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UFPEL – IFISP – Bacharelado de Relações Internacionais

Discplina: FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL Prof: Antônio Cruz

UNIDADE II -
A TRANSIÇÃO À INDUSTRIALIZAÇÃO DESENVOLVIMENTISTA

II.2. O modelo fordista-keynesiano e sua


relação com a proposta da CEPAL para a
América Latina

OBSERVAÇÃO:
Todos os gráficos utilizados – à exceção do slide 2 – foram extraídos do texto de referência abaixo:

BERTOLA, Luis; OCAMPO, José Antonio. Industrialização dirigida pelo Estado. In: Desenvolvimento,
vicissitudes e desigualdade - uma história econômica da América Latina desde a Independência. Madrid,
SEGIB, 2012. pp. 151-211.
1
CRESCIMENTO
MÉDIO ANUAL DO
PIB DO BRASIL POR
DECÊNIO
1901-2020 - %

Apud SOARES, Gabriella. Brasil tem pior década para a economia em 120 anos…
https://www.poder360.com.br/economia/brasil-tem-pior-decada-para-a-economia-em-120-
anos/
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(1) 1929 e as teorias macroeconômicas: a crise do liberalismo


e a emergência de novos paradigmas

Na primeira metade do século XX, um conjunto de acontecimentos históricos
transformou o cenário da economia mundial e colocou ‘em xeque’ os
fundamentos teóricos até então amplamente hegemônicos da ciência econômica:

a adoção exitosa de regimes de política econômica de restrita coordenação
estatal ao longo da I Guerra (1914-18);

a revolução socialista na Rússia e a subsequente criação da União das
República Socialistas Soviéticas (URSS), que transformou completa-mente –
e em poucas décadas – a economia daqueles territórios;

a crise global desencadeada pela quebra da Bolsa de NY 1929;

as políticas exitosas de recuperação econômica baseadas na coordenação
estatal, experimentadas nos EUA de Roosevelt (‘Novo Acordo’) e na
Alemanha de Hitler (‘Plano de Reconstrução Nacional’), ambos iniciados em
1933;

as independências de territórios coloniais na Ásia e na África, após 1945, que
identificavam o colonialismo ao liberalismo econômico.
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(1) 1929 e as teorias macroeconômicas: a crise do liberalismo


e a emergência de novos paradigmas

As experiências da União Soviética (dirigidas por Nikolai Bukharin), dos EUA
(Henry Morghentau Jr.) e da Alemanha (Hjalmar Schacht) influenciaram os
escritos de um renomado economista britânico e herético do liberalismo: John
Maynard Keynes.

Keynes era um anti-socialista que considerava o sistema capitalista o modelo
mais sofisticado de economia que a humanidade havia construído, mas que
poderia ser historicamente ‘derrotado’ em virtude de suas relativas imperfeições.

Em essência, a teoria keynesiana preconizava que o Estado deveria atuar para
atenuar os efeitos do gap temporal responsável pelos desequilíbrios críticos entre
oferta e demanda na economia ‘real’ (física) e, por outro lado, entre economia
‘real’ e economia monetária / financeira.

A constituição da Comissão Econômica da ONU para a América Latina (CEPAL),
em 1948, tornou famosas também as formulações de um outro economista
herético do liberalismo, o argentino Raúl Prebisch, que defendia a atuação do
Estado como elemento coordenador dos processos de industrialização e
desenvolvimento dos países ‘subdesenvolvidos’. As experiências anteriores de
Vargas, no Brasil, e de Perón na Argentina (recente, naquele período) também 4
influenciaram sua perspectiva.
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(2) A teoria desenvolvimentista na América Latina



O principal autor da teoria do desenvolvimentismo (ou da teoria econômica
estruturalista) no Brasil foi Celso Furtado. Mas muitos outros autores, brasileiros e
de outros países latino-americanos, contribuíram para a formulação teórica da
corrente.

‘Em essência’, a teoria recorria às percepções de List e outros autores do século
XIX, bem como da teoria keynesiana, que atribuíam ao Estado um papel decisivo
no processo econômico, em oposição à perspectiva liberal.

No caso latino-americano, a insuficiência de acumulação derivava de um conjunto
de fatores ‘estruturais’, advindos do processo de colonização:

as desvantagens nos termos de trocas e os déficits recorrentes na balança de
pagamentos;

o endividamento externo crônico;

a ausência de poupança interna em volume minimamente adequado,
resultante do padrão de consumo da elite econômica;

um nível de consumo permanentement deprimido em razão das
desigualdades sociais, o que incluía a concentração de terra e de capital.
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(2) A teoria desenvolvimentista na América Latina



O papel do Estado deveria ser coordenar a superação desses obstáculos ao
desenvolvimento:

aumentando a demanda agregada por meio da redução das desigualdades
sociais: elevação do nível de salários e promoção da reforma agrária;

direcionando o gasto público para investimentos em infra-estrutura,
capazes de impulsionar o investimento industrial privado (nacional e
estrangeiro) e promover o emprego e a renda dos mais pobres;

criando condições favoráveis à poupança e ao investimento (principalmente
no setor industrial) através de políticas tributárias e fiscais de estímulo ao
setor;

ampliando o acesso à educação, de forma a melhorar a produtividade do
trabalho, e promovendo a pesquisa científico-tecnológica;

aumentando a cooperação econômica entre os países ‘subdesenvolvidos’.

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(2) As políticas desenvolvimentistas efetivadas no Brasil



Entre 1950 e 1984, uma sucessão de governos de diferentes matizes políticos
(da centro-esquerda à direita, civis e militares) adotaram políticas econômicas
desenvolvimentistas, com diferentes nuances, que podem ser classificadas em
dois grande conjuntos:

desenvolvimentismo populista (Vargas, Juscelino, João Goulart - 1950-64)

desenvolvimentismo autoritário (Castelo Branco, Costa e Silva, Médici,
Geisel, Figueiredo - 1964-84)

No primeiro momento, a ênfase da retórica estava voltada à construção da
‘justiça social’; no segundo momento, da ‘soberania nacional’.

Em ambos os casos …
i. o financiamento dos investimentos foi garantido por ‘poupança externa’
(envidamento público externo);
ii. Os investimentos industriais foram liderados pelo IED das empresas
oligopolísticas internacionais.

No primeiro caso, a ênfase foi dada à ampliação da demanda interna (valorização
dos salários, reforma agrária etc.); no segundo caso, no aumento da taxa de
acumulação (repressão à mobilização social reivindicatória). 7
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II. Da Segunda Guerra Mundial à Crise da Dívida nos anos ‘80


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II. Da Segunda Guerra Mundial à Crise da Dívida nos anos ‘80


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(3) O colapso do desenvolvimentismo brasileiro


Com a crise sistêmica aprofundada pela ‘crise do petróleo’ de 1973, não apenas
o modelo keynesiano foi abalado nos países desenvolvidos, mas também as
políticas desenvolvimentistas (veja o slide xx desta mesma apresentação).

Os efeitos da ‘crise da dívida externa latino-americana’, que emergiu com a
moratória mexicana de 1982 (o Brasil, em 1987), produziu desdobramentos
políticos importantes sobre o cenário brasileiro:

uma onda de greves e mobilizações sociais a partir ainda de 1978;

a eleição de um candidato civil de oposição ao Regime Militar em 1984;

a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte em 1986;

a quase-vitória da esquerda (PT) nas eleições presidenciais de 1989;

o resgate do liberalismo como referência teórica fundamental da elite
econômica a partir de 1990.

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1.Três períodos:
1930 ---

Políticas de combate à crise de ‘29 – ferramentas ‘de mercado’: gestão
monetária, incentivos fiscais, restrições às importações, controle da oferta
1940 --- ●
Mundo: onda longa expansionista do período pós-II Guerra / políticas
keynesianas
1950 --- ●
Brasil / AL – políticas ativas de industrialização: protecionismo industrial;
investimentos públicos no setor de infraestrutura; financiamento externo;
1960 --- empresas estatais; aumento da recepção de IED; endividamento público e
privado, altas taxas de crescimento econômico
1970 --- ●
Dois períodos políticos:

1945 – 1964: república democrática, regime do ‘populismo desenvolvimentista’
1980 --- ●
1964 – 1984: regime militar, ‘desenvolvimentismo autoritário’

‘Crise da dívida’: redução drástica do financiamento externo e do IED; forte
redução das taxas de investimento e de crescimento; inflação » hiperinflação;
1994 --- crise da industrialização; desemprego; redução do gasto público

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1944 --- ●
A Conferêcia de Bretton Woods (“Conferência Monetária e Financeira
Internacional das Nações Unidas”) celebrou um novo ordenamento
internacional para as economias capitalistas:

criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial;

o FMI tornava-se encarregado da estabilidade monetária internacional;

o Banco Mundial deveria financiar o desenvolvimento econômico dos
países ‘subdesenvolvidos’

estabelecimento de taxas fixas de câmbio;

abandono definitivo do padrão-ouro e ancoragem ao dólar (única moeda
com lastro em ouro).

O Brasil aprofunda o modelo desenvolvimentista iniciado na etapa final do
Governo Vargas:

medidas protecionistas para a indústria nacional;

expansão do gasto público;

direcionamento dos saldos da balança comercial e de financiamento
externo para a infraestrutura industrial:

1952: BNDES

1953: Petrobrás

1957: construção de Brasília / Pólo Industrial do Amazonas (ZF)

1962: Eletrobrás

facilitação e promoção do IED (investimento externo direto);
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1964 ---

estímulo à demanda interna por via do crédito e do aumento do salário
mínimo (efeito do multiplicador keynesiano)
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Vargas: Petrobrás, 1954


Bretton Woods, 1944

Juscelino
Kubitschek:
Brasília,
1959

João
Goulart:
Artur de Sousa Costa e J.M. Keynes Eletrobrás,
conversam em Bretton Woods.
1962 19
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1964 --- ●
A guerra fria levou a uma política de contenção dos movimentos sociais: com
o apoio dos EUA, do empresariado industrial e financeiro, da oligarquia rural,
da mídia e dos setores médios urbanos, os militares revogam a Constituição
de 1947 e estebelecem um regime militar autoritário.

Os governos militares aprofundaram o projeto desenvolvimentista: criaram
novas (e muitas) empresas estatais, ampliaram o endividamente externo e o
financiamento ao IED e bateram records de taxas de crescimento econômico,
mas também de inflação. As taxas de investimento/acumulação foram
excepcionais, auxiliadas pela repressão aos movimentos que reivindicavam
redistribuição da renda.
1974 --- ●
Um choque de preços do petróleo desatou uma recessão nos EUA, que foi
seguida por uma crise fiscal em todo ‘mundo desenvolvido’, com uma rápida
escalada inflacionária, que por sua vez elevou abruptamente a taxa de juros.
Isso desestruturou as dívidas dos países ‘subdesenvolvidos’, instalando uma
crise sistêmica que ameaçava a economia mundial desde o final dos anos ‘60.

Com a depressão e a elevação dos juros, a balança de pagamentos dos
países latino-americanos colapsou. Na ausência de uma âncora cambial (as
reservas ‘evaporaram’), a inflação caminhou em direção à hiperinflação.
Entre 1983/88 nove países entraram em moratória (default).

O regime militar não sobreviveu à crise: o último general-presidente (João
Figueiredo) encerrou seu mandato no final de 1984, com uma inflação anual20de
1984 --- 215%.
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Costa e Silva: Embraer, 1969 Figueiredo:


1984: infla-
ção récorde
(até então)

Anos 80:
Emílio greves e
Médici: mobilizações
Transama- sociais
zônica,
1972

Sarney: moratória
Ernesto
Geisel:
da dívida, 1987
Itaipú,
1978.
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1984 --- ●
O agravamento da crise entre os ‘desenvolvidos’ levou a uma substituição
dos governos social-democratas e suas políticas econômicas keynesianas;
partidos conservadores, ancorados em propostas de política econômica
liberais, devolveram a hegemonia na economia internacional a esta corrente,
com uma rápida conversão das diretorias do FMI e do Banco Mundial.

Na América Latina e no Brasil, os efeitos da crise foram graves: a inflação
disparou, as taxas de investimento despencaram e o crescimento econômico
não alcançou a terça parte das taxas da década de ‘70. A dívida púbica (‘dívida
externa’) comprimiu o gasto público e as políticas anticíclicas foram
inviabilizadas. Em 1989, um partido então considerado como de ‘extrema-
esquerda’ (PT) quase ganhou as eleições presidenciais e isso acendeu um sinal
amarelo em Washington.

A vitória de Fernando Collor de Mello, com uma plataforma assumidamente
liberal, entretanto, não resolveu os problemas econômicos, que se
agravaram. A inflação de 1992 foi de 1.158%, e em 1993 – quando Collor de
Mello já havia sido afastado da presidência e o novo presidente era Itamar
1994 --- Franco – foi de 2.477%.

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‘‘If the underdeveloped countries do not manage to pay their


foreign debt, then they will sell their wealth, their territories
and their richness’’
(Margaret Thatcher, British Prime Minister, 1983).

Inflação segundo o IGP-M,


1989-1993

Eleições brasileiras em 1989:


no 2o. Turno, Collor vence Lula
por 53 a 47% dos votos.

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