do congelamento de
renda acima de certo limite com liberação diferida para
o pós-guerra para enfrentar a crise que se antecipava.
Foi, também, o inspirador dos acordos de pagamentos
assinados pela Grã-Bretanha com muitos países,
inclusive o Brasil.

Estes acordos, somados a rígidos controles de


exportações, levaram à acumulação de grandes saldos
em libras esterlinas pelos parceiros comerciais
britânicos e transformaram estes países em
importantes financiadores do esforço de guerra.

A influência de longo prazo de Keynes não foi tão


significativa quanto seu impacto de curto prazo. O
modelo keynesiano foi uma parte essencial dos livros
de economia do final dos anos 1940 até o final dos
anos 1980. Mas, à medida que os economistas se
preocupam mais com o crescimento econômico, e eles
ficavam mais informados sobre a inflação e o
desemprego, o modelo keynesiano perdeu o seu
destaque.

23
A Teoria Geral foi a última grande obra escrita de
Keynes. Em 1937, ele sofreu um grave ataque cardíaco.
Dois anos depois, embora não completamente
recuperado, ele voltou a lecionar em Cambridge,
escreveu três artigos influentes sobre finanças de
guerra, intitulados How to Pay for the War (1940; mais
tarde reimpresso como Collected Writings, vol. 9,
1972), e serviu mais uma vez no Tesouro como um
conselheiro para todos os fins. Ele também
desempenhou um papel de destaque na Conferência de
Bretton Woods em 1944. Mas as instituições que
resultaram dessa conferência, ao Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial, foram mais
representativos das teorias do Tesouro dos Estados
Unidos do que do pensamento de Keynes. Foi nomeado
diretor do Banco da Inglaterra, em substituição a Lord
Stamp, morto por uma bomba alemã. Escrevendo para
sua mãe foi irônico quanto à sua absorção pelo
establishment dizendo que agora temia ser nomeado
bispo.

Entre os negociadores britânicos era simplesmente


venerado: "Sentíamo-nos como os seguidores de Lúcifer
em Milton, 'glorificando o chefe incomparável'". Mas, a
sua posição não era fácil, dado o fraco poder de
barganha britânico e a clara intenção norte-americana
de colocar em cheque os arranjos imperiais britânicos,
em especial as preferências comerciais.

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Seu último serviço público importante foi a negociação,
no outono e no início do inverno de 1945, de um
empréstimo multibilionário concedido pelos Estados
Unidos à Grã-Bretanha. O fracasso da tentativa de fazer
com que a libra esterlina voltasse a ser conversível em
1947, como "fada madrinha" das outras moedas
europeias, não foi testemunhado por Lord Keynes que
morreu no ano seguinte.

25
Do Tratado de Versalhes

26
Este foi o tratado de pior conseqüência a um país
já feito na história, além de restringir as forças
armadas para 100.000 soldados e proibir qualquer
uso tecnológico da época, como a Força Aérea e
sucatear as indústrias alemãs. Teve altas cargas de
taxas para os setores produtivos, como também o
governo alemão estava responsabilizado em
transferir recursos para os países vencedores
como forma de auxiliar estes países nos danos
causados pela guerra em 269 milhões em padrão
ouro.

As antigas fontes de materiais primas a que as


indústrias alemãs estavam acostumadas foram de,
uma hora para outra, totalmente cortados. As
antigas colônias, agora, repartidas entre os países
aliados, não forneciam mais materiais e não eram
mais o mercado consumidor para os produtos
industrializados alemães.

Isso causou uma imensa recessão dentro da


Alemanha pós-guerra, que foi de um impacto
tanto social, político e econômico, mas também
psicológico no povo alemão. Que ficaram a mercê
de potências estrangeiras com políticas agressivas
em relação à administração de suas sucursais em
territórios teutônicos.

27
Adolf Hitler não encontrou dificuldades em incitar
mais tarde o ressentimento de seus compatriotas
em suas campanhas políticas, contra o "tratado de
escravatura" de Versalhes. Seus discursos, de
carácter absolutamente nacionalista (seguindo a
forte tendência da época), falavam da grandeza
nacional e da superioridade cultural germânica,
denunciava judeus e comunistas como aqueles
que haviam apunhalado a Alemanha pelas costas e
levado o país à derrota na I Guerra Mundial.

Os primeiros, por pertencerem ou colaborarem


com o Movimento Sionista, que por sua vez
apoiava a Inglaterra, em troca de uma promessa
britânica (A Declaração Balfour) que lhes
garantiriam o direito sobre a Palestina, que nessa
época ainda pertencia ao Império Otomano. Os
demais, por apoiarem a Revolução Comunista na
Rússia e desejarem o mesmo para a Alemanha.
Ambos, além de não contribuírem com os esforços
de guerra, organizavam boicotes, incitavam os
soldados na linha de frente a abandonarem o
conflito e eram favoráveis a abdicação do Kaiser
Wilhelm II (1859-1941), afim de que fosse
constituída uma República. Além disso, Hitler e
seus companheiros diziam que durante a I Guerra
Mundial, os judeus vendiam os segredos alemães

28
para a Tríplice Entente e que, na crise, se
apropriaram do capital nacional.

Uma curiosidade sobre o Tratado de Versalhes e


que seu capítulo XIII trata sobre a criação da OIT
(Organização Internacional do Trabalho) uma das
mais importantes para o proletariado
internacional, considerado como o maior centro
mundial de recursos de informação, análise e
orientação sobre o mundo do trabalho.

Segundo Keynes, os catorze pontos apresentados


pelo Presidente Wilson somente serviriam para
abreviar um fato anterior à guerra, a Alemanha
estava em crescimento tanto demográfico (sua
população era 70% maior que a francesa) como
em recursos e tecnologicamente era superior e as
medidas coercitivas apenas serviam para
enraivecer o lado vencido e antecipar o dia que a
Alemanha impusesse a França, a força de seus
números, seus recursos e sua competência
técnica.

Com o intuito de atrasar o progresso alemão


conquistado desde 1870, as novas medidas de
redução territorial visavam diminuir a população
alemã e consequentemente sua força de trabalho
e para diminuir sua capacidade econômica, foram

29
tomadas várias de suas fábricas e empresas que
começaram a serem geridas por estrangeiros.
Apenas para que a desigualdade de forças entre
esses inimigos fosse balanceada por várias
gerações. A cada medida, o ódio aumentava e
nova medida tinha que ser tomada e dessa forma,
foram incrementadas garantias para tentar atrasar
o inevitável.

Além dos catorze pontos de 8 de janeiro de 1918,


mais quatro, os dos discursos do Presidente
Wilson, de 11 de fevereiro, diante do congresso;
de 06 de abril em Baltimore; de 4 de julho, em
Mount Vernon e de 27 de setembro em Nova York.

A impressão que os europeus tinham do


Presidente Woodrow Wilson era de um profeta,
um filosofo que chegaria para apaziguar um
conflito e construir uma paz duradoura, no
entanto, ao conhecerem os pontos por ele
apresentados, a decepção foi total e os mais
confiantes nem sequer queriam comentar a
respeito. Em resumo, ele propôs: exigência da
eliminação da diplomacia secreta em favor de
acordos públicos; liberdade nos mares; abolição
das barreiras econômicas entre os países; redução
dos armamentos nacionais; redefinição da política

30
colonialista, levando em consideração o interesse
dos povos colonizados; e retirada dos exércitos de
ocupação da Rússia.

Pretendia também a restauração da


independência da Bélgica; a restituição da Alsácia
e Lorena à França; reformulação das fronteiras
italianas; reconhecimento do direito ao
desenvolvimento autônomo dos povos da Áustria-
Hungria; a restauração da Romênia, da Sérvia e de
Montenegro, assim como o direito de acesso ao
mar para a Sérvia; o reconhecimento da
autonomia da Turquia a abertura permanente dos
estreitos entre o Mar Negro e Mediterrâneo; a
independência da Polônia e a criação da Liga das
Nações (League of Nations).

Na verdade, Woodrow Wilson, governador de New


Jersey foi eleito Presidente dos EUA com a
proposta do Federal Reserve Act como pauta de
sua campanha, contrapondo ao plano Aldrich dos
Republicanos, acusado de ser feito por Wall Street.
Planos bastante semelhantes com nomes
diferentes, mas ninguém avisou isso ao público. O
concorrente republicano parecia em melhor
vantagem, Taft estava tentando a reeleição e era
mais popular que o austero Wilson. Até que

31
Theodore Roosevelt resolve concorrer como uma
terceira via. Com melhor cobertura pela mídia do
que Taft e Wilson juntos, sua candidatura de
última hora só serviu para repartir o eleitorado
republicano e garantir a vitória de Wilson.

Após uma rápida tramitação pelo Congresso, o


projeto foi aprovado e enviado ao Presidente que
se espantou com a antecipação do prazo e se
recusou a assinar. Ao saber disso, Baruch, um
importante financiador da campanha de Wilson,
correu a Casa Branca e o convenceu de que os
detalhes poderiam ser corrigidos mais tarde por
meio de "processos administrativos". Com essa
garantia, Wilson assinou o Federal Reserve Act em
23 de dezembro de 1913. A história provou que,
naquele dia, a Constituição deixou de ser o pacto
governante do povo americano e as nossas
liberdades foram entregues a um pequeno grupo
de banqueiros internacionais.

Numa análise mais profunda, Hitler não lutou


apenas contra um tratado que trazia fome e
desemprego ao seu povo, mas contra o germe
que criou a proposta “globalista” que hoje afeta o
mundo. De igual forma, a antiga Liga das Nações,
predecessora da Organização das Nações Unidas

32
(ONU), era tão desacreditada que chegou a se
extinguir.

O Presidente Wilson fora obrigado a fazer


concessões que acabaram por inviabilizar a Liga
das Nações. O Japão, por exemplo, trocara seu
ingresso na Liga pelas antigas possessões alemãs
na China, mas abandonou o organismo em 1933.
Já a França exigira inicialmente a exclusão da
Alemanha e da Rússia (admitida somente em
1934). Os Estados Unidos nem sequer ingressaram
na Liga, por causa da inflexibilidade das nações
europeias. As desistências alemã, em 1933, e
italiana, em 1937, praticamente representaram o
fim da Liga das Nações.

Em outubro de 1933, cerca de nove meses depois


que Adolf Hitler foi nomeado chanceler da
Alemanha, o governo alemão anunciou sua
retirada da Liga das Nações. O motivo aparente foi
a recusa das potências ocidentais em concordar
com as exigências da Alemanha pela paridade
militar para desfazer as injustiças impostas pelo
Tratado de Versalhes. Com esta carta curta abaixo,
datada de 19 de outubro de 1933, o ministro das
Relações Exteriores, Konstantin Freiherr von
Neurath, informou ao secretário-geral da Liga das

33
Nações, Joseph Avenol, sobre a retirada da
Alemanha. A carta hoje é dos arquivos da Liga das
Nações, que estão preservados no Escritório das
Nações Unidas em Genebra. Eles foram inscritos
no registro Memória do Mundo da UNESCO em
2010.

Signatários da Inglaterra, França e Estados


Unidos para a assinatura do tratado no Salão de
Espelhos do Palácio de Versalhes – Paris.

34
Carta do Ministro do Reich Neurath, informando a
saída da Liga das Nações.

35
Adolf Hitler anuncia sua renúncia da Liga das
Nações. Berlim. 1933.

36
Do Keynesianismo na Alemanha
A economia alemã estava em uma profunda crise
na década de 20, crise esta decorrente tanto de
fatores internos decorrentes da derrota na I Grande
Guerra Mundial com o Tratado de Versalhes que
deixava sua estrutura acorrentada em diversos
limites, como fatores externos como da crise
mundial, que diminuíam os mercados
consumidores. Um exemplo disso são as antigas
colônias que agora estavam com outras metrópoles.

Mesmo antes de assumir o cargo de Chanceler,


tanto Hitler como os seus economistas estavam
voltados para as ideias do economista inglês John
Mayanard Keynes. Pois este tinha dado declarações
contra os termos do Tratado de Versalhes em seu
livro As consequências econômicas da Paz e
também que seu modelo econômico seria melhor
gerenciado em um estado centralizado. Outro
motivo dessa escolha seria para fazer uma frente
contra as posições extremistas dos irmãos Strasser
(Sofortprogramm) e a ala comunista do partido.

O estudo das obras de Keynes mostra que os


alemães estavam em plena sintonia com o modelo
keynesiano. Segundo historiadores, algumas
medidas tomadas pelos alemães chegaram a
antecipar o conteúdo das principais obras de
Keynes como cita George Garv.

37
Como foi estruturada a economia nos tempos do
Terceiro Reich, quais os impactos diretos para a
população alemã, como foram organizados os
setores produtivos e a área financeira? Quem estava
por trás dessas mudanças e como foram
gerenciadas a fim de alcançar seus objetivos
econômicos?

A conclusão que podemos dar é que o Terceiro


Reich foi eficiente em atingir seus objetivos
econômicos e pode ser definida como “uma
economia de paz em tempos de guerra”, pelo
menos nos primeiros anos de conflito, como
mostraremos abaixo.

Isso se deve a “engenhosa engenharia financeira


que segurou recursos para a expansão de crédito e
investimento estratégico em setores voltados para o
consumo popular, em especial ao setor de
construção civil.”

As fases que se passaram para que isso ocorresse


foram primeiro, colocar a economia nos eixos e
depois montar uma grande indústria de
armamentos. Através de um modelo de uma
economia de comando em vez de uma economia
centralmente planejada como nos países
comunistas. Por isso eles foram contra a abolição
da iniciativa privada.

38
Fato histórico: na primavera de 1932, a Alemanha
chega ao seu mais alto nível de desemprego da
história, 6 milhões de desempregados, ou seja, um
terço da mão de obra existente. (Abelshauser, 2000:
123-124)

Esse patamar se manteve quando o NSDAP chega


ao poder em 1933 e por isso se torna uma promessa
política: criar empregos.

Como o novo governo entra sem a totalidade do


Reichtag e necessita fazer acordos, o que consegue
a princípio é uma reformulação parcial da estrutura
econômica que fora herdada da República de
Weimar. Que teve como marcante o governo de
Brüning com políticas deflacionárias clássicas com
o apoio do acadêmico Rudolf Hilferding, nos quais,
programas com criação de empregos eram tidos
como inflacionários.

Antes mesmo de entrar no governo, o NSDAP


estava dividido, pela ala de direita, formada por
Hitler, Göering e Himmler e a ala esquerdista
formada pelos irmãos Gregor e Otto Strasser. Com
a vitória de Hitler, sobe ao poder as idéias de
direita.

A escolha do modelo econômico criado por John


Maynard Keynes se deve a inúmeros fatores, desde
antes da entrada do partido no governo. Keynes

39
publica “As conseqüências econômicas da paz” no
qual denuncia o Tratado de Versalhes que era
odiado pelo povo alemão e principal motivo de sua
crise econômica e por Keynes ter defendido a
criação de empregos na Inglaterra e se opondo aos
seus colegas economistas.

E quando escreve a “Teoria Geral”, no prefácio da


edição alemã, demonstra sua simpatia pelo sistema
político e econômico que iria se montar na
Alemanha: “A teoria do produto agregado que esse
livro intenciona fornecer, é muito mais facilmente
adaptada às condições de um estado totalitário do
que a mesma teoria da produção e da distribuição
do produto sob as condições da livre competição e
presença do Laissez-Faire.”

Outro motivo para a escolha foi uma peça chave


para a implantação e continuidade do plano
econômico. Hjalmar Schacht presidente do
Reichsbank e amigo pessoal de Hitler, desde que o
encontrou em um jantar através de um conhecido
de Göring e de Himmler.

Schacht era a favor de planos como os de Keynes, a


favor de emissão de recursos pelo Banco Central,
combate de tendências deflacionistas e programas
de trabalho. Junto com Seldte, Ministro do
Trabalho, convencem Hitler a primeiro lutarem

40
pela criação de empregos na esfera civil para
depois se ocuparem da esfera militar.

Podemos dizer que a simpatia entre os alemães e


Keynes era tanta que estes anteciparam os planos
consolidados de Keynes que seriam publicados em
1936 na “Teoria Geral do emprego, dos juros e da
moeda”, segundo o historiador Llewellyn H.
Rockwell Jr. (2003).

O terceiro motivo foi de ordem prática, o grau de


endividamento da Alemanha não permitia que se
fizessem muitas mudanças, com as exportações
cortadas pela metade e a crescente pressão externa
pelo pagamento, não tinha como se captar novos
recursos.

O plano de reconstrução econômica do Terceiro


Reich começa com alianças com grandes grupos
empresariais (criação de empregos), aqueles que
apoiaram o partido, o Reichsbank dando apoio aos
programas de crédito produtivo.

As mudanças são graduais e tornam o sistema


econômico clássico em uma planificação
centralizada, com medidas de expansão de crédito,
incentivos fiscais e políticas específicas de
investimento.

41
“O capitalismo é baseado na estranha crença de
que pessoas nojentas com motivos vis de alguma
forma trabalham para o bem comum.” John
Maynard Keynes.

42
Do 1º Milagre Econômico alemão
Como foi o impacto das teorias econômicas
Keynesianas na Alemanha durante o período Nacional-
Socialista?

Foi uma economia de paz em tempo de guerras, pelo


menos nos primeiros anos do conflito e no período
anterior a eclosão da guerra. O sucesso na recuperação
alemã nos anos 30 deve ser creditado às políticas de
corte keynesiano previamente defendidas e a uma
engenharia financeira que assegurou recursos para a
expansão de crédito e investimento estratégico em
setores voltados para o consumo popular em especial
para a construção civil.

Nessa abordagem do Primeiro Milagre Econômico


vamos coloca-lo num esquema que o identifica como
um modelo econômico de comando e não se confunde
com uma economia centralmente planejada.

Os nazistas não eram a favor da supressão da


propriedade privada, contudo achavam que as
diferenças classes deveriam reconciliar-se por meio da
supervisão do Estado. O projeto econômico nazista
tinha dois eixos, o combate ao desemprego e o
programa secreto de rearmamento da Alemanha. Porém,
a primeira meta foi prioritária.

No inicio, nada radical se propôs como confiscos ou


socialização forçada como na criação da RDA
(República Democrática Alemã) anos mais tarde.
Medidas de natureza tributária e fiscal foram tomadas,

43
com ênfase ao crédito de consumo. Conforme o
pensador inglês John Maynard Keynes se realizou uma
expansão da demanda agregada via gastos públicos.

O pensador inglês ficou popular entre os radicais de


direita alemães após publicar o seu livro “As
consequências econômicas da paz” que denunciava o
Tratado de Versalhes, odiado pelo povo e que servia de
mote as mensagens nazistas.

Apesar de Hitler ser avesso as experimentações em


economia, não podia ignorar os membros mais radicais
do Partido, principalmente depois de recusar o plano
esquerdista radical de Gregor Strasser
(Sofortprogramm) e deu ao Partido a sua própria
orientação econômica eliminando os conteúdos de
esquerda da proposta anterior e fazendo uma aliança
com os grandes grupos empresariais para a execução
das políticas.

As mudanças foram graduais, a economia caminhava na


direção de um grau maior de planificação centralizada.
Medidas de expansão de crédito, de incentivos fiscais e
políticas específicas de investimento. Criou-se um
mecanismo de empréstimos subsidiados (sem juros)
para famílias iniciantes. Do lado tributário, foram
isentos de impostos sobre veículos e o financiamento
público concentrou-se na construção e manutenção de
estradas, prédios públicos, na indústria de transporte e
um pouco para o rearmamento.

44
Crítica: os gastos nas construções de estradas não
tinham valor estratégico para os militares (Herr) que
preferiam as ferrovias.

Hitler começou com mudanças discretas na organização


do Estado: fundiu ministérios, ampliou áreas de
influência de uma burocracia especifica a fim de obter a
cooperação das demais. O abandono das políticas
ortodoxas se deu mais pela situação dramática do país
especialmente pelo grau de endividamento do que pela
escolha do sistema keynesiano.

O sistema bancário e o Mercado de Capitais ficou sob


estreita vigilância e supervisão do Estado, apenas
intervindo para evitar crises de liquidez sem que fossem
abolidos. Os salários foram congelados em 1934 e
permaneceram fixos até 1945. As Centrais Sindicais
assim como as greves foram proibidas e todos os
trabalhadores, até os de “colarinho branco” foram
obrigados a se filiar a Frente de Trabalho Alemã
vinculada à Câmara Econômica do Reich.

Integraram se as empresas a organizações corporativas


que por vez estavam sob o guarda-chuva da Câmara
Econômica do Reich. Cada ramo industrial ficava ligado
a grupos econômicos de filiação compulsória e estavam
ligados entre si e eram controlados por um organismo
maior denominado Grupo Industrial do Reich.

Os grupos econômicos estavam submetidos ao


Comissário Geral de Preços do Reich. O Estado
controlava o mercado e preços, e ao mesmo tempo em

45
que interferia diretamente nos métodos de produção, do
outro lado, encorajava a racionalização desses métodos.
As relações sociais também eram controladas (como
questões trabalhistas) tanto na cidade como no campo.

Respeitou-se o modelo de economia mista com


mercados, não alcançando o grau de centralização e de
controle das economias economistas.

O primeiro Plano Quadrienal buscou a retomada do


crescimento econômico (num quadro de retração do
comercio mundial) com queda nos termos de troca com
o exterior e diminuição das reservas do país em ouro e
moeda estrangeira. Seu principal protagonista foi o
Reichbank de Schacht com sua injeção de recursos. O
notável crescimento na demanda privada ocorreu de
modo que em 1936 a economia alemã começava a
sofrer de insuficiência de oferta.

O segundo Plano Quadrienal começava com o esforço


armamentista, a agência de Göering intensificou os
mecanismos de controle já presentes e criava novos,
manteve uma política rígida de controle de preços e de
salários, ampliou a regulamentação dos investimentos
com proibições, impostos e indicações de prioridades.
Controle de câmbio, políticas de administração da
demanda e da alocação da força de trabalho. Göring
perseguia a eficiência da economia no sentido de deixa-
la pronta para guerra em 4 anos.

46
Substituindo as importações por equivalentes nacionais
como petroquímica, óleo sintético, borracha
vulcanizada, alumínio e mineração de ferro e siderurgia.

Os investimentos passaram para a indústria de


armamentos com a seguinte exigência, estimular a
produção bélica sem prejuízo do padrão de vida
alcançado. Na fase de economia de Comando criou-se
uma política econômica que favorecia os grupos que
viviam do rearmamento e que se beneficiavam com o
fechamento da economia.

Os nazista não sufocaram a iniciativa privada mas


estabeleceram uma curiosa e complexa relação
simbiótica entre governo e setor privado, como
identifica o historiador Abelshauser como sendo a
privatização da política econômica do Estado.

Os megas-grupos industriais influenciam as decisões do


Estado e em contra partida reconhecem a sua
autoridade. A gigantesca I.G. Farben controla áreas
centrais de planejamento e liderança do Plano
Quadrienal. Assim como agiam também, Siemens,
Volkswagen, Krupp, Thyssen, Porsche,
Gutehoffnunghütte, Reinmetall, entre outras.

Conforme interpretou Ohlerdof, economista do Reich, a


economia nazista era uma economia de concorrência
imperfeita que favorecia grandes firmas (Grunberger,
1970:124 – 125) trata-se de uma economia de comando
que promoveu a cartelização da indústria e não suprimiu

47
a propriedade privada, o empreendedorismo e a
concorrência.

Porém não estimulava apenas a competição de mercado


com guerra de preços e eficiência, mas uma disputa de
natureza política em que os contratos eram tecidos com
base na competência de posicionar-se na rede de poder
do Terceiro Reich. A responsabilidade de preparar a
economia para a guerra foi dividida em um grande
número de agências e a nenhuma delas se impôs uma
direção central.

O próprio Estado ficava cada vez mais fragmentado e a


sua instituição é um fato pacífico que se manifestou
tanto na coordenação de setores da economia civil como
na militar.

Uma guerra de curta duração


Haviam idealizado a estratégia de guerra relâmpago
(Blitzkrieg) e a produção de armamentos ocorria em
função dessa estratégia. Desejavam manter uma
economia de paz em tempos de guerra.

A produção de armas e de munição decaiu depois da


rápida vitória na França:

48
Em 1939 no advento do conflito a economia de guerra
alemã já estava bem avançada, embora o processo não
tenha se completado, o que permitiu a Alemanha levar o
conflito mesmo com a produção industrial estagnada
entre 1939 e 1942.

Em 1943, importantes projetos iniciados na década


anterior que ainda não haviam completados e passam
então a contribuir para a oferta industrial.

Speer reformula em fevereiro de 1942 o Ministério de


Armamento e Munição, criado dois anos antes e que
estava pouco operante. Ele assume gradualmente o
controle de todas as agências ligadas a economia.
Racionaliza as cadeias de comando na demanda por
armas e elimina as piores deficiências técnicas e
organizacionais anteriores.

49
Como resultado, o setor conhece um aumento de
produtividade constante, de modo que em 1944, ela é o
dobro do que foi em 1941, porém isso não espelhou em
outros ramos.

Albert Speer introduziu o uso mais racional da força de


trabalho, naquela época, o quadro de funcionários era
bastante heterogêneo e ele identificou que o recurso
mais escasso era a mão de obra qualificada. Para que
pudesse usar mão de obra forçada e os estrangeiros
menos qualificados, seria necessário uma simplificação
dos métodos.

Speer percebeu que as indústrias seriam mais eficientes


se elas passassem a administrar a si mesmas sem o
controle excessivo do Estado.

50
Passou a priorizar a promoção de agentes com formação
científica, especialmente engenharia e contabilidade. As
empresas de todos os tamanhos tinham de bancar
programas de treinamento compulsórios.

A evolução econômica do Terceiro Reich permite


entender a frase do historiador Trevor-Roper:

“É preciso reconhecer [...] que o estado Nazista não era


absolutamente totalitário (no sentido corrente da
expressão), e que seus dirigentes não constituíam um
governo, mas uma corte tão desprovida do poder de
ação, mas também tão cheia de intrigas quanto a corte
de um sultanato oriental” (Trevor-Roper, s.d.:61)

Muitas atividades industriais voltadas ao consumo civil


continuaram a existir, até mesmo artigos de luxo

51
continuavam a ser produzidos. Como se diz, a produção
de manteiga e de balas estava assegurada.

Nada era centralizado, nem mesmo os dados, pois as


informações eram fornecidas por diversos organismos
rivais entre si.

O regime de Hitler combinava mecanismos de mercado


com um sistema de acesso a bens pelo confisco,
pilhagem ou simplesmente roubo.

O Nazismo seguiu o receituário de economias mistas


que caminham em direção do autoritarismo político e do
forte intervencionismo econômico. A aplicação do
keynesianismo foi apenas o primeiro passo, depois veio
o processo de cartelização da economia, a fusão forçada
de empresas, o controle dos mercados, de preços e de
salários.

Por fim, uma associação entre o grande capital


industrial e a burocracia do planejamento estatal, com
duplo propósito: prepara-la para guerra e sua condução
e manter o consumo civil em nível adequado a fim de
assegurar a sustentação do regime.

Com aspectos aparentemente contraditórios: uma


economia com elevado planejamento estatal, com
controle dos negócios privados e forte intervenção no
sistema de preços e de salários; ao mesmo tempo, uma
economia que apresentava um poder central frouxo que
não conseguia submetê-la totalmente aos seus ditames.

52
Mas porque o afrouxamento hierárquico do sistema
econômico acabou resultando em certa eficiência
econômica no caso alemão?

Uma diferença entre o sistema alemão e os países


socialistas é manter boa parte dos meios de produção na
esfera privada, o sistema de incentivos é melhor quando
viceja a propriedade privada.

As metas de produção, tão perseguidas e cobradas nos


sistemas socialistas, no regime Nazista eram apenas
indicativas. Os nazistas burocratas preferiam amiúde de
uma atitude de entendimento negociado com os
empresários a uma ação mais hostil.

As perspectivas de lucros empresariais continuavam


sendo um fator a afetar a quantidade produzida, não
dependendo ela exclusivamente das metas de produção.

O sistema econômico de Hitler foi mais eficiente que o


planejamento socialista por conseguir manter um bom
desempenho simultaneamente na produção militar e
civil.

O que tradicionalmente foi visto como um fator de


desvantagem do sistema econômico nazista, a explicar a
sua derrocada na guerra, hoje em dia começa a ser visto
com outros olhos.

Para Trevor-Rope, se a Alemanha tivesse implantado a


centralização econômica poderia ter vencido a guerra
graças às vantagens de seus recursos, seus preparativos
e o grau de avanço tecnológico. Contudo, não se pode

53
garantir que a economia alemã teria sido mais eficiente
sob a égide do planejamento centralizado.

Os planos quadrienais de Göring não tinham nenhuma


pretensão, nem condições técnicas ou políticas de
comandar centralmente todo o processo econômico.
Então os grandes empresários estavam livres para agir
como desejassem em suas áreas de influência.

A competência do homem de negócio, o processo de


negociação essencialmente capitalista e a operação dos
mercados existiam apesar de controlados. A relativa
liberdade conferida aos magnatas dos negócios
favoreceu a economia, o Estado estimulou por meio de
seus altos representantes como Speer, a racionalização
do processo produtivo e o treinamento de parte da mão-
de-obra.

Em síntese, foi o caráter relativamente descentralizado


do sistema alemão que conferiu eficiência ao
funcionamento de sua economia civil e militar.

54
Por trás do aparente caos da economia alemã havia uma
poderosa máquina de produção. Mesmo com os
métodos brutais e desumanos que desgastavam a mão de
obra parcialmente escravizada, e dada as restrições do
ambiente em questão, a economia parcialmente
descentralizada da Alemanha Nazista se saiu muito
bem.

Por meio da curva PNB per capita nota-se um


crescimento contínuo até o ano de 1944 durante a qual a
economia quase duplica de tamanho, um êxito notável.
A ênfase que se dá à política armamentista na
recuperação da economia alemã na década de 30 tem
sido exagerada.

Não há uma estimativa única sobre o rearmamento até o


ínicio da segunda Grande Guerra. Abelhauser (2000:
134-135) baseia-se num minucioso levantamento que

55
percorre as estimativas de gastos militares feitas por 13
autores e dois relatórios.

O gráfico 5 mostra a evolução dos gastos militares de


1932 até 1938 e mostra que os gastos começam a ter
uma proporção alarmante sobre o orçamento público a
partir de 1936, quando a economia já havia se
recuperado da crise e no momento que se inicia o
segundo Plano Quadrienal sob a liderança de Göring. A
expansão dos gastos militares não comprometeu os
programas em infraestrutura e outros investimentos.

Schacht (Presidente do Reichbank) elabora mecanismos


para colocar títulos públicos no mercado sem que os
próprios credores soubessem que se tratavam de papéis

56
do governo. A manobra mais famosa foi a introdução de
um título com boa liquidez, que poderia ser descontado
no Reichbank, denominado MEFO (Metallurgishe
Forschungsgesellschaft mbh) podia ser trocado por
dinheiro ou outros papéis.

As vantagens técnicas e politicas destas manobras de


Schacht: os poupadores eram credores do Reich mas
nem sabiam; era feito sem sacrificar os programas da
economia de paz, sem muito aumento de impostos, sem
gerar inflação e mantendo-se a confiança do público na
seriedade do Reichbank.

Uma breve análise do endividamento no período: a


dívida fiscal cresceu três vezes, de 13,9 bilhões de
Reichmarks do biênio 1933-1934 para 41,7 bilhões em
1938-1939. O PNB nominal teve menor crescimento:
dobrou de 16% para 32%. Mesmo esse valor de 32% de
endividamento do PNB seria facilmente administrado
para os padrões de uma economia vigorosa e em
expansão como era a economia nazista. Perde-se o
controle durante a guerra, porém não se poder imputar
às emissões de títulos MEFO o descontrole da dívida no
período de guerra.

A avaliação do impacto da dívida pública pela emissão


de títulos MEFO é positiva pelo perfil do endividamento
até 1939 e por ter mantido a inflação sob controle (o
custo de vida aumentou 3,4% em quatro anos) dados de
Overy, 1996:125.

57
O gráfico 6 relata a evolução da produção de
armamentos e munições e mostra que a queda entre
1940 e 1941 explica-se pelos rápidos e sucessivos
sucessos obtidos pela Blitzkrieg: esperava-se que os
Aliados pediriam um armistício e o Reich se
consolidaria no território conquistado. Em 1942, a volta
da produção devido a primeira derrota séria da
Wehrmacht na Batalha de Moscou.

O bom desempenho em 1942 pode ser creditado às


reformas de Speer que incrementaram a produtividade,
até praticamente o último mês do conflito, milhares de
tanques, aviões etc. eram produzidos nas fábricas que
tinham sido transferidas para abrigos e mesmo com a
escassez de matéria-prima.

Nota: a escassez de matéria-prima era compensada pelo


uso alternativo de materiais não convencionais, aquilo
que os alemães aprenderam às duras penas desde o fim
da I Grande Guerra e o Tratado de Versalhes.

58
Dois indicadores são apresentados no Gráfico 7, vendas
per capita no varejo com porcentagem de 1938 e o
consumo calórico médio de cada membro da família do
trabalhador alemão.

Esse percentual cai para 50% com a economia bastante


comprometida em 1944. Nada mal, se tratando de um
país cercado por forças inimigas e com seu território
retaliado pelo efeito de bombardeios incessantes.

O sistema alemão tinha sido bem sucedido em um item


que a maioria dos sistemas centralmente planejados
falha em oferecer: alimentos à população.

O sucesso do sistema econômico alemão em manter sua


população razoavelmente alimentada, mesmo durante o
período de guerra, deve-se também as requisições feitas
aos países conquistados, que de fato, eram obrigados a

59
fazer e foram importantes mas modestas, como a URSS,
quase irrisória em termos líquidos, a contribuição desse
país na oferta de alimentos para o Reich alemão foi de
apenas 1,7 milhão de toneladas de grãos. Em média,
menos de 10% da produção soviética era exportada para
o território do Reich (Overy, 1996: 129).

O custo de vida para uma família alemã tradicional


(cinco pessoas) aumentou apenas 13% entre 1939 e
1944. Mesmo notando que vários preços eram
controlados pelo governo e que processos de cotas
compulsórias de consumo substituíam o mecanismo
tradicional de racionamento. As maiores pressões
inflacionárias ocorriam em itens como alimentação e
vestuário. O caso da produção têxtil francesa ficou bem
conhecido, com as convenções de armistícios, os
alemães passaram a ter o direito de exigir a entrega de
uma certa quantia de matérias-primas que era por eles
escolhidas.

60
A queda do nível de consumo após 1939 era esperada
em se tratando de um período de guerra total. A
produtividade por trabalhador aumento muito a partir de
1941 na produção de munições e se manteve na
indústria de bens de consumo.

Considerações finais

Na primeira parte, se argumentou que tal eficiência foi


alcançada operando-se um sistema econômico peculiar
(economia de comando) com um grau relativamente
descentralizado. Não se sabe como poderia ter sido a
produção alemã caso tivesse adotado o sistema
totalmente centralizado: não há o contra factual direto e
ademais a abolição da propriedade privada, estava fora
dos contornos ideológicos do regime.

61
O Gráfico 9 mostra um indicador de produtividade da
indústria de Stalin entre 1940 (ano anterior a invasão
alemã) e 1944.

O dado mais sensível diz respeito à evolução


comparativa da produtividade na indústria de bens de
consumo. Enquanto na Alemanha em guerra, esse setor
teve ligeiros ganhos de produtividade, com oscilações
(Gráfico 2) na Rússia soviética e Repúblicas satélites a
produção por trabalhador caiu para 83% do nível inicial
antes da guerra.

A economia alemã mais eficiente e fez crescer a


produtividade no setor industrial bélico e manteve (até
incrementou um pouco) a produtividade por trabalhador
no setor da indústria de bens de consumo.

62
Da Moral na Gestão
Quando Keynes denunciava o Tratado de Versalhes em
“As consequências econômicas da paz”, ele
demonstrava que o capitalismo não poderia ser de
todo bom se fosse apenas baseado no Laissez-
faire(livre mercado), que homens que almejavam o
lucro e que tivessem o poder de influenciar e alterar a
conduta das pessoas estariam sempre agindo assim
para obter maiores lucros e conquistar maior poder de
persuasão.

A outra parte é que o governo sendo responsável pelo


bem estar de todos os indivíduos, teria a autoridade
para equilibrar a balança da justiça social, se
contrapondo aos interesses das grandes corporações e
dos banqueiros internacionais. A maior prova disso é a
forma com que esses grupos fogem das leis nacionais
que os responsabilizariam por impostos, taxas e pelas
condutas éticas, além de extrapolarem suas atividades
econômicas ao interferirem em assuntos como políticas
sanitárias e relacionamentos humanos.

Estamos vivendo um momento impar, quando as


corporações que antigamente trabalhavam
exclusivamente nas sombras e as denuncias contra elas
eram classificadas pelos céticos como “teorias da
conspiração”, hoje se mostram em todo seu esplendor.
Basta olhar para o cenário econômico montado, os
governos decretam quarentenas que causam crise

63
econômica com o fechamento de comércios e a perda
de empregos, mas que por outro lado deram as
grandes corporações uma posição privilegiada dentro
da economia global.

Devido ao distanciamento e as quarentenas, as pessoas


presas em suas casas procuraram o e-commerce
(negócios pela internet) e compram desde alimentos
até artigos supérfluos por esse meio. Do outro lado
estão as big-tech que além de proporcionar a
comodidade das vendas à domicilio também são os
fornecedores dos insumos para a nova moda de
trabalho, o home-office (trabalho em casa conectado a
empresa pela internet). Os equipamentos e programas
que mantiveram a economia rodando proporcionam
um lucro extra para essas grandes empresas. Na outra
ponta está a indústria do entretenimento como a
Netflix e a velha mídia engajada com os ideais das
grandes corporações.

Ou seja, empresas como Mc Donalds, Burger King,


Ifood, Amazon, Folha de S.Paulo, Huawei, Google
possuem muito mais em comum do que parece e para
fechar essa conta temos um fenômeno puramente
criado pela internet, as redes sociais.

Quando a informática crescia se criou um paradigma de


qual seria seu objetivo e como conciliar tecnologia e as
necessidades humanas sem o risco de um
“exterminador do futuro” como os pessimistas

64
apontavam. Nisso se criou as redes sociais e elas foram
imediatamente aceitas pelo grande público e
consumidas com voracidade.

Mas eram plataformas que inicialmente davam espaço


aos internautas para manterem suas informações de
forma a compartilhar com outras pessoas como fotos,
textos e vídeos. Porém a medida que cresciam em sua
influência na sociedade, o eixo de comando que era
exercido pelo que a maioria dos integrantes
compartilhava foi gradativamente passado para a
gestora da plataforma que começou a censurar e
perseguir conteúdos que fossem destoantes com as
políticas aceitas pelas grandes corporações. Outra
forma criada foram os “checadores de fatos”, atividade
ilegal exercida por jornalistas e ativistas políticos que se
fazem de censores dentro das redes sociais.

Para que tudo isso acima funcione de forma a não ter


interrupções devido as possíveis crises nos países
afetados, temos o sistema financeiro que tem obtido
lucros recordes desde o início. Encabeçado por grandes
corporações como o FMI (Fundo Monetário
Internacional), pelo Project Syndicate e o Open Society
de George Soros e pelo Fórum Econômico Mundial de
Klaus Schwab que dão o norte de todas essas ações
como pelo seus planos anunciados para o mundo em
até 2030.

65
Das origens da crise
O mundo não caiu nessa realidade, ela foi construída à
muito tempo por idéias que foram gradativamente
inseridas dentro da sociedade ocidental:

“Vocês americanos são tão crédulos. Não, vocês não


vão aceitar o comunismo, mas vamos continuar a
alimentá-los com pequenas doses de socialismo até que
vocês finalmente acordem e descubram que vocês já
tem o comunismo. Nós não vamos ter que lutar contra
vocês. Vamos enfraquecer a sua economia até que
vocês caiam como frutas maduras em nossas mãos."
Nikita Khrushchev

Em 2020, cerca de 2.200 milionários tiveram um


acréscimo em sua riqueza no aporte de 2 trilhões de
dólares, por causa da extinção de vários empregos
devido a automação e a redução dos salários gerando
uma concentração de renda nos maiores grupos, como
também a extinção de pequenos comércios que foram
engolidos pelos grandes grupos.

Se eu fosse uma pessoa “sensata” diria que as duas


frases acima não possuem nada em comum, o plano de
um grande líder comunista e a ação dos maiores
representantes do capitalismo, porém é daí que sai o
“pulo do gato”. Segundo boatos, quando os russos
invadiram Berlin tiveram contato com o material
escrito por Ludwig von Mises que retrataria a queda do
comunismo como sistema econômico, pois sua utopia

66
seria inviável, fato esse que aconteceu em algumas
décadas depois mas que deixaria profundas raízes nos
líderes soviéticos. Como destruir o sistema ocidental de
dentro para fora e ainda comandar o mundo?

O chamado “capitalismo selvagem” é além de um


sistema econômico, um conjunto de forças capazes de
manipular a mente dos indivíduos de tal sorte que eles
são empurrados a fazer o que não precisam apenas
para satisfazer suas necessidades mais básicas com a
desculpa de defesa de seus interesses:

"Todo homem luta com mais bravura pelos seus intere


sses do que pelos seus direitos." Napoleão Bonaparte

“O poder corrompe, o poder absoluto corrompe


totalmente” autor desconhecido;

Melhor que medidas econômicas com fundo técnico, as


medidas coercitivas tem se provado de grande valia aos
governos totalitários modernos, como disse David
Rockefeller:

"Estamos à beira de uma transformação global, tudo


que precisamos é a maior crise correta e as nações
aceitaram a nova ordem mundial.”

Nesse tipo de cenário, os mecanismos do capitalismo


selvagem são instigados a agir com força como se
tivesse um catalisador, os donos do capital exigem dos
investimentos, o melhor rendimento possível, os donos

67
das fábricas, espremem processos e assim como no
comércio, o fator humano é sugado de todas as formas
possíveis. As grandes corporações engolem as
pequenas e nesse stress todo o mercado como o
conhecemos, o laissez-faire não funciona mais com seu
habitual conjunto de freios e contrapesos, causando
um aumento na diferença de renda entre os grandes e
pequenos colaboradores, o que nos leva ao discurso de
Friedrich August von Hayek quando ganhou o Nobel de
Economia, “se tivesse sido consultado sobre o
estabelecimento de um Prêmio Nobel de economia, eu
certamente teria sido resolutamente contrário...” para
ele o fato de que as consequências das palavras dos
economistas serem vistas com veneração e cega
obediência por parte da população e como desculpa
para medidas mais duras e desumanas por parte de
governantes e instituições financeiras, o incomodava
bastante, não somos “autoridades em todos os
assuntos”, referindo se a abrangência do impacto das
ciências econômicas em toda nossa sociedade.

Da mesma forma que Keynes ao escrever “As


consequências econômicas da paz”, não apenas fazia
uma denuncia, mas anunciava ao mundo seu pedido de
clemência por participar de uma atrocidade sem igual,
pois desde o tempo da guerra suspeitava que o
tratamento dado ao derrotado fosse desumano,
desproporcional e impactaria muito mais o povo do
que aos seus governantes, hoje assistimos uma crise

68
mundial que se anunciava nas últimas décadas, na qual
concorremos em cumplicidade seja por nossas ações
ou omissões.

Metodologias de Administração
As alterações nos métodos da administração fizeram
com que aquela antiga divisão de trabalho com
processos puramente mecânicos como no filme de
Charles Chaplin, “Tempos Modernos”, fosse fundido
com as relações interpessoais criando um sistema no
qual se relacionar com as outras pessoas tornou-se um
jogo cheio de regras de conduta e a tarefa algo mais
pessoal e personalizado.

A Dra. Prisca Prose em seu artigo „Ist Deine Arbeit


sinnhaft? Denk kurz darüber nach!“(O seu trabalho é
significativo? Pense nisso) mostra a relação entre o
stress e a nossa percepção sobre a importância e o
significado daquilo que fazemos diariamente, num
primeiro momento o stress aguça a percepção e o foco
na tarefa, porém em um longo período nesse estado,
isso pode inverter e a importância que damos ao nosso
trabalho diminui.

Os nossos relacionamentos mecanizados dentro do


ambiente de trabalho combinado com processos
individualistas são a perfeita receita para o stress e o
isolamento. Principalmente quando as empresas criam
sistemas nos quais agimos como engrenagens e

69
perdemos a visão do todo. Não temos idéia da real
importância do nosso papel em todo esse mecanismo.

Os métodos administrativos tem se mostrado bastante


“inclusivos” em aderir às modas e tendências de fundo
“modernistas” ao ponto de perderem certas noções
como “certo/errado” a moral e o papel da empresa
dentro da sociedade na qual está inserida. O papel do
administrador perde sua face mais humana ao
inserirmos especialistas de outras áreas como
engenharia e T.I. (tecnologia da informação) em postos
de chefia. Aquilo que o personagem do Executivo é
mais criticado pelo Monge, sua incapacidade de
empatia, de dar importância ao ponto de vista de
outras pessoas e de se colocar em suas peles. Não é
incomum termos na gestão pessoas que antes de
terminarmos uma explicação, já tem a solução pronta e
uma orientação para dar. Porém de que nada serve e
normalmente pode ser resumida em: se der errado a
culpa é toda sua.

Pode até dar certo numa entrevista, faz parecer


confiante e até um pouco arrogante, mas esconde
sempre a falta de conhecimento humano e trás o
“mecanicismo” como uma regra para toda a empresa.
Lembrando a capacidade de influência de um gestor
sobre toda a sua equipe e sobre aquelas outras com
quem trocam experiências.

70
Planejamento, organização, direção e controle
(PODC)
Cada metodologia administrativa em vez de reforçar o
caráter humano de nossa função, serve apenas para
“engessar” os processos e as quatro etapas se tornam
apenas uma, o “controle”, pois de tanto trabalharem
com planilhas, esses novos líderes tornam essas etapas
tão rígidas que a criação perde a sua subjetividade no
Planejamento. A Organização fica sempre pré-definida
pelo layout da empresa que dá seus limites, cores e
padrões e a direção cabe a um líder mais máquina do
que gente.

A maioria das novas metodologias empregadas são


“vendidas” aos colaboradores, nova forma de se referir
aos empregados, com textos que parecem ter saído de
propagandas de cigarros dos anos 70, tão otimistas e
omissas em detalhar seus reais objetivos:

 Kanban – melhoria contínua;


 Poka Yoka – “a prova de erros”;
 Análise SWOT – “forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças”
 Cinco S – “Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e
Shitsuke”;

"as modernas metodologias administrativas


preferem sistemas de trabalho com abordagem mais
holística para avaliar a eficiência e maximizar a
produtividade. Assim, surgem condições de

71
verdadeira oposição entre os métodos de Taylor e os
atuais..."

(Coltro, 2015, p.77)

Kanban – “é um sistema de gestão visual para


controle de tarefas e fluxos de trabalho através da
utilização de colunas e cartões, facilitando a gestão de
atividades.” Criado pela Toyota em 1940 para controle
de estoques e abastecimento. A palavra Kanban vem
do japonês e significa “cartão”, pois faz referência aos
cartões coloridos utilizados, ou seja, o objetivo desse
método é que o colaborador seja incentivado a cada
vez mais ser eficiente em suas tarefas e eficaz com os
materiais utilizados.

Poka Yoka – a prova de erros ou como foi


originalmente chamado, “a prova de idiotas” é um
método que consiste numa análise dos processos e
das tarefas, identificar falhas, principalmente as
reincidentes e criar um sistema que elimine ou
diminua a possibilidade de novas ocorrências.

Análise SWOT - permite ao gestor identificar pontos


positivos e negativos atuais e também projetar uma
visão de futuro, entendendo o que se coloca como
tendência, ou seja, numa equipe é possível
determinar quantos colaboradores podem melhorar
ou dificultar a implantação de um processo de acordo
com os seus pontos positivos e negativos.

72
Os 5 S – Sistema criado no Japão na década de 50 e
está mais ligado a área de qualidade e cada um dos
seus S ou comumente chamados “senso” representam
uma qualidade específica:

Seiri – senso de utilização, que corresponde a eliminar


o desnecessário separando-o do necessário;

Seiton – senso de organização, que significa colocar


em ordem, guardando de forma ordenada tudo que é
necessário;

Seiso – senso de limpeza que significa eliminação da


sujeira ou obstáculos nos processos;

Seiketsu – senso de higiene que significa asseio,


padronização e também o estágio onde se evita que
as etapas anteriores retrocedam;

Shitsuke – senso de ordem mantida que significa


disciplina, com o cumprimento rigoroso de tudo que
foi estabelecido.

Os objetivos dos atuais métodos administrativos são o


aumento da produtividade, melhor eficiência e maior
eficácia, menos erros e diminuição do possível
“gargalo” em processos com variantes imprevisíveis.
Ou seja, o indivíduo que é atualmente isolado e
medido apenas pelos seus pontos negativos e não
está na “equação”, portanto não será aprimorado, no

73
melhor cenário, será descartado quando não mais
produzir conforme os padrões de sua empresa.

Na área de planejamento a última moda se tornou o


B.I. (Business Inteligence) que foi criado pela IBM com
o intuito de fazer relatórios voltados para dar
embasamento as decisões da alta gestão da empresa
e isso foi copiado em menor escala por outros
sistemas. O problema é que nem sempre o objetivo é
o mesmo, pois alguns líderes enfatizam a confecção
de relatórios apenas para manterem o sistema em
“rédeas curtas” e terceirizarem aos subalternos,
partes de suas funções, ou seja, para receberem de
forma mastigada, informações que eles mesmos
poderiam extrair das ferramentas do sistema.

Pessoas costumadas a esses tipos de processos,


doutrinadas pelas novas metodologias estarão aptas a
responder de uma melhor maneira à quarta revolução
industrial: o Transhumanismo.

Do Transhumanismo
Segundo o World Economic Forum (Fórum Econômico
Mundial), o Transhumanismo é o próximo inevitável
passo da evolução humana:

“Ele está enraizado na crença de que os humanos


podem e serão aprimorados pela engenharia
genética e tecnologia da informação de hoje, bem
como pelos avanços previstos, como a

74
bioengenharia, inteligência artificial e
nanotecnologia molecular. O resultado é uma
iteração do Homo sapiens aprimorada ou
aumentada, mas ainda fundamentalmente humana.”

Os termos são bastante vagos assim como os critérios


para que pessoas sejam aceitas nesses experimentos,
idade, raça, aptidões físicas ou mentais e qual o preço
a se pagar por tais “benefícios”. Sua liberdade, seu
direito de escolha, sua opinião sobre a sua vida ou a
sua alma. Nenhum benefício supera a sua liberdade
como fator determinante de seu papel dentro da
humanidade.

Do resultado: o stress
No trabalho da Dra. Prisca Prosi, ela aconselha aos
colaboradores que passam por diversas fazes de stress
que façam uma autoanálise de seu papel na empresa,
respondendo a si mesmo, algumas questões:

• Até que ponto meu trabalho me ajuda a desenvolver


meu potencial e / ou desenvolver novas habilidades?

• Até que ponto eu estou em união com outras pessoas


e / ou apoio outras pessoas?

• Como estou em sintonia comigo mesmo?

• O que me inspira no meu trabalho?

As respostas podem ser encorajadoras ou não, de


acordo com o nível de stress suportado pelo

75
indivíduo, e pela recorrência com que esses níveis se
sucedem. Um alto nível de stress durante um curto
período aguça os sentidos, porém quanto maior esse
período, o nível de resposta diminui e a importância
que ele pode dar ao seu trabalho, também diminui.

Da volta à natureza
Muitos que leram até aqui podem ter considerado
como “obvia” essa evolução de fatos e que o
aprimoramento do homem no trabalho é
fundamental. Mas vamos lembrar como a civilização
ocidental surgiu, com uma das principais correntes
filosóficas: o estoicismo.

“O Estoicismo conclama o desenvolvimento do


autocontrole e da coragem como um meio de superar
emoções destrutivas; a filosofia sustenta que se tornar
um pensador claro e imparcial permite entender a
razão universal (logos).”

Como o Estoicismo entende o desenvolvimento


humano?

...a melhoria do bem-estar ético e moral do indivíduo:


“a virtude consiste em uma vontade que está de
acordo com a natureza”. Este princípio também se
aplica ao domínio dos relacionamentos interpessoais;
“estar livre de raiva, inveja e ciúme” e aceitar até
escravos como “iguais a outros homens, porque todos
os homens são produtos da natureza”.

76
Aqui começamos a ver os conflitos, as empresas se
baseiam em fatores artificiais, como o dinheiro e fica
restrita a um universo “manipulador” que te obriga a
seguir um roteiro que pode ser até doido, como
naquele filme “O diabo veste Prada”, no qual uma
jovem secretária deve atender aos mais esdrúxulos
caprichos de sua patroa.

Aquilo que seu chefe chama de “erro” é na verdade


um desalinhamento na cadeia de comunicação entre
o que a empresa solicita dele e aquilo que ele solicitou
de você e o resultado adquirido:

EMPRESA retorno esperado

LÍDER

COLABORADOR

O retorno pode não ter sido exatamente o que a


gestão superior estava imaginando receber. Até onde
vai o “mecanicismo” que os tecnocratas acham ser o
que forma o trabalho? Por mais ignorado que seja o
subjetivismo humano, ele existe e sempre foi um

77
requisito no diferencial humano na sua história pela
terra.

"Importante não é ver o que ninguém nunca viu, mas


sim pensar o que ninguém nunca pensou sobre algo
que todo mundo vê" Arthur Schopenhauer

Dessa forma o colaborador que sempre segue


estritamente aquilo que lhe é imposto pela empresa
mata em seu interior o seu espírito criativo. Não é de
se estranhar que ano após ano milhares de
engenheiros se formem pelas universidades pelo
mundo afora, porém o homem que recebeu o prêmio
de o “Engenheiro do Carro do Século” foi Ferdinand
Porsche que apesar do título de Doutor Honoris
Causa, jamais cursou uma faculdade.

Não que isso seja um desincentivo para quem imagina


seguir alguma carreira, porém é um fato que até
mesmo Friedrich Nietzsche havia percebido, o que os
cursos superiores estavam se tornando meros
concorrentes dos cursos técnicos. O mecanicismo é
uma forma de “emburrecimento” humano que
acompanhará o indivíduo formado em toda sua
carreira de trabalho.

Dessa forma demonstramos que todo um cenário de


macroeconomia vai se direcionar sobre o indivíduo,
erodindo as suas capacidades e retirando
gradativamente os seus direitos individuais.

78
Da Conclusão
Quais as lições tiradas desses capítulos da história?

O que Keynes denunciou não foi apenas um atentado


contra uma nação, mas uma parte de uma agenda de
dominação global e não foi feita apenas nos bastidores,
está à mostra para que todos vejam.

Quando John Rockefeller anunciou seu programa de


auxílio escolar, o “General Education Board” no início
do século passado, ele já confessou que o objetivo era
formar operários para suas fábricas e não intelectuais
ou críticos do sistema.

As ações do Presidente Woodrow Wilson em vários


episódios possuem motivações desconhecidas, porém
o aparecimento de denúncias de racismo e ligações
com a Ku Kux Klan demonstra que ele possa ter sido
alvo de algum tipo de chantagem, o que explicaria sua
fidelidade canina com os banqueiros, dos 07 membros
indicados para o 1º Conselho de Governadores do
Federal Reserve, ele indicou apenas um, o resto foi
escolhido a dedo pelos banqueiros, apesar de nomeado
para a presidência pelo Partido Democrata, que
alegava representar o "homem comum" contra os
"interesses adquiridos".

Semelhantes atitudes, vemos nas contribuições de


Wilson para o Tratado de Versalhes, elogiado pela
mídia como “modernistas”, as medidas visavam muito

79
mais retirar da Alemanha o espólio de guerra e
balancear as forças dentro da Europa, de forma a
garantir o domínio do capital internacional em todas as
principais áreas econômicas.

A agenda globalista mostra sua força em dois campos


distintos de atuação, na macro economia, garantindo
poder e influência mas sem se responsabilizar das
consequências pelos seus atos e decisões, fugindo das
leis locais ou fazendo lobby para que leis contrárias aos
seus interesses não sejam aprovadas como aconteceu
com o Google a alguns anos na Alemanha e a poucos
meses na Austrália, quando foi proposto uma taxa
sobre as notícias veiculadas pela internet e que
tivessem origem em canais de mídia locais nesses
países. Em ambos os casos, a lei acabou sendo
engavetada. Sendo que na Austrália o que chama a
atenção foi um episódio de um “apagão” de sites
hospedados nos servidores do Google durante as
negociações que posteriormente foi atribuído a uma
falha técnica.

Outra forma de garantir essa “unanimidade” em sua


atuação é calando as opiniões contrárias, perseguindo
técnicos, jornalistas, médicos e especialistas que
contestem as suas opiniões, como também políticos e
pessoas comuns.

80
“Quando não conseguirem te manipular, vão tentar
manipular os outros para que pensem mal de você.
Isso é típico dos incompetentes!” Magis gabriel

Isso pode ser visto no tratamento dado pela mídia aos


governantes tidos como de direita, como o Primeiro
Ministro húngaro Viktor Orbán, o Presidente da Bielo-
Rússia Aleksandr Lukashenko e até o Nosso próprio
Presidente, entre outros.

O outro campo é o individual, com a manipulação da


mídia e com a patrulha ditatorial do “politicamente
correto” e “moralmente duvidável” fazem com que
várias campanhas nos sejam impostas, uma atrás da
outra, para que não tenhamos como nos defender,
como fazem em projetos nos governos. Um exemplo
clássico são os abortistas que vendem sua idéia de
assassinato de bebês com a falsa impressão de que
fetos não tenham alma no momento de sua concepção
até certo período. Muitos engolem essa falácia e em
pouco tempo mais projetos são apresentados até que
conseguem uma lei como a do estado de Nova York
que bebês possam “serem retirados da mãe no nono
mês e mantidos de forma confortável para que a mãe e
o médico decidam de que forma ela será morta!” esse
infame texto é o apresentado por congressistas
americanas pelo partido democrata.

A principal característica do “cafajeste” é ter dois pesos


e duas medidas, por isso não se enganem, quando

81
direitistas são acusados, os fazem em nome do grupo
através do erro de um apenas. Quando esquerdistas
são pegos em toda sorte de iniquidades, eles estão
sozinhos. Da mesma forma que cada célula comunista
não aceita ter ligação com as anteriores. Ratos são
ratos e não importa de onde eles saem.

Cavalheiros, o jogo é esse e vem sido assim por alguns


séculos, seja de forma velada e por trás dos panos ou
de forma explícita e aberta a todos, se alguém confessa
algo é apenas pela certeza da impunidade. Napoleão
Bonaparte foi uma das vítimas desse projeto
maquiavélico quando disputou o poder da Europa com
Nathan Mayer Rothschild, 1º Barão Rothschild,
banqueiro e político do Reino Unido, e como tal,
Napoleão deixou seu testemunho nessa frase:

“A História é um conjunto de mentiras sobre as quais


se chegou a um acordo.”

Para encerrar, a síntese do que Keynes defendia em


seu trabalho:

“O problema político da humanidade é combinar três


coisas: eficiência econômica, justiça social e liberdade
individual.”

John Maynard Keynes

82
BIBLIOGRAFIA
- https://www.britannica.com/biography/John-
Maynard-Keynes

- https://joserobertoafonso.com.br/keynes-e-o-preco-
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- https://www.preparaenem.com/historia/a-teoria-
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-
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- https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/5s/

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- https://www.dw.com/pt-br/1946-fim-da-liga-das-
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https://en.wikipedia.org/wiki/General_Education_Boar
d

- Feijó, Ricardo Luis Chaves- Uma interpretação do


Primeiro Milagre Econômico Alemão (1933-1944),
Revista de Economia Política, vol. 29 nº 2, pp. 245-266,
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- Keynes, J.M. - A consequências econômicas da paz -
Imprensa Oficial do Estado Editora Universidade de
Brasília - Instituto de Pesquisa de Relações
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- C. Hunter, James – O monge e o Executivo – Editora


Sextante (GMT Editoras Limitadas) 2004.

- John Maynard Keynes - The Economic Consequence


of the Peace, New York: Harcourt, Brace, and Howe,
1920.

84

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