Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1- Introdução
Uma frase conhecida, escrita por J.M.Keynes, observava que as idéias dos
economistas e dos filósofos políticos, certas ou erradas, são mais poderosas do que
normalmente se considera1. Uma outra forma de apresentar a mesma proposição, de
forma mais amena, é afirmar que as idéias dos economistas têm o potencial de gerar
poder político. Isto é, idéias na forma de teorias econômicas (e de políticas propostas a
partir delas) são justificativas para que burocratas, políticos e outros membros do
aparato do Estado tomem decisões e realizem escolhas entre estratégias econômicas e
políticas que considerem viáveis ou convenientes.
Mas simplesmente afirmar que as idéias são importantes é muito pouco: elas não são
variáveis puramente exógenas2. As razões porque determinadas idéias são escolhidas e
outras abandonadas devem ser buscadas não apenas na história das idéias, mas também
na dinâmica dos interesses econômicos ou políticos, ou seja, na história de uma dada
sociedade.3 Mas as idéias econômicas são formuladas e difundidas a partir de caminhos
peculiares a esse campo de conhecimento4. A economia, sendo uma ciência social, tem
como uma das principais formas de testar empiricamente suas proposições a análise de
fenômenos históricos. Estes são, portanto, um objeto de estudo para a disciplina de
história econômica, mas são, também, um laboratório para testar o poder de explicação
de um modelo teórico.
Nesse sentido, a Grande Depressão da década de 1930 tem sido um campo fértil5.
Esse fenômeno foi estudado por todas as correntes econômicas. Suas interpretações
foram armas em alguns dos mais ferrenhos embates acadêmicos do século XX. Em
(*)
– Professor do Instituto de Economia da UFRJ.
1
- Keynes, 1936, p.383.
2
- Ver para uma discussão do tema, Hall, 1989, cap.14.
3
- “Idéias legitimam o poder, são sua essência, pois dão-lhe o caráter de justiça ou de inevitabilidade
que permitem que seja exercido em atos rotineiros, com a assepsia da normalidade.” Prado, 2006, p.254
4
- Ver sobre a difusão das idéias econômicas o livro editado por Colander & Coats, 1993.
5
- Usei a expressão a Grande Depressão da Década de 1930, porque há historicamente outras depressões,
como a Grande Depressão do Século XIX, iniciada em 1873. No entanto, daqui para frente quando usar a
expressão Grande Depressão, com letras maiúsculas, estarei sempre tratando do fenômeno do século XX.
Página |2
especial, esse foi um dos cenários em que as duas principais correntes do pensamento
econômico ocidental se enfrentaram.
Por outro lado, aqueles que consideravam que a dinâmica da economia de mercado
não é incompatível com diversos tipos de equilíbrio, inclusive muito distantes das
situações de pleno emprego, como os keynesianos, entendiam que a crise poderia ter
causas não monetárias, como flutuações autônomas no consumo, com efeitos sobre a
demanda agregada nos EUA. Mas, esses economistas explicavam a extensão e duração
da crise pela incompreensão de sua natureza pelos economistas ortodoxos e, portanto, os
policy makers, orientados por essas idéias equivocadas, eram incapazes de usar políticas
econômicas corretas para combatê-las.
Este trabalho pretende revisitar esta crise recuperando as interpretações sobre sua
natureza realizadas à época dos eventos e aquelas formuladas pelas diversas correntes
econômicas nos anos do pós-guerra. Mas o trabalho tem também o objetivo de mostrar
as transformações no papel do Estado e na política econômica como resultado das
interpretações sobre a Grande Depressão. Finalmente, este trabalho pretende apontar
algumas semelhanças e diferenças entre a crise atual e aquela de 1930.
bolha ou mania na bolsa de valores de Nova York e seu estouro (ou crash) em outubro
de 1929 e a Grande Depressão. Esta, diferente daquele evento, que foi limitado no
tempo e espaço, é um fenômeno extenso no espaço e prolongado no tempo. Chamamos
de Grande Depressão, não o crash de 1929, mas a deflação do preço das mercadorias e
ativos, causada pela dramática redução do nível de atividade econômica, que afetou a
economia norte-americana, mas também, embora de maneira desigual, a economia da
maioria dos países do mundo, durando cerca de uma década, ou seja, até o advento da
Segunda Guerra Mundial.6
O estouro de uma bolha (um crash) é o colapso dos preços de ativos, tais como
ações ou títulos negociados em bolsas de valores ou a quebra de um grande banco ou de
um grupo de empresas em um setor da economia.8 Pânicos são corridas sem causa
aparente que envolve fuga de ativos considerados mais arriscados para ativos mais
seguros e/ou a retirada de depósitos bancários, e outros mecanismos de busca de
refúgios seguros para a aplicação de ativos e uma súbita elevação da preferência pela
liquidez.9 Uma crise financeira pode ser produzida por qualquer um desses fenômenos
6
- A grande exceção foi a economia da União Soviética que, desvinculada da economia mundial, não
passou pelas dramáticas quedas de nível de atividade, ao contrário, viu-se em um período de forte
crescimento econômico como resultado dos planos qüinqüenais. Alguns países periféricos, como o Brasil,
foram capazes de sair da crise relativamente rápido, mesmo sendo afetados nas suas receitas de
exportação. Na Europa os efeitos da crise foram distintos, sendo que alguns, como a França, que
insistiram em manter o padrão ouro, a depressão durou por mais tempo e outros, como a Alemanha,
foram capazes de entrar em uma trajetória de recuperação já a partir de 1934. Para uma visão ampla sobre
a Grande Depressão na Europa ver Clavin, 2000. A interpretação clássica sobre os efeitos no Brasil da
Grande Depressão é de Furtado, 1959. Para um estudo sobre a economia brasileira na década de 1930 ver
Leopoldi, 2003. Ver também o livro editado pela professora Thorp, 1984, com vários estudos sobre os
efeitos da Grande Depressão nos países latino-americanos.
7
- Na definição desses conceitos a obra de referência é o livro de C.P.Kindleberber, 1989. Esta obra que
vai aprofundar sua teoria sobre crises financeiras, propostas em trabalho anterior (ver Kindleberger
1987), entra em grande detalhe na identificação de cada um desses mecanismos.
8
- Entre exemplos desses fenômenos temos a crise do Encilhamento no Brasil, o crash da NYSE de
outubro de 1929. Um exemplo recente é o crash do NYSE em 19 de outubro de 1987, quando o índice
Dow Jones da Bolsa de Valores de Nova York caiu 508 pontos ou seja 23%.
9
- Este é um fenômeno comum em situações de boatos de quebra de bancos, ou no temor da mudança de
uma política econômica, como no caso da corrida pela liquidação dos depósitos em dólar nos bancos
Página |4
ou pelos dois que podem surgir em qualquer ordem, ela caracteriza-se pela elevação
súbita da percepção de risco pelos bancos e outras instituições financeiras, com efeitos
sobre a oferta de crédito, solvência dos bancos e liquidez da economia.10
argentinos nas vésperas do fim da conversibilidade. Para uma interessante descrição de um pânico
bancário em um período recente ver Souza, 2007, PP.260-264.
10
- Ver Kindleberger, 1989 p.126.
11
- Para uma teoria dos ciclos econômicos ver Schumpeter, 1934 ver, também, the Lowell Lecture,
(Schumpeter1941), aula IV uma interessante apresentação do autor para um público não especializado. A
principal obra de Schumpeter sobre Ciclos Econômicos (Schumpeter 1939) é excessivamente extensa,
tem mais de 1000 páginas, e nem sempre é muito clara. Um trabalho interessante é o livro clássico sobre
ciclos econômicos de Wesley, 1927. Para uma história do debate sobre ciclos econômicos na década de
1930, ver Boianovsky & Trautwein, 2006.
Página |5
Por sua vez, depressões econômicas são fenômenos conjunturais que podem (ou
não) levar a mudanças estruturais. Por exemplo, a Grande Depressão do século XIX,
que iniciou-se em 1873, não levou mudança estrutural na economia mundial, como a
provocada pela Grande Depressão da década de 1930. No primeiro caso, manteve-se o
sistema monetário internacional e, nas relações políticas e econômicas internacionais, a
Grã-Bretanha continuou com seu papel hegemônico, apesar do desafio do surgimento da
Alemanha unificada, como a maior potencia continental. No entanto, no segundo caso,
tanto o Sistema Monetário, como a potencia hegemônica e outros elementos
econômicos e políticos fundamentais (como o papel do Estado), alteraram-se devidos os
acontecimentos ocorridos entre a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial.
12
- Qualquer definição de tempo histórico passa necessariamente pela contribuição de Braudel. Na obra
“O Mediterrâneo”, Braudel distingue três unidades temporais de análise: A long durée, com mudanças
lentas, imperceptíveis durante a vida do homem; a conjuntura, com mudanças que se processam em anos
ou em poucas décadas; e os acontecimentos, que tratam dos fatos cotidianos, relatados na forma narrativa
dos historiadores tradicionais. Para ele “acontecimentos são poeira: atravessam a história com breves
clarões; mal nascem regressam logo à escuridão e muitas vezes ao esquecimento.” Braudel, 1966,vol.II,
p.273. Ou seja, na sua unicidade acontecimentos não ensejam nenhuma explicação. Mas, os
acontecimentos são engendrados pelas estruturas e conjunturas, podem ser rupturas do equilíbrio ou
restabelecimento desses. Nesse sentido, os acontecimentos podem ser estudados para entender as
mudanças nas dimensões mais permanentes das conjunturas e das estruturas. Ver Le Goff,1998, p.113.
Observe-se que, nesse artigo, não faço uma aplicação literal dos tempos históricos braudelianos, faço, no
entanto, distinção entre estrutura (com mudanças mais lentas, com instituições e mecanismos próprios de
funcionamento), conjuntura (mudanças dentro de uma estrutura) e eventos, acontecimentos que ocorrem
nas estruturas econômicas.
13
- Ver Braudel, 2002, p.130.
Página |6
3- Do Boom à Crise
14
- Para uma descrição dos problemas monetários desse período ver, Drumond, 1987, PP.29-30; Ver
Alcroff , 1987 para um detalhado estudo de História Econômica do período 1919-29.
15
- Esses países foram Alemanha, Austria, Hungria, Polônia e Rússia. Os preços desses países
aumentaram, segundo dados de Alcronft, (1978, p.138), sobre o preço base do ano anterior a Guerra os
preços foram multiplicados por 1 trilhão, 14.000, 23.000, 2,5 milhões e 4 bilhões.
16
- Ver Drumond, 1987, p.30. A Grã-Bretanha retornou ao padrão ouro com a paridade da Libra do
período pré-guerra em Abril de 1925, com conseqüências funestas para sua economia. Tal fato foi
criticado em famoso panfleto de Keynes (1925). Ver sobre os problemas de estabilização da Libra e do
Franco o interessante trabalho de Bordo & Hautcoeur, 2003.
Página |7
17
- Ver Lorant, 1967, p.243.
18
- O artigo de Lorant, 1967 descreve as diversas inovações técnicas nos EUA, em bens intermediários,
na década de 1920. Entre elas as técnicas de craqueamento de derivados de petróleo, as novas tecnologias
na fabricação de papel, vidro e outros produtos.
19
- Para uma descrição da vida cultural e política dos EUA ver Brogan, 1985, cap.21.
20
- Dados de Foreman-Peck, 1982, p.867 e tabela 1, p.868. Em 1929 havia 26,7 milhões de veículos
registrados nos EUA, que, na época, tinha 122 milhões de habitantes. Ver Brogan 1985, p.509 e USA -
Census Bureau, Historical Statistics, 2009.
21
- Ver Chandler, Jr & Galambos, 1970, p.207.
Página |8
interferência do Estado, sem qualquer paralelo com o ambiente empresarial, muito mais
regulado, do mundo posterior a Grande Depressão.22
Esse país retornou ao padrão ouro, logo depois da Guerra, com a mesma paridade de
antes do conflito, mas com sua posição financeira fortalecida. Sua participação nas
reservas mundiais desse metal aumentou de menos de ¼ em 1913, para cerca de 40%
em 1921.23
22
- O ambiente de maior liberdade para a atuação das empresas deve ser entendido de forma comparativa.
Ou seja, não se vivia em um mundo de absoluto laissez-faire. Havia interferência do governo em certas
áreas e existiam leis de defesa da concorrência, que permitiam algum controle das empresas com grande
poder de mercado. Ver Chandler, Jr. & Galambos, 1970, p.206.
23
- Ver Mitchell, 1975, p.6.
Página |9
Tal como a queda, a retomada do crescimento deu-se, para a maioria dos países,
aproximadamente na mesma época. No entanto, o tamanho da redução da produção e a
velocidade de recuperação econômica diferiu substancialmente entre os países. Por isso,
houve significativa diferença entre os anos em que os países voltaram a registrar nível
de atividade no patamar anterior a crise.
24
- Kindleberger, 1987, p.42.
25
- Minhas fontes são League of Nations, Statistical Yearbook, 1938-39 e, ainda, o bem documentado
artigo de Romer, 1993, pp.20-23. Para dados dos EUA uso também USA – Census Bureau ,Historical
Statistics, 1975.
P á g i n a | 10
Esses números mostram que não é possível, baseado exclusivamente nos dados de
nível de atividade, concluir que a crise econômica originou-se nos
EUA. Esses dados sugerem que esse país seguiu um curso muito similar a outras
economias industrializadas. Mas tais informações também indicam que a queda do nível
de atividade foi maior nesse país. Ou seja, nos EUA a crise foi mais profunda e a data
final de recuperação foi uma das mais tardias. Por outro lado, há indícios de uma rápida
recuperação da produção industrial em 1933 pelos EUA, mas que não manteve o vigor
em 1934, retornando a acelerar em 1935 e 1936, para voltar a enfrentar uma retração em
1937.
O debate sobre a origem da Grande Depressão foi muitas vezes influenciado pelo
evento mais visível, que foi o crash na bolsa em 1929. Mas, a rápida deflação do preço
das ações, isoladamente, não explica a profundidade, nem a extensão da crise. Portanto,
essa primeira discussão terá necessariamente que mostrar a ligação entre este primeiro
evento, o estouro da bolha, com o sucessivo comportamento de pânico, e a rápida
redução do nível de atividade econômica, a crise bancária de 1931 e finalmente a
extensão geográfica e a duração da depressão.
26
- Ver tabela I, em Anexo.
27
- Dados de Romer, 1993 e da League of Nations, Statistical Yearbook, 1938-39.
28
- Os dados da Liga das Nações não são mantidos na mesma base depois de 1937, não permitindo
comparação adequada. Usando os dados do Federal Reserve Board, os EUA retornaram ao nível de
produção industrial de 1929 em 1937, mas a produção reduziu-se com a crise econômica desse ano, sendo
que a produção de 1938 caiu para o nível de 1935. Por outro lado, outras fontes mostram que o PIB dos
P á g i n a | 11
De início a influencia de idéias que viriam ser mais tarde formalizadas por Keynes
em 1936, eram praticamente inexistentes. Nesse debate havia uma correlação entre a
EUA voltam ao nível de 1929 em 1937, mas a renda per capita daquele ano só será novamente alcançada
durante a Segunda Guerra Mundial. Ver dados de USA-Census Bureau, Historical Statistics, 1975.
29
- De fato a produção industrial chegou ao pico em junho e iniciou um lento processo de desaceleração,
sendo que é possível que em agosto já houvesse sinais que a economia poderia estar entrando em
recessão. Dados de Galbraith, 1988, p.88.
30
- Galbraith, 1988,p.90.
31
- Estudos recentes mostram que, mesmo com as técnicas contemporâneas, considerando-se as
principais teorias sobre a Grande Depressão, dificilmente a crise poderia ser antecipada. Ver
Dominguez,Fair & Shapiro, 1988. Para uma história dos serviços de Forecasting do período, ver Rötheli,
2007.
P á g i n a | 12
32
- A Tese liquidacionista argumentava que era inerente ao ciclo econômico purgar o sistema das
empresas mais ineficientes e projetos menos rentáveis. Ou seja, a quebra de empresas era a contrapartida
para um período de crescimento na fase ascendente do ciclo. Para um estudo detalhado sobre esta tese
ver, De Long, 1990.
33
- Esta era uma tese defendida por marxistas e outros autores de esquerda. No caso dos EUA a
influencia dessa corrente era pequena e quase inexistente nos meios acadêmicos. Por outro lado, J. A
Hobson, que não era marxista, mas cujas idéias foram importantes para autores marxistas, influenciou o
debate através de autores institucionalistas como John R.Commons. O autor britânico, no entanto, embora
partidário da tese de que a economia capitalista tinha problemas de realização e produzia desemprego,
considerava a possibilidade de políticas de redistribuição de renda tivessem um efeito anti-cíclico. Para
uma interpretação de Commons sobre a Teoria de Desemprego de Hobson ver Commons, 1923. Os
marxistas era praticamente inexistentes nas grandes universidades norte-americanas. O mais importante
acadêmico, economista marxista, norte-americano, Paul Sweezy, só passou a considerar-se marxista em
1932. Mas segundo ele, precisou a maior parte da década de trinta para adquirir, como autodidata, uma
razoável formação marxista.Ver Sweezy, 1996.
34
- Este debate encontra-se nos Papers and Proceedings of the Forty-Third Annual Meeting of the
American Economic Association. A referência completa está na bibliografia com o nome dos primeiros
autores, ver Adams, Arthur et alii, 1931; Schumpeter, 1931 e Snyder, 1931.
P á g i n a | 13
Para ele, no entanto, se essa fosse a única razão os efeitos poderiam ser de uma
recessão ou redução das taxas de crescimento. Mas a profundidade da crise teria que ser
explicada pela confluência de outros fatores. Esses seriam a crise no setor agrário, cuja
dinâmica era independente da crise no setor manufatureiro, mas igualmente grave e
generalizada. Finalmente, fatores monetários contribuíram para a depressão. Entre eles
35
- Snyder foi presidente da American Statistical Association. Escreveu em 1940 uma obra de grande
erudição, intitulada Capitalism the creator, (ver Snyder, 1972) que é considerado um manifesto liberal,
precursor do liberalismo militante de economistas contemporâneos, como Friedman. Nesse trabalho ele
enfatiza a incapacidade do Federal Reserve de agir para evitar a expansão descontrolada do crédito e
estabilizar o estoque de moeda, como uma das principais causas da crise de 1929.
36
- Schumpeter, 1931, p.179.
P á g i n a | 14
Em síntese, Schumpeter sustenta que 90% da crise pode ser explicada por: (i) – as
perturbações geradas pelo rápido progresso técnico no pós-guerra, aliadas a conjunção
de um ciclo depressivo de longo, médio e curto prazo; (ii) – a gravidade e amplitude da
crise no setor agrário; (iii)- as políticas monetárias deflacionárias do retorno ao padrão
ouro na Europa e das indenizações de Guerra alemã; (iv)- a pouca flexibilidade, com
referência a preço, dos fatores de produção, sejam os salários, sejamos juros de longo
prazo.
Portanto, para Schumpeter esta é uma crise mundial, com causas que não podem ser
atribuídas exclusivamente a problemas da economia norte-americana. Na visão do
economista austríaco, erros de política econômica agravaram a crise, mas não a
provocaram. Ele não considerava que essa poderia ter sido evitada, nem julgava que
havia políticas econômicas capazes de superá-la. Ações poderiam ser feitas para
minorar seus efeitos, mas a crise seguiria seu curso, produziria efeitos, até que um novo
ciclo de crescimento viria inverter o processo. Portanto, como outros economistas da
escola austríaca, para efeito prático, Schumpeter era um liquidacionista, ou seja, um
cético da possibilidade das políticas econômicas estabilizarem a economia.
Para Snyder havia causas monetárias para o boom da década de 20 e para o fim
da prosperidade em 1929. O grande aumento do estoque de ouro nos EUA ao fim da
Guerra teria permitido expansão da oferta monetária e preços em alta, particularmente
depois de 1921. Em 1927-28 os EUA enviaram enorme quantidade de ouro para o
exterior, particularmente para a França. Tal fato não era preocupante, uma vez que
havia grande redundância na oferta doméstica de ouro. Ao contrário, isto traria
benefícios pois permitia que outros países, com a Grã-Bretanha, França e Alemanha
voltassem a sustentar suas moedas, de forma mais confortável, com maior reserva de
ouro. Tal fato contribuiria para a expansão da economia desses países.
37
- Ver Adams, 1925, ver também sobre sua interpretação da depressão Adams, 1931.
P á g i n a | 17
Esta tese da distribuição da renda dos fatores, defendida por Adam, teve grande
popularidade no período, embora a literatura recente sobre a Grande Depressão tenha
mostrado que a análise da distribuição funcional da renda feita à época possuía muitos
erros e as suas suposições não se sustentavam em vista dos dados disponíveis.39 No
entanto, como na disputa política nos EUA o governo republicano de Hoover era visto
como defensor da grande empresa, os democratas de Roosevelt, tinham na tese de que
as grandes empresas e os seus dirigentes, que agiam contra a concorrência, eram os
principais culpados da crise, uma posição politicamente conveniente40.
38
- Ver, Adams et alli, 1931, p.183.
39
- Ver Keller, 1973.
40
- Para uma discussão do papel do movimento anti-monopolista entre os defensores do New Deal ver,
Brinkley,1995 Capítulo 6.
41
- Ver Adams, 1931.
42
- Para um artigo da época defendendo a aplicação mais branda da legislação anti-truste ver Harriman,
1932.
P á g i n a | 18
43
- Thorp morreu com 92 anos em maio de 1992. Ver, New York Times,1992.
44
- Adams et alli, p.197.
45
- Hansen explica em detalhe como virou Keynesiano em Hansen, 1996. Sua primeira obra importante
keynesiana é Hansen, 1941.
46
- Ver Adams et alli, p.198-201.
P á g i n a | 19
O modelo apresentado por Fisher propõe que, uma vez que o equilíbrio é
perturbado por um sobre-envididamento, a sua liquidação implicará em uma cadeia de
acontecimentos de nove fatores que podem ser derivados dedutivamente.
Resumidamente, o autor argumenta que a liquidação do débito obriga a pressão de
venda que contrai os depósitos à vista em moeda, na medida que os empréstimos
bancários vão sendo pagos. A contração dos depósitos e sua velocidade precipita as
47
- Ver , Gailbraith, 1988, p.70 e 94.
48
- Ver, Fisher, 1933. Para uma visão atual da importância dessa abordagem ver Wolson, 1996.
P á g i n a | 20
vendas sob pressão de baixa, em vista da queda do nível de preços. Se não houver uma
interferência que leve a reflação49, ou seja, à manutenção do nível de preços, haverá
ainda um processo de realimentação da pressão de baixa dos preços e da redução do
valor dos negócios, com queda nos lucros. A redução do produto, do comércio e do
emprego leva a falências, que produz pessimismo e queda de confiança, que por sua fez
leva ao entesouramento, reduzindo ainda mais o nível de atividade da economia.
Embora, ao final o processo acabe por se inverter, alega Fisher, que políticas
públicas de reflação, ou seja, de manutenção do nível de atividade econômica, pode
interromper o processo que leva a depressão econômica, com menor custo para a
sociedade. A grande dificuldade do processo terminar naturalmente é que a própria
ação dos devedores de apressar o pagamento das dívidas, e portanto, levar a rápida
deflação, aumenta a dificuldade da liquidação do débito. Ou seja, Fisher, no seu modelo,
faz uma distinção entre taxa de juros real e nominal. Para ele a queda dos preços leva a
que a taxa de juros real aumente na medida que os devedores vão pagando seus débitos,
ou seja, a dívida não reduz na mesma velocidade da sua liquidação. Portanto a essência
de seu modelo é que os preços dos ativos e das mercadorias caem rapidamente, assim
como caem todos os outros preços, exceto os das dívidas e da taxa de juros sobre as
dívidas.50
49
- A palavra “reflação” ou reinflação não existe em português, o conceito, no entanto, é o de agir na
direção contrária da deflação, portando provocar uma inflação para manter os níveis de preços anteriores,
nesse sentido, uso uma palavra “reflação”, como uma boa tradução de “reflation” em inglês.
50
- Ver sobre a aplicabilidade desse modelo para os dias atuais, Wolson, 1996.
51
- De Long, 1990, chama esses três economistas de “ Old Chicago Monetarists”
52
- Esta é a interpretação de Lawrence Miller, 1962. Milton Friedaman, segundo Ronnie Davis, 1968,
p.476, também teria explicação semelhante.
P á g i n a | 21
Viner argumenta que a depressão é causada pela queda mais rápida dos preços
dos produtos vendidos do que do custo de produção. Isto porque os salários e outros
custos de produção, como aluguel, não são absolutamente flexíveis, assim como a queda
das vendas aumenta o custo de produção por unidade vendida. Esse processo
prosseguiria até os custos caírem mais que os preços, e os empresários retomassem sua
capacidade de investimento, voltando a expandir a produção e venda. No entanto, essa
capacidade auto-regulatória estaria ausente na depressão de 1930, em vista, de fatores
domésticos e internacionais. No plano doméstico a pressão do governo Hoover contra a
redução dos salários e a característica de muitos negócios, tais como as ferrovias, de
resistir a redução dos preços, em vista de sua posição de quase-monopólio, restringia a
capacidade de auto-regulação da economia. No plano internacional, a rigidez dos
orçamentos públicos, o crescimento do protecionismo, com cotas e tarifas astronômicas,
os compromissos de dívidas públicas elevadas, contribuía para o declínio dos preços
mundiais e eram altamente prejudiciais ao retorno a um ambiente mais estável para os
negócios. 54
Viner defendia, nessa circunstância, uma política que ele chamada de “deflação
equilibrada induzida”.55 Ou seja, o economista de Chicago defendia que o governo
induzisse um equilíbrio em preços e custos através de políticas ativas. Viner mantinha a
posição que o mercado se auto-ajustaria em seu devido tempo, mas dada as
circunstâncias, ou seja, a erros cometidos nos EUA e na economia mundial, que
prejudicava o bom funcionamento do mercado, era necessário recriar as condições para
sua adequada operação, sob pena do processo de ajuste ser lento e com custo social
muito elevado. O autor era cético de que isso poderia ser feito apenas com política
monetária, uma vez que dado o clima dos negócios, os empresários não tomariam
recursos nem a custos muito baixos.
53
- Ver , Viner, 1933. Este texto de grande importância tem uma cópia digitalizada disponível na internet,
ver http://road.www.edu/road/glossers/402sp04/viner.pdf.
54
-, Viner, 1933, p.7-9.
55
- Em inglês, “Induced Balanced Deflation”. Ver Viner, p.13.
P á g i n a | 22
Pela exposição acima pode-se perceber que, mesmo antes que a influência de
Keynes tenha se feito sentir, a defesa da intervenção para combater a crise econômica já
vinha acumulando forças, o que permitiu à Roosevelt implementar o New Deal.
Entretanto, exceto pelos institucionalistas e pelos quase inexistentes socialistas, as
56
- Não confundir com o “Brain Trust”, formado pelos professores de direito de Columbia: Raymond
Moley, Rexford Tugwell e Adolf Berle. Entre os “freshman brain trust” de Viner estavam Lauchling
Currie, mais tarde um famoso keynesiano, e Harry Dexter White, que veio a ser um dos principais
negociadores de Bretton Woods em 1944. Esses economistas de Harvard, junto com Paul T. Ellsworth
foram autores de um famoso memorando, datado de 1932, propondo políticas monetárias e fiscais
expansionistas como única forma de enfrentar a grande depressão. Sobre o memorando de Harvard ver
Laidler & Sandiland, 2002.
P á g i n a | 23
principais correntes econômicas nos EUA entendiam que o mercado, embora sujeito a
ciclos econômicos, possuía mecanismos de auto-ajustamento58. Mesmo assim, os
institucionalistas como força intelectual eram particularmente pragmáticos, muitos deles
aceitavam a explicação de que a causa da crise era a assimetria na distribuição funcional
da renda, e tendiam a fazer críticas mais morais do que teóricas ao funcionamento do
mercado. Um dos melhores exemplos do espírito prático de alguns institucionalistas
importantes é a intervenção de J.J.Spengler, um brilhante economista, com ampla
cultura e retórica afiada, em um debate na famosa reunião de 1931 da American
Economic Association, sobre o teoria econômica institucionalista. Nela afirmou que:
57
- Davis, 1968, p.478.
58
- Para uma discussão da tradição dos economistas institucionalistas e de outras correntes radicais nos
EUA ver Bronfenbrener, 1985.
59
- Homan et alli, 1931.
60
- Ver Galbrailth, 1988, p.139, 140.
P á g i n a | 24
percebeu, com sua tradicional argücia, um velho keynesiano, John Kenneth Gaibraith,
que afirmou:
Durante os anos do governo Hoover a crise econômica foi ficando cada vez mais
grave. Embora não fosse partidário de financiamento via déficit orçamentário, a queda
de arrecadação fez com que a dívida pública crescesse substancialmente em sua
administração.62 Nesse sentido, a principal diferença da nova administração, em 1933,
não foi a menor preocupação com o equilíbrio orçamentário, mas o compromisso da
implementação de uma agenda de reformas. O liberalismo reformista foi a marca do
governo Roosevelt, que até hoje é visto como o arquétipo do governo Liberal nos
Estados Unidos.
Esse conceito, liberalismo, tem um sentido particular nos EUA. No resto do mundo
essa idéia está associada aos defensores do Laissez Faire e, portanto, à direita no
espectro político. Nesse país, Roosevelt e o chamados “New Dealers”, ou seja, os
partidários do New Deal, conseguiram tomar a palavra liberal dos convervadores,
substituído a expressão de progressistas (progressives), como alguns deles se
intitulavam, por “reformistas liberais”. 63 Em um país em que idéias socialistas eram
vistas com profunda desconfiança, onde idéias marxistas eram amplamente rejeitadas
mesmo pelos movimentos sindicais, os liberais não associavam seu nome à rejeição do
capitalismo, mas a idéia de que os indivíduos, as comunidades e o próprio sistema
econômico deveria ser defendido contra a ação dos trustes e cartéis e, em geral, do
poder do grande capital. O liberalismo também defendia a solidariedade entre os
cidadãos, com algum grau de proteção quanto às intempéries da vida, afirmando ser um
direito do cidadão um nível básico de subsistência e dignidade, que deveria ser provido
pelo Estado.
61
- Galbraith, 1988, p.155.
62
- Mitchell, 1947, PP.34-37.
63
- Ver Brinkley, p.1996,p.8-11. Sobre como os New Dealers se apropriam do termo liberal, ver
Rotunda,1968.
P á g i n a | 25
Embora keynesianismo nos EUA tenha sido associado ao uso de política fiscal
anticíclica, esta política econômica antecede a influencia das interpretações keynesianas
da crise. A influencia de Keynes, durante a maior parte da década de 1930 foi limitada
nos EUA, sendo que o New Deal não foi formulado a partir de uma visão keynesiana de
mundo. As medidas econômicas do primeiro governo Roosevelt foram motivadas por
uma percepção da necessidade de reformas, sendo que a busca de alternativas
econômicas é mais política do que resultado do debate teórico dos economistas
acadêmicos. Portanto, as mudanças na política econômica, naquele momento, foram
produtos do movimento reformista, de inspiração mais institucionalista,
particularmente vebleniana, que keynesiana64. Tal fato pode ser apreendido dos
testemunhos apresentados em um debate promovido pela American Economic
Association em 1972, com acadêmicos e ex-funcionários públicos que participaram da
formulação do New Deal e ocuparam postos importantes à época.65
Allan Sweezy, que foi o autor de um dos artigos que serviram de base ao debate,
apresentou o problema chamando atenção que antes de 1936 (ano de publicação da
Teoria Geral) não poderia haver keynesianos no sentido acadêmico, ou seja, partidários
do modelo teórico que só foi apresentado integralmente nessa ocasião. Isso não quer
dizer que não haja elementos do keynesianismo que antecedam esse ano, no entanto, a
importância dessas idéias variou em extensão e em ênfase.66
Sweezy argumentou que a maioria dos economistas tendiam a analisar as razões que
levaram a Grande Depressão, mas não apresentavam políticas para enfrentá-la. Não
apenas a idéia de gasto tinha conotações pejorativas, como as depressões eram vistas
como tendo funções teurapêuticas depois dos excessos e desajustamentos do boom.
64
- Para uma visão da crítica de Veblen à sociedade norte-americana escrita por um importante marxista
norte-americano ver Sweezy, 1958.
65
- Entre os participantes do debate, que comentaram artigo do professor Alan Sweezy, estavam Leon
H.Keyserling, que foi advogado do Agricultural Adjustment Administration, em 1933, e Secretário e
assessor legislativo do Senador Robert Wagner de Nova York, durante o período 1933 e 1937, tendo sido
no pós-guerra o presidente do Council of Economic Advisors; Robert R.Nathan que foi na década de
1930 funcionário do Departamento de Comércio, trabalhando como Simon Kuznetz, tendo participado do
desenvolvimento das primeiras estatísticas de Contas Nacionais dos EUA, como Renda Nacional e PIB,
posteriormente,m durante a Segunda Guerra Mundial, foi Presidente do War Production Board´s Planing
Committee; Lauchlin B.Currie, canadense, naturalizado norte-americano, que trabalhou como funcionário
do Federal Reserve, com White Dexter White, sendo um dos Freshman Brain Trust, foi assessor de
Roosevelt durante a Segunda Guerra Mundial, posteriormente, foi perseguido pelo McCartismo ,
renunciou a cidadania norte-americana, e continuou participando do debate acadêmico até sua morte, a
partir de seu país de adoção, Colômbia.
66
- Ver Sweezy 1973, p.116
P á g i n a | 26
No debate que se seguiu, Keyserling observou que os programas do New Deal eram
mais influenciados pelas idéias políticas do Partido Democrata, desde o movimento
Populista da década de 1890´s, do que por idéias keynesianas que eram desconhecidas.
Para ele, foram as condições políticas e sociais da época que fizeram viável o New
Deal. Finalmente, afirmou Keyserling:
67
- Ver Keyserling et allii, p.134.
68
- Currie afirmava que desde seus anos na London School of Economics, 1922-25, e depois em Harvard
durante a depressão, tinha afinidade com as idéias de Keynes. Ver Keyserling et alli, p.139.
69
- Pumb-priming é um expressão que caiu em desuso, mas foi comum na década de 1930, refere-se ao
aumento do gasto governamental durante as depressões para promover a expansão dos negócios. A
palavra deriva de uma operação nas bombas hidráulicas antigas (pump), na qual um pequena válvula de
sucção de couro deveria ser umedecida (ou primed) com água para funcionar adequadamente.
P á g i n a | 27
70
- Um exemplo da pouca influencia de Keynes na formulação do New Deal, pode ser percebida pelo fato
de que um artigo de 50 páginas intitulado the “New Deal” in the United States”, escrito por J.Henry
Richardson, no Economic Journal, uma revista em que o economista britânico era o editor, não tinha uma
única referência a ele, ou citação de algum trabalho de sua autoria.
71
- Essas conferências estão descritas em detalhe em Kent 2004. A transcrição da notícia do New York
Times está na página 202.
72
- Keynes, 1933.
P á g i n a | 28
A revolução keynesiana tem duas dimensões que não devem ser confundidas: (i)
a crítica à visão “clássica”, que fundava-se na Lei de Say, que afirmava, que a produção
gera sua própria demanda, sendo que o único limite ao atendimento das necessidades
humanas é disponibilidade de recursos para um determinado nível de produção, ou seja,
que o sistema econômico é auto-regulado e tende ao pleno emprego de máquinas e
pessoas; (ii) - A crítica à visão de que não há instrumentos na economia para combater
as crises econômicas, a não ser uma política de garantir que o bom funcionamento das
forças de mercado e a flexibilidade dos preços dos fatores de produção. Ou seja, a
crítica da idéia que, como o mercado é auto-regulado e tende ao equilíbrio, qualquer
interferência do Estado é, no mínimo, inócua e, muito provavelmente, nociva.
73
- Keynes, 1936, p.26. No entanto, para o autor, pleno emprego é possível, porque “a competição entre
os empresários sempre levará à expansão do emprego até o ponto em que a oferta do produto deixa de
ser elástica, isto é, onde um maior aumento da demanda efetiva não seja acompanhado por qualquer
aumento de produto.” (idem, p.26)
74
- Keynes, 1936, p.378.
P á g i n a | 29
A revolução teórica é até hoje sujeita a intenso debate entre os que pretenderam
domesticá-la, em uma síntese neoclássica, e os partidários do aprofundamento das
implicações para a teoria econômica das idéias originais de Keynes75. Há, também, os
que não aceitam que o pensamento Keynesiano é uma revolução científica e os que
contestam suas principais teses.76
Portanto, embora a influência de Keynes só pode ser sentida em toda sua plenitude
nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, quando as obras dos keynesianos norte-
americanos, como Hansen, começam a ficar populares, a influência dessas idéias a
partir da década de 1940 não podem ser minimizadas. Mas a interpretação Keynesiana
da Grande Depressão foi um elemento fundamental na retórica dos formuladores da
ordem econômica internacional do pós-guerra. Essa interpretação explica a origem da
depressão a partir da dinâmica da economia norte-americana, mas sua difusão para a
economia mundial pela inadequação do sistema monetário internacional baseado no
Padrão Ouro. Portanto, essa explicação vai, não apenas, indicar um nova forma de
gestão da economia, mas também, defender a necessidade de uma ordem econômica
internacional compatível com as políticas macroeconômicas ativas no plano doméstico.
75
- Para discussão sobre as semelhanças e diferenças entre velhos e novos keynesianos ver Greenwald &
Stiglitz, 1993. Para uma visão desse debate em uma perspectiva pós-keynesiana ver Misky, 1975,
Davidson, 1992 e Carvalho 1992.
76
- Sobre a crítica a idéia de revolução Keynesiana ver Laidler, 1999.
P á g i n a | 30
77
- Keynes, p.316.
78
- Keynes, 322.
79
- Em inglês Gold Fetters. A citação completa é a seguinte: “Há poucos ingleses que não comemoraram
o fim de nos grilhões de ouro. Nos sentimos que temos finalmente liberdade para fazer o que é correto. A
fase romântica acabou, e nós podemos discutir realisticamente qual é a melhor política.” Keynes,
1931,p.288. A expressão Gold Fetters foi usada como nome de um celebrado livro de Eichengreen sob o
Padrão Ouro.
P á g i n a | 31
80
- , Eichengreen, 1993, p.239.
P á g i n a | 32
O livro de Friedman & Schwartz teve um forte impacto no debate sobre a Grande
Depressão influenciando uma agenda de pesquisa sobre a relação entre mercados
financeiros e atividade real durante crises financeiras. Mas a obra foi também um
momento da construção da contra-revolução conservadora à revolução Keynesiana.
Essa obra pretendia mostrar empiricamente que as flutuações da oferta monetária
estavam associadas a flutuações de produto. 82
O livro se insere em um debate que tem seu ponto de partida em artigo de 1956,
onde Friedman pretende resgatar o monetarismo da atrofia e caricatura de uma teoria
econômica que, segundo ele, teria ficado nas mãos de economistas como Lionel
Robbins e Joseph Schumpeter.83 Friedman criticava a visão desses autores de que
política monetária e fiscal eram incapazes de combater recessões e depressões e de que
a verdadeira prosperidade dependeria da depressão seguir seu curso.84
81
- Ver Friedman& Schwartz, 1963, ver para uma interessante resenha das explicações monetárias da
Grande Depressão Calomiris, 1993.
82
- Para um exemplo desse uso ver Robert Lucas, 1995, que em conferência por ocasião de sua
premiação com o Nobel de Economia, usou o trabalho de Friedman-Schwartz que apontava grande
regularidade da relação entre oferta monetária e produto, onde entre 1867 e 1960 nos EUA, cada grande
depressão estava associada a uma grande contração de oferta monetária e que reciprocamente cada grande
contração de oferta monetária está associada a uma grande depressão, com um dos elementos para
mostrar a permanência da Teoria Quantitativa da Moeda de David Hume.
83
- Ver Friedman, 1956. Ver o livro de Lionel Robbins, 1934, sobre a Grande Depressão.
P á g i n a | 33
políticas equivocadas do Federal Reserve. Friedman insistiria nesse ponto por toda a
vida, e pouco antes de morrer, publicou no Wall Street Journal um artigo intitulado
“Why Money Matters”, que tenta mostrar que três episódios da moderna história
monetária mundial, ou seja, A Grande Depressão da década de 1930, a recessão
japonesa da década de 1980 e a norte-americana de 1990, podem ser explicados pela
oferta monetária e pelo comportamento dos Bancos Centrais nessas ocasiões. Nesses
três episódios depois de um período de rápido crescimento econômico, produzido por
rápida mudança tecnológica e o surgimento de novas indústrias, foram acompanhado
por boom no mercado de ações e terminaram no estouro de uma bolha, ou seja, em um
crash. No primeiro caso, uma redução drástica da oferta monetária levou a depressão;
no segundo caso, o Japão na década de 1980, a estagnação da oferta monetária levou a
prolongada recessão, com baixo crescimento do PIB, e no terceiro caso, com o aumento
da oferta monetária pelas autoridades norte-americanas, levou a uma suave recessão,
logo seguida de uma aceleração do crescimento econômico.85
84
- Ver sobre esse debate, De Long, 2000.
85
- Ver Friedman, 2006.
P á g i n a | 34
86
- Kindleberger refere-se a Hegemonia como um conceito dos cientistas políticos, sendo que ele prefere
falar de “responsabilidade.” Recorre inclusive a um trabalho de Keohane, 1984, que argumenta ser
possível que as funções da hegemonia possam ser realizadas por um regime internacional. Mas sua visão
que tal função deve ser realizada por apenas um país e que a ausência de um estado nacional que tenha a
capacidade e a vontade de exercer esse papel implica na existência de um hegemon e não de um regime
internacional, nos termos de Keohane.
87
- Ver Eichengreen, 1992, 1993 e 1996.
P á g i n a | 35
a sair do padrão ouro. Contudo, em tempos normais, mesmo esses países respeitavam a
regra do jogo.
Para Eichegreen, o Padrão Ouro restaurado do pós-guerra não tinha a mesma
credibilidade, porque não havia garantia de que entre objetivos domésticos e
internacionais os governos preferissem esses últimos. A instabilidade política e
econômica do período entre guerras não permitia que o sistema de cooperação que foi a
essência do período anterior se mantivesse. Ou seja, a cooperação sistemática, em um
mundo dividido por reparações de guerra e instabilidade monetária doméstica, não era
sustentável. Mas o autor observou que pelo menos em duas ocasiões, em 1924 e 1927,
países como os EUA, França e Inglaterra tentaram cooperar para enfrentar dificuldades
no sistema monetário internacional. O sistema teria, finalmente, entrado em um
processo que levaria ao seu colapso quando, em 1928, os EUA subiram a taxa de juros
para interromper a bolha especulativa na bolsa de Nova York. A política monetária
apertada dos EUA reduziu os empréstimos internacionais e impôs uma forte pressão
sobre o balanço de pagamento dos países devedores. Nessa situação esses países foram
obrigados a, também, fazer uma política monetária restritiva, levando a redução do nível
de atividade econômica. Esse processo foi realimentado pela crise econômica dos EUA,
não apenas pela redução da demanda doméstica desse país, mas também pelas medidas
protecionistas que tomou.88
Portanto, o Padrão Ouro foi crucial para o surgimento da Depressão, porque
transmitia choques econômicos entre os países e porque as autoridades monetárias não
estavam dispostas a fazer políticas expansionistas temendo perder reservas de ouro.
Portanto, as autoridades monetárias domésticas não se dispunham a atuar como
emprestadores de última instância para os bancos domésticos, porque temiam que tais
medidas seriam vistas como uma ameaça a conversibilidade. Ou seja, a grande
depressão poderia ser evitada por uma política de reflação coordenada entre países, mas
tentativas desse tipo de ações eram inviabilizadas pela compreensão limitada das causas
da depressão e por interesses domésticos conflitantes.
O modelo de Eichengreen incorpora várias interpretações anteriores. Embora crítico
da visão de Kindleberger de que um país hegemônico seria suficiente para evitar a crise,
aceita a visão de que as falhas dos sistema monetário internacional estão na origem da
depressão. Esse autor reconhece que as teorias de estabilidade hegemônica, como a
88
- Nessa época os EUA aprovaram a Tarifa Smoot-Hawley aumentando drasticamente as tarifas de
importação.
P á g i n a | 36
89
- Ver Eichengreen, 1993, cap.11.
90
- Ver Temin, 1993.
91
- Temin, 1976. Essa posição é corroborada por Romer, 1990, em interessante artigo. Para uma
apresentação do debate ver Calomiris, 1993.
92
- Ver Calomoris, 1993, p.64.
P á g i n a | 37
93
- Ver De Long, p.84.
P á g i n a | 38
94
- Olivier Blachard, 2000, p.1377, afirmou que o termo macroeconomia só apareceu na década de 1940.
Segundo ele o primeiro artigo que usa macroeconomia em seu título é de autoria de De Wolf, em 1941,
intitulado “Income Elasticity of Demand, a Micro-economic and a Macro-economic Interpretation”.
P á g i n a | 39
95
- Lucas, Jr., 2003.
96
- Bernanke, 2004.
97
- O nome original do livro é The Return of Depression Economics and the Crisis of 2008. Este livro foi
traduzido para o português, ver Krugman, 2008.
P á g i n a | 40
derivativos98. O crash do subprime mostra seus primeiros efeitos quando dois Fundos
Hedge do Bear Stearns, que atuavam com papéis do mercado hipotecário, não
conseguiram atender as demandas para aumentar seus colaterais em operações
financeiras no mercado bancário99. As garantias adicionais foram exigidas em virtude
da redução da classificação de risco da Moody´s que afetou o valor de alguns títulos
lastreados em empréstimos hipotecários subprime, que eram avaliados como aplicações
Investment Grade.100
Com a divulgação da crise do mercado de hipotecas nos EUA, a partir do qual eram
emitidos os CDO (collateralized debt obrigations), o temor quanto a situação financeira
de empresas que operavam nesse mercado ou de seguradoras que garantiam as carteiras
de títulos lastreados em hipotecas, através de operações no mercado de derivativos
101
(credit default swaps) provocou ondas de choque na economia mundial. Os
problemas relacionados ao subprime começaram a eclodir em todo o mundo. Um pouco
depois da crise do Bear Stern, um Hedge Fund de Londres avaliado em 900 bilhões de
dólares fechou as portas. Bancos suíços e alemães anunciaram prejuízos e medidas de
reestruturação.102 Ainda em 2007 foram anunciados perdas elevadas em grandes bancos,
sendo que em alguns casos, como no Citigroup, foram reveladas operações de cerca de
400 bilhões de dólares em arriscados mercados, que não eram registradas nos balanços,
em um misterioso título intitulado SIV (Structure Investment Vehicle).103 A situação
financeira mundial, no entanto, ainda se manteve relativamente estável devido a ação
dos bancos centrais, em especial do Federal Reserve norte-americano, de cortar taxas de
juros e aumentar sua linha de redesconto para o setor financeiro.
No ano seguinte a situação volta a se agravar. A crise entra em uma nova fase com o
resgate do Bear Stearns, pelo JP Morgan, apoiado pelo Federal Reserve em março de
2008. Em julho, a autoridade monetária norte-americana se vê também obrigada a
resgatar e nacionalizar parcialmente as grandes operadoras do mercado de hipotecas
98
- Ver, para um histórico da crise financeira, Bordo, 2008.
99
- Ou seja, não conseguem atender as chamadas Margin Calls, fenômeno similar ocorrido em muitos
empréstimos para aplicação na Bolsa de Valores no caso do crash de 1929.
100
- Ver Morris 2008, p.ix.
101
- Ver Murphy, 2008.
102
- Morris 2008, x.
103
- SIV é um tipo de operação através do qual um fundo obtém empréstimos de curto prazo vendendo
commercial paper de curto prazo (em geral menos de um ano) no mercado financeiro. Esses recursos são
usados para comprar papéis de prazo mais longo (em geral mais de um ano) que pagam taxas de juros
mais elevadas. O ganho da operação é a diferença entre a taxa mais baixa paga no curto prazo e a mais
elevada obtida no longo prazo.
P á g i n a | 41
104
- Ver Bordo, 2008, p.4.
105
- Ou seja, os empréstimos interbancários, que viabilizam os mecanismos cotidianos de compensação
entre posições superavitárias e deficitárias dos bancos entre si, praticamente entraram em colapso. Ver
Hunter, 2008.
106
- Estudo de Ivashina & Scharfstein, 2008, sobre empréstimos bancários durante a crise financeira de
2008 mostraram que novos empréstimos para grandes tomadores caíram 36% durante o pico do período
P á g i n a | 42
Em parte, a crise atual pode ser explicada por um fenômeno recorrente em crises
financeiras, associada a um evento exógeno que abre novas oportunidades de
investimento, financiado por crédito bancário (sancionado pela política monetária
pública) e por novos instrumentos de crédito, ou seja, por inovações financeiras. Ou
seja, os ciclos são financiados por crédito: a ascensão e queda de instituições e
instrumentos financeiros estão associados aos padrões que alimentam e que levam ao
esgotamento e estouro de bolhas em mercados financeiros, de imóveis, commodities
etc.108
Esse é um fenômeno que foi estudado por muitos economistas, sendo Hyman
Minsky seu mais importante teórico, mas que também foi percebido por autores mais
antigos, como Irving Fisher e Wesley Mitchell.109 Ciclos de expansão de crédito
facilitados por inovações financeiras ocorreram em vários momentos históricos,
inclusive em 1929, mas há sempre peculiaridades que são exclusivas de cada momento
histórico.
Nessa linha, um fator que contribuiu para a fragilidade do sistema regulatório norte-
americano foi a derrogação em 1999, do Glass Steagall act de 1933, que separava
bancos de investimento dos bancos comerciais. Dessa forma, os bancos de
investimento, que são menos regulados, foram capazes de ampliar sua atuação,
concorrendo com os bancos comerciais, forçando-os a aumentar seus riscos e
aumentando o risco sistêmico.110 Uma lição da história é que a regulação é a única
barreira contra a instabilidade e a tendência a crises cíclicas que caracterizam os
mercados financeiros. Nesse sentido, tanto na década de 1930, como no presente, a crise
necessariamente levará a mais regulação e ao aumento da presença do Estado para
de crise financeira (agosto-outubro de 2008) com relação ao trimestre anterior e 60% com relação ao pico
do boom de crédito (maio-junho de 2007).
107
- Para uma apresentação do debate sobre reforma do modelo regulatório do mercado financeiro ver
Cunnigham & Zaring, 2009.
108
- Bordo, 2008, p.7.
109
- Ver Minsky, 1977, Fisher, 1933 e Mitchell, 1927.
110
- Ver Bordo 2008, p.19
P á g i n a | 43
corrigir as falhas que permitiram que o sistema financeiro afetasse duramente o setor
real da economia.
Mas, como a experiência histórica mostrou, ainda é cedo para afirmar que a crise
está superada. O erro de subestimar a profundidade e a extensão da crise provocou seu
prolongamento na década de 1930. Foi preciso vários anos para que ficasse claro, que
aquela crise mudaria definitivamente a maneira como os governos enfrentavam os
ciclos econômicos.
8- Conclusão
Em retrospectiva, uma das razões porque a crise da década de 1930 foi tão difícil de
tratar foi, sem dúvida, a dificuldade de se erradicar políticas e formas de pensamento
consolidadas. Hoje há mais conhecimento sobre crises econômicas, e parece que há
menos resistência em enfrentá-la. Os gastos na casa dos trilhões de dólares do governo
dos EUA e de dezenas de bilhões no caso do governo de outros países industriais
avançados para enfrentar a crise mostram a disposição que existe atualmente para evitar
que a severa recessão em que vivemos venha a se transformar em uma depressão, como
a da década de 1930. Mas, os problemas a serem enfrentados não podem ser
subestimados. Esses podem surgir das dificuldades para encontrar um novo equilíbrio
para a governança das instituições financeiras internacionais e para um acordo em torno
da regulação dos mercados financeiros globais. Por outro lado, também podem surgir
dificuldades advindas do próprio enfrentamento da crise, ou seja, a dramática elevação
da dívida pública nos EUA e dos países da União Européia.111
As lições da crise de 1929 foram fundamentais para o enfrentamento da crise atual.
Oito décadas de discussão sobre crise econômica permitiu criar mecanismos para
enfrentamento desses problemas inexistentes naquela época. Mas, o conhecimento da
história e o domínio das técnicas de intervenção do Estado e da aplicação de políticas
anti-cíclicas não é suficiente para controlar a crise. À época foram necessários 15 anos e
uma guerra mundial para ser possível fazer avançar as negociações entre as principais
economias do mundo e para criar e operar as instituições de Bretton Woods, que
permitiram um longo período de relativa estabilidade nos sistemas financeiros
111
- De acordo com a Folha de São Paulo, (24 de maio de 2009), projeções da Standard & Poors indicam
que a dívida pública dos EUA em proporção ao PIB deve passar dos atuais 44% para 77% nos próximos
quatro anos. No Reino Unido ela deve praticamente dobrar de 49% para 97% e na Alemanha irá de 62%
para 72%. Isso poderia levar a redução na classificação de risco da dívida pública de alguns países
P á g i n a | 44
internacionais. Só nos resta esperar que, oitenta anos depois do crash de Nova York,
não venhamos a cometer o mesmo erro.
9- Bibliografia
industriais avançados, pelas agencias de rating, com conseqüências sobre o custo de rolagem dessas
dívidas no longo prazo.
P á g i n a | 45
Braudel, Fernand – Reflexões sobre a História, tradução brasileira, Martins Fontes, São
Paulo, 2002.
Brinkley, Alan – The End of Reform, Vintage Books, New York, 1996.
Brogan, Hugh, The Peguin History of the United States of America, Peguin Books,
1985
Bronofenbrener, Martin – “Early American Leaders- Institutional and Critical
Traditions”, American Economic Review, vol.75, nº6, Centennial Essays and 1985
Survey of Members, Dec 1985, pp.13-27.
Calomiris, Charles W. –“Financial Factors in the Great Depression”, The Journal of
Economic Perspectives, Vol.7, No.2 (spring.1993), pp.61-35.
Carvalho, Fernando Cardim, Mr. Keynes and the Post-keynesians- Principles of
Macroeconomis for a Monetary Production Economy, Edgar Elgar, 1992.
Chandler, Jr., Alfred D. & Galambos, Louis, “The Development of Large-Scale
Economic Organization in Modern America”, The Journal of Economic History,
Vol.30, No.1, (Mar., 1970), pp.201-217.
Clavin, Patricia – The Great Depression in Europe, 1929-1939, McMillan Press Ltda,
2000.
Colander, David & Coats, A.W. (org) – The Spread of Economic Ideas, Cambridge
University Press, 1993.
Colander, David & Landreth, Harry – The Coming of Keynesianism to America,
Conversations with the Founders of Keynesian Economics, Edgar Elgar, 1996.
Commons, John R.- “Hobson´s ‘Economics of Unemployment’ “, American Economic
Review, Vol.13, No 4, dec 1923, pp.638-647.
Cunningham, Lawrence A. and Zaring, David T. – “The Three or Four Approaches to
Financial Regulation: A Cautionary Analysis Against Exuberance in Crisis Response”
(May 4, 2009) a ser publicado em George Washington Law Review, Vol. 78, October
2009. Disponível em SSRN: http://ssrn.com/abstract=1399204
Davidson, Paul – International Money & the Real World, McMillan, Second Edition,
London,1992.
Davis, J. Ronnie – “Chicago Economists, Deficit Budgets and the Early 1930s,”
American Economic Review, Vol.58, No3., part 1 (jun 1968), pp.476-481.
De Long, J. Bradford, “Liquidation Cycles: Olf Fashioned Real Business Cycle Theory
and the Great Depression”, NBER Working Paper No 3546, 1990.
De Long, J. Bradford, “The Triumph of Monetarism?”, The Journal of Economic
Perspectives, vol.14, No1, Winter 2000, pp.83-94.
De Wolf, Piet – “Income Elasticity of Demand: A Micro-Economic and Macro-
Economic Interpretation”, Economic Journal, LI (1941), pp.140-145.
Domingues, Kathryn M, Fair, Ray C. & Shapiro, Matthew D. – “Forecasting the
Depression: Harvard versus Yale”, The American Economic Review, vol.78, No.4,
Sep.1988,pp.595-612.
P á g i n a | 46
Dominguez, Kathryn; Fair, Ray C., Shapiro, Matthew D., “Forecasting the
Depression: Harvard versus Yale”, American Economic Review, Vol.78, N.4 set 19988,
pp.595-612.
Drumond, Ian M. – The Gold Standard ant the International Monetary System 1900-
1939, Studies in Economic and Social History, McMillan, London, 1987.
Eichengreen, Barry – Elusive Stability: Essays in the History of International Finance,
1919-1939, Cambridge University Press, 1993.
Eichengreen, Barry – Globalizing Capital: A History of the International Monetary
System, Princeton University Press, 1996.
Eichengreen, Barry – Golden Fetters: The Gold Standard and The Great Depression,
Oxford University Press, New York, 1992.
Fisher, Irving – “The Debt-Deflation Theory of Great Depression”, Econometrica,
Vol.1, Oct 1933, pp.337-357.
Foreman-Peck, James – “The American Challenge of the Twenties: Multinationals and
the European Motor Industry”, The Journal of Economic History, Vol.42, No4 (Dec,
1982), pp.865-881.
Friedman, Milton – “The Quantity Theory of Money – A Reestatement” em Studies in
the Quantity Theory of Money, Chicago, University of Chicago Press, pp.3-21, 1956.
Friedman, Milton & Schwartz, Anna Jacobson- A Monetary History of the United
States, 1867-1960- Princeton University Press, 1963.
Friedman, Milton, “Why Money Matters”, The Wall Street Journal (On Line), Page
A20, November 17, 2006.
Furtado, Celso – A Formação Econômica do Brasil, Editora Fundo de Cultura, 1959.
Galbraith, John Kenneth – A History of Economics, The Past as the Present - Peguin
Books, UK, 1991.
Galbraith, John Kenneth – The Great Crash 1929, Hougton Mifflin Company, Boston,
1988.
Hall, Peter A.(org) – The Political Power of Economic Ideas, Princeton University
Press, 1989.
Hansen, Alvin H. – “Alvin H. Hansen (1887-1975)” em Colander, David & Landreth,
Harry – The Coming of Keynesianism to America, Conversations with the Founders of
Keynesian Economics, Edgar Elgar, 1996.
Hansen, Alvin H. – Fiscal Policy and Business Cycles, New York, W.W.Norton, 1941.
Harriman, Henri I- “The Stabilization of Business and Employment”, American
Economic Review, Vol.22, Supplement, Papers and Proceedings , Mar 1932, pp.63-74.
Homan, Paul T; Copeland, M.A.; Burns, Eveline M.; Spengler, J.J.; Taylor, O.H.,
Jaffé, William- “Economic Theory – Institutionalism: What it is and What it Hopes to
Become”, American Economic Review, vol.21, No 1, supplement, Papers and
Proceedings of the Forty-Third Annual Meeting of the American Economic Association,
Mar, 1931, pp.134-141.
P á g i n a | 47
TABELA I
ÍNDICE DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL
ANO (i)-FRB (ii)-US$Bilhões (iii)-US$ (iv)-Índice (v)-LDN (vi)-LDN
(1967=100) PNB PNB Per capita de Preço Prod Ind USA Prod Ind
Preços:1959 Preços:1959 1958=100 1929=100 Mundo(*)
1929=100
1920 15 140,0 1.315 65,4 - -
1921 12 127,8 1.177 54,5 - -
1922 15 148,0 1.345 50,1 - -
1923 18 165,9 1.482 51,3 - -
1924 17 165,5 1.450 51,2 - -
1925 19 179,4 1.549 51,9 87,7 84,2
1926 20 190,0 1.619 51,1 90,5 85,1
1927 20 189,8 1.594 50,0 88,9 90,8
1928 21 190,9 1.584 50,8 94,2 95,1
1929 23 203,6 1.671 50,6 100,0 100,0
1930 19 183,5 1.490 49,3 80,0 85,8
1931 15 169,3 1.364 44,8 67,4 74,3
1932 12 144,2 1.154 40,2 53,4 82,6
1933 14 141,5 1.126 39,3 63,3 71,1
1934 15 154,3 1.220 42,2 66,2 77,0
1935 18 169,5 1.331 42,6 76,1 86,0
1936 22 193,0 1.506 42,7 88,6 96,3
1937 23 203,2 1.576 44,5 92,2 102,8
1938 18 192,9 1.484 43,9 - -
1939 22 209,4 1.598 43,2 - -
Fonte: Preparado pelo autor, a partir de: colunas (i) a (iv) – Production Indexes – Séries
13-17 – Historical Statistics of the USA – Bicentennial Edition, US Department of
Commerce , Washington 1975. Colunas (v) e (vi) – Statistical Yearbook, League of
Nations, 1938-39.
*- Mundos sem a União Soviética
FRB – Federal Reserve Board – Index of Manufacturing Production
LDN – Liga das Nações