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1 – INTRODUÇÃO
A Crise de 1929 foi um exemplo clássico dessas crises, pois provocou grande depressão
econômica. A desaceleração econômica se espalhou aligeiradamente para os países da Europa e do
resto do mundo capitalista, persistindo no decorrer de toda a década de 1930. Somente após a
Segunda Guerra Mundial, mediante a adoção de medidas de orientação keynesianas, houve um
processo de recuperação econômica. Esse fenômeno tornou-se conhecido como a “Grande
Depressão” e demarcou historicamente o mais grave e extenso ciclo econômico recessivo do século
passado.
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Modelo também denominado de Estado-providência, Welfare State ou Estado Social.
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adesão dos países capitalistas às orientações keynesianas inaugura o modelo de Estado de bem-estar
social que representou uma resposta às necessidades de acomodação das contradições do
assalariamento dentro dos marcos do capital.
Sob a égide do Estado de bem-estar social, os países centrais elevaram seus índices de
crescimento econômico e de pleno emprego, ancorados em sistemas sólidos de proteção social. O
propósito desse modelo era atenuar as condições de vulnerabilidade social às quais os assalariados e
suas famílias estavam expostos e, sobretudo, assegurar a reprodução da oferta de mão de obra. Mais
precisamente, buscava-se garantir a manutenção de uma população apta para o trabalho e para o
consumo. Esse período assinala historicamente o mais longo ciclo expansivo do capitalismo a
despeito de ele ter se concentrado, fundamentalmente, nos países capitalistas centrais e apenas
gotejado na periferia do sistema. O período keynesiano (1945-1979) mudou as coordenadas sociais
e políticas do mundo capitalista.
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3 – DESENVOLVIMENTISMO: A VARIANTE KEYNESIANA DE MODELO
ECONÔMICO PARA O CRESCIMENTO LATINO-AMERICANO
Esse processo resulta de nova compreensão teórica sobre a situação da América Latina que
se consolida com a criação da Comissão para a América Latina e o Caribe (Cepal), em 1948, por
uma decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas um ano antes. A Cepal, sediada em Santiago,
no Chile, foi criada num contexto de descontentamento dos países latino-americanos pelo fato de
terem sido privados da ajuda do Plano Marshall.
ii) Deterioração dos termos de troca – O termo de troca é um modelo criado para dar
parâmetro à análise da competitividade econômica de um país em relação aos
demais. Consiste na diferença entre o valor dos produtos importados e exportados. A
deterioração dos termos de troca é um termo criado por Raul Prebisch (1944), um
economista argentino, que esteve à frente de um projeto criado na década de 1950,
cuja finalidade era abordar a economia da América Latina a partir da relação de
trocas. Até então, constatou Prebisch, todos os estudos econômicos eram orientados
para as economias mais desenvolvidas, concentradas no Hemisfério Norte. Em vez
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de os ganhos de produtividade do centro serem transferidos para a periferia, ocorria o
contrário. Em razão dos preços dos produtos primários produzidos pela periferia
sofrerem constante desvalorização, em contraste com os preços dos bens
industrializados vendidos pelo centro, gerava-se uma crescente perda da periferia nas
relações de troca com o centro.
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vi) Tendência ao desequilíbrio externo – Observavam os cepalinos que o desequilíbrio
externo tendia a ser recorrente nas economias da região, tanto em razão da
inelasticidade de suas exportações quanto da necessidade de importar bens de capital
e insumos intermediários não disponíveis internamente. Por outro lado, o chamado
“efeito demonstração” – tendência das elites dos países periféricos de copiarem os
padrões de consumo dos países do centro – ampliava a pressão sobre as importações.
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4 – DESENVOLVIMENTISMO E O SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL NO
BRASIL
O período desenvolvimentista, que vai dos anos 1930 a meados da década de 1980, durante
o qual o país vivenciou diferentes regimes políticos, corresponde à trajetória acelerada da
industrialização brasileira que em certos momentos apresentou taxas inéditas de expansão da
produção. Um sistema nacional de proteção social começa a ser implantado no Brasil a partir da
Revolução de 1930 com a criação simultânea, por Vargas, da legislação trabalhista, da estrutura
sindical corporativa (que substituiu a legislação vigente desde o início do século) e dos esquemas
previdenciários.
De acordo com a autora, institui-se um padrão de proteção social seletivo com organização
de um sistema nacional público ou estatalmente regulado nas áreas de bens e serviços sociais
(educação, saúde, assistência social, previdência e habitação). Contudo, já se identificam espaços
para políticas de massas de cobertura relativamente ampla, apontando para tendências
universalizantes, embora tímidas.
Draibe (1991) constata que há, então, um padrão brasileiro de bem-estar Social com matizes
do corporativismo e do clientelismo, com um núcleo securitário e denso esquema assistencial, mas
descontínuo e fragmentado, tendo por base uma perversa estrutura de emprego, baixos salários e
concentração de renda.
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5 – IMPACTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO PERÍODO DA HEGEMONIA
KEYNESIANA
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ii) Em segundo lugar, em consequência do “ambiente” econômico global criado pelos
Acordos de Bretton Woods (julho de 1944), cujas principais decisões dizem respeito
à superação do padrão ouro, emergindo o padrão ouro/dólar, quando a moeda
estadunidense passou a ser moeda de troca entre os países. Assim, os EUA, na
condição de banqueiros do mundo, tornaram Nova Iorque a câmara de compensação
para o ajuste das transações internacionais e a fornecedora de capital para a
recuperação das economias capitalistas. Cada país passou a adotar uma política
monetária que mantivesse a taxa de câmbio de suas moedas dentro de um
determinado valor indexado ao dólar – mais ou menos um por cento – cujo valor, por
sua vez, estaria ligado ao ouro numa base fixa de 35 dólares por grama de ouro. Esse
novo padrão ouro/dólar previa que os EUA tivessem reservas de ouro no FED2
suficientes para liquidar os dólares emitidos e que agora estariam em circulação em
todo o mundo capitalista.
O dólar, nessa nova função, seria mantido a uma taxa constante para a
conversão em ouro. O intuito do sistema de Bretton Woods era evitar o
reaparecimento de guerras monetárias; os países tinham que obter a aprovação do
FMI para alterar os valores de suas moedas. Esse sistema surge da necessidade de
criação de instrumentos eficazes para o gerenciamento econômico mundial
capitalista, uma vez que os EUA se preocuparam com fortalecimento da União
Soviética no final da Segunda Guerra.
iii) Em terceiro lugar, o sucesso dos Estados de Bem-Estar contemporâneos decorre do
“clima” de solidariedade nacional que se instaurou logo após a guerra entre países
vencedores e vencidos e, “logo depois, pela solidariedade supranacional gerada pelo
novo quadro geopolítico”. A bipolarização mundial durante a Guerra Fria assinalou
um novo contexto global. Ideologicamente caracterizado pelos conflitos mundiais
entre projetos antagônicos de organização econômica e social, “criaram os estímulos
ou receios necessários para consolidar as convicções “socialmente orientadas” de
todos os governos; aí incluídos os conservadores, os democrata-cristãos e os liberais”
(FIORI, 1997, p. 5).
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O Sistema de Reserva Federal é o sistema de bancos centrais dos Estados Unidos.
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iv) Finalmente, o sucesso foi devido ao “avanço das democracias partidárias e de massa
que, pelo menos nos países centrais, onde de fato pode-se falar de Welfare”,
possibilitou que as relações de força eleitoral potencializassem o poder e a relevância
do pleito dos “trabalhadores e dos seus sindicatos e partidos e dos demais setores
sociais interessados no desenvolvimento dos sistemas de welfare states” (FIORI,
1997, p. 5).
A deliberação de Paul Volker, presidente do Federal Reserve Bank dos Estados Unidos, de
elevar a taxa de juros estadunidenses, em outubro de 1979, as crises do petróleo em 1973 e 1979 e
seus impactos na economia, as crises fiscais dos Estados centrais, o retorno da inflação e a recessão
econômica acirraram as contradições do modelo keynesiano e semearam o terreno para o
capitalismo ingressar em um novo ciclo de acumulação.
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A crise do Estado de Bem-Estar Social resultou da conjunção de múltiplos determinantes de
cunho político, social e econômico que se manifestaram em vários âmbitos da vida econômica, ao
desencadear, cronicamente, a queda da produtividade, o aumento acelerado da dívida pública, o
déficit da balança comercial, a hiperinflação e a elevação do desemprego. Esse ambiente de
esgarçamento dos tecidos sobre os quais o Estado de Bem-Estar Social repousou abre espaço para o
retorno gradativo do projeto liberal até a conquista de sua hegemonia.
A batalha de ideias prossegue com o Encontro de Mont Pélerin (1947), no luxuoso Hotel du
Parc, localizado em Mont-Pèlerin, na Suíça, organizado por Hayek e Mises. Compareceram ao
evento 37 pessoas, das sessenta convocadas por Hayek, entre as quais advogados, filósofos e
historiadores. O encontro foi financiado por milionários e suas fundações e, sobretudo, pela elite
bancária da Suíça. Contou com delegados de publicações americanas, como Fortune, Newsweek e
The Reader's Digest. O encontro inaugurou o primeiro Instituto liberal: a Sociedade Mont Pélerin
(Mont Pélerin Society), como afiliados em diversos países.
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Entre os seus membros fundadores figuravam Maurice Allais, Aaron Diretor, Milton
Friedman, Bertrand de Jouvenel, Frank H. Knight, Fritz Machlup, Mises, Michael Polanyi, Karl
Popper, Lionel Robbins, Wilhelm Röpke, George Stigler, Francis Trévoux, além de representantes
da Universidade de Chicago, alguns funcionários do alto escalão do governo dos Estados Unidos e
da França, como Jacques Rueff, o ex-ministro da Fazenda da França, e três jornalistas, um dos
Readers Digest, outro de Fortune e Time & Tide, entre outros. Vinte e quatro dos participantes eram
provenientes dos Estados Unidos ou da Grã-Bretanha, nenhum representante dos países periféricos.
Contudo, esse ativismo se manteve secundarizado tanto na esfera política como no âmbito
acadêmico. Somente com a crise do keynesianismo houve, progressivamente, uma penetração mais
expressiva dessa corrente de pensamento. Desde a crise, intensificou-se a escalada liberal rumo à
sua hegemonia política, inicialmente no Chile, em seguinda nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.
Segundo o geógrafo britânico David Harvey, os novos Institutos Liberais, crias de Mont
Pélerin Society, municiados por vastos bancos de ideias bem financiados, ecoam as ideias liberais
influenciando o ambiente acadêmico, nomeadamente, na Universidade de Chicago, “em que reinava
Milton Friedman”. Na década de 1970, quando Hayek e Friedman ganharam o Prêmio Nobel de
economia (em 1974 e 1976, respectivamente), a teoria liberal consolida sua escalada rumo à
credibilidade acadêmica. Essa condecoração, “embora assumisse a aura de um Nobel, não tinha
nenhuma relação com os outros prêmios, estando como estava sob o estrito controle da elite
bancária da Suíça”. (HARVEY, 2008, p. 31).
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O movimento com vistas à reabilitação liberal é potencializado mediante a atuação de
economistas do Departamento de Economia da Universidade de Chicago, denominados Chicago
Boys, devido à aceitação das teorias liberais de Milton Friedman, nessa ocasião docente da
Universidade de Chicago, convidado para colaborar com a reconstrução da economia do Chile. A
estratégia consistiu em um plano de financiamento estadunidense a universitários chilenos para
estudar economia na instituição educacional mais ostensivamente anticomunista do mundo – a
Universidade de Chicago. Esse plano tinha a finalidade de expurgar ideologicamente os
economistas comunistas latino-americanos, a exemplo de Raúl Prebisch, e difundir o pensamento
liberal. A partir da celebração de um acordo/convênio de cooperação com a Universidade Católica
do Chile, firmado em março de 1956, efetivou-se um episódio singular de “transferência sistemática
de ideologia” dos Estados Unidos para o Chile. Esta transferência foi realizada, explicitamente, por
meio da iniciativa deliberada, planejada e executada por três protagonistas-chave, a saber:
O convênio firmado ficou conhecido como “Projeto Chile”. De 1957 a 1970, cem estudantes
chilenos estudaram em Chicago, e a partir de 1965 o projeto se expandiu para toda a América
Latina, contemplando países como Argentina, Brasil e México. A Universidade de Chicago
configurou-se como uma instituição altamente especializada, dispondo de um paradigma
estruturado e de um arquétipo para formar um tipo específico de profissional. O primeiro objetivo
de afirmação do novo paradigma consistia em esvaziar a influência exercida na região pelas teorias
do desenvolvimento propostas pela Cepal. O segundo objetivo era experimentar in loco as teorias
liberais concebidas pela Universidade de Chicago e compartilhadas pelos representantes da ICA dos
Estados Unidos. Os agentes da ICA no Chile buscaram interlocutores que lhes permitissem
introduzir o experimento de introjetar naquele país as ideias mais extremas da economia de livre
mercado que estavam sendo propostas nos Estados Unidos. O objetivo obscurecido era ceifar por
completo o que se entendia como a ideologia socialista da economia chilena e conduzir ao longo de
uma década a mudança da administração econômica do país (MUÑOZ, 2002).
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Universidade de Chicago. Os primeiros alunos ficaram conhecidos como Chicago Boys, e suas
ideias tiveram enorme impacto sobre os destinos dos países latino-americanos.
A segunda guinada de inspiração liberal deu-se com a eleição da primeira ministra britânica,
Margaret Thatcher, em 1979, e com a de Ronald Reagan, em 1981, para a presidência dos Estados
Unidos. Sob a influência do jornalista e empresário Keith Joseph, Thatcher elege na Grã-Bretanha
com o inabalável compromisso de alinhar os países britânicos às novas exigências do capitalismo.
Após a sua eleição, atrela as políticas governamentais britânicas ao projeto liberal centrado “na
liberalização e na desregulamentação”. Thatcher, em profunda articulação com Ronald Reagan,
transforma e redefine a atividade do Estado, ao repudiar a busca do Bem-Estar Social e sustentar,
vigorosamente, a ideia de que as soluções monetaristas “do lado da oferta eram essenciais para
curar a estagnação que marcara a economia” (HARVEY, 2008, p. 31).
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Vale destacar outra importante frente da batalha das ideias, fundamental para a ascensão do
thatcherismo, desencadeada desde 1955, por iniciativa do industrial inglês Anthony Fisher. Ele
empregou parcela de sua fortuna pessoal para formar o Instituto de Assuntos Econômicos (IAE) de
Londres, além de investir na criação de diversos outros institutos liberais estratégicos. Para Anthony
Fisher, o Institute of Economic Affais conhece a verdade; sua tarefa é evangelizar (COCKETT,
1995, p. 139).
Milton Friedman comenta: “sem o IAE, duvido que tivesse havido uma revolução
thatcherista” (WHEELWRIGHT,1995). Anthony Fisher engajou-se tenazmente na campanha a
favor do livre mercado. Foi o primeiro presidente do Instituto Frazer do Canadá (1974), inaugurou
em Nova York o Centro Internacional para Estudos de Política Econômica (1977) e fundou em San
Francisco o Instituto Pacífico (1979). Na Austrália, participou da criação do Centro de Estudos
Internacionais. Tornou-se um contribuinte notório para a afirmação das ideias de livre mercado na
política australiana durante os anos 1980. Por meio do Instituto Atlas, Anthony Fisher ajudou
estabelecer mais de 150 outros Institutos de ideias liberais em diversos países, dentre os quais se
incluem Instituto Fraser, Instituto Manhattan, Instituto de Pesquisa do Pacífico, Centro Nacional de
Análise de Políticas, Centro de Estudos Independentes, Instituto Adam Smith.
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As Instituições Financeiras Internacionais reguladoras são inseridas no âmago do sistema
capitalista, atreladas aos interesses econômicos e financeiros do grande capital, para submeter as
economias nacionais ao jugo desses interesses, mediante decisões de cunho intervencionista que são
falaciosamente atribuídas à impessoalidade da ordem espontânea do mercado, núcleo do
pensamento hayekiano. Por essa razão, entender o liberalismo contemporâneo ou neoliberalismo
implica conhecer o pensamento formulado por Hayek, que confere sustentação supostamente
teórica ao discurso do mercado como propulsor do processo civilizatório e permite que o ideário
alicerçado nesse pressuposto se propague como verdade incontestável.
8 – O PENSAMENTO HAYEKIANO
De acordo com Hayek, a evolução humana provém de um processo de tentativa e erro, por
experimentos contínuos em distintas áreas. Uma vez que as limitações às respostas inatas provocam
demasiado desprazer aos homens, é provável que a humanidade não as tenha selecionado, ao
contrário, “as limitações é que nos selecionaram; elas nos permitiram sobreviver” (HAYEK, 1985,
p. 28-29.a).
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8.1 – A justiça e a igualdade social em Hayek
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Hayek depreende que a sociedade para a tradição liberal é concebida a partir das
individualidades, pois cada indivíduo é responsável por si próprio. Para conferir mais precisão a
essa lógica, o autor sublinha a máxima liberal segundo o qual “todo adulto capaz é, antes de tudo,
responsável pelo próprio bem-estar e o de seus dependentes”; cujo pressuposto é que ninguém deve
se “tornar um fardo para os amigos ou companheiros”. De modo óbvio, esse modelo é inconciliável
com a concepção de que a “sociedade” ou o governo deve dar a cada pessoa uma renda adequada
(HAYEK, 1985.b, p. 121).
Tal modelo fundado no pensamento liberal projeta uma sociedade na qual os vínculos de
solidariedade tanto na esfera pública quanto no âmbito privado são completamente abolidos.
Impera, portanto, a lógica do “salve-se quem puder”, do “Você S/A”3; a própria existência
individual é concebida como se cada indivíduo agenciasse a si mesmo. Cabe aos trabalhadores
empregar as suas aptidões à exaustão, usar a sua capacidade à extenuação, esgotar sua eficiência
plena e, sobretudo, valer-se do mais alto grau de sua astúcia para extrair da ordem espontânea do
mercado uma possível remuneração suficiente para manter a própria sobrevivência e de seus
dependentes. Como propõe Hayek: “os indivíduos devem ser educados para a utilização adequada
dessa capacidade de empreendimento e, ao descobrir a melhor utilização de nossas habilidades,
todos agimos como empreendedores” (HAYEK, 1983, p. 87-88).
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Periódico brasileiro que difunde a ideologia do empreendedorismo.
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Importa indagar qual é o sentido mais preciso do termo mercado, tendo em vista o caráter
ambíguo que reveste esse vocábulo. O termo carrega consigo conotações que não são neutras, mas que,
opostamente, visam construir uma imagem mitificada e, simultaneamente, abstrata e vaga de mercado.
Por esse motivo, interessa interrogar quais características definem essa formulação. Nesse sentido,
François Chesnais apresenta uma contribuição preciosa para caracterizar a noção de mercado na
contemporaneidade. Ele afirma que:
Os bancos credores internacionais, amparados pelo governo estadunidense via FMI e Banco
Mundial, atuaram como cartéis, submetendo os países periféricos devedores. A essência desse
modelo de atualização da dívida consistiu em submeter os devedores a iniciarem um abusivo processo
de transferência de recursos monetários ao exterior. No que diz respeito aos países latino-americanos,
inverte-se completamente o procedimento dos anos anteriores, entre 1983 e 1988: a transferência de
recursos reais ao exterior alcançou a média anual de 4% do PIB, ultrapassando o esforço realizado pela
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Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, em torno de 2,5% do PIB. A crise da dívida externa de 1982
significou o fim do modelo de substituição de importações na América Latina e a transição para o
modelo neoliberal.
No final dos anos 1980, considerada a "década perdida" para o crescimento econômico, a
situação não só do Brasil como de toda a América Latina afigurava-se muito complexa e sombria.
Não se identificava meio viável para equacionar o problema da dívida externa, gerada pelos
desinvestimentos decorrentes da crescente fuga de capitais tanto estrangeiros quanto nacionais,
acarretando a estagnação econômica, agravada por um incontrolável processo inflacionário.
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Conselho de Governadores do Sistema da Reserva Federal, abreviadamente designado por Federal Reserve
Board ou FRB, é um órgão de sete membros que governa o Federal Reserve System , o banco central dos EUA
encarregado de gerir a política monetária do país.
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monetária e ao pleno restabelecimento das leis de mercado, consistiam em um conjunto de
prescrições liberalizantes, quais sejam:
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ajustados aos interesses dos centros econômicos dominantes mundiais e requeridos desde o início
dos anos 1980.
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