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A TEORIA ECONÔMICA KEYNESIANA E A GRANDE DEPRESSÃO 1

Robertta Lima de Almeida2

HUNT, E. K; SHERMAN, Howard J. A teoria econômica keynesiana e a grande


depressão. In: História do Pensamento Econômico. 5 ed. Trad. Jaime Larry Benchimol.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1986. p. 163-177.

Hunt e Sherman se propõem a explicar a complexa teoria de John Maynard


Keynes, na qual o economista apresenta soluções para tentar salvar o capitalismo após a
Grande Depressão de 1929.
O crescimento econômico dos Estados Unidos ocorrido entre o fim do século
XIX e inicio do século XX possibilitou sua hegemonia financeira frente ao mercado
mundial. Contudo, com a desvalorização da bolsa de valores de Nova York, uma reação
em cadeia originou uma das principais crises do país. Diante disso, Keynes se incumbe
de analisar o processo produtivo capitalista para detectar seu obstáculo e verificar
soluções para salvar o sistema.
A doutrina econômica de Keynes compreende o custo de produção como renda
para as pessoas envolvidas no processo produtivo, incluindo o lucro, o qual é renda para
os proprietários das empresas. Com base nisso, para que haja o consumo de toda a
produção é fundamental que as famílias gastem toda a sua renda em produtos, o que
garantirá o retorno do dinheiro integralmente para as empresas, as quais voltarão a
produzir, pagando os salários e demais custos de produção. Esse processo foi
denominado de fluxo circular, pois o dinheiro circula da empresa para o público, que ao
adquirir o bem, retorna-o para a empresa.
No entanto, o economista aponta vazamentos nesse fluxo, causados pelas
poupanças, pela compra de mercadorias estrangeiras e pelo pagamento de impostos. Por
meio desses três instrumentos, os custos de produção não retornam para as empresas,
causando mais oferta do que consumo efetivo de mercadorias. Keynes aponta soluções
para estes problemas. Acerca das importações, seria necessário exportar mais do que
comprar produtos estrangeiros, objetivando garantir o retorno financeiro para as
empresas. Com relação aos impostos, o governo deveria financiar a aquisição de bens e

1
Resenha realizada como requisito avaliativo à disciplina Economia Política, ministrada pelo Prof. Me.
Pedro Henrique Brandão, parao curso de Bacharelado em Direito da Universidade Federal do Pará em 31
de Agosto de 2017.
2
Discente do curso de Bacharelado em Direito da Universidade Federal do Pará - TURMA 040N/2017
serviços, garantindo o equilíbrio entre o que foi recolhido e o consumo da produção.
Quanto às poupanças, estas seriam convertidas em investimento para as empresas
comprarem bens de capital. Dessa forma, com a venda de tudo que foi produzido,
haverá a prosperidade.
Entretanto, ocorrem outras variáveis. Os indivíduos com mais renda tendem a
acumular mais poupança, o que demandaria ainda mais investimentos. Keynes detecta
que existe um limite para as oportunidades de investimento, causando a queda deste
perante as poupanças e impedindo que toda a produção seja consumida. Assim sendo, as
empresas passam a reduzir a produção, acarretando a diminuição da renda da população,
a qual minimiza seus gastos. Esse processo se acentuará até que o consumo das
poupanças seja compatível com os investimentos.
Os autores afirmam que Keynes considera como causa das crises do
capitalismo, a inépcia dos proprietários das empresas em diversificar os investimentos.
Por isso, seria necessário que o governo, por meio de empréstimo, utilizasse o dinheiro
das poupanças para a realização de políticas públicas como escolas e hospitais.
Contudo, o economista compreendia que políticas relacionadas à redistribuição de renda
não seriam interessantes para as classes mais ricas, detentoras do poder governamental.
Após a exposição das ideias de Keynes, Hunt e Sherman demonstram como os
Estados Unidos saíram da Grande Depressão com a eclosão da II Guerra Mundial, a
qual absorveu a mão-de-obra ociosa do país e propiciou uma oportunidade de
investimento.
O fim da Grande Depressão incitou o reaparecimento das velhas teorias
neoclássicas, sustentadas por complicadas fórmulas matemáticas, cujo representante
mais célebre é Paul A. Samuelson. As obras deste autor explicam de forma mais simples
as teorias keynesianas, propondo uma fusão entre estas e as doutrinas neoclássicas.
Com o fim da guerra, o governo americano adotou a concepção de Keynes,
expressa na Lei do Emprego, na qual se tornava obrigatória a intervenção estatal para a
manutenção do emprego.
Apesar de ocorrerem algumas recessões, Os Estados Unidos não passaram
mais por grandes depressões após a II Guerra Mundial. O motivo para o desempenho da
economia americana pós-guerra reside na militarização do país, cujo governo investe
maciçamente na indústria bélica de bens de capital. As despesas governamentais
formaram o complexo industrial-militar, o qual movimenta a economia americana,
gerando emprego e adquirindo equipamentos bélicos modernos. Segundo Hunt e
Sherman, os gastos militares funcionam nos Estados Unidos como as pirâmides serviam
à economia do Antigo Egito, uma forma de regular a produtividade e não elevar a
demanda, proporcionando a prosperidade norte-americana.
Não obstante, o militarismo, como instrumento da política econômica, mostra
como efeito a negligência às necessidades sócias da população, podendo causar um
colapso na sociedade.
O capítulo demonstra como as teorias keynesianas trouxeram uma nova
abordagem para as premissas neoclássicas, ao questionar a autorregulação do mercado e
propor mecanismos de controle dos gargalos do capitalismo. Hunt e Sherman analisam
esta doutrina, comparando-a com as visões de Marx e Hobson, a fim de construir um
panorama acerca do pensamento econômico da época. É fundamental o arcabouço
histórico que expõe a necessidade dos economistas em justificar o capitalismo e tentar
salvá-lo.
Para possibilitar a compreensão dos mais diversos interessados em economia, a
linguagem do texto evitou a utilização de termos muito técnicos da área, esclarecendo
os conceitos de forma clara, bem como trazendo a doutrina para a época da publicação
do livro. Outro aspecto relevante é a presença de dados comprobatórios das informações
fornecidas.
Portanto, a leitura do capítulo possibilita o conhecimento da Teoria de Keynes
e suscita a curiosidade em verificar suas repercussões.

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